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– PROJETO REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS –

Tecnologia Social de Gestão Comunitária de Resíduos Orgânicos e Agricultura urbana 2

AUTORAS DA “CARTILHA DE FORMAÇÃO:


Gestão Comunitária de Resíduos Orgânicos e Agricultura Urbana”

GRUPO REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS, representado por CÍNTIA ALDACI DA CRUZ,


Agente Comunitária e Coordenadora do Projeto Revolução dos Baldinhos.

PAULA TONON BITTENCOURT, Educadora e Sensibilizadora Ambiental,


Engenheira Sanitarista e Ambiental.
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Tecnologia Social de Gestão Comunitária de Resíduos Orgânicos e Agricultura urbana 3

Quem somos?

REDE MUNICIPAL DE GESTÃO COMUNITÁRIA DE RESÍDUOS ORGÂNICOS E AGRICULTURA URBANA

O primeiro ano do mandato do Vereador Marquito na Câmara Municipal de Florianópolis foi marcado pela
procura de assessoria em gestão de resíduos orgânicos e agricultura urbana. Em função da equipe do gabinete não
conseguir atender a demanda que vinha em sua maioria de escolas, postos de saúde e associações de moradores,
viu-se na subvenção social a oportunidade de oferecer formações em gestão comunitária de resíduos orgânicos e
agricultura urbana. O gabinete convidou então todas as pessoas que procuraram assistência, bem como
profissionais que atuam na área da compostagem e agricultura urbana para uma reunião, onde nasceu então a
Rede, com a coordenação do Instituto Çarakura cuja função é administrar o recurso, reconhecer as instituições
alinhadas nesta perspectiva e coordenar as atividades do projeto.
A Rede Municipal de Gestão Comunitária de Resíduos Orgânicos e Agricultura Urbana é uma parceria com
a Prefeitura Municipal de Florianópolis via Edital de Seleção N.001/GAPRE/2018 - Das Entidades das Organizações
da Sociedade Civil, nominalmente identificadas da Lei Orçamentária Anual N.10.321 de 2017, uma indicação do
Gabinete do Vereador Marquito – Marcos José de Abreu.

“A Rede é um grupo de composteiros e composteiras, resilientes urbanos e periféricos que defendem e


acreditam na compostagem e na agricultura urbana como serviço ambiental milenar praticado em defesa do
fortalecimento dos bens comuns e da reconexão da sociedade com nossa ancestralidade de plantadores,
germinadores, coletores e disseminadores de sementes. Provocando transformações nos espaços de vivências
concretos, na busca de intervir nos processos de ocupação dos territórios, gerando espaços coletivos, celebrando a
vida em comunidade, a transformação dos resíduos, a produção de alimentos, a seguranças alimentar e a troca de
experiências”.
Aurora Liuzzi, Educadora - Instituto Çarakura

Missão da Rede:

“Fomentar a convocação de vontades com base no exercício da cidadania, buscando valorizar a Revolução dos
Baldinhos, bem como outras iniciativas comunitárias que realizem ações de políticas transformadoras na gestão
coletiva dos resíduos orgânicos e na agricultura urbana.”

O que faremos?

A Rede irá oferecer a Formação Popular em gestão comunitária de resíduos orgânicos e agricultura urbana,
para 180 interessados/participantes da Rede:
Formação popular: Formação teórica e prática (12horas) e mutirão de compostagem (4horas).
A rede também será comtemplada, via decisão do grupo e de acordo com critérios de vulnerabilidade
social, com 30 bombonas, 20 garfos e 10 composteiras domésticas.
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SUMÁRIO

COMUNIDADE CHICO MENDES, BAIRRO MONTE CRISTO __________________________________________ 5


PROJETO REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS – GESTÃO COMUNITÁRIA DE RESÍDUOS ORGÂNICOS ___________ 5
BREVE HISTÓRIO DO PROJETO REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS... ____________________________________ 6
1. RESÍDUOS ORGÂNICOS E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA _________________________________________ 7
2. RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES _______________________________________________________ 7
3. GESTÃO COMUNITÁRIA DOS RESÍDUOS ORGÂNICOS _________________________________________ 8
3.1. Caracterização do Modelo de gestão comunitária: Revolução dos Baldinhos _________________________ 8
3.2. Benefícios da gestão comunitária de resíduos orgânicos e agricultura urbana ________________________ 9

4. PROCESSO DE COMPOSTAGEM _________________________________________________________ 10


4.1. Compostagem termofílica em leiras estáticas com aeração passiva ________________________________ 10
4.2. Fases da compostagem termofílica __________________________________________________________ 11
4.3. Materiais e insumos necessários ____________________________________________________________ 12
4.4. Arquitetura da leira ______________________________________________________________________ 13
4.5. Como funciona a dinâmica da relação carbono/nitrogênio na compostagem? _______________________ 13
4.6. Como montar uma leira estática de aeração passiva ____________________________________________ 14

5. ORIENTAÇÕES PARA O PÁTIO DE COMPOSTAGEM__________________________________________ 17


5.1. Manejo das leiras no processo de compostagem _______________________________________________ 19
5.2. Identificando e resolvendo problemas na operação ____________________________________________ 19
5.3. Maturação das leiras de compostagem ______________________________________________________ 20
5.4. Peneiramento, produção e destinação do composto orgânico ____________________________________ 20

6. OUTRAS FORMAS DE COMPOSTAGEM ___________________________________________________ 21


6.1. Composteira em unidades escolares sem espaço ou residenciais (Super R) __________________________ 21
6.2. Tratamento em minhocários ou vermicompostagem ___________________________________________ 22

7. AGRICULTURA URBANA _______________________________________________________________ 23


7.1. Agricultura urbana aos olhos da Chico Mendes ________________________________________________ 23

8. REFERÊNCIAS _______________________________________________________________________ 24
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COMUNIDADE CHICO MENDES, BAIRRO MONTE CRISTO


Na década de 80...
Nasce o Bairro Monte Cristo, em Florianópolis. Constituído por diversas ocupações irregulares de migrantes
do interior do Estado e do Brasil, o bairro está localizado ao longo da via expressa (BR-282), na área continental do
Município de Florianópolis.
Naquela época, 700 famílias, homens, mulheres e crianças, provenientes de áreas rurais estavam em busca
de uma vida melhor na cidade, mas com as ocupações desordenadas tiveram que lidar com a falta de saneamento
básico, esgotos a céu aberto e falta de abastecimento de água.
Mesmo assim, de forma colaborativa e organizada, constituíram uma Comissão Comunitária com 60
lideranças em prol de melhorias para a comunidade que se formava. A participação política foi sendo construída
com a prefeitura e através do orçamento participativo a comunidade conquistou creches, escolas e postos de
saúde, sendo referência em organização comunitária de ocupação, também, de espaços políticos.
A comunidade Chico Mendes junto com Novo Horizonte, Nossa Senhora da Glória, Nova Esperança, Pró-
morar, Santa Terezinha I e II, Panorama e Pasto do Gado e a recente Grota formam o bairro Monte Cristo
pertencente ao Município de Florianópolis com uma população de 33 mil habitantes, segundo Censo de 2010 do
IBGE.
Infelizmente, o bairro Monte Cristo ainda se caracteriza pela violência, população em situação de pobreza,
além do baixo índice de escolarização, correspondendo ao pior índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de
Florianópolis.

