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BOTUCATU - SP
Junho – 2012
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE MEDICINA VETERINARIA E ZOOTECNIA
CAMPUS DE BOTUCATU
BOTUCATU - SP
Junho – 2012
iv
Ao meu querido avô Antônio que, apenas no fim de sua vida pude,
realmente, conhecer.
DEDICO.
v
Aos meus preciosos pais Rosmary e Luiz Carlos por serem meu porto
seguro;
À minha querida irmã Carla e meu cunhado João pela amizade e força;
Aos meus queridos avós Elizabete, Pedro, Ana e Antônio (in memorian)
pela sabedoria;
AGRADEÇO.
vi
SUMÁRIO
Página
CAPÍTULO I ............................................................................................................. 1
CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................... 2
Lisina na nutrição de suínos ............................................................................... 2
Relação entre lisina e energia na nutrição de suínos .......................................... 5
Relação entre a nutrição e o potencial genético .................................................. 5
Efeito de sexo na nutrição de suínos ................................................................... 7
Efeito de estresse imunológico na nutrição de suínos ........................................ 8
Qualidade de carcaça e de carne de suínos ......................................................... 12
Referências .............................................................................................................. 14
CAPÍTULO II ............................................................................................................ 21
Relação entre lisina digestível e energia metabolizável em dietas de suínos dos
50 aos 70 kg ............................................................................................................. 22
Resumo ............................................................................................................... 22
Introdução ........................................................................................................... 23
Material e Métodos ............................................................................................. 23
Resultados ........................................................................................................... 28
Discussão ............................................................................................................ 36
Conclusão ........................................................................................................... 39
Referências ......................................................................................................... 39
CAPÍTULO III ........................................................................................................... 42
Relação entre lisina digestível e energia metabolizável em dietas de suínos dos
70 aos 100 kg ........................................................................................................... 43
Resumo ............................................................................................................... 43
Introdução ........................................................................................................... 44
Material e Métodos ............................................................................................. 45
Resultados ........................................................................................................... 49
Discussão ............................................................................................................ 58
Conclusão ........................................................................................................... 62
Referências ......................................................................................................... 62
CAPÍTULO IV .......................................................................................................... 66
IMPLICAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 67
vii
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO II Página
Tabela 1. Composição calculada das dietas experimentais para suínos dos 50
aos 70 kg de peso corporal .................................................................................... 25
Tabela 2. Desempenho de fêmeas suínas segundo os níveis nutricionais de
lisina digestível (g/kg) ........................................................................................... 29
Tabela 3. Espessura de toucinho e área de olho de lombo colhidas por meio de
ultrasson em fêmeas com peso médio de 72,82 kg ............................................... 30
Tabela 4. Leucograma de fêmeas suínas (em valores absolutos por microlitros
±desvio padrão) ao final do experimento (123 dias de idade) segundo os níveis
nutricionais de lisina digestível (g/kg) .................................................................. 31
Tabela 5. Desempenho de suínos machos castrados segundo os níveis
nutricionais de lisina digestível (g/kg) .................................................................. 32
Tabela 6. Espessura de toucinho e área de olho de lombo colhidas por meio de
ultrasson em machos castrados com peso médio de 75,16 kg .............................. 33
Tabela 7. Leucograma de suínos machos castrados (em valores absolutos por
microlitros±desvio padrão) ao final do experimento (123 dias de idade)
segundo os níveis nutricionais de lisina digestível (g/kg) ..................................... 34
Tabela 8. Digestibilidade aparente, nitrogênio absorvido, nitrogênio retido,
energia digestível e energia metabolizável determinados em suínos machos
castrados e fêmeas, com peso médio de 53,50 kg, segundo os níveis
nutricionais de lisina digestível (g/kg) .................................................................. 35
CAPÍTULO III
Tabela 1. Composição calculada das dietas experimentais para suínos dos 70
aos 100 kg de peso corporal .................................................................................. 46
Tabela 2. Desempenho de fêmeas suínas segundo os níveis nutricionais de
lisina digestível (g/kg) ........................................................................................... 50
Tabela 3. Ultrassonografia e características de carcaça de fêmeas suínas,
abatidas com peso médio de 103 kg, segundo os níveis nutricionais de lisina
digestível (g/kg) .................................................................................................... 51
Tabela 4. Leucograma de fêmeas suínas (em valores absolutos por microlitros
±desvio padrão) ao final do experimento (148 dias de idade) segundo os níveis
nutricionais de lisina digestível (g/kg) .................................................................. 53
Tabela 5. Desempenho de suínos machos castrados segundo os níveis
nutricionais de lisina digestível (g/kg) .................................................................. 54
Tabela 6. Ultrassonografia e características de carcaça de machos castrados,
abatidos com peso médio de 107 kg, segundo os níveis nutricionais de lisina
digestível (g/kg) .................................................................................................... 55
Tabela 7. Leucograma de suínos machos castrados (em valores absolutos por
microlitros±desvio padrão) ao final do experimento (148 dias de idade)
segundo os níveis nutricionais de lisina digestível (g/kg) ..................................... 57
Tabela 8. Digestibilidade aparente, nitrogênio absorvido, nitrogênio retido,
energia digestível e energia metabolizável determinados em suínos machos
castrados e fêmeas, com peso médio de 83,16 kg, segundo os níveis
nutricionais de lisina digestível (g/kg) .................................................................. 58
1
CAPÍTULO I
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
2
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
sintetizar proteínas para este fim e a taxa de crescimento muscular depende da relação
entre o anabolismo e o catabolismo proteico (GONZALEZ; SILVA, 2006).
O NRC (1998) propôs o nível de 0,89%, para suínos na fase de crescimento,
enquanto Rostagno et al. (2005) propuseram para machos castrados e fêmeas dos 50 aos
70 kg de peso, 0,95% e 1,04% de lisina digestível, respectivamente; para machos
castrados e fêmeas dos 70 aos 100 kg de peso, 0,81% e 0,86% de lisina digestível,
respectivamente. Já a tabela mais atual de exigências nutricionais para suínos, Rostagno
et al. (2011), recomendaram 0,88% e 0,94% de lisina digestível para machos castrados e
fêmeas dos 50 aos 70 kg de peso, respectivamente; para machos castrados e fêmeas dos
70 aos 100 kg de peso as recomendações foram de 0,83% e 0,82% de lisina digestível,
respectivamente.
Nas atuais revisões de exigências nutricionais dos suínos, devem ser
consideradas todas as condições impostas pelo melhoramento genético e pelo ambiente.
Na contínua revisão nutricional, estudos apontam para alguns níveis de nutrientes
superiores aos propostos nas principais tabelas, com pequenas diferenças nas relações
de alguns aminoácidos com a lisina. Pode-se citar como exemplo os trabalhos de
Oliveira et al. (2006) e Zangeronimo et al. (2009) que encontraram os níveis de 1,02% e
1,10% de lisina digestível, respectivamente, como recomendação para melhor
desempenho de machos castrados na fase de crescimento; bem como os de Fontes et al.
(2000 e 2005), que recomendaram os níveis de 1,00% e 0,93% de lisina digestível para
melhor desempenho de fêmeas suínas na fase de crescimento.
A capacidade de deposição proteica ou acúmulo de tecido magro dos suínos em
crescimento depende do atendimento das exigências de aminoácidos, especialmente de
lisina. Outra imprescindível consideração quanto à deposição de massa muscular é o
correspondente aporte da energia dietética (URYNEK; BURACZEWSKA, 2003).
