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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

E DA SAÚDE
CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

PROTOCOLOS DE INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL EM TEMPO FIXO UTILIZADOS


EM PORTUGAL

JULES WIEDMER BASTOS E BUDANT

CURITIBA
2019
JULES WIEDMER BASTOS E BUDANT

Relatório de Estágio Curricular apresentado ao


Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de
Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade
Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para
obtenção do título de Médico Veterinário.

Orientador: Prof. Dr. Welington Hartmann


Orientador Profissional: Dr. José Rodrigues
Migueis

CURITIBA
2019
Reitor

Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos

Pró-Reitora Promoção Humana

Profª. Ana Margarida de Leão Taborda

Pró-Reitora Administrativa

Prof. Camille Rangel

Pró-Reitor Acadêmico

Prof. João Henrique Faryniuk

Pró-Reitor de Planejamento

Prof. Afonso Celso Rangel dos Santos

Secretário Geral

Sr. Marco Aurélio Cardoso

Coordenador do Curso de Medicina Veterinária

Prof. Welington Hartmann

Supervisora de Estágio Curricular

Profª. Jesséa de Fátima França Biz

Campus Barigui

Rua Sydnei A Rangel Santos,


238 CEP: 82010-330 – Curitiba
– PR Fone: (41) 3331-7958
TERMO DE APROVAÇAO

Jules Wiedmer Bastos e Budant

Este trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para obtenção do


título de Médico Veterinário no Curso de Medicina Veterinária da Universidade
Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 10 de junho de 2019.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Welington Hartmann (Presidente)

Prof. Dr. João Filipi Scheffer Pereira

__________________________________________

Prof. Dr. Celso Grigoletti


DEDICATÓRIA

Aos meus pais


Sergio Murilo Budant e Maria Helena Wiedmer Bastos e Budant

Ao herói do cerco da Lapa, meu bisavô David Wiedmer

Dedico!
AGRADECIMENTOS

A Deus por estar sempre abençoando meu caminho e me guiando a cada


passo.
Aos meus pais por sempre estarem ao meu lado me apoiando, por todo
esforço que sempre fizeram para que eu pudesse realizar meu sonho, que também é
e sonho deles. Mesmo com todas as dificuldades, superadas neste caminho, juntos
conseguimos mais uma vitoria em nossas vidas.
Aos meus irmãos Murilo e Mylena, por sempre torcerem por mim e me
apoiarem e ao meu primo André Luis Bastos de Souza, que desde sempre, pela sua
dedicação e comprometimento ao trabalho, me inspirou a seguir a carreira de Médico
Veterinário.
A minha noiva Livia Gabrielli, que sem medir esforços, passou noites ao meu
lado, me ajudando, me estimulando nos momentos mais difíceis e nunca deixou de
me incentivar.
Aos meus sogros Alessandro e Everli Gabrielli, por torcerem pelo meu
sucesso.
A empresa Vetfarm, pela oportunidade de realizar o estágio, agregando
conhecimentos em minha vida profissional.
Ao professores que durante todo período acadêmico transmitiram seus
conhecimentos e disposição a ensinar e em especial ao meu orientador Welington
Hartmann, que durante todo o curso, esteve de maneira especial disponibilizando seu
tempo, sempre disposto a ajudar. Levo comigo um grande mestre e um amigo!
APRESENTAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Medicina


Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti
do Paraná, composto por relatório de estágio onde estão descritas as atividades
realizadas no período de 11 de Fevereiro ate 19 de abril de 2019, totalizando 400
horas. O Estágio foi realizado na empresa Vetfarm que está localizada em Portugal
na cidade de Évora, com o desenvolvimento de atividades na área de Reprodução
Animal.
RESUMO

Com o objetivo de proporcionar uma escala de partos distribuída ao longo dos


meses do ano, em rebanhos leiteiros, e para poder melhorar as taxas de concepção
em rebanhos inseminados, foram desenvolvidos protocolos de Inseminação Artificial
em Tempo Fixo, podendo ser aplicados independentemente do cio natural da fêmea.
Estes programas induzem a ovulação das vacas com o uso de protocolos
hormonais, permitindo a realização da inseminação em data e hora pré-determinada.
O mercado atual conta com diferentes tipos de protocolos hormonais, e permite que
o profissional veterinário possa analisar a propriedade como um todo e escolher o
ideal com base no objetivo proposto. Com a dificuldade de mão de obra a campo, o
uso da IATF se tornou freqüente, pois facilita o manejo e evita a necessidade de
observação de cio.

Palavras-chave: ciclo estral; inseminação artificial em tempo fixo; protocolos


hormonais; reprodução.
ABSTRACT

In order to provide a calving scale distributed throughout the months of the year in
dairy herds, and to improve conception rates in inseminated herds, protocols of
Artificial Insemination at Fixed Time have been developed, being able to be applied
independently of the natural heath of the female. These programs induce ovulation of
cows using hormonal protocols, allowing the insemination to be performed at a
predetermined date and time. The current market has different types of hormonal
protocols, and allows the veterinary to analyze the property as a whole and choose
the ideal based on the proposed objective. With the difficulty of fieldwork, the use of
IATF has become frequent, since it facilitates the management and avoids the need
for estrus observation.

