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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Alexander Felder

CLÍNICA MÉDICA E CIRÚRGICA DE GRANDES ANIMAIS

CURITIBA
2011
i
Alexander Felder

CLÍNICA MÉDICA E CIRÚRGICA DE GRANDES ANIMAIS

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao


curso de Medicina Veterinária da Faculdade de
Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade
Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para
obtenção do grau de Médico Veterinário.

Orientador Acadêmico: Prof. Dr. Welington


Hartmann
Orientador Profissional: Med. Vet. Dr. Edgar
Gheller

CURITIBA
2011
ii
Reitor
Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos
Pró-Reitor Administrativo
Sr. Carlos Eduardo Rangel Santos
Pró-Reitoria Acadêmica
Profa. Carmen Luiza da Silva
Pró-Reitor de Planejamento
Sr. Afonso Celso Rangel dos Santos
Diretor da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde
Prof. João Henrique Faryniuk
Pró-Reitor de Pós Graduação, Pesquisa e Extensão
Prof. Roberval Eloy Pereira
Secretário Geral
Prof. Bruno Carneiro Diniz
Coordenadora do Curso de Medicina Veterinária
Profa. Ana Laura Angeli
Coordenadora de Estágio Curricular do Curso de Medicina
Veterinária
Profa. Ana Laura Angeli

CAMPUS BARIGUI
Rua Sidnei A. Rangel Santos, 238 – Santo Inácio
Cep. 82010-330 – Curitiba Paraná
iii
TERMO DE APROVAÇÃO
Alexander Felder

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR


CLÍNICA MÉDICA E CIRÚRGICA DE GRANDES ANIMAIS

Este trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para obtenção de título
de Médico Veterinário por uma banca examinadora do Curso de Medicina
Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 28 de junho de 2011


______________________________

Curso de Medicina Veterinária


Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: Prof. Welington Hartmann


Universidade Tuiuti do Paraná

________________________________________

Membro: Profa. Elza Maria Galvão Ciffoni


Universidade Tuiuti do Paraná

________________________________________

Membro: Prof. Uriel Vinicius Cotarelli de Andrade


Universidade Tuiuti do Paraná

________________________________________

iv
À minha querida e amiga “mãe” Ana Maria Felder, à minha irmã Michelii, e a toda a
minha família pelo carinho e atenção.
DEDICO

v
AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, por me dar forças para lutar e superar os


obstáculos do dia-dia, renovar minhas forças e esperanças para ir em busca dos
meus sonhos.
Agradeço ao Médico Veterinário Dr. Edgar Gheller, um grande conhecedor e
profissional da área de bovinocultura de leite. Com ele obtive um ensinamento e
adquiri uma experiência na área durante o tempo de estágio, que com certeza
aprendi muito com esse profissional. Aos colegas do departamento de fomento, à
Empresa Laticínios Tirol que me deu espaço para estagiar.
À minha mãe Ana Maria Felder, pelo amor, carinho, incentivo, apoio,
dedicação, a qual nunca mediu esforços para que eu atingisse meus objetivos, e
sempre estava ao meu lado, me dando forças, puxões de orelhas, me levantando a
cada tombo que eu levava. À minha irmã Michelli, por ser minha companheira em
quem sempre confiei; aos meus primos, Cris, Mari, Scheila, Rosane, Zoca, Helmuth,
Rute, Willy, meu priminho Vinicius, meu tio Luiz o “brabo” da família, meu tio Dalci,
tia Erica, pelo acolhimento em sua casa, onde sempre tive um conforto, e a
disponibilidade de sempre me ajudar, com suas generosidades e carinho.
Aos meus professores, Antonio Carlos, Cida, Ricardo Maia, Tais, João Ari,
Elza, Paulo Nocera, Ana Laura, Uriel, Milton, Lourenço, Bia, Simone e aos demais
professores muito obrigado.
Ao meu grande amigo, professor e orientador Welington Hartmann, que com
dedicação e paciência repassou seus conhecimentos.
Aos meus amigos que conquistei durante esses anos de faculdade, Marco
Salgado, Miguel, Jonathas, Marcelo, Grazi, Suelen, Jaqueline, Ugo, Rondônia,
Glauber, Ziza, Rogério Filus, Ricardo Possato, Mariana Scheraiber, Emely, Giovana,
Carol Manfré, Diego, Argentino, Orlando, Carlão e muitos outros amigos que
estiveram comigo nessa jornada de faculdade.
Enfim um grande agradecimento a todos que acreditaram e tiveram a
confiança para que eu pudesse conquistar e realizar meu grande sonho de tornar-
me um Médico Veterinário.

vi
Determinação coragem e auto confiança, são
fatores decisivos para o sucesso.
Se estamos possuídos por uma inabalável
determinação conseguiremos superá-los.
Independentemente das circunstâncias, devemos
ser sempre humildes, recatados e despidos de
orgulho.

Dalai Lama

vii
APRESENTAÇÃO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso consiste no relato das atividades


realizadas durante o Estágio Curricular durante o período de 15 de março a 18 de
maio de 2011. O estágio foi realizado na região do meio-oeste catarinense na cidade
de Treze Tílias - SC, totalizando 360 horas de atividades. Foram realizados
atendimentos clínicos, procedimentos cirúrgicos, exames laboratoriais, fisiopatologia
da reprodução e orientações técnicas.

