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FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E MEIO AMBIENTE

CURSO DE GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA

ARIANE FERREIRA ESPÍNDOLA

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO

Porto Alegre
2022
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E MEIO AMBIENTE
CURSO DE GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA

ARIANE FERREIRA ESPÍNDOLA

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO

Relatório de Estágio Curricular


apresentado ao Supervisor da
Instituição como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em
Medicina Veterinária.

Supervisora IES: Prof° Dra. Camila S.


Lasta
Supervisora local: M.V. MSc. Juliana P.
Matheus

Porto Alegre
2022
DEDICATÓRIA

Dedico a meus pais, irmão, Bete, Judite e a meus avós que já se foram, mas
que, sem pisar em uma faculdade, me ensinaram a mais pura filosofia de vida.
AGRADECIMENTOS

Inicialmente agradeço a meus pais por me incentivarem aos estudos desde


pequena, guiando-me pelo melhor caminho e oferecendo todo o suporte possível.
Também a meu irmão, pelo zelo e por ser minha admiração e inspiração nos
estudos. À meu namorado por toda a paciência, incentivo na busca pelos meus
objetivos e pela cumplicidade nessa reta final. A meu cunhado pelos momentos de
descontração e pelo carinho que sempre teve comigo.
Ao olhar meu caminho na Medicina Veterinária, sou grata a diversos
profissionais incríveis que fizeram parte e me agregaram tanto conhecimento nesta
trajetória. Em especial à Lais Elias, amiga e grande médica veterinária radiologista
que, desde o início da graduação, tive o privilégio em acompanhar. À Juliane e à
Bruna, que também são médicas veterinárias exemplares com quem tive o prazer de
trabalhar e me aproximar. Agradeço muito a elas por todos os ensinamentos,
conselhos e trocas de experiências.
Ao Laboratório Zelle e aos profissionais que me orientaram ao longo deste
estágio curricular, em especial à minha supervisora Juliana Matheus, bem como aos
patologistas clínicos Tânia, Carolina, Laura, Júnior e Aline, que me acolheram como
membro da equipe, ensinaram-me e sempre estiveram dispostos a esclarecer
dúvidas, proporcionarem autonomia e acreditarem no meu trabalho.
Também agradeço a todos os professores que fizeram parte da minha
graduação e que me mostraram na prática o que é ser sinônimo de profissional
competente e ético. Em especial, à minha orientadora Camila Lasta que, além de me
auxiliar no relatório, é um grande exemplo de patologista clínica desde o meu
segundo semestre da faculdade.
A meus colegas de faculdade, Arthur, José Antônio, Isadora e Daniela, que
me ajudaram e compartilharam comigo toda esta trajetória da graduação, muito
obrigada!
Todos vocês fazem parte dessa conquista.
“Aprender sem pensar é inútil;
pensar sem aprender, perigoso.”

Confúcio.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Porta externa do Hospital Pet Support Zona Norte e logotipo do


Laboratório Zelle. ………………………………………………………………..….……. 10
Figura 2 - Porta de entrada do Laboratório Zelle Higienópolis. ……………...…….. 11
Figura 3 - Mesa com computador e, acima, quadro de avisos gerais. Interior do
Laboratório Zelle Higienópolis. ………………………………………………………..… 12
Figura 4 - Bancada com aparelhos de hemograma e bioquímica. Interior do
Laboratório Zelle Higienópolis. ………………………………………………………….. 12
Figura 5 - Extensão da pia com instrumentais para confecção de lâminas de
sangue. Interior do Laboratório Zelle Higienópolis. …………………………………….13
Figura 6 - Bancada de aparelhos no interior do Laboratório Zelle Higienópolis. ..... 13
Figura 7 - Microscópio óptico para a realização da leitura das lâminas sanguíneas,
citológicas e sedimentoscopia urinária. Interior do Laboratório Zelle Higienópolis... 14
Figura 8 - Pia com materiais para confecção de lâminas de sangue. Interior do
Laboratório Central. ………………………………………………………………………. 15
Figura 9 - Espaço para os microscópios e contadores hematológicos manuais.
Interior do Laboratório Central. ……………………………………………………....…. 16
Figura 10 - Laboratório Central, geladeira e contador hematológico automático. ... 16
Figura 11 - Extensão da bancada destinada ao aparelho de bioquímica e banho
maria no interior do Laboratório Central. ………………………………………….….. 17
Figura 12 - Ilustração gráfica da casuística acompanhada no Laboratório Zelle
Central de acordo com a espécie e sexo dos animais. …………………………...…. 22
Figura 13 - Ilustração gráfica da casuística acompanhada no Laboratório Zelle
Higienópolis de acordo com a espécie e sexo dos animais. ………………..….…… 22
Figura 14A e 14B - Pavilhão auricular externo do paciente. …………….………….. 28
Figura 15 - Imagem da lâmina citológica corada com Panótico. ……..…………..… 29
Figura 16 - Imagem da lâmina corada com Ziehl Neelsen ……….……………...….. 30
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Casuística de combos acompanhados durante o estágio curricular


supervisionado nas sedes do Laboratório Zelle. ……………………………..……… 24
Tabela 2 - Casuística dos bioquímicos acompanhados durante o estágio curricular
supervisionado em ambas as sedes. …………………………………………….…...…25
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

® - marca registrada
ALB - albumina
ALT - alanina aminotransferase
BD - bilirrubina direta
BID - bis in die; duas vezes ao dia; a cada 12 horas
BT - bilirrubina total
COL - colesterol
EDTA - etilenodiaminotetracético
EPF - exame parasitológico de fezes
EPO - exame parasitológico de ouvido
EPP - exame parasitológico de pele
EQU - exame qualitativo de urina
FA - fosfatase alcalina
FRUTO - frutosamina
GGT - gama glutamil transferase
GLC - Granuloma Lepróide Canino
K - potássio
mL - mililitro
Na - sódio
P - fósforo
PCR - reação em cadeia da polimerase
pH - potencial de hidrogênio
POP’s - Procedimentos Operacionais Padrão
RPCU - relação proteína/creatinina urinária
rpm - rotações por minuto
SID - semel in die; uma vez ao dia; a cada 24 horas
TG - triglicerídeos
TP - tempo de protrombina
TTPa - tempo de tromboplastina parcial ativada
UniRitter - Centro Universitário Ritter dos Reis
uL - microlitro
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ……………………………………………………………………….. 9