Key words: fixed-time artificial insemination; hormonal protocols; estral cycle;


reproduction.
LISTA DE ABREVIAÇÕES

µg microgramas
BE Benzoato de Estradiol
CL Corpo Lúteo
E2 Estradiol
ECG Gonadotrofina Coriônica Eqüina
FD Folículo Dominante
FSH Hormônio Folículo Estimulante
GnRH Hormônio Liberador de Gonadotrofina
IA Inseminação Artificial
IATF Inseminação Artificial em Tempo Fixo
IM Intramuscular
LEB Leucose Enzoótica Bovina
LH Hormônio Luteinizante
mg miligramas
P4 Progesterona
PGF2α Prostaglandina
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura1 Mapa da região de Évora, Portugal ................................................ 13


Figura 2 Visão de um Free-Stall na região de Évora, com 1500 vacas........ 15
Figura 3 Coleta de sangue de caprino para sanidade................................... 15
Figura 4 Coleta de sangue de fêmea bovina................................................. 18
Figura 5 Sala de ordenha.............................................................................. 18
Figura 6 Protocolo Ovsynch.......................................................................... 25
Figura 7 Protocolo Presynch......................................................................... 26
Figura 8 Protocolo Cosynch.......................................................................... 27
Figura 9 Protocolo de associação de BE e Progesterona....................................... 27
Figura 10 Protocolo de associação de Estrogênio e Progesterona.......................... 28
Figura 11 Protocolo de associação de ECG............................................................. 29
LISTA DE TABELAS E QUADROS

Tabela 1 Procedimentos relacionados à fisiologia e biotecnologia da reprodução........ 14


Tabela 2 Atividades relacionadas à clinica médica e cirúrgica de bovinos..................... 16
Tabela 3 Controle sanitário de bovinos........................................................................... 17
Tabela 4 Controle sanitário de ovinos e caprinos........................................................... 17
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 11
2 OBJETIVO................................................................................................. 12
3 LOCAL DE REALIZAÇÃO DE ESTÁGIO................................................. 13
4 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS.............................................................. 14
5 REVISÃO BIBLIOGRAFICA...................................................................... 19
5.1 PUBERDADE............................................................................................. 19
5.2 CICLO ESTRAL......................................................................................... 19
5.2.1 Pró- estro................................................................................................... 20
5.2.2 Estro.......................................................................................................... 20
5.2.3 Metaestro................................................................................................... 20
5.2.4 Diestro........................................................................................................ 20
5.3 DINÂMICA FOLICULAR............................................................................. 21
5.4 INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL EM TEMPO FIXO (IATF)............................. 22
5.5 HORMÔNIOS UTILIZADOS NA IATF....................................................... 23
5.6 SINCRONIZAÇÃO DE ESTRO.................................................................. 24
5.7 PROTOCOLOS DE IATF EM VACAS DE LEITE....................................... 25
5.7.1 Protocolo Ovsynch..................................................................................... 25
5.7.2 Modificações no protocolo Ovsynch.......................................................... 26
5.7.3 Protocolos com associação de Benzoato de Estradiol (BE) e
Progestágeno (P4)..................................................................................... 27
5.7.4 Protocolos com associação de Estrogênio e Progesterona...................... 27
5.7.5 Protocolos com associação de Progesterona, Benzoato de Estradiol e a
utilização de ECG..................................................................................... 28
6 RELATO DE CASO................................................................................... 31
7 DISCUSSÃO.............................................................................................. 32
8 CONCLUSÃO............................................................................................ 33
9 REFERÊNCIAS.......................................................................................... 34
11

1 INTRODUÇÃO

Nas propriedades leiteiras, a eficiência reprodutiva é um dos fatores que mais


influenciam no sucesso econômico. Para um melhor desempenho reprodutivo e
produtivo, existe a necessidade da redução nos intervalos entre partos por meio de
inseminação artificial ou inseminação artificial por tempo fixo (IATF), com as fêmeas
apresentando gestação o mais cedo possível após o puerpério e no pós-parto
(MARINHO et al., 2017). Ao longo dos anos, nota-se uma queda progressiva dos
índices reprodutivos nas propriedades de produção leiteira (LUCY et al., 2004). De
acordo com Alves (2009) e Bello e Pursley (2006) esses resultados têm sido
atribuídos a um fator de natureza multifatorial, tendo influência das adaptações
metabólicas e endócrinas como, por exemplo, balanço energético negativo,
involução uterina e a quantidade de leite produzida, fatores ambientais, como
conforto e bem-estar animal e fatores que dependem do manejo nutricional e
reprodutivo.
Devido à necessidade de diminuir os intervalos entre partos, a utilização
exclusiva da detecção de cio ficou inviável para assegurar altas taxas de fertilidade,
os programas de sincronização e ressincronização de estro tornaram-se mais
comuns no manejo reprodutivo de vacas de leite (CARAVIELLO et al., 2006).
Os principais objetivos dos programas de sincronização de estro consistem em
fazer o controle do desenvolvimento da onda folicular, promover a ovulação em
vacas em anestro, regressão de corpo lúteo em vacas em atividades cíclicas,
programação de cio de rebanhos para um mesmo período, indução de estro em
vacas de leite que não manifestam até os 45 dias pós-parto (TALINI et al., 2017).
Estes programas são compostos por administração de diferentes fármacos
hormonais em tempos específicos, controlando a onda folicular e a indução à
ovulação, podendo assim inseminar um grupo de vacas em um mesmo período,
procurando ter taxas de concepção máximas na inseminação, diminuindo assim o
número de vacas que são descartadas por baixa capacidade reprodutiva
(BARUSELI, 2007).
12