FIGURA 1 – Empresa Lacticínios Tirol, local do estágio

FIGURA 2 – Cidade Treze Tílias onde foi feito o estágio

viii
SUMÁRIO
RESUMO................................................................................................................... xii

LISTA DE TABELAS ............................................................................................... xiii

LISTA DE FIGURAS ................................................................................................ xiv

LISTA DE ABREVIATURAS ..................................................................................... xv

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1

2 LOCAL DE REALIZAÇÃO DO ESTÁGIO ............................................................... 3

3 REALIZAÇÃO DO ESTÁGIO .................................................................................. 4

4 DESLOCAMENTO DO ABOMASO ......................................................................... 8

4.1 REVISÃO DA LITERATURA .............................................................................. 8


4.1.1 Exame clínico do abomaso .......................................................................... 8
4.2 DESLOCAMENTO DO ABOMASO A ESQUERDA DAE ................................... 9
4.2.1Etiologia ........................................................................................................ 9
4.2.2 Anatomia e fisiologia do abomaso ............................................................. 10
4.2.3 Epidemiologia ............................................................................................ 11
4.2.4 Fatores de risco alimentar ......................................................................... 11
4.2.5 Fatores de risco, idade e criação ............................................................... 13
4.2.6 Estação do ano .......................................................................................... 13
4.2.7 Final da prenhez ........................................................................................ 14
4.2.8 Doenças concomitantes............................................................................. 14
4.2.9 Importância econômica .............................................................................. 15
4.2.10 Patogênese .............................................................................................. 15
4.2.11 Sinais Clínicos ......................................................................................... 16
4.2.12 Patologia clínica ....................................................................................... 18
4.2.13 Achados necroscópicos ........................................................................... 19
4.2.14 Diagnostico diferencial ............................................................................. 19
4.2.15 Tratamento .............................................................................................. 20
4.2.16 Técnicas cirúrgicas abertas ..................................................................... 20
4.2.17 Técnicas de sutura fechada ..................................................................... 21
4.2.18 Controle ................................................................................................... 21

ix
4.3 DESLOCAMENTO DE ABOMASO À DIREITA DAD ....................................... 22
4.3.1 Etiologia ..................................................................................................... 22
4.3.2 Epidemiologia ............................................................................................ 22
4.3.3 Fatores de risco ......................................................................................... 23
4.3.4 Patogênese ................................................................................................ 23
4.3.5 Fase do vôlvulo .......................................................................................... 24
4.3.6 Sinais clínicos ............................................................................................ 25
4.3.7 Patologia clínica ......................................................................................... 27
4.3.8 Achados necroscópicos ............................................................................. 27
4.3.9 Diagnóstico diferencial ............................................................................... 28
4.3.10 Tratamento .............................................................................................. 29
4.3.11 Controle ................................................................................................... 32
5. DESLOCAMENTO DE ABOMASO - Relato de Caso ......................................... 33

5.1 Histórico de casos clínicos ............................................................................... 33


5.2 Anamnese ........................................................................................................ 33
5.3 Exame clínico ................................................................................................... 33
5.4 Diagnóstico ...................................................................................................... 34
5.5 Tratamento ....................................................................................................... 34
5.5.1 Técnica cirúrgica ........................................................................................ 34
5.6 Discussão ........................................................................................................ 38
6. LAMINITE E AFECÇÕES PODAIS ...................................................................... 39

6.1 Introdução ........................................................................................................ 39


6.2 Principais afecções podais ............................................................................... 40
6.3 Etiologia ........................................................................................................... 41
6.5 Diagnóstico ...................................................................................................... 43
6.6 Tratamento ....................................................................................................... 44
6.7 Controle e conforto animal ............................................................................... 45
7. LAMINITE E AFECÇÕES PODAIS – Relato de caso ......................................... 46

7.1 Anamnese ........................................................................................................ 46


7.2 Exame clínico ................................................................................................... 46
7.3 Diagnóstico ...................................................................................................... 47

x
7.4 Tratamento ....................................................................................................... 47
7.5 Controle ........................................................................................................... 48
7.6 Discussão ........................................................................................................ 48
8. DISTOCIA NA VACA ............................................................................................ 50

8.1 Torção de útero ................................................................................................ 50


8.1.1 Incidência ................................................................................................... 50
8.2 Causas de distocia na vaca ............................................................................. 50
8.3 Torção de Útero ............................................................................................... 52
8.3.1 Torção do útero durante a gestação .......................................................... 52
8.3.2 Etiologia ..................................................................................................... 52
8.3.3 Sinais clínicos ............................................................................................ 52
8.3.4 Tratamento ................................................................................................ 53
8.4 Torção do útero como causa de distocia a termo ............................................ 53
8.4.1 Etiologia ..................................................................................................... 53
8.4.2 Sinais Clínicos ........................................................................................... 54
8.4.3 Prognóstico ................................................................................................ 54
8.4.4 Tratamento ................................................................................................ 55
8.4.5 Correção cirúrgica...................................................................................... 55
9. DISTOCIA NA VACA – Relato de caso ............................................................... 56

9.1 Cesariana com torção de útero ........................................................................ 56


9.2 Anamnese ........................................................................................................ 56
9.3 Exame clínico ................................................................................................... 57
9.4 Diagnóstico ...................................................................................................... 57
9.5 Tratamento ....................................................................................................... 57
9.5.1 Técnica cirúrgica ........................................................................................ 58
9.6 Discussão ........................................................................................................ 60
10. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 62

xi
RESUMO

O estagio de Alexander Felder foi realizado na bacia leiteira de Treze Tílias-SC, no


período de 15 de março à 18 de maio de 2011, uma das mais importantes do Brasil,
com 16 mil produtores e um milhão e meio de litros de leite por dia. Foram atendidos
2.789 animais, com as principais enfermidades: deslocamento de abomaso, parto
distócico, babesiose/anaplasmose, afecções podais, mastite, metrite e outras. Os
casos cirúrgicos principais foram: cesariana, correção cirúrgica de deslocamento de
abomaso à esquerda e à direita e correção de terceira pálpebra. Na área reprodutiva
foram efetuados auxílios a trabalhos de parto, diagnósticos de gestação por
palpação retal e protocolos para inseminação artificial em tempo fixo.