2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS …………………………………………………..10


2.1 Caracterização do local de estágio ………………………………………… 10
2.1.1 Caracterização do estágio no Laboratório Zelle Unidade Higienópolis …10
2.1.2 Caracterização do estágio no Laboratório Zelle Unidade Central ….…. 14
2.2 Atividades realizadas durante o estágio …………………………….…… 17
2.2.1 Atividades relacionadas ao setor de hematologia e bioquímica …..…… 17
2.2.2 Atividades relacionadas ao setor de urinálise ………………..……..……. 18
2.2.3 Atividades relacionadas ao setor de coleta e análise citológica ……....…19
2.2.4 Atividades relacionadas a avaliação de líquido cavitário …………………19
2.2.5 Atividades relacionadas ao setor de parasitologia ………………..….…. 20
2.3 Casuística acompanhada ………………………………………………..… 21

3. FACILITADORES, ENTRAVES E RESULTADOS ENCONTRADOS ………… 26

4. RELATO DE CASO …………………………………………………………………. 27


4.1 Introdução ………………………………………………………………..… 27
4.2 Relato de caso ………………………………………………………..…… 28
4.3 Discussão ………………………………………………………………..… 30
4.4 Conclusão …………………………………………………………..……... 32
4.5 Referências ………………………………………………………..………. 32

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ………………………………………………….…….. 33


9

1 INTRODUÇÃO

Os locais de estágio escolhidos pela acadêmica foram em duas unidades do


Laboratório Zelle, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. O Laboratório de Patologia
Veterinária Zelle deu início às suas atividades em junho de 2014 na sede
Higienópolis, em Porto Alegre; desde então, a rede de Laboratórios estendeu-se e
foram fundadas outras cinco unidades: Tristeza, Cristal, Petrópolis, Vale dos Sinos e
Central. A sede Higienópolis ficava localizada na Zona Norte de Porto Alegre, estado
do Rio Grande do Sul, dentro do Hospital Veterinário Pet Support Zona Norte; já a
sede Central do Laboratório Zelle, era encontrada no Bairro Moinhos de Vento,
também em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. O estágio foi realizado durante o
período de 07 de março e estendeu-se até o dia 27 de maio de 2022, totalizando a
carga horária de 440 horas práticas sob a supervisão da orientadora local, a médica
veterinária Juliana Matheus.
O cronograma disponibilizado pelo local foi de segunda à sexta-feira, sendo
que durante dois dias da semana o estágio era realizado na Unidade Central (terças
e quintas-feiras) e três dias, na Unidade Higienópolis (segundas, quartas e
sextas-feiras). O turno iniciava às 12 horas e finalizava às 19 horas portanto
cumpriu-se a carga horária de 35 horas semanais.
A escolha do Laboratório Zelle para cursar o estágio obrigatório foi devido às
excelentes indicações de colegas médicos veterinários e extensa oferta de exames
para variadas espécies. Além disso, a aluna levou em consideração a facilidade de
comunicação dos médicos veterinários clínicos com os veterinários do Zelle que
foram sempre muito acessíveis, e, também, o intuito da acadêmica em aprimorar
seus conhecimentos na área de patologia clínica foi determinante para a seleção do
local.
Este trabalho tem por objetivo descrever as atribuições exercidas e
vivenciadas durante o estágio curricular supervisionado do curso de Medicina
Veterinária do Centro Universitário Ritter dos Reis (Uniritter) e relatar um caso de
Granuloma Lepróide Canino por Mycobacterium spp. da área de patologia clínica
sendo estes requisitos parciais para a conclusão do curso.
10

2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

2.1 Caracterização dos locais de estágio

2.1.1 Caracterização do estágio no Laboratório Zelle Unidade Higienópolis

O Laboratório Zelle iniciou suas atividades na Unidade Higienópolis em 2014,


dentro do Hospital Pet Support Zona Norte (Avenida Plínio Brasil Milano, 1135,
Bairro Higienópolis) em Porto Alegre (Figura 1). O local funcionava das 9 horas às
19 horas (com intervalo das 13 horas às 14 horas) de segunda à sexta e, aos
sábados, das 9 horas às 18 horas (com intervalo das 12 horas às 13 horas). Aos
domingos e feriados, o laboratório funcionava em regime de sobreaviso, com valores
de plantão e recebimento de amostras das 9 horas às 17 horas.

Figura 1 - Porta de entrada do Hospital Pet Support Zona Norte e, em destaque, o logotipo do
Laboratório Zelle.

Fonte: Arquivo pessoal (2022).

O local era compacto, localizado no andar térreo do hospital e recebia,


principalmente, exames provindos dos atendimentos do Hospital Pet Support, pois o
11

objetivo das unidades Zelle em hospitais e clínicas veterinárias é, justamente,


acompanhar a rotina e os pacientes atendidos no local com maior agilidade e
proximidade com os médicos veterinários. O espaço era separado do restante da
clínica por uma meia porta, a qual permitia a comunicação direta com os clínicos. Na
entrada, havia um compartimento para que os médicos deixassem suas amostras e
uma campainha para avisar à equipe do laboratório (Figura 2).

Figura 2 - Entrada do Laboratório. Na meia porta, encontra-se o compartimento para recebimento de


amostras e a campainha para aviso ao Patologista.

Fonte: Arquivo pessoal (2022).

No interior do laboratório (Figura 3) havia um computador para realizar


cadastros e emitir laudos e um quadro de avisos para lembretes gerais. Ao lado
direito do computador, encontrava-se uma bancada com a máquina contadora
hematológica (modelo BC-2800Vet, Mindray, São Paulo, Brasil) e o aparelho de
bioquímica úmida automatizada (modelo Labmax 240 Premium, Labtest, Belo
Horizonte, Brasil) (Figura 4).
12

Figura 3 - Interior do Laboratório Zelle. Computador para emissão de laudos e acesso ao sistema. Na
parede, o quadro de avisos utilizado pelos funcionários do local.

