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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE


CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

VERÔNIKA MARIANNA MATUCHESKI SLOTA

RELEVÂNCIA DE FERRAMENTAS DE SELEÇÃO E MELHORAMENTO


GENÉTICO NO REBANHO JERSEY NACIONAL

CURITIBA
2021
VERÔNIKA MARIANNA MATUCHESKI SLOTA

RELEVÂNCIA DE FERRAMENTAS DE SELEÇÃO E MELHORAMENTO


GENÉTICO NO REBANHO JERSEY NACIONAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti
do Paraná, como requisito parcial para obtenção do
grau de Médica Veterinária.
Orientador Acadêmico: Prof. Dr. Welington Hartmann
Orientador Profissional: Médico Veterinário Paulo
Henrique de Souza

CURITIBA
2021
Reitor

Prof. João Henrique Faryniuk

Pró-Reitora Administrativa

Prof. Camille Rangel

Pró-Reitor Acadêmico

Prof. João Henrique Faryniuk

Secretário Geral

Sr. Marco Aurélio Cardoso

Coordenador do Curso de Medicina Veterinária

Prof. Welington Hartmann

Supervisora de Estágio Curricular

Prof. Jesséa de Fátima França Biz

Campus Barigui

Rua Sydnei A. Rangel Santos, 238

CEP: 82010-330 – Curitiba – PR

Fone: (041) 3331-7958


TERMO DE APROVAÇÃO

VERÔNIKA MARIANNA MATUCHESKI SLOTA

RELEVÂNCIA DE FERRAMENTAS DE SELEÇÃO E MELHORAMENTO


GENÉTICO NO REBANHO JERSEY NACIONAL

Este trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para a obtenção do


grau de Médica Veterinária no Curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti
do Paraná.

Curitiba, 2 de julho de 2021.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Welington Hartmann


Presidente

Prof. Dr. Claudio José Araújo

Prof. MSc. Ligia Valeria Nascimento


AGRADECIMENTOS

A Deus, pela vida e pelo dom que me foi concedido.


Aos meus pais, Angélica e Nestor, que viabilizaram e apoiaram
incondicionalmente a minha trajetória acadêmica. Sempre guiando os meus passos
de encontro ao amor pela função exercida e pelo trabalho desempenhado.
Ao meu companheiro, Gustavo, pela parceria e compreensão durante esta
jornada.
Ao meu orientador acadêmico, Professor Welington Hartmann, pelos
ensinamentos e confiança no potencial dessa aluna.
Ao meu mentor e orientador profissional, M.V. Paulo Henrique de Souza, por
me acolher, ensinar, e encaminhar na profissão que exerce com tamanha dedicação.
A Associação de Criadores de Gado Jersey do Brasil, diretoria e
colaboradores, pelo aprendizado e oportunidade.
Ao corpo docente da Universidade Tuiuti do Paraná, sempre disposto a
ensinar.
A todos, em especial aos meus avós, familiares e amigos que fizeram parte
dessa caminhada, Obrigada!
EPÍGRAFE

“O trabalho dignifica o homem.”


Max Weber.
APRESENTAÇÃO

Este trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Curso de Medicina Veterinária


da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade Tuiuti do Paraná,
como requisito parcial para a obtenção do grau de Médica Veterinária, é composto
pelo Relatório de Estágio, onde são descritas as atividades realizadas durante o
período de 15/03/2020 a 21/05/2021, na Associação de Criadores de Gado Jersey do
Brasil, localizada no município de Curitiba-PR, local de cumprimento do estágio
curricular e sua respectiva revisão de literatura.
RESUMO

A pecuária leiteira, de forma geral, obteve grande evolução nos últimos anos, e a raça
Jersey contribuiu significativamente. Esse trabalho foi realizado com o objetivo de
estudar a evolução da raça nos últimos dez anos em relação ao uso de diversas
ferramentas de seleção e melhoramento genético. Em especial, a Classificação Linear
para Tipo, que foi analisada mais a fundo nesse estudo, relacionando-a a índices de
produção. Essa pesquisa é relevante para a Medicina Veterinária, pois todas as
ferramentas aplicáveis ao melhoramento genético estão relacionadas à atividade;
para os produtores, pelo interesse econômico na evolução de seu rebanho; e para os
animais, tendo em vista que o uso dessas ferramentas promovem bem-estar, saúde
e longevidade.

Palavras-chave: Classificação linear para tipo; Conformação; Pecuária.


LISTA DE ABREVIATURAS

- Desvio Padrão
ACGJB – Associação Paranaense de Criadores de Gado Jersey do Brasil
AG – Ângulo de Garupa
AN – Angulosidade
APCBRH – Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa
CCS – Contagem de Células Somáticas
ECC – Escore de Condição Corporal
FIV – Fertilização in vitro
FL – Força Leiteira
JCS UK – Jersey Cattle Society of the United Kingdom
LA – Largura de Garupa
LP - Largura de Peito
MAPA – Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento
NLS – Nivelamento de Linha Superior
PF - Profundidade Corporal
RBQL – Rede Brasileira de Qualidade de Leite
SCS – Escore de Células Somáticas
SRG – Serviço de Registro de Genealógico
TE – Tranferência de Embriões
VL – Vista Lateral
VP – Vista Posterior
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Atividades Desenvolvidas na ACGJB de 15 de março a 21 de maio de 2021


.................................................................................................................................. 16
LISTA DE TABELAS E QUADROS

Tabela 1 Descrição das características lineares de tipo, compostos, pesos e escores


desejáveis ............................................................................................................ 22
Quadro 1 Dimensões dos respectivos escores lineares para as características
mensuráveis ........................................................................................................ 23
Tabela 2 Condição de escore corporal indicado para fase de vida produtiva ................... 26
Tabela 3 Pontuação para locomoção ................................................................................ 31
Tabela 4 Enquadramento de classes conforme pontuação ............................................... 35
Tabela 5 Máximo de pontuação atingida em relação a lactação ....................................... 36
Tabela 6 Intervalos de herdabilidade conforme caráter de transmissão ........................... 37
Tabela 7 Valores de herdabilidade para pontuação final relatados por diversos autores.. 38
Tabela 8 Índices de herdabilidade de características de exterior na raça jersey .............. 39
Tabela 9 Herdabilidade das características de produção da população geral em
comparação com as vacas vitalícias .................................................................. 40
Tabela 10 Produções e médias de produção obtidas por animais de diferentes classes
lineares ............................................................................................................... 43
Tabela 11 Diferenças de produção entre as classes lineares em uma lactação ................ 44
Tabela 12 Diferença de produção de gordura e proteína entre as classes lineares .......... 44
Tabela 13 Médias de produção nas diferentes classes ...................................................... 45
Tabela 14 Resultados obtidos nos anos de 2010 e 2020 para as mesmas características
nas diferentes classes 1 ano parida a 4 anos Júnior ......................................... 46
Tabela 15 Resultados obtidos nos anos de 2010 e 2020 para as mesmas características
nas diferentes classes a partir de 4 anos sênior a adulta sênior ....................... 47
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14
2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DO ESTÁGIO ............................................................... 16
3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS .......................................................................... 17
3.1 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ........................................................................ 17
3.1.2 Escrituração Zootécnica de rebanho ................................................................ 17
3.1.3 Coleta de Dados ............................................................................................... 18
3.1.4 Acompanhamento de Rotina de Classificação Linear ...................................... 18
3.1.5 Acompanhamento de Rotina de Inspeção Zootécnica ..................................... 18
3.1.6 Suporte Técnico aos Criadores ........................................................................ 18
3.1.7 Auditoria Interna ............................................................................................... 19
3.1.8 Acompanhamento da Rotina Laboratorial de Controle Leiteiro ........................ 19
4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 21
4.1 A RAÇA JERSEY ................................................................................................ 21
4.2 CLASSIFICAÇÃO LINEAR PARA TIPO .............................................................. 21
4.2.1 Tipo Ideal.......................................................................................................... 24
4.2.2 Força Leiteira (FL) ............................................................................................ 24
4.2.2.2 Nivelamento de Linha Superior (NLS) ........................................................... 25
4.2.2.3 Largura de Peito (LP) .................................................................................... 25
4.2.2.4 Profundidade Corporal (PF) .......................................................................... 25
4.2.2.5 Angulosidade (AN) ........................................................................................ 25
4.2.2.6 Forma Leiteira ............................................................................................... 26
4.2.2.7 Escore Corporal (ECC).................................................................................. 26
4.2.3 Garupa ............................................................................................................. 27
4.2.3.1 Ângulo de Garupa (AG) ................................................................................. 28
4.2.3.2 Largura da Garupa (LG) ................................................................................ 28
4.2.3.3 Força de Lombo ............................................................................................ 28
4.2.4 Pernas e Pés .................................................................................................... 28
4.2.4.1 Ângulo de Casco (AC) ................................................................................... 29
4.2.4.2 Profundidade do Talão (PT) .......................................................................... 29
4.2.4.3 Qualidade Óssea (QO) .................................................................................. 29
4.2.4.4 Pernas Posteriores – Vista Lateral (PVL) ...................................................... 30
4.2.4.5 Pernas Posteriores – Vista Posterior (PVP) .................................................. 30
4.2.4.6 Locomoção .................................................................................................... 30
4.2.5 Sistema Mamário ............................................................................................. 31
4.2.5.1 Inserção de Úbere Anterior ........................................................................... 31
4.2.5.2 Colocação de Tetos Anteriores ..................................................................... 32
4.2.5.3 Comprimento dos Tetos (CT) ........................................................................ 32
4.2.5.4 Altura de Úbere Posterior (AUP) ................................................................... 32
4.2.5.5 Largura de Úbere Posterior (LUP) ................................................................. 33
4.2.5.6 Colocação de Tetos Posteriores ................................................................... 33
4.2.5.7 Profundidade do Úbere ................................................................................. 33
4.2.5.8 Textura do Úbere .......................................................................................... 34
4.2.5.9 Ligamento Mediano (LM)............................................................................... 34
4.2.6 Defeitos ............................................................................................................ 34
4.2.7 Avaliação Final e Classes ................................................................................ 35
4.3 CONTROLE LEITEIRO ....................................................................................... 36
4.4 HERDABILIDADE (h2) ......................................................................................... 37
4.4.1 Herdabilidade das Características Lineares ..................................................... 38
4.4.1.1 Herdabilidade da Pontuação / Classe Final ................................................... 38
4.4.1.2 Herdabilidade das Características Individuais ............................................... 38
4.4.2 Herdabilidade das Características de Produção .............................................. 40
4.5 RELAÇÕES ENTRE CARACTERÍSTICAS LINEARES E DESCARTE ............... 40
5 PESQUISA APLICADA ......................................................................................... 42
5.1 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................... 42
5.2 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 43
5.2.1 Classe em Relação a Produção ....................................................................... 43
5.2.2 Evolução da Produção do Rebanho Jersey Nacional nos Últimos 10 anos ..... 45
6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 49
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 50
14

