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PANDEMIA AFETOU CONTEUDO DOS SONHOS ere teary SOS AMERICANS orate) an SLD SOI oe BN Tees Objetos SEEK NST SS Flat Cs emissary Se aru: 3 Ue eee nese erence _ osurgimento da vida na Terra pV. DNV Ney DET) OT ULC 57.3027. SUSE Me Te re aes eMC ert sete RC . Ole Cries es ee Ue Ore Co articular passado e presente para sobreviver *Hanard ~=—- Receba todos os Review —=-_ meses o melhor conteudo sobre negocios. pee A erada conexao continua DISPONIVEL NAS PLATAFORMAS as a cs (Elsegmento 26 st Visitantes interestelares “ Avistadas recentemente, duas rochas espaciais que vieram de ‘muito além do Sistema Solar intrigam os astrnomos. David Jewitte Amaya Moro-Martin Ode (Os maias laeanddes escaparam dos conquistadores espanhois ¢ sobreviveram na selva por 38 ccentenas de anos. Agora, seu passado esti sendo revelado sgragas a descobertas arqueolégicas. Zach Zorieh SCIENTIFIC AMERICAN Nascidos de: Por que melhorar agora a satide dos reeém-naseidos & mais Importante do que jamais fo, Janet Currie 0 contagio nos sonhos Como a pandemia de COVID-19 std mudando o nosso sono, Tore Nielsen ert do‘ Oumar opie oi © que aprendemos Solo dai aur nove aor com a Aids ees s.sciondo prs As ligbes de outra pandemia so daformacso dos planet para o combate a COVIDAS, de chaste cherkenaso Wiltiam A. Haseltine Tastes Shutterstock, SCIENTIFIC AMERICAN 6 18 ee 2s Pry es 64 ca Joe Biden deve ser 0 proximo presidente dos EUA. Pelos editores Softwares de reeonheeimento de fala tem problemas com voues de minorias, Claudia Lopes-Lloreda Mem Avangos + Fatia de supernova + Achar metal ficou fil + Deonde vem o magia? + Alga detetive + Um conereto térmico Sepultado em opala + Meteorologistas que migram + Umar etal + Os mais fortes dos corais ‘gro surge em v Registro visual que compila vias observagies confirma previsdes teoricus de fisieos. ivador Nogueira Um novo fator p {Uma bactéria bucal comum esta sendo associada a casos de metistase. Claudia Wallis MIRANTE Sexismo e Se pensarmos que o sistema vai se corrigir sozinho, estaremos nos enganando, Naomi Oreskes Paisagem infernal Descobertas que fiz durante a pandemia. Steve Mirsky A boiada passou... para o brejo Mudancas aprovadas pelo CONAMA vao preiudicar agricultura, indistriae populagao, Alexander Tarra Uma curta temporada de gripe A respasta & COVID:19 impadin o sito de influenza no Heemistéio Sul. Katie Pek Pablo Nogueira Sie Ameria ri CARTA DO EDITOR Uma tarefa para os préximos ano: ‘Quando esta edigdo chegar as suas maos, cara leitora e caro leitor, vooés jé saberdo qual tera sido o resultado da eleigdo pre- sideneial norte-amerieana. Mesmo assim, optamos por manter neste nimero o artigo da segao Ciéneia em pauta, ja publicado ‘em nosso site em setembro, em que a revista reeomendou. aos seus leitores nos Estados Unidos que votassem no candidato democrata, Joe Biden, Devido & limitagbes de espago, nto nos foi possivel reproduzir 0 artigo na integra; porém, aqueles que tiverem interesse podem encontrar 0 texto na integra, em por- ‘tugues, em nosso site, através da URL shorturl.at/hiwQ9 (ou centio, aeesse www.sciam.com.br e digite Joe Biden no campo de pesquisa de contetio) ‘Tao logo 0 texto foi divulgado, alcangou repercussao na mi- dia de diversos paises, inclusive a do Brasil. Afinal, em seus 175 anos de historia, esta fo a primeira vez que a Scientific Ame- rican se posicionou quanto a uma eleicio, Como era de se espe- rar, a iniciativa gerou tanto aplausos quanto protestos. Dado o ineditismo do ocorrido, nossa avaliagdo foi a de que os leitores do Brasil também merecem ter acesso ao posicionamento da revista americana, e por isso publicamos o artigo, primeiro no site, eagora em nossa ediglo regular: Também aqui no Brasil a divulgagdo do texto suseitou rea- (c0es variadas entre a comunidade que nos acompanha on-line Houve muitas acusagdes de que estariamos misturando a c cia.com politica, ¢ assim perdendo legitimidade para continu aexercer nossa missio, que € a de compartilhar com todos os interessadias as avangos e descobertas mais instigantes na fron- teira do conhiecimento. Por outro lado, recebemos mensagens e comentarios saudando a iniciativa, Foi um dos assuntos mai comentados na hist6ria de nosso perfil no Facebook: Qualquer que tenlia sido o resultado da eleigio de novem- bro, €importante salfentar que as posigbes da revista permane- ccem inalteradas. Ela se mantém a favor do uso do conhecimen- ‘to cientifico como norteador para o estabelecimento de politi- cas pablicas, a educagdo € a tomada de decisao por parte de gestores em geral. Esta €a via para construirmos uma socieda- dee um planeta mais saudaveis, mais prosperos, mais equili- brados e mais sustentaveis. De certa forma, 6 uma linha argu- so nao significa que seja algo féetl de mentativa s implantar Pelo contrario, as dificuldades que temos visto se materiali- zarem ao longo dos dltimos anos, tanto nos EVA como no Brasil nples. Mas em outros paises, tem sido inauditas. E nao faz sentido acredi- tar que elas iro desaparecer magicamente, com o resultado de ‘uma eleigio, Temos trabalho para muitos anos. Esse €0 horizonte que enxergo, tanto para as pessoas que es- to profissionalmente envolvidas com divulgagio cientifica quanto para aquelas que apoiam estes esforcos. Porque ni se cengane, leitora ¢ leitor: voce também & parte vital desse grande empreendimento coletivo, $5 com a sua ajuda é que padere- ‘mos ambicionar construir uma sociedade cujos membros pos- sam compreender em linhas gerais 0 conhecimento cientifico e valorizé-lo, e selecionar apenas as liderancas poltticas que ajam, da mesma forma. SCIENTIFIC AMERICAN DIRETOR Ait Nasa ANO 19 - NOVEMBRO DE 20 Iss 670791 FDMOR Pablo Nogueira Pblognastaiedtore com be NTORDEARTE Clete stam ‘COLABORADORES Maa tla Vl vis Aru Mendes da Cost, egna Cara, Sane Shindler dog) RoveTos specs DER Ami Lops alin asstaicatorescom he Screxrane Astemscax Beast urs pblixio mel de Nesta Eons ob hens de Seti Amerie Ie ScIENTIRC AMERICAN INTERNATIONAL {DOR NH Heth ACTNGDIOR WHE: rina (HATE DIRECTOR Mich! ick (DAY DRECTOR Mass Chitina Keer ‘QF TOS Dean Vis Mat DLemenisk Seth ether SEMOREDTIOR Mark Fuerst Fisch Ca ats, Kite Wong, abe kre. Jen Sehvar, Steve Mik, Suuja Hhuta Anes Gare PRESIDE Doan Saco DECUINEVERESDENE ih! ork SCITIC AMERICAN ON-LINE ‘wesciam.com.be ‘werwfacebook.com selambrasi ‘weretittercom/sclambrasi eoagho ‘Comentros sobre o conte cater, satis cra smite esse ebngnastrh toner NASTARLEDITORES CEP 05242-070, Sio Paulo SP CENTRAL DE ATENDIMENTO AO LETOR Pr informagdes sons asa, mang deen, renown, reimpressi de bet, totctago de reemo de exemplars conton servos ‘So Pao 9712-1856 Desens ash 58h, ‘ontario seelagrstaretonsecm be CENTRAL DEATENDWENT AOLETOR| ianesos tsa podem se sla CENTRALDEATEXDIMENTO ADLETOR ea vendascmataredtorescombr Anche CIENCIA EM PAUTA OPINIZO ANALISES DO CONSELHO. DE EDITORES DA SCIENTIFIC AMERICAN Do medoa esperan¢a Joe Biden deve ser 0 préximo presidente dos EUA Polos edtores A Scientific American jamais endossou um candidato presi- dencial em seus 175 anos de historia. Este ano, somos compeli- dos.a fazer isso, Mas nd o fazemos levianamente. As evid ncia mostram que Donald Trump preju- icou severamente os EUA e seu povo por rejeitar evidenelas © ciéncia. © exemplo mais devastador 6 sua resposta ignorante e inepta & pandemia da COVID-19, que, até 0 final de setembro, hhavia eustado a vida a quase 205 mil americanos. Ele també atacou medidas de protegio ambiental, servigas de assisténeia médica, e os pesquisadores e agéncias piiblicas de ciéneia que ajudam este pafs a se preparar para seus maiores desafios. & por isso que instamos voc@, caro leitor, a votar em Joe Biden, que est propondo planos baseadlos em fatos para proteger nossa satide, nossa economia e 0 meio ambiente, Essas e outras pro- posigdes que ele defende podem redirecionar 0 pafs novamen- te para um futuro mais seguro, mais prospero e mais equitativo. A pandemia teria sobrecarregado qualquer nagtio e siste- ima, mas a rejeigio as evidéncias e as medidas de satide pablica por parte de Trump tem sido eatastrofiea. Ele foi avisado muitas ve7es no inicio do.ano sobre o avanco da doenga, mas nao desen- volveu uma estratégia nacional para garantir o suprimento de equipamentos de protegiio pessoal ou uma ampla disponitiliza- ‘fo de testes para o coronavirus, nem estabeleceu claras diretri- 2zes de satide. Testar pessoas para o virus, e rastrear as que pos sam ter sido infectadas, ¢ 0 modo como pafses na Europa e Asia conseguiram controlar seus surtos, salvar vidas, e reabrir com sucesso empresas ¢ eseolas. Mas nos EUA, Trump afirmou, falsa- ‘mente, que “qualquer pessoa que quiser um teste pode ser testa da’ Isso era inverdade em marge permaneceu durante 0 verdo. ‘Trump se opds & liberacao de USS 25 bilhdes para incrementar a testagem e o rastreamento — uma soma que constava de projeto de lei de alfvio pandémico ainda no final de julho. Esses lapsos aceleraram a propagacdo da doenca pelo pats ,em parti cular em comunidades altamente vulneraveis que incluem pes- soas de cor, onde @ nimero de mortes subiu desproporcional- mente em relagdo aos registrados no restante da populagao, Nao se tratou apenas de um problema de testagem: se qua se todo mundo nos EUA usasse mAscaras em piibico, isso pode- io de dezembro, de ria salvar em torno de 66 mil vidas até o ini acordo com projecdes da Escola cle Medicina da Universidade de Washington. Tal estratégia ndo faria mal a ninguém. Fla nao fecharia empresas e negocios. Mas Trump e seu vice-presiden te desdenharam das regras locais para 0 uso de protecio facial, fazendo questio de nfo usé-las em aparigées piiblicas. ‘Trump apoiou pessoas que ignoraram os governadores quando estes tentaram impor o distanciamento social e restringir as ativida des pablicas para controlar 0 virus. Ele eneorajou os governa- dores da Florida, do Arizona e do Texas, que resistiram a essas medidas de saiide pibliea, dizendo, em abril — de novo falsa- ‘mente — que “os piores dias da pandemia jé passaram’ e igno- rando 0s especialistas em doencas infecciosas que A época adver- ss de seguranca tiram para um perigoso rebote se as met fossem flexibilizadas. 6 claro, a reaceleragio aconteceu, com os easos aumentan- do em 46% e as mortes em 21% em junho. Os estados que deram, crédito a Trump registraram novos picos diéios, e porcentagens mais altas de testes positivos do que os que o ignoraram. Mui- tos estados tiveram que impor medidas restritivas de novo, a um, custo econdmico tremendo. Em torno de 31% dos trabalhado- res foram demitidos pela segunda vez, na esteira da gigantesca ‘onda de desemprego — mais de 30 milhdes de pessoas e incon- tives empresas fechadas — que J havia devastado o pais. Em cada estdgio, Trump rejeitou a inequivoca ligao de que controlar a doenga, ¢ nfo subestimar ou minimizé-la, é0 caminho correto para a reabertura e recuperacio econdmica. ‘Trump reiteradamente menosprezou mensagens claras de sade pablia, dizendo falsamente que o virus estava “sob con- tole” e nao era pior do que uma gripe. Isso encorajou as pesso- as a adotar condutas arriscadas, disseminou ainda mais o virus, merieanos que Tevam ce criow uma grande rixa entre os ‘ca sério e os que acreditam nas falieias deTrump. A Casa Bran- cca até produziu um memorando atacando a expertise da maior ssumidade em doencas infeeciosas do pais, o doutor Anthony Fau i, em uma desprezivel tentativa de semear mais desconfianga. A reacio de Trump & pior crise de satide paiblica dos EUA em uum século tem sido dizer “Eu nao assumo nenhuma responsa- Dilidade” Em vez disso, ele culpa outros paises e seu antecessor, ‘que deixou o cargo trés anos antes do infcio da pandemia, ‘Mas a recusa de Trump em olhar para as evidéneias e agir a partir delas vai além, Ele repetidamente tentow se livrar da Let de Proteciio e Cuidado Acessivel ao Paciente [conhecida popu larmente como “Obamacare”| sem oferecer nenhuma alternati- va; um seguro médico abrangente éesseneial para reduzir enfer- midades. Trump propds cortes da ordem de bilhdes de dotares [destinados] para os Institutos Nacionais de Satide, a Fundacio Nacional de Ciencias, e os Centros de Controle e Prevengio de Doeneas, ageneias que aumentam nosso conhecimento cientifico nos fortalecem para futuros desafios, O Congr nua tentando, ao eortar progra- redugdes. Ainda assim, ele eo ‘mas que nos preparariam para futuras pandemias ¢ ao retirar (os EUA da Organizagio Mundial da Sade, Essas e outras agies aumentam o risco de que novas doen¢as irio nos surpreender e devastar de novo. Trump também segue pressionando para climinar regula mentos da Agéncia de Protecdo Ambiental associados a saide, ccolocando as pessoas em maior riseo de doengas cardineas ¢ pul- monares causadas pela poluigo. Ele substituiu clentistas em cconselhos consultivos de ageneias governamentais por represen- tantes da indiistria, Trump tem tolhido os preparativos dos EUA para a mudanca climética, ao alegar falsamente que ela te eretiraro pais de acordos internacionais para mitigé-la J Joe Biden ver munido de planos para controlar a COVID-19, melhorar o sistema de assisténcia & satide, reduzir as emiss6 de carbono e restaurar o papel da ciéncia na formulagio de polf- izado e transformou essas ticas. Ele busea conhecimento espe informagdes em s6lidas propostas de politicas. No que tange a COVID.9, ele aflrma, corretamente, que “€ cerrado falar sobre ‘escolher’ entre nossa saide piiblica e nossa ‘economia... Se nao vencermos 0 virus, jamais voltaremos & plena forga econdmica’. Biden planeja formar um comité nacional de testagem, recursos pliblieos come privados para suprit mais testes ¢ fazer ‘com que estes cheguem a todas as comunidades. Ele também, pretende eriar um Corpo de Empregos em Sade Pablica que 1m Graf que teria a autoridade para controlar tanto teria 100.000 pessoas, muitas das quais foram demitidas durante crise pandémica, para servirem como rastreadores de contatos, {atuarem) em outras fungdes Tigadas A sade, Ele quer instruir a Administracao de Satide e Seguranga Ocu- pacional a reforgar e fazer cumprir padroes de seguranga no local de trabalho para evitar os tipos de surtos fatais que oor reram em fibrieas de processamento de carne e Tares de idasos, Enquanto Trump ameacava reter dinheiro de distritos escolares {que nao reabrissem, independentemente do perigo decorrente do virus, Biden quer gastar US$ 34 billiOes para ajudar as esco: Jas a conduzir um seguro ensino preseneial, assim como o apren- dizado a distaneta Embora Trump e seus aliados tenham tentado eriar obstiicu- Jos que impedem os eleitores americanos de votar com