PROJETO REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS – GESTÃO COMUNITÁRIA DE RESÍDUOS ORGÂNICOS


Em 2008...
Ocorreu um surto de leptospirose na Comunidade Chico Mendes, contraída através dos ratos. Algumas
crianças voltavam das creches com mordidas de roedores, e dois moradores chegaram a falecer.
Foi nessa conjuntura que lideranças e moradores da comunidade, representantes das escolas e do Centro
de Saúde, um técnico do CEPAGRO e mulheres da Frente Temporária de trabalho se reuniram para entender o
problema. O Consenso era de que não bastava intervir com dedetização, posto que, se o alimento proveniente do
lixo nas ruas continuasse acessível, a chance de ocorrer um novo surto seria ainda maior. Era necessário achar uma
solução mais adequada.
A sugestão para reduzir o número de roedores foi separar as sobras de comida em baldinhos com tampa e
reciclar na própria comunidade. A princípio parecia uma medida difícil de entender: combater os ratos reunindo no
próprio bairro todos os resíduos orgânicos produzidos.
Para o enfrentamento do problema do lixo acumulado na comunidade Chico Mendes, existia a Frente
Temporária de Trabalho, na qual algumas mulheres da própria comunidade eram contratadas por 3 meses para
realizar a limpeza nas ruas e beco onde a limpeza da COMCAP não chegava. Em 2006, duas escolas participavam
também do projeto de hortas escolares do CEPAGRO1, tendo a compostagem como base para a produção do
composto orgânico. Além disso, um médico do posto de saúde local promovia a compostagem para a reciclagem
dos resíduos orgânicos domésticos e produção de alimentos saudáveis.
Quando esta solução foi apontada em reunião, os moradores já estavam cientes da técnica de
compostagem. Além disso, as mulheres da Frente Temporária se dispuseram a ir de casa em casa e distribuir um
”baldinho” para as famílias, informando sobre o projeto e o que poderia ser descartado ali. Assim os moradores

1
CEPAGRO – Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo.
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poderiam separar corretamente os resíduos orgânicos em recipientes fechados que impedisse o contato com
roedores e outros vetores de doenças.
O Cepagro se prontificou em assessorar a compostagem, iniciada na Escola Básica Estadual América Dutra
Machado e também a estimular o desenvolvimento coletivo da metodologia de gestão comunitária de resíduos
orgânicos. Os demais parceiros e a comunidade prontificaram-se a participar e contribuir com todo o processo.
Surgia assim a “Revolução dos Baldinhos”, que começou com apenas 5 famílias e num curto espaço de tempo
atingiu 95 famílias.
Eunice Brasil, Rose Helena de Souza (ambas da Frente Temporária de Trabalho) foram pioneiras na
sensibilização das famílias para separação da fração orgânica na Comunidade Chico Mendes. O sucesso do projeto
deu-se inicialmente pela sensibilização. Não eram técnicos que iam às casas conversar com as famílias, eram jovens
e moradores da própria comunidade, falando de soluções que eles mesmos identificaram para o bem do bairro.
Durante o período de sensibilização das famílias, houve o interesse de pessoas da comunidade em entender
melhor o projeto e também fazer parte. Destacando-se Ana Karolina da Conceição com a seguinte fala:
- KAROL: “O que vocês fazem com esses restos de comida?”
- LENI: “Me acompanhe que você vai entender!”

A partir de então Ana Karolina, além de separar seus resíduos orgânicos para o projeto, tornou-se uma
replicadora da Revolução dos Baldinhos.
Consolidava-se uma relação de reciprocidade, onde as famílias participantes viam de perto o trabalho de
coleta e reciclagem dos resíduos orgânicos e, posteriormente, eram comtempladas com o composto orgânico para
utilização nas suas hortas.
A coleta dos resíduos orgânicos era realiza com um carrinho de supermercado pelo grupo comunitário
Revolução dos Baldinhos, duas vezes por semana, de casa em casa. Com o aumento das famílias, o tempo de coleta
passou a durar quase o dia inteiro. Para a viabilidade da logística, o grupo Revolução dos Baldinhos implantou PEV’s
(Pontos de Entrega Voluntária), com bombonas de 50L, identificados com placas. Cada PEV era instalado para
coletar os resíduos orgânicos de 5 a 8 habitações, em média, podendo ficar localizado na frente da casa do
morador responsável pelo PEV.

BREVE HISTÓRIO DO PROJETO REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS...


2008 2011 2013 2016 2017
Surto de leptospirose
na Comunidade Chico Certificação de Prêmio de Replicação do Modelo de Financiamento Coletivo e
Mendes. Nasce a Tecnologia Tecnologia Gestão Comunitária de Brechó “Teu jeito” para
Revolução dos Social pela Social pela Resíduos Orgânicos pelo aporte financeiro ao grupo.
Baldinhos com Fundação Banco Fundação Programa Nacional de
assessoria do do Brasil (FBB). Banco do Habitação Urbana
CEPAGRO Brasil (FBB)
2018 2019 -2020
Premiação Usina do Hambúrguer Cozinha Mãe. Como Participação, junto com a prefeitura de Florianópolis no
iniciativa comunitária, Indicação ao Prêmio LIXO ZERO. Projeto de “Ampliação e Fortalecimento da Valorização de
Emenda Parlamentar “Rede Municipal de Gestão Resíduos Orgânicos” do Fundo Socioambiental Caixa,
Comunitária de Resíduos Orgânicos e Agricultura Urbana” Fundo Socioambiental Caixa. Sendo base de estudo para
pagamentos por serviços ambientais.
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1. RESÍDUOS ORGÂNICOS E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA


Segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos, art. 36, inciso V, é dever do titular dos serviços públicos de
limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos: “Implantar sistemas de compostagem para resíduos sólidos
orgânicos e articulação com os agentes econômicos e sociais formas de utilização do composto produzido”. Desta
forma, entende-se que a promoção da compostagem da fração orgânica dos resíduos, assim como a implantação
da coleta seletiva e da disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, faz parte do rol de obrigações dos
municípios instituída pela Lei 12.305/2010.
Conforme as definições de reciclagem e rejeitos da PNRS (Art. 3º, incisos XIV e XV), conclui-se igualmente
que processos que promovem a transformação de resíduos orgânicos em adubos e fertilizantes (como a
compostagem) também podem ser entendidos como processos de reciclagem. Desta forma, resíduos orgânicos
não devem ser considerados indiscriminadamente como rejeitos, e esforços para promover sua reciclagem devem
ser parte das estratégias de gestão de resíduos em qualquer escala (domiciliar, comunitária, institucional,
industrial, municipal...).2

Você sabia?
O avanço do método de gestão comunitária de resíduos orgânicos está nas mãos das prefeituras, que devem
estabelecer parcerias com associações e remunerá-las pelo serviço público realizado, além de destinar áreas
adequadas para a compostagem e agricultura urbana. 3

2. RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES


Conforme a Política Nacional de Resíduos Sólidos, LEI 12.305/2010, resíduos sólidos são:

“Material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede,
se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e
líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para
isso soluções técnicas ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.”