Palavra chave: bovinos, manejo, produção de leite

xii
LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Atividades realizadas no período de estágio de 15 de março


a 18 de maio – 2011................................................................. 5

TABELA 2 Casos clínicos e cirúrgicos....................................................... 6

TABELA 3 Causas de distocia e sua incidência (%) na vaca.................... 51

xiii
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1- Empresa Lacticínios Tirol , local do estágio......................... viii

FIGURA 2- Cidade Treze Tílias onde foi feito o estágio......................... viii

FIGURA 3- Foto do animal em estação após a tricotomia e a lavagem


do local a ser incisado, preparação da área
cirúrgica................................................................................ 33

FIGURA 4- Inicio da incisão no flanco esquerdo.................................... 34

FIGURA 5- Abomaso deslocado entre o rúmen e a parede abdominal


esquerda no final do arco costal........................................... 35

FIGURA 6- Abomaso na parede abdominal ventral com ponto


captonado............................................................................. 36

FIGURA 7- Sutura do flanco esquerdo................................................... 36

FIGURA 8 - Mostrando o local da lesão, fistula na região da borda


coronária no lado abaxial do dígito lateral e outra fistula na
região interdigital.................................................................. 47

FIGURA 9- Após uma lavagem completa do casco........................ 47

FIGURA 10- Lavagem com a água e detergente neutro........................... 58

FIGURA 11- Incisão vertical no flanco esquerdo de ± 25 cm na fossa


para-lombar.......................................................................... 59

xiv
LISTA DE ABREVIATURAS

b.p.m – Batimentos por minuto

BID – Aplicações duas vezes ao dia

DA – Deslocamento de Abomaso

DAE – Deslocamento de abomaso à Esquerda

DAD – Deslocamento de abomaso à Direita

VA – Vôlvulo Abomasal

IA – Inseminação Artificial

IATF – Inseminação Artificial em Tempo Fixo

IV – Intravenoso

VO – Via Oral

IM – Intramuscular

pH – Potencial Hidrogeniônico

xv
1 INTRODUÇÃO

O Brasil é o sexto maior produtor de leite do mundo e cresce a uma taxa


anual de 4%, superior a de todos os países que ocupam os primeiros lugares,
respondendo por 66% do volume total de leite produzido nos países que compõem o
MERCOSUL.
Pode-se avaliar a importância relativa do produto lácteo no contexto do
agronegócio nacional pelo faturamento de alguns produtos da indústria brasileira de
alimentos na última década, registrando 248% de aumento contra 78% de todos os
segmentos.
Destes, aproximadamente 38 bilhões de reais são de produtos pecuários,
tendo o leite posição de destaque, com o valor de 6,7 bilhões de reais, ou 17% do
Valor Bruto da Produção Pecuária, superado apenas pelo Valor da Produção da
carne bovina.
O leite está entre os seis primeiros produtos mais importantes da
agropecuária brasileira, ficando à frente de produtos tradicionais como café
beneficiado e arroz. O Agronegócio do Leite e seus derivados desempenham um
papel relevante no suprimento de alimentos e na geração de emprego e renda para
a população. Para cada real de aumento na produção no sistema agroindustrial do
leite, há um crescimento de, aproximadamente, cinco reais no aumento do Produto
Interno Bruto – PIB, o que coloca o agronegócio do leite à frente de setores
importantes como o da siderurgia e o da indústria têxtil.
A clínica veterinária dos animais produtores de alimentos fornece serviços
principalmente aos proprietários de animais produtores de carne, leite, e fibras,
como os bovinos de corte e de leite (RADOSTITS et al., 2000).
Durante as últimas décadas, a atividade principal na clínica de animais
produtores de alimentos, e a maior fonte de renda dos veterinários, foi a oferta de
serviço de emergência veterinária para os proprietários de rebanhos ou de lotes nos
quais um único animal estivesse acometido por uma das doenças comuns.
O principal objetivo é resolver problemas de doenças acometidas nesses
animais de produção, corrigindo inúmeros casos de deslocamento de abomaso,
cesariana, laminite e afecções podais.

1
Os Veterinários devem ser conhecedores e peritos no que se refere aos
princípios de epidemiologia, nutrição, clínica médica e clínica cirúrgica (RADOSTITS
et al., 2000).
O objetivo mais importante na clínica dos animais produtores de alimentos é o
melhoramento contínuo da eficiência da produção do rebanho pelo tratamento do
animal doente. Isso envolve diversas atividades e responsabilidades diferentes, mas
relacionadas, que incluem o seguinte:
Oferecer o método de diagnostico e o tratamento mais econômico, monitorar
a saúde e a produção, recomendar o controle de doenças específicas e programas
de prevenção, aconselhamentos sobre práticas de nutrição, cruzamentos e manejo
geral (RADOSTITS et al., 2000).
O médico veterinário que atua na área de produção animal deve estar sempre
atento, procurando identificar e resolver o problema o mais rápido possível e,
sobretudo, não esquecendo da adoção de um correto esquema de prevenção dos
problemas de saúde dos animais confinados.