Fonte: Arquivo pessoal (2022).

Figura 4 - Bancada do Laboratório contendo os analisadores: à esquerda a máquina contadora


hematológica e, à direita, o aparelho de bioquímica automática.

Fonte: Arquivo pessoal (2022).

Mais à direita da mesa, havia a pia e os materiais necessários para confecção


de lâminas de esfregaço sanguíneo (lâminas de microscopia, lâmina extensora,
tubos capilares, vela e corante tipo Romanowsky) (Figura 5). Na extensão da
bancada, encontrava-se o banho-maria, recipiente para descarte de material
perfurocortante, centrífuga, tubos de contrapeso, refratômetro, caderno para
13

anotações, ponteiras e pipetas (Figura 6). Por fim, na parte direita do laboratório,
localizava-se a bancada para o microscópico óptico, contador hematológico para
diferencial celular e frigobar para refrigeração de amostras (Figura 7). Todos os
aparelhos eram de alta qualidade e devidamente calibrados.

Figura 5 - Extensão da pia contendo os materiais: lâminas, extensora, régua de descanso, vela,
isqueiro e corante. A área era destinada às confecções de lâmina sanguínea, análises de urinálise e
usada também para lavagem de materiais.

Fonte: Arquivo pessoal (2022).

Figura 6 - Extensão da bancada no interior do laboratório. Da esquerda para a direita: descarte de


material orgânico (recipiente de cor preta) e perfurocortante (recipiente de cor amarela), o
banho-maria, materiais para limpeza, centrífuga, refratômetro, tubos para contra peso e materiais
para anotação.

Fonte: Arquivo pessoal (2022).


14

Figura 7 - Interior do Laboratório Zelle. Bancada destinada ao espaço para o microscópico óptico,
contador hematológico e frigobar para conservar amostras. À esquerda, lixeiras destinadas ao
descarte de lixo infectante e reciclável.

Fonte: Arquivo pessoal (2022).

2.1.2 Caracterização do estágio no Laboratório Zelle Unidade Central

O Laboratório Zelle Unidade Central estava localizado na Rua Quintino


Bocaiúva, número 1148 (sala 8), no bairro Moinhos de Ventos em Porto Alegre, Rio
Grande do Sul. A sede Central iniciou suas atividades em 2019 e funcionava das 9
horas às 18 horas. Ao contrário da unidade Higienópolis, o Laboratório Central não
funcionava aos sábados e domingos, nem sob sistema de plantão. Por isso, aos
finais de semana, tinha seus exames redistribuídos para as demais sedes da
empresa. O local situava-se no quarto andar de um prédio comercial do bairro e
recebia exames de clínicas e hospitais conveniados de Porto Alegre e região
metropolitana. O espaço era amplo e separado por setores, como a recepção de
amostras e as salas de microbiologia, de análises biomoleculares e de análises
clínicas - além de um espaço coletivo para refeições dos colaboradores.
A área de análises clínicas, na qual a aluna passou o maior período de
estágio, continha, à direita da porta de entrada, uma bancada para confecção de
15

lâminas sanguíneas com lâminas de microscopia, extensoras, vela e tubos capilares.


Seguindo a bancada, encontrava-se a pia com o corante tipo Romanowsky, o mais
utilizado na rotina. O espaço à direita da pia era utilizado para a realização de
urinálises e exames coproparasitológicos, os quais tinham seus próprios materiais
como pipeta de Pasteur, tubos de Falcon, fita de análise química de urina e material
para anotações, conforme apresentado na figura 8.

Figura 8 - Interior do Laboratório Central. A bancada da pia era o espaço destinado à confecção das
lâminas sanguíneas e coloração. Aqui também eram realizados exames urinários e parasitológicos.

Fonte: Arquivo pessoal (2022).

Na continuidade da bancada à direita encontravam-se dois microscópios


ópticos, material para anotação e dois contadores hematológicos manuais (Figura
9). Após a geladeira para conservação de amostras e reagentes, também estava o
contador hematológico automático (modelo pocH-100iV, Sysmex, São Paulo, Brasil)
(Figura 10). Ao lado esquerdo da porta de entrada, encontrava-se a bancada
utilizada para análises bioquímicas e sua aparelhagem, como pipetas, ponteiras,
tubos, cubetas, material para descarte, computador para registros bioquímicos e o
próprio analisador automatizado (modelo Labmax 240 Premium, Labtest, Belo
Horizonte, Brasil) (Figura 11). Na outra extremidade da sala, havia um computador
para digitação e emissão de laudos.
16

Figura 9 - Interior do Laboratório Zelle Central. Mesa reservada aos microscópios ópticos com seus
respectivos contadores hematológicos manuais.

Fonte: Arquivo pessoal (2022).

Figura 10 - Interior do Laboratório Zelle Central. À esquerda, geladeira utilizada para armazenamento
de amostras e reagentes bioquímicos. À direita, máquina contadora automática de células
sanguíneas.

Fonte: Arquivo pessoal (2022).


17

Figura 11 - Interior do Laboratório Zelle Central. Mesa destinada à aparelhagem bioquímica com seu
respectivo computador para emissão de laudos e acesso ao sistema, frascos, ponteiras e pipetas. Na
extrema direita da imagem, o banho maria.

Fonte: Arquivo pessoal (2022).

2.2 Atividades realizadas durante o estágio

Durante o período de estágio, a aluna pôde acompanhar a parte analítica dos


diversos setores dos Laboratórios Zelle Central e Higienópolis. Por serem
pertencentes à mesma empresa, ambos locais possuíam os mesmos Procedimentos
Operacionais Padrão (POP).