2 OBJETIVO

O presente trabalho teve como objetivo abordar os protocolos de IATF em


vacas de leite, possibilitando a discussão sobre sua efetividade sob o ponto de
vista técnico, promovendo assim a possibilidade de ajustes de acordo com os
resultados obtidos. Sabe-se que os mesmos apresentam variações por região, por
raça e por idade dos animais, bem como em função da aptidão econômica para
corte ou leite.
13

3 LOCAL DE REALIZAÇÃO DE ESTÁGIO

O Estágio foi realizado durante o período de 11 de fevereiro a 19 de abril, na


empresa Vetfarm que está localizada em Portugal na cidade de Évora (Figura 1). A
equipe técnica da empresa é composta por três médicos veterinários e um
zootecnista, e o objetivo foi acompanhar as atividades realizadas diariamente, que
foram divididas em reprodução de bovinos de leite, clínica médica de bovinos, clínica
médica de pequenos ruminantes, sanidade, e emergências em geral.

Figura 1 – Mapa da região de Évora


14

4 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

A empresa faz prestação de serviços para 80 clientes com um efetivo


aproximado de 8 mil bovinos de leite, 2,5 mil bovinos de corte, 2 mil ovinos e
caprinos. Os serviços prestados incluem controle reprodutivo, atendimento de clínica
em geral, coleta de sangue para análises posteriores de exames de sanidade,
vacinação, administração de antiparasitários, aconselhamento técnico e bem estar
animal, como pode ser observado na Tabela 1.

Tabela 1 – Procedimentos relacionados à Fisiologia e Biotecnologia da Reprodução.


Atividade Quantidade Freqüência (%)

Diagnostico de gestação 670 33,21%

Protocolo de IATF 330 16,36%

Avaliação ovariana e uterina 1000 49,58%

Partos distócicos 4 0,20%

Fetos mumificados 2 0,1%

Inseminação artificial 11 0,55%

Total 2.017 100%

As propriedades acompanhadas estão localizadas no conselho de Évora, e


em conselhos próximos como Montemor, Coruche, Elvas, Beja, dentre outros.
As propriedades leiteiras que foram acompanhadas contam com efetivos que
variam de 30 a 800 vacas em lactação, com diferentes formas e sistemas de
produção (Figuras 2 e 3), sendo utilizada ordenhadeira mecânica tradicional ou
robotizada. A raça predominante é a Holandesa, com algumas propriedades
utilizando outras raças, principalmente a raça Jersey.
15

Figura 2 – Visão geral de um Free-Stall na região de Évora, com 1.500 vacas.

Figura 3- Sala de ordenha automatizada


16

Grande parte dos proprietários das leiterias são imigrantes holandeses, que
fazem a criação em confinamento para possibilitar a maximização das áreas
agricultáveis para a produção de forrageiras, além de facilitar a mão de obra e
promover o bem estar animal.
Nas propriedades de gado de corte houve o acompanhamento de vacinação
dos animais e da reprodução das matrizes. A maior propriedade faz a criação de
animais da raça Angus, mas a raça predominante é Limousine.
Em propriedades de ovinos e caprinos foram feitas visitas programadas para
controle sanitário e parasitológico, e atendimentos de emergência. As propriedades
apresentavam rebanhos de tamanhos variados, com 10 a 600 animais. Em uma das
propriedades de cabras de leite, da raça Toggenburg, houve o acompanhamento da
rotina da ordenha, onde havia 250 animais em lactação com 2 ordenhas por dia.
As atividades eram realizadas no período diurno, e se iniciavam bem cedo, de
acordo com o horário combinado entre o proprietário e o médico veterinário e se
encerravam próximo às 18 horas.
As atividades de reprodução eram realizadas quinzenalmente e mensalmente
de acordo com o contrato entre o proprietário e o médico veterinário. As principais
atividades eram diagnóstico de gestação precoce através de palpação transretal,
palpação de vacas pós parto, persistência de corpo lúteo, indicação de protocolos
para indução de estro, diagnóstico e tratamento das infecções uterinas entre outras,
conforme Tabela 2.

Tabela 2 – Atividades relacionadas à clínica médica e cirúrgica de bovinos.