seguran- ‘¢aem novembro, sefa por correio ou presencialmente, é erucial ‘que nds os superemos ¢ votemos. E hora de remover Trump e ele ‘ger Biden, que tem um historieo de seguir os dados e ser nortea: do pela ciéneia. wonsciamom.be 7 FORUM A Siri escuta mal Softwares de reconhecimento de fala tém problemas com vozes de minorias “Cliu-dia’, eu digo uma vez, Duas, tr’s, Derrotada, digo a versio americanizada do meu nome: “Cl6-dii-ih’, Enfim, Siri reconhece a palavra. Ter que adaptar nosso modo de falar para interagir com teenologias de reconhecimento de voz é uma experiencia familiar para pessoas euja lingua materna no € 0 inglés, ou que nao tem nomes americanos tradicionais, Por em sadisso, parei de usar a Siri a assistente virtual de voz da Apple. crescimento dessa tecnologia na iltima déeada — nao $6 de Siri, mas também de Alexa, Cortana e outras — revelou um, s racial. Um recente estuco, publ do na revista PAS, mostrou que programas de reconhecimen: to de voz tém vieses no que tange a falantes negros. Todos os cinco programas das principais empresas de tecnologia mostra- ram significativas disparidades raciais; eles foram cerca de duas vvezes mais propensos a errar ao transerever dudios de pessoas hnegras, em comparagao com falantes brancos. Isso efetivamente censura vozes que no usam as linguas ot sotaques usados como padrio para eriar essas teenologias. “Nao 4 Scienie American Bras, Agosto 2018 § Nora. Nellow ona fares eesuetede ps cyadugo er nerocinci raUrivesdade da Pensa consigo me comunicar com elas, a menos que adapte minha lin ‘suagem diz Haleyon Lawrenee, professora assistente de comu: nicagio técnica, que ni fez parte do estudio. “Isso & um proble: may diz, Para ela, que tem sotaque de Trinidad Tobago, ou para mim como porto-riquenha, parte de nossa identidade deriva de falar uma lingua em particular ter um certo sotaque ot usar un conjunto de formas de expresso, tal como o inglés vernacular afro-americano (AVE, em inglés). Ter que mudar uma parte tao forte de uma identidade para poder ser reconhecido é cruel A incapacidade de ser compreendido impacta outras comuni- dades marginalizadas,tais como pessoas com deficiéncias visu ais ou fisicas que dependem de ferramentas de reconheci to de vor e transcricdo de fala para texto, diz Allison Koenecke, principal autora do estudo do PNAS. Para alguém com detic éneia e que depende dessas teenologias, ser mal compreendido pode ter sérias consequencias. Existem, provavelmente, mui- tas causas para essas disparidades, mas Koenecke aponta para mais plausfvel: os dados usados para a aprendizagem [dos sof: ‘bwares] vém predominantemente de pessoas brancas, falantes nativas do inglés amerieano. Ao usaret Danoos de dados que sio restritos tanto nas palavras usadas como na forma como estas so ditas, os sistemas de treinamento excluem sotaques e outras formas de falar que possuem caraeteristicas linguisticas singu- lares. As pessoas tém vieses de pronincia e linguagem, inclusi ‘ve aquielas que etiam essas tecnologias, Pesquisas mostram, por cexemplo, que a presenga de um sotaque pode afetar a opiniao das pessoas sobre a competéncia do seu médico ou sobre céncia de alguém sendo julgado. Reconhecer esses vieses seria uma atitude importante para cevitar sua incluso em teenologias. Mas desenvolver téenicas ‘ou sistemas mais inclusivos envolve tempo, esforco e dinheiro, fe muitas vezes as decisées de investir esses recursos so dire cionadas pelo mercado. Safiya Noble, professora de estudos da {informacdo, admite que é um desafio complicado. “A linguagem textual” diz Noble, niio envolvida no estudo, “Mas isso significa que as empresas nao deveriam se esforgar em reduzir preconceitos.” Para isso, precisam da ajuda de humanistas.e cien- tistas sociais que entendem como a linguagem de fato funciona. Do lado tecnol6gico, inserir dados de treinamento mais dive sos poderia diminuir ou até fechar essa lacuna, diz Koenecke, Noble acrescenta que empresas de teenologia também deveriam faver testes mais abrangentes ¢ ter equipes mais diversificadas, para que pessoas de diferentes origens, eriagio © perspectivas possam exercer influéncia direta sobre © desenvolvimento das twenologias de vor. Enquanto isso, muitos de nds seguiremos lutando entre ter nossas identidades € sermos compreendides quando interagi- ‘mos com Alexa ou Si Mas Lawrence sempre escolhe a identida- de, invariavelmente: “Eu nao vou mudar", diz ela, 50, 100 & 150 ANOS DE MEMORIA INOVAGOES £ DESCOBERTAS NARRADAS PELA SCIENTIFIC AMERICAN Compilado por Daniel C. Schle NOVEMBRO 1970 sremes* Fag 970 iuctear SAN “A nceesidae de grarenormes undies de energia eer. alsa Senge a tires problemas socaise teen soos que nossa socledade prec stresolver ao Tong das proxi dada Restores nuceares do tipo reprodutores sto uma solu promissora Ao produalet combustivel nctear do que con somem, cls vablariam o a de-quutidades de unio empe- breeid e minéios de rio dlper ter de energa deblno cue po mires de anos? Glenn Ty Sew Bone usin. loom Hof maisde 40 was ack eto mayen come aed dma 4870: Uma das muitas varedacespatenteadas de aradoa vapor daquela era. alto estdo agora sendo chamados mond é e6pia fel de uma fotografia pelo Bird) € 0s movimento defu- que apresenta a maquina em pleno racdes, Observagées de baldes pilo- _ funcionamento na lavoura. Mui= to foram feitas duas vezes por dia tas esforgos empreendidos até ago- em estagdes mantidas pelo Bird —_ravoltados para a aragao locomo- io; somente duas dels pssuem reatores cem Key West, nos Estados Unidos, tivaa vapor resultaram em fracas- io tipo reprdutor. e70 San Juan, Porto Rico,eem esta- sos, devido ao simples fato de que ‘goes mantidas pela Marina nas aestablidade da miquina de tra 192 Dados cedade de Col6n, que fea no Pana~ 0 no solo nao era igual & resis- 9 climaticos ‘ma, enna de Santo Domingo, que _ténciaoferecida pelos arados. No “Durante a iltima temporada de fica na Repdilica Dominicana; es engenho aqui representado, essa furaedes nas Indias Ocidentais, 0 pera-se que daclos obtidos no Bird aderéncia ao ehao ¢ garantida pela Bird Nacional de Meteoroogia dos Meteorologico e em estagies aero-_protrustio de uma série de doze an- EUA conduziu um programa de logicas do Exército no Texas aju- _coras através do aro de cada roda, sondagens atmosféricas a fim de dem na investigagao. ‘Ocombustivel necessério para determinar que relagio, se 6 que ‘manter o vapor nessascaldeiras tu- hialguma, existe entre os ‘ventos 18 Va bares & muito pequieno, provavel- em altitude’ (como as ventos no 7 fazendeiros mente, nao seria necessirio mais “Ailustragio (acima) do arado ava- do que uns 272 kg co melhor ear- porpatenteado por [Owen] Red- vio diariamente." Agricultura mecanizada ‘As plntas queso semende, itv cides parsers oun rina deco so cree meno uname Sosa chia ber Scie ern es iar hea op inde em 4845, cefletram uma nagBo predominantemente rural. Sus péginas esti repletas de engenhocas mecdnicas Cecio ao ope msn ana) qu dio ids mrs de ue us etresexnatetando atv oer vaio apc im W951 somente SX dara de tabla exo a agi res anpladoo de tecnologias aprimoradas (tal como a maquina para colher cerejas_ 1967; Calhedeira mecinica de ees. Amaquina va dequords~ maguleao}e dopa deciénces EE “ostada ea fabicda pele Companhia Filey ies quis paramo osretimenos dassaase de atores,em Harord Michigan fi _— Ohya isin oscses dsc ~Ds. ‘wonnscinmcombe 9 CONQUISTAS EM CIENCIA, TECNOLOGIA E MEDICINA + Um tergo das cémaras magstics fica surpreendentemente longe de seus respectivos vues, + Urra nova pesquisa aprasenta as mals fortes evidencias até agora de quea pokigao do ar mata + Antigas amostras de aigas merinhas esvendam um mistério econémico + Andorinhas-do-mar migraterias rastrlam a aproximagao de tufbes Fatia de Experimento modela grandes explosdes de estrelas Quando uma estrela explode no fim de sua vida, espalharn-se pelo espago os clerentes que ela abrigava em seu inte ior. Os resuttados so as estruturas de 9s e poeira conhecidas como reme nescentes de supemovas, que hé mul to intrigam os pesquisadores. Mas na Via Lactea supernovas sé ocorrem uma cuduas vezes por século,o que dificul- ta estuder seus estégios ini Pes quisadores modelaram esses even- tos através de simulagées, mas limita es computacionas os cbrigam a fazer suposigdes sobre os detalhes mais sti Pesquisadoresno Instituto de Tecro~ logia da Gesrgia (Georgia Tech) espe ram muda isso com um novo exper ‘mento para examinar como os gases em Uma supemova podem se misturar, con firmandoe ajudando arena simula- Bes anteriores. aparatodeles, um dis- postive em forma de cunha — que as vezes chamam “pizza superova”— tem ‘mais ou menos 1,20 metro de largura fem cima e aproximadamerte a espessu- rade uma porta dupla, encerrando dois «gases inertes separados. Sua forma per mite recriar as dindmicas fleas doje toque elas ocorreriam dentro de uma fatia de um clindro no espaga. A equ pe explode detonadores comerciais na AVANGOS ~ ponta do aparato, que emula o centro de uma supemova, e as ondas da explo- so misturam os dois gases. Uma céme- radealta velocidade capta imagens do processo a cada 01 milssegunde, reve- lando 0 que acontece no equivalente 8 primeira hora depois da exploséo de Uma supemova, O experimento foi rela- tado em junho no Astrophysical Journal. ‘Aeequipe observou como pequenas perturhacSes ao longo da linha onde (0s dois gases se encontram so ampii- ficadas pela natureza repulsiva eatra- tiva das ondas de explosao, forman- do distirbios em forma de cogumelo que rapidamente se expandem, aumen- tam em tamanho. Essas espirals gasosas criam turbuléncias, que acabam forman- do bothas de bala densidade e longos picos de alta densidade. Se um pico vie jar répido o sufciente ele pode se sepa- rardo todo e acelerar como uma bala para perfurar varias camadas de ads. Pesquisadores tentam entender as ejecies de elementos pesados que vm ds profundezas de explosées de super- novas, e secomportam de modo bem similar esses picos. Nao esta claro Achar metal ficou facil A geologia por trés de hotspots de depésitos de minérios ‘Ademanda por metais como cobre, chumbo e zinco disparou, eas azides, conhecidas esto se esgotando répi- do, Agora, uma equipe internacional de cientistas descobriu uma relagdo entre os depésitos desses metais ea espessu- rada Itosfera (a crosta eo manto supe- rior da Terra}, resultando numa forma confidvel para localzar esses recursos. Mark Hoggard, ge6iogo na Universi dade Harvard e autor principal do novo estudo, diz que o projeto comecou por caso. Seu coautor, Karol Czamota,esta- va visitando Harvard e relatou como Gases se expandem para fora nos milsequncos que se sequerna ua exlosio smudach de supemara. se estarnos vendo algo devido & natu- rezaintrinseca @assimétrica da explo- S80 0 se iso se deve 8 ocorréncia da ‘turbulncia em si dz Anthony Pir, do (Observatério Camegie, nao erwolvi- do na pesquisa. O novo estudo iks- tra quédo forte um efeito de turbulén- cia pode ser, diz ele, embora sejam ecessarias mais veriicagoes para entender as limitagées do modelo. Construir uma supernova “den- tro deuma cai” suscitou varios desa- fos. gravidade da Terra & muito mais fraca do que a de ura estrela mori- buinda, e pequenos explosives comer: ciais produzem bem menos ener- ia. Mas “apesar de adetonacio expio- siva ser menor, as outras coisas com as quais estarnoslidando também s80 ‘menores, ent8o as proporgdes se cor depésitos metélices no norte da Austré- lia pareciam se alinhar com areas onde a expessura da itosfera varia. A equipe de pesquisa descobriu que essa cone x80 se vertica globalmente, sugerindo ‘mais lugares para se procurar por esses ‘minérios. O estudo, publicado em julho em Nature Geoscience, mapeia de for- rma abrangente a corelacao entre deps- sitos de metzis conhecidos e a espes- sura da itosfera,epropée um poten- cial mecanismo para essa correlagdo. Alitostera pode chegar a até 300 qui- lemetros abaixo da superficie, toman do sua espessura “de fato muito diffi para geofiscos medirem’ diz Maureen Long, da Universidade Yale, nao erwol- Vide no estudo. Para calcular sua espes- sura, costuma-se usar letras de sis- ‘mémetros para registrar a velocidade com que ondas sismicas viajam atra- vés do planeta. Mas Long lembra que respondem’ diz Benjamin Muscl, pés- -graduando e autor principal do estudo. Impedir os gases de quicar nas pare- des laterais do experimento e vol- tar, paredes que obviamente no exis- tem no espaco, “fol uma longa e érdua beatalha’ diz Musci Ele levou qua- se um ano para chegar a uma solu- «Bo: revestiras paredes com a espuma de acondicionamento da caixa de ur novo computador. O material absor- ‘yeos gases, impedindo que reftar. utra preocupagso é a dimensio- nalidade. Piro observa que gases que se expandem em duas dimensées ten- cdem a agir de maneira diferente do que ofariam em tr8s, criando redemnot rihos maiores e demorando mais para se desintegrar Isso 6 algo em que os pes- quisadores podem trabalhar no futuro. Mina de cabre er Salt Lake City olimitado niimero de terremotos e sis- réqrafos do mundo significa que “nos- sa capacidade de determinar com preci- sfoa estrutura da Terra ndo é perfeta’ Para criar um mapa-miindi de aka resolugéo da espessura litostérica, Hog- ‘gard e seus colegas combinaram e cal- braram os modelos reaionais e globais cexistentes, acrescendo dados de tem- peraturae presséo de rochas litostri- as ejetadas & superficie por erupcoes vwuleénicas. Eles descobriram que depo- 12 Seietite American Bras, Novembro 2020 Experimentos anteriores de supemovas foram executados em escalas maiores diz Devesh Ranjan, do Georgia Tech, eprinc pal pesquisador do estudo. Lugares como ‘© Laboratério Nacional Lawrence Livermo- reapontam dezenas de lasers sobre mate tials do tamanho de uma borracha de pis, dissolvendo-cs e desencadeando urna impressionarte exploséo. recompen- sa vem na quantidade de detalhes diz Ran jan: os experimentos maiores geram pou- ‘asimagens, com apenas breves vislum~ bres das estrutures produzidas. Mas “pizza supernova” consegue produzir 200 ern ppoucos segundos & medida que os gases se misturam, *Nosso experimento ofere- ‘ce uma visdo dinamica de todo o processo’; dizele. Ao combinar os insights de ambos © tipos de experimentos,everemos ser capazes de dizer algo em conjunto sobreo {que ocorre numa supemova da vida rea Segundo Pio, o experimento traz“uma espantosa confimacgo de muito da fs- <2" de supernovas."