Mudanças na concentração dietética de lisina devem ser acompanhadas por
alterações nas proporções dos demais aminoácidos essenciais, pois o balanço ideal com
a lisina evita possíveis variações nas respostas dos animais. Fontes et al. (2000, 2005),
em dois ensaios em que avaliaram as exigências nutricionais de lisina de leitoas dos 30
aos 60 kg, demonstraram a importância do ajuste dos demais aminoácidos essenciais,
conforme a concentração de lisina da dieta. Segundo Firman e Boling (1998), se a
exigência de lisina variar em função do genótipo ou peso vivo, o padrão dos demais
4
kg de peso vivo) foi 0,75%; ou seja, 25% maior para o grupo melhorado, comparado ao
grupo genético considerado comum. Moreira et al. (2004) em estudo semelhante,
também estudaram dois grupos genéticos e sugeriram 0,75% de lisina total para ambos
os grupos, durante a fase de crescimento.
De acordo com Susenbeth (1995), há necessidade de novas pesquisas que
considerem o material genético nos estudos de exigências nutricionais, devido ao
contínuo progresso da seleção genética. No mesmo sentido, Van Lunen e Cole (1998)
indicaram a necessidade periódica da revisão dos níveis de exigências, com ênfase na
curva de crescimento e na interdependência das curvas de deposição de proteína e de
gordura corporal para suínos a partir da fase inicial até os 150 kg de peso vivo.
Ainda segundo estes autores, por mais de três décadas cientistas têm investigado o uso
de várias estratégias nutricionais, nas mais diversas formas de criação dos animais de
produção. Em adição, a forma e a concentração de vitaminas, minerais, lipídeos,
proteínas e aminoácidos suplementados nas dietas destes animais tem sido
extensivamente avaliadas como potenciais impactantes no sistema imune.
Jianwen et al. (2007) em revisão, concluíram que os suínos criados em
condições comerciais são capazes de atingir 70% ou menos do seu potencial genético
para eficiência e crescimento, o que se deve, principalmente, à constante estimulação
imunológica que estes animais sofrem devido o desafio sanitário e estresse. Ainda, estes
pesquisadores ao compararem o padrão da relação de aminoácido ideal entre um grupo
controle (suínos criados separadamente do sistema de produção) e outro que sofreu
estresse imunológico, concluíram que havia diferença na relação dos demais
aminoácidos com a lisina. Neste caso, para os aminoácidos lisina, metionina, treonina e
triptofano digestíveis, a relação foi 100:27:29:59 nos animais estressados
imunologicamente e 100:30:21:61 no grupo controle. Wu (2009) afirmou que a treonina
está envolvida na síntese de mucina, necessária para manutenção da função e
integridade intestinal; função imune; fosforilação e glicosilação proteica; síntese de
glicina. Portanto, isso explica porque os animais submetidos a estresse imunológico
necessitam de maior proporção de treonina.
Pesquisas recentes têm demonstrado que adipócitos e fibras musculares
também participam da imunidade inata. Tal evidência foi observada inicialmente em
drosófilas, nas quais a gordura presente no corpo protege contra a invasão de bactérias e
fungos (LECLERC; REICHHART, 2004). Nestas células, os receptores Toll são
responsáveis pelo reconhecimento dos patógenos e pela iniciação da resposta secretora.
Homólogos mamíferos dos receptores Toll, conhecidos como “Toll like receptors”,
também são fundamentais para o reconhecimento de patógenos e início da resposta
imune inata (ROCK et al., 1998). O papel de tais células não é apenas moduladora, mas
também reguladora do sistema imune. Por isso, a caracterização das proteínas de dupla
aptidão presentes nestas células deve ser feita para melhorar a capacidade de apoiar o
crescimento e a eficiência da produção de carne pelo animal (GABLER; SPURLOCK,
2008).
Com base nos fundamentos apresentados quanto à ativação do sistema imune e
12
nos estudos de vários autores citados (KLASING et al., 1987; WILLIAMS et al.,
1997a,b,c; NOGUEIRA et al., 2001; LE FLOC´H et al., 2004; CARROLL;
FORSBERG, 2007; JIANWEN et al. 2007; SALAK-JOHNSON; MCGLONE, 2007;
GABLER; SPURLOCK, 2008; TRINDADE NETO et al., 2008), as condições
higiênicas do ambiente de criação podem influenciar o estado imunológico do suíno,
interferindo na deposição proteica durante o crescimento.
Referências
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CAPÍTULO II
Resumo: Objetivou-se estimar o melhor nível de lisina digestível e sua relação com a
energia metabolizável em dietas de suínos dos 50 aos 70 kg de peso vivo. Para tanto,
foram realizados dois ensaios de desempenho, um com 72 machos castrados e outro
com 72 fêmeas, com pesos médios iniciais de 49,75±0,41 kg e de 46,05±0,38 kg,
respectivamente. O delineamento experimental usado nestes experimentos foi em
blocos ao acaso com seis tratamentos, seis repetições e dois animais por unidade
experimental (baia). No final dos experimentos mediu-se área de olho de lombo e
espessura de toucinho na 10ª costela, por meio de ultrassonografia, em todos os animais.
Também colheu-se sangue para leucograma de quatro animais dentro de cada
tratamento, de forma aleatória, totalizando 24 machos castrados e 24 fêmeas,
considerando delineamento inteiramente ao acaso, com quatro repetições por sexo e o
animal era a unidade experimental. Os tratamentos foram 7,00; 8,00; 9,00; 10,00; 11,00
e 12,00 g de lisina digestível/kg de ração que continham 14,25 MJ de energia
metabolizável/kg de ração e, em média, 160,92 g de proteína bruta/kg de ração.
Realizou-se também um ensaio de digestibilidade e metabolismo, com 12 machos
castrados e 12 fêmeas, em que foram avaliadas quatro dietas (7,00; 9,00; 10,00 e 12,00
g de lisina digestível/kg de ração), com três repetições e um animal por unidade
experimental (gaiola). No ensaio de desempenho das fêmeas observou-se aumento
linear na conversão alimentar, no consumo de proteína bruta (g/dia) e na eficiência de
proteína bruta no período experimental de 0 a 16 dias. No período experimental de 0 a
32 dias observou-se aumento linear no consumo de proteína bruta (g/dia) e na eficiência
de proteína bruta, bem como efeito quadrático no ganho de peso relativo (%) e na
conversão alimentar. O ultrasson das fêmeas revelou aumento linear na espessura de
toucinho e resposta quadrática na área de olho de lombo. O leucograma das fêmeas não
demonstrou qualquer efeito dos níveis de lisina digestível. Apesar de haver aumento
linear na eficiência bruta nos machos castrados no período experimental de 0 a 16 dias e
efeito quadrático no consumo de proteína bruta no período experimental de 0 a 32 dias,
o menor nível estudado (7,00 g de lisina digestível/kg de ração) foi o indicado para estes
animais. Assim como nas fêmeas, não houve efeito dos níveis de lisina digestível nos
dados de ultrassonografia para os machos castrados e o leucograma apresentou efeito
quadrático dos níveis de lisina digestível no número de monócitos, com menor número
dessas células no nível de 9,83 g de lisina digestível/kg de ração. No ensaio de
digestibilidade e metabolismo não foi observada interação entre sexo e níveis de lisina
digestível, mas houve efeito de sexo para nitrogênio retido (g), sendo que as fêmeas
retiveram mais nitrogênio que os machos castrados. Neste ensaio também observou-se
efeito linear no nitrogênio absorvido (g), no nitrogênio retido (g) e efeito quadrático
sobre as energias digestível e metabolizável, com melhor nível médio em 10,17 g de
lisina digestível/kg de ração. Portanto, conclui-se que para suínos fêmeas e machos
castrados, dos 50 aos 70 kg de peso recomenda-se 10,14 e 7,00 g de lisina digestível/kg
de ração ou 0,71 e 0,49 g de lisina digestível/MJ de energia metabolizável,
respectivamente, segundo variáveis de desempenho.
Palavras-chave: fêmea suína, genótipo específico, lisina, macho castrado,
ultrassonografia
23
Introdução
Nos últimos anos houveram melhora significativa na qualidade de carcaça dos
suínos, em função da necessidade de satisfazer as exigências do mercado consumidor,
que busca carne com menor teor de gordura. Desse modo, devem-se considerar as
condições que impõem variações nas exigências nutricionais de suínos, tais como o
potencial genético para produção de carne, a idade e o sexo.