2.2.1 Atividades relacionadas ao setor de hematologia e bioquímica

O processamento de amostras para hemogramas e bioquímicos foi a


atividade que a acadêmica mais acompanhou durante a rotina, visto que é a área
com maior demanda do laboratório. Das amostras para hemograma, a aluna ficava
responsável pela confecção do esfregaço sanguíneo e centrifugação do capilar,
seguido pela coloração da lâmina com corante tipo Romanowsky e leitura do
hematócrito, da proteína plasmática total e avaliação de coloração e aspecto do
plasma (presença de hemólise, lipemia e icterícia). Em seguida, a acadêmica
submetia a amostra de sangue ao contador hematológico automático e fazia a leitura
e diferencial leucocitário da lâmina, a qual, posteriormente, era conferida pelo
18

médico veterinário responsável. Já com as amostras bioquímicas, a aluna era


responsável por centrifugar, separar o soro ou o plasma e fornecer a amostra ao
encarregado pelos bioquímicos. Todos os processos eram supervisionados pelo
médico veterinário responsável pelo local.

2.2.2 Atividades relacionadas ao setor de urinálise

A análise de urina também era um setor que tinha muita demanda de exames
e, visto o tempo de viabilidade da amostra, os mesmos deveriam ser analisados o
quanto antes. Neste setor, a aluna acompanhou ativamente todos os processos para
a execução do exame qualitativo de urina (EQU). Ela ficava responsável
primeiramente por fazer a análise física da amostra, a qual constitui-se basicamente
em avaliar a quantidade de urina em mL (mililitro), a coloração, o aspecto (turvo,
discretamente turvo ou límpido) e o método de coleta (cistocentese, sondagem ou
micção natural). Em seguida, a amostra era submetida ao exame químico, realizado
através de fitas reagentes específicas para urinálises. Tais fitas avaliam parâmetros
como: urobilinogênio, proteínas, pH (potencial de hidrogênio), sangue, corpos
cetônicos, bilirrubinas e glicose. Após, 10 mL de amostra era centrifugado a 1.500
rpm (rotações por minuto) durante 10 minutos em um tubo de Falcon. Após o
processo, a aluna ficava responsável por medir a densidade urinária por meio do
método de refratometria com o sobrenadante. Já com o sedimento, 10 uL
(microlitros) era disposto em uma lâmina de microscopia sob uma lamínula de vidro
para ser avaliado no microscópio óptico na objetiva de 40x pela aluna. Nesta parte
de sedimentoscopia, avaliava-se a presença e quantidade de células inflamatórias
ou descamativas, bactérias, cilindros, cristais, eritrócitos, entre outros.
Caso a mesma amostra de urina fosse submetida a exames complementares,
como relação proteína/creatinina urinária (RPCU) ou urocultura (neste caso, antes
do processamento para evitar contaminação), uma parcela da amostra era guardada
para o devido fim. Todos os processos eram supervisionados pelo médico veterinário
responsável.
19

2.2.3 Atividades relacionadas ao setor de coleta e análise citológica

O processamento de amostras citológicas é parte fundamental para uma boa


avaliação microscópica. Neste setor, a aluna pôde acompanhar desde a coleta do
material até o resultado de todas as citologias no período de estágio. O corpo clínico
do hospital Pet Support solicitava ao patologista responsável a coleta das amostras.
Durante a coleta, a graduanda participava ativamente na contenção do paciente e,
eventualmente, coletava as amostras citológicas sob supervisão. Após a coleta, a
aluna ficava responsável pela secagem e coloração das lâminas. Inicialmente, esse
processo era realizado com o corante tipo Romanowsky e, após a análise do médico
veterinário, era decidido se era necessário corar com outro tipo de corante mais
específico - como Ziehl Neelsen, por exemplo. A aluna ficava responsável também
por analisar as lâminas e, com auxílio e orientação do responsável, identificar os
devidos grupos celulares, bem como descrever e elaborar o laudo.

2.2.4 Atividades relacionadas a avaliação de líquido cavitário

Devido à viabilidade curta deste tipo de amostra, dava-se prioridade a ela


para ser analisada antes das demais. Os materiais recebidos, geralmente, eram um
tubo sem anticoagulante e outro com anticoagulante do tipo
etilenodiaminotetracético (EDTA), o qual preserva melhor a morfologia celular. A
acadêmica começava pela análise macroscópica, como volume, coloração e aspecto
de ambos os tubos.
Após, com o tubo sem anticoagulante, era realizado o exame químico, que se
assemelha à urinálise, pois é realizado com a mesma fita reagente da urina. Desta
vez, avaliava-se principalmente o pH, a presença e quantidade de sangue e
proteínas (comparadas ao método de refratometria). Na sequência, o líquido era
centrifugado a 1.500 rpm por 10 minutos e, com o sobrenadante, a aluna avaliava a
quantidade de proteína e densidade do material utilizando o refratômetro. Já com a
parte sedimentada da amostra com EDTA, era confeccionada uma lâmina através de
20

um squash e corada inicialmente com o corante Romanowski. A aluna realizava


também a avaliação citológica e elaboração do laudo junto com o veterinário
responsável.

2.2.5 Atividades relacionadas ao setor de parasitologia

Os exames parasitológicos realizados pelo Laboratório Zelle que foram


acompanhados pela acadêmica incluíram os exames parasitológicos de pele (EPP),
exames parasitológicos de ouvido (EPO) e exames parasitológicos de fezes (EPF).
O EPP poderia ser coletado pelo próprio patologista do Zelle caso solicitado pelo
clínico. A forma de coleta variava de acordo com a apresentação da lesão. O
raspado de pele com o auxílio de uma lâmina de bisturi ou coleta de material por
swab foram as formas mais utilizadas.
Para o EPF, as técnicas que o laboratório utilizava incluíam os métodos de
Willis Mollay e o Paratest®. Na análise pelo método de Willis Mollay, a acadêmica
ficava responsável por acrescentar uma porção de fezes em um recipiente com água
hipersaturada (água destilada com cloreto de sódio). Na sequência, esta solução era
tamisada e colocada em um tubo de ensaio até a borda, sobre o qual era disposta
uma lâmina de vidro e aguardava-se 15 minutos. Após, a aluna colocava no
microscópio para procura de parasitos. Este é o método de flutuação de Willis
Mollay.
Já para o método de sedimentação, era utilizado o kit comercial Paratest®,
meio parasitológico pronto para uso, realizado de acordo com as normas do
fabricante. Para tal, a acadêmica preenchia o meio com uma porção pequena de
fezes, misturava, fechava o tubo e colocava o frasco virado para baixo por cerca de
15 minutos. Com uma gota de sedimento, a aluna submetia esta amostra ao
microscópio para procura de parasitos.
21

