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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE

ESCOLA DE QUÍMICA E ALIMENTOS


ENGENHARIA AGROINDUSTRIAL – AGROQUÍMICA

COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO ÓLEO ESSENCIAL Humulus


Lupulus L.

Danize de Souza Justen

2019
ii

COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO ÓLEO ESSENCIAL Humulus


Lupulus L.

Danize de Souza Justen

Projeto de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade Federal do Rio Grande, como parte
dos requisitos necessários à Graduação em
Engenharia Agroindustrial – Agroquímica.

Orientadora: Prof. Dr. Neusa Fernandes


de Moura.

Santo Antônio da Patrulha, RS


2019
iii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Número de microcervejarias por estado brasileiro ....................................... 13


Figura 2 - Estruturas dos principais α-ácidos e β-ácidos encontrados em lúpulo .......... 17
Figura 3 - Estrutura dos produtos de isomerização da Humulona: cis-isohumulona e
trans-isohumulona .......................................................................................................... 17
Figura 4 - Lúpulo cortado e glândulas lupulinas em amarelo ........................................ 21
Figura 5 - Fórmulas estruturais dos principais componentes do extrato de lúpulo ........ 22
Figura 6 - Forma comercial em pellets do Humulus Lupulus L ..................................... 23
Figura 7 - Rota biossintética de formação de terpenos encontrados no lúpulo ............. 24
Figura 8 - Esquema do processo de extração por hidrodestilação utilizando Clevenger
........................................................................................................................................ 26
Figura 9 - Aparelho de destilação a vapor de uso industrial ......................................... 28
Figura 10 - Hidrodestilação do lúpulo com aparato de Clevenger ............................... 29
Figura 11 - Eficiência nas extrações realizadas por hidrodestilação ............................. 34
Figura 12 - Cromatograma obtidos por GC-EM do óleo essencial do lúpulo Hallertau
Mittelfrüh ...................................................................................................................... 36
Figura 13 - Cromatograma obtidos por GC-EM do óleo essencial do lúpulo Columbus
........................................................................................................................................ 36
Figura 14 - Cromatograma obtidos por GC-EM do óleo essencial do lúpulo Saaz ...... 36
Figura 15 – Estrutura química dos majoritários presentes em todas as amostras........... 37
Figura 16 – Diagrama de similaridade das amostras de lúpulo ...................................... 46
iv

LISTA TABELAS

Tabela 1 - Composição química do Humulus Lupulus L................................................ 21


Tabela 2 - Principais componentes do extrato de lúpulo e suas respectivas massas
molares ........................................................................................................................... 22
Tabela 3 - Descrição da composição das três amostras de lúpulo .................................. 33
Tabela 4 - Majoritários encontrados no lúpulo ............................................................... 35
Tabela 5 - Composição química do óleo essencial da variedade Hallertau Mittelfrüh .. 37
Tabela 6 - Composição química do óleo essencial da variedade Columbus .................. 39
Tabela 7 - Composição química do óleo essencial da variedade Saaz ........................... 41
Tabela 8 - Matriz de ausência e presença de um dado composto ................................... 44
v

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 9
2. OBJETIVOS ............................................................................................................. 12
2.1 Objetivo geral .................................................................................................... 12
2.2 Objetivos específicos ......................................................................................... 12
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................ 13
3.1 Visão do mercado de cerveja artesanal .......................................................... 13
3.2 Descrição do processo de produção da cerveja .............................................. 14
3.2.1 Moagem ....................................................................................................... 14
3.2.2 Mosturação .................................................................................................. 14
3.2.3 Filtração ....................................................................................................... 16
3.2.4 Fervura ......................................................................................................... 16
3.2.5 Resfriamento ................................................................................................ 17
3.2.6 Fermentação................................................................................................. 18
3.2.7 Envase.......................................................................................................... 19
3.4 Lúpulo ................................................................................................................ 19
3.4.1 Características botânicas e composição química do Humulus Lupulus L. .. 20
3.4.2 Óleos essenciais ........................................................................................... 23
3.4.2.1 Métodos de extração dos óleos essenciais ............................................ 25
4. METODOLOGIA..................................................................................................... 29
4.1 Amostra ............................................................................................................. 29
4.2 Extração do óleo essencial................................................................................ 29
4.3 Rendimento do óleo essencial .......................................................................... 30
4.3.1 Teor de umidade .......................................................................................... 30
4.4 Análise qualitativa e quantitativa dos compostos químicos do óleo essencial
........................................................................................................................................ 31
4.4.1 Análise qualitativa ....................................................................................... 31
4.4.2 Análise quantitativa ..................................................................................... 31
4.5 Análise multivariada ........................................................................................ 32
5. RESULTADO E DISCUSSÃO ................................................................................ 33
6. CONCLUSÃO........................................................................................................... 47
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 48
vi

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço à Deus por permitir sempre alcançar meus sonhos. Por,
ao longo deste processo complicado e desgastante, me ter feito ver o caminho nos
momentos em que pensei em desistir.

É chegado ao fim um ciclo de felicidade e frustrações. Sendo assim, dedico este


trabalho a minha família, em especial a minha querida mãe Juraci de Souza Justen, por
sempre estar ao meu lado, me apoiando, incentivando e dando forças para enfrentar essa
longa trajetória. Se não fosse você, jamais teria chegado até aqui! Obrigada por cada
energia positiva e pelas vibrações ao fim de cada semestre.

A minha querida Orientadora Neusa Fernandes de Moura, pela dedicação ao


trabalho desenvolvido e aos colegas do Grupo de Pesquisa de Produtos Naturais - GPPN.
Ao Grupo de Pesquisa de Moléculas Bioativas da Universidade Federal de Roraima, que
prontamente atendeu ao pedido de realizar as análises.

Para alguns professores a palavra que expressa a minha admiração, respeito e


carinho é GRATIDÃO. Agradecer pela paciência em explicar quantas vezes fosse
preciso, pela partilha de conhecimento e pelos ensinamentos para a vida.

E a todos os amigos que a FURG me deu de presente, principalmente aqueles que


estiveram sempre comigo em cada etapa, em cada conquista. Em especial a Raquel
Barbosa por dividir comigo diversos momentos ao longo da graduação e a todas as
pessoas que indiretamente contribuíram para minha formação.
vii

RESUMO

O Humulus Lupulus L., também conhecido como lúpulo, é utilizado desde a antiguidade
como um conservante natural da cerveja, no entanto devido ao sabor e aroma que o
mesmo fornecia, passou a ser um ingrediente indispensável na produção de cerveja, cerca
de 97% de todo cultivo mundial do lúpulo vai para as cervejarias. O lúpulo é adicionado
ao processo na etapa de fervura do mosto (grãos triturados e água aquecida) durante
determinado tempo com temperatura controlada. Após a adição do lúpulo, no início da
fervura, são extraídos os principais compostos relacionados ao aroma e sabor da cerveja,
assim elucidando seu valioso papel na indústria cervejeira. Este também pode ser
adicionado ao fim da fervura com o objetivo de produzir cervejas especiais mais
aromatizadas. Isto deve-se especialmente as resinas, responsáveis pelo amargor
decorrente da isomerização dos α-ácidos durante a etapa de fervura e pelos óleos
essenciais, que conferem o aroma típico de cada cerveja. Em virtude da volatilidade dos
compostos aromáticos do lúpulo, um dos problemas encontrados na produção de cervejas
artesanais é a manutenção do aroma inicial no produto final, pois estes perdem-se durante
a etapa de fervura. Desta forma, a fim de estudar mais sobre estes metabólitos secundários
utilizou-se três variedades de lúpulo, sendo estes o Hallertau Mittelfrüh, Columbus e Saaz
de onde foram extraídos os principais terpenos voláteis presentes por hidrodestilação em
aparelho Clevenger. Determinou-se o rendimento obtido destes óleos e a composição
química, obtida pela análise em cromatógrafo a gás acoplado a espectrometria de massas
(CG/EM). De modo geral, foram determinados 35 compostos, sendo, em sua maioria
sesquiterpenos e os terpenos majoritários como o mirceno no Hallertau Mittelfrüh,
Columbus e Saaz com teor de 19,39%; 26,31% e 6,25%; respectivamente, α-humuleno
no Hallertau Mittelfrüh, Columbus e Saaz com teor de 23,17%; 16,61% e 11,63%;
respectivamente e β–cariofileno no Hallertau Mittelfrüh, Columbus e Saaz com teor de
8,99%; 11,08% e 2,29%; respectivamente, que compõem cerca de 80% dos óleos
essenciais de lúpulo. Por fim, constatou-se por PCoA que as variedades estudadas não
são homogêneas, indicando diferenças significativas nos compostos identificados em
cada amostra resultado já esperado devido a possível diferença entre época de colheita,
solo, espécie e até mesmo o estágio da planta na colheita.