Os níveis de aminoácidos presentes na maioria das dietas seguem as
recomendações de tabelas de exigências, cujos experimentos foram baseados em dietas
com elevados níveis de proteína bruta (National Research Council, 1998; Rostagno et
al., 2011), de forma que a exigência de lisina pode estar superestimada. Além disso, a
lisina é um aminoácido limitante em dietas a base de milho e farelo de soja para suínos
e, na determinação de sua exigência para o máximo crescimento deste animal, deve-se
considerar todas as condições que influenciam o potencial genético para produção de
carne (Zangeronimo et al., 2009; Fix et al., 2010).
Outra importante consideração acerca da deposição proteica, determinante da
eficiência de utilização dos nutrientes dietéticos no processo de anabolismo proteico e
crescimento do suíno, é o correspondente aporte da energia dietética. A energia ingerida
deve suprir as verdadeiras demandas de manutenção e acúmulo de massa corpórea,
portanto, a exigência energética varia em função do nível proteico (aminoácidos) da
dieta (Urynek & Buraczewska, 2003; Trindade Neto et al., 2008).
Os adipócitos e as células musculares esqueléticas participam do sistema imune
como sinalizadores de antígenos, por meio dos receptores “Toll-like” e, de forma
integrada, regulam o crescimento dos mamíferos (Gabler & Spurlock, 2008). Em meio a
este complexo sistema de crescimento e integridade imune, o desafio sanitário e o
estresse podem alterar a resposta imune e as exigências nutricionais dos suínos
(Williams et al., 1997 a,b,c; Salak-Johnson & McGlone, 2007).
O objetivo foi estimar o melhor nível de lisina digestível e sua relação com a
energia metabolizável para suínos dos 50 aos 70 kg, baseando-se nas variáveis de
desempenho, carcaça, digestibilidade aparente de proteína e leucograma.
Material e Métodos
Foram realizados dois ensaios de desempenho ocorridos simultaneamente, um
com machos castrados e outro com fêmeas, no Laboratório de Avaliação de Suínos da
APTA-SAA-SP, Piracicaba/SP. Para tanto, em um experimento usou-se 72 fêmeas com
24
Tabela 1. Composição calculada das dietas experimentais para suínos dos 50 aos 70 kg
de peso corporal
Lisina digestível (g/kg)
Ingredientes (g/kg)
7,00 8,00 9,00 10,00 11,00 12,00
Milho moído 765,00 759,90 747,70 748,30 746,00 747,20
Farelo de soja 200,10 204,20 215,00 212,50 213,00 209,90
Sal comum 4,00 4,00 4,00 4,00 4,00 4,00
Calcário 6,40 6,40 6,40 6,40 6,40 6,40
Fosfato bicálcico 10,65 10,62 10,51 10,54 10,54 10,58
Óleo de soja 9,43 9,15 8,72 7,75 6,88 5,92
Premix vitamínico e mineral1 4,50 4,50 4,50 4,50 4,50 4,50
L-Lisina HCl (99% de pureza) - 1,13 2,04 3,38 4,61 5,91
L-Treonina (98,5% de pureza) - 0,12 0,64 1,33 1,98 2,66
DL-Metionina (99% de pureza) - - 0,52 1,16 1,78 2,39
L-Triptofano (98% de pureza) - - - 0,19 0,37 0,56
Total (g) 1000 1000 1000 1000 1000 1000
Valores nutricionais
Energia metabolizável (MJ/kg) 14,25 14,25 14,25 14,25 14,25 14,25
Relação lisina digestível (g/kg) :
0,49 0,56 0,63 0,70 0,77 0,84
energia metabolizável (MJ/kg)
Proteína bruta (g/kg) 153,00 155,60 161,30 163,00 165,60 167,00
Cálcio (g/kg) 5,70 5,70 5,70 5,70 5,70 5,70
Fósforo disponível (g/kg) 2,90 2,90 2,90 2,90 2,90 2,90
Sódio (g/kg) 1,83 1,83 1,83 1,83 1,83 1,83
Metionina+Cistina digestível (g/kg) 4,77 4,80 5,40 6,00 6,60 7,17
Treonina digestível (g/kg) 5,03 5,20 5,85 6,50 7,15 7,70
Triptofano digestível (g/kg) 1,54 1,56 1,65 1,80 1,98 2,15
Valina digestível (g/kg) 6,47 6,54 6,70 6,66 6,66 6,60
Leucina digestível (g/kg) 14,86 14,96 15,23 15,15 15,14 15,04
Isoleucina digestível (g/kg) 6,41 6,49 6,68 6,63 6,64 6,57
Histidina digestível (g/kg) 4,28 4,32 4,43 4,44 4,40 4,36
Fenilalanina digestível (g/kg) 7,69 7,76 7,97 7,91 7,92 7,85
1
Composição por kg de ração: 11,250 mg Fe; 22,500 mg Cu; 5,400 mg Mn; 0,530 mg Zn; 0,030 mg Co;
0,180 mg I; 0,027 mg Se; 2700000 UI Vit. A; 840000 UI Vit. D3; 4200 mg Vit. E; 960 mg Vit. K; 480 mg
Tiamina B1; 2160 mg Riboflavina B2; 900 mg Piridoxina B6; 14400 µg Vit. B12; 9600 mg Niacina B3; 4800
mg Ac. Pantotênico; 420 mg de Ac. Fólico; 45 mg Biotina.
animal recebeu a mesma quantidade diária de dieta, na base da matéria seca, por
unidade de peso metabólico (peso vivo kg0,75) e as demais medidas de manejo, coleta de
fezes e urina ocorreram segundo metodologia descrita por Barbosa et al. (1999). No
caso das fêmeas, foi utilizada peneira para que as fezes ficassem retidas e a urina foi
coletada em recipiente apropriado, sem utilização de sonda. Neste ensaio foram medidas
as seguintes variáveis: matéria seca digestível (g/kg), proteína digestível (g/kg),
nitrogênio absorvido (g/kg) (nitrogênio ingerido, descontado do nitrogênio excretado
nas fezes), nitrogênio retido (g/kg) (proteína bruta ingerida, descontada de proteína
bruta excretada nas fezes e na urina), energia digestível (MJ/kg) e energia metabolizável
(MJ/kg).
Os experimentos estão de acordo com os Princípios Éticos na Experimentação
Animal, aprovados pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Faculdade
de Medicina Veterinária e Zootecnia, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho”, Campus de Botucatu, sob o protocolo nº 144/2009 de 29/07/2009.
As variáveis de desempenho, carcaça (ultrasson) e leucograma foram
submetidas à análise de regressão por polinômios ortogonais considerando os níveis de
lisina digestível, por meio do PROC MIXED do SAS (Version 9.1.3, SAS Institute,
Cary, NC 2004), conforme modelo: Yij= µ + Ai + Bj + eij, sendo:
Yij : constante associada a todas observações;
µ : média geral da variável;
Resultados
Durante a realização dos ensaios de desempenho foram verificados valores
médios de temperatura máxima e mínima de 25,17±2.08ºC e 20,08±2,97ºC de manhã e
de 25,58±1,93ºC e 21,42±1,62ºC à tarde.
Os resultados de desempenho das fêmeas estão apresentados na tabela 2. Não
se observou efeito dos níveis de lisina digestível no peso (kg), no ganho de peso (g/dia),
no consumo de ração (g/dia) para nenhum dos períodos estudados e no ganho de peso
relativo (%) no período de 0 a 16 dias de experimento. Observou-se melhora linear
(P<0,05) na conversão alimentar (Y=3,495–0,098X, R2=0,70 para 0 a 16 dias), redução
linear (P<0,05) no consumo de proteína bruta (g/dia) (Y=417,590–9,561X, R2=0,68
para 0 a 16 dias e Y=414,820–8,332X, R2=0,67 para 0 a 32 dias) e aumento linear na
eficiência de proteína bruta (Y=1,350+0,135X, R2=0,57 para 0 a 16 dias e
Y=1,784+0,088X, R2=0,70 para 0 a 32 dias).