2
2 LOCAL DE REALIZAÇÃO DO ESTÁGIO

No dia 26 de setembro de 1974, a Lacticínios Tirol Ltda, iniciou suas


atividades na industrialização de leite pasteurizado. Pouco depois, ampliou a
indústria e passou a produzir outros produtos lácteos na cidade de Treze Tílias,
região Meio-Oeste de Santa Catarina. Inicialmente a produção era de 200 litros de
leite/dia, captados somente no município. Com um forte trabalho de conscientização
e incentivo à pecuária de leite chegou-se a uma produção diária de 1.700.000 litros.
Para conseguir industrializar este expressivo volume de leite, a Tirol adquiriu uma
nova unidade localizada na cidade de Chapecó. Posteriormente, uma nova e
moderna unidade foi construída pela Tirol em Linha Caçador, em Treze Tílias.
Atualmente, o leite é captado nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e
Paraná. Por isso, a Tirol conta com 19 postos de captação, onde são realizadas a
análise e resfriamento do leite.
A Tirol oferece uma variada linha de produtos, como queijos, creme de leite,
requeijão, doce de leite, iogurte, leite pasteurizado, leite em pó, e o carro-chefe: o
leite longa vida, desenvolvido com equipamentos e tecnologia sueca, sendo
envasados aproximadamente 700 mil litros/dia na unidade de Treze Tílias.
Preocupada em acompanhar o desenvolvimento tecnológico e satisfazer as
necessidades de seus consumidores, a Tirol tem investido no aprimoramento da
qualidade e no desenvolvimento de novos produtos. Além de contar com uma
estrutura de logística que facilita a distribuição de seus produtos, hoje são 52
distribuidores nos estados de Santa Catarina e Paraná e 16 representantes entre os
estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro.
O compromisso em oferecer produtos lácteos com alta qualidade faz da Tirol, um
dos maiores laticínios do país. A Tirol também conta com um laboratório para
exames de tuberculose e brucelose.

3
3 REALIZAÇÃO DO ESTÁGIO

Este trabalho tem por objetivo descrever as atividades realizadas por


Alexander Felder, durante o estágio técnico profissional de conclusão de curso em
Medicina Veterinária.
O estágio foi realizado na região de Treze Tílias / SC. Foram exploradas as
áreas de clinica médica, clinica cirúrgica, reprodução, exames de Brucelose e
Tuberculose, manejo em geral dos bovinos leiteiros.
O estágio foi realizado no departamento técnico da Lacticínios Tirol Ltda,
onde trabalham um Médico Veterinário, dois Engenheiros Agrônomos, três técnicos
agrícolas e um tecnólogo em lacticínios. Este departamento atende uma ampla
região, no meio oeste catarinense, desenvolvendo atendimentos clínicos
veterinários, trabalho de fomento aos produtores, onde desenvolvem atividades na
orientação de manejo em geral.
Essas atividades foram realizadas em várias propriedades do meio oeste
catarinense, somente em propriedades que são fornecedoras de leite para a
Lacticínios Tirol.
Acompanhando o Médico Veterinário Dr. Edgar Gheller, em tabelas estão
descritos os principais procedimentos feitos durante o período de estágio curricular
obrigatório.
Foram atendidos 2.789 animais, conforme apresentados na Tabela 1.

4
TABELA 1: Atividades realizadas no período de estágio de 15 de março a 18 de
maio – 2011.
HISTÓRICO NÚMERO DE ANIMAIS PARTICIPAÇÃO
(%)
SANIDADE
Vacina contra Clostridiose 450 16,42
Vacina contra IBR/BVD 380 13,62
Vermífugo em Bovino 66 2,36
Vacina contra Mastite 895 32,09
EXAMES
Exames Tuberculose e
Brucelose 335 12,01
REPRODUÇÃO
Protocolos de IATF 16 0,57
Palpações retais 420 15,05
TOTAL 2562 100

5
TABELA 2: Atividades realizadas no período de estágio.
HISTÓRICO NÚMERO DE ANIMAIS PARTICIPAÇÃO
(%)
Aborto 23 10,13
Afecções Podais 7 3,08
Casqueamento Corretivo 1 0,44
Cetose 2 0,88
Distocia 11 4,84
Deslocamento de Abomaso E 18 7,92
Deslocamento de Abomaso D 5 2,20
Deslocamento de Abomaso em
Touro DAD 1 0,44
Edema de Úbere 14 6,16
Fratura 1 0,44
Hipocalcemia Pós-Parto 12 5,28
Laceração de Úbere 3 1,32
Mastite 19 8,37
Tristeza Parasitária Bovina 66 29,07
Transfusão de Sangue 4 1,76
Torção de Útero 1 0,44
CASOS CIRÚRGICOS
Deslocamento de Abomaso E 18 7,92
Deslocamento de Abomaso D 5 2,20
Deslocamento de Abomaso em touro
DAD 1 0,44
Cesariana 8 3,52
Cesariana com Torção de Útero 1 0,44
Carcinoma Ocular 2 0,88
Prolapso de Terceira Pálpebra 2 0,88
Prolapso de Útero 2 0,88
TOTAL 227 100

6
Dentre os atendimentos realizados no estágio, será relatado detalhadamente os
seguintes casos:
 Deslocamento de Abomaso à esquerda DAE
 Deslocamento de Abomaso à direita DAD
 Laminite
 Cesariana