Atividade Quantidade Frequência (%)
Diarréia 46 48,42%
Pneumonia 30 31,6%
Lesão de membros 2 2,1%
Casqueamento 8 8,42%
Avaliação de prepúcio 1 1,1%
Abscesso 7 7,3%
Babesiose 1 1,1%
Total 95 100%
17

Nas visitas para controle sanitário eram realizadas as coletas de sangue


(Figuras 4 e 5) para a identificação de animais positivos para Brucelose (Bovinos,
Ovinos e Caprinos) e Leucose Enzootica Bovina (LEB). Os exames eram realizados
por laboratórios oficiais do governo. O exame da Brucelose era realizado através do
método de Rosa de Bengala e fixação, que é um antígeno acidificado e tamponado
destinado a triagem sorológica da brucelose por soroaglutinação direta em cartão. A
brucelose e uma doença infecciosa de origem animal causada por um cocobacilo
gram negativo do gênero Brucella e por este fato o sorodiagnóstico torna-se um
recurso laboratorial muito importante. E o diagnóstico de LEB através do método de
ELISA, conforme o controle sanitário de acordo com os Planos Nacionais de
Erradicação Acelerada da Brucelose, Tuberculose e Leucose Enzoótica dos Bovinos
(Ministério da Agricultura, Pescas e Alimentação de Portugal, Portaria n.º 702/88,
Diretiva n.º 78/52/CEE, 2009.), de acordo conforme as Tabelas 3 e 4.

Tabela 3 – Controle sanitário dos bovinos


Atividade Quantidade Frequência %
Sanidade/Coleta 3000 66,66%
Antiparasitários 4500 100%
Vacinação 4500 100%
Total 4500 100%

Tabela 4 - Controle sanitário de ovinos e caprinos


Atividade Quantidade Frequência %
Sanidade/Coleta 1250 92,60%
Antiparasitários 1350 100%
Vacinação 1350 100%
Total 1350 100%
18

Figura 4 – Coleta de sangue de caprino para sanidade para identificação de brucelose

Figura 5 - Coleta de sangue de fêmea bovina para sanidade para identificação de brucelose
19

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

5.1 - PUBERDADE

É um processo gradual da maturação que se inicia antes do nascimento e


continua através do período pré e peripubertal. O conceito de puberdade na fêmea
é a idade em que vai ocorrer o primeiro estro acompanhado de ovulação ou o início
do ciclo reprodutivo (McDONALD, 2003).

O início da puberdade está relacionado ao primeiro estro da novilha,


acompanhado de uma fase lútea fisiológica. Na fêmea bovina, esta fase envolve a
mudança de um período de inatividade ovariana para outro, no qual as ovulações
regulares ocorrem (HARTMANN e PEREIRA, 2018). Entre os fatores que
interferem no início da atividade ovariana estão: raça, peso, manejo e o consumo
de nutrientes. O baixo consumo de nutrientes resulta em retardo da puberdade em
novilhas, em contrapartida, com o alto nível nutricional a puberdade será
antecipada. A habilidade do animal em manter elevada a liberação do hormônio
luteinizante está relacionada ao seu estado metabólico, isto é, à sua reserva
metabólica (HAFEZ, 2004).

A idade média na puberdade de novilhas de raças leiteiras submetidas a


níveis nutricionais recomendados é de 10 a 12 meses (HAFEZ, 2004). Devem ser
considerados a idade e o peso corporal das novilhas, sendo que nas raças bovinas
européias o peso ideal para o primeiro serviço reprodutivo é 300-320kg (EMERICK,
2009).

Ao observar o cio nas novilhas é importante considerar a maturidade sexual,


ou seja, o desenvolvimento corporal relacionado a possíveis dificuldades de parto
(SOUSA, 2017).

5.2 CICLO ESTRAL EM BOVINOS


O aparecimento do ciclo estral e sua manutenção durante a vida reprodutiva
do animal dependem de vários hormônios produzidos no ovário, útero e hipófise que
vão interagir com hormônios produzidos em outros órgãos. O ciclo da fêmea bovina
não depende de estação de ano, e para isto as condições nutricionais e adaptação
ambiental devem estar adequadas (TORRES JUNIOR, 2018). Este período
denominado ciclo estral, se manifesta a cada 21 dias em média, podendo variar
20

fisiologicamente de 17 a 24 dias, sendo menor em novilhas que em vacas de mais


idade, envolvendo 4 fases: Pró-estro, Estro, Metaestro e Diestro (EMBRAPA, 2006).

5.2.1 Pró-estro
É a fase que antecede o estro ou cio. Nessa fase ocorre o aumento gradativo
circulante de estrógeno devido ao início do desenvolvimento folicular. Durante esse
período a fêmea vai apresentar sinais de inquietação, cauda erguida, urina
constante, vulva edemaciada, diminuição de apetite, estresse e liberação de muco e
tem duração de 2-3 dias (OLIVEIRA, 2006; FURTADO, 2011).

5.2.2 Estro
Período em que a fêmea vai apresentar sinais de receptividade sexual, e é a
fase que continua o crescimento folicular de forma a permitir a posterior ovulação.
Em bovinos a duração média do estro é de 12 horas, quando termina o cio a
ovulação acontece em 12 a 16 horas. A duração do cio e o momento da ovulação
vão depender entre as fêmeas das mesmas espécies, em função de fatores
endógenos e exógenos (HARTMANN e PEREIRA, 2018).

5.2.3 Metaestro
Fase mais difícil de ser observada. Após a ovulação por estímulo de LH
ocorre a formação do corpo lúteo. O mesmo secreta quantidades crescentes de
progesterona até atingir sua produção máxima. Com a produção inicial de
progesterona, a genitália apresentará menor tônus muscular, menos vascularização
e vulva edemaciada. Tem duração de 2-4 dias e termina quando o corpo lúteo atinge
a sua capacidade de produção de progesterona (FURTADO, 2011).