Palavras–chave: Lúpulo, terpenos, humuleno.


viii

ABSTRACT

Humulus Lupulus L., also known as hops, has been used since ancient times as a natural
preservative of beer, but due to its taste and aroma, it has become an indispensable
ingredient in beer production, around 97% from all the world hops growing goes to the
breweries. Hops are added to the process in the boil of the must (crushed beans and heated
water) for a certain time at a controlled temperature. After the addition of hops, at the
beginning of boiling, the main compounds related to the aroma and flavor of beer are
extracted, thus elucidating their valuable role in the brewing industry. It can also be added
at the end of the boil to produce more flavored specialty beers. This is especially due to
the resins, which are responsible for the bitterness resulting from the isomerization of α-
acids during the boiling stage and for the essential oils, which give the typical aroma of
each beer. Due to the volatility of hop aromatic compounds, one of the problems
encountered in the production of craft beers is the maintenance of the initial aroma in the
final product, as these are lost during the boiling stage. Thus, to study more about these
secondary metabolites, three hop varieties were used, namely Hallertau Mittelfrüh,
Columbus and Saaz, from which the main volatile terpenes present were extracted by
hydrodistillation in Clevenger apparatus. The yield obtained from these oils and the
chemical composition obtained by gas chromatography coupled with mass spectrometry
(GC/MS) analysis were determined. In general, 35 compounds were determined, mostly
sesquiterpenes and major terpenes such as myrcene in Hallertau Mittelfrüh, Columbus
and Saaz with a content of 19.39%; 26.31% and 6.25%; α-humulene respectively in
Hallertau Mittelfrüh, Columbus and Saaz with 23.17% content; 16.61% and 11.63%;
respectively and β-caryophyllene in Hallertau Mittelfrüh, Columbus and Saaz with 8.99%
content; 11.08% and 2.29%; respectively, which make up about 80% of hops essential
oils. Finally, it was found by PCoA that the varieties studied are not homogeneous,
indicating significant differences in the compounds identified in each sample already
expected result due to possible difference between harvesting season, soil, species and
even the plant stage at harvest.

Keywords: Hop, terpenes, humulene.


9

1. INTRODUÇÃO

De acordo com Palmer (2006), um dos diferenciais das cervejarias artesanais em


relação às massificadas está na quantidade e no tipo de lúpulo utilizado em sua produção.
Existem centenas de variedades de lúpulos disponíveis no mercado, onde sua utilização
torna-se uma ferramenta importante no desenvolvimento de um produto com
características exclusivas e intensas. As diferentes características das variedades
existentes são uma consequência das diferentes composições e concentrações de resinas
e óleos essenciais da planta, os quais são dependentes do local e as condições de plantio.

Existem mais de 100 tipos de lúpulos no mercado, sendo os mais conhecidos:


Hallertau Mittelfrüh, Saaz, Cascade, Centennial, Columbus, Amarillo, TNT, Simcoe e
Nelson Sauvin. Porém, os lúpulos mais utilizados na fabricação de cerveja no Brasil é o
lúpulo Hallertau Mittelfrüh, Columbus e Saaz (BRASIL, 2017).

Neste sentido, o lúpulo da variedade Hallertau Mittelfrüh com origem alemã é


utilizado principalmente para conferir aroma à cerveja. Apesar de não apresentar notas
muito intensas, ele é conhecido por ser equilibrado, apresentando notas de frutado, terroso
e herbal, podendo apresentar notas florais e picantes (MEUSSDOERFFER, 2009).

Em contrapartida, há o Columbus, o qual é um lúpulo americano conhecido pelo


seu aroma terroso, herbal, picante e cítrico, o qual contém uma grande quantidade de
óleos essenciais em sua composição é muito utilizado por mestres cervejeiros que
procuram obter uma cerveja com intenso amargor e procuram cervejas inovadoras, uma
vez que este é conhecido por compor em seu aroma diferentes notas de frutas cítricas
(MEUSSDOERFFER, 2009).

Por fim, o Saaz é um lúpulo nobre, originário da Bohemia, caracterizado pelo seu
alto teor de aroma, apesar de pouco óleo essencial contido em sua composição. Este
remete a um sabor levemente terroso, floral, herbáceo usado em cervejas que possuem
um sabor e amargor suave (MEUSSDOERFFER, 2009).

O lúpulo é uma commodities em várias partes do mundo, em sua maioria é


utilizado no processo de produção de cerveja, cerca de 97% o restante é utilizado, por
exemplo, na área da medicina, culinária e em cosméticos. Nos últimos anos, com o
fomento que o mercado cervejeiro está tendo, aumenta-se proporcionalmente a demanda
do lúpulo e com isto, o interesse de pesquisadores por esta planta. Segundo a Associação
10

Brasileira da Indústria da Cerveja-CEVBRASIL (2016), dos quatro maiores fabricantes


de cerveja do mundo, o Brasil é o terceiro produtor mundial, atrás apenas da líder China
com uma produção anual de 460 milhões de hectolitros e dos Estados Unidos da América
com uma produção de 221 milhões de hectolitros anuais.

O lúpulo é inserido na etapa de fervura do mosto, que contém apenas água e malte.
Neste processo ocorre a extração e intensificação do amargor do lúpulo, devido a
isomerização de α-ácidos em iso-α-ácidos e são responsáveis pelo amargor e os β–ácidos,
ambos solúveis em água. De forma complementar estes componentes são responsáveis
pela redução da formação de espuma e evitam o crescimento de microorganismos
indesejáveis que possam vir a competir futuramente com o inóculo (KEUKELEIRE,
2000).

Para que a isomerização ocorra, deve-se ferver o mosto por aproximadamente uma
hora, garantindo assim que boa parte dos compostos sejam liberados, nesta etapa também
ocorre a transferência destes compostos para o mosto, assim como a liberação de
substâncias aromáticas como o mirceno, α-humuleno, β–cariofileno. Porém, pelo fato
deste compostos químicos serem altamente voláteis, parte do aroma é perdido no
momento da fervura. A fim de preservar este aroma, o lúpulo é adicionado novamente ao
final da fervura, permanecendo em ebulição de 10 à 15 minutos (KEUKELEIRE, 2000).

Mesmo com adição tardia do lúpulo ao final do processo, não se tem grande êxito,
pois este pequeno tempo de aquecimento é o suficiente para que ainda ocorra a
volatização de parte dos óleos essenciais, sendo que as perdas ainda podem ocorrer no
resfriamento e até mesmo no momento da fermentação. Por este motivo que caracterizar
os compostos presentes em cada variedade de lúpulo disponível no mercado é importante,
pois o lúpulo com alto teor de mirceno refletirá em notas balsâmicas, quando o teor de α-
humuleno é alto este refletirá em notas de amadeirado no aroma já o β-cariofileno
contribuirá para uma cerveja com notas de especiarias, como alecrim.

Portanto, após a seleção da variedade de lúpulo que melhor atende a demanda, a


fim de evitar estas perdas por volatização é possível aplicar o óleo essencial extraído do
lúpulo diretamente no momento de envase, evitando que rampa de temperatura e espera
no fermentador cause a dispersão dos compostos.
11

O presente trabalho propõe obter o óleo essencial do lúpulo por hidrodestilação,


determinar sua composição química e realizar uma Análise de Coordenadas Principais
(PCoA) para verificar homogeneidade entre as amostras utilizadas.
12

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Obter os óleos essenciais do lúpulo Hallertau Mittelfrüh, Columbus e Saaz em


pellets, para posterior caracterização das amostras.

2.2 Objetivos específicos

 Extrair os óleos essenciais do lúpulo peletizado por hidrodestilação;


 Determinar a eficiência da extração a partir do rendimento de óleo extraído;
 Analisar através de cromatografia gasoso acoplada a espectrometria de massas o
óleo obtido para identificar o perfil químico;
 Realizar Análise Multivariada de Coordenadas Principais (PCoA) para verificar a
homogeneidade entre as amostras.
13

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Visão do mercado de cerveja artesanal

O setor cervejeiro, um dos mais tradicionais da economia brasileira, representou


cerca 1,6% do Produto Interno Brasileiro (PIB) do país em 2016 e fechou com um
faturamento em torno de 77 bilhões (BRASIL, 2017). As cervejarias estão instaladas em
várias cidades do país, em uma rede que vai desde o agronegócio ao pequeno varejo, do
grande ao micro. No que tange o mercado regional, o Rio Grande do Sul ocupa o primeiro
lugar tanto em número de cervejarias (179) quanto em densidade (cervejarias versus
habitante), seguido por São Paulo com 124, Minas Gerais com 87 e Santa Catarina com
78 unidades. Na Figura 1 é possível observar o número de cervejarias instaladas e
registradas por estado (BRASIL, 2018).

Figura 1 – Número de microcervejarias por estado brasileiro.


Número de microcervejarias

Estado brasileiro

Fonte: BRASIL, 2018.

De acordo com a Associação Brasileira de Cerveja Artesanal–ABRACERVA


(2018), a expansão significativa do mercado de cerveja artesanal deve-se ao aumento
expressivo no consumo. O volume de público interessado e comprando a bebida artesanal
está se ampliando gradativamente, especialmente devido a expansão nas ofertas de
produtos diferenciados, qual faz com que mais pessoas sejam atendidas e percebam
sensorialmente os diferenciais dos produtos artesanais.
14

Por outro lado, de acordo com informações da Nielsen (2018), as vendas de


cerveja caíram 1,7% em volume em 2017 ante o ano de 2016, em contrapartida o
faturamento cresceu em torno de 1,6%, impulsionado pelo crescimento de 13% das
vendas de cervejas da classe premium e artesanais. Segundo os especialistas da área, este
crescimento apenas confirma a nova tendência mundial de beber menos, mas bem, ou
seja, as empresas estão vendendo menos volume, mas por outro lado estão conseguindo
elevar a introdução de rótulos mais caros.

3.2 Descrição do processo de produção da cerveja

O processamento industrial de cerveja pode ser dividido em operações unitárias


de: Moagem do malte, mosturação, filtração, fervura, tratamento do mosto (remoção do
precipitado, resfriamento e aeração), fermentação e envase. Para desenvolver e
acompanhar esta sequência de etapas, o indivíduo deve ter um conhecimento
aprofundado tanto no que tange o teórico quanto na prática, pois ocorrem variadas
reações químicas e bioquímicas durante o processo (MORADO, 2009). Pode-se ainda
dividir a etapa de produção em dois grupos, sendo eles chamados de parte quente e parte
fria do processo de produção.