7
4 DESLOCAMENTO DO ABOMASO

4.1 REVISÃO DA LITERATURA

No gado leiteiro, é comum as doenças do abomaso serem associadas com


doenças metabólicas, estresse da lactação e insuficiência nutricional. As doenças do
abomaso mais freqüentes são:
 deslocamento do abomaso a esquerda (DAD);
 deslocamento do abomaso a direita (DAE);
 torção do abomaso (vôlvulo);
 impactação associada com indigestão vagal (RADOSTITS et al., 2000).
O deslocamento do abomaso (DA) é o distúrbio abomasal mais
ordinariamente detectado e representa a razão mais habitual para cirurgia abdominal
nos bovinos leiteiros (REBHUN, 2000).
O reconhecimento decorre, em parte, da melhora das técnicas diagnósticas e
do aumento no reconhecimento da sua ocorrência, mas talvez haja um aumento da
sua freqüência por causa da intensificação da produção bovina. O gado leiteiro
costuma ser selecionado para alta produção leiteira e assim são alimentados com
alta quantidade de grãos e concentrados, além de serem mantidos na maioria das
vezes confinados, assim sendo limitado o exercício de cada animal, tudo isso
podendo contribuir para atonia abomasal, a precursora dos deslocamentos
(RADOSTITS et al., 2000).

4.1.1 Exame clínico do abomaso

Por via de regra, o abomaso em estado normal, não pode ser examinado
pelas técnicas convencionais, exceto indiretamente por auscultação e paracentese.
No DAE, os sons timpânicos (pings), audíveis a auscultação e percussão entre o
terço médio a superior da 9ª e 13ª costelas, bem como a fossa paralombar
esquerda, são característicos da doença. No DAD, são características os sons
timpânicos (pings), audíveis a auscultação e percussão no terço inferior entre a 9ª e
13ª costelas que se estendem para a fossa paralombar direita, e os sons de
8
chapinhar na água, audíveis durante a auscultação e baloteamento do terço médio
inferior direito do abdome. O abomaso aumentado pode ser palpado pelo exame
profundo retal no quadrante direito inferior do abdome, de acordo com o tamanho do
animal, o tamanho da distensão do abomaso, e não se encontrando o animal em
gestação adiantada. Depois do parto, o abomaso e mais facilmente detectável por
meio da palpação da parede abdominal ou por via retal (RADOSTITS et al., 2000).
O deslocamento pode ocorrer para a esquerda (DAE) ou para a direita (DAD)
com ou sem torção do abomaso (vôlvulo) (REBHUN, 2000).

4.2 DESLOCAMENTO DO ABOMASO A ESQUERDA DAE

4.2.1Etiologia

A causa do deslocamento do abomaso à esquerda (DAE) é multifatorial. O


pré-requisito para o deslocamento é a hipomotilidade e a distensão gasosa do
órgão, alimentação com altos níveis de concentrado para as vacas leiteiras resulta
na diminuição da motilidade do órgão e acúmulo de gás abomasal (RADOSTITS et
al., 2000).
Desconhece-se a causa exata do deslocamento abomasal. No entanto vários
outros fatores também podem contribuir para o desenvolvimento do DA:
 produção excessiva de ácidos graxos voláteis, devido as dietas modernas se
constituírem de materiais alimentares ácidos (exemplo silagem de milho,
grãos fermentáveis com umidade alta);
 doenças metabólicas e infecciosas causadas por estase gastrointestinal
(Cetose, hipocalcemia, retenção placentária, metrite, indigestão e mastite).
São fatores importantes no início do período pós-parto quando a estase
gastrointestinal, com ou sem endotoxemia, pode permitir estase abomasal e
produção de gás. Associando essas doenças, ocorre a redução do apetite,
conseqüentemente a redução do tamanho do rúmen e assim possibilitando a
ocorrência do DAE.
 desde que a transferência de embriões se popularizou, algumas linhagens de
bovinos leiteiros parecem ter uma incidência maior de DA, pois a capacidade
9
corporal mais profunda nas vacas leiteiras modernas podem permitir mais
espaço no abdômen para movimento do abomaso.
Uma combinação desses fatores pode envolver-se em qualquer caso, mas
quando ocorre alta incidência de DA em um rebanho, a investigação do regime
alimentar e do tratamento torna-se obrigatório. Por exemplo, tampões, pré-
alimentação com feno antes da alimentação fermentável, como silagem, ração
totalmente mista, podem ajudar a diminuir a freqüência do DA em rebanhos com alta
incidência (REBHUN, 2000).

4.2.2 Anatomia e fisiologia do abomaso

O abomaso é o quarto compartimento dos estômagos dos ruminantes. É


análogo ao estômago dos monogástricos. Consiste de uma região pilórica, fúndica e
corpo. Normalmente repousa ventralmente na linha média. Cranialmente, o
abomaso é relacionado ao omaso e retículo através de uma banda de músculo liso.
O abomaso é altamente irrigado recebendo o sangue arterial pelas artérias gástrica
esquerda e gastroepiplóica. Os troncos ventrais e dorsais lançam ramos nervosos
(parassimpático) para o abomaso enquanto os gânglios celíaco e mesentérico
cranial e plexos nervosos do mesentério servem de sítio para sinapse dos neurônios
pré-ganglionares do sistema nervoso simpático. A função do abomaso consiste em
posterior digestão do substrato degradado parcialmente pelo rúmen, retículo e
omaso. O abomaso é um produtor de ácido clorídrico e pepsinogênio e tem o pH
fisiológico de 3. Alguns fatores podem diminuir a motilidade abomasal: Distensão
anormal do rúmen, retículo ou omaso; úlceras; ostertagiose; baixo pH; tamanho de
partículas e conteúdo de fibra da dieta; conteúdo de aminoácidos, peptídeos e
gordura no líquido duodenal; alta concentração de ácidos graxos voláteis e produção
aumentada de histamina pelo rúmen. Outros fatores como endotoxemia,
hiperinsulinemia, hipocalemia, estresse, alcalose metabólica, hipocalcemia,
prostaglandinas, ausência de exercícios, altas concentrações de gastrina no sangue
e acetonemia (BREUKING, 1991).