5.2.4 Diestro
É a fase do ciclo que tem duração de 14 dias. Inicia quando a progesterona
atinge concentrações significativas e continua ate o corpo lúteo regredir. Se o óvulo
for fertilizado, o corpo lúteo se mantém produzindo progesterona, que é o hormônio
responsável pela gestação. Caso não ocorra a fertilização o corpo lúteo regredirá,
dando início a uma nova fase folicular (BALL E PETERS, 2006; STEVENSON,
2005).
O ciclo estral é regulado por mecanismos endócrinos e neuroendócrinos,
21

especialmente por hormônios hipotalâmicos, as gonadotrofinas e os esteróides


secretados pelos ovários.

5.3 DINÂMICA FOLICULAR

Na dinâmica folicular hormônios da reprodução estão envolvidos no eixo


hipotálamo-hipofise-gonadal, que controlam o ciclo estral sendo eles hipotalâmicos
como GnRH, hipofisário como o FSH e o LH , ovarianos P4 e E2 e uterinos PGF2α
(TORRES JUNIOR et al., 2018).
Dinâmica folicular é o processo contínuo de crescimento e regressão de um
grupo de folículos antrais que se desenvolve para um folículo pré-ovulatório.
Reconhece-se na vaca a existência de três ondas de desenvolvimento folicular a
cada ciclo, podendo ocorrer de duas a três ondas foliculares durante o ciclo estral,
sendo que somente a última a onda é ovulatória (BINELLI et. al., 2006).
Durante o desenvolvimento folicular, as ondas podem ser subdivididas em
três fases denominadas recrutamento, seleção e dominância. Sendo assim os
folículos são recrutados, selecionados e um deles atinge a dominância folicular,
para então ovular ou tornar-se atrésico. O recrutamento é iniciado por um estimulo
de FSH fazendo com todos os folículos se desenvolvam. Com o crescimento dos
folículos, os maiores são selecionados dando início à produção de estradiol,
inibindo a liberação de FSH e limitando o crescimento folicular e grande parte dos
folículos recrutados atresiam (FORTUNE et al., 2004; TORRES JUNIOR et al.,
2018).
A seleção folicular é o processo no qual somente um folículo é escolhido
evitando a sua atresia, desenvolvendo-se para a maturação até atingir a ovulação.
Quando o folículo escolhido alcança um determinado estágio de crescimento, o
desenvolvimento do mecanismo de divergência bloqueia o crescimento do segundo
maior folículo, antes do mesmo alcançar um diâmetro similar. A dominância folicular
é o processo pelo qual o folículo selecionado vai exercer dominância sobre os
outros folículos recrutados, bloqueando o crescimento dos mesmos e inibindo que
um novo grupo de folículos seja recrutado (BARUSELLI et al., 2007).
O folículo dominante sofre atresia quando no ovário existe um corpo lúteo
ativo, com alta produção de progesterona que vai exercer um efeito de
retroalimentação sobre o eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal, diminuindo os
22

pulsos de LH, fazendo com que os processos de maturação do folículo e ovulação


não ocorram (TORRES JUNIOR et al., 2018).
O desenvolvimento do folículo dominante com baixa concentração de
progesterona promove o aumento da concentração de estrógeno, que libera o
mecanismo de retroalimentação para a secreção de GnRH e pico de LH, ocorrendo
então a ovulação (AERTS e BOLS, 2010). Com o aparecimento de LH, a
prostaglandina é produzida pelo folículo, o qual irá se romper resultando na
liberação do oócito (FILION et al., 2001).
Após a ovulação ocorre o início da fase luteínica, onde o corpo lúteo formado
será o responsável pela liberação da progesterona e pela manutenção da gestação.
Se não houver a concepção, o CL ficará funcional ate o 14º ou 16º dia do ciclo
estral, ou regredir caso haja outra onda folicular com FD apto à ovulação (SÁ
FILHO, 2008).

5.4 INSEMINAÇÕES ARTIFICIAIS EM TEMPO FIXO (IATF)


No Brasil a Inseminação artificial (IA) e a Inseminação Artificial em tempo fixo
(IATF) são as biotecnologias mais utilizadas, possibilitando um melhoramento
genético com a utilização de sêmen de centrais de genéticas bovinas, onde o
proprietário tem como escolher quais características deseja incluir em seu rebanho
(BRUNORO, 2017).
A Inseminação artificial em tempo fixo (IATF) é uma tecnologia que foi
desenvolvida para resolver as dificuldades da IA. Com o uso da IATF podemos
eliminar as falhas na detecção de cio e diminuir o tempo de anestro no pós-parto.
Concentrando um maior número de animais para a IA em um menor intervalo de
tempo, permitindo que o animal tenha um maior número de gestações, e um menor
intervalo entre parto, reduzindo o estresse, aumentando a taxa de natalidade e
programando os nascimentos ao longo do ano (SÁ FILHO, 2008).
Os protocolos hormonais integram diferentes combinações de hormônios
naturais ou sintéticos podendo assim manipular o ciclo estral da fêmea bovina com
a finalidade de utilizar biotecnologias reprodutivas. A função dos protocolos é
simular os efeitos fisiológicos de cada fase do ciclo estral, visando maiores taxas de
sucesso reprodutivo e econômico (PEREIRA e HARTMANN, 2018).
Para a manipulação hormonal da dinâmica folicular e luteínica em programas
de IATF existem três princípios: (1) Sincronizar a emergência de uma nova onda de
23