Verificou-se efeito quadrático (P<0,05) do nível dietético de lisina no ganho de
peso relativo (%) (Y=-1,980+12,056X–0,601X2, R2=0,56 para 0 a 32 dias) e na
conversão alimentar (Y=6,200–0,738X+0,036X2, R2=0,60 para 0 a 32 dias). Ao
considerar as respostas quadráticas dos tratamentos no ganho de peso relativo e na
conversão alimentar, a concentração de 10,14 g de lisina digestível por kg de ração foi
obtida como ótima para o crescimento das marrãs, dos 46 aos 73 kg.
Na tabela 3 estão apresentadas as medidas de espessura de toucinho e área de
olho de lombo, feitas por meio de ultrasson em fêmeas suínas aos 72 kg. Os resultados
demonstraram aumento linear (P<0,05) dos níveis de lisina digestível na espessura de
toucinho (mm) (Y=8,741+0,296X, R2=0,50) e efeito quadrático (P<0,05) na área de
olho de lombo (cm2) (Y=8,881+9,208X-0,467X2, R2=0,42), o que sugeriu 9,86 g de
lisina digestível por kg de ração, para máxima área de olho de lombo.
A análise de regressão do leucograma, apresentada na tabela 4, não demonstrou
efeito (P>0,05) dos níveis de lisina nos números de leucócitos, neutrófilos, linfócitos,
eosinófilos, monócitos e relação entre neutrófilos e linfócitos; com pequenas variações
em relação aos valores de referência de Jain & Schalm´s (1986).
29
Tabela 3. Espessura de toucinho e área de olho de lombo colhidas por meio de ultrasson
em fêmeas com peso médio de 72,82 kg.
Variável Lisina Digestível (g/kg) EPM Valor de P
7,00 8,00 9,00 10,00 11,00 12,00 Linear Quadrático
Espessura de
10,90 10,93 10,98 13,11 10,73 12,66 0,27 0,020 0,386
toucinho (mm)
Área de olho de
50,32 52,87 53,53 55,99 51,61 52,97 0,60 0,593 0,030
lombo (cm2)
Tabela 4. Leucograma de fêmeas suínas (em valores absolutos por microlitros±desvio padrão) ao final do experimento (123 dias de
idade) segundo os níveis nutricionais de lisina digestível (g/kg).
Variáveis
Lisina Digestível (g/kg) Leucócitos Neutrófilos Linfócitos Eosinófilos Monócitos Neutrófilos/Linfócitos
7,00 14975±3791 2185±1384 11862±3457 509±262 381±303 0,19± 0,11
8,00 24000±8044 4483±1839 17526±6133 1020±907 819±545 0,27±0,24
9,00 18450±1461 3713±668 12893±1553 1184±1103 658±286 0,29±0,07
10,00 17475±2905 3929±724 12191±2361 521±421 695±572 0,33±0,07
11,00 23575±9123 5770±2523 15756±7078 909±417 1001±302 0,38± 0,14
12,00 19625±4697 4161±1595 14434±4388 364±224 540±191 0,30± 0,15
Valores de referência* 11000 - 22000 3080 - 10340 4300 - 13640 0 – 2400 200 - 2200 -
Linear 0,390 0,088 0,726 0,532 0,414 0,145
Valor de P Lisina
Quadrático 0,493 0,299 0,920 0,156 0,162 0,317
*
Jain & Schalm´s (1986)
32
Tabela 6. Espessura de toucinho e área de olho de lombo colhidas por meio de ultrasson
em machos castrados com peso médio de 75,16 kg.
Variável Lisina Digestível (g/kg) EPM Valor de P
7,00 8,00 9,00 10,00 11,00 12,00 Linear Quadrático
Espessura de
12,81 12,28 14,16 13,96 12,80 13,35 0,34 0,465 0,263
toucinho (mm)
Área de olho de
53,53 52,01 56,20 54,30 54,06 55,91 0,60 0,313 0,961
lombo (cm2)
Tabela 7. Leucograma de suínos machos castrados (em valores absolutos por microlitros±desvio padrão) ao final do experimento (123
dias de idade) segundo os níveis nutricionais de lisina digestível (g/kg).
Variáveis
Lisina Digestível (g/kg) Leucócitos Neutrófilos Linfócitos Eosinófilos Monócitos Neutrófilos/Linfócitos
7,00 19875±3320 4474±1207 13947±2602 279±232 1031±331 0,32± 0,03
8,00 198250±5375 4546±1839 13896±3624 632±461 689±657 0,34±0,15
9,00 18225±3899 4219±2799 12849±1530 342±181 674±349 0,31±0,21
10,00 15875±2625 3092±1533 11950±1906 365±251 467±116 0,26±0,13
11,00 18475±1951 5198±1164 11995±1411 613±283 516±290 0,44±0,13
12,00 18550±2257 5560±2038 11619±2141 321±090 869±265 0,50±0,26
Valores de referência* 11000 - 22000 3080 - 10340 4300 - 13640 0 – 2400 200 - 2200 -
Linear 0,377 0,429 0,077 0,882 0,338 0,118
Valor de P Lisina
Quadrático 0,283 0,203 0,799 0,404 0,042 0,215
*
Jain & Schalm´s (1986)
35
Não houve interação (P>0,05) entre sexo e níveis de lisina para nenhuma das
variáveis estudadas. Houve efeito de sexo (P<0,05) para nitrogênio retido, sendo que as
fêmeas retiveram mais nitrogênio (g) que os machos castrados. Observou-se aumento
linear (P<0,05) no nitrogênio absorvido (g) (Y=13,781+0,445X, R2=0,18) e no
nitrogênio retido (g) (Y=-1,956+1,300X, R2= 0,45) e efeito quadrático (P<0,05) sobre a
energia digestível (MJ/kg) (Y=4,872+2,186X–0,108X2, R2=0,61) e sobre a energia
metabolizável (MJ/kg) (Y=4,396+2,149X–0,105X2, R2=0,63), conforme aumentou-se o
nível de lisina digestível.
36
Discussão
A melhora linear (P<0,05) na conversão alimentar e na eficiência de proteína
bruta observados no período de 0 a 16 dias de experimento das fêmeas, e a redução no
consumo de proteína bruta (g/dia) tanto para o período de 0 a 16 dias quanto para o de 0
a 32 dias, concordaram com os resultados obtidos por Main et al. (2008) e Fix et al.
(2010).
Main et al. (2008) aumentaram os níveis de lisina, em relação a um nível de
energia metabolizável, adicionando apenas o aminoácido sintético DL-metionina e
mantendo as proporções dos demais aminoácidos em relação à lisina. Estes
pesquisadores indicaram 10,10 g de lisina total por kg de ração ou 0,67 g de lisina/MJ
de energia metabolizável para o máximo crescimento e eficiência alimentar. Este nível
está bem próximo do encontrado no presente estudo, que foi de 10,14 g de lisina
digestível por kg de ração e 0,71 g de lisina digestível por MJ de energia metabolizável.
Porém, estes níveis estão acima dos indicados por Rostagno et al. (2011), que é de 9,45
g de lisina digestível por kg de ração e, em termos de relação com a energia
metabolizável, está abaixo - 0,77 g de lisina digestível por MJ de energia metabolizável,
o que prova que o melhor nível de lisina digestível varia de acordo com o nível
energético da dieta. Além disso, Fix et al. (2010) demonstraram que um moderno
programa de alimentação para suínos usando-se, entre outros artifícios, a suplementação
com aminoácidos sintéticos, resulta em animal com melhor desempenho e melhor
carcaça e que isto independe da linhagem utilizada.