3.2.1 Moagem

O objetivo de realizar inicialmente a moagem é romper o grão do cereal maltado,


conseguindo assim expor o amido presente no interior e aumentar a área de contato com
as enzimas presentes no malte, sendo que essa etapa está diretamente relacionada com a
rapidez e a eficiência do processo, transformações físico-químicas, rendimento,
clarificação e qualidade final da cerveja. A quebra desses grãos pode ser realizada em
moinhos de rolos ou martelo, onde ocorrerá a ruptura da casca e liberação do material
amiláceo. Nesta etapa, a granulometria é um fator importante, pois se o grão do malte
ficar em forma de farinha (muito fino) ocorrerá o entupimento na filtração e muito grosso
irá dificultar a hidrólise do amido (DRAGONE et al., 2010).

3.2.2 Mosturação

A mosturação do mosto é uma mistura de água e malte moído em uma tina de


mostura. O processo consiste na hidratação do malte e solubilização do mesmo, com
faixas de temperaturas e tempos pré-estabelecidas na literatura, assim como controle de
15

pH. Estes parâmetros variam de acordo com as exigências de cada enzima. Por meio da
ação enzimática, o amido presente nos grãos é hidrolisado pelas enzimas α e β-amilase,
obtendo-se o extrato (fonte de energia) e outros nutrientes que serão utilizados
posteriormente pelo inóculo, conforme Quadro 1 (BAMFORTH, 2003).

Quadro 1: Principais atividades enzimáticas durante a mosturação.

TÓtima
Enzima Atuação pH Ótimo Tinativação (ºC)
(ºC)

Decomposição do amido para


α-Amilase dextrina inferiores pela ação 5,3 – 5,8 70 – 75 75 – 80
nas ligações 1 e 4 (endo).

Decomposição do amido para


β-Amilase maltose pela ação nas ligações 5,2 - 5,6 60 - 65 68 – 70
1 e 4 (exo).

Decomposição do amido para


Dextrinase maltose, maltotriose, etc. Pela 5,0 – 5,5 55 – 60 65
ação nas ligações 1 e 6.

Decomposição das proteínas


para produtos intermediários de
Endopeptidase 5 50 – 60 70
alto e médio pesos
moleculares.

Fonte: BAMFORTH, 2003. pH Ótimo - potencial Hidrogeniônico ótimo │ Tótima –


temperatura ótima de atuação enzimas │ Tinativação – Temperatura que inativa as enzimas.

Neste processo, utiliza-se inicialmente temperaturas entre 40 e 45°C para


possibilitar a ativação enzimática. Entre 50 e 55°C acontece o repouso proteolítico, etapa
em que se dá a quebra de algumas proteínas do malte, nesta etapa, é possível controlar a
espuma e o brilho da cerveja. Como os grãos de amido inicialmente estão envoltos em
uma malha que contém proteínas, a ação das enzimas proteolíticas pode favorecer um
pouco mais a exposição do amido ao ataque das enzimas da sacarificação (MORADO,
2009).
16

Entre 60 e 72°C, dois tipos de enzimas atuam, as α-amilases e β-amilases, cada


uma atuando de modo diferente na estrutura do amido e com temperaturas ótimas
situadas em pontos diferentes. No final do processo o mosto cervejeiro será composto
por 75% de açúcares fermentescíveis, sendo 10% de glicose, 45% maltose, 15%
maltotriose e 5% sacarose e dos 25% de açúcares não fermentescíveis são divididos em:
10% maltotetraose e 15% dextrinas (BARNES, 2004).

Regulando a ação destas enzimas é possível determinar o corpo da cerveja. Entre


as temperaturas de 76 e 78°C, as enzimas perdem sua atividade, sendo necessário cessar
sua atividade para estabilizar o resultado desejado, impedindo que continuem a atuar
durante a filtração do mosto (BARNES, 2004).

3.2.3 Filtração

A filtração do mosto possui como objetivo a separação da parte sólida, em que


ocorre a sedimentação de forma gravimétrica das partículas que estão presentes no
mosto, as quais são resultantes da aglutinação da casca com resíduos do processo. A
turbidez do mosto após o processo de filtragem deve ser a mínima possível, devido a
sedimentação dos sólidos (BLEIER et al., 2013).

3.2.4 Fervura

Na fervura o objetivo é extrair o máximo possível dos componentes presentes no


lúpulo, inativar microorganismos e enzimas que ainda apresentam alguma atividade,
eliminar compostos voláteis que conferem odor e sabor da cevada ou do malte, deixar o
mosto mais concentrado, eliminar compostos sulfurosos, esterilizar e a partir da reação
de Maillard, promover o escurecimento do mosto (MORADO, 2009).

Ainda nesta etapa ocorre a lupulagem, onde o lúpulo é adicionado, em dois


momentos: o primeiro, logo no início da fervura, para conferir o amargor por intermédio
da isomerização de α-ácidos contidos no lúpulo. Estes α-ácidos são adhumulona em maior
quantidade seguido de cohumulona, humulona, prehumulona e posthumulona, os
compostos apresentam a mesma estrutura química, diferenciando-se apenas nos seus
substituintes, conforme a Figura 2 (KEUKELEIRE, 2000).
17

Figura 2 - Estruturas dos principais α-ácidos e β-ácidos encontrados em lúpulo.

Fonte: KEUKELEIRE, 2000.


No entanto, somente a dissolução dos α-ácidos na solução, não contribuem para
o amargor do produto, sendo necessário a isomerização destes compostos. Este processo
ocorre entre 90-100ºC e cada α-ácido origina dois isômeros iso-α-ácidos, sendo um
isômero trans e outro cis, os quais se distinguem em função do arranjo espacial de sua
função álcool terciário e em função do formato da cadeia lateral prenil (CABALLERO
et al., 2012). Conforme pode ser observado na Figura 3.

Figura 3 - Estrutura dos produtos de isomerização da Humulona: cis-isohumulona e


trans-isohumulona.

Fonte: KEUKELEIRE, 2000.

O segundo momento de lupulagem ocorre quase na etapa final de fervura,


chamado de tempo zero e é responsável por conferir o aroma floral e herbal característico
de cada cerveja. Esta adição em duas etapas ocorre devido a alta volatilidade dos óleos
essenciais presentes no lúpulo, buscando-se assim obter um mosto mais aromático. O
processo leva em torno de trinta minutos para o aquecimento do líquido e mais 80
minutos de fervura (PAPAZIAN, 2015).

3.2.5 Resfriamento

Após a fervura o mosto é encaminhado para um trocador de calor a placas para


ocorrer o resfriamento até a temperatura de fermentação. Segundo Reinold (1997), o
mosto deve ser resfriado para a temperatura de 10 a 15ºC, a fim de realizar a inoculação
18

da levedura cervejeira. Mostos de cerveja do tipo Lager são usualmente resfriados para
7 a 10°C e os do tipo Ale são resfriados, em média, para 18 a 22°C.

3.2.6 Fermentação

O processo de fermentação é iniciado após a inoculação da levedura, com o mosto


já devidamente resfriado e aerado. Na fermentação, sob condições anaeróbias, ocorre a
transformação dos açúcares fermentescíveis em etanol e gás carbônico (CO2), assim
como orgânicos ésteres (acetato de etila, acetato de isoamila, acetato de n-propila), ácidos
(acético, propiônico) e álcoois superiores (1-propanol, 2-metil-1-propanol, 2-metil-1-
butanol e 3-metil-1-butanol), como produtos secundários. Estes transmitem propriedades
organolépticas à cerveja, além da síntese de compostos de aroma e sabor característicos
do produto. A fermentação pode ser conduzida por processo contínuo ou descontínuo,
sendo este último mais utilizado (SANTOS, 2008).

A classe de cerveja mais consumida no Brasil é a Lager, que são cervejas de baixa
fermentação, conduzidas a frio (5 a 10ºC), com teor alcoólico geralmente entre 4 e 5%.
Tendem a ser cervejas delicadas, limpas e livre de ésteres, mas podem ter leves notas de
enxofre derivado de levedura. O tempo de fermentação e da maturação pode variar de 4
a 12 semanas (ARAÚJO et al., 2003). São elaboradas com cepas de Saccharomyces
uvarum, destacando-se os estilos como Pilsen e American Lager (AQUARONE et al.,
2013).

A classe Ale difere-se da Lager pelo tipo de fermentação, que é conduzida em


temperatura mais alta (12 e 15ºC). Também é conhecida como fermentação de topo e
realça os sabores mais complexos, frutados e lupulados da cerveja, obtendo-se cervejas
mais encorpadas e vigorosas. As cervejas do tipo Ale, são elaboradas com cepas de
Saccharomyces cerevisiae e dentre esta classe destacam-se estilos como Pale Ale, India
Pale Ale, Stout e Saison entre outras (VARNAM; SUTHERLAND, 1997).

De acordo com Dragone et al. (2010), a maturação normalmente é feita a 0ºC e


tem a duração de duas a quatro semanas. O objetivo deste processo é refinar o sabor e o
aroma da cerveja pela redução do teor de diacetil, acetaldeído e ácido sulfídrico, além do
aumento do teor de éster, assim como carbonatar parcialmente o produto (por meio da
fermentação secundária), evitar a ocorrência de oxidações que comprometam
sensorialmente a bebida, clarificar o líquido pela deposição do fermento e outros
materiais suspensos. Após a decantação do mosto fermentado é realizado a recuperação
19

do produto, onde a cerveja é encaminhada para o envase e o inóculo segue para uma
etapa de recuperação para que possa ser reutilizado.