Em média, no Brasil, a produção de resíduos sólidos originários de atividades domésticas, por dia, é de
aproximadamente 1kg, e correspondem a:

50% ORGÂNICO – Resíduos sólidos de origem vegetal ou


animal, como sobras de comida, cascas de frutas e verduras,
borra de café/chimarrão, guardanapos engordurados, aparas de
grama, folhas de varrição, podas de árvores, palha e serragem
de madeira não tratada.
35% RECICLÁVEL SECO – Todas as frações de resíduos sólidos
tem seu valor comercial. Entender o ciclo das embalagens ajuda
no descarte. Exemplo: Papel, revistas, jornais, papelão e caixas Imagem 1 - Todas as ilustrações contidas na cartilha são de
autoria dos Agentes Comunitários da Revolução dos
de papel, brinquedos e embalagens tetrapak, garrafas PET,
Baldinhos

2
Pesquisa feita no dia 14.11.2018 - http://www.mma.gov.br
3
CARTILHA: “O passo-a-passo de uma Revolução – Compostagem e Agricultura urbana na Gestão Comunitária de Resíduos
Orgânicos”, 2017.
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embalagens e objetos plásticos, isopor, ferro, alumínio, cobre e outros metais, vidro, latas e outras embalagens de
metal.
15% REJEITO – Resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por
processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a
disposição final ambientalmente adequada. Exemplo: Espuma, fotografias e papel carbono, espelho, louças e
embalagens metalizadas, papéis engordurados, fraldas e bitucas de cigarro.

3. GESTÃO COMUNITÁRIA DOS RESÍDUOS ORGÂNICOS


A gestão dos resíduos sólidos orgânicos fica facilitada quando realizada localmente, praticada de forma
descentralizada, aliada a um circuito curto de reciclagem. O modelo de gestão comunitária é uma solução
adequada aos municípios brasileiros, visto que 80% destes tem população inferior à 20mil habitantes, com
produção estimada em até 10 toneladas de resíduos orgânicos por dia. Para os municípios maiores, a gestão
comunitária pode ser efetivada com diferentes pátios de compostagem.
A reciclagem dos resíduos orgânicos, na perspectiva da gestão comunitária descentralizada, traz em sua
origem a relevância social da geração de renda e qualidade ambiental às comunidades, tendo reciprocidade de
princípios e interesses com o movimento dos catadores e recicladores de materiais secos. Um dos princípios é que
a atuação dos agentes comunitários seja articulada por associações e cooperativas, como prevê a PNRS. Com a
organização associativa, tanto dos catadores de recicláveis secos, quanto de orgânicos, seria possível reciclar até
86% de tudo o que produzimos.

3.1. Caracterização do Modelo de gestão comunitária: Revolução dos Baldinhos


O modelo conhecido como Revolução dos baldinhos tem como base o trabalho de
sensibilização das famílias e parceiros, aliado à agricultura urbana, onde todos os
participantes recebem o composto orgânico para promoção das hortas residenciais,
escolares e comunitárias.

A principal característica do Grupo Revolução dos Baldinhos é ser constituído por moradores e moradoras
da própria comunidade. Essa singularidade influenciou diretamente no sucesso do projeto, pois promoveu
confiança e reciprocidade entre os participantes. Dentre as principais ações do Grupo comunitário estão:
Mobilização e sensibilização das famílias e instituições educacionais para a valorização da fração
orgânica e separação na fonte;
Execução do trabalho periódico de coleta, transporte e tratamento/destino dos resíduos orgânicos
através da compostagem termofílica – Método UFSC;
Distribuição do composto orgânico produzido;
Realização de oficinas de educação ambiental nas escolas;
Contribuição à incidência política através de palestras e apresentações, além da participação em
reuniões e articulação com parcerias envolvidas.

A experiência acumulada durante os anos de implementação do projeto demonstrou a viabilidade de se


realizar uma gestão comunitária de resíduos orgânicos, pois, além de promover a difusão da reciclagem
descentralizada dos resíduos orgânicos, promove a agricultura urbana, segurança alimentar e nutricional e
valorização das áreas verdes urbanas. Sob outra ótica, fica evidente o enorme potencial econômico dos resíduos
orgânicos. Além de desviar os orgânicos de áreas de disposição final, influenciando a ampliação da vida útil dos
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aterros sanitários e contribuindo para a preservação do meio ambiente, esses resíduos também podem ser
transformados em fertilidade para o solo e poupar renda para as famílias. Infelizmente, a precariedade financeira
do modelo Revolução dos Baldinhos, que depende de recursos provenientes de editais, revelou a necessidade da
institucionalização da iniciativa como política pública para assegurar sua continuidade de forma estruturada,
reconhecendo a gestão local de resíduos como uma das estratégias para o alcance dos princípios e objetivos da
Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Algumas possibilidades de institucionalização do modelo estão sendo amadurecidas e devem ser testadas.
Uma delas é o reconhecimento da compostagem comunitária como uma atividade de coleta, processamento e
comercialização de resíduos passível de ser prestada por associações ou cooperativas de catadores de materiais
recicláveis e reutilizáveis. A formalização de uma cooperativa para gerir o modelo “Revolução dos Baldinhos”
permite que a prefeitura municipal possa remunerar os serviços prestados, sem necessidade de licitação. Por
exemplo, o repasse dos recursos economizados pela Prefeitura pelo não envio para disposição em aterro sanitário
da fração orgânica reciclada em projetos comunitários seria uma forma de remuneração pelos serviços da
cooperativa, valor que independe de orçamento adicional.

3.2. Benefícios da gestão comunitária de resíduos orgânicos e agricultura urbana

A demanda por pequenas áreas para a reciclagem através da compostagem, seguindo critérios para o bom
funcionamento da atividade no espaço urbano;
O envolvimento da própria comunidade para a sensibilização e educação ambiental das famílias;
A economia de recursos utilizados para o transporte aos aterros sanitários, diminuindo o tráfego de
caminhões da coleta convencional;
A redução de matérias primas e recursos que vão para o aterro sanitários, contribuindo para o ciclo dos
nutrientes e a qualidade ambiental;
A geração de trabalho e renda;
O aumento da autoestima e oferta de possibilidades a jovens e moradores em situação de vulnerabilidade
social;
O empoderamento de jovens e moradores que se apropriam dos conhecimentos da gestão comunitária e o
disseminam através de oficinas, cursos e palestras;
A limpeza das ruas e a redução de focos de doenças;
O aumento da qualidade dos resíduos secos, que também seguem seu trajeto para reciclagem;
A produção de composto orgânico e sua destinação para as hortas residenciais, hortas escolares e hortas
comunitárias, com promoção da agricultura urbana e consumo de alimentos saudáveis.
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4. PROCESSO DE COMPOSTAGEM
Compostagem é o processo de degradação controlada de resíduos orgânicos sob condições aeróbias, ou
seja, com a presença de oxigênio. É um processo no qual se procura reproduzir algumas condições ideais (de
umidade, oxigênio e de nutrientes, especialmente carbono e nitrogênio) para favorecer e acelerar a degradação
dos resíduos de forma segura (evitando a atração de vetores de doenças e eliminando patógenos). A criação de tais
condições ideias favorece que uma diversidade grande de macro e micro-organismos (bactérias e fungos) atue
sucessiva ou simultaneamente para a degradação acelerada dos resíduos, tendo como resultado final um material
de cor e textura homogêneas, com características de solo e húmus, chamado composto orgânico.
É um método simples, seguro, que garante um produto uniforme, pronto para ser utilizado nos cultivos de
plantas e que pode ser realizado tanto em pequena escala (doméstica) quanto em média (comunitária,
institucional) ou grande escala (municipal industrial). No entanto, é um método que necessita ser bem
compreendido e bem operado para evitar problemas como geração de odores e proliferação de vetores de
doenças.
Todo processo de degradação de matéria orgânica na presença de oxigênio poder ser considerado como
compostagem. Porém, a forma como diferentes fatores (umidade, aeração, temperatura…) são combinados e
controlados é o que caracterizam os diferentes métodos de compostagem. Para fins práticos, esta cartilha vai
detalhar um método específico de compostagem de baixo custo que vem sendo aplicado, aprimorado e adaptado à
realidade brasileira há muitos anos por professores e pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina,
além de ONGs, empresas e prefeituras, também conhecido como Método UFSC 4. Dentre os critérios de escolha do
método pode-se mencionar a simplicidade (não há grandes exigências de equipamentos), a versatilidade (é usado
desde a escala doméstica até escala municipal) e a vasta experiência acumulada em projetos de sucesso no Brasil,
especialmente no contexto comunitário e institucional.