A espessura de toucinho (mm) das fêmeas suínas aumentou linearmente,
conforme se aumentou a concentração de lisina digestível (g/kg) nas dietas, e houve
efeito quadrático na área de olho de lombo (cm2), com máxima área nas marrãs que
consumiram 9,86 g de lisina digestível por kg de ração. A proporção entre a espessura
de toucinho (mm) e a área de olho de lombo (cm2) permaneceu constante, em torno de
0,21 até o nível de 9,86 g de lisina digestível por kg de ração, oscilando a proporção a
partir deste ponto. De la Lata et al. (2002) também observaram aumento linear na
espessura de toucinho com o aumento dos níveis de lisina digestível, mas não
37
observaram efeito na área de olho de lombo. Main et al. (2008) observaram redução
linear da área de olho de lombo ao aumentar os níveis dietéticos de lisina total de 7,1 g
para 12,2 g por kg de ração. Schinckel et al. (2002) afirmaram que a avaliação de
espessura de toucinho e área de olho de lombo, colhidos por meio de ultrasson, em
termos de comparação média, é um método que pode ser utilizado, apesar de não
apresentar mesmos valores aos colhidos pós abate, diretamente na carcaça. Como a
proporção de carne magra e de gordura na carcaça varia, principalmente, conforme o
ajuste nutricional das dietas e genética, possivelmente as alterações observadas tenham
variado devido diferenças entre o material genético estudado (Rosenvold & Andersen,
2003).
A imunidade inata, sempre presente em algum grau, pode ser reforçada ou
enfraquecida por diversos fatores tais como: ferimentos, desidratação, estado
nutricional, genética e estresse (Carroll & Forsberg, 2007). Os mesmos autores
afirmaram que quando o sistema imune inato está em bom funcionamento, a maioria
dos organismos patogênicos encontrados no animal não causam doenças, já que estes
encontram barreiras físicas, tais como pele, mucosa do trato digestório, ácido estomacal
e células não específicas, como os leucócitos, que detectam imediatamente estes agentes
e os eliminam.
Sabe-se também, que a lisina está diretamente envolvida em algumas funções
de defesa da integridade física do animal, como na regulação da síntese do óxido nítrico,
na atividade antiviral (no tratamento da Herpes simples), na metilação de proteína
(como por exemplo trimetil-lisina em calmodulina), entre outros e, de forma indireta, na
estrutura da molécula hidroxi-lisina e na função do colágeno (Wu, 2009).
Portanto, como não houve manifestação de qualquer doença ou, ainda,
diferença estatística no leucograma das fêmeas suínas em função dos tratamentos,
possivelmente os animais puderam manifestar seu potencial genético para o
crescimento, mesmo com algumas variáveis do leucograma apresentando valores acima
ou abaixo dos de referência, postulados por Jain & Schalm´s (1986).
Os únicos efeitos significativos dos níveis nutricionais de lisina digestível
estudados em machos castrados foram quanto à eficiência de proteína bruta, que
aumentou linearmente e quanto ao consumo diário de proteína bruta, que apresentou
efeito quadrático, tendo o ponto de máximo no nível 9,10 g de lisina digestível por kg
38
Conclusão
Para suínos fêmeas e machos castrados dos 50 aos 70 kg de peso vivo,
recomenda-se 10,14 e 7,00 g de lisina digestível por kg de ração ou 0,71 e 0,49 g de
lisina digestível por MJ de energia metabolizável, respectivamente, segundo variáveis
de desempenho.
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42
CAPÍTULO III
Resumo: Objetivou-se estimar o melhor nível de lisina digestível e sua relação com a
energia metabolizável em dietas de suínos dos 70 aos 100 kg de peso vivo. Para tanto,
foram realizados dois ensaios de desempenho, um com 72 machos castrados e outro
com 72 fêmeas, com pesos médios iniciais de 76,86±0,90 kg e de 76,92±0,96 kg,
respectivamente; o delineamento experimental usado foi em blocos ao acaso com seis
tratamentos, seis repetições e dois animais por unidade experimental (baia). No final
dos experimentos mediu-se área de olho de lombo e espessura de toucinho na 10ª
costela, por meio de ultrassonografia, em todos os animais. Também colheu-se sangue
para leucograma de quatro animais dentro de cada tratamento, totalizando 24 machos
castrados e 24 fêmas, sendo considerado o delineamento inteiramente ao acaso, com
quatro repetições por sexo e o animal era a unidade experimental. Após jejum de 12
horas, foram escolhidos, de forma aleatória, 24 machos castrados e 24 fêmeas (quatro
por tratamento), que foram enviados para abate em matadouro comercial para as
avaliações de carcaça e desossa. Os tratamentos foram 7,00; 8,00; 9,00; 10,00; 11,00 e
12,00 g de lisina digestível por kg de ração que continham 14,25 MJ de EM por kg de
ração e, em média, 155,20 g de proteína bruta por kg de ração. No ensaio de
digestibilidade e metabolismo foram usados 12 machos castrados e 12 fêmeas, com
avaliação de quatro dietas (7,00; 8,00; 11,00 e 12,00 g de lisina digestível/kg), com três
repetições e um animal por unidade experimental (gaiola). No ensaio de desempenho
das fêmeas foi observado aumento linear no consumo de proteína bruta (g/dia) e
redução na eficiência de proteína bruta no período de 0 a 32 dias de experimento,
conforme se aumentou o nível de lisina digestível na dieta. Também se verificou efeito
quadrático no peso (kg), ganho de peso (g/dia) e conversão alimentar no período
experimental de 0 a 16 dias. Nos resultados de características de carcaça das fêmeas
suínas não se verificou efeito dos níveis de lisina digestível na área de olho de lombo
(cm2) e na espessura de toucinho na 10ª costela, bem como nas variáveis de peso e
rendimento de carcaça quente. Porém observou-se resposta quadrática nos pesos do
pernil e do lombo. O leucograma das fêmeas não apresentou diferença entre os
tratamentos. Nos resultados de desempenho dos machos castrados observou-se aumento
linear no consumo de proteína bruta (g/dia) e na eficiência de proteína bruta. Houve
efeito quadrático no ganho de peso (g/dia), no ganho de peso relativo (%) e na
conversão alimentar. Não houve efeito dos níveis de lisina digestível na área de olho de
lombo e na espessura de toucinho destes animais, porém houve efeito quadrático no
peso e no rendimento do lombo. O leucograma dos machos castrados apresentou efeito
quadrático no número de eosinófilos. Os resultados de digestibilidade e metabolismo
apresentaram efeito de sexo, sendo que as fêmeas absorveram mais nitrogênio que os
machos castrados. Também houve diminuição linear na matéria seca digestível (g/kg),
na proteína digestível (g/kg), no nitrogênio absorvido (g), no nitrogênio retido (g), na
energia digestível (MJ/kg) e na energia metabolizável (MJ/kg), com o melhor nível
sugerido de 7,00 g de lisina digestível por kg de ração. Para melhor desempenho de
suínos fêmeas e machos castrados dos 70 aos 100 kg recomenda-se, respectivamente,
7,00 e 9,82 g de lisina digestível por kg de ração ou 0,49 e 0,69 g de lisina digestível por
MJ de energia metabolizável e, para melhor qualidade de carcaça, 9,67 e 8,96 g de lisina
digestível/kg, ou 0,68 e 0,63 g de lisina digestível por MJ de energia metabolizável, em
média.
Palavras-chave: carcaça, energia metabolizável, fêmea suína, lisina digestível, macho
castrado
44
Introdução
A constante evolução no melhoramento genético dos suínos tem como
consequência diferenças nas exigências nutricionais, principalmente quanto aos níveis
proteicos (em especial aminoácidos) e energéticos das rações. Portanto, melhores
ajustes na composição das dietas são constantemente pesquisados com a meta de
melhores índices produtivos.