€ preciso ser um expert ‘em muitas ténicas experimentais para pro- dir algo assim. Acriatividede desse gru- poé realmente inspiradora de se ver” —Nola Taylor Red sitos de metais tendem a aparecer onde a litosfera tem em tomo de 170 km de espes- sura, Ao teorizarem sobre o porqué dis s0,eles cbservam que blocos de constru- «fo de metais s80 comumerte encon- trados perto da superficie terestre, onde se acumulam em bacias. Se essas bacias se situarem sobre ura parte da ltosfe- racom a espessura certa,a quantidade de calor que ascende do manto mais profun- do poderia constituira temperatura per feita para que esses elementos constituin- tes se concentrem em depésitos metélicos. ‘Aforma tradicional de encontrar esses rmeiaisrequer investigagoes presen- ciaistrabalhosas, diz Hoggard. A desco- berta da equipe oferece uma oportunida- de de encontrar sitios promissores remota- mente; de fato, empresas de mineraco ja comegaram a usar essas informagées para aunilé-las em suas buscas, diz Hoggard. —Karen Kivon (3 ] GeoLocia De onde vem o magma? (Cémaras magmaticas podem ficar muito longe de vuledes ‘Omagma — a massa pastosa de rochas fundidas que nutre os vulobes — pode se ocultar em bolsBes subterréne- (0 que ficamn muito longe de onde bro- tam, mostra uma nova pesquisa, Por 1550, instrumentos colocados nos flancos cde um vuledo podem falhar em detec- taros sinais de movimento de mag- rma que poderiam indicar uma erupgéo. Ovuleanélago Allan Lerner e seus colegas analisaram 56 vulcBes em Zonas de subdugéo (éreas geologica- ‘mente ativas onde ura placa tect6ni- «a estdafundando sob outra) em cinco continentes para urn novo artigo, publi cado em julho.em Geophysical Resear- ch Letters. Compitando dados vuleéni- c08 de outros estudos, a equipe tentou caleularo centro da cémara magméti- cade cada vulcso, eo comparou como centro estimado de sua porgdo que se encontra acima da superficie do solo. Os reservatrios foram localizados de varias formas, tais como mediro movi- ‘mento ascendente ou descendente da superficie da Terra erastreara con- dutividade de eletricidade na crosta, (Ospesquisadores caleularam que (© vuleso South Sister,no Oregon, tem uma, ‘camara magmatica deslocada e distante. cerca de 30% dos wulcdes se situa- vama mais de quatro quilémetros de distancia de suas cmares magmé- ticas. Cinco deles,incluindo dois no Japéo, dois na indonesia e um no Méxi- «2, tinham deslocamentos de mais cde 10 km de seus reservatérios. "Isso foiuma surpresa’ diz Lerner, porque tum consagrade dogma da vuleano- logia € que as camaras magméticas ficam diretamente abaixo dos vulcdes. Reservatrios magmaticos distan- tes foram relatados antes, mas essa é «primeira investigagdo a se concentrar em um conjunto de vulades. Os cientis- tas também foram capazes de demions- trar correlagdes. Fes mostraram que vuloBes menores tendiam a ficar mais longe de suas cémaras magmticas do ue os maiores. so faz sentido porque estruturas geoléaicas como falhas tec- ténicas basicamente criam para o mag- ‘ma uma rota subterrénea chela de obs- ‘culos. As grandes quantidades dessa ‘massa de rochas fundies que alimen- ta0s grandes vuloSes possuem suf- ciente calor para atravessaressas tas linha limitrofes naturals de forma creta eexplosiva, mas os reservatérios meno- res, associados a vulodes menores, tm de abrir caminhos em zigue-zague até a superficie. “Em vulodes pequenos, 0 ‘magma que ascende esté meio que mercé de estruturas crustais preexisten- tesdiz Lerner. —Katherine Kornei ‘scam con. AVANCOS - BIOLOGIA Alga detetive Plantas ajudam a solucionar um antigo sumigo de sardinhas (Os anos 1930 e 0 inicio da década de 1940 foram boas épocas para a pesca de sardinhas ao largo da costa da Cal {6rria,eparticularmente na bacia de Monterey. Mas a maré comecou a virar em 1946 eo pescado de sardinhas aca- ou despencando de uma média de 234 rril toneladas para meras 24 mil tonela- ds A industria fal. Hé décadas, tistas debater sobre as causas, mas eles no cispunham de dads para testar suas teorias. Agora, pesquisadores final- ‘mente encontraram um aparente vilo: 08 ciclos de ressurgéncla oceénica, um importante fator para o melo ambiente rmarinho da Costa Oeste, no qual aguas profundes, ricas em nutrientes,ascen- cdem para a superficie pobre em nutrien- tese reabastecem o suprimento alimen- tarall.Achave que des- Para o novo estudo, vvendou esse mistério os cientistas se basearam acabou sendo uma cole- no fato de que as éguas Bode velhos espécimes mais profundas perto de plantas e algas mari- de Monterey em geral ‘has reunidas de herbé- ccontém maior quanti- ros a0 redor dos EUA. dade de um isétopo de “Elasfcam 6 boian- ritrogénio em particular, doe revistrando dados Histéricasbricasde ura verso mals rare de sobre occeano'diz Kyle conservasdesardinhas _ritragénio com um néu- Van Houtan, autor snior tron extra que torna cada do novo estudo publicado em junhoem Proceedings of the Royal Society B."Se pudermos ter acesso.a espécimesfisi- cos de museus, podemos obter as infor- ‘magBes histéricas sobre esses ecassis- temas incorporadas nesses tecidos.” Van Houtan e outros suspeitavam ue 6 afloramento desempenhava urn papel nas tendéncias populacionais de sardinhas, mas cientistas s6 comega- rama mediro processo na baia de Mon- terey ern 1946, Van Houtan se deu con ta de que antigos espeécimes de plantas algas marinas poderiam preen- cher as lacunas para anes anteriores. tomo mais pesado. Analisando dados rmodernos de afloramento e algas ma rnhas recentemente coletados, eles des- cobriram que os nivels mais altos desse ritrogénio nas células das plantas corres- ppondiam a pertodos de maior ressurgén- cia. Depois, mediram os nives isot6pi- cosem 70 espécimes histbricos da alga vermelha Gelidium,coletados na bala de ‘Monterey em anos anteriores, até 1878. COsresultados sugeriram umn aumen- to gradual no afforamento e depois um dréstico decréscimo, que se alinhoucom o-crescimento eo declnio da populagdo de sardinhas. —Rachel Nawer PLANEIAMENTO URBAN Um concreto térmico Um aditivo bioinspirado pode tomar materiis resistentes a mudangas de temperatura As oscilagbes dirias de temperatu- rapodem fazer com que a égua ater- rnadamente se contraia e se expan- de, se expanda e se contraie. Porém, uma vez que 0 conereto 6 um mate- Tal poroso e que absorve liquids, esses Ciclos de congelamento e degelo mui- tas vezes fezem com que sua superfi- Cie descame e descasque. Mas pesqui- sadores dizer que urn novo proces so pode ajudar a evita tal deterioraglo. “No passado, a ferramenta princ- pal para lidar com os danos do con- gela-descongela fol através de uma tecnologia dos anos 1930, que con- sistiaem acrescere dstribuir dirninu- tasbolhas de ar por todo © concre- to’ diz Wil Srubar, clentsta de mate- Fils earquiteto na Universidade do Colorado, na cidade de Boulder. Essas pequenas bolhasflexveis, absorvem certa presséo, mas tam- bem reduzem a resistncia do.con- creto, fazer com que ele absor- vamais dguae requerem um melin-= droso processo de cistrbuigdo. O laboratsrio de Srubar investi- (gou certas proteinas “anticongelan- tes" que deixam alguns peixes e bacté- rias suportarem temperatura frigidas, Dentro de eélulas, esas mokéculas se agarram a superticies de cists de agelo eos impedem de crescer demais — mas elas no funcionam em pas- tade.cimento akamerte akalina, tum ingredient: chave do concreto. Por sso, os pesquisadores tentaram uma substéncia mais esistente com pro- priedades similares: um polimero cha- mado PEG-PVA usado em drogasfar~ rmacButicas de liberaco protongade. Para testé-o, a equipe misturou varias porgdes de concrete, incluindo uma de controle, uma com bolhas de ar ealgumas outras com diferentes con- centragies do aditivo PEG-PVA. Depois cde 300 ciclos consecutivos de conge- la edescongela,a qualidade da amos- tra de controle despencou enquan- tovérias outras mantiveram sua inte- cridade. A pesquisa fl publicada em junho em Cell Reports Physical Science, Srubar registrou uma paterte pro- Visa e espera levaro processo PEG- -PVA.ao mercado dentro de cinco anos. Enquanto isso, ele segue cagan cdo moléculas que emulam 0 compor- tamento de proteinas anticongelantes. fodo mundo em meu laboratsrio esté convencido de que a natureza resol- ‘veu todos os nossos problemas para nds’ dizele."Nés 58 precisamos saber onde procurar’ Sophie Bushwick 14 Scientific American Bras, Novembro 2020 — i ee Umgradsdstbocar de agar, Umcrnocrcdiian de sti de nose os r= causdoporum limacompoucaneveeakas | sis armas pete jd da is paras Aes. Notas ‘roperatnasiaprinavernevrde pode ‘Um smograia sompuradorizada dtl de Cuca chez, aceleraro degen doglacar Presea,nonorte, color sua speriiom geal rac © permite que goo absorva msl sola. encontrado no norte do pats revelou uma lige salina no melo ofocnho — uma caracteristica de madernoserocoilos americans mas no de seus equivalents aicanos rapidas Paton ome cone eennie ems fev doonaeen naa Fen : : eae io anc onants ‘Sentinel ques rinse cs Ghqgercmnees ‘etn eet Semaine TOC TEE aenbnindstetls Messen iiceanes Susanne ‘on einen paeeios waiters, ispen por sr copes anlar nel Nisin iia Rear ‘evil do dea te Okage aga Poder oe ‘Seatelataieandandoon tia, patenectacrios jepebeeninnrtrrayiiepre tleerenetntin chnesina cdr ena cea mt cone essa (Obese angamento de umm snd no trpulda ‘para Mare chamads Hope (Al Ama em abe), marcoua rimeira isso icerplaneriaconduid por uma nagio ‘rabe, evandoabordoinstrumenos para estudaro cima rio esazonal do Planeta Vermelho,aespazonave deve entrar a bits marciana en ever de 202%. invesgadoressuspetam agora de algumadoanadesconhecida. PALEONTOLOGIA epultado em opala Um raro féssil dé dicas sobre registros de vida primitiva ‘Um inseto encapsulado ern uma .gema preciosa poderia oferecer novas, pistas na busca por vida primeva na Ter- raeem Marte. Aopala, extraida de urna rocha na Indonesia e apelidada "Bever- ly.contém a“casca” de uma diminu- ta ninfa de cigarra. Em junho, pesquisa- dores explicaram, em Scientific Reports, como ela provavelmente se formou. ‘Qutros fésseis opalinos foram encon- trados em meio a rochas que contém silica e que se formam perto de aéise- res, diz Boris Chauviré, da Universida~ de Grenoble Alpes. Agua quente dis- solve essas rochas: quando oresultante fluido rico em silica esfria, ele pode endu- recer para formar a iidescente gerna — as vezes preenchendo espagos delxados por organisms deterioredos ou aprisionando corpos de criatu- ras. Mas este féssil provém de Lum tipo de solo formado pela erosdo de rochas vukeénicas,€ 60 primeiro animal encontra- do encapsulado em opala que se formou desse jito. Saber que isso pode acontecer, diz Chau- Viré, sugere novos lugares para se procurar por vida primordial. Este tipo de formagéo opa- lina & ce fato, mais commu cdo que o processo hidrotermal, mas ele & mais lento e, portanto, considera cdo menos provavel de preservar ves- tiglos de vide, Mas a equipe encon- trou uma camada de zedita, um mineral rico em silica, revestindo 0 excesque- leto do inseto; a andlise dos pesqui- sadores sugere que a substancia cris talizou sobre a “casca” enquanto esta estava enterrada em solo e expos- taa dgua rica em silica, preservando sua estrutura antes que oliquido ci cundante acabasse por formar opala. Cabega Trax Abdomen "Agora sabemos que todos £95 tipos de sca poder con teresse tipo de féssil ou bio- mokkculas’ diz. Chauviré, Feéssels opalinos que se forma- ramem ambientes vuleanicos,tais ‘como foram a Terra ou Marte no pas- sade, poderiam revelar primitivas ria- turas subterréneas que no costumam ser preservadas em rochas sedimenta- res ou émbar, sugere ele. Eacrescenta: “Talvez o Parque Juréssico do futuro se baseieemopela”” — —Carolyn Wilke ‘worm comb 18 AVANGOS COMPORTAMENTO ANIMAL Meteorologistas que migram Para auxiliar suas viagens, aves marinhas preveem tufées ‘Ao migrarem, as andorinhas-do- -mar podem aterar seus pianos de ‘veo com base num senso predtive apurado da aproximagio de ciclones 4 tufdes, eescapar da firia das ter: ppestades, mas ainda assim se hene- ficiando das oportunidades de ai- rmentagdo em suas esteiras Pesquisadores no institu ‘to Yamashina de Omi- tologia examinaram dados registrados por dispositivos de rastreamen- toemseisando- rinhas-do-mar- -pretas de Oki- naw, Jap para descobrir mais sobre suas rotas migrat- Fas 20 longo de miiplos anos. As aves sobrevoaram par- te da todowia de tufdes” do chamado mar das Filipinas [uma sego no oes- tedo ocean Pacifico Norte, aleste © 2o norte do arquipélago] para chegar {sihas de Bornéue Sulawesi e varia~ ram seus momentos de partida — ‘muitas vezes aparentemente esperan- do.até que um grande tufBo estives- se prestes a cruzar sua rota projetada “Elas parecem ser capazes de pre- dizer a tempestade’ diz Jean-Baptis- te Thiebot, um fellow pés-doutora- do no Instituto Nacional de Pesqui- sa Polar no Japao e principal autor do novo estudo, publicado em junho em Marine Biology. O estudo ofere- ce poucaspistas sobre como as ando- rinhas-do-mar conseguem fazer isso mas outras pesquisas sugerem que algumas aves migratérias detectamn sinals meteoroligiens infrassonicos ou cbservam a mutacgo das nuvens As andorinhas que Thiebot estu- dou em geral evtaram os tues em si. Mas essas ternpestades podem ago tar ereviar © oceano levando alimen- tos sua superficie, portanto, os pert- codos imediatamenteapés suas pas- sagens poder ajudar as famintas Viajantes. "las de fato podem usar os tufbes para saber quando iniciar suas rmigragBes todos os anos, diz Thiebot. Naincomumente trangui: la temporada de 2017, semnenhuma for te dica da apro- ximago de um ciclone trop cal oriental, as suas jorna- des mais tarde evoaram sem fazer pitstops Thiebot gosta- ria de ver esse padrao confirmado em um estudo mais abrangente, Ele também receia que a crescente frequéncia de tutes possa afetara acurdciaprecitiva das aves, potencialmente fazendo com ‘que elas sejam pegas de surpresaem perigosas condigées meteorolégicas. Robert Gill bidlogo e pesquisador de vida selvagem emérito no Servi- . Geolbgico dos EUA, que néo esteve envolvido no trabalho, diz que embo- rao tamanho da amostragem do estu- do seja pequen, ele acresce ao enten- dimento geral de migragtes dos cien- tists. Ele estudou aves limicoles que “programam suas migragdes com hase, em parte, em tempestades que se aproximam, mas poucas pesqui- 25 se aprofunderam nesse compor- tammento. “Blas s8o capazes de pre- ‘vero tempo melhor do que os melho- res meteorologistas que termos’ iz Gil, “rmas elas também tiveram deze- nas de milhares, eno mithées, de ‘anos para aprimorar essa capacidade.” Joshua Rapp Leam MEIO AMBIENTE Um ar letal A mais robusta evidéncia de que poluicao do ar pode matar Enquanto ardiao chamado Incéndio da Estrada de Camp Creek, na Califomia, em 2018 fuligem e outres poluentes enche- ram os o&us.A concentragao de material particulado ultrapassou em muito a mar~ cade 12 