1 INTRODUÇÃO

A pecuária leiteira é uma atividade que se estende por todo o Brasil, tornando-
o o 3º maior produtor de leite do mundo. Com forte influência na geração de renda, o
setor é responsável por milhões de empregos, direta ou indiretamente.
Acompanhando esses índices, o país é detentor do segundo maior rebanho
ordenhado a nível mundial.
Em contrapartida, quanto à produtividade animal, os números não são
satisfatórios, tendo em vista que o Brasil ocupa a 84ª posição no quesito indicando
produtividade 5 vezes menor em relação a Israel e Estados Unidos, primeiros
colocados (FAO e USDA, 2019). Isso se deve às grandes diferenças regionais de
clima, manejo, grau de tecnificação e raças exploradas.
A raça Jersey, originária da Ilha de Jersey – Grã-Bretanha, foi desenvolvida por
fazendeiros que valorizavam suas qualidades para produzir manteiga e queijo. A fim
de preservar a pureza racial, em 1763 foram decretadas leis que proibiam a entrada
na Ilha de Jersey de qualquer animal vivo que pudesse transmitir doenças aos
bovinos. A excelência do gado Jersey já era reconhecida no Século XVIII, com intensa
exportação para a Inglaterra e os Estados Unidos. Em 1834 aconteceu a primeira
exposição da raça, em Cattle Market. Quatro anos depois foi criado um sistema de
pontuação baseado nas classificações obtidas nos julgamentos e exposições. Esse
sistema e as anotações desses eventos deram origem ao Jersey Herd Book, no ano
de 1866, no qual foram inscritos inicialmente 42 touros e 182 vacas. Em 1896 houve
a introdução do gado Jersey no Brasil por Joaquim Francisco Assis Brasil, que adquiriu
animais oriundos do rebanho Windsor, da Rainha Vitória, da Inglaterra. No Brasil, o
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) oficializou a raça em
1930, e oito anos mais tarde, em 1938, foi criada a Associação de Criadores de Gado
Jersey do Brasil, no Rio de Janeiro (The Dairy Queen, 2002; ACGJB, 2021).
O registro genealógico tem a função de dar suporte às demais ferramentas e
ações de melhoramento e seleção. Através dele conseguimos obter uma base de
dados confiáveis para estabelecer uma população e a partir dela calcular a habilidade
prevista de transmissão (PTA) e dentre outros fatores, fazer seleção com base na
genealogia evitando, por exemplo, consaguinidade e comorbidades advindas dela
(APCBRH, 2020).
Uma das funções mais importantes das Associações, além do registro, é
15

fornecer aos criadores serviços de melhoramento e seleção como a Classificação


Linear e o Controle Leiteiro (ACGHMG, 2020). Características lineares são de
natureza biológica, claramente definidas, passíveis de avaliação em uma escala
linear. Atualmente existem dois modelos de classificação estabelecidos, o modelo
americano e o modelo canadense que é o utilizado pelos classificadores oficiais das
associações de raças leiteiras no Brasil (US JERSEY, 2018).
No Brasil, as amostras direcionadas a análises dos componentes do leite
devem ser enviadas à Rede Brasileira de Laboratórios de Controle de Qualidade de
Leite (RBQL), para análise e processamento das informações sobre os componentes
do leite e contagem de células somáticas (CCS) das amostras individuais coletadas
mensal ou bimensalmente pelos controladores de leite.
Através de parceria entre a Associação Paranaense dos Criadores de Bovinos
da Raça Holandesa (APCBRH), Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a McGill
University - Canadá, em 1991, o Programa Paranaense de Análises do Leite
(PARLEITE), integrante da RBQL, iniciou suas atividades na realização de controle
leiteiro em sua sede localizada na APCBRH (APCBRH, 2020), sob a coordenação
visionária do professor Newton Pohl Ribas. Os criadores de gado Jersey associados
à Associação de Criadores de Gado Jersey do Brasil (ACGJB) utilizam do mesmo
serviço de Controle Leiteiro Oficial oferecido pela APCBRH devido à parceria firmada
entre as duas entidades. Segundo o Relatório Anual de 2020 da APCBRH, foram
controlados 52.380 animais mensalmente, o que representa aumento de 6,09% em
relação aos números do ano anterior, considerando apenas o rebanho da raça
Holandesa.
O objetivo desse trabalho foi elucidar a influência da Classificação Linear para
Tipo sobre a produção de leite, avaliada por intermédio de Controle Leiteiro Oficial de
animais da raça Jersey, com a finalidade de estabelecer a relevância do uso dessas
ferramentas de seleção para o produtor em termos de lucratividade, saúde e
longevidade do rebanho. Bem como determinar a evolução da Raça Jersey nos
últimos dez anos, em relação ao uso das mais diversas ferramentas de seleção e
melhoramento genético, especialmente a classificação linear para tipo.
16

2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DO ESTÁGIO

As atividades, bem como a coleta de dados foram desenvolvidas na Associação


de Criadores de Gado Jersey do Brasil, que atua em parceria com a Associação de
Criadores de Gado Holandês do Paraná para a realização de Controle Leiteiro Oficial
dos animais da raça Jersey. A entidade foi fundada em 1938 no Rio de Janeiro e teve
sua sede em São Paulo até 2018, quando veio para Curitiba – PR, onde mantém todo
o arquivo de Registro Genealógico da raça. A ACGJB é responsável pela escrituração
zootécnica da raça perante as filiadas credenciadas, atuando em todo o território
nacional, especificamente nas bacias leiteiras. A Associação conta com uma equipe
de colaboradores nos setores: Administrativo, Serviço de Registro Genealógico e
Superintendência, além de inspetores e classificadores – Médicos Veterinários e/ou
Zootecnistas - todos sob gestão da Diretoria e do Conselho Deliberativo Técnico.
As atividades desenvolvidas no período 15 de março de 2021 a 21 de maio de
2021 está apresentadas na Figura 1.

Figura 1: Atividades Desenvolvidas na ACGJB de 15 de março a 21 de maio de 2021

Acompanha
Auditoria mento da
Interna Rotina
19% Laboratorial Abastecimen
de Controle to de Dados
Leiteiro no SRG
1% 20%
Suporte
Técnico ao Escrituração
Criador Zootécnica
16% de Rebanho
19%
Acompanhame
nto de Rotina
de Inspeção…
Coleta de
Acompanhamento de Dados
Rotina de Classificação … 19%
17

3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

3.1 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

3.1.1 Abastecimento de Dados no Serviço de Registro Genealógico (SRG)

Todos os animais registrados na Associação passam a ter um código numérico


sequencial composto por 4 a 6 dígitos seguido de uma letra que identifica em qual
categoria de registro e sexo o animal se enquadra. Assim, para a eficiência do sistema,
é necessário que a ACGJB seja comunicada sobre os eventos que ocorrem com os
respectivos rebanhos, como: procedimentos de fertilização in vitro (FIV), transferência
de embriões (TE), padreações, nascimentos, transferências e baixas constando o
motivo: venda, morte ou descarte.
Todas as informações pertinentes ao animal vão constar sob esse número de
registro - genealogia, progênie, controle leiteiro, classificação linear, criador,
proprietário e premiações.
A ACGJB também é responsável por filtrar o material genético importado. Todo
sêmen e/ou embrião advindo de importação só recebe um registro nacional, atestando
que o material é advindo de um animal da raça Jersey, se cumprir uma série de
requisitos necessários para que haja nacionalização e seus respectivos produtos
possam ser registrados na entidade.
Todos esses dados precisam ser controlados e lançados em um sistema
informatizado denominado SRG – Serviço de Registro Genealógico. Essa é a principal
atividade desenvolvida na rotina de uma Associação de raça.

3.1.2 Escrituração Zootécnica de rebanho

Tanto a conferência quanto a confecção de escrituração zootécnica de rebanho


também estão entre as atividades desenvolvidas. Pois é frequente a necessidade de
recuperação e/ou inscrição de plantéis da raça adquiridos por criadores, associados
ou não.
18

3.1.3 Coleta de Dados

Com diferentes finalidades, a coleta de dados é realizada diariamente na


entidade. Levantamentos quanto a número de animais registrados no rebanho
nacional, número de nacionalizações efetuadas, listagem de jurados/ classificadores/
inspetores, criadores por unidade federativa, dentre outros, são realizados pela
ACGJB.

3.1.4 Acompanhamento de Rotina de Classificação Linear

Realizada apenas por classificadores treinados e certificados pela entidade, a


Classificação Linear é efetuada sempre que há solicitação por parte do associado.
Havendo deslocamento até a propriedade para avaliação dos animais, previamente à
classificação é solicitado: nome, número de registro, número de partos, e data do
último parto da vaca a ser classificada.