3.2.7 Envase

O fator mais crítico no processo de envase é a incorporação de oxigênio. Para


minimizar este fato, os equipamentos e linhas dos processos que precedem o envase são
purgados com CO2. Após o envase, a cerveja pode ou não ser pasteurizada, caso não seja,
cuidados adicionais no processo de envase devem ser tomados para evitar a contaminação
do produto (FERGUS; GRAHAM, 2006).

3.4 Lúpulo

O lúpulo na antiguidade era um conservante natural usado por cervejeiros


britânicos em uma quantidade significativa nos barris, a fim de preservar a bebida durante
a viagem de vários meses que percorriam até chegar à Índia, evitando assim o
deterioramento do produto (devido a ação de microorganismos). Entretanto, ao final da
viagem, a cerveja continha uma grande intensidade de aroma e sabor de lúpulo (KLING,
2006).

Já que naquela época ainda não havia o uso do lúpulo como ingrediente, apenas
como conservante para longas viagens, em seu lugar eram utilizadas especiarias diversas
e a difusão desta técnica se deu principalmente na região Sul da Germânia, porém
algumas dessas ervas eram tóxicas ao ser humano e outras causavam alucinações. A
partir deste fato, em 1516, foi implementada a Lei da Pureza da Cerveja, onde o príncipe
Guilherme IV regulamentou a produção e venda da bebida (KLING, 2006).

Esta Lei, refere-se aos insumos permitidos para ser caracterizado como uma
cerveja pura. O fragmento a seguir apresenta os únicos ingredientes que eram permitidos
no processo de fabrico da cerveja:

Em especial, desejamos que daqui em diante, em todas as nossas cidades,


nas feiras, no campo, nenhuma cerveja contenha outra coisa além de cevada,
lúpulo e água. (SEIDL, 2003, p. 24).
20

O decreto estipulava que a cerveja deve ser produzida somente a partir de cevada,
lúpulo e água. A levedura nesta época ainda não havia sido descrita como um ingrediente,
o que ocorreu posteriormente com Louis Pasteur (STINCHFIELD, 2011).

3.4.1 Características botânicas e composição química do Humulus Lupulus L.

De acordo com a literatura, a denominação Humulus deriva da palavra húmus, a


mescla deste solo rica em matéria orgânica, onde a planta se desenvolve. Quanto ao nome
específico, pensa-se que terá origem na palavra latina Lupus (lobo) porque no seu
acelerado crescimento à luz, envolve e estrangula outras plantas ao redor, de um modo
análogo aos ataques dos lobos aos rebanhos de ovelhas. Apesar da família Cannabaceae
que a mesma pertence, ela não possui substâncias alucinógenas (SOUZA, 2005).

É uma erva aromática usada na fabricação de cervejas de difícil cultivo, originário


de zonas temperadas de alta latitude do hemisfério Norte, apresentando melhores
respostas de crescimento e produção em regiões entre latitudes de 35º a 50º do hemisfério
norte e sul (KNEEN, 2003). Durante o período de floração a planta requer dias longos e
durante o inverno, temperaturas amenas. No Brasil, o clima não é favorável ao cultivo
dessa espécie e, portanto, os lúpulos utilizados nas cervejarias brasileiras são importados
de países como Europa e Estados Unidos (MEGA et al., 2011). O Humulus Lupulus L. é
um ingrediente que possui alto custo na produção, cerca de 164$/kg muito maior que
custo do malte por exemplo, que é 7,69$/Kg.

A produção em larga escala do lúpulo, leva em torno de 2 a 3 anos, período


relativamente longo para sua produção em larga escala. A colheita das flores (parte da
planta empregada na cerveja), ocorre entre os meses de agosto e setembro. Após realizar
a colheita dos cones, as mesmas devem passar por um processo de secamento, sendo
embalados em ambientes de temperatura, umidade e oxigenação sob controle. As flores
contêm resinas e óleos essenciais que podem sofrer deterioração se não forem
cuidadosamente manuseados (KAISER; ERNEST, 2012).

O objeto de maior interesse é a sua flor, com folhas e um cone com tamanho entre
3 e 5cm. Na base das pétalas destes cones se encontra uma espécie de glândula de
coloração amarela contendo a lupulina, a qual armazena as resinas (α e β-ácidos) e os
óleos essenciais da planta, responsáveis por conferir à cerveja as características desejadas
quanto a amargor e aroma, frescor e uma boa formação de espuma (PRIEST;
21

STEWART, 2006). Conforme pode ser observado na Tabela 1, onde apresenta em


detalhes a composição química.

Figura 4 - Lúpulo cortado e glândulas lupulinas em amarelo.


Bráctea

Lupulina
Fonte: LAURENCE, 2017.

Tabela 1 - Composição química do Humulus Lupulus L.

Composição %

Resinas totais 12–21

α-ácidos 4 –10

β–ácidos 36

Óleos essenciais 0,5–2

Celulose 10–17

Taninos 2–6

Água 8–14

Proteínas 12–24

Cinzas 7-10
Fonte: REINOLD, 1997.

A Tabela 2, apresenta as principais substâncias encontradas no extrato de lúpulo


e na Figura 5, pode ser observado as estruturas químicas desses componentes.
22

Tabela 2 - Principais componentes do extrato de lúpulo e suas respectivas massas


molares.

Componente Fórmula Massa Molecular Fração


(g/mol)

Humulona C21H30O5 362,46 Resina

Lupulona C26H38O4 414,58 Resina

Mirceno C10H16 136,23 Óleo essencial

α-Humuleno C15H24 204,35 Óleo essencial

β- Cariofileno C15H24 204,35 Óleo essencial

Fonte: U.S. Department of Health & Human Services, 2014.

Figura 5 – Fórmulas estruturais dos principais componentes do extrato de lúpulo.

Humulona Lupulona

α-Humuleno β-Cariofileno Mirceno

Fonte: U.S. Department of Health & Human Services, 2014.

De acordo com Venturini Filho (2005), o lúpulo, além de conferir aroma e


amargor, apresenta ação antisséptica, pois os ácidos iso-α formados na etapa de fervura
do mosto impede a multiplicação de microorganismos. Com novas tecnologias sendo
desenvolvidas para o processo de lupulagem, novos produtos têm se destacado, como por
exemplo, extratos isomerizados para ajustar o amargor pós-fermentação. A utilização de
um ou mais destes extratos, resultantes do desenvolvimento tecnológico, ocorre em
23

função das necessidades particulares de cada processo e das características que compõe
cada tipo específico de cerveja (SILVA, 2005).

Comercialmente o lúpulo pode ser encontrado de três formas sendo estas, in


natura, pellets ou extratos (SILVA, 2005). O uso de cones (flores) secos de lúpulo é raro,
sendo que costuma-se utilizar o pré-processado peletizado (Figura 6), em que é moído e
prensado em pellets, adicionado hidróxido de magnésio, formando sais de magnésio de
α-ácidos para garantir maior estabilidade e embalados em ausência de oxigênio com
mesma finalidade. É possível também realizar um aquecimento dos pellets para pré-
isomerizar os α-ácidos (BOULTON; QUAIN, 2001).

Figura 6 - Forma comercial em pellets do Humulus Lupulus L.

Fonte: WE consultoria, 2019.

3.4.2 Óleos essenciais

Os óleos essenciais fazem parte do grupo de compostos químicos responsáveis


pela componente aromática das várias cultivares e, consequentemente, aqueles que vão
atribuir à cerveja o seu perfil aromático. Majoritariamente, os óleos essenciais do lúpulo
são constituídos de terpenos, que são formados principalmente por meio da via
biossintética do ácido mevalônico (AMV), formado a partir da condensação de três
unidades de acetil CoA que se combinam para formar o ácido mevalônico (LORENA;
JULIANO, 2017).

Por esta via, o ácido mevalônico sofre biotransformações relativas à eliminação


do seu grupamento álcool seguido de descarboxilação, o que produz o isopentenil
pirofosfato e o prenil pirofosfato (dimetilalil pirofosfato). O acoplamento (ligação
cabeça-cauda) dessas duas unidades de 5 carbonos dá origem ao geranil pirofosfato,
precursor dos monoterpenos, que apresentam 10 carbonos. Em seguida, um novo
acoplamento do isopentenil pirofosfato com geranil pirofosfato dá origem ao farnesil
24

pirofosfato, que pode gerar os sesquiterpenos que apresentam 15 carbonos. Assim, em


função do acoplamento cabeça-cauda de blocos construtores de cinco carbonos, os
terpenos sempre apresentarão número de carbonos múltiplos de 5, conforme Figura 7
(DEWICK, 1997).

Figura 7 - Rota biossintética de formação de terpenos encontrados no lúpulo.

Fonte: HOWARD, 1957. DMAPPI: dimetilalil-difosfato isomerase│ IPPI: isopentenil-


difosfato isomerase│ GPPS: geranil difosfato sintase │FPPS: farnesil pirofosfato sintase
│MoST: monoterpeno sintase│ SeST: sesquiterpeno sintase.

Entre os grupos a que pertencem estes compostos destacam-se os monoterpenos


e sesquiterpenos, sendo altamente voláteis, susceptíveis à oxidação e polimerização. Do
grupo dos monoterpenos aparecem como compostos majoritários no lúpulo o mirceno,
limoneno e o α-pineno (LORENA; JULIANO, 2017).