4.1. Compostagem termofílica em leiras estáticas com aeração passiva


A partir de 1994, passou a ser utilizado e aprimorado o método artesanal indiano de compostagem
termofílica, apresentado à comunidade universitária pelo professo Paul Richard Miller, pertencente ao
Departamento de Engenharia Rural do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UFSC. Este método, difundido pelo
botânico inglês Sr. Albert Howard para a reciclagem de resíduos orgânicos, passou a ser conhecido como “Método
UFSC” – Leiras Estáticas com Aeração Passiva. Em função da arquitetura na montagem das leiras, que inclui grande
parte de materiais estruturantes (como palha e serragem) ordenados com camadas de resíduos orgânicos, são
estabelecidas condições favoráveis para a ação microbiológica, em especial de bactérias termofílicas cuja ação
eleva a temperatura do material acima dos 55oC, promovendo a higienização e eliminação dos patógenos, bem
como a rápida e eficiente degradação dos resíduos orgânicos.
O título de Compostagem Termofílica em Leiras Estáticas com Aeração Passiva já descreve suas principais
características e os aspectos de maior destaque:
Compostagem termofílica
A compostagem termofílica é o processo de decomposição microbiológica da matéria orgânica, dependente de
oxigênio (aeróbia) e com geração de calor, se desenvolvendo em temperaturas acima de 45°C (atingindo picos
que podem chegar a mais de 70°C). Quando a compostagem atinge temperaturas acima de 45°C, é

4
INÁCIO, C.T. & MILLER, P. R. M. “Compostagem: ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos”, Rio de Janeiro/RJ. Embrapa
Solos, 2009.
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denominada termofílica, diferenciando-se de outros métodos de compostagem que ocorrem em baixas


temperaturas.
Leira estática
As leiras, montes formados por resíduos e outros materiais onde a compostagem ocorre, não exigem
revolvimentos ou tombamentos durante sua operação. Difere de outros métodos de compostagem onde as
leiras devem ser revolvidas para mistura dos materiais, homogeneização de temperatura e aeração.
Aeração passiva
A aeração se dá por convecção natural, onde o ar quente escapa pelo topo da leira, e o ar frio é sugado pela
base permeável da leira. Este método difere de outros pela ausência de equipamentos para a aeração forçada
ou de revolvimentos do material para aeração da leira.

4.2. Fases da compostagem termofílica


Para entender o que acontece em uma leira termofílica de compostagem, pode-se dividir o processo de
compostagem em: fase inicial, fase termofílica, fase mesofílica e fase de maturação.
Cada fase dura um determinado tempo, durante o qual há o predomínio de diferentes microrganismos, em
diferentes temperaturas e processos químicos específicos, conforme ilustra o gráfico do “Manual de Orientação5” a
seguir:

5
“Manual de Orientação – Compostagem doméstica, Comunitária e Institucional de Resíduos Orgânicos”, Brasília, 2017.
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As características de cada fase são:


FASE INICIAL
Pode durar de 15 a 72 horas e se caracteriza pela liberação de calor e elevação rápida da temperatura até
atingir 45°C. Isto acontece pela expansão das colônias de microrganismos mesófilos e intensificação da ação de
decomposição.
FASE TERMOFÍLICA
Inicia-se no momento em que a temperatura se eleva acima de 45°C, predominando a faixa de 50 a 65°C,
quando se dá a plena ação de microrganismos termófilos, com intensa decomposição de material e liberação de
calor e de vapor d’água. A aeração se intensifica, pois, o ar quente (mais leve) se eleva, favorecendo a entrada de
ar mais frio por baixo da leira (processo de convecção).
FASE MESOFÍLICA
Acontece a diminuição da temperatura pela redução da atividade dos microrganismos, degradação de
substâncias orgânicas mais resistentes e perda de umidade. Enquanto a fase termofílica é dominada por bactérias,
desta fase em diante os fungos actinomicetos têm papel igualmente relevante.
FASE DE MATURAÇÃO
Nesta fase, de fato, ocorre a formação de húmus, quando a atividade dos microrganismos diminui e o
composto perde a capacidade de auto aquecimento. A partir desta fase, a decomposição se processa muito
lentamente e prosseguirá até a aplicação do composto no solo, liberando nutrientes.
As quatro fases da compostagem descritas ilustram o processo que ocorre em uma leira. No entanto, para
conhecer em mais detalhes os processos físicos e químicos envolvidos, pode-se considerar apenas duas fases: Fase
Ativa e Fase de Maturação.
A Fase Ativa compreende as fases Inicial, Termofílica, até quase o final da Mesofílica, e apresenta uma
duração média de 90 dias. Também chamada de fase de degradação, caracteriza-se pelas reações bioquímicas de
oxirredução e pela rápida decomposição dos polissacarídeos e proteínas, que se transformam em açúcares simples
e aminoácidos. Nessa fase ocorre a maior redução do volume e peso da leira de compostagem, pela liberação de
calor, gás carbônico (CO2) e água.
Já a Fase de Maturação se inicia ao final da Fase Mesofílica e acontece nos últimos 30 dias após a Fase
Ativa, quando ocorre a humificação da matéria orgânica (formação de húmus) e a decomposição dos ácidos
orgânicos e de partículas maiores e mais resistentes, como celulose e lignina. Caracteriza-se pela neutralização do
pH, redução da relação carbono/nitrogênio e aumento da capacidade de troca catiônica (CTC) que indica a
capacidade do solo ou composto orgânico de disponibilizar cátions para as plantas.

4.3. Materiais e insumos necessários


Um bom processo de compostagem necessita de uma mistura adequada de resíduos úmidos (ricos em
nitrogênio) e de matéria seca (rica em carbono). O material rico em nitrogênio será geralmente a maior parte dos
resíduos que virão de cozinhas, restaurantes, refeitórios, residências e indústrias de alimentos. Já o fornecimento
da fonte de carbono, como serragem ou material de podas triturado, precisa ser planejado e articulado com os
possíveis fornecedores na vizinhança, pois geralmente não é descartada em grande quantidade pela população.
A quantidade de porção seca necessária depende do volume da porção úmida. Como regra geral, para cada
porção de resíduos úmidos colocada na composteira, duas porções de matéria seca serão necessárias. Com o
tempo, a quantidade de matéria seca necessária pode ser aumentada ou diminuída, conforme observações do
processo em cada leira específica.
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Alguns locais onde se pode buscar matéria seca:


SERRAGEM
Pode ser adquirida em madeireiras ou marcenarias da região, comumente encontradas nas cidades. Um
setor interessante são as marcenarias que trabalham com madeiras de demolição, pois não utilizam tratamentos
químicos nas madeiras, que prejudicam os microrganismos na leira de compostagem. É importante que não se
utilize o pó de serra, mas apenas a maravalha, cepilho ou cavaco. Ou seja, a serragem precisa estar na forma de
aparas mais grossas para criar pequenos espaços dentro da leira e facilitar o fluxo de ar. O pó de serragem é muito
fino e acaba por compactar a leira, criando um ambiente sem o oxigênio necessário para o processo.
PALHA
Pode ser adquirida nas Centrais de Abastecimento - CEASAs da região, pois para os boxistas este material é
geralmente considerado um resíduo. As melancias e abacaxis vêm em caminhões que fazem uma cama de palha
para não prejudicar as frutas. Depois de descarregar os produtos, esse material é descartado. Em regiões agrícolas
com grande produção de cereais como arroz, milho, aveia, cevada ou trigo (gramíneas), também há abundância de
palhas, sendo necessária uma articulação com os produtores para obtenção deste material.
APARAS DE GRAMAS, FOLHAS, PODAS E GALHOS
Podem ser obtidos na instituição responsável pelas podas do município ou com empresas particulares de
jardinagem e manutenção.