crescimento folicular induzindo a ovulação utilizando GnRH, LH e hCG, ou por


indução de atresia folicular utilizando progesterona e estradiol; (2) Controle da
duração da fase progesterônica utilizando agentes luteolíticos PFG2α e estrógenos
ou utilizando implantes de P4 que fazem a liberação lenta; (3) Induzindo a ovulação
do FD no final do protocolo com o uso de GnRH, LH ou estrógenos (BE)
(BARUSELLI et al., 2010).

5.5 HORMÔNIOS UTILIZADOS NA IATF

Progestágenos
A progesterona é apresentada de duas formas: intravaginal e via auricular
subcutânea. Estes hormônios requerem liberação lenta e contínua em uma taxa
constante. O objetivo é manter o nível de P4 circulante alto, bloqueando o eixo
hipotálamo-hipófise-gonadal, impedindo o pico de LH, simulando a fase luteínica do
ciclo estral (SÁ FILHO, 2008; PEREIRA e HARTMANN, 2018).

Prostaglandina (PGF2α)
É um hormônio de uso para controlar o cio e a ovulação, e recomendado o
seu uso em animais com ciclo estral regular. Tem a função de promover a luteólise,
diminuindo a liberação de P4. Com a regressão do corpo lúteo ocorre a liberação do
eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal, que quando associado a E2 estimula o
desenvolvimento do FD. Após a sua segunda aplicação ocorrerá um novo pico de
LH, desencadeando uma ovulação (RODRIGUES, 2017).

GnRH
Hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) é armazenado no hipotálamo,
e sua função pode variar nas fases reprodutivas. É liberado pelo sistema porta-
hipotálamo-hipofise e a adenohipófise liberam FSH e LH que são responsáveis no
desenvolvimento folicular, ovulação e a formação do corpo lúteo (PEREIRA e
HARTMANN, 2018).

ECG
É um fármaco de meia vida longa produzido nos cálices endometriais de
24

éguas prenhas. O ECG estimula o crescimento folicular e a ovulação quando


administrado em vacas em anestro ( BARUSELLI et al; 2010).
É usado para aumentar o diâmetro folicular e o corpo lúteo que se formou
após a ovulação, levando a maturação final do folículo se ligando nos receptores de
FSH e LH. Assim tendo um aumento na taxa de prenhez (PEREIRA e HARTMANN
2018).

ESTRADIOL
Existem variedades de Estradiol (E2) sendo elas Benzoato de Estadiol (BE) e
Cipionato de Estradiol (CE). O CE com a presença de P4 ira causar a regressão de
folículos antrais que estão no ovário, mas com a baixa solubilidade em água, os
mesmo levam a um atraso no dia da emergência da onda de crescimento folicular. O
BE apresenta meia vida curta, induzindo com uma melhor eficiência a emergência
de uma nova onda de crescimento folicular (CAMARGO et al., 2017).

5.6 SINCRONIZAÇÃO DO ESTRO

O surgimento da IA e dos protocolos de sincronização de estro seguido da IATF,


tem como objetivo aumentar o numero de animais prenhes. Os diversos protocolos
que existem utilizam fármacos com diferentes locais de ação (TOMAZ, 2017).
O protocolo hormonal normalmente utilizado conta com a implantação de um
dispositivo de P4, acompanhado na aplicação de BE no dia zero. A associação
desses dois hormônios vai diminuir os níveis de FSH e LH, levando a regressão dos
folículos dependentes. Com a regressão dos folículos e diminuindo a concentração
de E2, ocorre um aumento de FSH levando a uma emergência de uma nova onda de
crescimento folicular (CAMARGO et al., 2017).
25

5.7 PROTOCOLOS DE INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL EM TEMPO FIXO EM VACAS


DE LEITE

5.7.1 Sincronizações de ovulação usando combinações de PGF2α e


GNRH: protocolo Ovsynch

A geração de ferramentas para manejo reprodutivo teve alterações para


eliminar a detecção de estro e ter um aumento da eficiência na manipulação do
animal, concentrando-se em fazer o controle do CL, em animais cíclicos, e da
dinâmica folicular, resultando em protocolos econômicos e práticos para sincronizar
a ovulação (LAMB et al., 2010).
O controle de desenvolvimento folicular e função lútea podem ser obtidos
através da administração combinada de PGF2α e GnRH. Estudos realizados por
Pursley permitiram o desenvolvimento do programa Ovsynch (Figura 6), que está na
base de grande parte dos programas de IATF desde então (PEREIRA e
HARTMANN, 2018).
O protocolo consiste em uma aplicação intra-muscular (IM) de 100 µg de
GnRH no dia 0, uma aplicação de 25 mg de PGF2α no dia 7, outra dose de 100 µg
de GnRH no dia 9 e a IA de 12 a 16 horas depois (DERAR, 2012).
Com a aplicação de GnRH, uma nova onda folicular se formará, ocorrendo
seleção e dominância. O GnRH tem a função de afetar o crescimento folicular,
causando a ovulação ou luteinização do FD, dependendo da fase do ciclo estral em
que a vaca se encontrar, e previne que o estro ocorra antes que a PGF2α seja
administrada. No dia 7 com a aplicação da PGF2α vai ocorrer a lise do CL já
existente, ocorrendo a maturação do folículo dominante. Com a aplicação do GnRH
no dia 9, ocorrerá um pico de LH levando à ovulação (FURTADO et al., 2011;
LINDEROTH, 2002).
26