2.3 Casuística acompanhada

A rotina de exames não seguia um fluxograma exato, pois dependia da


quantidade de amostras recebidas. Porém a ordem de realização seguia,
obrigatoriamente, a prioridade da viabilidade das amostras e, após, o prazo de
entrega de laudos. Portanto, a ordem de avaliação era, respectivamente: tempos de
coagulação, urinálises e análises de líquido cavitário (ou efusão cavitária), exames
com urgência (na qual era acrescido valor e o prazo de entrega era de até 2 horas),
testes de compatibilidade sanguínea, hemogramas e bioquímicos, parasitológicos e
citologias.
Ao longo do estágio, foi possível acompanhar todas as fases analíticas destes
exames e, conforme o maior interesse da acadêmica, destacavam-se as análises
hematológicas e citológicas. A espécie de maior prevalência foi a canina em ambas
as unidades do laboratório, com o total de 693 de amostras de cães (75,2%). Os
exames de felinos representaram 24,5% da casuística (n= 224) e uma pequena
parcela compreendeu a espécie equina, com apenas 3 animais (0,32%), como
demonstrado na figura 12 e na figura 13. Em relação ao sexo dos pacientes no
número de exames totais, as fêmeas obtiveram um leve predomínio (n= 484 ou
52,4%) comparado aos machos (n= 436 ou 47,6%).
22

Figura 12 - Ilustração gráfica da casuística acompanhada no Laboratório Zelle Central de acordo com
a espécie e sexo dos animais.

Figura 13 - Ilustração gráfica da casuística acompanhada no Laboratório Zelle Higienópolis de acordo


com a espécie e sexo dos animais.

A faixa etária de predomínio foram os pacientes senis, a partir dos 10 anos de


idade, com o total de 362 animais (39%). Isto pode estar relacionado ao fato dos
pacientes de mais idade precisarem de avaliações com mais frequência. Com
relação à raça prevalente, os animais sem raça definida obtiveram o total de 344
23

pacientes (37,4%), dos quais 189 eram cães e 155, gatos. Este dado ocorre devido
ao fato de que a maioria dos animais possuíam raças misturadas e sem uma origem
conhecida, como os animais adotados e resgatados.
A aluna foi capaz de acompanhar diversos exames dos setores laboratoriais,
sendo que o setor de análises clínicas foi o qual ela teve maior contato. O
Laboratório Zelle possui o formato de “combos” para agrupar seus exames
hematológicos e bioquímicos - os exames mais solicitados pelos clínicos
correspondiam a esse formato. Os combos que a aluna pôde acompanhar em
ambas as unidades foram: check-up 1 (hemograma, albumina (ALB), alanina
aminotransferase (ALT), creatinina, fosfatase alcalina (FA) e ureia), check-up 2
(hemograma, ALB, ALT, creatinina, gama glutamil transferase (GGT) e ureia),
check-up 3 (hemograma, ALB, ALT, creatinina, FA, ureia e potássio (K)), check-up 4
(hemograma, ALB, ALT, creatinina, GGT, ureia e K), combo coagulação (tempo de
protrombina (TP) e tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA)), combo diário
(hemograma, creatinina e K), combo endócrino 1 (hemograma, ALB, colesterol
(COL), creatinina, FA, sódio (Na), K e triglicerídeos (TG)) e combo endócrino 2
(hemograma, ALB, creatinina, EQU, FA, frutosamina (FRUTO), glicose e K). O
combo hepático era composto por hemograma, ALB, ALT, bilirrubina direta (BD),
bilirrubina total (BT), creatinina, FA, GGT, ureia e K. O combo internação 1 era
constituído por hemograma, ALT, creatinina e K. Já os combos pré cirúrgicos eram
PRE1 (hemograma, ALB, ALT e creatinina) e o PRE2 (hemograma, ALT e
creatinina). Os combos renais eram: renal 1 (hemograma, ALB, creatinina, fósforo
(P), K, Na e ureia) e renal 2 (hemograma, ALB, creatinina, P, K, Na, ureia, EQU e
RPCU)
Conforme descrito a seguir na tabela 1, os combos representaram grande
parte dos exames. Dentre eles, destacou-se o check-up 1 em ambas as sedes
(44,9% dos combos solicitados), por ser um exame de custo acessível e capaz de
apresentar um panorama geral de triagem da saúde do paciente, ele foi o combo
mais solicitado pelos clínicos.
24

Tabela 1 – Casuística dos combos acompanhados durante o estágio curricular supervisionado em


ambas as sedes.
EXAMES SOLICITADOS HIGIEN. CENTRAL TOTAL n (%)
Check up 1 110 178 288 (44,9%)
Check up 2 12 24 36 (5,6%)
Check up 3 82 9 91 (14,2%)
Check up 4 26 1 27 (4,2%)
Coagulação 10 1 11 (1,7%)
Diário 54 1 55 (8,6%)
Endócrino 1 2 2 4 (0,6%)
Endócrino 2 1 0 1 (0,2%)
Hepático 8 3 11 (1,7%)
Internação 1 1 0 1 (0,2%)
Pré Cirúrgico 1 0 35 35 (5,4%)
Pré Cirúrgico 2 3 73 76 (11,9%)
Renal 1 2 2 4 (0,6%)
Renal 2 1 0 1 (0,2%)
TOTAL 312 329 641 (100%)

Já os demais exames foram realizados em menor quantidade. Em ambas as


unidades, foram analisadas 60 citologias, 58 EQU, 30 exames parasitológicos (20
EPF, 8 EPP e 2 EPO), 13 contagens de reticulócitos, 9 análises de líquido cavitário
e 3 provas de compatibilidade. Os bioquímicos isolados também representaram um
grande percentual do total de exames requisitados pelos clínicos, conforme
demonstrado na tabela 2. Os bioquímicos colesterol e triglicerídeos foram os mais
solicitados com 12,1% e 12,4%, respectivamente, isso se deve ao fato destes
bioquímicos não estarem presentes dentro dos combos (exceto o endócrino), logo,
os clínicos são obrigados a pedi-los separadamente.
25