micragramas por metro eibico (iain), entrando na faixa de “insalubr- dade” da Agéncia de Protegdo Ambien tal (EPA, em inglés). Em alguns luga- res, ela chegou a centenas de gi? Esse rriasma incluiu particulas de 25 ‘microns em diémetro ou menores, conhe- cides como PM25, que também s8o expe- lidas por canos de escapamento e chami- 1s, medida que carros queimam gaso- lina usinas elétricas carvdo. O tamanho diminuto dessas particulas permite que elas penetrem profundamente nos pul- mbes, causando problemas respiratrios de curto prazo, Milhares de estudos ente- riotes mostram que tats particulas também podem exacetbar a asma no longo prazo contribuir para preocupantes condigdes cardiovesculares, baixo peso de nascimen- toe outros problemas. Essas associagies Bo consensuais entre os meédicos, mas alguns membros de um comité da EPA reformulado por uma pessoa indicada pelo ‘governo Trump, junto com consultores das incistrias de petrdleo e gés,alegam ue os estudos no mostraram causali- ‘ABay Bridge, ponte que liga Sao Francisco ' Oakland, obscurecida por fumaga do incéndlio da Estrada de Camp Creek, 16 Scien fe Ameria Bras, Novembro 2020 dade direta. A bioestatstca Frances- ca Dominici, da Universidade Harvard, seus colegas abordam essas afi mages em um estuxdo publicado ern julho em Science Advances. les dizem ue sua investigagao mostra amais abrangenteligacéo até agora entre poluigdo do ar e mortes prematuras Osestudes de poluigéo atmesté rica comuns usam apenas aanalise de regress8o, um método estatistico deserwoivido para calcula a probabi- lidade de que um fator em particu- lar tal como a poluigdo do ar infuen cia um dado resuitado — neste caso, ‘a mottalidade. Mas nem sempre esté claro se tais modelos respondem ade~ quadamente por outros pessiveisfato- res, Em vez disso, equipe de Domini: Gi, usou no novo artigo cinco aborda gens estatstcas diversas (Ineluindo a anlise de regresséo) com um conjun- to de dads de 570 milhes de obser- ‘ages coletades ao longo de 16 anos cde-68,5 milhées de pessoas inscrtas no Medicare. A técnica ajudou a iso lar 05 efeitos da poluigdo por particu: lados de outrasinfluéncias. Ela efetiva- mente emiulou um experimento ran domizado — 0 teste padro-ouro para descobrir causa e efelto — que seria antiético conduzir para esse tipo de investigaco. “Essa rea da estatistica nunca foi aplicada a poluigso atmos- {érica e mortalidade’ diz Dominic. (Os resultados mestram que ajus- taros niveis permissiveis de PM25 de 12 ua/n® para 10 uaitn? pode- ria reduziro risco de mortalidade em idosos em até 7% — salvando mais de 143000 vidas em uma década, Em abril,a EPA props manter inal- teradas as regras de PM25, depois do que.a agéncia diz ter sido uma cuida~ dosa revisio e consulta com seus con: selheiroscientficos. Mas, antes que essa revisdo fosse concluida, o adrrinis: trador da EPA, Andrew Wheeler, is: ppensou um painelauniar de consul tores que normalmente contribui com conhecimento cientifio especalizado sobre tais assuntos. —Susan Cosior Corais do mar Vermelho Os mais forte: dos corais Tolerancia de curto prazo ao calor pode ajudar a identificar recifes resilientes ‘A medida que a elevagéo das tem- peraturas nos ocearias ameaga reci fs de corais no mundo todo, é crucial para os esforgos de conservacéo identl- ficar as col6nias coralinas mais resisten. 12s 20 calor. Métodos normals reque~ remo transporte de amostras via aérea para distantes laboratérios esujelté- -las a altas temperaturas por sema- nas. Agora, um novo teste de estres se térmico levao laboratério até o reci fee gera resultados num sé dia (O Sistema Automatizado de Estres se de Branqueamento de Corais (CBASS, ‘em inglés) coneiste em quatro tanques de 10 litros que podem ser instalados nos barcos que os pesquisadores usar para Cchegar a0s recites. “Basta pular na gua, coletar os corais, colocar nos tanques, acionar o mecanismo' diz Carol Buitra 90 L6pez, pés-graduanda na Universida: de Rei Abdullah de Ciéncla e Tecnologia, Ela e seus colegas descreveram o CBASS ‘em agosto em Global Change Biology. A.equipe depositou amostras de corais do taranho de um dedo cole- tadas em dois stios no mar Vermelho ‘em tanques do CBASS a uma terpe- ratura basal de 30°C. Ao longo de trés horas,o sisterna aumentoua tempera- tura de cada tanque para um valor dife- rente — 39 °C fol omaximo —e ento ‘a manteve nesses niveis por mais tés horas, abaixando-a para 30 °C nova- mente no decorrer da hora saquinte, Por fim.os ciertistas deram aos corals mais ‘1 horas para se recuperarem. Eles usa- ram um dispositive parecido com uma lanterna para medir qui efcienterien- teas mieroalgas nos corais usavarn luz enquanto realizavam a fotassintese (um bem estabelecido indicador do nivel de estresse de uma planta). Esta medigao de curto prazo se alinhou com os resul: tados de um experimento tradicional de estresse por calor de longo prazo, mos- trando o potencial do método para iden- tifcar rapidamente coras resilient. Nao se sabe se os corals que tm o melhor desempenho em experimentos cdo CBASS vo de fatoresistr & mudan- gacdimatica, Ainda assim, o procedimen: to padronizado do sistema permitirs que se compare diretamente as toleréncias a0 calor nas coldrias coralinas 20 redor cdo mundo, ago fundamental nos esfor- G05 de restauracio. Clentistas conserva Cionistas costumam cultivar fragmentos de corais em viveires @ depois os trans- ferer para recites degradados, até ago- a.com pouco sucesso, Mas transplan: taros corals mals tolerantes ao calor pode ajudar a ganhar tempo até que a ‘mudanga climatica possa ser controlada. —Scott Hershberger ‘womsaciamcombr 37 DESAFIOS DO COSMOS See ae eel emer air ee eee ene ers rennet te ter Buraco negro surge em video pela primeira vez Eee rN Tete Re MMe SNC eae norte ued ceViesn tects Nese Rr Ccu Tag ees ey Cord Cee peso No ano passado, ficamos encantados com o resultado fan- Ce ae ee eee ee ene ae cr on eee Ae ener aces eed treme sete cee oreo ee ee pe deu um passo além, revelando a dindmica do disco de acre- One eee ote aetna eee mC forma significativa ao longo de periodos relativamente curtos, Dee ec Ce OR Coenen SC ene nee Se oneoney observagdes, mais modestas, feitas entre 2009 e 2013. Com base Pee Ra ee ee acces Ree er enn perfodo de mais de trés anos. Ou seja, mesmo sem ter a imagem completa desde 0 comeco, podemos extrapolé-la com os dados Poor ce E af, como hem resumiu 0 astronomo Rodrigo Nemmen, do. Instituto de Astronomia, Geofisica e Citneias Atmosférieas da Perc ee eC Pee er Ree Oponto é que o resultado mostra mais uma ver, adivinhe s6, Cre encom ene ected Pe Oa cece oe See eee ac eee ete Cre eee oer ‘© que surpreendeu os cientistas foi aintensidade das modi- Cece eer omen Seo ea eR aa ORO os ee eee} eR nn ene ce) Pon ee eee eos Ce ee ee me eos Pe eae rece ae eras ria.a maior parte do tempo na parte de baixo da imagem se con COU Ree Cee eon nro ca eet et Ce COS Sn ean MO ee a ee Deena Rese eet sed SC RRO SR Ta) Pree rn eee eee eee ce Pen eu een een enone Pee ae ee noe es eee eee ey Dee nee ee ncn iets Se ee Oe ese ee a a eee eC reese) dados colhidos até agora, eles ainda nao chegaram Id. Descon- fia-se que haja uma quantidade de poeira entre nés @ 0 bura- Cece cu ee ena rout ee Une eee eens cen ene OC Re ae Nc Cc en Ree eS De en oe CS DOE ete RE cen eon eee eee riosos podem existir, e Reinhard Ghenzel e Andrea Ghez, que a Ren Meee Teenie car a presenca do nosso buraco negro supermassivo com base POR oe ete eee eat erences ASTROFOTOGRAFIA ‘ASTROTOTOGRAFLN@CDITORASEGMENTOCOMER Seni oposicées, MUU Cte ve foot] Depois de uma boa temporada de oposigies, ou seja, cir ccunstincias em que os planetas fazem sua mixima aproxima- lo da Terra, conforme nds e eles avangamos, cada um a sua, velocidade, no earrossel do Sol, novembro no tem nenhuma dessas ocasides. Por outro lado, pode ser uma boa oportunt dade para dar uma olhada em todos os planetas, Nenhum se sobressai, mas todos esto por af, ao menos durante parte das noites de novembro. Comegando por Mereiirio, que atinge seu méximo afasta- mento aparente do Sol no dia 10, oferecendo-se no horizonte rugada. Se leste, poueo antes do nascer do Sol, no fim da | & Atanas negas {0 grupo dereferéncia ‘rupo8 dea como 20" guns desis sto medidos femiacioadl. “5 ja com criangas nao negrascom peso médio ao nascer Outros CPs topo soracer >! ‘tha H ASA Sg Me OP ee Peso ao mascara) 48 Scintite American Bras, Novembro 2020 é - eo ¢ # gt hg Oo ee so ao nase (ras) rier de mands Monta Tevou a uma. redugdo de até 4% na mortalidade infantile do Daixo peso no nascimento, © feto também pode receber menos oxigénio se a mae ina- lar CO do escapamento de veiculos. Em um estudo de 2009 ‘com mies que vivem perto de monitores de poluigao, meus colegas e eu descobrimos que altos niveis de CO no ambiente se relacionavam ao peso reduzido ao nascer. F preocupante ‘que os efeitos do CO da poluigdo do arsejam cinco vezes mais altos para furmantes do que para ndo fumantes. Reduzir a poluigdo pode ter beneticios imediatos para gr vidas e recém-nascidos. Em um estudo de 2011, Reed Walker, ‘da Universidade da California, ¢ eu focamos em maes que vi- viam perto de pracas de pedgio do sistema eletrdnico de pa gamento E-ZPass antes e depois do inicio de suas operagoes. [NOs as comparamos com mies que viviam um pouco mais Tonge das pragas de pedigio, mas ao longo das mesmas ‘tvadas movimentadas. Os dois grupos de maes eram expos tas ao trifego, mas antes do E-ZPass, as mies proximas das Dragas eram expostas a mais poluicio porque os carros roda- vam sem rumo enquanto aguardavam para pagar 0 pedigio. © E-ZPass reduziu significativamente a poluicdo no entorno das pracas de pedigio, permitindo que os carros passassem. direto, De forma surpreendente, a implantagao do E-ZPass reduziu a incidéneia de peso baixo ao nascer em mais de 10% nos bairros mais proximos das praca. Em outro estudo, examinamos registros de nascimento de TI milhdes de recém-nascidos em cinco estacios. Deseobri- ‘mos que 45% das mies viviam a cerea de 155 km de um To- cal que emitia produtos quimicos toxieos, como metais pe- sados ou carcindgenos orginicos, e o nimero chegava a 61% centre miies afro-americanas, Focando bebés de mies que vi- viam a 1,5 km de uma fabrica, comparamos os pesos ao nas cer quando a unidade estava operand e quando estava fe- ‘hada. Também comparamos bebés nascidos na faixa de km da unidade com bebés nascidos entre 1,5 km e 3 km em torno da indastria. A probabilidade dos dois grupos de m serem afetadas pela situago econdmica com a abertura ¢ 0 fechamento da fabviea era similar, mas as maes que viviam ‘ais perto tinham mais chances de terem sido expostas & po- Inigio durante a gravidez, Descobrimos que uma férica em ‘operagtio aumentou em 3% a probabilidade de baixo peso no nascimento entre bebes cujas maes viviam a menos de 15 km. A divisio racial na exposiglo & poluigo € profunda, em parte por causa da continua segregacio habitacional que Gifieulta a mudanga de familias negras para fora de bair- ros historicamente negros. Comunidades menos favoreci- ‘das também podem nao ter poder politico para evitar em- preendimentos prejudiciais, como uma unidade de produtos ‘quimicos, em sua regio, No estudo do E-ZPass, cerca de me- tade das maes que viviam perto das pragas de pedgio eram hhispanicas ou afro-americanas, comparadas com apenas 10% ‘das maes que vivia a mais de 9,7 ki do local. E, em um es- tudo publicado este ano, John Voorhels, do Bird de Recen- seamento dos EUA, Walker e eu mostramos que, em todo os UA, 0s bairros com maior nimero de moradores afro-ame- ricanos apresentam sistematicamente qualidade de ar pior do que em outros bairros, Os afro-americanos também tém 0 dobro da probabilidacie dos demais de viverem perto de ater- 10s de lixo t6xico. Por essas razdes, as medidas de controle da polui¢ao como a Lei do Ar Limpo tem beneficiado em grande medida os afro-americanos, LUTAR OU FUGIR 0 estresse prejudica desproporcionalmente o pobre ~ que tém preocupagées crdnicas com o pagamento de contas, Reduzir a poluigao pode ter beneficios imediatos para gravidas e recém-nascidos. por exemplo — e também abala 0 feto. Uma situagio estres- sante desencadeia a liberagdo de horménios que comandam uma série de mudangas fisicas associadas com uma respos- ta do tipo lutar ou fugir. Alguns desses horménios, incluindo cortisol, tem sido ligados a partos prematuros, que, por sia vez, levam a baixo peso ao nascer. Niveis altos de cortisol em citculagio na miie durante a gravider podem prejudicar 0 sis- tema de regulagdo de cortisol do feto, tornando-o mais vul- nerdvel ao estresse. F 0 estresse pode desencadear respostas comportamentais na mde, como aumento no consumo de ci garros e bebidas, o que também prejudica o feto. Um estudo revelador indica que a exposi¢do do feto a0 estresse maternal pode ter efeitos negativos de longo prazo maiores sobre a satide mental do que 0 estresse diretamente softido por uma erianga, Petra Persson e Maya Rossin-Slater examinaram 0 impacto da morte de um parente préximo. A morte pode provocar muitas mudangas indesejaveis em uma familia, como redugiio na renda, o que também pode influen- iar o desenvolvimento de uma erianga. Para contabilizar es sas complicagies, as pesquisadoras usaram dados adminise trativos da Suécia para comparar eriangas eujas maes foram afetadas por uma morte durante o perfodo pré-natal com, Ihos de mées afetadas por uma morte durante os primeiros anos da erianga. Elas descobriram que as erianeas afetadas por uma morte no periodo pré-natal tinham 23% a mais de chances de usarem medicaco para TDAH com idades entre nove e Tl anos 9% mais chances de usarem anticepressivos na vida adulta do que as criangas cujas familias passaram por ‘uma morte poucos anos apds seu naseimento. ‘Outro estudo inovador mediu os nfvels de cortisol, um indicador de estresse durante a gravidez. Aos sete anos, as criangas eujas mies tiverem niveis mais altos de eortisol du rante a gravider tinham cursado até um ano a menos que seus proprios irmfos, indicando que o inicio dos estudos de- las havia sido retardado, Além disso, para qualquer nivel de cortisol no sangue da mie, as efeitos negatives eram mais pronunciados para os filhos de mies menos escolarizadas. Essa descoberta sugere que, embora o estresse durante a gra- swwwsciamcombe 4 LINHADO HORIZONTE de Fint, Michigan, em 2016, depos da declaracio de emergtncla federal por causa da contarinagao da dgua por chumbo. lief © Economie Security”) aprovada em margo ofereceu al: ‘gum alivio, pelo menos em relacio ao Medicaid, O Cares sus- pendeu temporariamente o desligamento do programa, dan- do flexibilidade adicional a