Nos suínos, por serem animais monogástricos, muitos componentes da dieta,
tais como ácidos graxos da dieta (Wood & Enser, 1997), sais minerais e vitaminas,
sobretudo a vitamina E (Buckley et al., 1995) são prontamente transferidos dos
alimentos para os tecidos muscular e adiposo, que refletirá no desempenho e na
qualidade de carne, melhorando ou piorando estas características produtivas. Dessa
forma, fornecer menor concentração de lisina que a recomendada, diminui o peso ao
abate, o rendimento de carcaça e a área de olho de lombo (Goodband et al., 1993;
Bidner et al., 2004).
De acordo com Le Bellego & Noblet (2002), espera-se que exista uma relação
ideal entre a energia e lisina digestível na dieta para proporcionar adequado
aproveitamento energético e máxima absorção de aminoácidos pelo trato gastrintestinal.
Por isso, diversos pesquisadores têm focado a relação entre níveis de lisina e energia
(Smith et al., 1999; Roth et al., 2000).
Outros fatores, como peso ao abate e sexo, podem influenciar no desempenho e
na composição de carcaça (Nold et al., 1999; Latorre et al., 2004), sendo que a
composição e o conteúdo de gordura da carcaça, uniformidade e estabilidade oxidativa
são atributos de qualidade afetados, sobretudo, pelo genótipo e pela nutrição (Rosenvold
& Andersen, 2003). Integrado aos fatores mencionados, o nível imunológico dos
animais deve ser considerado, uma vez que podem alterar a resposta imune e as
exigências nutricionais dos suínos (Williams et al., 1997 a,b,c; Salak-Johnson &
Mcglone, 2007).
O objetivo deste trabalho foi estimar o melhor nível de lisina digestível e sua
relação com a energia metabolizável para suínos dos 70 aos 100 kg, baseando-se nas
variáveis de desempenho, carcaça, leucograma e digestibilidade fecal aparente de
proteína.
45
Material e Métodos
Foram realizados dois ensaios experimentais de desempenho, ocorridos
simultaneamente, um com 72 fêmeas com peso inicial de 76,86±0,90 kg e outro com 72
machos castrados com peso inicial de 76,92±0,96 kg, produto do cruzamento comercial
de macho P76 e de fêmea Näima (Pen Ar Lan), com idade média de 117 dias,
conduzidos no Laboratório de Avaliação de Suínos da APTA-SAA-SP, Piracicaba/SP.
Os animais foram alojados em baias de 2 m2, separados por divisórias metálicas,
contendo comedouros com abastecimento manual e bebedouros do tipo chupeta. O
galpão experimental de alvenaria, com pé direito de 3,40 metros, dispunha de janelas
tipo basculante nas laterais para auxiliar no controle da ventilação. Ao longo do estudo
foram tomadas temperaturas diárias (máxima e mínima) no início da manhã, às 8h, e no
meio da tarde, às 15h, usando termômetros instalados na altura dos animais.
O delineamento experimental de blocos ao acaso com base no peso, com seis
tratamentos (7,0; 8,0; 9,0; 10,0; 11,0 e 12,0 g de lisina digestível por kg de ração), seis
repetições e dois animais por unidade experimental (baia) foi adotado para os
experimentos de desempenho e dados de ultrassonografia.
As dietas experimentais foram à base de milho moído, farelo de soja, óleo de
soja, minerais, vitaminas e aminoácidos (tabela 1). Na formulação das dietas, os níveis
de lisina digestível foram estimados considerando os valores de aminoácidos totais
analisados no milho e no farelo de soja e um índice médio de digestibilidade
padronizada de 88%. Esse índice baseou-se na média ponderal dos coeficientes de
digestibilidade da Lisina propostos por Rostagno et al. (2005), considerando-se os
níveis de inclusão do milho e do farelo de soja nas dietas experimentais.
Na composição das dietas, foram estabelecidas relações mínimas entre os
aminoácidos, conforme Rostagno et al. (2005), de modo que os aminoácidos metionina,
treonina e triptofano foram adicionados às dietas para suprir tais relações.
Nos dez primeiros dias do período experimental, os animais receberam ração
medicada com antibiótico à base de Tiamulina e com anti-helmíntico à base de
Mebendazole e estes produtos foram adicionados à ração nas proporções de 225 e 450
g/tonelada de ração, respectivamente.
46
Tabela 1. Composição calculada das dietas experimentais para suínos dos 70 aos 100 kg
Lisina digestível (g/kg)
Ingredientes (g/kg)
7,00 8,00 9,00 10,00 11,00 12,00
Milho moído 821,09 815,02 789,91 764,81 739,71 730,05
Farelo de soja 148,53 152,94 176,96 200,98 225,00 233,06
Sal comum 3,39 3,39 3,39 3,39 3,39 3,40
Calcário 5,81 5,81 5,84 5,87 5,90 5,91
Fosfato bicálcico 9,06 9,02 8,79 8,56 8,33 8,25
Óleo de soja 5,73 5,02 5,00 4,98 4,96 4,36
Premix vitamínico e mineral1 4,50 4,50 4,50 4,50 4,50 4,50
L-Lisina HCl (99% de pureza) 1,62 2,73 3,23 3,73 4,22 5,22
L-Treonina (98,5% de pureza) 0,27 0,89 1,23 1,58 1,92 2,48
DL-Metionina (99% de pureza) - 0,52 0,93 1,35 1,76 2,32
L-Triptofano (98% de pureza) - 0,16 0,21 0,26 0,30 0,44
Total (g) 1000 1000 1000 1000 1000 1000
Valores nutricionais
Energia metabolizável (MJ/kg) 14,25 14,25 14,25 14,25 14,25 14,25
Relação lisina digestível (g/kg) :
0,49 0,56 0,63 0,70 0,77 0,84
energia metabolizável (MJ/kg)
Proteína bruta (g/kg) 136,20 140,00 150,00 160,00 170,00 175,00
Cálcio (g/kg) 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00
Fósforo disponível (g/kg) 2,50 2,50 2,50 2,50 2,50 2,50
Sódio (g/kg) 1,60 1,60 1,60 1,60 1,60 1,60
Metionina+Cistina digestível (g/kg) 4,34 4,88 5,49 6,10 6,71 7,32
Treonina digestível (g/kg) 4,62 5,28 5,94 6,60 7,26 7,92
Triptofano digestível (g/kg) 1,26 1,44 1,62 1,80 1,98 2,16
Valina digestível (g/kg) 5,66 5,73 6,11 6,49 6,87 6,99
Leucina digestível (g/kg) 13,54 13,64 14,27 14,89 15,52 15,72
Isoleucina digestível (g/kg) 5,47 5,55 5,99 6,43 6,87 7,02
Histidina digestível (g/kg) 3,76 3,80 4,05 4,29 4,54 4,62
Fenilalanina digestível (g/kg) 6,69 6,77 7,24 7,71 8,17 8,33
1
Composição por kg de ração: 11,250 mg Fe; 22,500 mg Cu; 5,400 mg Mn; 0,530 mg Zn; 0,030 mg Co;
0,180 mg I; 0,027 mg Se; 2700000 UI Vit. A; 840000 UI Vit. D3; 4200 mg Vit. E; 960 mg Vit. K; 480 mg
Tiamina B1; 2160 mg Riboflavina B2; 900 mg Piridoxina B6; 14400 µg Vit. B12; 9600 mg Niacina B3; 4800
mg Ac. Pantotênico; 420 mg de Ac. Fólico; 45 mg Biotina.
A duração do período experimental foi de dez dias, sendo cinco para adaptação
dos animais às dietas e às gaiolas, quando foram medicados com antibiótico e anti-
helmíntico de mesmo princípio ativo e mesma concentração que os fornecidos nos
ensaios de desempenho, e cinco para coleta de fezes e urina. Na fase de coleta, cada
animal recebeu a mesma quantidade diária de dieta, na base da matéria seca, por
unidade de peso metabólico (peso vivo kg0,75) e as demais medidas de manejo, coleta de
fezes e urina ocorreram segundo metodologia descrita por Barbosa et al. (1999). No
caso das fêmeas, foi utilizada peneira para que as fezes ficassem retidas e a urina foi
coletada em recipiente apropriado, sem utilização de sonda. Neste ensaio foram medidas
as seguintes variáveis: matéria seca digestível (g/kg), proteína digestível (g/kg),
nitrogênio absorvido (g) (nitrogênio ingerido, descontado do nitrogênio excretado
através das fezes), nitrogênio retido (g) (proteína bruta ingerida, descontada de proteína
bruta excretada nas fezes e na urina), energia digestível (MJ/kg) e energia metabolizável
(MJ/kg).