Tabela 2 – Casuística dos bioquímicos acompanhados durante o estágio curricular supervisionado


em ambas as sedes.
BIOQUÍMICOS SOLICITADOS HIGIEN. CENTRAL TOTAL n (%)
Albumina 6 23 29 (4,6%)
ALT 12 40 52 (8,2%)
AST 1 9 10 (1,6%)
Bilirrubina Direta 3 5 8 (1,3%)
Bilirrubina Total 3 7 10 (1,6%)
Cálcio Total 1 3 4 (0,6%)
Colesterol 25 52 77 (12,1%)
Creatinina 22 53 75 (11,8%)
FA 23 37 60 (9,4%)
Fibrinogênio 0 2 2 (0,3%)
Fósforo 20 26 46 (7,2%)
Frutosamina 4 8 12 (1,9%)
GGT 9 15 24 (3,8%)
Glicose 4 34 38 (6,0%)
Globulina 4 2 6 (0,8%)
Potássio 17 21 38 (6,0%)
Proteína Total 2 6 8 (1,3%)
RPCU 6 17 23 (3,6%)
Sódio 17 18 35 (5,5%)
Triglicerídeos 24 55 79 (12,4%)
TOTAL 203 433 636 (100%)

Das citologias analisadas (n=60), o resultado inconclusivo representou 31,7%,


seguido pelos cito diagnósticos sugeridos de lipomas (10%), infiltrado neutrofílico
macrofágico (10%), cistos epidérmicos (8,3%), epitelio reativo (6,7%), adenoma
sebáceo (5%), adenoma (5%), mastocitomas (5%), linfonodo reativo (3,3%),
neoplasia de célula redonda (1,7%), linfoma (1,7%), adenoma glandular perianal
(1,7%), tumor mamário misto (1,7%), granuloma lepróide por Mycobacterium spp
(1,7%), sialodenite (1,7%), adenocarcinoma (1,7%), sarcoma (1,7%) e melanoma
26

(1,7%). A elevada porcentagem de resultados inconclusivos das citologias pode ser


correlacionada ao fato de que a maioria das amostras não eram coletadas pelos
patologistas, mas sim apenas enviadas para a análise. Sendo assim, por vezes o
material não era disposto em lâmina, fixado corretamente ou identificado, entre uma
série de outros fatores que prejudicam a fase analítica dos exames citológicos.

3. FACILITADORES, ENTRAVES E RESULTADOS ENCONTRADOS

Fazer parte da rotina do Laboratório Zelle agregou à aluna uma enorme


experiência, pois estar inserida no mercado profissional e ter vivenciado a prática de
realização dos exames (desde a coleta até a liberação do resultado ao clínico e
tutor) a fez compreender e valorizar ainda mais cada passo desta etapa analítica. Os
facilitadores encontrados pela acadêmica foram motivados, principalmente, por
conta da mesma já ter experiência prévia com estágios em outros laboratórios de
Porto Alegre. Da mesma forma, o fato de que a unidade Higienópolis estava inserida
dentro de uma unidade hospitalar, com acesso imediato ao prontuário médico dos
pacientes, facilitava a correlação dos resultados encontrados com a apresentação
clínica do animal.
Por outro lado, o maior entrave vivenciado na unidade Central foi exatamente
o contrário. A falta de acesso aos prontuários dos pacientes prejudicava o
andamento dos exames, pois diversas vezes era necessário entrar em contato com
a clínica para pedir o histórico do animal - o que, nem todas as vezes, era ágil e bem
sucedido.
No período do estágio, apesar da aluna já ter conhecimento sobre diversos
exames, ela conseguiu ter liberdade, autonomia e se sentiu confiante e apta a
aprimorar a confecção e leitura de lâminas de hemograma e urina, coletar citologias,
auxiliar e utilizar as máquinas bioquímicas. A aluna também pôde ter o primeiro
contato de como descrever laudos dos mais diferentes exames, principalmente os
citológicos. Assim, pôde vivenciar e aprender ainda mais a importância da patologia
clínica no dia a dia dos pacientes.
27

Os resultados encontrados ao final do estágio curricular foram plenamente


satisfatórios. A aluna se sentiu apta e capacitada para realizar estes desafios
propostos, vivenciando na prática como é a vida do patologista clínico.

4 RELATO DE CASO

Granuloma Lepróide por Mycobacterium spp em canino

4.1 Introdução

O Granuloma Lepróide Canino (GLC) é uma enfermidade cutânea de curso


crônico, pouco diagnosticada ou subdiagnosticada, que se caracteriza por lesões
nodulares únicas ou múltiplas, firmes, por vezes alopécicas e ulceradas (ACHA,
2009). O local de acometimento é, na maioria das vezes, no pavilhão auricular, face
ou membros torácicos. A patogenia não está totalmente esclarecida, porém nota-se
uma prevalência maior em animais que vivem em locais de clima tropical. As raças
mais predispostas são Boxer, Pitbull e raças de pelo curto. Geralmente as lesões
cutâneas são os únicos achados de exame físico, pois raramente há acometimento
de mais de um sistema e o agente não costuma causar alterações de parâmetros
vitais (WURSTER et al., 2017).
O diagnóstico pode ser fortemente sugestivo pelo tipo de padrão racial,
distribuição e característica das lesões. O mesmo pode ser realizado através da
citologia convencional ou com colorações específicas. Porém, alguns casos podem
necessitar de exames como histopatologia ou PCR (reação em cadeia da
polimerase) para conclusão diagnóstica (PEREIRA et al., 2018). Para diagnóstico
diferencial deve-se considerar doenças de curso crônico inflamatório, infeccioso,
neoplásico ou granulomatoso parasitário como tumores cutâneos, infecções fúngicas
como Sporothrix schenckii ou infecções bacterianas como piodermites recorrentes
(RIBEIRO et al., 2021). Como conduta terapêutica, pode ser feita a antibioticoterapia
sistêmica (local ou associada) e, em casos refratários, o tratamento cirúrgico para
28

excisão das lesões. O objetivo do presente relato é apresentar um caso de


Granuloma Lepróide canino por Mycobacterium spp. e sua identificação citológica.