4.4. Arquitetura da leira


No Método UFSC, a arquitetura da leira é de extrema importância, pois é o principal fator que garante a
aeração adequada do processo. As leiras podem ser operadas tanto manual (ou de forma artesanal), quanto
mecanicamente (por meio de tratores do tipo pá carregadeira, por exemplo). O tipo de operação definirá a
arquitetura da leira (formato e dimensões). As dimensões da leira variam de acordo com a disponibilidade de
espaço, mas é importante que sua largura não ultrapasse 2 metros, para permitir a entrada de ar no interior da
leira. O comprimento será de acordo com o planejamento e dinâmica do pátio de compostagem e de áreas
disponíveis, geralmente variando entre 1 e 20 metros. Com um formato preferencialmente retangular, as leiras são
pilhas regulares da mistura de material seco (rico em carbono) e material orgânico (rico em nitrogênio).

4.5. Como funciona a dinâmica da relação carbono/nitrogênio na compostagem?


A relação entre a quantidade de carbono e a quantidade de nitrogênio (relação C/N) é essencial para a
obtenção de um composto orgânico de boa qualidade. Em termos químicos (número de átomos), a relação ideal na
compostagem é de 30 átomos de carbono para cada átomo de nitrogênio (relação 30:1). Em termos práticos, esta
relação é obtida misturando-se 2/3 em volume de material seco (rico em carbono) com 1/3 de material úmido (rico
em nitrogênio).
De acordo com levantamentos realizados na Revolução dos Baldinhos e outras iniciativas de compostagem
com leiras estáticas método UFSC em Florianópolis, a proporção ideal é de 3 para 1, ou seja, cada 1,5kg de resíduo
requer 0,5kg de material seco. A relação C/N é importante, pois se a mistura tiver excesso de material rico em
carbono (como palha e serragem), a fermentação pode não ocorrer e se houver excesso de material rico em
nitrogênio (como macarrão, arroz, carnes), haverá perda de nitrogênio na forma de amoníaco.
A construção da leira se inicia com as paredes de palha, podendo ter uma espessura de até 50 cm. A base
da leira será formada por galhos, podas, folhas de palmeiras, para criar um local de fácil entrada de ar. Esse fluxo é
– PROJETO REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS –
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importante, pois quando a leira chegar na fase termofílica o ar quente sairá sob forma de vapor d’água, sugando o
ar frio da base da leira, formando, assim, um fluxo de ar favorável para a atividade microbiana.
Sobre os galhos da base da leira pode ser feito um leito com folhas, serragem ou materiais obtidos do
picador de podas. Na primeira montagem da leira, é necessário adicionar uma parte de composto pronto, chamado
inoculante. Este processo ocorreria naturalmente, mesmo sem a adição do composto pronto, mas a inoculação
reduz o tempo necessário para atingir a Fase Termofílica, evitando, portanto, a atração de vetores de doenças,
como ratos e alguns insetos.
Após a adição do inoculante, são então depositados os resíduos orgânicos úmidos, isto é, os restos de
comida, cascas de frutas e verduras, carnes, etc. O inoculante é então misturado com os resíduos e é feita uma
cobertura com matéria seca com serragem, podendo ser acrescentadas folhas. Posteriormente, cobre-se a
serragem com uma camada de palha, formando uma proteção e uma barreira física contra a proliferação de
moscas e diminuição da perda de água por evaporação. No próximo passo, esta camada de palha superior será
transformada em parede lateral.
Após o fechamento da leira por, no mínimo, 48 horas, pode-se então acrescentar mais resíduos orgânicos frescos,
realizando o procedimento padrão a seguir sempre que a composteira for aberta:

1º Abre-se a cobertura de palha, transformando-a em parede;


2º Mistura-se a serragem com o material orgânico anterior;
3º Adicionam-se os resíduos frescos, misturando novamente;
4º Cobre-se o material misturado com serragem e folhas secas;
5º Refaz-se a cobertura da leira com uma nova camada de palha.

Seguindo esses passos, mesmo tendo-se acrescentado novos resíduos, é possível manter-se as fases
Termofílica e Mesofílica sempre ativas, evitando odores e vetores. Para o sucesso desse manejo, é necessário que o
responsável pela operação do sistema conheça bem o processo e esteja atento aos cuidados necessários.

4.6. Como montar uma leira estática de aeração passiva6


1º Passo Definir o terreno, limpar a área e medir o tamanho da leira. No caso, a leira abaixo terá 2m x 8m e
capacidade para receber até 10 toneladas de resíduos orgânicos por mês, ou 0,5t/dia.

6
As imagens utilizadas para representar o passo-a-passo da montagem da leira estática de aeração passiva foram retiradas do
“Manual de Orientação – Compostagem doméstica, Comunitária e Institucional de Resíduos Orgânicos”, Brasília, 2017.
– PROJETO REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS –
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2º Passo Instalar o sistema de drenagem para coleta do lixiviado (composto líquido) produzido pela leira e o
excedente de água. Escava-se um buraco no centro da área ocupada pela leira, com cerca de 0,7m de largura e
com o mesmo comprimento da leira.

No buraco, é colocada brita e depois um cano de PVC com pequenas perfurações, envolvido por uma
manta permeável. O cano se liga a um reservatório de concreto instalado abaixo da superfície. Em seguida, o
buraco é tapado com brita e terra.
O corte abaixo indica o caminho feito pelo lixiviado (composto líquido) da leira.

3º Passo Para o fundo da leira, coloca-se sobre o sistema de drenagem uma camada de materiais mais grosseiros
(como restos podas, galhos e folhas de palmeira). Fazer a borda da leira com palha.
– PROJETO REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS –
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4º Passo Colocar uma camada de serragem e folhas e depois cobri-la com uma camada de restos de comida e
outros materiais verdes e úmidos.

5º Passo Colocar então uma camada de inoculante, composto orgânico ou terra escura. Cuidar para que todas as
camadas fiquem bem espalhadas e misturadas na leira.

6º Passo Cobrir o material com serragem e folhas e depois com uma camada de palha até fechar a leira
completamente. Deixá-la descansar por cerca de 48 horas antes de usá-la novamente.
– PROJETO REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS –
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7º Passo A cada nova utilização da leira, abrir a parte de palha da cobertura e transformá-la em parede. Colocar os
restos de comida e outros materiais verdes e úmidos, cuidando para misturá-los com o material compostado mais
antigo. Revirar a leira para melhorar a aeração.

8º Passo Cobrir novamente a leira com uma camada de serragem e folhas e outra de palha, cuidando para que
fique bem fechada.