3.1.5 Acompanhamento de Rotina de Inspeção Zootécnica

Todo animal da raça Jersey detentor de Registro Definitivo passa previamente


por inspeção zootécnica. A partir dos seis meses de idade, todo animal Jersey está
apto a ser inspecionado. Inspeção zootécnica é a avaliação fenotípica feita por um
inspetor treinado e credenciado pela ACGJB que vai através de observação detalhada
confirmar se aquele animal atende aos requisitos da raça Jersey e qual a sua categoria
de registro. Fatores como: hérnia umbilical, defeito de chanfro, defeito de inserção de
cauda, despigmentação de mucosas e cascos, e outros, são averiguados pois
desabilitam o indivíduo a obter registro definitivo. O registro provisório, que é obtido
ao nascimento do animal com genealogia controlada, tem validade de 2 anos, e pode
ser cancelado por ocasião da inspeção para registro definitivo.

3.1.6 Suporte Técnico aos Criadores

Regularmente os criadores solicitam suporte técnico multidisciplinar acerca da


atividade leiteira. São abordados temas diversos, desde a reprodução e escolha de
material genético até opções para controle de rebanho, tecnologia de produtos de
19

origem animal, manejo, compra e venda de animais, nutrição, instalações, dentre


outros assuntos referentes à atividade leiteira que são abordados com os produtores.

3.1.7 Auditoria Interna

Como um órgão cartorário de registro pecuário, a ACGJB está sujeita a


auditoria do MAPA, bem como responde e tem todos os seus serviços autorizados e
regulados por essa autarquia federal. Portanto é fundamental o desenvolvimento de
auditoria interna como forma de manutenção da qualidade operacional e garantia de
conformidade diante dos critérios exigidos pelo MAPA.

3.1.8 Acompanhamento da Rotina Laboratorial de Controle Leiteiro

Essa atividade foi realizada no Laboratório de Análises de Leite localizado na


sede da APCBRH. Houve acompanhamento de todo o processo, desde a chegada
das amostras na entidade até o processamento de dados.
As caixas com as amostras chegam através de transportadora contratada pela
APCBRH, a partir daí é emitida uma Ordem de Serviço (OS) em nome do criador que
é previamente cadastrado no sistema computacional da entidade. Na recepção é
verificado o número de amostras em relação ao que está descrito no relatório enviado
pelo controlador junto a elas, bem como a data da coleta. A quantidade de tubos
enviados ao controlador, bem como os que retornaram vazios também é controlada.
Após esse processo de identificação e criação de ordem de serviço, a
temperatura das amostras é aferida pois cada análise tem uma temperatura ideal e
necessária para a sua realização. Para o controle leiteiro são admitidas para análise
amostras em temperatura ambiente. Posteriormente as amostras são encaminhadas
para que seja verificado se há ou não sujidades, e se a homogeneização com o
conservante está adequada. Para realização de controle leiteiro oficial é necessário o
envio de amostras em dois tubos: um com Azidiol®, bacteriostático para garantir a
veracidade do resultado na contagem de CCS; e outro tubo com diluente Bronopol®
para análise de componentes do leite. As amostras que não estão de acordo são
descartadas. A partir das informações que constam no relatório enviado pelo
controlador junto às amostras, são lançados na ordem de serviço: nome do
proprietário, identificação do frasco que contém a amostra desse indivíduo, e se o
20

material está apto ou não a ser processado e o motivo.


No setor de análises, os tubos são dispostos em ordem específica nos carrinhos
e raques próprias das máquinas analisadoras de leite. O equipamento de análise de
componentes, Nexgen – FTS, processa 500 amostras por hora. A cada raque
colocada para processar há um tubo controle para verificar a calibração da máquina.
O resultado vai automaticamente para o sistema informatizado e vai para o setor de
processamento de dados para ser lançado no respectivo Sistema de Registro
Genealógico da raça, ou há geração de relatório para as demais entidades parceiras
como a ACGJB. O processo de análise para contagem de células somáticas (CCS) é
similar, exceto pelo número de amostras examinadas, de 150 por hora em
equipamento específico – IBS.
21

4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.1 A RAÇA JERSEY

A raça Jersey é uma raça europeia pura, altamente especializada em produção


de leite. Dentre os pontos mais valorizados estão o alto potencial de transmissão de
características como precocidade, alta fertilidade, rusticidade, docilidade e
longevidade, além das fêmeas serem menores se comparadas as demais raças
leiteiras, possibilitando criar número maior de animais por hectare (EMBRAPA, 2009).
Outro fator inerente à raça é a quantidade elevada de sólidos no leite, tornando-
a muito atrativa aos olhos da pecuária leiteira voltada para o beneficiamento e
processamento do leite em queijos e outros derivados. A raça Jersey apresenta teores
de componentes do leite bem acima do exigido pela legislação como padrão de
identidade de qualidade dos produtos de origem animal. Comparada a outras raças
apresenta superioridade em sólidos totais, portanto, valor nutricional, abordados por
diversos autores (SPALLONE et al., 2012; GONZÁLEZ, 2001; BRETAS et al., 2018).

4.2 CLASSIFICAÇÃO LINEAR PARA TIPO

Classificação linear é definida como uma metodologia de avaliação individual


através de medidas de conformação comparadas ao padrão de tipo ideal ou “True
Type” estabelecido para aquela raça (ESTEVES et al., 2004). Ferramenta essencial
na mensuração de características que estão de alguma forma relacionadas com a
saúde e a vida útil dos animais (VALLOTO e RIBAS NETO, 2012). No sistema de
classificação utilizado atualmente no Brasil essas características estão dispostas entre
os 4 compostos: Força Leiteira, Garupa, Pernas e Pés, Sistema Mamário, e 23
características lineares com escore linear de 1 a 9 pontos, além do escore de condição
corporal, que vai de 1 a 5 pontos, resultando em uma pontuação final que varia de 50
a 97 pontos (VALLOTO, 2020). Na raça Jersey o número de características aumenta
para 24, pois é avaliada a locomoção no composto Pernas e Pés. As características
de tipo estão apresentadas na Tabela 1.
22

Tabela 1 - Descrição das características lineares de tipo, compostos, pesos e escores desejáveis

Compostos Características Peso Descrição 1 Descrição 9 Desejável


Peso
Sist. Mamário Inserção. Úbere Ant. 15% Extr. Fraco Extr. Forte 9
48% Colocação. Tetos 8% Extr. Abertos Extr. Fechados 5
Ant.
Comprimento Tetos 2% Extr. Curtos Extr. Compridos 5
Altura Úbere Post. 16% Extr. Baixo Extr. Alto 9

Largura Úbere Post. 12% Extr. Estreito Extr. Largo 9


Colocação Tetos 5% Extr. Abertos Extr. Fechados 5
Post.
Profundidade Úbere 14% Extr. Profundo Extremamente Raso 5
Textura do Úbere 12% Extr. Carnudos Extr. Macios 9
Ligamento Mediano 16% Extr. Fraco Extr. Forte 9
Força Leiteira Estatura 5% Extr. Baixa Extr. Alta 7,8,9
31% Nivelamento Linha 5% Extr. Descendente Extr. Ascendente 5,6,7
Superior
Largura de Peito 20% Extr. Estreito Extr. Largo 7
Profundidade 25% Extr. Raso Extr. Profundo 7
Corporal
Angulosidade 25% Extr. Grosseira Extr. Angulosa 9
ECC 20% Extr. Magra Extr. Gorda 2,5 a 3
Pernas e Pés Ângulo de Casco 25% Extr. Baixo Extr. Alto 7
13% Profundidade Talão 22% Extr. Raso Extr. Profundo 9
Qualidade Óssea 10% Extr. Grosseira Extr. Plana 9
Pernas Post. – V.L. 17% Extr. Retas Extr. Curvas 5
Pernas Post. – V. P. 26% Extr. Fechadas Paralelas 9
Locomoção Laminite - Não Trajeto Reto - Passo 9
Avaliado Longo
Garupa 8% Ângulo de Garupa 42% Extr. Alta Extr. Baixa 5
Largura de Garupa 26% Extr. Estreita Extr. Larga 9
Força de Lombo 32% Extr. Fraca Extr. Forte 9
Fonte: ACGJB, 2018; JCS UK, 2021.

No Quadro 1 estão apresentadas as medidas ideais para aquelas


características mensuráveis.
23

Quadro 1 – Dimensões dos respectivos escores lineares para as características


mensuráveis

ESCORE

CARACTERÍSTICAS
LACTAÇÃO MENSURÁVEIS 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Âng. Garupa 2,27 0,48 -1,47 -3,02 -4,08 -5,63 -6,93 -8,49 <
Larg. Garupa 19,05 20,7 22,11 23,55 24,81 26,11 27,48 28,73 <
Prof. Úbere 0,38 4,31 3,79 8,83 10,4 11,64 13,76 15,52 <
1 Comp. Tetos Ant. 1,53 2,29 2,8 3,56 4,32 5,06 6,22 7,87 <
Alt. Úbere Post. 28,9 25,94 24,19 22,68 21,58 19,7 18,44 16,18 >
Larg. Úbere Post. 6,73 8,68 10,03 11,3 12,97 14,25 15,81 17,57 <
Estatura 117,82 119,87 121,83 123,67 125,51 127,26 129,02 130,97 <
Âng. Garupa 2,54 0,91 -0,89 -2,31 -3,28 -4,71 -5,9 -7,32 <
Larg. Garupa 21,2 22,94 24,42 25,94 27,26 28,63 30,07 31,44 <
Prof. Úbere -2,51 1,54 4,1 6,19 7,81 9,09 11,26 13,08 <
2 Comp. Tetos Ant. 1,53 2,29 2,8 3,56 4,32 5,03 6,22 7,87 <
Alt. Úbere Post. 28,54 25,13 24,34 22,79 21,66 19,74 18,45 16,14 >
Larg. Úbere Post. 8,85 10,77 12,11 13,37 15,02 16,29 17,83 19,57 <
Estatura 120,66 122,59 124,45 126,2 127,93 129,59 131,26 133,11 <
Âng. Garupa 4,64 2,63 0,41 -1,34 -2,53 -4,29 -5,76 -7,51 <
Larg. Garupa 22,35 24,22 25,81 27,44 28,86 30,33 31,88 33,35 <
Prof. Úbere -6,47 -1,93 0,93 3,28 5,09 6,52 6,95 10,99 <
3 Comp. Tetos Ant. 2,3 3,06 3,44 3,69 4,96 5,84 7,49 8,75 <
Alt. Úbere Post. 29,88 27,27 25,33 26,55 22,43 20,34 18,95 16,44 >
Larg. Úbere Post. 9,29 11,18 12,49 13,72 15,35 16,58 18,1 19,8 <
Estatura 120,78 122,6 124,46 126,58 128,66 129,91 131,08 133,29 <

Fonte: ACGJB, 2018.