Figura 6 - Protocolo Ovsynch

Fonte: Adaptado de Pereira e Hartmann, 2018

Vacas submetidas ao Ovsynch mantêm a taxa de concepção prejudicada


quando o protocolo é iniciado entre os dias 13 e 17 do ciclo estral, devido à luteólise
espontânea antes da aplicação de PGF2α, sendo que a maioria das vacas
submetidas ao protocolo ovula antes do programado (TEIXEIRA, 2010). Se realizado
o protocolo no início do ciclo estral o folículo dominante não estará desenvolvido o
suficiente para responder a primeira dose de GnRH (TEIXEIRA, 2010). O sucesso
do programa Ovsynch depende do número de vacas em anestro no rebanho em que
vai ser aplicado. Estudos mostram concepção baixa em vacas em anestro
submetidas a este programa (LUCY et al.,2004; GÜMEN et al., 2003).

5.7.2 Modificações no protocolo Ovsynch

Presynch
É um programa em que a sincronização do estro antecede o programa
Ovsynch. Essa pré-sincronização é realizada com duas doses de PGF2α com 14
dias de intervalo (Figura 7). O protocolo Ovsynch deve ser iniciado 14 dias após a
segunda dose de PGF2α. Este eleva a taxa de prenhez em 12%, de forma que o
protocolo Ovsynch é iniciado no momento certo do ciclo estral (GUERRA et al.,
2007).
27

Figura 7 – Protocolo Presynch

Fonte: Adaptado de Guerra et al, 2007

Cosynch

Nas propriedades leiteiras, a taxa de gestação se revela muito similar à


atingida com o Ovsynch, mas com a vantagem de ter uma manipulação a menos.
Estudos concluíram que, quando a IA e a aplicação de GnRH é efetuada 72 horas
após a aplicação de PGF2α (Figura 8) a taxa de gestação melhora quando
comparada com as 48 h do Ovsynch (31% VS 23%) (LEH, 2014).

Figura 8 – Protocolo Cosynch

Fonte: Adaptado de Leh, 2014

5.7.3 Protocolos com associação de Benzoato de Estradiol (BE) e


progestágeno (P4)

São protocolos utilizados com freqüência em programas de sincronização de


estro em bovinos. O protocolo consiste em aplicação do implante de P4 e a
administração de 2,0 mg de BE no dia 0, dando início a uma nova onda folicular. No
dia 8 é retirado o implante de P4 seguido da administração de PGF2α, com a função
de reduzir a luteólise e os níveis de P4 circulante (Figura 9). Após 24 horas é
28

realizada a aplicação de 2,0 mg de BE para sincronizar a ovulação, induzindo um


pico de LH. A IA será feita 24 horas após a aplicação (MOREIRA, 2003). Vacas
induzidas a este protocolo apresentam maior facilidade da detecção do estro
(FERNANDES, 2010).

Figura 9 - Protocolo de associação de Benzoato de Estradiol e Progestágeno

Fonte: Adaptado de Pereira e Hartmann, 2018

5.7.4 Protocolos de associação de estrogênio (BE), (ECP) e progesterona

São protocolos que tem vantagem em utilizar pela redução de um manejo no


curral reduzindo a mão de obra e o stress do animal, recomenda-se o uso da PGF2α
junto com o tratamento de progesterona para indução da luteólise e diminuir os
níveis de progesterona, simulando o final do diestro (BARUSELLI et al., 2010). O E2
em programas de sincronização de estro está relacionado à sua capacidade em
induzir o surgimento da onda pré-ovulatória de LH, durante a fase folicular e atresia
folicular (Figura 10). A administração de E2 causa a supressão da secreção de FSH
e de LH, induzindo a atresia dos folículos. Continua a liberação de FSH e ocorre o
recrutamento de uma nova onda. A nova onda folicular ocorre em aproximadamente
quatro dias após a aplicação do E2 e vai depender do reaparecimento do pico de
FSH (MARTINEZ et al., 2005).
29