programas estaduais de Medicaid -gibilidade de procedimentos. Mas «em termos de prazos e e os estados podem sofrer dificuldades ao incluirem os mu: tos que se tornaro elegiveis ao Medicaid por causa de perda de emprego. Além disso, estados que nao expandiram 0 pro- grama Medicaid para cobrir adultos de baixa renda inelegt- veis, como preve a Lei de Cuidaclos de Saiide Acessivels, po- ‘dem ver muito mais pessoas sem seguro-satide. Um relat6rio ‘das Aeademias de Ciencia, Engenharia e Medicina publicado no ano passado delineou um roteiro para reduzir a pobreza infantil metade em ez anos. Uma das deseobertas mais im. pressionantes do estudo € que é vidvel atingir essa meta com a expansiio de programas ja existentes. Diagnosticare tratar condigbes como pré-eclampsia (pres- so alta associada a gravide7) 6 essencial para proteger os be reduzir a mortalidade das mas. £ importante ajudar a srivida a parar de fumar e desenvolver novos métodos para ‘uma nova geraglo viciada em cigarro eletronico. Também & preciso adotar protegies mais fortes para mulheres em tiseo de violencia doméstica, que leva diretamente a estresse erd- nico, parto prematuro e baixo peso no naseimento, Uma questao em aberto importante € qual efeito a pande- mia tera sobre a geragao de eriancas afetadas por ela no tite- roe inicio da vida. A COVID-19 em si pode ter efeitos negati vos para o desenvolvimento do feto, embora a melhor infor magiio disponivel até agora sugira que as grividas no sio ‘especialmente passt e que os bebés afetados nfo esto apresentandla defeitos 6b: is dese tornaram eritieamente doentes vios ao nascer, Mesmo assim, considerando-se o fato de que a COVID. afeta muitos sistemas do corpo, efeitos negativos sutis no de mia também & um evento muito estres do desde a Grande Depressio. Ha relatos de a pode revelar snvolvimento do feto, A pande- ante acompanhado pela pior reces aumento na violencia doméstica, consumo de Alcool e over doses de drogas, todos prejudiciais ao desenvolvimento do feto. Fm consequéncia, a geracio agora no dtero provavel- mente estar em maior risco e vai necessitar de investimen- tos sociais para superar seu inicio mais pobre na vida, Em um recente sermao sobre o falecido lider dos direitos civis John Robert Lewis, 0 reverendo James Lawson relem: brow os ganhos que esse movimento trouxe a americanos de todas as cores. Ele pediu que os Ifderes politicos da Améri- ‘ca “trabalhem em favor de enda garoto e de eada garota, para ‘que cada bebe nascido nessas plagas tenha acesso a arvore davida no sossegaremos enquanto uma crianga morrer no primeira ano de vida. Ni fiearemas quietos enquanto 0 maior grupo na pobreza em nossa nagio seja o de mulheres ¢ erfancas” A ra que todas as pessoas clos EUA determinem que medida que reconstrufmas nossas despedacadas redes de se guridade e sistemas de satide piblica apés a COVID-19, preci- ssamos aproveitar © momento para usar 0 conhecimento que —para dar ganhamos acerca de como proteger mies e bet acada crianga a oportunidade de florescer. vide seja prejudicial para o feto, as miles mais instrufdas so mais eapazes de atenuar os efeitos sobre seus filhos — uma descoberta importante diante do estresse severo imposto pela COVID-9 para as familias de hoje. ‘Nilo € surpresa que doengas também possam afetar um feto. Douglas V. Almond, da Universidade Columbia, estudou pessoas nascidas no pico da epidemia de influenza de 1918 e descobriu: que elas tinham 1,5 vez mais chances de serem adultos pobres do que as nascidas poco antes. im um traba- Tho que eu fiz.com Almond e Mariesa Herrmann examinando A rede de seguranga alimentar dos EUA ja apresentou imenso sucesso ao melhorar as perspectivas das criangas. ss nascidas entre 1960 ¢ 1990 nos EUA, deseabrimos que mulheres nascidas em éreas onde ocorria. uma doenga conta- ssiosa apresentaram probabilidade maior de terem diabetes a darem luz décadas depois ~ es efeitos eram duas vezes maiores para as afro-americanas. Mais recentemente, Han- nes Schwandt, da Universidade Northwestern, examinou da- dos dinamarqueses ¢ constatou que a infecg0 materna com a gripe sazonal comum no tereeiro trimestre dobra a taxa de parto prematuro e baixo peso ao nascer, e a infecgao no undo trimestre leva a uma redugo de 9% na renda e a um aumento de 35% na dependéncia da seguridade social quan- doacrianca se torna adulta, EVITANDO DANOS Porém, a sate ao nascer e depois pode ser melhorada com intervengSes cuidadosas direcionadas para as grividas, bebés e criancas, ¢ pela reducao da poluito. A rede de segu- ranga alimentar nos EUA obteve um grande sucesso em evi- tar o peso baixo ao nascer em bebés de mulheres carentes. A implantago do programa de cupons de alimentos, agora chamado Programa de Assisténeia a Nutrigdo Suplementar (Snap, na sigla em inglés), em meados dos anos 1970 redu- ziua ineidéncia de baixo peso no nascimento entre 5% e 11%. Além disso, as eriangas beneficiadas pelo programa eresee- ram com menos chanees de sofrerem de sindrome metabé- lica, um grupo de problemas que inclui obesidade e diabetes, [Nos anos 1970 também foi introduzido o Programa de Nu- trigio Suplementar Especial para Mulheres, Bebés e Crian- reeebe: ram alimentos nutritivos do WIC, orientagio sobre nutri¢io € maior acesso nos cuidados médiens. Dezenas de estudos «as, conheeido como WIC. Cerca de 50% das gr ‘mostraram que, quando as mulheres participam do WIC du- rrante a gravidez, seus bebés tém menos chances de pesarem pouco ao nascer. Fm recente trabalho, Anna Chornly, Lyud~ myla Sonehak e eu pudemos demonstrar que eriangas exjas mes reeebem WIC durante a gravidez tém menos chances de sofrerem de TDAH e outros problemas de satide mental comumente diagnosticados na primeira infancia {50 Scintife American Bras, Novembro 2020 No fim dos anos 1980 e inicio dos 1990, os governos estar duais e federal trabalharam juntos para expandit 0 seguro- -satide pablico para gravidas dentro do programa Medicaid. Jonathan Gruber ¢ eu demonstramos que o seguro-saide reduziu a mortalidade infantil e melhorou 0 peso ao nas- cer, Hoje, as eriangas cujas maes se qualificaram para a co- Dertura do seguro-satide a gravidez naquele perfodo tem nf- veis mais altos de frequencia em faculdades, emprego e ren- da do que as criancas de mies nao atendidas pelo programa. Blas também apresentam taxas mais baixas de doengas erd- nicas e t@m menos chances de terem sido hos- pitalizadas. Os efeitos estimados s0 mais po- derosos para as afro-americanas, que, tendo renda média menor, se beneficiaram mais da expansdo. O fato de que esses bebés apresen- ‘tam mais chances de terem cursado faculda- de aumentari as chances de vida de seus fi- hos. Nos EUA, um ano adicional de ensino superior da mae reds. a ineidéncia de baixo peso ao nascer nos filhos em 10%. ‘Mesmo assim, muitas criangas ainda naseem com baixo peso, em especial se a mie é negra. Mas, intervenes que ‘ocorrem depois do nascimento podem melhorar seus resulta- dos, Programas como a Parceria Enfermeira-Familia ineluem visitas em casa de enfermeiras a mulheres de baixa renda que estejam grividas pela primeira vez, muitas das quais sao jo- vens e solteiras. A enfermeira visita a residéncia todo mes a0 longo da gravidez, e durante os dois primeiros anos de vida, do bebé, para dar orientagio sobre comportamento saudavel. Essa assist@ncia reduz 0 abuso infantil e 0 erime adolescente cemelhora as conquistas académicas da crianca. A ajuda financeira as familias pobres com criancas peque- nas também melhora a sade materna e os prognésticos da crianga, sugerindo que © auxflio pago durante a COVIDA9 também teri importantes efeitos protetores. Nos EUA, 0 maior programa em atividade desse tipo ¢ o Crédito para 0 Lmposto de Renda (EITC, na sigla em inglés). Estudos dos be- heficidrios co EITC mostraram que eriancas em familias que receberam o beneficio tiveram resultados melhores nos tes- tes escolares. Com o estresse financeiro sendo aliviado de al- guma forma, a sade mental das maes nessas famflias tam- ‘dém methorou. Ademais, programas de edueaglo de qualida- de para a primeira infaincia aumentam a sade, a edueagio ¢ arenda e reduzem o erime no futuro. Head Start, 0 progra- ‘ma de pré-escola financiado pelo governo federal implantan- do nos anos 1960, teve efeitos positivos substanciais nos re- sultados em satide e educagio, sobretudo em loeais eom me- nos acesso aps centros de cuidados infantis OLHANDO ADIANTE Investimentos em gravidas e criancas tém dado retorno, com reflexo na queda aeentuada das taxas de mortalidade in- fantil nos EUA apesar do aumento da desigualdade de re dae sade. Mas ¢ alarmante que muitos programas de suces- 0, como Lei do Ar Limpo, o SNAP e 0 Medicaid, estejam sob ataque. A legislagio Cares (sigla para “Coronavirus Aid, Re- Te Nilson peso de sipiani da Unies de Motel dre dese Labentéiod nko es ARA MUITOS DE. NOS, A VIDA NO MUNDO DA COVID-19 DA A SENSAGAO DE TERMOS sido jogados em uma realidade alt rnativa. Vivemos dia e n entr quatro paredes. Temos medo de coisas que chegam as nossas portas. Se nos aventuramos pela cidade, usamos mascaras. Temos problemas para discernir rostos. £ como viver em um sonho, A COVID-19 ja alterou nosso mundo dos sonhos: o quanto sonhamos, © quanto lembramos deles e até a natureza dos sonhos. No inicio deste ano, quando foram adotadas diretri es de isolamento, a sociedade inesperadamente experimen- tou o que estou chamando de uma onda de sonhos um aumento global nos relatos de sonho vividos e estranhos, muitos relacionados ao coronavirus ¢ ao distanciamento social. Termos como sonhos de coronavirus e pesadelos de COVID surgiram nas redes sociais. Em abril, as midias sociais e tradicionais comegaram a divulgar a noticia: o mundo est Embora grandes mudancas nos sonhos tenham sido re- Tatadas nos BUA depois de eventos extraordinarios como os ataques de 11 de setembro de 2001, um aumento dessa mag nitude nunea tinha sido documentado. Essa disparada nos sonhos é a primeira a ocorrer globalmente, ea primeira a acontecer na era das mfdias socials, o que torna os sonhos ri pidamente acessfveis para estudos imediatos. Enquanto um “evento” de sonhos, a pandemia é sem precedentes, Mas que tipo de fendmeno ¢ esse, exatamente? Para des- cobrir, Deirdre Barrett, professora da Universidade Harvard, iniciou uma pesquisa on-line acerca das sonhos da COVIDA9 nna semana de 22 de marco. Erin e Grace Gravley, artistas da Area da Bafa de Sao Francisco, langaram © DreamotCovid. com, um site de arquivos e ilustragées dos sonhos da pan- demia, A conta @CovidDreams comegou a operar no Twit- tet. Kelly Bulkeley, psicdloga e diretora do Banco de Dados do Sono e dos Sonos, veio a 2477 americanos adultos, E Elizaveta Solomonova, junto com Rebecca Robillard, do Ins- tituto Real de Pesquisa sobre Sadie Mental, e outros reali- seguir, com uma pesquisa com ha ex-aluna de doutorado zaram uma pesquisa respondida por 968 pessoas. Os resul- tados documentam um acentuado aumento nos sonhos, em sua diversidade e em seus efeitos sobre a safde mental ‘A enquete de Bulkeley revelou que, em marco, 29% dos americanos lembravam mais de seus sonhos do que o habi- tual, Solomonova e Robillard descobriram que 87% das pes- soas tiveram sonhos com a pancemia, muitos mareados por temas como nao realizar tarefas adequadamente (tais como perder controle de um vefculo) e ser ameagado por outras '54 Scent American Bri, Novembro 2000 sonhando com a COVID-19. pessoas, Muitos posts refletem essas descobertas, Uma pes- soa relatou no Twitter: “Sonhei que retornava como profes- sora substituta no outono, despreprada. Os estudantes ti- nham dificuldades para praticar o distanciamento social eos rofessores ntio conseguiam programar aulas ow encontros ‘individuais.” Outra pessoa esereveu: “Meu celular tinka um virus ¢ postava muitas fotos aleatérias da minha edmera no Instagram e minha ansiedade estava em seu ponto méximo”. Estudos mais recentes viram mudangas qualitativas nas preocupagies com a sade e as emogdes dos sonhos. Rela tos de sonhos de brasileiros em isolamento social tinham alta proporgo de palavras relacionadas a raiva, tristeza, contamt- naglo e higiene, A mineracao de textos de relatos de 810 fin- landeses mostrou que os agrupamentos de palavras estavam sobrecarregados poransiedacle; 55% eram diretamente sobre a pandemia (falta de respeito ao distanciamento social, pes sas mais velhas com problemas), ¢ essas emogdes predomi nnavam entre as pessoas que sentiam o estresse aumentar du- rante o dia, Um estudo com cem enfermeiras reerutadas para tratar pacientes de COVID-19 na China revelou que 45% ti ram pesadelos — 0 dobro da taxa de pacientes em ambulato- ios psiquiftricas chineses e muito acima dos 5% da popula «glo em geral com problemas de pesadelos. Parece claro que alguma dinamica basica biol6gica e so- cial teve um papel nessa abertura inédita das comportas ont ricas. Pelo menos trés fatores podem ter acionado ou susten- {ado a disparada dos sonhos: a interrupeiio dos perfodos de de sono aumentam 0 sono REM (de Movimento Réipido dos thos) ¢, portanto, os sonhos; ameagas de contaio e distan: ‘iamento social pesam sobre a capacidade dos sonhos de re- sgularem as emogbes: ea midia eas redes sociais amplificam a reagio do pilicoa disparada MAIS SONO REM, MAIS SONIIOS, Uma explicagdo obvia & que os padres de sono muda- ram de repente quando as quarentenas entraram em vigor: s primeiros informes demonstram niveis elevados de insd- nia na populagio chinesa, em especial nos trabalhadores na linha de frente, Porém, as ordens para ficar em casa, que re- ‘moveram as longas viagens para o trabalho, melhoraram 0 sono para muitos. Chineses entrevistados relataram um au- ‘mento médio de 46 minutos na cama e 34 minutos a mais no total de sono, Cerea de 54% das pessoas na Finlndia disse- ‘ram dormir mais depois do lockdown. Entre 13 €27 de margo, ‘0 tempo de sono nos EUA aumentou quase 20%. Mais sono leva a mais sonhos; em laborat6rias de sono, pessoas que dormem mais de 9,5 horas lembram mais de seus sonhos do que se dormirem oito horas. Dormir mais tempo auumenta proporefonalmente o sono REM, que é quan- do ocorrem os sonhios mais vividos e emocionais. Agendas menos rigidas também podem ter postergado os sonhios na parte da manha, que € quando o sono REM prevalece e os so- nhos fleam mais estranhos. Tuftes sobre sonhos refletem es- sas qualidades: “Eu estava cuidando de uma recém-naseida com COVID... era ido vivido € real.” O aumento dos sonhos em intervalos REM no fim da manha resulta da convergéncia, de varias processos. O sono tem ciclos entre os estigios pro- fundo e leve a cada 90 minutos, mas a press por sono REM aumenta