Há correlação entre longevidade e resultado obtido na classificação para tipo.


Considerando os rebanhos atuais, é necessário considerar a classificação como
critério de seleção, o que se deve ao fato da diminuição da longevidade em função de
uma seleção voltada em demasia para a produção (VUCKASINOVIC, 2002). Segundo
Misztal et al. (1992) as características de conformação devem estar alinhadas junto à
seleção de touros altamente positivos para a produção de leite, pois a ausência desse
critério leva a deterioração de estruturas anatômicas, em especial o úbere.
O objetivo da prestação desse serviço por parte das Associações é melhorar a
morfologia das vacas, com seleção genética para estrutura corporal para que essas
possam suportar produções cada vez maiores (KERN, 2013), dentre outras vantagens
apontadas pela US JERSEY (2019), como a possibilidade de ser mensurado no início
24

da vida produtiva - prevendo sobrevivência e lucratividade vitalícia do animal -


associado ao fato de serem características de moderada a alta herdabilidade, de
forma geral.

4.2.1 Tipo Ideal

Na avaliação supracitada, o indivíduo será comparado com a “True Type”, ou


Tipo Ideal para aquela raça. Esse modelo é definido e aprovado pelo Conselho
Deliberativo Técnico e pela Diretoria da Associação da respectiva raça, para então ser
adicionado ao Regulamento e ao programa de classificação da mesma (VALLOTO e
RIBAS NETO, 2012).
Refletindo sobre a beleza funcional do animal, que difere da beleza estética,
Mello (2019) afirma que “Tipo Ideal” é a forma que buscamos na vaca para que
consigamos um impacto econômico positivo para o produtor, através da produção de
grandes quantidades de leite no maior número de lactações possível, com baixo custo
de manutenção”.
Na década de 1920, houve a necessidade de determinar o porquê das
diferenças de longevidade entre os indivíduos do rebanho, ou seja, por qual motivo
umas se mantinham íntegras e produtivas ao longo das lactações e outras não.
Observadas as características comuns entre os grupos, foi criada a primeira True Type
leiteira, com a ajuda de um artista plástico. Técnicos e criadores vêm ao longo dos
anos atualizando esse modelo para adaptar a vaca aos sistemas de criação e níveis
de produção contemporâneos (MELLO, 2019).

4.2.2 Força Leiteira (FL)

Nessa seção são avaliadas seis características individuais, que totalizam um


peso de 31 % para esse composto.

4.2.2.1 Estatura

Característica avaliada entre a última vértebra lombar e o início da garupa, até


o solo, gerando um parâmetro de altura da vaca. O escore desejável para essa
característica vai do 7 ao 9, ou seja, são admitidas como ideias estaturas acima de
25

1,30 m (ACGJB, 2021).


Segundo Weigel et al. (2002), a estatura não tem correlação importante com a
sobrevivência das vacas, apesar de vacas de menor estatura apresentarem menor
taxa de descarte em relação às demais.

4.2.2.2 Nivelamento de Linha Superior (NLS)

É a relação entre as medidas de altura da parte posterior, ou estatura, e a sua


diferença comparada à medida da parte anterior, aferida na altura da escápula.
Consideramos desejável uma diferença de três centímetros da medida anterior para
a posterior (VALLOTO, 2010).

4.2.2.3 Largura de Peito (LP)

Aferida entre os membros anteriores na altura dos sulcos do antebraço, a


Largura de Peito é um indicativo de capacidade corporal do animal em relação ao
sistema cardiorrespiratório que terá maior ou menor amplitude para desempenhar
suas funções (VALLOTO, 2010). Nessa seção o escore 7 é desejável.

4.2.2.4 Profundidade Corporal (PF)

Representa a medida entre o ponto de inserção dorso-lombo na coluna


vertebral e o osso esterno, em vista lateral (ABCBRH, 2002). É desejável que o animal
seja equilibrado, ou seja, escore sete. A falta de profundidade ou escore um é o
chamado corpo cilíndrico, e o inverso disso também não é interessante para a raça
leiteira (VALLOTO, 2010).

4.2.2.5 Angulosidade (AN)

Aqui são avaliadas, de forma geral, as costelas quanto ao ângulo, arqueamento


e distanciamento entre elas, ou seja, o tamanho dos espaços intercostais (JCS UK,
2021). Ângulo e arqueamento referem-se à direção em que as costelas estão fluindo
desde a sua inserção junto à coluna vertebral. O ideal é que as costelas estejam em
ângulo que as direcione no sentido do úbere anterior, imprimindo o escore desejável:
26

nove (VALLOTO, 2016), o que caracteriza uma vaca extremamente angulosa, com
costelas fluindo em direção ao úbere e bem espaçadas entre si.

4.2.2.6 Forma Leiteira

É a seção sob a qual é realizada avaliação de diversas características que


juntas expressam fenotipicamente que aquele animal é de aptidão leiteira. São
consideradas nessa seção: abertura e ângulo das costelas, angularidade, ossatura
quanto a sua condição, comprimento de pescoço, e demais fatores que indiquem a
aptidão leiteira no animal (US JERSEY, 2018).

4.2.2.7 Escore Corporal (ECC)

Essa avaliação é realizada através de observação da garupa, lombo e costado.


Diferente das demais características, o escore vai de 1 a 5 (VALLOTO, 2016). Sendo
desejável o escore 3 para essa seção, caracterizando um animal ponderado, indo de
encontro à média entre o ECC ideal para vacas em lactação, sugerido por DOMECQ
(1997). Na Tabela 2 estão apresentados os escores de condição corporal ideais
relacionados às fases da vida produtiva.

Tabela 2: Condição de escore corporal indicado para fase de vida produtiva


ESTÁGIO DE ECC IDEAL INTERVALO
LACTAÇÃO SUGERIDO
Período Seco 3,50 3,25-3,75
Parto 3,50 3,25-3,75
Início Lactação 3,00 2,50-3,25
Meio Lactação 3,25 2,75-3,25
Fim Lactação 3,50 3,00-3,50
Novilhas 3,00 2,75-3,25
Crescimento
Novilhas ao Parto 3,50 3,25-3,75
Fonte: DOMECQ, 1997.
27

Domecq et al. (1997), estudando a relação entre ECC e gordura subcutânea


em vacas, determinada pela técnica de ultrassonografia, concluíram que o ECC
refletiu adequadamente as reservas de gordura neste tecido.
O ECC é um dos indicadores de equilíbrio entre o manejo alimentar e a
viabilidade econômica de produção. Esse índice tem diversas correlações com a
ocorrência de comorbidades nas diferentes fases do ciclo produtivo do animal. Na
secagem e pré-parto é preconizado que a redução de ECC seja impedida, mas o
índice também deve permitir acréscimos na nutrição para prepará-la para a próxima
lactação. No período de parto é importante que o animal não esteja com ECC alto, o
que predispõe a comorbidades no periparto, resultando em alterações de fertilidade.
A manutenção do ECC no início da lactação também deve ser considerada, para evitar
demasiada perda de peso devido à alta demanda energética. E por fim, no período
de serviço, os indivíduos devem ter ECC equilibrado visando uma taxa ótima de
fertilidade e ciclicidade (SANTOS e VASCONCELOS, 2007).
Há um relação entre ECC e claudicações. O baixo escore corporal tende a vir
acompanhado de claudicações decorrentes da inclinação lateral do casco e
achatmento da almofada digital. Entretanto, animais com alto ECC, estão mais
sucetíveis a claudicações pois estima-se que a cada 100 kg de peso corporal,
aumenta em 1,9 mais chances de aparecimento de manqueiras por (NICOLETTI,
2003).

4.2.3 Garupa

A principal função de avaliar o composto garupa está ligada a íntima relação


que tem com o trato reprodutivo do animal. Segundo Jubinville (2018) e Atkins et al
(2012), as características de garupa exercem influência sobre o posicionamento do
trato reprodutivo, portando sobre a fertilidade, facilidade de parto e drenagem do trato
reprodutivo no pós-parto, bem como na mobilidade. A fim de garantir o melhor
desempenho e evitar problemas e perdas, portanto custos para o animal e produtor,
são avaliadas as três características apresentadas a seguir:
28

4.2.3.1 Ângulo de Garupa (AG)

Corresponde à relação entre a altura dos ísquios e íleos. Sendo a diferença da


estatura da ponta do ísquio com a extremidade do íleo (PARIZOTTO FILHO et al,
2017), com a vaca em posição normal, em estação. Segundo Aragon (2018) e a JCS
UK (2021), os ísquios devem estar 4 a 5 cm mais baixos do que os íleos, configurando
um ligeiro desnivelamento que garante que o trato reprodutivo possa ser mantido no
alto da cavidade abdominal.

4.2.3.2 Largura da Garupa (LG)

A garupa de uma vaca em perfil lateral e posterior, parada e caminhando deve


ser ampla, larga e comprida (VALLOTO, 2016; VALLOTO e RIBAS NETO, 2012). A
LG é de suma importância para além dos fatores supracitados, pois 40% da glândula
mamária está introduzida na garupa, que se desenvolve proporcionalmente à medida
que a glândula mamária evolui para suportar o aumento de produção (ATKINS et al.,
2012).
Essa medida é a distância entre os dois ísquios do animal (HOLSTEIN
CANADA, 2021). O desejável é o escore 9, o que significa medidas acima de 28,78
cm; 31,44 cm; e 33,35 em primeira, segunda e terceira lactação, respectivamente.