Do grupo dos sesquiterpenos são compostos majoritários no lúpulo o farneseno,


o humuleno e o β-cariofileno, possuindo um ponto de ebulição maior que os
monoterpenos. O α-humuleno é o sesquiterpeno mais abundante no lúpulo e foi um dos
25

primeiros compostos a ser identificado no óleo essencial. O β-cariofileno é o segundo


sesquiterpeno mais importante do lúpulo, o qual junto com o α-humuleno contribui
positivamente para o aroma, sendo desejado em uma proporção de 3:1 (α-humuleno: β-
cariofileno) para oferecer um aroma de caráter mais nobre com notas herbais, florais e
de especiarias (ALMAGUER et al., 2014).

Um dos compostos oxigenados de maior interesse no lúpulo é o linalol, o álcool


terpênico,é considerado uma substância importante como indicador da qualidade do
aroma da cerveja. O linalol constitui-se a partir da hidratação do β-mirceno e também
um composto quiral (HARDWICK, 1994).

O lúpulo possui aproximadamente 0,5–1mL/ 100g de óleos totais, isto varia de


acordo com o tipo escolhido. Os componentes majoritários mais importantes para o aroma
são o mirceno, α-humuleno e β-cariofileno, os quais representam juntos cerca de 80% do
total dos óleos essenciais (VERZELE, 1986).

3.4.2.1 Métodos de extração dos óleos essenciais

Os óleos essenciais compreendem uma mescla muito complexa de substâncias


voláteis resultantes do metabolismo secundário das plantas e grande parte dos óleos
essenciais é obtida por hidrodestilação, por meio da qual as extrações são feitas por
técnicas que envolve a destilação com água (SHARP; LAWS, 1981).

A hidrodestilação é um método antigo e versátil no qual o material vegetal


permanece em contato com a água em ebulição que serve como um solvente, não
deixando resíduos tóxicos após a extração. O vapor força a abertura das paredes celulares
e ocorre a evaporação do óleo que está entre as células da planta. Uma das principais
propriedades físicas utilizadas nos projetos de extratores é a densidade do óleo essencial
a ser extraído em temperaturas que variam de 5°C a 50°C (SILVA, 2011).

Com base nessa propriedade, existem vários tipos de sistemas extratores de óleos
essenciais que podem ser acoplados na hidrodestilação, sendo o mais conhecido e
utilizado em escala laboratorial é o sistema Clevenger, projetado para operar em circuito
fechado através do método de coobação, que consiste na recirculação da água condensada
(Figura 8). Por funcionar em circuito fechado apresenta perda mínima de substâncias
26

voláteis. De acordo com Biasi e Deschamps (2009), os aparelhos do tipo Clevenger


consistem então em:

Um balão de vidro com volume variável que é conectado ao condensador por


um aparato também de vidro. A manta aquecedora, que é conectada a energia
elétrica, fica em contato com o balão de vidro, sendo a temperatura regulada
por um termostato. As dimensões do balão e do aparato de vidro do aparelho
tipo Clevenger dependem da densidade do óleo essencial e devem ser
observadas para aumentar a eficiência de extração (BIASI; DESCHAMPS, p.
565, 2009).

Figura 8 - Esquema do processo de extração por hidrodestilação utilizando Clevenger.

Fonte: BIASI; DESCHAMPS, 2009.

No aparelho clevenger, quando a mistura água/biomassa entra em ebulição, os


vapores de água e as substâncias voláteis carregadas são conduzidos até o condensador,
onde há uma troca de calor, condensando os vapores com a água de refrigeração e por
conta da imiscibilidade dos componentes voláteis e da água, ocorre a formação de duas
fases líquidas. Nessa etapa, pode ser visualizado o óleo essencial e a água, sendo esta
água retornada ao balão através do tubo de retorno (SARTOR, 2009).

De acordo com Shellie et al. (2009), o ciclo deve se repetir continuamente até que
atinja o tempo de 4 horas para cada 50g de material. Posteriormente o aparelho é
desligado e necessita somente da remoção de água excedente, sem purificação,
apresentando um bom rendimento e uma alta eficiência. Uma limitação desta técnica é
que o extrator é projetado para destilação de óleos essenciais mais leves que a água, o que
limita o uso para extrair óleos mais densos que a água e dependendo do tipo de planta a
27

ser extraída, a hidrodestilação pode proporcionar um rendimento de 1 a 2% de óleo


essencial.

Outra técnica empregada é a destilação por água e vapor, também conhecida como
arraste a vapor, que é uma destilação de misturas imiscíveis de compostos orgânicos e
vapor d’ água. Misturas imiscíveis não se comportam como soluções. Os componentes
entram em ebulição a temperaturas menores do que os pontos de ebulição dos compostos
individuais, ou seja, o princípio da destilação por arraste a vapor baseia-se no fato de que
a pressão total de vapor de uma mistura de líquidos imiscíveis é igual a soma da pressão
de vapor dos componentes puros individuais. A pressão total de vapor da mistura torna-
se igual à pressão atmosférica e a mistura ferve numa temperatura menor que o ponto de
ebulição de qualquer um dos componentes (GODEFROOT et al., 1981).

Na extração por arraste a vapor o material vegetal, de onde será extraído o óleo é
geralmente moído ou triturado, assim como, utiliza-se uma caldeira para geração de
vapor. O material vegetal é inserido em vasos extratores, como um balão em escala
laboratorial ou em escala piloto em vasos cilíndricos de aço inoxidável. Uma fonte de
calor vaporiza a água e o vapor d´água gerado arrasta os óleos naturais, que se vaporizam
com o choque térmico. O vapor contendo os óleos essenciais passa por um condensador
ocorrendo a condensação (STEFFANI, 2003).

Como produto, tem-se o óleo essencial e uma fase aquosa chamado hidrolato,
ambos facilmente separados por decantação. Em seguida, o óleo essencial é envasado em
vidro âmbar e mantido em local abrigado de temperaturas elevadas e luminosidade
(SARTOR, 2009). Um esquema desse processo para extração de óleos essenciais pode
ser visto na Figura 9, em escala industrial.

A indústria prefere a destilação com arraste a vapor devido à sua maior


simplicidade e economia, pois permite tratar de uma única vez quantidades significativas
de material vegetal e não agride o meio ambiente e apresente de 0,5 a 4%, com produtos
de elevada pureza. A desvantagem da técnica é que, durante a destilação, a água, a acidez
e a temperatura podem provocar a hidrólise de ésteres, rearranjos, isomerização,
racemização e oxidações (GUENTHER, 1976).
28

Figura 9 - Aparelho de destilação a vapor de uso industrial.

Fonte: SARTOR, 2009.


29

4. METODOLOGIA

4.1 Amostra

Para a realização deste trabalho foram utilizadas amostras em forma de pellets de


Humulus lupulus L. variedade Hallertau Mittelfrüh, Humulus lupulus L. variedade
Columbus e Humulus lupulus L. variedade Saaz, adquiridas na Empresa WE consultoria,
localizada na cidade de Porto Alegre, RS. Após o recebimento, as amostras foram
armazenados sob refrigeração até sua utilização para as análises.

4.2 Extração do óleo essencial

O teor de óleos essenciais foi determinado seguindo o protocolo de análise


recomendado pela American Society of Brewing Chemists - ASBC. Inicialmente, fez-se
uma extração dos óleos essenciais do lúpulo para cada amostra por meio de
hidrodestilação, utilizando-se o aparelho de Clevenger onde os compostos provenientes
do óleo são arrastados por vapor de água. Para cada extração foram utilizadas 100g de
amostra, que foram inseridas em um balão de fundo redondo de 5000mL. No mesmo foi
adicionado pérolas de vidro e 1200mL de água destilada. Na escala volumétrica do
aparelho de Clevenger, foram adicionados 2,5mL de éter de petróleo, a fim de separar as
fases (água e fase etérea contendo o óleo essencial), conforme Figura 10.

Figura 10 - Hidrodestilação do lúpulo com aparato de Clevenger.

Fonte: Autora, 2019.


30

O aquecimento do sistema foi promovido por uma manta de aquecimento, onde


foi mantido constante na temperatura mínima necessária para ebulição. O tempo de
destilação foi mantido em quatro horas, contados a partir do momento da condensação da
primeira gota. Subsequentemente a hidrodestilação, o óleo foi recolhido em um frasco de
amostragem e seguiu para o rotaevaporador, a fim de volatizar os resíduos de solvente
presente na amostra, o mesmo foi então transferido para um vial de cromatografia gasosa
e lacrado com tampa de teflon, que foi mantido sob refrigeração até o momento da análise.

4.3 Rendimento do óleo essencial

Para o cálculo do rendimento de extração de óleo essencial, utilizou-se a massa


em base seca, conforme Santos et al. (1998), sendo utilizada a Equação 1.

𝑉𝑜 𝑥 100
𝑇 (%) = 𝐵𝑚 𝑥 𝑈 Eq. (1)
𝐵𝑚−
100

Onde:

T = teor de óleo (mL de óleo essencial em 100g de biomassa seca) ou rendimento


de extração (%).

Vo = volume de óleo extraído (mL), lido diretamente na escala do tubo separador.

Bm = biomassa vegetal, medida em gramas.

(𝐵𝑚𝑥𝑈)
Bm – = quantidade de biomassa seca, isenta de água ou livre de umidade.
100

Essa equação é largamente aplicada na determinação do teor de óleo essencial em


base livre de umidade (BLU), sendo que o valor expresso em porcentagem, que
corresponde ao volume/peso (mL de óleo essencial por 100g de biomassa seca) e indica
o valor correto do teor de óleo contido na biomassa seca.