Os experimentos estão de acordo com os Princípios Éticos na Experimentação
Animal, aprovados pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Faculdade
de Medicina Veterinária e Zootecnia, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho”, Campus de Botucatu, sob o protocolo nº 144/2009 de 29/07/2009.
As variáveis de desempenho, carcaça e leucograma foram submetidas à análise
de regressão por polinômios ortogonais considerando os níveis de lisina digestível, por
intermédio do PROC MIXED do SAS (Version 9.1.3, SAS Institute, Cary, NC 2004),
conforme modelo: Yij= µ + Ai + Bj + eij, sendo:
Yij: constante associada a todas observações;
µ: média geral da variável;
Ai: efeito do nível de lisina i, sendo i = 1, 2, ... e 6;
Bj: efeito do bloco j, sendo j = 1, 2, ... e 6;
eij: erro aleatório associado a cada observação.
As variáveis de metabolismo foram submetidas à análise de regressão por
polinômios ortogonais considerando os níveis de lisina digestível, por intermédio do
PROC MIXED do SAS (Version 9.1.3, SAS Institute, Cary, NC 2004), conforme
modelo: Yij = µ + Ai +Sj+ Ai(Sj)+ eij, sendo:
Yij: constante associada a todas observações;
µ: média geral da variável;
49
Resultados
Durante a realização dos ensaios de desempenho, os valores médios de
temperatura máxima e mínima foram de 26,32±2,11ºC e 21,40±1,65ºC no início da
manhã e de 25,90±2,42ºC e 21,76±1,57ºC no meio da tarde.
Os resultados de desempenho das fêmeas estão apresentados na tabela 2. Não
houve efeito dos tratamentos no consumo de ração (g/dia) e no ganho de peso relativo
(%) (P>0,05). Foi observado aumento linear (P<0,05) no consumo de proteína bruta
(g/dia) (Y=164,576+33,509X, R2=0,76) e redução linear (P<0,05) na eficiência de
proteína bruta (Y=2,219–0,132X, R2=0,73), conforme aumentou-se os níveis de lisina
digestível, nos 32 dias de experimento.
Verificou-se efeito quadrático (P<0,05) do nível dietético de lisina digestível
nas variáveis peso aos 16 dias (kg) (Y = 65,385 +5,526X -0,291X2, R2=0,54), ganho de
peso (g/dia) (Y=-223,261+244,582X-12,560X2, R2=0,49) e conversão alimentar
(Y=5,954-0,697X+0,036X2, R2=0,32) no período de 0 a 16 dias de experimento.
Apesar dos melhores resultados para avaliação de desempenho para o período de 16
dias sugerirem 9,69 g de lisina digestível por kg de ração, as respostas dos tratamentos
indicaram a concentração de 7,00 g de lisina digestível por kg de ração ao se considerar
o período total do estudo para marrãs dos 77 aos 103 kg.
Os resultados de características de carcaça das fêmeas suínas, abatidas, em
média, com 103 kg de peso corporal, estão demonstrados na tabela 3.
Não se verificou efeito dos níveis de lisina digestível (P>0,05) nos resultados de
área de olho de lombo (cm2) e nem na espessura de toucinho na 10ª costela, obtidos por
meio de ultrassonografia e diretamente na carcaça, após o abate; bem como nas
variáveis de peso e rendimento de carcaça quente.
50
Tabela 4. Leucograma de fêmeas suínas (em valores absolutos por microlitros±desvio padrão) ao final do experimento (148 dias de idade)
segundo os níveis nutricionais de lisina digestível (g/kg).
Variáveis
Lisina Digestível (g/kg) Leucócitos Neutrófilos Linfócitos Eosinófilos Monócitos Neutrófilos/Linfócitos
7,00 19550± 5129 4714± 1548 12704± 3212 1135± 832 995± 503 0,36 ± 0,06
8,00 20650± 5482 3111± 852 15503± 5817 1015± 774 1019± 492 0,23 ±0,12
9,00 18550± 3258 4381± 1937 11866± 888 781± 439 1521 ± 496 0,36 ±0,14
10,00 15775± 3581 1956± 1202 12321± 3605 828± 729 668± 352 0,19 ±0,16
11,00 19000± 2080 3298± 994 13665± 1665 694± 378 1201 ± 298 0,24 ± 0,07
12,00 21525± 857 3482± 746 15329± 948 1423± 1002 1289 ± 732 0,25 ± 0,05
Valores de referência* 11000 - 22000 3080 - 10340 4300 - 13640 0 – 2400 200 - 2200 -
Linear 0,892 0,151 0,554 0,864 0,584 0,093
Valor de P Lisina
Quadrático 0,116 0,134 0,344 0,180 0,847 0,566
*
Jain & Schalm´s (1986)
54
Tabela 7. Leucograma de suínos machos castrados (em valores absolutos por microlitros±desvio padrão) ao final do experimento (148
dias de idade) segundo os níveis nutricionais de lisina digestível (g/kg).
Variáveis
Lisina Digestível (g/kg) Leucócitos Neutrófilos Linfócitos Eosinófilos Monócitos Neutrófilos/Linfócitos
Valores de referência* 11000 - 22000 3080 - 10340 4300 – 13640 0 – 400 200 – 2200 -
Discussão
A temperatura no início da manhã apresentou-se maior que a medida no meio
da tarde, pois o momento mais quente do dia dentro do galpão ocorria por volta das
16:00 hs, momento em que já havia ocorrido a mensuração da temperatura da tarde.
O aumento de forma linear no consumo de proteína bruta (g/dia) e a redução
linear na eficiência de proteína bruta observados nas fêmeas no período total do
experimento pode ser consequencia do aumento da concentração de lisina digestível nas
dietas, já que não houve efeito dos níveis deste aminoácido no consumo de ração
59
(g/dia). Estes resultados também foram observados por diversos autores (Arouca, 2003;
Marinho et al., 2007; Millet et al., 2011) que estudaram o efeito de níveis de lisina
digestível em dietas de suínos selecionados para deposição de carne magra na carcaça.
Porém Chiba et al. (2002), Fabian et al. (2002) e Fix et al. (2010) observaram redução
linear no consumo médio diário de ração, com o aumento dos níveis de lisina, mesmo
trabalhando com dietas com alto nível proteico.
O efeito quadrático (P<0,05) no peso (kg) aos 16 dias de experimento e no
ganho de peso (g/dia) das fêmeas no período de 0 a 16 dias, também resultou em efeito
quadrático no ganho de peso relativo (%) e na conversão alimentar, conforme se
aumentou o nível de lisina digestível na ração, no período de 0 a 16 dias de
experimento. Estes resultados estão de acordo com os encontrados por Millet et al.
(2011), que pesquisaram exigência nutricional em suínos em terminação. Por outro lado,
Moreira et al. (2004) obtiveram redução linear no ganho de peso (g/dia) e não
observaram efeito dos níveis de lisina na conversão alimentar, resultado que confirma
pesquisa anterior de Moreira et al. (2002). Conforme estudo de Friesen et al. (1994),
suínos com alto potencial para acúmulo de tecido magro tem melhor resposta quanto ao
desempenho, para aumentos na concentração de lisina nas dietas. Restrição neste
aminoácido reduz o ganho de peso diário e piora a conversão alimentar (Castell et al.,
1994; Witte et al., 2000; Jin et al., 2010).