Figura 10 – Protocolo associado a estrogênio e progesterona

Fonte: Adaptado de Martinez, 2005

5.7.5 Protocolos com associação de progesterona, benzoato de estradiol e


a utilização da gonadotrofina coriônica eqüina

O ECG é um hormônio liberado pelos cálices endometriais de éguas


gestantes, tendo a ação de FSH e LH e seu uso é indicado em rebanhos com baixa
ciclicidade e em vacas de baixa condição corporal (BARUSELLI et al., 2004). Foi
demonstrado que o hormônio responsável por regular a síntese de GnRH é um
hormônio derivado dos adipócitos, chamado leptina. Animais com baixa condição
nutricional apresentam níveis de leptina baixa. Fazendo a aplicação da leptina
observou-se o aumento de LH e FSH, notando-se que baixo nível de leptina inibe a
atividade reprodutiva (SEGUI et al., 2002).
Como o ECG é capaz de se ligar nos receptores de FSH e LH, tem atividade
de folículo estimulante e luteinizante, aumentando a taxa de crescimento do folículo
(BINELLI et al ., 2006).
Estudos demonstram que a administração de ECG em vacas pós-parto
favorece as taxas de concepção quando submetidas à IATF (Figura 11). Os
folículos dominantes no pós-parto são menores que os ovulatórios, pois o FD que
não ovulou sofre atresia antes de atingir o tamanho para ovulação. Mostrou-se que
fazendo a aplicação do ECG o mesmo se liga em receptores de LH e FSH,
incrementando o crescimento final do folículo dominante e estimulando a síntese de
estrógeno (ROSSA et al., 2009).
30

Figura 11 – Protocolo associado a ECG

Fonte: Adaptado de Pereira e Hartmann, 2018


31

6. RELATO DE CASO
Durante o período de estágio realizado entre 11de fevereiro e 19 de abril de
2019, foi atendida uma propriedade de bovinos leiteiros da raça Holandesa com
rebanho composto por 800 animais de diversas idades, sendo destas, 600 em
lactação. Este rebanho produz aproximadamente 13 mil litros/ ano por animal. A
genética utilizada é principalmente canadense comercializada pela empresa Semex.
O técnico da Semex faz a classificação linear na propriedade, orientando qual a
melhor genética para implantar no rebanho.
A propriedade esta localizada em Coruche que é uma vila portuguesa, que
pertence ao distrito de Santarém, e conta com 60 hectares de terreno plano, onde os
proprietários residem e trabalham, com o auxilio de mais três funcionários. O sistema
de criação consiste em dois métodos, as vacas em lactação no sistema free-stall, e
as demais a pasto. A ordenhadeira é mecânica do tipo espinha de peixe, sendo
realizadas duas ordenhas diárias, uma no turno da manha e outra no final da tarde.
Na primeira visita à propriedade foi observado o escore dos animais que
estavam entre 3,5 e 4,0 e realizada a palpação retal com o auxílio de ultrassom nas
vacas selecionadas para IATF. As 33 fêmeas que estavam aptas ao programa, foi
iniciado o protocolo Ovsynch com implante de P4, sendo o programa mais utilizado
visto que a legislação de Portugal não permite o uso de Benzoato de Estradiol e
Cipionato de Estradiol.
No dia 0 foi realizada a aplicação de GnRH com a aplicação do implante de
P4 monodose, com o objetivo de promover a luteinização e regressão dos CP
existentes, no dia 7 foi feita a retirada do implante e a aplicação de PGF2α; no dia 9
realizado a aplicação de GnRH promovendo um pico de LH para desencadear a
ovulação, e no dia 10 a IA foi realizada pelos próprios proprietários.
No retorno à propriedade foi realizada a palpação dos animais que entraram
no protocolo para diagnóstico de gestação. A taxa de prenhez obtida na primeira IA
foi de 52% aproximadamente. Os animais que tiveram o diagnóstico negativo de
gestação foram submetidos a um novo protocolo.
32

7. DISCUSSÃO

Segundo Souza (2017) um dos principais fatores que influenciam a


reprodução é a nutrição dos animais, sabendo que animais que estão submetidos a
uma má alimentação podem não ter um bom índice reprodutivo ou até mesmo
permanecer em anestro.
Segundo Tomaz (2017) o índice de escore corporal dos animais também
influencia nas taxas reprodutivas sendo a escala de 1 a 5, 1 muito magra e 5 gorda,
mostrando que o ideal é de 3,0 a 4,0. Na propriedade acompanhada os escores
corporais das fêmeas bovinas estavam de acordo com o estudo realizado.
De acordo com os resultados obtidos por Gottschall (2012) com protocolo
semelhante, a taxa de concepção foi de 46,7%. Santos (2008) relatou uma taxa de
52,9 %, com o mesmo protocolo.
Os resultados obtidos em Coruche mostraram índices semelhantes aos
estudos citados. Esta pequena variação pode ser justificada por intercorrências na
nutrição dos animais, época do ano, escore corporal e o manejo.
33

8. CONCLUSÃO

Os protocolos de IATF têm como objetivo melhorar a sincronização do estro,


permitindo concentrar as atividades de manejo dos animais, e assim podendo
programar os partos para uma boa época do ano, além de através de IA obter o
melhoramento genético.
Com diferentes tipos de procedimentos, a escolha do protocolo ideal deve ser
feita de acordo com a condição dos animais e da propriedade que vai aderir o
sistema.
No que se refere à IATF, a técnica está sendo aprimorada e diversos estudos
ainda estão sendo realizados. A técnica atualmente vem mostrando muitos avanços
e bons resultados, proporcionando aos produtores a distribuição dos partos ao longo
do ano, descaracterizando assim a sazonalidade de produção em benefício dos
produtores.
34

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