4.2.3.3 Força de Lombo

É a sustentação exercida pelas vértebras entre a coluna e o lombo (JCS UK,


2021). Diante disso busca-se um lombo largo, mais alto que as extremidades dos
íleos, com leve arqueamento, as vértebras lombares devem estar definidas ligando-
se harmoniosamente a garupa (VALLOTO e RIBAS NETO, 2012). Ou seja, uma
garupa fortemente sustentada (PARIZOTTO FILHO et al, 2017), caracterizada pelo
escore 9.

4.2.4 Pernas e Pés

O composto Pernas e Pés vem sendo associado a índices de saúde do animal,


já que a sua manutenção está intimamente ligada a locomoção e a mobilidade e todos
29

os atributos que delas dependem, como: atividades reprodutivas, alimentação,


ordenha, conservação do bem-estar. O desenvolvimento de comorbidades como
laminite e claudicações de forma geral, levam ao declínio da produção, déficits
econômicos e descartes involuntários (ATKINS et al, 2008).
Além disso, a conformação ideal de pernas e pés permite um encaixe perfeito
de úbere e tetos entre os membros, bem como sua manipulação, pontos fundamentais
no manejo de ordenha e conforto do animal.

4.2.4.1 Ângulo de Casco (AC)

É aferido cranialmente na região da pinça, se dá pelo ângulo formado entre a


sola e a muralha do casco no sentido ascendente até a coroa (NBDC, 2020). Devido
ao desenvolvimento da podologia bovina, o casqueamento passou a ter caráter
profilático para manutenção de ângulo de casco nos rebanhos leiteiros. O AC ideal,
representado pelo escore 7 é de 45°.

4.2.4.2 Profundidade do Talão (PT)

É mensurada pela avaliação da distância entre a sola e a coroa do casco,


aferida na porção caudal dos posteriores. É considerada ideal uma profundidade de
3,5 a 4 cm, representada pelo escore 9, sendo assim a redução da profundidade
também resulta em perda de pontos (VALLOTO, 2016).
Essa região de talão compreende e protege os coxins, que atuam como
almofadas enquanto o animal se locomove, sendo assim os talões são parte
fundamental do sistema de amortecimento durante a locomoção (KONIG e LIEBICH,
2016).

4.2.4.3 Qualidade Óssea (QO)

É aferida nos membros posteriores na região de jarrete, e canela. O desejável


é um membro descarnado com ossatura plana, achatada com tendões definidos,
limpa, resultando em escore 9 (VALLOTO, 2016). Sendo assim, quanto mais grosseira
a região descrita for, maior a quantidade de pontos.
30

4.2.4.4 Pernas Posteriores – Vista Lateral (PVL)

Analisa-se o ângulo de curvatura em região de jarrete considerando a vista


lateral dos membros posteriores. O desejável é que haja um ângulo de 150°,
caracterizando como intermediário, escore 5. Os escores de 1 a 3 representam em
torno de 160° de curvatura; e 7 a 9 representam ângulos acerca de 134°; 4 a 6 estão
próximos ao desejável de 150° (JCS UK, 2021).

4.2.4.5 Pernas Posteriores – Vista Posterior (PVP)

Avaliação de membros posteriores em relação ao ponto de equilíbrio entre a


ponta dos íleos, passando pelos jarretes, em direção ao solo, tendo como desejável a
projeção de duas linhas retas paralelas que decorrem por esses três pontos. A partir
da projeção dessas linhas avalia-se o quão rotacionado, ou não, os jarretes se
encontram. É desejável escore 9 nessa seção, o que indica pernas paralelas, sem
considerável grau de rotação de jarretes, o que significa que conforme houver rotação
para dentro, promovendo fechamento das pernas, menor será o escore (VALLOTO,
2016).

4.2.4.6 Locomoção

Nessa seção é preconizado o escore 9, que significa uma locomoção em que


o trajeto foi percorrido em linha reta, com passo longos e movimentação harmônica.
As pontuações para locomoção estão apresentadas na Tabela 3.
31

Tabela 3: Pontuação para locomoção


1 Laminite, não avaliado
2 Severo paddle-gait
3 Intermediário paddle-gait
4 Suave paddle-gait – passo curto

5 Suave paddle-gait – passo médio


6 Suave paddle-gait – passo longo
7 Trajeto reto – passo curto
8 Trajeto reto – passo médio
9 Trajeto reto – passo longo
Fonte: US JERSEY, 2018.

4.2.5 Sistema Mamário

É o composto mais importante e de maior peso: 48%, da CLT vêm de sua


avaliação.
Localizado na região inguinal, o úbere é a junção de todos os tecidos
relacionados com a síntese, armazenamento e retirada do leite. Associado a maior
longevidade e vida produtiva das vacas, a seleção voltada para características de
conformação do sistema mamário é fundamental no desenvolvimento de um
melhoramento genético eficiente (SANTOS e FONSECA, 2019).

4.2.5.1 Inserção de Úbere Anterior

É avaliada pela mensuração da força de inserção do úbere anterior na parede


abdominal (VALLOTO, 2016). Para suportar o peso do úbere que pode chegar a 50-
60 kg é necessária uma estrutura de sustentação eficiente, sendo que o principal
tecido de sustentação é o ligamento suspensório medial que fixa a glândula mamária
à parede abdominal e também à pelve – o que será descrito na característica
ligamento mediano (SANTOS e FONSECA, 2019).
De acordo com Santos e Fonseca (2019), a elasticidade desse ligamento é
fundamental na absorção de impactos sobre a glândula mamária, mas o seu
relaxamento excessivo não é interessante pois leva o úbere a obter caráter pendular
que resulta em desajustes no manejo de ordenha, predispondo lesões em tetos e
infecções. Com o passar das lactações, naturalmente há relaxamento dos ligamentos,
32

por isso a Classificação Linear na primeira cria é fundamental, predizendo o futuro


desse animal em relação à saúde do úbere.
É desejável uma inserção de úbere anterior extremamente forte, simbolizada
pelo escore 9 na CLT, sendo preconizada a formação de um ângulo maior traçado da
parede abdominal, até a inserção do úbere em relação ao solo, imprimindo suavidade
na transição entre o úbere e o abdômen.

4.2.5.2 Colocação de Tetos Anteriores

Observada em vista caudal, avalia o posicionamento dos tetos anteriores no


centro do quarto mamário. A posição dos tetos afeta diretamente o manejo de ordenha
na colocação do conjunto de teteiras, bem como pode contribuir para o aumento da
ocorrência de mastite (SANTOS e FONSECA, 2019). É desejável que os tetos estejam
no centro do úbere, gerando um escore de 4 a 6, sendo 5 o ideal. Quanto menor o
escore, mais abertos ou voltados lateralmente os tetos estão, e quanto maior o escore
mais fechados ou voltados medialmente os tetos se encontram (JCS UK, 2021).

4.2.5.3 Comprimento dos Tetos (CT)

O CT deve ser compatível com o padrão racial, no caso da raça Jersey em


torno de 4,32 a 5 cm, ou escore ideal 5 caracterizando uma dimensão intermediária.
O tamanho dos tetos é importante para o manejo de ordenha e facilidade da colocação
do conjunto de teteiras, também relacionados a probabilidade de desenvolvimento de
mastite (SANTOS e FONSECA, 2019).
É importante salientar a correlação negativa que o tamanho dos tetos tem com
o fluxo médio de leite durante a ordenha, ou seja, quanto menor for o teto, maior o
fluxo, bem como a correlação positiva que apresenta em relação a quantidade de leite
residual, ou seja, quanto maior o teto maior a quantidade de leite residual acumulada
nesse (SANTOS e FONSECA, 2019).

4.2.5.4 Altura de Úbere Posterior (AUP)

A AUP tem relação com as estruturas anatômicas de sustentação da glândula


mamária, que formam o aparelho suspensório do úbere (KONIG e LIEBICH, 2016).
33

Dentre essas, a principal é o ligamento suspensório lateral, composto de tecido


conjuntivo fibroso, que se insere nos ossos púbicos e tendões da parede abdominal
conferindo estrutura ao úbere (SANTOS e FONSECA, 2019). Portanto é desejável um
úbere de inserção extremamente alta, escore 9, indicando que o órgão está
devidamente estruturado e encaixado na pelve e no abdômen, podendo suportar altas
produções ao longo da vida.
É aferido em visão caudal da vaca, onde o classificador mede a distância entre
o final da vulva próximo à altura dos ísquios e o começo do úbere. A altura ideal é de
até 16 cm, indicando escore 9.

4.2.5.5 Largura de Úbere Posterior (LUP)

É a medida aferida caudalmente entre os dois sulcos onde o úbere encontra o


membro posterior, na altura onde o tecido secretor começa (JCS UK, 2021). O
desejável é o escore 9, caracterizando úbere extremamente largo , maior que 19 cm
após a primeira lactação (VALLOTO, 2016). A LUP é indicativa de alta produção e
longevidade.

4.2.5.6 Colocação de Tetos Posteriores

É o posicionamento dos tetos posteriores em relação ao centro do respectivo


quarto mamário a que pertence, visto de trás (JCS UK, 2021).
É preconizado o escore 5, ou intermediário para essa característica, indicando
que esses se encontram ao centro do quarto. Pontuações mais baixas indicam tetos
posteriores voltados para fora, para as laterais. Pontuações mais altas indicam tetos
mais fechados, voltados para a linha medial (JCS UK, 2021).

4.2.5.7 Profundidade do Úbere

É avaliada pela distância entre o jarrete e o piso do úbere, avaliando-se o


quanto estão para cima ou para baixo dos jarretes. Nesse tópico se espera uma
profundidade de caráter intermediário, que corresponde a 5, pois úberes muito
profundos estão relacionados à baixa predisposição a mastite e outras comorbidades
que afetam os tetos e a glândula mamária. Por outo lado úberes muito rasos resultam
34

em pequena capacidade de produção (VALLOTO, 2016).


Variando entre 10,40 cm acima do jarrete na primeira lactação, até 5,09 cm da
terceira lactação em diante (ACGJB, 2021).