4.3.1 Teor de umidade

Para obter o teor de umidade, determinou-se previamente a massa de uma cápsula


de porcelana, na qual foi inserido 0,5g de amostra. Esta foi encaminhada até a estufa,
onde permaneceu à 105ºC por 06 horas. Antes de proceder a pesagem a cápsula foi
mantida em dessecador para resfriamento até a temperatura ambiente (aproximadamente
31

10 minutos). As análises foram realizadas em triplicata. Para quantificar a umidade


presente na amostra foi utilizado a Equação 2.

(𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙−𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙)


U%= ×100 Eq. (2)
𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎

4.4 Análise qualitativa e quantitativa dos compostos químicos do óleo essencial

4.4.1 Análise qualitativa

O óleo obtido foi encaminhado para análise em cromatógrafo a gás acoplado à


espectrometria de massa, sendo injetado 1µL de amostra no modo split (1:10). As análises
foram realizadas em um cromatógrafo Shimadzu (modelo CG-2010) equipado com uma
coluna capilar de sílica fundida do tipo RTX-5MS (Restek, 30,0m x 0,25mm x 0,25µm).
Com condições de operação de: temperatura injetor de 240ºC, fluxo de ás de 1,0mL/min,
gás de arraste foi o hélio (He). A pressão da coluna era de 53kPa, temperatura do forno
com rampa de temperatura de 50ºC a 290ºC, com velocidade de aquecimento de 4ºC/min.
O espectro de massas foi obtido no modo de ionização eletrônica a 70eV, com varredura
de m/z de 40 a 600Da, em uma frequência de 2,94 scan/sec. A fonte de íons foi mantida
a 260ºC e interface a 280ºC.

Os dados obtidos foram interpretados com o auxílio do software CG/EM Postrun


Analysis. A identificação dos compostos foi baseada na comparação dos índices de
retenção (I.R) da mesma coluna e espectro de massa descrito por Mc Lafferty and Stauffer
(Wiley) e por Adams (2007). O índice de retenção foi obtido com o método de Van den
Dool e Kratz por padrões de n-alcanos C7-C30 (supelco Analytical).

4.4.2 Análise quantitativa

A análise quantitativa do óleo essencial foi obtida em um cromatógrafo a gàs (CG)


com detector de ionização de chama (FID). O cromatógrafo (Shimadzu, modelo CG-
2010) continha uma coluna capilar de sílica fundida do tipo RTX-5MS (Restek, 30,0m x
0,25mm x 0,25µm). Com as mesmas condições de operação citadas no item 4.4.1 e os
dados quantitativos foram calculados pela integração da área dos picos do CG sem o uso
de fatores de correção. Todas as amostras foram injetadas em triplicata.
32

4.5 Análise multivariada

O Software PAST 1.90 foi utilizado para avaliar a similaridade entre as amostras
de lúpulo da variedade Hallertauer Mittelfrüh, Columbus e Saaz. A análise multivariada
foi realizada pelo método de análise de coordenadas principais (PCoA), onde
componentes presentes na amostra foi atribuído o número 1 (um) e a ausência foi
caracterizada pelo número 0 (zero), ordenando os dados multivariados quantitativos pela
medida de distância (HAMMER et al., 2001).
33

5. RESULTADO E DISCUSSÃO

O teor de umidade do lúpulo na escala volumétrica foi de 1,02mL para o


Hallertauer Mittelfrüh, de 1,71mL para o Columbus e do Saaz de 0,48mL sendo estes
valores utilizados para determinação da quantidade de óleo essencial/ 100g biomassa
vegetal, bem como rendimento (Tabela 3).

Estes dados podem ser comparados aos apresentados pela empresa WE


consultoria, que disponibiliza uma tabela contendo a descrição da concentração total de
óleos essencias, onde considerou-se que a quantidade máxima de óleo essencial que pode
ser extraída, seja equivalente a 100% de rendimento conforme Tabela 3.

Tabela 3 - Descrição da composição das três amostras de lúpulo.

Hallertauer Mittelfrüh Columbus Saaz


Descrição
WE WE WE
Experimental Experimental Experimental
consultoria consultoria consultoria

Óleo total
0,7–1,3 1,20 1–2 1,89 0,4–0,8 0,53
(mL/100g)

Teor 10,03% ± 10,1%


8% 8% 9,8% ± 0,021 8%
umidade 0,0433 ± 0,033

Rendimento 100% 92,00% 100% 94,79% 100% 66,70%

Fonte: Autora, 2019.

De acordo com Hieronymus (2011), a colheita da planta é realizada quando a


mesma apresenta flores com um teor de umidade entre 75 e 85%, o mesmo descreve que
este é um dos fatores críticos para garantir a viabilidade no processamento do produto.
Após a extração das flores, as mesmas passam por um processo de secagem, resultando
em um aumento da conservação do produto pois baixos níveis de umidade reduzem os
riscos de deteriorização, além de preparar o produto para posteriores processos. Nesta
etapa, em sua maioria realizada por meio de secadores de bandeja, a umidade da flor é
reduzida até valores entre 9 e 11%.

Durante a secagem ocorrem transformações físico-químicas nas flores, entre as


principais sua descoloração e perda de textura, como também a perda de parte de
compostos voláteis, principalmente de óleos essenciais. A precisão no controle do
34

processo é de extrema importância para evitar grandes prejuízos referentes às


características finais do produto. Para garantir a uniformidade da umidade, após a
secagem as flores passam por um período de acondicionamento sendo a umidade reduzida
até a faixa de 7 a 8% atingindo o equilíbrio ao longo do volume das flores (KUNZE,
1999). Em contrapartida, no estudo realizado por Almaguer et al. (2014), ao analisar
diversos tipos de lúpulo em pallets, o mesmo encontrou um teor de umidade em torno de
10%, sendo este um valor muito próximo ao encontrado nas presentes análises.

Quando comparado a faixa de rendimento citado pela WE Consultoria,


considerando que a eficiência máxima da extração seja a máxima quantidade que pode
ser extraída, conforme disposto na Tabela 3, tem-se que para o Columbus obteve-se o
maior rendimento, seguido do Hallertauer Mittelfrüh e, por fim, o Saaz na extração, os
resultados obtidos podem ser observados na Figura 11. Tais resultados já eram esperados
conforme observações realizadas durante as extrações. De acordo com citado na
literatura, o resultado obtido para o lúpulo Saaz, já era esperado devido a baixa presença
de óleos essenciais e a alta volatilidade dos compostos presentes no mesmo (WE
consultoria, 2019).

Figura 11 - Eficiência nas extrações realizadas por hidrodestilação.

Fonte: Autora, 2019.

Na análise da composição química do óleo essencial das três variedades observa-


se pelos cromatogramas (Figura 12, Figura 13 e Figura 14) a diferença entre as amostras
analisadas.

O cromatograma da variedade Hallertauer Mittelfrüh permitiu verificar a


presença de 40 compostos, enquanto que o da variedade Columbus, permitiu verificar a
35

presença de 24 compostos, enquanto que Saaz, permitiu verificar a presença de 26


compostos. Porém observa-se que nas três amostras os compostos majoritários eram o
mirceno, α-humuleno, β-cariofileno. A Tabela 4 apresenta um comparativo do teor de
cada composto majoritário.

Tabela 4 - Majoritários encontrados no lúpulo.

Hallertauer Mittelfrüh Columbus Saaz


Descrição
WE Experiment WE WE
Experimental Experimental
consultoria al consultoria consultoria

Mirceno 20–28% 19,39% 25 – 65% 26,31% 25-40% 6,25%

α–humuleno 45–55% 23,17% 10 – 25% 16,61% 15–25% 11,63%

β–cariofileno 10-15% 8,99% 05 – 15% 11,08% 10-12% 2,29%

Fonte: Autora, 2019.

Quando comparado os 03 majoritários encontrados em cada amostra com a


literatura, percebe-se que apenas o teor de β–cariofileno do Hallertauer Mittelfrüh e
Columbus são próximos, já a variedade Saaz difere-se das demais amostras (WE
consultoria, 2019). A diferença presente no teor dos compostos majoritários possui
relação direta com o tipo de lúpulo que será utilizado na produção de cerveja, uma que
vez, estes variam em entre notas herbais mais delicadas (Saaz) a notas mais intensas
(Columbus). Observa-se que os comercializadores não fornecem uma matéria prima tal
qual especificam em suas embalagens.

A seguir na Figura 12 pode ser observado o cromatograma do óleo essencial do


lúpulo Hallertau Mittelfrüh, Figura 13 que representa o cromatograma do óleo essencial
do lúpulo Columbus e Figura 14 que representa o cromatograma do óleo essencial do
Saaz.
36

Figura 12 - Cromatograma obtidos por GC-EM do óleo essencial do lúpulo Hallertau


Mittelfrüh.

α-Humuleno
Mirceno
Epóxido Humuleno II
β - Cariofileno

Óxido
Cariofileno

Fonte: Autora, 2019.

Figura 13 - Cromatograma obtidos por GC-EM do óleo essencial do lúpulo Columbus.

β - Cariofileno α-Humuleno
Mirceno
δ-Cadineno
Epóxido Humuleno II

Fonte: Autora, 2019.

Figura 14 - Cromatograma obtidos por GC-EM do óleo essencial do lúpulo Saaz.

α-Humuleno

Mirceno β - Cariofileno Epóxido Humuleno II

Fonte: Autora, 2019.