5. ORIENTAÇÕES PARA O PÁTIO DE COMPOSTAGEM

Um pátio bem localizado e planejado vira uma área pedagógica, com potencial para
receber grupos e realizar oficinas e cursos. Ao ver uma experiência exitosa, sem odores e
vetores, com qualidade no composto orgânico gerado, tem-se a transformação da
imagem da gestão dos resíduos orgânicos, e por consequência a valorização da
reciclagem orgânica e o possível desdobramentos em residências, escolas e
comunidades.

1. No pátio de compostagem é importante que haja um planejamento cuidadoso e organizado no que diz respeito
aos horários de trabalho, escalas, programação de tarefas diárias, funções de cada trabalhador, previsão de
horário de chegada e partida de resíduos, disponibilidade de resíduos, acompanhamento do desenvolvimento
das leiras, etc. Uma boa administração do tempo, espaço do pátio, oferta de mão de obra e fluxo de materiais
ajuda a manter o bom funcionamento do sistema e o pátio limpo e organizado, evitando espaços ociosos,
atrasos, perda de equipamentos e outros problemas.
2. O composto orgânico pronto e as bombonas devem ser armazenados em local seco e abrigado.
3. Na área de lavação é importante haver mangueiras, máquinas elétricas tipo vap, escovas, esponjas, e acesso à
água abundante. O piso deve ser preferencialmente de concreto para facilitar a limpeza.
– PROJETO REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS –
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4. Técnicas e materiais ecológicos e sustentáveis podem ser usados: telhas ecológicas, sistemas de coleta de água
da chuva e uso de produtos biodegradáveis e não tóxicos na área de lavação.
5. A área de armazenamento e manutenção deve ter um espaço coberto, com instalação elétrica e hidráulica, e
uma parte fechada, que possa ser trancada para manter os equipamentos em segurança. Um banheiro (de
preferência um banheiro seco) e um refeitório podem ser necessários em pátios afastados.
6. Dentre os equipamentos necessários, estão facões, pás, garfos/forcados de quatro pontas, vassouras, rodos,
enxadas, termômetros e carrinhos de mão. Uma balança para pesagem de composto também é muito útil.
7. O pátio tem que ser projetado e organizado de maneira a potencializar o trabalho, visando a praticidade e a
funcionalidade. Os veículos e equipamentos usados, por exemplo, tem que ter espaço suficiente de manobra e
circulação, estando o solo protegido preferencialmente com areia ou brita, seja na área entre as leiras, seja na
área de manutenção.
8. É importante que haja um espaço para armazenamento de material seco, tal qual palha e restos de poda.
9. Baldes de tamanhos diversos e bombonas são usados no transporte dos resíduos até o pátio.
10. Todo pátio requer um sistema de drenagem para a coleta do composto líquido produzido na reciclagem dos
resíduos orgânicos.
11. O pátio pode ser aberto para visitação guiada e educativa. É importante que a segurança seja sempre
observada nestes casos. O pátio deve ser mantido sempre limpo e ter lixeiras para separação de resíduos
(rejeitos, recicláveis e orgânicos).
12. Os trabalhadores devem utilizar EPI (Equipamento de Proteção Individual) como botas, luvas, chapéus e roupas
adequadas para sua segurança. Óculos podem ser necessários
13. Leiras em maturação devem ser protegidas com uma camada espessa de palha ou folhas de bananeira, com o
intuito de evitar a perda ou o excesso de humidade e a perda de calor.
14. Espantalhos e outros artifícios são usados para afugentar animais. É importante manter um controle
permanente das pragas. Manter as pilhas cobertas com palha é uma medida essencial.
15. Barreiras ou cordões verdes de isolamento ao redor do pátio, com 1 a 5 metros de largura, garantem um
isolamento acústico, visual e de odores. Árvores e arbustos frutíferas de diferentes alturas podem ser
utilizados, bem como gramíneas.
16. Pequenos veículos sobre rodas que podem ser puxados são muito úteis para a movimentação de bombonas e
resíduos.
17. As pilhas mais novas recebem os resíduos orgânicos, em camadas de restos de comida, serragem e palha. Elas
devem ser aeradas e misturadas periodicamente para potencializar o processo.

Você sabia?
Composteiras residências, escolares, de pequenos condomínios e comunitárias, com previsão para menos de 0,5
toneladas/dia (15 toneladas/mês), podem ser realizadas em suas localidades livremente, mediante capacitação
dos moradores, profissionais das escolas, colaboradores operacionais dos condomínios e dos empreendimentos
comunitários, informando a prática das atividades mediantes um Cadastro ambiental junto ao órgão
responsável do município ou pela FATMA. O cadastramento requer técnico responsável. Devido à pequena
quantidade a ser reciclada, aliada à qualificação dos envolvidos, fica facilitado o manejo da compostagem e
com baixo impacto urbano, sistema SinFAT Web (http://sinfatweb.fatma.sc.gov.br//).7

7
“Critérios técnicos para elaboração de projeto, operação e monitoramento de Pátios de Compostagem de pequeno porte”,
FAPESC, 2017.
– PROJETO REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS –
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5.1. Manejo das leiras no processo de compostagem


A dinâmica de trabalho ou manejo com as leiras de
compostagem deve se orientar por dois critérios principais:
Observar um descanso de 48horas numa mesma leira,
tempo mínimo necessário para que o processo
termofílico entre em equilíbrio após alimentação com
resíduos frescos;
Garantir que a altura de manejo não ultrapasse
1,5m no caso de compostagem manual. Quando
houver o auxílio de máquinas, a altura pode
chegar até 3m.

Para compostagem de pequeno porte, por exemplo, em unidades escolares ou residências, sugere-se
utilizar uma primeira leira até alcançar 1,5m no máximo, manejando-a apenas duas vezes por semana (todas as
terças e sextas-feiras, por exemplo). Desta forma, ao final de seis meses haverá três leiras, uma com composto
pronto, uma em maturação e outra em pleno funcionamento.

5.2. Identificando e resolvendo problemas na operação


Na compostagem age uma sucessão de grupos de micro-organismos e ocorrem diferentes transformações
bioquímicas que influenciam variações de diversos fatores nas leiras: conteúdo de oxigênio e de água, relação
carbono/nitrogênio do substrato, pH, potencial de oxirredução, transformações e pequenas perdas de nitrogênio,
distribuição dos macro e micro poros, estrutura (densidade aparente) e tamanho das partículas do substrato. É
interessante notar que nenhum desses fatores é afetado exclusivamente pela ação dos micro-organismos ou pelo
conteúdo do substrato.
Embora este método de compostagem não possua grandes exigências de equipamentos e tecnologia
industrial, é necessário bom conhecimento da ecologia do processo e capacidade técnica de avaliação e
monitoramento do funcionamento das leiras. Para ilustrar os principais desequilíbrios que podem ocorrer, as
orientações a seguir sugerem como proceder ao se perceber alterações indesejadas na leira de compostagem.
Estas são indicações gerais, mas com a prática se descobrem outros indicadores visuais, olfativos e táteis do
equilíbrio de uma leira de compostagem.