medida que a necessidade de sono profundo e re- ‘cuperador ¢ progressivamente satisfeita, Enguanto isso, um. processo cireadiano, que se relaciona com o ritmo da tem- peratura de nosso corpo em 24 horas, eonfere um estimulo abrupto & propensiio 20 sono REM no fim do perfodo de sono ese mantém elevado durante a manha. Desde que a pandemia comegou, muitas pessoas dormem ‘ais e mais tarde. Na China, o horério médio de ir para cama atrasou-se, em média, 26 minutos, mas 0 hordrfo de se levan- tar se atrasou 72 minutos, Esses valores foram de 41 e 73 mi- rnutos na Itilia e 30 e 42 minutos entre universitirias dos EUA. E, sem 0 tempo de transporte, muitas pessoas ganha- ram tempo livre na cama para relembrar seus sonhos. E, a ‘medida que eliminaram eventuais deficits de sono, as pesso- as aumentam suas chanees de acordarem de noite e lembra- rem de mais sonhos FUNCORS DO SONHO SOBRECARREGADAS tema de muitos sonhos da COVID-19 reflete diretamen- te ou metaforicamente os temores de contigio ¢ os desafios, do distanciamento social. Mesmo em épocas normais, sonhia- ‘mos mais com novas experiéncias. Por exemplo, pessoas ma- triculadas em cursos de franeés logo sonham sobre 0 fran- és. Repetir fragmentos de experitneias ¢ um exemplo do pa- pel funcional que os pesquisadores atribuem ao sonho € 20 sono REM: eles nos ajudam a solucionar problemas. Outros papéis incluem consolidar eventos do dia anterior em mem6- ras mais duradouras, encaixar esses eventos em uma narra tiva de nossas vidas e ajudar-nos a regular emocdes. Pesquisas jéi documentaram diversos casos de sonhos que auxiliaram feitos criativos. Estudos empiricos também mos- tram que o sono REM ajuda na resolugao de problemas que cexigem acesso a variadas associagdes de meméria, o que pode explicar por que tantos sonhos na onda de 2020 envolvem tentativas criativas on estranhas de lidar com o problema da COVID-19. Um participante de uma pesquisa disse: “Eu esta- va buscando um tipo de creme que evitarta ou curaria « Co- id-19. Eu coloquel minhas mios na fltima gurrafa’. Duas outras fungdes atribufdas ao sonho fo as de extin- ‘memérias de medo ¢ simular situagbes sociais. Elas es- ‘Wo relacionadas a regulagdo da emocdo, e ajudam a expliear por que as ameagas da pandemia e os desafios do distancia- ‘mento social aparecem com tanta frequéncia nessa onda de sonhos. Muitos sonhos relataclos na midia incluem reagbes de medo ligado a infeceao, as financas e ao distanciamento social. “Ew testet positive para gravides e covid... agora estou Ameagas podem tomar a forma de imagens me- jenigenas; zumbis sio comuns, Imagens de insetos e outras pequenas criaturas também sio bem representadas: “Meu pé estava coberto de formigas ¢ 5 ou 6 vidvas-negras estavam grudadas na sola do meu pe: Uma forma de entender imagens diretas e metafOricas € considerar que sons expressam as prineipais preocupacoes de um individuo, aproveitando memérias que sio semelhan- {es no tom emocional, mas diferentes no assunto. Essa con- textualizagao é clara em pesadelos pés-traumiticos, em quea reagiio da pessoa a um trauma, como o terror durante um as- salto, €representada como o terror diante de um dlesastre na- tural, como um tsunami. Ernest Hartmann, pesquisador pio- neiro que estucou sonhos apés os ataques de 11 de setem- bro, estipulou que essa contextualizagio ajuda as pessoas a se adaptarem, ao entrelagar experiéncias antigais € novas. A in- tegracio bem-sucedida produz um sistema de memoria mais estivel, que resiste a traumas futuros. Imagens metaforicas podem ser parte de um esforgo cons- trutivo para dar sentido a eventos perturbadores. Um proces s0 relacionado € a eliminagao do medo pela criagio de no- vas “memirias de seguranca’. Essas possibilidades, que eu © outros investigamos, refletem o fato de que as memorias cestressada tafévieas como tsunamis ou a de eventos apavorantes quase nunca so reprisadas nos so- rnhos em sua inteireza. Ao invés, os elementos de uma mems- ria surgem de forma fragmentada, como se a memoria origi- nnal fosse reduzida a unidades basieas. Essas partes se recom- binam com memérias ¢ cognigées mais recentes para criar contextos em que as metiforas e outras justaposigées ineo- muns de imagens parecem incompativeis com a vida. real E, mais importante, s2o incompativels com sentimentos de edo. Esse sonhar eriativo produz imagens de seguranca que se sobrepdem ¢ inibem a membria do medo original, ajudan- do.como tempo a atenuar a angtstia, Porém, esse mecanismo pode se quebrar depois de tra. wean. 55 mas severos. Nesses casos, surgem os pesadelos em que a me: méria apavorante 6 reprisada de forma realista; as elementos recombinantes eriativos da meméria esto travados, O im- pacto final da pandemia nos sonhos de uma pessoa vai de- pender do seu grau de trauma e resiliéncia. Um segundo tipo de teoria pode explicar os temas de dis- tanciamento social, tais como os que petmeiam os relatos em IDreamofCovid.com. As emogoes nesses sonhos variam de surpresa a desconforto, de estresse a horror. Tuites ilustram ‘como os eenarios dos sonhos so incompativeis eom o distan- mento social ~ tao incompativeis que costumam provocar ‘um raro momento de conscientizagao e despertar: “Nos estd- ‘vamos celebrando algo em uma festa. H eu acordei porque at- uma coisa estava errada jé que nao devemos fazer festas por ‘causa do distanciamento social.” Essas teorias focam a fungio desimulagao social dosonho. A visio de que sonhar é uma simulaglo neural da realida- de, aniloga a realidade virtual, é agora amplamente aceita, € a ideia de que a simulagio da vida social 6 uma fungao biol6- sia essencial est crescendo. Em 2000, Anne Germain, ago- ra executiva-chefe de medicina do sono da start-up Noctem, © eu propusemos que as imagens de personagens interagin- do com 0 self em sonhos poderia ser bésico a como o sonhar cevoluiu, refletindo vineulos de relagdes essenciais & sobrevi- vencia de grupos pré-historicos. Os fortes laos interpesso- ais reiterados durante 0 sonho contribuem para fortalecer as estruturas do grupo, ajudando a onganizar as defesas contra predadores e a cooperagio na soluciio de problemas. ‘Outros pesquisadores, como Antti Revonsuo, da Univers- dade de Turku, propuseram desde entao fungdes sociais adi- cionais para o sonho: faciitar a percepcao social (quem est ‘em torno de mim?), a leitura da mente social (o que eles esto pensando2) ea pritica da habilidaxde de eriar vineulos sociais, Outra teoria apresentada por Mark Blagrove, da Universida- de de Swansea, postula que, ao compartilhar sonhos, as pes- soas reforgam a empatia com 0s outros. A lista de fungdes do sonho deve continuar crescendo A medida que aprendemos ais sobre os cireuitos do cérebro na base da cogniciio social €0 papel que o sono REM desempenha na meméria para es- timulos emocionais, faces humanas e reagbes & exclusio so- cial, Como o distanciamento social & de fato, um experimen- to de isolamento social em um nivel nunea visto -e é prova- velmente antagOnico a evolugdo humana ~ um choque com 'mecanismos dos sonhos profundamente enraizados deve ser cevidente em larga escala. E como o distanciamento social perturba to profundamente as relagdes normais, as simula- {Bes Socials nos sonhos podem desempenhar um papel eru- cial para ajudar familias, grupos e até sociedades a lidarem ‘com uma adaptagio social repentina e generalizada, A CAMARA DE ECO DA MIDIA SOCIAL, Sera que a disparada nos sons foi amplificada pela m&- dia? £ bem possivel que os posts iniciais sobre uns poueos sonhos tenham cireulado muito, ¢ alimentado uma narrati- va sobre sonhos da pandemia que virou viral, influenciando as pessoas a lembrarem de seus sonios, notarem os temas da COVID e os compartitharem, ssa narrativa pode até ter in- duzido pessoas a sonharem mais com a pandemia. As evidencias sugerem que as noticias na midia tradicio- nal provavelmente ndo dispararam 0 aumento dos sonhos, mas podem ter amplificado seu alcance, pelo menos tem- porariamente. As pesquisas de Bulkeley € Solomonova-Ro- billard corroboraram uma clara onda de tuttes a respeito de sonhos em marco, antes que as primeiras noticias sobre esses sonhos apareeessem; de fato, as primeiras histérias citavamn varias sequénecias de tuftes como fontes da noticia. Quando as historias surgiram, foi detectado um eresei- mento nos relatos de sonhos em @CovidDreams e IDreamof- Covid.com até 0 inicio de abril. Além disso, durante a primei- ra semana, 56% dos artigos no notieiério apresentavam trevistas com a mesma cientista de sonhos de Harvard, 0 que ‘pode ter influenciado leitores a sonharem com os temas repe- tidos por ela em varias entrevistas. Aonda comegow a declinar no fim de abril, assim como 0 rndimero de artigos na mii tradicional, sugerindo o fim dos efeitos de cimara de eco, Resta saber qual 6 a natureza fi- nal da onda. Até que as vacinas ou 0s tratamentos para a CO- VIDA9 estejam disponiveis, ¢ com a possibilidade de outras ondas de infecgio, as ameagas da doenga e do distanciamen- to social devem persist: A pandemia pode ter geradlo um aus ‘mento duradouro na eapacidade humana de lembrar dos s0- nnhos? Sera que as preocupacdes com a pandemia podem se infiltrar permanentemente nos sonhos? Se sim, essas altera- es vo ajudar ou prejudicar a adaptagiio das pessoas ao fu- ‘tro pés-pandemia? Certas pessoas poderio precisar de terapeutas. Os dados das pesquisas usados neste artigo nao se aprofundam nos de talhes dos pesadelos, Mas alguns profissionais de satide que ‘viram muito sofrimento tém agora pesadelos recorrentes. F. alguns pacientes que ficaram em UTIs por dias ou semanas sofreram pesadelos terriveis neste periodo, © que pode, em parte, ser resultado de medicagées ¢ falta de sono induzida pelos procedimentos hospitalares ininterruptos e barulhos. Esses sobreviventes vao precisar de ajuda de especialistas para recuperarem o sono normal Pessoas que estejam apenas um pouco assustadas com seus sonhos de COVID também tém opedes. Novas tecnolo- sglas como reativagao de memdria direcionada esto ofere cendo as pessoas mais controle sobre as narrativas de seus sonhos, Por exemplo, aprender como praticar 0 sonho Iici- do —tornar-se ciente de que se est sonhando — com a aju- da de reativagao da mem6ria dirceionada ou outros métodos pode ajudar a transformar sonhos preocupantes em sonhos mais agradaveis e até diteis, Simplesmente observar e relatar sonhos da pandemia parece ter impacto positivo na satide mental, como Natalia Mota, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, deseobriu em seus estudos, Na falta de te rapia, podemos nos permitir relasar e desfrutar das horas ex- tras de sono. Os sonlios podem ser incdmodos, mas eles tam= bém sio sugestionsiveis, maledvets eas vezes, inspiradlores. vwonesciameom br 57 VIROLOGIA O QUE ____APRENDEMOS 6 COMA As ligdes de outra pandemia para o combate & Covid-19 William A. Haseltine ila A Haein fess aide le Msc cL ana uno dos depres pests sareCira eI da rmesmarvenidae Uetanbér tia ome dretoreral pester go ink tank de said glo ACESS Heath ineraoral Hastie undo de una hea de etes debe e sso nak ees S0ACOMID ksh Gace Gestion arses Pres and Stone Fai Gite to CDVID-9 esti and nave Pens, pats and Oo 66 GORA ESTAMOS ENVOLVIDOS EM OUTRO EPISODIO MORTAL NA BATALHA HISTORICA do ser humano contra os microrganismos. Essas batalhas moldaram o curso da evolugio humana e da historia, Vimos a face de nosso adver- sario, neste caso, um virus mimisculo.” Eu fiz esse comentario em um depoimento ao Senado americano em 26 de setembro de 1985. Eu me referia ao HIV, mas poderia dizer a mesma coisa sobre a epidemia que estamos enfrentando. ‘Como todos os virus, os coronavirus so especialistas em quebrar e6digos. Pense no SARS-CoV-2 como uma maquina Diol6gica inteligente, realizando experimentos de DNA sem parar para se adaptar ao nicho ecolégico onde habita. Este virus atacou trés de nossas vulnerabilidades mais humanas: nossas defesas biol6gieas, nosso conjunto de padrées de com= portamento social e nossas latentes divisdes politicas ‘Como a confrontacao se desdobraré nos proximos anos & ddécadas? Qual ser o custo em mortes, doencas permanentes, prejuizos & satide e outros prejuizos? Novas va Imentos conseguir conter ou até erradicar 0 virus \Ninguém sabe. Mas varias ligdes aprendidas na batalha contra o HIV, o virus da imunodeficiéneia humana que pro- nas ¢ trata- vora a Aids, sugerem o que vem pela frente. O HIV/Aids é um dos piores flagelos que J4 enfrentamos. Como decodifieador, OHIV 6 um especialista. At6 fins de 2019, 0 virus 34 havia cet fado 33 milhdes de vidas em todo 0 mundo. Ao todo, 76 mi- hoes de pessoas foram infectadas, ¢estima-se que 1,7 milhao de pessoas contraiam o virus todos os anos. ‘Mas devemos agradecer pelas defesas eientificas que con- quistamos. Dos quase 38 milldes de pessoas que vive com © HIV/Aids hoje, 25 milhGes recebem tratamento antirretro- viral completo que previne a doenca, eé tio eficaz que se tor- hha pouco provivel que o vitus seja transmitido, Eu ditia que milhoes ou mais de infeegdes nilo chegaram a acontecer, principalmente, na Africa subsaaariana, porque esses trta~ 'mentos se tornaram disponiveis na maioria dos paises. Ao Iutar essa guerra épica contra a Aids, 0 n rologistas, epidemiologistas espectalistas em satide pabli- ca aprenderam ligdes que podemos apliear na luta atual. Vi- ‘mos, por exemplo, que as vacinas nunea sfio uma garantia, mas que os tratamentos podem ser nossa arma mais pode rosa. Descobrimos que 0 comportamento humano desempe- nnha papel vital em qualquer esforgo de combate as doengas {60 Scientific American Bras, Novembro 2020 ce que nilo se pode ignorar a natureza humana. Também per- ccebemos como é erftico aprimorar 0 conhecimento e as ferra- _mentas adquiridos no combate a surtos anteriores — uma es twatégia que s6 ¢ possivel se o financiamento a pesquisa per sistir nos perfodos entre as pandemias. (© DESAFIO DAS VACINAS As primeiras observagdes sobre o comportamento do HIV em humanos mostraram que 0 caminho até uma vacina seria longo e arduo, A medida que a pandemia se desenrolava, co ‘mecamos @ monitorar os nivels de anticorpos ¢ células T ( Ilas braneas do sangue que combatem os invasores) nas pes soas infectadas. Os altos niveis de ambos mostraram que 0s pacientes desenvolviam uma resposta imune incrivelmente ativa, mais violenta que qualquer eoisa que ja tinhamos vis- to em outras doencas, Mas, mesmo trabalhiando com sua ex pacidade maxima, o sistema imunolégico nunca estava suf ientemente forte para eliminar por completo o virus Ao contririo do virus “ataca e foge” da poliomielite, que sgera imunidade de longo prazo depois da infeecio, o HIV & eae fica”: _manece em seu organismo até destruir o sistema imunologi- 0, deixando-o indefeso até contra infecetes leves. Além dis 80, 0 HIV evolui continuamente — um agressor astuto que procura formas de enganar as respostas imunes.Iss0 nd sig- alguém se infecta, © patogeno per- nifica que uma vacina seja impossivel. Mas certamente signi ficou que nZo seria ficil, principalmente quando o virus sur- ssiu na déenda de 1980. Em 1988, eu declarei Presidencial sobre a epidemia de HIV: “infelizmente, nin- sguém consegue prever com certeza que uma vacina contra ‘Aids possa ser obtida, Isso nio significa que seja impossi- vel eriar uma vacina, mas somente que nao temos certeza de «que sera bem-sucedida” Mais de 30 anos depois ainda nao ha ‘uma vaeina efieaz. contra a infeegio pelo HIV. ara a Comissio Pelo que pudemos pereeber sobre 0 SARS-CoV ele interage com o sistema imunol6gico de formas complexas. Alguns dos seus comportamentos fa: zem lembrar da pélio, e outros, do HIV. Apés quase 60 anos de estudos de coronavirus, a sabemos que 6 sistema imunolégico do corpo pode elimins-lo, Em geral, esse parece ser 0 caso também do SARS- -CoV-2. Mas, da mesma forma que © HIV, os corona- virus causaclores da gripe também tém suas pegadi- nnhas. Uma infeecio por um deles nunea parece co {evir imunidade contra sintomas ou reinfeecao, pela mesma cepa de virus. & por isso que os mesmos vi- rus da gripe voltam todos os anos. Esses coronavi- rus ndo so um virus “ataca e foge” como o da polio, ‘ou um virus “pega e fica” como o da Aids, Eu os cha mo de virus “pegou e esqueceu” — uma vez elimina- do, seu corpo tende a esquecer que alguma vez.com- Dateu esse inimigo. Estudos anteriores com 0 SAR- S-CoV-2 sugerem que ele pode se comportar como seus primos, aumentando a proteeio imune transiente. (© caminho para uma vacina contra o SARS-CoV-2 pode estar cheio de obsticulos. Embora algumas pessoas com Co- vid. criem anticorpos neutralizantes que podem eliminar 0 virus, nem todas conseguem. Ainda nao se sabe se uma vack na seréi capaz de estimular esses antieorpos em todas as pes- soas, Além disso, niio sabemos por quanto tempo esses ant corpos podem nos proteger. Pode levar dois ou trés anos até termos dados suficientes para confiar nos resultados. Outro desafio € a forma como o virus penetra no corpo: pelas membranas da mucosa nasal. Nenhuma vacina da Co- vid-19 em des snvolvimento conseguiu impedir a infeceio pelo nariz, Em primatas ndo humanos, algumas vacinas po- dem evitar que a doenga se alastre faeilmente para os pul- ides. Mas esses estudos niio explicam como o mesmo medi camento funcionaré nos seres humans. A doenga em nossa espécie € muito diferente da que ataca 0s macacos, que nio se tornam perceptivelmente doentes. Com o HIV, aprendemos que as tentativas para evitar a entrada do virus também nao funeionaram bem, Nem para, ‘HIV nem para varios outros virus, inluindo influenza e até polio. As vacinas funeionam mais eomo alarmes de ineéndio: ‘em vez de evitar o fogo, elas convocam o sistema imune para ajudar a apags-lo quando o fogo jf esta queimando. ‘© mundo espera ansiosamente a vacina contra a Covidel9, £ dem provivel que 0s cientistas anuneiem um “sucesso” ain- da este ano, mas 0 sucesso ndo ¢ tao simples quanto parece. Enquanto escrevo, as autoridades russas relataram ter apro= vado a vacina da Covid-19. Seré que vai funcionar? Sera se- ura? Tera efeito duradouro? Ninguém é eapaz de responeler convincentemente a essas perguntas para qualquer vacina, ‘que surja em breve, talvez.nem daqui a varios anes. sonseguimos avancos notiveis em nossas ferramentas de biologia molecular desde a década de 1980. Mas a parte ais Ienta do desenvolvimento de farmacos continua sendo (testes em seres humanos. Por causa disso, a infraestrut (CO MEMORIAL “Aids memorial quit” (colcha deretalhos)formado por 48 mil pains homenageia os que morreram de doencas relacionadas 8 Aids. ra erfada para a pesquisa em HIV/Aids esta agora acelerando © processo de testes. Trinta mil voluntarios no mundo todo participam de redes construfdas pelo Instituto Nacional de ‘Satide dos EUA para estudar possiveis eandidatos cinas do HIV, eessas redes também esto sendo aproveitadas para os testes iniciais da vacina contra a Covid-19. FOCO NO TRATAMENTO Essas drogas sito uma historia inerivel de sucesso, © pri- rmeiro conjunto de drogas contra o HIV foram os inibidores de fcido nucleico, conhecidos como drogas de terminacio de cadeia, Elas inseriam, is um nucleotideo na “terminagio da cadeia” a medida que o virus replicava seu RNA viral em DNA, impedindo que a cadeia do DNA do HIV se alongasse. Nos anos 1990 conseguimos melhores resultados utilizan- do coquetis de drogas para controlar as infeegdes pelo HIV, Togo depois que a contaminagao acontecia. © primeiro med camento, 0 AZT, foi usado imediatamente nos funcionsrios da satide que as vezes se infectavam com agulhas de serings com sangue eontaminado, © AZT também era usado para duzir a transmissio da mie para o bebé durante a gestagao. (© tratamento pré-natal para maes soropositivas reduziu em. cerca de doi tergos o niimero de bebés que nasceram infec- tados. Atualmente o tratamento que combina quimioterapia reduz.a transmissio mie-bebe a niveis indetectiveis. ‘O conjunto seguinte de drogas foi o dos inibidores de pro- tease. Um deles eu ajudei a desenvolver. O primeizo, intro- duzido em 1 de pacientes. se viral responsivel pe is longas ros curtos componentes ativos do virus. Mas hii um proble- ‘ma fundamental com essas droga, bem como com as que inibem as polimerases virais, que ajudam a eriar 0 DNA do virus, Nossos eorpos também utilizam proteases em seu fun= cionamento normal, ¢ precisamos de polimerases para repli- car nossos préprios fcidas nucleicos. As mesmas drogas que 5, foi associado a outras drogas no tratamento \ proteinas preeursoras m onsciamcom.br 62 Inibem as protefnas virais também inibem nossas eétulas. A diferenca entre a concentragio em que a droga inibe o virus alvo e uma concentragd0 que danifiea as proteinas humanas 6 chamacdla indice terapeutico. Esse indice oferece uma janela nna qual a droga € eficaz contra o virus sem causar efeitos co- laterais indesejaveis. Hssa janela é muito estreita para todos 0s inibidores de polimerase e protease, Hoje, o padrao-ouro para tratamento da Aids é a chamada terapia antirretroviral. Os pacientes basicamente tomam um coquetel de pelo menos trés drogas diferentes que atacam o virus do HIV de diferentes formas. A estratégia se baseia no sucesso anterior que obtivemos na Tuta eontra 0 cincer. No fim dos anos 1970, eu montei um laboratério no Instituto de Cancer Dana-Farberda, da Universidade Harvard, para de- senvolver novas drogas para tratamento de cincer. Ao lon- Assim como ocorreu com a Aids e 0 cancer, precisaremos de um coquetel de medicamentos para tratar essa doenca. 80 do tempo, os cdnceres desenvolviam resistencia a drogas simples, mas combinagées de drogas eram eficazes em de- sacelerar, parar, ou matar os eAnceres. Adotamos 0 mesmo prinetpio de associar a quimioterapia ao HIV. No infeio da ddécada de 1990 as primeiras combinagSes no tratamento da Aids estavam salvando a vida de pessoas infeetadas com 0 HIV. Hoje, a infeceao est longe de ser a sentenca de mor te que ja foi — os pacientes agora poclem viver praticamente sem serem afetados pelo HIV. J4 sabemos que a resisteneia a um medieamento poder mudar os tratamentos contra a Covid-19, Vimos re- sisténcia a drogas tinicas anti- SARS-CoV.2 se desenvolverem rupidamente nos primeiros estudos de laboratério. Da mes- ‘ma forma que com a Aids o cancer, precisamos de umacom= binagdo de meslieamentas para tratar essa doenga, O objetivo da bioteenologia e da indilstria farmacéutiea agora ¢ desen. volver uma série de drogas extremamente potentes e espect- ficas, cada uma delas destinada a combater uma funcio d rente do virus, Décadas de pesquisas sobre o HIV mostraram lum caminho e nos permitem confiar em nosso sucesso final COMPORTAMENTO HUMANO Ao tentar entender e combater a epidemia de Aids, o mé- dico e virologista Robert Redfield (agora ehefe do Centro de Controle e Preveneao de Doencas) e et nos tornamos bons amigos no inicio dos anos 1980. Rapidamente aprendemos ‘que enquanto varios politicas do mundo todo se recusavam a reconhecer 0 HIV como uma ameaga a sua populaglo, os mi- Titares eram a excegdio. Praticamente todos os paises conside- ravam a Aids um sério perigo para as tropas ¢ a atividade mi- Titar e um enorme ralo para as recursos militares futuros. A ‘visio deles era “no vamos fechar os olhos e fingir que os sol- dados so santos” Redfield, que na época estava no Centro was ont American Hrs, Nove 2020 Médico do Exército Walter Reed, ajudou a projetar e geren: iar um programa para testar todas as forcas uniformizadas dos EUA para identificar infecgdes pelo HIV. [Na época nao havia drogas eficazes. A doenga matou mais, de 90% dos infectados. Quando casais faziam o teste e um dos conjuges estava infectado e 0 outro no, os médicas as aconsethavam de forma entitica a usar preservativos. Fiquel perplexo ao saber que menos de um tergo aceitou 0 conselho. “Se as pessoas niio se conscientizam sobre o perigo letal do sexo desprotegido com set pareeito, estamos realmente com problemas’, eu pensei, Nos cineo anos seguintes, mais de 75% {dos pareeiros nao infectados contrafram o HIV, A sexualidade humana — a disposi¢Zo para 0 sexo e a co- nexio fisica — esté profundamente incorporada em nos- sa natureza, Nos anos 1980, eu sabia que era pouco provi vel que as pessoas mudassem seu comportamento sexual de uma for- mais radical. Da mesma forma, existe uma dindmica sexual para a Covid-t9 que geralmente nao é men- jonada. Ela faz parte do que esta le vando as pessoas a sairem de casa € se aglomerarem em bares e festas. Qualquer pessoa que apre- ce cerveja pode matar a sede em casa, mas a satisfagio no é ‘do simples quando se trata de outros desejos, prineipalmen- te quando se € jovem, solteiro e se vive sozinho. Nossas est tégias de saiide pablica ndio deveriam ignorar esse fato, ‘As mesmas ligdes que aprendemos no meio da ¢ do HIV para ajudar os jovens a mudarem seus comporta- ‘mentos se aplicam hoje a Covid-19: conheca 0 risco, conhe- ‘seus parceiros e tome as devidas preeaugdes. Muitos jo- vvens se baseiam na falsa suposigao de que, mesmo que se in- feetem, nao fieario gravemente doentes. Essa erenga € falsa, € até pessoas com infeccio assintomatica podem desenvol- ver doengas graves e permanentes. Mas quanto mais pessoas entenderem 0 risco, maior a probabilidade de que tomem as precaugdes necessarias para se protegerem, e aos demais. Vie mos isso avontecer com a Aids. FINANCIAMENTO Quando perguntei a especialistas mundiais 0 que eles sa- Diam sobre o detalhamento da biologia molecular do SARS- -CoV-2, ou sobre qualquer outro coronavirus, ees nao sabiam responder. Por qué? Porque 0s governos e a indiistria deixa- ram de financiar a pesquisa em 2006, depois que a primei- ra pandemia da SARS (sindrome respiratoria severa aguda) desapareceu e, novamente, nos anos imediatamente poste- riores ao surto da MERS (sindrome respiratéria do Oriente Médio, também eausada pelo coronavirus) quando ele pare- cia estar controlado. Agéncias de financiamento em todas as partes do mundo, ndo s6 nos EUA, mas também na China, Ja- pao, Cingapura, Hong Kong e o Oriente Médio — paises afe- tados pela SARS © MERS — subestimaram a ameaga dos co- ronavirus. Apesar de alertas claros, persistentes e altamen- te enfitions de varios daqueles que combateram a SARS e MERS de perto, os financiamentos dlesapareceram. O desen- volvimento de drogas anti-SARS e anti-MERS, que poderiam ser decisivas também contra 0 SARSCoV-2, foram abandona- {das inconelusas por falta de financiamento. Contabilizando 1,1 milliio de mortos e 40 milhoes de in- fectacios globalmente em fins de outubro, temos todos os mo- tivos para avelerar os finaneiamentos. Os EUA abriram rapt ‘damente as torneiras dos financiamentos no segundo trimes- tre de 2020 para que a pesquisa investisse na descoberta de vacinas ¢ medicamentos. Mas seria suficiente? Aprendemos com a erise do HIV que era importante ter It has de pesquisa jf estabelecidas. A pesquisa do edineer nas décadas de 1950, 1960 e 1970 criow as bases para os estudlos, do HIV/Aids. O governo respondeu & preocupacio publica aumentando os recursos federais para as pesquisas sobre 0 cancer naquelas décadas. Esses esforgos eulminaram com a aprovagao da Lei Nacional do Cancer, em 1971. 0 compromis- so assumide de dotar US$ 1,6 bilhio para a pesquisa sobre 0 cancer — 0 equivalente a US$ 10 billies em valores atuall zados — permitiu criar a ciéncia de que precisévamos para identificar e entender o HIV na década de 1980, embora, ob- viamente, ninguém soubesse que a compensagao viria Na década de 1980 o governo Reagan no queria falar so- bre Aids ou usar verbas pablicas para financiar pesquisa so- bre HIV. A primeira vez que o presidente Ronald Reagan fez ‘um diseurso mais longo sobre a Aids foi em 1987. No seu pri ‘meio mandato, o financiamento de pesquisas sobre HIV era ‘escasso, Poucos cientistas estavam dispostos a apostar suas carreiras em deeifrar a biolagia molecular. Mas, quando 0 ‘mundo ficou sabendo que o ator Rock Hudson estava grave- mente doente com Aids, o senador republicano ‘Ted Stevens Juntouse ao senador democrata Ted Kennedy, a atriz Elizabe- th Taylor, a mim e mais algumas outras pessoas, e nos empe- ‘nhamos numa campanha para conseguir adicionar USS 320 milhdes ao orgamento fiscal de 1986 para a pesquisa da Aids. Barry Goldwater, Jesse Helms ¢ John Warner, lideres repu- blicanos no Senado, nos apoiaram. O dinheiro fluiu e cien- tistas renomados aderiram. Eu ajudet a criar este primetro programa de pesquisa sobre Aids com financiamento apro- vado pelos congressistas junto com Anthony Fauci, 0 mée co que hoje lidera a luta contra a Covid-19 nos BUA. (E se ha ‘uma pessoa no mundo que mais contribuiu para a prevengao cetratamento da Aids, essa pessoa ¢ Fauel,) Uma diferenca entre a década de 1980 e a atual é que 08 ‘membros republicanos do Congtesso estavam mais dispostos aentrentar o presidente e o pessoal da Casa Branca quando les falharam em tomar as medidas necessarias para comba- ‘ter uma epidemia global. Stevens decidiu, por exemplo, que cera sua obrigaiio proteger ao miximo que 0 Exército e ou tos segmentos das Forgas Armadas fossem infectados pelo HIV. Fle consegui transferir US$ 55 milldes do orcamento da Defesa, para a triagem de HIV/Aids de recrutas. Nosso conjunto de ferramentas dle pesquisas virais € far- ‘macoldgicas melhorou muito desde que o HIV foi deseoberto. ssa 6 uma das razdes que me deixa confiante que teremos rogas antivirais eficazes para o tratamento das infeogdes pela Covid-19 em 2021, talver antes. Podemos identificar © sintetizar rapidamente produtos quimicos para prever quai drogas serio eficazes. Podemos realizar microscopia crioel ‘tronica para testar estruturas do virus e simular interagoes, moléeula por molécula em questo de semanas — algo que ccostuumava Tevar anos. A Tigo € nunea baixar a guarda qua dose trata de financiar pesquisas antivirus. No terfamos es- ‘peranca de vencer a Covid-I9 sem os avancos em biologia mo- Jecular que fizemos nas batalhas anteriores contra os virus. 