Em cada cromatograma foram identificados os picos com maior área e os


compostos majoritários, mirceno, α-humuleno e β-cariofileno, a estrutura química destes
compostos podem ser observados a seguir na Figura 15.
37

Figura 15 – Estrutura química dos majoritários presentes em todas as amostras.

α-Humuleno β-Cariofileno Mirceno

Fonte: Autora, 2019.

O óleo da variedade Hallertau Mittelfrüh (Tabela 5) apresentou 25 terpenos sendo


1 monoterpeno, 12 sesquiterpenos, 2 ésteres, 4 cetonas, 2 óxidos e 4 álcoois. Os outros
picos que não foram identificados, se referem a outras classes de compostos, como
hidrocarbonetos não derivados do isopreno e a ésteres, por exemplo.

Tabela 5 – Composição química do óleo essencial da variedade Hallertau Mittelfrüh.


Área
Terpeno tr (min)a IRCalcb IRLiterc FMd Grupo
(%)
Pico

1 Mirceno 8,141 19,39 1007 988 C10H16 I

2 Butanoato de butila 8,945 0,77 1026 993 C10H18O2 III

3 Linalol 12.193 2,58 1102 1095 C10H18O IV

4 2-Decanona 16,033 0,3 1193 1190 C10H20O V

5 Geraniol 18,733 1,02 1256 1249 C10H18O IV

7 2-Undecanona 20,377 1,42 1294 1293 C11H22O V

10 Geranato de Metila 21,678 0,57 1324 1322 C11H18O III

11 α-Ilangeno 23,747 0,26 1374 1373 C15H24 II


38

Continuação Tabela 5 – Composição química do óleo essencial da variedade Hallertau


Mittelfrüh.

Nº Área
Terpeno tr (min)a IRCalcb IRLiterc FMd Grupo
Pico (%)

13 2-Dodecanone 24,655 0,19 1395 1388 C15H24 V

14 β - Cariofileno 25,851 8,99 1424 1417 C15H24 II

15 β - Copaeno 26,175 0,56 1432 1430 C15H24 II

16 α-Humuleno 27,364 23,17 1462 1452 C15H24 II

17 Aromadendreno 28,115 2,7 1480 1460 C15H24 II

18 α-Amorfeno 28,249 0,27 1483 1483 C15H24 II

19 β- Selineno 28,525 1,51 1490 1489 C15H24 II

20 2-Tridecanona 28,758 0,73 1496 1495 C13H26O V

21 α-Selineno 28,863 1,66 1499 1498 C15H24 II

22 α-Muuroleno 29,051 0,98 1503 1500 C15H24 II

23 (Z)-Nerolidol 29,455 1,21 1514 1531 C15H26O IV

26 Selina-3,7(11)-dieno 30,444 1,21 1539 1545 C15H24 II

27 α-Cadineno 30,525 0,43 1541 1537 C15H24 II

28 Hedicariol 30,697 1,03 1546 1546 C15H24 II


39

Continuação Tabela 5 – Composição química do óleo essencial da variedade Hallertau


Mittelfrüh.

Nº Área
Terpeno tr (min)a IRCalcb IRLiterc FMd Grupo
Pico (%)

30 (2E)-Tridecanol 31,688 0,29 1572 1568 C13H26O IV

31 Óxido cariofileno 32,363 5,17 1589 1581 C15H24O VI

Epóxido humuleno
33 33,423 9,11 1617 1608 C15H24O VI
II

Fonte: Autora, 2019. a tr – tempo retenção │ b IRCalc – índice retenção calculado│ c IRLit - índice
de retenção (ADAMS, 2007) │ d FM – Fórmula Molecular. │ I - Monoterpeno │ II –
Sesquiterpeno │ III – Ésteres │IV - Álcoois │V - Cetona│ VI – Óxidos.

O óleo da variedade Columbus (Tabela 6) apresentou 18 terpenos, sendo 2


monoterpenos, 10 sesquiterpenos, 4 ésteres, 1 óxido e 1 álcool. Os outros picos que não
foram identificados, se referem a outras classes de compostos, como hidrocarbonetos não
derivados do isopreno e a ésteres, por exemplo.

Tabela 6 - Composição química do óleo essencial da variedade Columbus.

Nº tr Área
Terpeno IRCalcb IRLiterc FMd Grupo
Pico (min)a (%)

1 Mirceno 8,141 26,31 1011 988 C10H16 I

2 Butanoato de butila 8,945 2,35 1027 993 C10H18O2 III

3 Limoneno 9,519 2,07 1039 1024 C10H16 I

5 Geraniol 18,841 5,05 1258 1249 C10H18O IV

6 Nerolato de metila 21,717 1,24 1325 1280 C11H18O2 III

8 α–Cubebeno 23,984 2,14 1379 1348 C15H24 II

9 Acetato de nerila 24,226 0,41 1385 1359 C12H20O2 III

10 β–Cariofileno 25,925 11,08 1426 1417 C15H24 II


40

Continuação Tabela 6 - Composição química do óleo essencial da variedade Columbus.

Nº tr Área
Terpeno a
IRRealb IRLiterc FMd Grupo
Pico (min) (%)

11 α–Humuleno 27,38 16,61 1462 1452 C15H24 II

12 γ-muroleno 28,167 3,23 1481 1479 C15H24 II

13 β-selineno 28,576 2,34 1491 1489 C15H24 II

14 α-selineno 28,918 2,14 1500 1498 C15H24 II

15 α-muuroleno 29,092 0,95 1504 1500 C15H24 II

Isobutanoato de
16 29,527 2,54 1516 1514 C14H24O2 III
geranila

18 δ-Cadineno 30,044 3,58 1529 1522 C15H24 II

20 a-Cadineno 30,6 0,55 1543 1537 C15H24 II

Selina-3,7 (11)-
21 30,764 2,26 1548 1545 C15H24 II
diene

Epóxido humuleno
23 33,398 2,95 1617 1608 C15H24O VI
II

Fonte: Autora, 2019. a tr – tempo retenção │ b IRCalc – índice retenção calculado│ c IRLit - índice
de retenção (ADAMS, 2007) │ d FM – Fórmula Molecular │I - Monoterpeno │ II –
Sesquiterpeno │ III – Ésteres │IV - Álcoois │V - Cetona│ VI – Óxidos.

O óleo da variedade Saaz (Tabela 7) apresentou 18 terpenos, sendo 1


monoterpeno, 11 sesquiterpenos, 1 éster, 2 cetonas, 2 óxidos e 1 álcool. Os outros picos
que não foram identificados, se referem a outras classes de compostos, como
hidrocarbonetos não derivados do isopreno e a ésteres, por exemplo.
41

Tabela 7 - Composição química do óleo essencial da variedade Saaz.


Terpeno tra (min) Área (%) IRCalcb IRLiterc FMd Grupo
Pico
1 Mirceno 8,142 6,25 1007 998 C10H16 I

2 2-Undecanona 20,37 0,82 1294 1294 C11H22O V

3 Geranato de Metila 21,675 0,32 1324 1322 C11H18O III

4 α-Cubebeno 23,933 0,54 1378 1387 C15H24 II

5 β-Cariofileno 25,755 2,29 1422 1417 C15H24 II

6 Bergamoteno 26,375 0,31 1437 1432 C15H24 II

7 α-Humuleno 27,175 11,63 1457 1452 C15H24 II

8 γ-Muroleno 28,083 1,51 1479 1478 C15H24 II

9 β-Selineno 28,5 0,81 1490 1489 C15H24 II

10 2-Tridecanona 28,742 0,75 1496 1495 C13H26O V

11 α-Selineno 28,842 0,54 1498 1498 C15H24 II

12 α-Muuroleno 29,033 0,35 1503 1500 C15H24 II

14 γ-cadineno 29,592 1,52 1517 1513 C15H24 II

15 cis-Calameneno 29,95 0,47 1527 1528 C15H24 II

19 Óxido Cariofileno 32,317 6,24 1588 1582 C15H24O VI

20 Dietil-ftalato 32,692 1,00 1597 1590 C10H16 VII

22 Epóxido Humuleno II 33,325 14,65 1615 1608 C15H24O VI

23 1,10-di-epi-cubenol 34,075 0,87 1635 1618 C15H26O IV

Fonte: Autora, 2019. a tr – tempo retenção │ b IRREAL – índice retenção calculado│ c IRLit -
índice de retenção (ADAMS, 2007) │ d FM – Fórmula Molecular. │I - Monoterpeno │ II –
Sesquiterpeno │ III – Ésteres │IV - Álcoois │V - Cetona│ VI – Óxidos │ VII –Impureza.

Conforme a Tabela 5, identifica-se facilmente os principais terpenos presentes no


Humulus Lupulus L. do tipo Hallertauer Mittelfrüh, sendo estes o mirceno, β-cariofileno
e α–humuleno, α–selineno e β-selineno, que constituem cerca de 80% da composição do
42

óleo. Os valores dos índices de retenção calculados para estes terpenos característicos
identificados foram próximos ao Índice de retenção apresentados por Adams (2007).

De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, a variedade


Hallertauer Mittelfrüh apresenta área de mirceno de 40,2%, β–cariofileno de 9,9%, α-
humuleno de 33,9% e nenhum farneseno, constata-se que apenas o mirceno está próximo
do valor encontrado na presente pesquisa.

Em um estudo realizado por Great Lakes Hops (2018) a variedade Columbus,


apresentou mirceno com área de 25-45%, α–humuleno com área de 15-25% e β-
cariofileno com área de 8-12%. Percebe-se que os resultados apresentados na Tabela 6
para os majoritários estão dentro da faixa citada pelo autor e os índices de retenção
calculados para estes terpenos característicos identificados foram próximos ao Índice de
retenção apresentados por Adams (2007).