10
4.2.3 Epidemiologia

O deslocamento do abomaso à esquerda (DAE) ocorre, mais freqüentemente,


em vacas adultas de grande porte, altamente produtoras de leite e imediatamente
após o parto. Aproximadamente 90% dos casos verificam-se nas primeiras seis
semanas que seguem o parto. A doença é comum no Reino Unido e na América do
Norte, onde o gado leiteiro é alimentado com grãos, para obter uma alta produção
leiteira, e os animais são estabulados durante parte do ano, ou mantidos em
confinamento, (sem pastagens, soltos em estábulo). Na Austrália e Nova Zelândia
essa doença é menos comum, os animais são alimentados com muito menos
concentrados, e os animais ficam a maior parte do ano em pastagens. A importância
do exercício na etiologia do DAE não é bem explorada. Sua incidência é maior
durante os meses de inverno, que pode ser um reflexo ou da alta freqüência de
partos ou da inatividade (RADOSTITS et al., 2000).
A ocorrência máxima dos deslocamentos do abomaso se dá durante as
primeiras seis semanas de lactação, podendo acontecer esporadicamente, em
qualquer estágio da lactação ou da gestação. Também podem ser afetados touros e
bezerros de qualquer idade. Os deslocamentos do abomaso em bezerros, touros,
novilhas antes do primeiro parto, e vacas secas, pode ser crônico, por não
apresentar suspeita nesses grupos, como em fatores de manejo, onde tem uma
observação menos cuidadosa, quando comparados com vacas em ordenha
(REBHUN, 2000).

4.2.4 Fatores de risco alimentar

4.2.4.1 Nutrição e manejo pré-parto

Com base em observações no rebanho leiteiro, encontram-se associações


significativas entre o balanço energético negativo pré-parto, refletido como um
aumento na concentração dos ácidos graxos, não esterificados e a ocorrência do
DAE. Ótima condição corpórea, manejo alimentar subótimo, dietas pré-parto que
contem matéria seca, alto mérito genético e baixa parição constituem as condições
11
tidas como fatores de risco significativos. Vacas alimentadas com dietas altamente
energéticas durante o período seco tornam-se obesas, fato que pode resultar no
declínio da ingestão de matéria seca antes do parto, o qual, se ocorrido durante os
meses quentes de verão, também diminui a ingestão de matéria seca, o que sugere
que uma lipidose hepática possa ser um importante fator de risco (RADOSTITS et
al., 2000).
A cetose, diagnosticada antes da ocorrência do DAE, e implicada como fator
de risco, sendo associada com a baixa ingestão de matéria seca, que pode reduzir o
enchimento ruminal e seu volume, diminuindo a motilidade do pré-estomago e,
potencialmente, a motilidade abomasal. O baixo volume ruminal também oferece
menos resistência ao DAE (RADOSTITS et al., 2000).

4.2.4.2 Altos níveis de alimentação com grãos

O DAD é uma disfunção da quantidade de material processado, porque se


relaciona a doenças associadas com alta produção leiteira e alimentação a base de
concentrados. O alto nível de alimentação com grãos aumenta o fluxo da ingestão
ruminal para o abomaso, causando um aumento na concentração dos ácidos graxos
voláteis (AGV), que pode inibir a motilidade do abomaso. O grande volume de
metano de dióxido de carbono, encontrado no abomaso depois de uma alimentação
com grãos, pode-se tornar uma armadilha, causando a sua distensão e
deslocamento (RADOSTITS et al., 2000).

4.2.4.3 Alimentação com fibra bruta

A concentração das fibras brutas, na alimentação das vacas leiteiras, menor


que 16-17% e considerada um fator de risco significativo para o aparecimento do
DAE. Alguns estudos epidemiológicos iniciais revelam que as vacas acometidas de
DAE são mais altamente produtoras que as suas companheiras, e que elas
pertencem a rebanhos mais produtores de leite que as sem DAE. As vacas
acometidas eram mais velhas e mais pesadas que as demais examinadas.Em
resumo, a alimentação a base de rações com alto teor de carboidratos, níveis
12
inadequados de forragem e níveis de fibras brutas abaixo de 17%, durante as
ultimas semanas de prenhez, provavelmente é um importante fator alimentar de
risco (RADOSTITS et al., 2000).

4.2.5 Fatores de risco, idade e criação

A media de DAE, comparada com a VA, e de 7,4 para 1. O risco para as duas
doenças aumenta com a idade, situando-se o maior fator de risco entre os quatro e
sete anos de idade. O gado leiteiro possui um risco maior de desenvolver o DAE do
que o gado de corte, e também a fêmea tem um risco maior do que o macho em
desenvolver DAE (RADOSTITS et al., 2000).