0 que aprendermos agora ajudard a combater a proxima pan- emia, mas € preeiso que 0 dinheiro continue chegando. UM SALTO NO ESCURO. m novembro de 2019, passei varios dias em Wuhan, na China, presidindo uma reunigo da Capula de Satide EUA- China. A maior preocupagao de nosso grupo, que aumenta- vva/em meio a uma guerra comercial entre Bstados Unidos & China, foi a ameaga de restrigdes no compartilhiar de desco- bertas cientificas. Nao fosse por isso, teria sido uma estada muito agradavel numa cidade maravillosa. Semanas depois, de volta a Nova York, eu ainda sofia com tuma persistente infecc4o viral que contraf na viagem a ‘Wuhan. (Posteriormente testei negativo para Covid-19, mas o resultado nao é definitive). 0 chefe de minha fundagao na China me ligou um dia com mas noticias. Tres de seus avOs haviam morrido infectados por um virus estranho. “Tudo est fechado, Nem posso ir ao entero de meus av6s" ‘Semanas depois, recebi um relato em primeira mao de ou- ‘ro colega que vinha de um periodo de isolamento de 14 dias ‘num hotel de quarentena, descrevendo como a China estava combatendo agressivamente 0 surto. Ele disse que foi conta ‘ado por rastreadores de contatos alguns dias depots que ou- ‘tro passageiro que estava no mesmo voo que ele de Frankfurt para Xangai testou positivo para o coronavirus. Ele foi envia- do part o isolamento. Seu nico contato humano era eom inspetores, que se vestiam como se estivessem lidando com ‘materiais altamente perigosos ¢ vinham diariamente desi fetar 0 quarto e trazer as refeigdes. Ainda nao se sabe bem {qual sero impacto da Covid-19 no longo prazo. Mas sabe- ‘mos que © prego a pagar ser muito alto. Mal arranhamos a superficie da biologia molecular do coronavirus. Que hist6- rias nossos filhos e netos contario sobre nossos sucessos & fracassos como cientistas e como sociedade ao lidar com essa pandemia, a pior que enfrentanos em 100 anos? A-cieneia € um salto na escuridao, exatamente no limite do conhecimento humano, B como se estivéssemos nas pro- fundezas de uma caverna escavando uma parede de pedra. io se sabe © que hit do outro Indo, Algumas pessoas esea- vam a vida toda e s6 acumulam lascas. Podemos estar diante de uma pandemia prolongada ou talvez tenhamos a sorte de conta com tratamentos e vacinas eficazes em breve, Mas jd cestvamos aqui antes, enfrentando inimigos virais deseonhe- cidos, ¢ poclemos aproveitar as lighes que aprendemos. Esta io 6a primetra pandemia, nem seré.a ultima. & vom comb 68 LIVROS Um relato de bastidores (Quantas pessoas eonseguem desenvalver relagbes pessoas com dois centstas clebres que iver em coninentes diferentes? fsico Leonard ‘Mledinow é um dessesraros. Depois deters relatado sua convivéncia como americana e ganador do Préio Nobel de sca Richard Feyman, ele agoratrazorelato de sua parceria como brianico Stephen Hawking 1942-201), que Fesultem di eas de sucesso. ‘obra trazuma abrangente presenta da vida de Hawking, que desde os 2 anos foiatravessaa pla Esderose Lateral iota (ELA). Quando Hawking reeebeus diagnstco suaexpectatva de vid ora de ‘menos de cinco anos. Porém, uae cada 20 pessoas {que apresentama deenca conseque vver mais de das décadas. Deluna forma, 0 ico consequ integrar ese seleto grupo, eviveu uma jornada que inci doiscasamentcs, uss, uma respeitadisima repxaco Gentfica ea enroizarso ‘come icone da culturanerd, Porém,tudoiso pode ser encontrado em muitas outras biagrafas de Hawking jalancadas (ncsndo um me desucesso), ‘Mana presenta da ies de Hawking, © liv jisediferencia, Modinow alm de er ele mesmo sic e pesquisador. um tarimbadoesritor de dvalangso, com vio suoessos editors no curio, soe confereoestofanecesiio para nent os temas extremamentedensosa part dos quai britnico erg sua reputagio como um dos gigantes daisicaterica na segunda metade do séeulo 20. Ainda que sem aprofundar muito, Mladinow consegue prover oletor om um boa comstuaizagio euma snes iteresante dade de Hawking sobre tomas como a fica de buracos rnegros a esténia de um comeco parao Universo cs imitesimpostos plas is da natureza e0 desaio de combinar elavidade geralemecinica quintica para tentar entender a istria do cosas. ord, ¢ em sua vsdo de bastidores que o foro realmente msraa que vie. Mlonowcompartiha comoleiterdtahes sobre ctdano do fico ingls durante sua dbcada inal de vid. Vernos um Hawking que apreciva muito ocoatata humana, ea onto de terse aperfeigoadomna arte desecomaicar Stephen Hawking — historias de fisica ede uma amizade Leonard Mlodinow ‘Companhia das Letras 264 pgs RS 6990 com ohares, caretasemovimentos desobrancehas ‘como forma de suprir suas defeiéncas de ‘comunicago,Emcertomomento, Modinow he pergunta sea sca 6a sua vida." amor 6a vida comestaobrinicn. Outroclemento surpreendenteéa atarelads rotna profssional de Having Porexemplo, mesmo ‘com mas de 60 anos deidade, incapaz demover ‘qualquer parte do corpo excet 0s misculo de face hava décadas. ele no comeo dos anos 2000 trabalhava como lider do grupo de pesquiss em relatvdade na Universidade de Cambridge. lesa ‘gia requetesreuidesinterages com colegase alunos, lém da gest de problemas ederecursos fnancetes. sso somadoa um renéicocalendrio deviagere, queinciaestatis de vie semanas0s EUA todos anos, além de muitos compromssos por ‘conta desu condi de celebridade, Fora da esfra profesional, vemos um Hawking ‘que gosta de beber vine durante ojantar,eque inventa pases como uma viagam debarcoa emo peloria, durantea qualbebe champagne ecome rmorangos ds mis de uma bela enfermeiaruiva.€ tambémum homem que enenacrises no casament, capa dejogar pesado as negociages com sutra que erarwito aguerdo 20 desenerseuspontsde vst: Mlodnow narracomo ingles certa vez chegoua aemesarsuacadeira contra um orientande no meio de uma decussso particularmente agri. ‘Masissondoimpliara uma aitude de dono da vetdae. Hawking nha uma mentesberiaenuta copacidade deespitarvisesdifernesdasua “Qualquerimagem darealdade tlds seestver 4 acord coma obserago, decaraacerta altura Umbam exemple dese rept surge na frm como cleserelacionavacomasidiasreligiosas asia, le nunca menasprezouquemmaniestasse crengaemalgum ipodefora super. Ambasas ans esposasiamaigejgeepressavam salt lnremerte Eleva zs foi missjunto com Sn, asegunda ruber Mois de una vex durante ritual de seemationoy ao pono de chor E chegoua pedir’ esposaquerezase pl sade de suafihaedeseuneto, Tahezo mais preceso seam as momentos ‘ue Mlodinow conse jogar alguna no modo como Hawking pensavasobresimesmoe os ritos esos que enfrentou Oauorrlta suas conversa om alguns dos ms intimosanigs do ings, econtata como leur lameniouas its prdas que tev que efenta. “Todos ns ‘abomes queum da vanes more Para sir, soumpensamentoabstrata Para mimo svat’ expla obitdnicn. Medinow espa ‘questions como Hawking ava coma soveras litages de movinentos.“Ajudouame oar, respondeuo biti, “Fgueimaraihad de ele conser veralo de posivoem ua suai’ confesa0 ater Gragasacesse regi inno, temas aes aesta foeta de Havking que aiez epi mst dessa vida: o kite que pos caer nas demas pessoas Modnowsobe eruergarisomutabem.e screveuestar com Stephen fata todososseus amigos se qustonarem: ser que estos consents do nsso peril?” (64 Scintite American Bri, Novembro 2020 Livros Uma investigacao de muito félego Escrito na forma de um ensao longo, dvi om quatro segs principals, ola se prope a _apresenar a itor as ies aus sobre 0 surgjmento ea fungso da cultura questo sendo propostasa partidos campos daprimatologa, da paleoantropoogia eda atropoogia cultural Porém. _20braentrega muito mais do qu promete. O que vemos aqui é um vast trabalho de sintese ede _atualzago dos esos boldgicos sobrea especie humana, seusugimento esua evolu, Oqueeiatamerteohemem possi quelhe permite secolocarcomoumiser’ part dos demas armas? uss 3 caractrsicas que soups edistinivs do Home sions sapiens? Come mastramosauoresa respostaaestaperguta cada vex mais incera. A prssede un cet grande, acapacdade de andarem das pemas,ouso de framemtas,atransissto de covhesiment, a producio de cbjtes atic. 0 emeramento dos marios- todas esas caracteistcast leramobservadas em ouras spices, tanto do pasado «quan do presente. Eno arbtodo significado, porém, ‘ueodtithamertchuranoparecemorarhoje Mas pou gente, excetalauns gryposcomocs pesados profssioniseasletresdeSentic “American Bras preesabrdso, Este Gumbo capazde vanslomar ese quad. Os stores compleramumadetaada aualzagio de sossasidessobreevlucso humana, resto desenvolvimento d pesquisa nas tease galeoanvopojeprintcogaolongodoctino steuoe, priplente na tis 83008 E celocame iter em conta comas perguntas que ‘stdoseazendoaquels qu vobaharra ‘angus da pesquisa nessa reas. Por exemple: hojesabemes que Horan de Neandral qu, alas. Gahaum ctebro maior oqueo nosso) era capazde fazer objets artistas, entrar seus ivertes eacsala-ecomhumanas. Nao ser mais cartetoredsenhara ror daevolxsohurana © passaracosier-o comoura subespciedo Haro _apin? Ua ora mt bein, qu contra _anigsqustes com nosis resposts. — PN. ‘Aorigem do significado ~ uma abordagem paleoantropoligica ‘Walter Alves Neves, Elane Sebeita Rapchan e Lucas Blumrich altura Didatica 148 pags Pregoa ser defnido Posso te chamar de Ty? ‘Um dos principais omeshojenadreada Aivulgaio cients, 0 astrlsico Ned deGrasso ‘ysonjalangou antes vosem quereapresenta texts pubcadoscriginalmente em outros agares Neste cas texosrepublicades so ‘complementados por matrialingdto:arigose correspondéncias que trou o longo de décadas ‘com seus muitos adiradores.O ive apresenta es facetado rabalhocorpo-acorpo que Tyson fez como inelecual pablo, que disponbiizava un enderego deers para quem qisesse contd. Sua atuacdocem delesa da inci eds racionaldadefez com que muita gente lhe escrvesse para conversar sobre autos assunts alm dos ‘conhecimentes de astronomia, Os topics abordades ras carts vio da evistnciade alnigenaslutade uma mde sla paracriar seus tr filha, encuem um jose ogadrprofssional de beisebal que secretamente sonhaemse tornarclentsta,e que cama oastrofticade "Ty “Tyson di que procurava responder as mensagens ‘que ecebia"deformaa mesoldarizarcom uma rmentecurisa”. sso transparece no tom respetoso ‘com que aborda temas como avistamentos de OVNE, relatos de experiencia paranormase crentes religiosos que buscam alguna oma decompaibiizar sa com at descabertas da cidncia. Neste sentda, ‘mutes tors podem enconirar, neste alo ropertiio de ques ionamentes,respostas para perguntas queeles mesmoscarrequer, ‘Outro aspecto interessante repasado muitas ‘vezes 6 ponte de vista do censtaprofssional sobre oque sae conhecimente cinta come doveserimerpretado, Qestionado sobre provas -Gentcas por um homem envolvid nam debate com um esto fundamentalist ele escreve: "Os denttasnunea‘provam nada (.)naciéciao que nds fazemos édemonsrar, com um nimero Respostas de um astrofisico Nell deGrasse Tyson Editora Record 10 pigs RS.49,90, sulcente de experimertos, qu evsteum consensoe ‘que abusca demas evidencias que apoiem essaieia seria um desperdicio de esforgos ou de ivestimentos fnancers, uma vez que quests mai urgemtes germanecem sem esposta”.— PN, CIENCIA EM GRAFICO Texto e Gréfico de Katie Peek Uma curta temporada de gripe A resposta 4 COVID~19 impediu o surto de influenza no Hemisfério Sul {OMS mbna aatvdadeds \, Em margo, quando o coronavirus comegou a se expandir pelo globo, o mimero de easos de influenza ailuszaent@zonasde | despencou, No Hemisfero Sul, a temporada de gripe estaria no comeco, mas os nimeros de ocorrencias [ wonsmissteTsparecemneste | foi quase nulo.“Nunea, em meus 40 anos de carrera, vi taxas.. to baixas’ diz Greg Poland, especialisa sysco Soran consiteies Fem influenza. Varios estudiosos disseram a Scientific Ameriean que as medias de prevengio — lava as esoatendspyadnes 7 njos, usar mascara emanter dstanchamento— atom também conta a trnsmiso da gripe. Seas med urlcecades das / das persistiem, muitos pafses podem registrar a maior redugdo de casos de influenza na historia moderna. ‘peadoecem ‘Mas médicos ainda recomendama vacina contra a gripe porque nem todos seguem as medidas de contencio —dovirus porque a COVID-19 poderia, talvez, ser mais danosa em pessoas que eontraem gripe —— (3 ae 2 8 % so00 tematudestemperaas No g Hemistério Sul, a temporada (os. 150-| Dae nod rinse veldemiosoutb. NoSa (ars de COW. reg: 16 de mag de Anaia dS, opi oP! 8 s00-| me arentn carreem 2017 nad Ln izom0 — Amiicadosd ff J (dlimatemperade) 4g taeningch,” 3 Prine mare por COVID9 radar: mara Argena a Causaraiz queda decasoe podria serena grata plomedo \\ {f daspesoasde siren de casa para seremtestadas? No, Segundo’ OMS, | s60,Pdaspessoastestadasparaa "| ‘ripen HemisriSul vera f ‘esuad posto ness inser, contra um prcenualontre 5% 10%, a g Data deinco do prio lckdown {de COVID~19 na regio: 70 demargo i Oceania (usd i, Nova Caledonia, Nova Zend Papua Nova Guin) [Nimeode tes posts de nferzaporsana # 8 Primera more por COVID-19 reatada na reid: 1 de argo, na Ausa 2020 2018 ‘Data de ino do primero lockdown de (COMID- 19a regio: 2 de maro, Cana para 2019 2n000 ‘temporada degripenosEUA, que 2o1r ‘aide ovembroa abi teinouem 2014 maga de 2020, gras aos lckdowns 620 {usodemscarasSetaisprtcaspressepuirem, ‘oHemistro Norte também poders registrar \toasbsias devez Duarte tempor \ de 2018-2019, considrada normal acripe AO natu 34 mipesoas nos ELA, See ee et ‘Américado Norte (Bermudes, Canad UA) Nimrod tees pois dena por semana Primeia more pr COVID-9 relatadara rept: 28 de fever, EUA (Estado de Washington) 66 Scientie American Brasil, Nova 2020 Palavras tem o poder de transformar Instituto Palavra Aberta ha 10 anos celebrando liberdade de expressado. ABERTA Teno) palavraaberta.org.br + contato: (11) 3034-5295 Sociedade Brasileira para 0 Progresso da Ciéncia 72° REUNIAO ANUAL DA CIENCIA, EDUCAGAO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL PARA O SECULO Xx! PARTICIPE ONLINE: GB youtube.com/canalsbpc CONFIRA A PROGRAMACAO: https://ra.sbpcnet.org.br/72RA. REALIZAGAO APOIO

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