Conforme a Tabela 7 identifica-se com facilidade para a variedade Saaz, que os


índices de retenção calculados para os terpenos característicos identificados foram
próximos ao Índice de retenção apresentados por Adams (2007). De acordo com a
literatura, o mesmo apresenta mirceno com área de 25-30%; β-cariofileno com área de 9-
11%, α-humuleno com área de 35-40% e farneseno com área de 9,0-13% (VARIETY
MANUAL HOP GROWERS OF AMÉRICA, 2018), as diferenças encontradas podem
estar associadas quanto ao local o qual foi realizado o plantio, pois mudanças climáticas
afetam significativamente o teor de terpenos presente.

Na composição química do lúpulo, o mirceno é um composto importante por que


este confere um aroma pungente de lúpulo fresco na cerveja (notas de aroma balsâmico,
mofado e especiarias). Porém, quando está presente em alta quantidade, proporciona um
sabor descrito na literatura como áspero e desagradável. Os lúpulos classificados como
nobres (aroma e sabor intensos) apresentam teores de mirceno e α-humuleno invertidos,
como foi o caso do Hallertauer Mittelfrüh, enquanto que nas variedades comuns os teores
de mirceno são usualmente superiores ao de humuleno. Como é o caso do Columbus e
Saaz, porém na prática apenas o Columbus atendeu esta relação (ALMAGUER et al.,
2014).

Além disso, os produtos de degradação ou oxidação do mirceno podem gerar


compostos importantes para o aroma e sabor como o linalol e geraniol. Estão são
importantes álcoois terpênicos no óleo essencial do lúpulo, pois devido aos seus baixos
43

limiares de percepção de odor na cerveja estes são indicadores de aroma para os diferentes
tipos de lúpulo que podem ser utilizados na fabricação de cerveja, contribuindo com notas
florais. O linalol foi encontrado apenas na variedade Hallertauer Mittelfrüh. e o geraniol
não foi encontrado apenas na variedade Saaz (ALGAZZALI; SHELLHAMMER, 2019).

Os sesquiterpenos como o β-cariofileno, α-humuleno e seus respectivos epóxidos


proporcionam sabores agradáveis para a cerveja. Em relação aos β-cariofilenos, estes
tendem a apresentar maiores teores em variedades aromáticas do que em lúpulos de
amargor, este apresenta aroma amadeirado e de especiarias (ALMAGUER et al., 2014).

Já o epóxido de humuleno II que apresenta características de aroma de cedro e


mofado, bem como o óxido de cariofileno com características de aroma doce, frutado,
amadeirado e herbal. Segundo Algazzali & Shellhammer (2019), variedades de lúpulo
que apresentam grandes quantidades de α-humuleno como o Hallertau Mittelfrüh (51%),
são submetidas a processos de envelhecimento em fardos por várias semanas antes da
peletização, o que resulta em maiores quantidades de epóxidos de humuleno e outros
produtos de oxidação que alguns cervejeiros acreditam que podem aumentar
significativamente o potencial de aroma da cerveja.

Bernotienė et al. (2004), realizaram estudos em alguns locais de Aukštaitija, onde


identificaram alguns, compostos como, α-humuleno, α–selineno, β-selineno, δ-cadineno
e epóxido humuleno II. Já Kralj et al. (1990), realizaram estudos com o lúpulo originado
em diferentes regiões (Ásia, Oceania, África, Europa e América do Norte). Estes
destacaram os compostos mirceno, aromadendreno, α-selineno e δ-cadineno que foram
encontrados. Assim sendo, parte dos compostos identificados nestes estudos reforçam a
validade dos resultados obtidos no presente trabalho.

Os compostos caracterizados foram todos agrupados na Tabela 8, onde foi


identificado quanto a ausência com número zero (0) e a presença de um dado componente
com o número um (1) para as três amostras, ao final encontra-se também o somatório do
total de componentes identificados por amostra.
44

Tabela 8 – Matriz de ausência e presença de um dado composto.

Compostos Hallertau Mittelfrüh Columbus Saaz

Mirceno 1 1 1
Butanoato de butila 1 1 0
Linalol 1 0 0
2-Decanona 1 0 0
Geraniol 1 1 0
2-Undecanona 1 0 1
Geranato de Metila 1 0 1
α–Ilangeno 1 0 0
2-Dodecanona 1 0 0
β-Cariofileno 1 1 1
β–Copaeno 1 0 0
α-Humuleno 1 1 1
Aromadendreno 1 0 0
α–amorfeno 1 0 0
β-Selineno 1 1 1
2-Tridecanona 1 0 1
α–Selineno 1 1 1
α - Muuroleno 1 1 1
(Z)-Nerolidol 1 0 0

Selina-3,7(11)-dieno 1 1 0
α–Cadineno 1 1 0
Hedicariol 1 0 0
(2E)-Tridecanol 1 0 0
Óxido de cariofileno 1 0 1
Epóxido de humuleno II 1 1 1
Limoneno 0 1 0
45

Continuação Tabela 8 – Matriz de ausência e presença de um dado composto.

Compostos Hallertau Mittelfrüh Columbus Saaz

Nerolato de metila 0 1 0

δ-muroleno 0 1 1
α-cubebeno 0 1 1
Acetato de nerilo 0 1 0
δ-cadineno 0 1 1
Bergamoteno 0 0 1
Cis-calameneno 0 0 1
Dietil-ftalato 0 0 1
1,10-di-epi-cubenol 0 0 1

Total 25 18 18
Fonte: Autora, 2019.

A partir da Tabela 8, verifica-se que os compostos presentes em todas as amostras


foram α–humuleno, β–cariofileno, mirceno, α–selineno, β–selineno, α–muuroleno e
epóxido de humuleno II. Com base nesta matriz de similaridade e dissimilaridade foi
possível fazer a Análise de Coordenadas Principais (PCoA), a partir da qual foi gerado o
diagrama de ordenação, apresentado na Figura 16.

A partir deste gráfico observa-se que não há similaridade entre os tipos de lúpulos
testados, uma vez que cada amostra está contida em um quadrante. Observa-se conforme
a análise multivariada, que o primeiro eixo tem um autovalor de 2,3884 e explica 54% da
variação dos dados e o segundo eixo tem um autovalor de 2 e explica os outros 43% da
variação. A amostra que mais difere-se é a do lúpulo Hallertau Mittelfrüh, quando
comparado ao Columbus e o Saaz, isto deve-se ao fato desta amostra estar localizada no
extremo do eixo da abscisas, ou seja, devido a esta estar no extremo direito do eixo x, que
é mais significativo (54%) que as amostras localizadas nos extremo inferior ou superior
do eixo vertical (43%).
46

Figura 16 – Diagrama de similaridade das amostras de lúpulo.

Fonte: Autora, 2019.

A ausência de homogeneidade entre os óleos essenciais das três amostras de


lúpulo (Humulus Lupulus L.) demonstra que além da diferença botânica e de variedade,
há também uma diferença química, o que corrobora com a diferença de aromas obtidos
por cada variedade, contribuindo para aromas diferentes à cerveja.

Em consequência de cada amostra ser cultivada em um país, como é o caso do


Hallertau Mittelfrüh ser originário da Alemanha, Saaz originário da Bohemia e Columbus
dos Estados Unidos, as condições de plantio são diferentes e estas alterações climáticas
infuenciam diretamente na composição química final do produto, como pode ser
observado por PCoA. Uma vez que o tempo de colheita demora entre 2 a 3 anos, as plantas
ficam expostas a todos os temperes possíveis. Neste âmbito geral, o Brasil por possuir um
clima intenso com elevadas e/ou baixíssimas temperaturas por longos períodos, não
consegue ser um comercializador de lúpulo, pois ao final do plantio não consegue garantir
um produto com composição química uniforme.
47

6. CONCLUSÃO

Conclui-se que o método de extração empregado foi eficiente e apropriado, uma


vez que foi constatado que o rendimento de extração para cada variedade está dentro do
citado pela literatura, sendo o Columbus, o que possui maior quantidade de óleos
essenciais, com eficiência de 94,79% na extração.

Ademais foi possível realizar a caracterização dos compostos terpênicos/


aromáticos presentes em diferentes variedades de lúpulos comerciais, reconhecendo que
os compostos majoritários, mirceno, α–humuleno e β–cariofileno estavam presentes em
todas as amostras analisadas. Sendo que na variedade Hallertau Mittelfrüh foi encontrado
a maior quantidade de compostos cerca de 40 e destes foram identificados 25 terpenos
conforme comparação com a literatura, para o Columbus foram encontrados 24
compostos e destes 18 foram identificados conforme comparação com a literatura. Já para
o Saaz foi encontrado 26 compostos e destes, 18 foram identificados conforme
comparação com a literatura. Após estas análises e comparações percebe-se que o produto
vendido não contém a composição química informada pelo seu fabricante, o que pode
levar a uma cerveja com um aroma mais/menos intenso do que o esperado.

Por fim, através das informações geradas por cromatografia a gás acoplado a
espectrometria de massa, com auxílio de abordagens multivariadas de coordenadas de
componentes principais, foi constatado que a presença do α–humuleno, β–cariofileno,
mirceno que são os majoritários, bem como α–selineno, β-selineno, α–muuroleno e
epóxido humuleno II em todas as amostras analisadas, estes não refletem em uma amostra
homogênea, devido aos demais compostos presentes em cada variedade. Devido ao local
de plantio de cada amostra.
48

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