4.2.6 Estação do ano

A probabilidade do aparecimento de ambas as doenças, VA e DAE, é variável


durante o ano, com um numero menor durante de casos no outono, sendo maior em
janeiro e março. A maior incidência da doença na primavera pode-se relacionar à
diminuição do suprimento de forragem nas fazendas no meio-oeste dos Estados
Unidos, em outras regiões do mundo, a doença ocorre durante todo o ano,
independentemente da incidência do parto (RADOSTITS et al., 2000).

4.2.6.1 Produção leiteira

Em relação entre a alta produção leiteira ou alto potencial de produção e o


DAE foi examinado em vários estudos, porém os resultados são inconclusivos, em
alguns casos, a grande incidência da doença ocorre em vacas de alta produção de
leite. No entanto, estudos posteriores não encontraram diferença na produção
leiteira entre rebanhos de alta e baixa produção. A correlação genética entre DAE e
a produção leiteira é muito escassa, podendo ser independente da seleção
(RADOSTITS et al., 2000).

13
4.2.7 Final da prenhez

Devido ao fato de o parto aparecer como o fator precipitante mais comum, foi
postulado que durante a prenhez o rúmen é levantado do assoalho abdominal pela
expansão do útero, e o abomaso é puxado para a frente à esquerda sob o rúmen.
Depois do parto, o rúmen abaixa, aprisiona o abomaso, em especial se ele estiver
atônico ou distendido, com alimento, como provavelmente deve estar, se a vaca é
alimentada com grãos (RADOSTITS et al., 2000).

4.2.8 Doenças concomitantes

São presentes em 30% dos casos de VA e 54% de DAE. A grande incidência


de doenças concomitantes com DAE sugere que a inapetência e a anorexia
diminuam o volume ruminal, que pode predispor ao deslocamento. Doenças da
parede do abomaso (úlceras secundária), bem como cetose e fígado gorduroso são
doenças concomitantes comuns em vacas com DAE (RADOSTITS et al., 2000).

4.2.8.1 Cetose sub-clínica preexistente

A cetose é uma doença das complicações mais comuns do DAE, sendo,


porém fator de risco controvertido se a cetose sub-clínica preexistente é ou não um
fator de risco. Vacas com DAE são duas vezes mais prováveis de adquirir outras
doenças que as vacas sem o problema, a presença dessas doenças pode ser um
fator de risco para o aparecimento da cetose (RADOSTITS et al., 2000).

4.2.8.2 Hipocalcemia

É uma síndrome que ocorre comumente em vacas adultas na época do parto,


é um fator importante de risco no aparecimento do DAE, os níveis sanguíneos de
cálcio afetam a motilidade abomasal, diminuída num valor limiar de 1,2 mmol da
cálcio total/l (RADOSTITS et al., 2000).

14
4.2.8.3 Predisposição genética

Tem-se sugerido uma predisposição genética e racial para o DAE, mas os


resultados são inconclusivos. No estudo em um hospital na America do Norte, as
probabilidades de DAE no gado Jersey foram maiores do que no gado holandês
(RADOSTITS et al., 2000).

4.2.8.4 Fatores diversos de risco dos animais

Atividades não comuns, com salto sobre outras vacas durante o estro, são
historias freqüentes em casos não-associados com o parto. Ocasionalmente, pode-
se encontrar o DAE em novilhas e touros, e em animais de corte é raro encontrar
essa doença. Num estudo retrospectivo, a doença foi associada com aumento dos
fatores periparturientes, como gêmeos, natimortos, retenção de placenta, metrite,
acidúria, cetonúria, e baixa produção leiteira na lactação anterior (RADOSTITS et al.,
2000).

4.2.9 Importância econômica

As perdas econômicas com a doença consistem na queda de produção láctea


durante o processo e no pós-operatório, alem do custo da cirurgia. Foram avaliadas
12.572 vacas. Do momento do parto até 60 dias depois do diagnóstico, as vacas
com DAE produziram em media, 557 kg de leite a menos que as vacas sem
problema, e 30% dessas perdas ocorreram antes do diagnóstico (RADOSTITS et al.,
2000).

4.2.10 Patogênese

A atonia abomasal com distensão gasosa é considerada a disfunção primaria


do DAE. A origem do excesso de gás é incerta, mas há evidencias de que o gás se
origina no rúmen. O abomaso atônico cheio de gás começa a se deslocar sob o
rúmen e para a frente ao longo da parede abdominal esquerda, via de regra
15
lateralmente ao baço e ao saco dorsal do rúmen. Primeiramente começam a se
deslocar o fundo e a curvatura maior do abomaso, que causam o deslocamento do
piloro e duodeno. Com base nas observações epidemiológicas, construiu-se uma
hipótese de que o volume reduzido do rúmen no pós-parto imediato, dentro de um
abdome vazio, permite que esse deslocamento. O omaso, reticulo e fígado também
se deslocam em graus variados. Invariavelmente, o deslocamento resulta na ruptura
da ligação do omento maior com o abomaso (RADOSTITS et al., 2000).
Provavelmente devido à atonia abomasal, observa-se uma moderada alcalose
metabólica com hipocloremia e hipocalcemia, há ainda secreção de acido clorídrico
dentro do abomaso e deterioração do fluxo para o duodeno. Normalmente, os
bovinos acometidos desenvolvem cetose secundaria, que pode-se complicar nas
vacas obesas pelo desenvolvimento da síndrome do fígado gorduroso. Em casos
antigos, podem ocorrer ulceração abomasal e aderências (RADOSTITS et al., 2000).

4.2.11 Sinais Clínicos

São achados normalmente, em poucos dias ou na semana depois do parto.