4.2.5.8 Textura do Úbere

Nesse tópico o úbere é avaliado visualmente quanto a ser macio, sedoso e


visivelmente vascularizado. O que se espera como ideal é um úbere extremamente
macio, de aspecto sedoso, com vascularização aparente e bem definida, indicando o
escore 9. O contrário disso é um úbere carnudo, grosso, com vascularização pouco
visível e definida, caracterizando escores mais baixos (JCS UK, 2021).
É importante lembrar que é necessário um fluxo de 600 (seiscentos) litros de
sangue para a produção de 1 (um) litro de leite na glândula mamária, por isso a
vascularização deve ser generosa e abundante (SANTOS e FONSCECA, 2019;
KONIG e LIEBICH, 2016).

4.2.5.9 Ligamento Mediano (LM)

O aparelho suspensório do úbere conta com um conjunto de ligamentos, dentre


eles o ligamento medial ou mediano. Devido à alta necessidade de sustentação de
peso e produção da glândula mamária, é fundamental a conservação da conformação
desse ligamento, pois ele fixa o úbere à pelve e também à parede abdominal
(SANTOS e FONSCECA, 2019). Devido a sua abrangência, o LM é considerado a
principal estrutura de sustentação da glândula mamária.
Nessa seção é avaliada a profundidade da fenda do úbere formada entre os
quartos mamários traseiros (US JERSEY, 2019). Quanto mais forte o ligamento, maior
a fenda, e o ideal é que o LM se apresente extremamente forte, com escore 9, o que
significa um sulco com profundidade igual ou maior a 7,5 cm (VALLOTO e RIBAS
NETO, 2010).

4.2.6 Defeitos

São listados uma série de defeitos a serem considerados durante a


classificação linear para tipo que levam o classificador a tomar nota e registrá-la na
35

análise de conformação do animal. São eles: Ânus Avançado; Cauda Avançada,


Torcida e/ou Alta; Inclinado Anterior; Inclinado Posterior; Anterior Curto; Posterior
Curto; Falta de Conformação; Quarto Descompensado; Quarto Cego; Teto
Palmípede; Tetos Anteriores para Trás; Tetos Posteriores para Trás; Unha Torcida;
Quartela Fraca; Derrame de Jarretes; Insuficiência Óssea; Câimbra; Coxo Femoral
Atrasado ou Avançado; Pés para Fora; Desvio de Chanfro; Mandíbula com Defeito;
Costelas Anteriores Apertadas; Escápula Fraca; Dorso Fraco; Falta de Arqueamento
e Falta de Equilíbrio (ACGJB, 2021).
No geral, todos esses defeitos resultam na perda de 1 ponto por defeito. Exceto
por quarto seco, tetos palmípedes e câimbra, que geram uma penalização de 5
pontos.

4.2.7 Avaliação Final e Classes

Ao final da análise de conformação, após pontuar cada seção, o classificador


vai distribuir os pesos para as respectivas características do composto. Ao finalizar
essa etapa, considerando os defeitos presentes, serão distribuídos os pesos dos
compostos, a partir dos quais dará uma nota final entre 50 e 97 pontos. A pontuação
irá servir para enquadrar o indivíduo nas respectivas classes: Fraca (F), Regular (R),
Boa (B), Boa para Mais (B+), Muito Boa (MB), ou Excelente (EX), como apresentado
na Tabela 4.

Tabela 4 – ENQUADRAMENTO DE CLASSES CONFORME PONTUAÇÃO


Classe Pontuação Final
EX 90 a 97 pontos
MB 85 a 89 pontos
B+ 80 a 84 pontos
B 75 a 79 pontos
R 65 a 74 pontos
F 50 a 64 pontos
Fonte: NBDC, 2021.

Na pontuação final deve ser considerado o número de lactações da vaca até o


momento da classificação, impondo um limite máximo de pontuação para aquele
animal conforme listado na Tabela 5. Apenas a partir da 5ª lactação a fêmea pode
36

receber pontuação.

Tabela 5 – MÁXIMO DE PONTUAÇÃO ATINGIDA EM RELAÇÃO A LACTAÇÃO


Pontuação Máxima por Lactação
1ª lactação 89 pontos
2ª lactação 91 pontos
3ª lactação 93 pontos
4ª lactação 94 pontos
5ª lactação indiferente
Fonte: NBDC, 2021.

4.3 CONTROLE LEITEIRO

De acordo com a IN 78 de 2018 do MAPA, controle leiteiro é a aferição e


respectivo registro dos componentes quali e quantitativos da produção leiteira
individual por lactação, que de forma geral acontece em um período de 305 dias.
Através de métodos específicos e treinamento de todos os envolvidos no processo,
da coleta realizada pelos controladores, até a análise das amostras.
Todas as fêmeas submetidas ao CL devem estar devidamente identificadas e
inscritas no Serviço de Controle Leiteiro. As amostras só podem ser analisadas por
laboratórios certificados pelo INMETRO na ISO 17025 para a realização da presente
atividade (MAPA, 2018).
Esse método é uma forma coesa de mensurar a curva de lactação para
projeção dos dados totais da mesma (EMBRAPA, 2016). Através dessa ferramenta
também é possível controlar e registrar a qualidade do leite produzido, em teor de
sólidos e contagem de células somáticas. O CL é uma prova zootécnica que gera
índices de evolução produtiva individual, fundamental para tomada de decisões
relacionadas a seleção e ao melhoramento genético do rebanho. Através dele é
possível controlar e gerar dados sobre produção e qualidade do leite, saúde da
glândula mamária, histórico do rebanho, reprodução e eficiência do programa de
melhoramento instituído na propriedade (APCBRH, 2020).
37

4.4 HERDABILIDADE (h2)

Herdabilidade, representada por h2, é a proporção da variância genética em


relação a variância fenotípica. Ou seja, aponta quanto do fenótipo é de origem
genética, tendo como função principal a predição do que influenciará a progênie
(EUCLIDES FILHO, 1999). A herdabilidade varia de zero a um, sendo classificada
como baixa, moderada, e alta conforme demonstrado na Tabela 6.

Tabela 6 - INTERVALOS DE HERDABILIDADE CONFORME CARÁTER DE


TRANSMISSÃO

HERDABILIDADE CARÁTER
0 - 0,20 Baixa
0,20 - 0,40 Moderada
0,40 - 1,00 Alta
Fonte: BOURDON, 1997.

Interpretação: características de h² baixas são aquelas em que o ambiente


exerce maior influência, bem como são corrigidas a longo prazo pois somente se
observa o resultado da seleção após várias gerações. A h² moderada significa que as
características são influenciadas tanto pelo ambiente, quanto pela genética. E por fim,
os atributos de h² alta são os mais importantes na seleção, pois são aqueles
influenciados majoritariamente pela genética. Exemplo: h² = 0,30, significa que 30%
da variação observada é de origem genética. Já quando a h²= 0,50 significa que 50%
daquela variância é de origem genética e 50% de origem ambiental.
Análises de variância e regressão sobre as semelhanças fenotípicas e
genéticas são as metodologias mais utilizadas para calcular a h². Pode ser mensurada
através da fórmula: h²=VA/VP, onde VA é a variância genética aditiva e VP é a
variância fenotipica (TAMIOSO e DIAS, 2013).
38

4.4.1 Herdabilidade das Características Lineares

4.4.1.1 Herdabilidade da Pontuação / Classe Final

A h² para pontuação final varia de baixa a moderada herdabilidade, como pode


ser observado na Tabela 7.

Tabela 7 – Valores de herdabilidade para pontuação final relatados por diversos


autores

Autores Pontuação final

Pedrosa e Valloto (2015) 0,21

Costa et al. (2013) 0,20

Campos et al. (2012) 0,20

Zavadilová (2012) 0,21

Misztal et al (1992) 0,29

Short & Lawlor (1992) 0,26

Jamrozik et al. (1991) 0,18

Meyer et al. (1987) 0,38

Thompson et al. (1983) 0,28

Fonte: VALLOTO, 2016.

As características lineares avaliadas em conjunto e de uma forma generalista,


são características corrigíveis através de seleção a longo e médio prazo.

4.4.1.2 Herdabilidade das Características Individuais

Valloto (2016), considerando classificações em vacas de primeiro parto entre


2010 e 2014, concluiu que as herdabilidades dos compostos são baixas de maneira
geral, variando de 0,09 a 0,19 com as características avaliadas em conjunto.
De forma específica, algumas características se destacam, como comprimento
de tetos, profundidade de úbere, estatura, ângulo de garupa e largura de garupa
que em ambos os estudos apresentaram h² moderada, em especial
39

comprimento de tetos. Na Tabela 8 estão apresentados os índices de


herdabilidade para as características de exterior da raça Jersey.

Tabela 8 - ÍNDICES DE HERDABILIDADE DE CARACTERÍSTICAS DE EXTERIOR NA RAÇA JERSEY

CARACTERÍSTICA HERDABILIDADE CARACTERÍSTICA HERDABILIDADE

Características Corporais Características de Úbere

Estatura Ligamento Úbere 0.18


0.32 Anterior

Força Altura Úbere Posterior 0.20


0.17

Forma Leiteira Largura Úbere Posterior 0.16


0.17

Ângulo de Garupa Profundidade de Úbere 0.29


0.21

Largura de Garupa Suporte Central 0.12


0.16

Pernas Posteriores Colocação Tetos 0.20


0.08 Anteriores

Ângulo de Pés Comprimento Tetos 0.21


0.09 Anteriores

Tetos Post. Vista 0.13


Posterior

Tetos Post. Vista 0.21


Lateral

Fonte: US JERSEY, 2018.

Pode-se observar que as herdabilidades apresentadas foram de baixa a


moderada, sendo estatura com maior h², 0,32 seguida de profundidade de úbere, 0,29.
Outras características que tiveram h² moderada foram ângulo de garupa, comprimento
de tetos anteriores e tetos posteriores vista lateral. As demais características
apresentaram baixa herdabilidade.
É importante ressaltar que as Classificações Lineares avaliadas pela American
Jersey Cattle Association (US JERSEY), desde a década de 1980 até o atual
momento, são resultantes do modelo americano, portanto diferem do Canadense. São
diferentes no modelo de pontuação, peso das seções e dos componentes, mas a
40

finalidade é a mesma bem como a maioria das características avaliadas.