4.2 Relato de caso

Na cidade de Novo Hamburgo, região metropolitana de Porto Alegre, no Rio


Grande do Sul, um canino, fêmea, da raça Dachshund, pelagem arlequim, de 6
anos, foi atendido com lesões na orelha há duas semanas. Durante a anamnese, a
tutora alegou não notar prurido, mas que em dois nódulos havia pústulas em menos
de 7 dias. Fazia o controle de ectoparasitas regularmente com o uso de fluralaner.
Na residência havia mais três animais e pessoas contactantes, ambos não
apresentavam nenhum sinal clínico ou sintoma semelhante.
Ao exame clínico, o animal apresentava-se hígido, exceto pelas lesões na
parte externa da orelha (Figuras 14A e 14B), tendo nenhum outro sistema orgânico
ou parâmetro vital alterado - com exceção da região submandibular que estava um
pouco aumentada. Nota-se, porém, que o paciente tinha histórico de obstrução de
glândula salivar e fazia drenagem semanalmente. Os exames complementares
(hemograma, bioquímica sérica, radiografia torácica e ecocardiograma) não
constavam qualquer alteração.

Figura 14A - Pavilhão auricular externo da paciente. Figura 14B - Ao exame clínico da orelha externa,
foram constatados 5 pequenos nódulos (de aproximadamente 1 centímetro) e outros 2 maiores
ulcerados (aproximadamente 3 centímetros), todos macios, alopécicos e não aderidos.
29

Fonte: Arquivo pessoal (2022).

Após a inspeção da lesão, foram colhidas amostras para citologia pelo


método de capilaridade, utilizando a agulha 25x07 (cinza). Como de costume, o
material foi corado primeiramente com Panótico® quando observou-se população
celular com predomínio de macrófagos ativados, neutrófilos degenerados e células
mesenquimais reativas. Também foram visualizadas diversas estruturas bacilares,
lineares e intracelulares (fagocitadas por macrófagos) não coradas, compatíveis
morfologicamente com Mycobacterium spp. (Figura 15).

Figura 15 - Citologia corada com Panótico® e estruturas bacilares intracitoplasmáticas não coradas
(seta vermelha). Aumento de 100x com óleo de imersão.

Fonte: Arquivo pessoal (2022).

A partir da suspeita de Mycobacterium spp., foi utilizado o corante Ziehl


Neelsen na amostra e os micro-organismos presentes foram positivos à coloração
álcool-ácido resistente (Figura 16). Bacilos que são resistentes a esta coloração são
classificados como álcool-ácidos resistentes, sendo fortemente sugestivas de
Mycobacterium spp.
30

Figura 16 - Na amostra corada com Ziehl Neelsen, ao centro, são visualizadas estruturas bacilares
eosinofílicas. Aumento de 100x com óleo de imersão.

Fonte: Arquivo pessoal (2022).

Como tratamento, foi proposto o uso do antimicrobiano enrofloxacino na dose


de 5 mg/kg (SID por via oral), rifamicina de uso tópico BID e omeprazol na dose de 1
mg/kg (SID por via oral). O uso dos antimicrobianos durou aproximadamente 40
dias, as lesões obtiveram remissão parcial e melhora significativa no aspecto. Não
houve piora do quadro enquanto o paciente esteve sob observação do médico
veterinário clínico.

4.3 Discussão

O Granuloma Lepróide Canino, também conhecido como lepra canina, é


considerado uma afecção incomum na clínica de pequenos animais que, por falta de
conhecimento da enfermidade, acaba tornando-se subdiagnosticado, apesar de ser
mundialmente relatado (PEREIRA, et al., 2018). Trata-se de uma dermatopatia não
contagiosa e, como característica da doença, observam-se nódulos geralmente no
pavilhão auricular externo de cães (WURSTER et al., 2017). Apesar da raça
Dachshund não ser relatada como predisposta, são animais de pelagem curta que
os tornam predispostos.
Os nódulos podem ser únicos ou múltiplos, costumam ser alopécicos,
indolores e por vezes ulcerados, o que ratifica os achados deste relato com o que foi
31

descrito por Almeida et al., (2013), podendo acometer ambas as orelhas e


geralmente possuírem curso crônico e progressivo. Além do pavilhão auricular,
outras áreas que podem ser afetadas são a face e membros torácicos. Isto pode
estar relacionado com o grau de exposição solar, maior probabilidade de picadas de
insetos (cria uma porta de entrada a micro-organismos) e, também, com a menor
temperatura corporal de superfície, na qual predispõem a proliferação bacteriana
(RICHARD et al., 2015).
Não há uma predisposição sexual para o desenvolvimento do Granuloma
Lepróide Canino. Porém, a idade mais prevalente de acometimento é entre 1 e 10
anos de idade, o que corrobora com o presente relato no qual a paciente era uma
fêmea de 6 anos de idade. Da mesma forma, o estilo de vida do paciente é de
grande influência na exposição do animal ao agente, independente da sua idade,
pois apesar da etiopatogenia não ser bem elucidada, é importante ressaltar o
envolvimento de vetores na inoculação do agente (RIBEIRO et al., 2021).
Para o diagnóstico costuma-se utilizar muito a citologia como método de
triagem e através dela a infecção por Mycobacterium spp. pode ser fortemente
sugerida com uma alta acurácia diagnóstica. Na coloração com Panótico®, os
micro-organismos são visualizados na maioria das vezes dentro de células
fagocíticas como macrófagos ou neutrófilos na forma de filamentos alongados, finos
e não corados, devido ao alto teor de lipídeos na sua parede. O predomínio de
macrófagos sugere tratar-se de uma inflamação crônica (RASKIN, 2015).
A principal característica desta bactéria na citologia é o aparecimento de
estruturas bacilares, intra ou extra citoplasmáticas, com coloração negativa. Isto se
dá pelo fato da estrutura deste micro-organismo ser muito resistente aos corantes
convencionais não permitindo a penetração do corante na parede bacteriana
(RICHARD et al., 2015). Para obter-se um diagnóstico mais preciso, a amostra pode
ser submetida a corantes ácidos-resistentes, como o Ziehl Neelsen. Este tipo de
coloração é utilizada para diferenciar micobactérias em relação às outras bactérias.
A respeito dos diagnósticos diferenciais, pode-se incluir qualquer afecção
cutânea de curso crônico, progressivo e que tenham a mesma predileção anatômica,
a exemplo de infecções fúngicas subcutâneas como esporotricose ou neoplasias
cutâneas, como o mastocitoma (RIBEIRO et al., 2021).
32