DESAFIOS CAUSAS PROVÁVEIS SOLUÇÕES


Excesso de matéria seca Adicionar material verde, adicionar água e revirar a leira.
Processo lento de Materiais muito grandes Cortar os materiais em pedaços pequenos e revirar a leira.
decomposição Leira muito larga e sem Construir leiras de no máximo 2m de largura e fazer uma boa
aeração cama de galhos no fundo.
Umidade excessiva e/ou Adicionar material seco (folhas, podas ou pó de serra) e
Cheiro de podre compactação revirar a leira
e/ou presença de Leira muito larga e sem Construir leiras de no máximo 2m de largura e fazer uma boa
larvas aeração cama de galhos no fundo.
Adicionar material seco (folhas, podas ou pó de serra) e
Cheiro de amônia Material muito úmido revirar a leira
– PROJETO REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS –
Tecnologia Social de Gestão Comunitária de Resíduos Orgânicos e Agricultura urbana 20

Restos de comida
Aparecimento de descobertos, tais como Retirar os restos ou cobri-los bem com terra, folhas e material
animais e pragas carnes, peixes, laticínios e seco
gorduras
Aumentar o tamanho da leira, adicionando mais material
Baixa Leira muito pequena verde e matéria seca.
temperatura (não Falta de material úmido Adicionar material verde e restos de comida.
chega a aquecer) Umidade insuficiente Adicionar água.
Arejamento insuficiente Revirar a leira.
Manual de Orientação – Compostagem doméstica, comunitária e Institucional de Resíduos Orgânicos, MMA/CEPAGRO/SESC/SC,
2017.
5.3. Maturação das leiras de compostagem
As leiras de compostagem devem ser removidas após avançado processo de maturação, evitando assim
possíveis odores. Esta etapa é muito importante, pois o não cumprimento do prazo estipulado pode acarretar em
impacto na vizinhança. Mesmo com o tempo adequado, assim que o composto orgânico for amontoado deve ser
coberto com palha como medida preventiva, pois alguns focos de anaerobiose podem ocorrer dentro das leiras.
Se o composto for armazenado em área sem cobertura, esta também deve apresentar sistema de
drenagem. O composto maturado armazenado em local coberto preserva mais suas propriedades e evita
variações por diluição, conforme precipitação local.
Somando as fases ativa e de maturação, o composto orgânico pode estar pronto no método UFSC entre 60
à 210 dias (de 2 à 7 meses). Este tempo varia conforme o processo de manejo e as dimensões das leiras de
compostagem, diretamente relacionado à quantidade de resíduos orgânicos nelas depositados. No pátio da
revolução dos Baldinhos, devido às grandes quantidades colocadas em cada leira, o composto orgânico é
produzido em aproximadamente 6 meses, enquanto em residências pode ficar pronto em 2 meses. Para o
processo de retirada das leiras é necessário equipamento e profissionais adequados para que não haja
comprometimento do sistema de drenagem do pátio de compostagem.
O composto líquido produzido também não deve apresentar odores. A coloração escura (preta) indica bom
grau de maturação. A coloração marrom ou amarelada indica processo incompleto, com presença de fortes
odores.

5.4. Peneiramento, produção e destinação do composto orgânico


O composto orgânico é um material parcialmente estabilizado, contendo
substâncias húmicas e elementos minerais, uma combinação capaz de condicionar
favoravelmente a fertilidade do solo para o plantio.
Quando o composto está bom, dizemos que o composto está maturado,
tendo como indicadores a presença de macrofauna (minhocas, centopeias, tatu
bolinha, dentre outros), sementes germinando, cheiro de terra e pH entre 6 à 6,5,
aspecto homogêneo, cor escura e sem aquecimento.
O peneiramento é um processo muito importante, sendo um ultima triagem antes da distribuição do
composto, garantindo um bom aspecto e qualidade. Mesmo com a segregação na fonte dos resíduos orgânicos e
coleta seletiva, materiais considerados rejeitos, como plásticos e vidros, podem ser encontrados no produto final
em pequenas quantidades. O projeto Revolução dos Baldinhos realiza o peneiramento em três granulometrias.
– PROJETO REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS –
Tecnologia Social de Gestão Comunitária de Resíduos Orgânicos e Agricultura urbana 21

Peneirado fundo de quintal (para hortas comunitárias)


Peneirado grosso (para doação)
Peneirado fino (para venda)

É sugerida a doação de pelo menos 10% do composto orgânico


produzido no pátio de compostagem de pequeno porte. Essa fração é
importante para promover a valorização do entorno da comunidade,
gerar reciprocidade entre os envolvidos e certificar aos moradores,
escolas e instituições beneficiadas sobre a qualidade do composto produzido.

Você sabia?
Atualmente o Projeto Revolução dos Baldinhos faz a doação de aproximadamente 2m3 de
composto orgânico, equivalente a 750kg. Doa-se mais do que se vende!
A comercialização dos seus produtos como composto orgânico, sabão, tinturas
vegetais é feitas em feiras e comércios locais. Entre serviços de assessoria técnica de
gestão comunitária de resíduos orgânicos e produtos o grupo já chegou a gerar 12 mil
em 1 ano.

6. OUTRAS FORMAS DE COMPOSTAGEM


6.1. Composteira em unidades escolares sem espaço ou residenciais (Super R)
Na composteira denominada “Super R 8”, a compostagem ocorre em recipientes fechados, com pequenos
orifícios laterais para circulação de oxigênio, permitindo otimizar o tempo de decomposição dos resíduos orgânicos
para produção do adubo, sem riscos de atrair roedores e insetos, além de inibir o
reviramento da mistura por animais domésticos. Esta alternativa é ideal para ser
aplicada em residências e escolas, principalmente para quem está iniciando a
aprendizagem sobre compostagem.
Para a fabricação da composteira doméstica será preciso: três bombonas
plásticas de 50L ou outros recipientes (como baldes) que permitam empilhamento;
uma torneira de PVC; furadeira; resíduos orgânicos frescos, serragem, palha,
inoculante (composto). Das três bombonas utilizadas, uma será destinada para a
coleta do fertilizante líquido, sendo a base para as demais. Nesta, será instalada na
parte inferior a torneira de PVC. Na parte superior serão feitos alguns furos
pequenos com a furadeira para permitir a entrada do ar, contribuindo para a
maturação do líquido. A tampa desta bombona também será furada com 5 furos de
3cm de diâmetro.
Nas outras duas bombonas, furos laterais devem ser feitos, no menor tamanho
possível, para proporcionar a entrada de ar, mas evitar a passagem de insetos. No fundo das duas bombonas
devem ser feitos furos de 3cm de diâmetro, para que o composto líquido escorra até a bombona que ficará na

8
A “Super R” foi criada pelo engenheiro agrônomo Júlio Maestri em 2008. Saiba mais: www.facebook.com/supercomposteira
supercomposteira@gmail.com
– PROJETO REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS –
Tecnologia Social de Gestão Comunitária de Resíduos Orgânicos e Agricultura urbana 22

base. Uma das tampas deve receber igualmente 5 furos de 3cm de diâmetro. A outra tampa (que sempre será a
tampa superior do kit) não receberá nenhum furo para evitar a entrada de água da chuva.
Adiciona-se em sequência: serragem, adubo, resíduos orgânicos, nova camada de adubo, serragem e palha,
folhas ou grama, encerrando-se o primeiro ciclo de alimentação da composteira com resíduos.
À medida que surge a necessidade de adicionar nova quantidade de resíduos gerados nas atividades diárias
da escola, a palha, folhas ou grama que cobriam a mistura são afastadas para as laterais, formando nova parede
lateral. Os novos resíduos são, então, adicionados e, com o auxílio de um garfo de jardinagem, são misturados com
o material anterior já em decomposição. Uma nova camada de serragem é adicionada, finalizando-se com outra
camada de palha, folhas e grama.
De 15 a 30 dias, o material da bombona que foi completada primeiramente estará homogêneo, sem cheiro
e sem risco de atrair animais e insetos indesejados, podendo ser disposto em um local com terra ou grama, para
que minhocas, centopeias, tatus-bolinha, dentre outros, naturalmente, maturem o composto. Com mais 25 dias de
maturação, o composto estará pronto para uso.