4.4.2 Herdabilidade das Características de Produção

Em seu estudo, Buzzo (2016), evidenciou as estimativas de herdabilidades em


população em 305 dias de lactação (Tabela 9).

Tabela 9 – Herdabilidade das características de produção da população geral em


comparação com as vacas vitalícias

CARACTERÍSTICA POPULAÇÃO VACAS


GERAL VITALÍCIAS
Produção de Leite 0,34 0,54

Produção de Gordura 0,39 0,43

Produção de Proteína 0,24 0,39

Fonte: Adaptada de Buzzo, 2016.

Todas as características de produção se demonstraram positivas e de


moderada a alta herdabilidade. Houve um aumento das h² nas vacas vitalícias, que
são aquelas com produção acumulada de 60.000 kg de leite ou 2.760 kg de gordura
ou 2.160 kg de proteína, nas lactações encerradas e controladas por controle leiteiro
oficial.

4.5 RELAÇÕES ENTRE CARACTERÍSTICAS LINEARES E DESCARTE

Em seu estudo, com base no modelo de classificação americano, Weigel e


colaboradores (2002), objetivaram relacionar as características lineares com a taxa de
descarte, assim obtiveram os seguintes resultados:
• Estatura – vacas com menores estaturas apresentaram 6% mais chances de
descarte em relação as vacas “ótimas” para tal características;
• Força – os maiores riscos de descarte estão relacionados a extrema força,
cerca de 30% a mais de chances em comparação com a vaca ideal;
• Forma Leiteira – o risco de descarte é maior em 38% para aqueles animais com
excessivo descarnamento e baixa angulosidade dentre outras características
41

que desabonam o caráter leiteiro do animal, em relação a vacas com escores


ideais;
• Ângulo de Garupa – animais com garupa escorrida, ou seja, íleos
excessivamente mais altos do que os ísquios, apresentaram 16% mais risco de
descarte se comparados a vacas com angulação de garupa ideal.
• Largura de Garupa – o risco de descarte foi maior em vacas com garupas bem
largas, em torno de 18% a mais em relação a vacas com largura intermediária
e desejável de garupa.
• Pernas e Pés – vacas com pernas posteriores muito curvas demonstraram
acréscimo de 30% nas chances de descarte em relação aos animais com
escore desejável para a característica;
• Ângulo de Casco – cascos que se apresentam com angulação menores, dando
aparência de “achinelamento”, tem risco de 22% para descarte em relação as
demais condições de casco;
• Ligamento de Úbere Anterior – vacas com baixo escore, portanto, com fixação
de úbere anterior frágil, com úbere predisposto a aparência pendular, tem 125%
a mais de chances de serem descartadas quando comparadas a vacas com
forte fixação;
• Altura de Úbere Posterior – quanto mais baixo o úbere, maior a probabilidade
de descarte, chegando a índice de + 30% de chance para o escore mais baixo;
e +18% para animais com úbere muito altos;
• Largura do Úbere Posterior – aqui, as chances de descarte aumentaram cerca
de 15 a 16% tanto para úberes extremamente estreitos, quanto para úberes
extremamente largos, em relação a animais com largura ideal e intermediária
de úbere;
• Profundidade de Úbere – úberes profundos impõe até 125% mais chance de
descarte ao animal do que úberes rasos;
• Ligamento Central – ligamento mais fraco, com fenda superficial, gerando baixo
escore na seção, denotam + 76% chances do animal ser descartado em
relação a vaca ideal para essa característica;
• Posicionamento de Tetos Anteriores – tetos abertos implicam em um aumento
de 31% maiores chances de descarte em relação a tetos posicionados no
centro de seu respectivo quarto mamário.
42

5 PESQUISA APLICADA

O presente estudo constitui pesquisa aplicada conforme as suas características


de geração de novos conhecimentos sobre as relações entre produção e demais
ferramentas e métodos que influem sobre a mesma, gerando conhecimentos práticos
para a melhoria da raça e da produção através da análise e tratamento de dados.
Destaca-se a importância de ferramentas de melhoramento genético que estão
disponíveis para o produtor, dando caráter de aplicação em curto a médio prazo e
resultados que variam de curto a longo prazo.

5.1 MATERIAL E MÉTODOS

A primeira fase do estudo realizado foi baseada na coleta de dados de 275


animais da Raça Jersey, registrados na ACGJB, submetidos a Controle Leiteiro Oficial
na primeira lactação e Classificação Linear para Tipo até a terceira lactação,
totalizando 2.750 amostras de leite e 275 amostras de análise de conformação linear.
Após tabulados, os resultados de controle leiteiro das 275 vacas foram
subdivididos nas classes: B, MB, ou EX. Então foi calculada a média de produção de
leite, teor de gordura e teor de proteína por categoria de classe linear, para avaliação
do mérito produtivo das vacas melhores classificadas, dando ênfase na importância
da realização desse serviço nas propriedades leiteiras.
Também foram coletados dados de Controle Leiteiro Oficial dos anos 2010 e
2020, a fim de fazer uma análise comparativa entre as categorias: 1 ano parida, 2
anos júnior, 2 anos sênior, 3 anos júnior, 3 anos sênior, 4 anos júnior, 4 anos sênior,
5 anos, 6 anos, 7 anos, adulta júnior, adulta sênior; dos dois anos, para avaliar a
evolução da produção em um intervalo de 10 anos, considerando amostras de animais
em regime de duas ordenhas ao dia, com lactações fechadas (305 dias).
Com essa finalidade, foram tabulados dados de 318 animais no ano de 2010,
totalizando 3.180 amostras de leite; e 1081 animais no ano de 2020, totalizando
10.810 amostras de leite. Após concluir a coleta de informações, foram estimadas as
médias de produção de leite, gordura e proteina por categoria; bem como para as
porcentagens de gordura e proteína.
Para justificar os resultados obtidos na segunda fase do estudo, foram
levantadas informações e dados acerca do que veio a contribuir para esse resultado
43

final, quanto a utilização de análise genômica, biotecnologias da reprodução,


importação de material genético, aprimoramento dos programas de melhoramento
animal e seleção, busca por análise de conformação linear, novas regras de controle
de gerações e pureza racial, dentre outros fatores que tiveram potencial influência
sobre os resultados de produção obtidos pela Raça Jersey nos últimos 10 anos.

5.2 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.2.1 Classe em Relação a Produção

Tabela 10 – Produções e médias de produção obtidas por animais de diferentes


classes lineares
CLASSE LINEAR
PRODUÇÃO bom muito bom excelente
TOTAL (litros) 613.146,4 760.110,6 287.835,0
PRODUÇÃO 6.011,2 6.032,6 6.124,1
MÉDIA POR
ANIMAL (litros)
DESVIO 1.322,2 1.196,4 1.284,8
PADRÃO

Animais classificados como MB (muito bom) produzem 21,4 litros a mais que B
(bom) por lactação. Animais EX (excelentes) produzem 91,5 litros a mais que a MB
por lactação. Animais EX produzem 112,9 litros a mais que a B por lactação.
Segundo o Boletim Leite da Esalq/USP em abril de 2021, o valor pago para o
produtor por litro de leite varia em torno dos R$ 2,00/ litro. Lembrando que rebanhos
da raça Jersey muitas vezes tem valor agregado devido a bonificação por teor de
sólidos. Diante disso, como o elucidado na tabela abaixo, podemos ver o aumento nos
índices de remuneração relacionados a conformação linear do animal. Esse cálculo
foi baseado apenas nas diferenças entre produções das classes, considerando
valores individuais e também uma propriedade de médio porte com um total de 50
vacas em lactação.
44

Tabela 11 – Diferenças de produção entre as classes lineares em uma lactação


COMPARAÇÃO
MB – B EX – MB EX – B
LITROS 21,4 91,5 112,9
valor recebido a mais R$ 42,77 R$ 183,05 R$ 225,82
por lactação, por animal
- R$ 2,00/ litro

considerando um R$ 2.138,51 R$ 9.152,51 R$ 11.291,02


rebanho de 50 vacas em
lactação

Esses resultados têm um caráter muito significativo quando se considera o


aumento da longevidade dos rebanhos, redução da taxa de descarte (WEIGEL et al.,
2002), e que, além do aumento do lucro, há redução de custos com comorbidades
resultantes de uma morfologia desequilibrada, reforçando assim a importância de
incluir nos programas de melhoramento genético a seleção de animais para
características lineares de tipo.
Devido à alta demanda observada no mercado bovino, há uma situação de
escassez de novilhas de alta qualidade. Além disso, a classificação em primeira
lactação permite seleção precoce do rebanho por ser um indicador de sobrevivência
em vacas ainda jovens, muitas vezes prevendo futuras comorbidades para aquele
indivíduo. Dentre todas as características, as de úbere, especialmente profundidade,
afetam diretamente os índices de permanência (WEIGEL, 2002).
Para a produção de gordura e proteína, comparando as classes, não foi
observada diferença significativa entre os teores de gordura e proteína (Tabela 12).

Tabela 12 – Diferença de produção de gordura e proteína entre as classes lineares


B: MB MB: EX B: EX
%G 0,25 % 0,03 % 0,27 %
%P 0,07 % 0,10 % 0,17 %

As MB produziram leite com 0,25% mais gordura, e 0,07% mais proteína em


relação as B; as EX produziram 0,03% e 0,27% mais gordura do que as MB e B
respectivamente, bem como 0,10% e 0,17% mais proteína do que as MB e B,
respectivamente. De forma geral, os valores obtidos para cada classe em relação a
45

produção estão apresentados na Tabela 13.