Para o tratamento, como consta na literatura, o uso do antibiótico


enrofloxacino SID e rifamicina tópica BID é eficaz. Porém, segundo Ribeiro et al.
(2021), os resultados eficientes foram constatados com a dose de enrofloxacino SID
de 10 mg/kg, ao contrário do utilizado no presente relato de 5 mg/kg. A associação
de doxiciclina também se mostrou eficaz na dose de 5 a 10 mg/kg BID. A
antibioticoterapia deve ser continuada até a remissão total das lesões, com o uso
mínimo de quatro a oito semanas. Dependendo do caso, a excisão cirúrgica pode
ser recomendada.

4.4 Conclusão

Conclui-se que o Granuloma Leproide Canino é uma afecção incomum na


clínica médica, subdiagnosticada devido a ausência de conhecimento. Porém, a
citologia constitui-se em um método fácil, barato e rápido para uso no atendimento
clínico dos animais enquanto espera-se o resultado da histopatologia ou da PCR. Da
mesma forma, também se conclui que o uso da coloração de Ziehl Neelsen é uma
excelente ferramenta para detecção das micobactérias, uma vez que se tenha a
suspeita clínica através do histórico e achados em lâmina com a coloração
convencional. Uma vez diagnosticada corretamente, a doença apresenta altas taxas
de sucesso com tratamento por ser uma afecção de baixa patogenicidade e não
apresentar riscos à saúde pública.

4.5 Referências

ACHA, Lívia Maria Rocha. Granuloma lepróide canino: epidemiologia,


histopatologia e biologia molecular - estudo retrospectivo de 38 casos.
Orientador: Lissandro Gonçalves Conceição. 2009. 55 p. Dissertação (Pós
Graduação em Ciências Veterinárias) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa,
Minas Gerais, 2009.
33

ALMEIDA, M.B.; PRIEBE A.P.S.; FERNANDES J.I.YAMASAKI E.M.; FRANÇA T.N.


Canine leproid granuloma in the amazon region - case report, SciELO Brasil, v.
65, ed. 3, 2013. DOI 10.1590/0102-09352013000300004.

PEREIRA M.A.A., V. Nowosh, P.N. Suffys, G.B. Queiroz, K.M.O. Silva, M.C.S.
Lourenço, A.C.P. Vicente, A.N.B. Fontes, S. Morgado, R.C.S.M. Neves - PCR-based
identification of Mycobacterium murphy causing Canine Leproid Granuloma
Syndrome in Niterói, southeast Brazil ˗ case report, SciELO Brasil, 70, ed. 6,
2018. DOI 10.1590/1678-4162-10079.

RASKIN, Rose E. Skin and Subcutaneous Tissues. In: RASKIN, Rose E. and Denny
J. Meyer. Canine and Feline Cytology: a color atlas and interpretation guide. 3.
ed. UK: Saunders, 2015. cap. 3, p. 43-45. ISBN 1455740837.

RIBEIRO, D. da S. F.; DA SILVA, J. B. B.; SALDANHA, T. S.; BEZERRIL, J. E.;


RIBEIRO, R. M. Canine Leproid Granuloma in Mineiros City Mid-West Region of
Brazil. Acta Scientiae Veterinariae, [S.l.], v. 49, 2021. DOI
10.22456/1679-9216.107181.

RICHARD M, Carolyn R. O'brien and Janet A. Fyfe. Mycobacterial Infections. In:


GREENE, C. Infectious diseases in dogs and cats. 4. ed. Athens, Georgia, 2015.
cap 48, p. 505-513. ISBN 0323509347.

WURSTER, F., Bassuino, D. M., Silva, G., Oliveira-Filho, J. P., Borges, A.S.,
Pavarini, S. P.,Driemeier, D., Luciana Sonne, L. Canine leproid granuloma: study
of 27 cases, SciELO Brasil, 37, ed 11, 2017. DOI 10.1590/0100-7362017001100017.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estágio curricular supervisionado foi visto pela aluna como uma etapa de
grandes oportunidades, pois, mesmo em um curto período de tempo, a acadêmica
foi capaz de aproveitar e desfrutar com muito êxito dos desafios que lhe foram
propostos. Desse modo, reuniu conhecimentos e experiências importantes para
seus objetivos de carreira, combinando a parte teórica aprendida ao longo da
graduação às atividades práticas do laboratório. Diante disso, a aluna reconheceu o
estágio curricular como uma das portas de entrada para o mercado de trabalho.
34

Por ter mais afinidade com a área da patologia clínica, a acadêmica escolheu
seguir na área durante o estágio curricular - na qual já havia realizado estágios
extracurriculares ao longo da faculdade, por cerca de 3 anos. Visando isso, ela
escolheu o Laboratório Zelle, onde não havia trabalhado antes. Logo, por se tratar
de um local inédito em sua carreira, conheceu novos profissionais e novas maneiras
de trabalho, experiências as quais, consequentemente, contribuíram com sua
trajetória acadêmica.
A construção do relatório de estágio foi de grande valor para organizar tais
conhecimentos adquiridos, além de aprimorar as habilidades de desenvolvimento de
escrita. Ao final do estágio curricular, a aluna sentiu-se apta a coletar amostras
citológicas e auxiliar em todas as análises laboratoriais de rotina, bem como
desenvolver laudos em conjunto com o profissional - parte importante neste período
final do curso.

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