6.2. Tratamento em minhocários ou vermicompostagem


O processo digestivo das minhocas também é uma forma de decomposição da matéria orgânica e o
tratamento de resíduos com este método é chamado de vermicompostagem ou, simplesmente, tratamento em
minhocários. Esse processo geralmente é feito em local fechado (para não ocorrer fuga das minhocas) e coberto
(excesso de umidade é prejudicial às minhocas), por exemplo, em caixas plásticas. Os resíduos são então dispostos
no minhocário com adição de matéria seca.
Os minhocários podem ter diversos tamanhos, proporcionais à produção de resíduos orgânicos. Já as
minhocas escolhidas devem ser preferencialmente de espécies que se alimentem de resíduos frescos. No Brasil, as
minhocas mais utilizadas para tratar resíduos orgânicos são as minhocas californianas, que podem ser adquiridas
em sites especializados ou doadas por pessoas que já possuem minhocário.
O uso de minhocários para tratar resíduos orgânicos é muito adotado em apartamentos ou outros locais
com restrição de espaço, pela sua praticidade e tamanho. É importante que o manejo do minhocário seja
cuidadoso, pois se algum fator estiver desequilibrado (muita umidade, muito calor, ou muito frio, por exemplo), as
minhocas podem morrer ou fugir. Além disso, os minhocários possuem algumas restrições quanto aos resíduos
que, em grandes quantidades, podem ser prejudiciais às minhocas, como restos de carne, cítricos, alimentos
cozidos ou com alto teor de sal.
– PROJETO REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS –
Tecnologia Social de Gestão Comunitária de Resíduos Orgânicos e Agricultura urbana 23

7. AGRICULTURA URBANA
Não há duvidas sobre a importância que cerca a compostagem de resíduos orgânicos como uma prática
que nos permite atacar problemas ambientais, a disposição de resíduos e, ao mesmo tempo, prover para nossa
agricultura tropical grandes quantidades de adubos orgânicos com todas as qualidades e efeitos benéficos. O
aporte de matéria orgânica, seja na forma de restos vegetais e animais, seja pela compostagem, é de suma
importância para os solos tropicais. A matéria orgânica tem sido considerada um indicador chave da qualidade do
solo e um componente de todo ecossistema terrestre.
Uma agricultura sustentável só poderá advir de uma sociedade sustentável, isto é, de uma sociedade que
se enxergue como um todo inter-relacionado, onde cada vez mais a busca de soluções integradas se faz necessária.
A compostagem de resíduos é este exemplo. Ela pode beneficiar tanto o meio urbano como o meio rural e por isso
deverá ser planejada de forma integrada e com cuidados ambientais pertinentes, para gerar resultados amplos e
atingir todo o potencial de benefícios que podem ser explorados.

Você sabia?
No dia 06 de junho de 2018 foi aprovada a Política Municipal de Agroecologia e produção orgânica de Florianópolis
(PMAPO), LEI 10.392/2018.
Art. 1º - Fica instituída a PMAPO, com o objetivo geral de integrar, articular e adequar políticas públicas, programas
e ações indutoras de transição agroecológica e da produção orgânica e de base agroecológica, contribuindo para o
desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida da população, por meio do uso sustentável dos recursos
ambientais e da oferta e do consumo de alimentos saudáveis, de origem animal e vegetal, conforme Decreto nº
7.794 de 2012.9

7.1. Agricultura urbana aos olhos da Chico Mendes


“Quem nasceu plantando, quer permanecer colhendo.”
Cíntia Aldaci da Cruz
Muitos moradores vieram do interior em busca de qualidade de vida, educação, saúde, mas encontraram a
realidade que “apenas trabalhar não basta”. Era preciso fazer diferente, era preciso plantar, pois também seria
uma forma de agregar no orçamento familiar.
Dessa maneira, os moradores da comunidade inovaram na agricultura urbana, plantando nas margens da
BR 282 (agroecologia) e em vários canteiros pelas ruas. Hortas surgiram nos telhados e lajes da comunidade, em
bacias e vasos. Com alface, couve, temperos, verduras, plantas medicinais que integram a vivência comunitária. Os
frutos que a mãe terra generosa oferece para quem sabe plantar.
As famílias que participam do projeto recebem o composto orgânico para promoverem a agricultura
urbana, resgatando a cultura do plantio e de entender que a agricultura pode ser feita em qualquer lugar.

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www.leismunicipais.com.br
– PROJETO REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS –
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DEPOIMENTO DE MARGARIDA SANTOS, família Revolução dos Baldinhos

“Sou Margarida M. dos Santos. Nasci e me criei na roça. Aos 20 anos, por falta de melhores conhecimentos e apoio
financeiro fui embora para a cidade para ter um salário e ajudar a minha família. Por todos os lugares que já morei,
nunca deixei de plantar. Esse trabalho nos faz muito bem emocionalmente e psicologicamente. E também você se
alimentar do teu próprio cultivo é muito gratificante. E por isso apresento a
Agrofloresta as margens da via expressa. Ficava triste com o
acúmulo de lixo na beira da via. Limpei o terreno e
comecei a plantar várias espécies de plantas.
Está dando certo, está produzindo muitos frutos.”

Você sabia?
A Infusão de casca de cebola com folhas de penicilina e sal é excelente para inflamações na garganta.

8. REFERÊNCIAS
Cartilha “Revolução dos Baldinhos – A Tecnologia Social de Gestão Comunitária de Resíduos Orgânicos e
Agricultura Urbana”
Manual de Orientação – Compostagem doméstica, Comunitária e Institucional de Resíduos Orgânicos,
Brasília, 2017.
Critérios Técnicos para elaboração de projeto, operação e monitoramento de Pátios de Compostagem de
Pequeno Porte, FAPESC, 2017.
Cartilha “O passa-a-passo de uma REVOLUÇÃO: Compostagem e agricultura urbana na gestão comunitária
de resíduos orgânicos” CEPAGRO, Florianópolis, 2017.
COMPOSTAGEM: Ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos, Caio de Teves Inácio e Paul Richard
Miller, EMBRAPA Solos, Rio de Janeiro, 2009.
– PROJETO REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS –
Tecnologia Social de Gestão Comunitária de Resíduos Orgânicos e Agricultura urbana 25

PROJETO REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS

A Revolução dos Baldinhos é um grupo comunitário da Comunidade Chico Mendes,


responsável pela gestão dos resíduos orgânicos de muitas famílias, além da promoção da
agricultura urbana local.
O grupo está sempre aberto para receber pessoas interessadas na gestão comunitária de
resíduos orgânicos, através da sua tecnologia social desenvolvida desde 2008. Muitas
pessoas já se compostaram por aqui e passaram a levar os cuidados com os resíduos orgânicos para a sua vida.
Agende a sua visita e contribua para a permanência/resiliência do grupo!
Contamos com doações e contribuições espontâneas, além dos serviços prestados: visitas agendadas,
capacitações em gestão comunitária de resíduos orgânicos e agricultura urbana, vivências comunitárias e
vendas de composto sólido/líquido e outros produtos.

revolucaodosbaldinhos@gmail.com
www.facebook.com/revolucao.dosbaldinhos
instagram.com/revolucaodosbaldinhos
(48) 3249-4102
Rua dos Pinheiros Verdes, 165, Chico Mendes, Monte Cristo.

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