Tabela 13 – Médias de produção nas diferentes classes


PRODUÇÃO GORD. % GORD. PROTEÍNA % PROTEÍNA
B
GERAL 613146,4 28071,9 463,03% 21661,4 360,12%
MÉDIA 6011,2 275,2 4,54% 212,4 3,53%
Ꝺ 1322,16 86,06 0,008 49,82 0,002
MB
GERAL 760110,6 36923,4 602,93% 27761,6 453,36%
MÉDIA 6032,6 293,0 4,79% 220,3 3,60%
Ꝺ 1196,41 76,18 0,009 45,35 0,003
EX
GERAL 287835,0 13647,0 226,11% 10613,0 173,96%
MÉDIA 6124,1 290,4 4,81% 225,8 3,70%
Ꝺ 1284,76 75,59 0,011 45,28 0,003

5.2.2 Evolução da Produção do Rebanho Jersey Nacional nos Últimos 10 anos

Com o objetivo de observar a evolução da Raça Jersey no Brasil nos últimos


dez anos, foram obtidos os resultados elucidados nas Tabelas 14 e 15.
46

Tabela 14 – Resultados obtidos nos anos de 2010 e 2020 para as mesmas


características nas diferentes classes 1 ano parida a 4 anos Júnior
ANO IDADE DIAS EM PROD. PROD. % PROD. %
(meses) LACTAÇÃO LEITE GORDURA PROTEÍNA
2010 22 303 4722,3 213,9 4,59 167,7 3,56
σ 2 5 1011,5 37,7 0,49 34,6 0,18
2020 22 303 6751,4 315,5 4,71 246,4 3,66
σ 1 4 1418,7 81,2 0,96 53,8 0,43
2 ANOS JUNIOR
2010 26 303 5351,9 230,1 4,31 188,4 3,54
σ 2 4 1456,2 63,0 0,45 50,3 0,21
2020 26 303 6491,1 295,6 4,59 233,5 3,61
σ 2 5 1188,9 62,0 0,72 42,8 0,26
2 ANOS SÊNIOR
2010 33 304 5021,0 222,3 4,42 180,9 3,62
σ 2 3 1506,9 70,2 0,55 53,3 0,22
2020 33 303 7278,1 334,2 4,61 268,5 3,70
σ 2 5 1365,0 77,4 0,74 47,4 0,24
3 ANOS JÚNIOR
2010 38 304 6137,4 260,1 4,25 220,4 3,61
σ 2 4 1497,7 66,3 0,51 52,4 0,23
2020 38 303 7316,8 334,2 4,59 269,2 3,69
σ 2 5 1255,8 75,3 0,80 47,6 0,27
3 ANOS SÊNIOR
2010 45 303 6292,3 277,2 4,43 230,2 3,66
σ 2 4 1432,2 64,0 0,55 52,2 0,22
2020 45 303 8087,1 375,2 4,67 299,0 3,71
σ 2 4 1474,7 94,4 0,96 53,6 0,28
4 ANOS JUNIOR
2010 50 304 6286,8 280,0 4,45 229,0 3,65
σ 2 2 1504,2 78,3 0,63 54,1 0,24
2020 50 303 7554,2 335,1 4,46 279,1 3,71
σ 2 5 1231,2 65,6 0,67 43,3 0,27
47

Tabela 15 – Resultados obtidos nos anos de 2010 e 2020 para as mesmas


características nas diferentes classes a partir de 4 anos sênior a adulta sênior
ANO IDADE DIAS EM PROD. PROD. % PROD. %
(meses) LACTAÇÃO LEITE GORDURA PROTEÍNA
4 ANOS SÊNIOR
2010 57 303 6228,3 263,9 4,25 224,8 3,63
σ 1 5 1475,0 60,0 0,49 51,2 0,19
2020 57 303 7747,2 348,1 4,52 285,6 3,70
σ 2 5 1629,3 82,5 0,69 57,6 0,29
5 ANOS
2010 65 304 5922,0 253,6 4,25 212,5 3,60
σ 7 4 1488,2 75,2 0,51 50,2 0,16
2020 65 303 7764,7 348,7 4,52 283,2 3,66
σ 4 5 1442,9 85,5 0,85 52,7 0,28
6 ANOS
2010 78 304 6227,5 264,4 4,19 221,4 3,56
σ 4 4 1535,2 91,2 0,81 54,3 0,19
2020 77 304 7523,3 343,6 4,59 275,5 3,67
σ 3 3 1363,6 74,7 0,74 48,6 0,23
7 ANOS
2010 89 304 5931,8 252,3 4,29 210,4 3,58
σ 3 2 1546,2 59,9 0,54 46,6 0,23
2020 89 304 7407,6 331,3 4,48 273,1 3,70
σ 4 3 1354,0 72,9 0,61 50,2 0,26
ADULTA JUNIOR
2010 104 304 5787,3 250,0 4,28 206,4 3,60
σ 7 4 1628,4 83,2 0,56 52,6 0,23
2020 107 304 7206,3 334,9 4,67 266,9 3,72
σ 6 3 1594,1 85,4 0,67 58,5 0,29
ADULTA SÊNIOR

2010 131 305 5421,1 243,0 4,51 191,5 3,56


σ 14 0 1147,0 42,2 0,17 32,3 0,20
2020 169 304 8015,4 373,7 4,71 300,1 3,77
σ 44 4 1501,1 67,8 0,65 50,7 0,28

Nos resultados analisados por categoria pode-se verificar que em produção de


leite houve crescimento significativo em todas as categorias, entre 19,2% a 47,9% em
relação a 2010. O aumento mais significativo, entre todos, foi para animais da
48

categoria Adulta Sênior, indicando que essas vacas em 2020 produziram 47,9% mais
leite do que as vacas mais longevas em 2010, comprovando que a permanência de
animais longevos deve ser um objetivo do produtor, e esse só pode ser alcançado
quando há seleção para características de tipo no programa de melhoramento
genético da propriedade.
Biondo (2017) relatou que o descarte involuntário representa 91,6%, dos quais
58,3% foram relacionados a problemas da glândula mamária, sendo a mastite a
comorbidade mais relatada nas propriedades analisadas. Para Silva e colaboradores
(2004) o principal motivo também está relacionado a afecções da glândula mamaria,
seguido por problemas reprodutivos e em terceiro os males do aparelho locomotor.
Sendo assim, características de pernas e pés, e sistema mamário são importantes
fatores na prevenção ao descarte involuntário, pois um animal bem conformado tem
capacidade de suportar as altas produções e os sistemas de manejo modernos.
Problemas reprodutivos possuem relação com características de ângulo de garupa,
por exemplo, já que quando “invertida” predispõe problemas no pós-parto pela
dificuldade no escoamento dos anexos embrionários, e quando na angulação
desejável leva maior facilidade reprodutiva no geral, desde a reprodução até o pós-
parto.
A adesão ao serviço de Classificação Linear para Tipo, oferecido pela Jersey
Brasil, está em aumento constante, só no primeiro semestre de 2021 foram
classificadas mais vacas do que em todo o ano de 2020. Comparando com o primeiro
semestre de 2019, encontramos um aumento de 79% para a mesma época em 2021.
No ano de 2020 a ACGJB bateu recordes em número de registros, com um
aumento de 80% em relação a 2019 apenas em registros definitivos. Demonstrando
que, em 2020, obtivemos 80% a mais de rebanho Jersey controlado, ou seja, apto a
controle de dados e geração de índices zootécnicos. Para a raça esse é um marco
importante no avanço da afirmação dos padrões da raça no Brasil, até então não era
possível delimitar o padrão do rebanho nacional, criado, adaptado, selecionado e
manejado aqui, em sistemas de produção que muitas vezes não são vistos nos demais
países onde a raça está estabelecida. No total, entre registros definitivos e provisórios,
o aumento foi de cerca de 60% em relação ao ano anterior (ACGJB, 2020), os
resultados em número de registros provisórios emitidos vão ser vistos a partir de 2021,
quando os animais recém controlados, 2020, passarem a ter vida produtiva, gerando
produtos aptos a registro provisório.
49

6 CONCLUSÃO

Conclui-se que todas as ferramentas supracitadas são relevantes no aumento


da produtividade do rebanho. Como corroborado por pesquisas anteriores, os
resultados obtidos na Classificação Linear têm relação direta com a longevidade dos
animais, apesar de não ter grande influência sobre a produção em lactações avaliadas
de forma isolada. Ainda que o presente trabalho tenha mostrado que as Excelentes
produzem mais que as demais classes.
Animais melhores classificados, além de produzirem mais, portanto maior lucro
para o produtor, ainda geram diminuição de custos de produção. Tendo em vista que
quanto melhor sua conformação menores os problemas que resultariam em descarte
precoce ou involuntário, intervenções clínicas e/ou cirúrgicas, administração de
fármacos, entre outros fatores que somam gastos que seriam evitáveis.
A tendência mundial é a redução de rebanhos e o aumento da produtividade
por animal. Em um país como o Brasil, apto a criar um grande número de cabeças, a
produtividade deve ser colocada em pauta urgentemente. E seguindo países
referência em produtividade, como os EUA, é necessário difundir o uso de todas as
ferramentas supracitadas, do registro genealógico ao genoma, pois apenas com
melhoramento e seleção a produtividade máxima pode ser alcançada.
Esse estudo demonstrou que características fundamentais para aumentar a
produtividade podem ser de alta, intermediária e baixa herdabilidades, o que leva a
correções a curto, médio e longo prazo, respectivamente, dentro de um rebanho.
Sendo assim, para obter sucesso, é preciso que cada detalhe comece a ser pensado
e ajustado imediatamente, para que em um futuro próximo a raça Jersey e a pecuária
leiteira nacional sejam ímpares.
50

REFERÊNCIAS

ACGHMG. Classificação Linear, O que é? Gado Holandês. Disponível em: <http://


gadoholandes.com/new/classificacao-linear/>. Acesso em: 14 mai. 2021.

ACGJB. A Raça Jersey. Gado Jersey Brasil, 2021 Disponível em: <https://www.gadoj
erseybr.com.br/paginas/a-raca-jersey/>. Acesso em: 1 jun. 2021.

AMERICAN JERSEY CATTLE ASSOCIATION AND NATIONAL ALL - JERSEY.


Uniform Functional Type Traits Appraisal Program. US Jersey. Disponível em:
<https://www.usjersey.com/Portals/0/AJCA/2_Docs/Appraisal/19-Appraisal-Standard
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