Os animais com piores ganho de peso e conversão alimentar nos primeiros 16
dias de experimento conseguiram apresentar desempenho semelhante quando foi
considerado todo o período experimental. Portanto, 7,00 g de lisina digestível por kg de
ração demonstrou ser o nível adequado para o desempenho de fêmeas suínas. Este nível
é muito próximo do recomendado por Friesen et al. (1995) e Main et al. (2008), que
foram de 7,12 e 6,50 g de lisina digestível por kg de ração, respectivamente.
A falta de efeito dos níveis de lisina digestível na área de olho de lombo (cm2)
e na espessura de toucinho (cm) colhidos por meio de ultrassonografia e analisados
diretamente na carcaça após o abate as fêmeas, confirmam os achados de See et al.
(2004) e Pereira et al. (2008) que ao avaliarem níveis de lisina dietética também não
observaram este efeito na espessura de toucinho, e de Adeola et al. (1990) e Kill et al.
(2003a,b), que não observaram efeito na profundidade de lombo. Porém Apple et al.
(2004), ao estudarem três níveis de lisina digestível e dois de energia metabolizável para
suínos, observaram efeito linear decrescente na espessura de toucinho conforme se
elevou a concentração dietética de lisina digestível.
60
Apesar de não haver efeito dos níveis de lisina digestível na área de olho de
lombo e na espessura de toucinho, observou-se efeito quadrático dos níveis de lisina
digestível nos rendimentos de carcaça fria e nos rendimentos e cortes cárneos das
fêmeas suínas, principalmente do lombo, tido como corte nobre, o que pode ser
atribuído a maior desenvolvimento muscular. Estes resultados concordam com os
obtidos por Marinho et al. (2007) e por Pereira et al. (2008), que estudaram o efeito de
lisina digestível nos rendimentos de carcaça, pernil e carré, recomendando 8,70 g de
lisina digestível por kg de ração, sem ractopamina, para melhor resposta produtiva. Este
nível é 0,70 g a menos do recomendado pelo presente trabalho, com base nos dados de
carcaça.
O leucograma das fêmeas, no geral, apresentou-se dentro da faixa de
normalidade proposta por Jain & Schalm´s (1986), o que confirma que quando livre dos
principais patógenos, o suíno pode apresentar maior eficiência na taxa diária de
deposição proteica (Williams et al., 1997a,b).
Assim como nas fêmeas, não houve efeito dos níveis de lisina digestível no
consumo de ração (g/dia) dos suínos machos castrados, enquanto o consumo de proteína
bruta (g/dia) aumentou linearmente (P<0,05) e a eficiência de proteína bruta diminuiu
(P<0,05), com o aumento dos níveis de lisina digestível. Estas respostas também foram
obtidas por Gasparotto et al. (2001), Arouca (2003) e Marinho et al. (2007). Porém
Moreira et al. (2004) e Fix et al. (2010), ao estudarem níveis de lisina digestível,
verificaram redução linear no consumo de ração (g/dia). Possivelmente as diferenças
observadas por Moreira et al. (2004) e Fix et al. (2010) sejam devido ao nível energético
das dietas; já que, segundo Le Bellego & Noblet (2002), existe uma relação ideal entre
energia e lisina na dieta, para um adequado aproveitamento energético e absorção de
aminoácidos pelo trato gastrintestinal.
Não houve diferença no consumo de ração entre as dietas dos machos
castrados, mas houve efeito quadrático (P<0,05) no ganho de peso (g/dia) e no ganho de
peso relativo (%) no período de 0 a 16 dias e de 0 a 32 dias, o que refletiu em efeito
quadrático (P<0,05) na conversão alimentar em todo o período experimental (0 a 32
dias). Estes resultados confirmam os achados de Fix et al. (2010) e de Jin et al. (2010),
porém outros autores observaram redução linear do ganho de peso, com o aumento dos
níveis de lisina digestível (Moreira et al., 2002; Moreira et al., 2004).
Em termos de qualidade de carcaça, assim como nas fêmeas, os machos
castrados não sofreram efeito dos níveis de lisina digestível no rendimento de carcaça,
61
área de olho de lombo (cm2) e espessura de toucinho (cm), bem como na maioria dos
cortes cárneos e nos rendimentos dos cortes. Entretanto observou-se efeito linear
(P<0,05) no peso do filé e quadrático (P<0,05) no peso e rendimento do lombo.
O efeito quadrático (P<0,05) dos níveis de lisina digestível, observado no
número de eosinófilos dos machos castrados, mostrou que no nível de 9,12 g de lisina
digestível/kg houve menor proporção desta célula e, ainda assim, esse valor estava
acima da faixa de referência de Jain & Schalm´s (1986). Os eosinófilos, apesar de serem
fagócitos fracos, detectam e combatem parasitas, além de se acumularem nos tecidos em
que há reação alérgica (Tizard, 2002; Guyton & Hall, 2006). Os animais foram
vermifugados no início do experimento, contudo, no decorrer do período experimental
havia moscas nas instalações, que picavam constantemente os animais e alguns
chegaram a manifestar processo alérgico, com diversas manchas avermelhadas pelo
corpo. Como em condições adversas o suíno pode perder até 40% em eficiência de
ganho muscular (Trindade Neto et al., 2008) e os animais que ingeriram ração que
continha 9,00 g de lisina digestível/kg produziram menor quantidade de eosinófilos,
mesmo sob o mesmo desafio dos demais, possivelmente também estavam menos
susceptíveis a manifestar processos alérgicos e ter perdas em rendimento de carcaça.
No ensaio de digestibilidade e metabolismo não foi verificado efeito de sexo
(P>0,05) nas variáveis estudadas, com interação entre os sexos e os níveis de lisina
digestível (P>0,05). Este achado confirma a observação de que as fêmeas são mais
eficientes que os machos castrados, em termos de aproveitamento da proteína da dieta
(Trindade Neto et al., 2005).
O efeito linear decrescente (P<0,05) nas variáveis de digestibilidade e
metabolismo, a medida que se aumentou o nível de lisina digestível, pode ser por
excesso de ingestão de proteína, o que levou a eliminação de todo o aminoácido que
excedeu às necessidades de mantença e produção (Beterchini, 2006). De acordo com o
NRC (1998), em condições normais, apenas 35 a 45% do nitrogênio é retido pelos
suínos, sendo o restante excretado. Figueroa et al. (2002) observaram que 45 a 60% do
nitrogênio consumido pelos suínos, alimentados com rações convencionais, é retido e o
restante é eliminado nas fezes e urina. Entretanto, Jin et al. (2010) afirmaram que a
digestibilidade proteica aumenta com o aumento dos níveis de lisina na dieta.
O nível obtido como melhor pelo ensaio de digestibilidade e metabolismo foi
de 7,0 g de lisina digestível/kg. Este nível está bem abaixo do sugerido pelas variáveis
de desempenho, carcaça e leucograma para machos castrados. Porém é o mesmo nível
62
sugerido para melhor desempenho das fêmeas e está abaixo do obtido para
características de carcaça das fêmeas.
O nível de 9,82 g de lisina digestível/kg definido como ótimo para machos
castrados, de acordo com os parâmetros de desempenho estudados é bem acima do valor
recomendado para as fêmeas, que foi de 7,00. Porém as fêmeas necessitam de maior teor
de lisina digestível na ração para melhor qualidade de carcaça que os machos castrados
(9,67 e 8,96 g de lisina digestível/kg, respectivamente).
Conclusão
Para melhor desempenho de suínos fêmeas e machos castrados dos 70 aos 100
kg recomenda-se, respectivamente, 7,00 e 9,82 g de lisina digestível por kg de ração ou
0,49 e 0,69 g de lisina digestível por MJ de energia metabolizável e, para melhor
qualidade de carcaça, 9,67 e 8,96 g de lisina digestível/kg, ou 0,68 e 0,63 g de lisina
digestível por MJ de energia metabolizável, em média.
Referências
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CAPÍTULO IV
IMPLICAÇÕES FINAIS
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IMPLICAÇÕES FINAIS