Ocorre inapetência, algumas vezes quase anorexia, acentuada queda na produção
leiteira, e vários graus de cetose, não é incomum diagnosticar animal com DAE em
paciente tratado de cetose, que aumentou por alguns dias e depois regrediu.
(RADOSTITS et al., 2000).
Os bovinos leiteiros que desenvolvem um DAE ou um DAD geralmente
perdem seu apetite por alimentos ricos em energia e apresenta queda de 30-50% na
produção leiteira. Assim a principal queixa do proprietário, é que o animal não come
e caiu sua produção de leite. A inspeção pode revelar um animal com aparência
embotada e desidratação suave. A temperatura, freqüência de pulso e freqüência
respiratória permanecem normais. Encontram-se presentes contrações ruminais de
forca moderada, pode haver um gradil costal saliente no lado do deslocamento,
quando se inspeciona a vaca por trás, um gradil costal saliente pode ser mais fácil
de apreciar ao lado esquerdo, pois o rúmen não se encontra mais palpável na fossa
para lombar esquerda, porque o DA o empurra para a direita e a força contra o gradil
costal esquerdo. A auscultação e a percussão simultâneas revelarão uma área de
16
ressonância timpânica de tom alto (parecido com sino) sob gradil costal no lado
esquerdo, isso correspondendo a localização do DA. É usual esse zunido se
localizar em uma linha da tuberosidade coxal ao cotovelo, mas pode ter um tamanho
variável, o zunido deve se estender cranialmente, pelo menos ate a 9ª costela, e
com freqüência até a 8ª costela, essa exigência é importante no caso DAD no qual
pode confundir uma distensão gasosa proximal ou cecal com um DAD (REBHUN,
2000).
Os sinais de febre e pneumoperitonio, em uma vaca com DA, devem alertar o
clinico para a possibilidade de perfuração abomasal, além do deslocamento. Tais
bovinos são encontrados com abomaso aderente ao peritônio parietal adjacente à
ulceração. Deve-se reservar um prognostico reservado, e o reparo cirúrgico é melhor
tentado a partir da abordagem direita (REBHUN, 2000).

4.2.11.1 Estado do rúmen reticulo e sons abomasais espontâneos

Os movimentos ruminais normalmente são presentes, porém diminuídos em


freqüência e intensidade, e algumas vezes são inaudíveis, mesmo quando os
movimentos da fossa paralombar esquerda indicam a motilidade do rúmen. Em
alguns casos o rúmen é palpável na fossa paralombar esquerda,e suas contrações e
sons podem ser detectados como de uma vaca normal. A ausência de sons ruminais
normais, nos espaços intercostais abdominais, sugere a presença de DAE. A
auscultação da área delimitada por uma linha imaginária que vai desde o centro da
fossa paralombar esquerda até a tuberosidade do rádio revela presença de sons
metálicos altos (RADOSTITS et al., 2000).
Outras características clínicas no exame retal, tem-se uma sensação de vazio
na porção superior direita do abdome, o rúmen é normalmente que o esperado, e
raramente o abomaso distendido é palpável no lado esquerdo do rúmen,
ocasionalmente, há um timpanismo ruminal crônico (RADOSTITS et al., 2000).
As vacas gordas ao parto normalmente apresentam grave cetose e a
síndrome do fígado gorduroso em decorrência do DAE. Normalmente, a doença não
é fatal, porém os animais acometidos costumam apresentar produção de leite
insatisfatória (RADOSTITS et al., 2000).
17
O curso do DAE é altamente variável, casos não diagnosticados costumam
levar a certo nível de inanição, podendo permanecer em equilíbrio por várias
semanas ou mesmo, alguns meses. A produção leiteira diminui, e o animal torna-se
magro, com o abdome grandemente reduzido de tamanho (RADOSTITS et al.,
2000).
Casos não usuais DAE ocasionalmente ocorrem em casos em vacas
clinicamente normais em todos os outros aspectos, houve um caso de DAE em uma
vaca, confirmado a necropsia, que tinha o problema por um ano e meio, e durante
esse período pariu duas vezes, além de apresentar um produção leiteira normal
(RADOSTITS et al., 2000).

4.2.12 Patologia clínica

Não se verificam acentuadas alterações no hemograma, a menos que ocorra


uma doença intercorrente a reticulo peritonite traumática e a úlcera abomasal.
Encontra-se sempre uma cetonúria moderada a grave, mas os níveis de glicose
estão dentro da media normal, normalmente existe uma ligeira hemoconcentração,
evidenciada pela elevação do hamatócrito (RADOSTITS et al., 2000).
Os bovinos acometidos por DA, sem doenças intercorrentes, apresentam uma
alcalose metabólica hipocalêmica e hipoclorêmica característica. No caso do DA
simples, a alcalose metabólica é simples e moderada e raramente requer uma
correção eletrolítica intensiva. Nos casos do DA crônico ou dos bovinos com DA e
doenças associadas que contribuem para uma anorexia mais drástica, os distúrbios
ácidos básicos e eletrolíticos podem exigir esforços terapêuticos mais vigorosos
(REBHUN, 2000).
A cetose é a complicação mais comum do DAE, e os casos mais graves
normalmente são acompanhados de fígado gorduroso, os níveis de sanguíneos de
aspartato amitransferase (AST) e ß-hidroxibutirato podem ser medidos em vacas
leiteiras durante a primeira e segunda semanas depois do parto, como testes
indicativos de diagnostico de DAE. Os valores de AST entre 100-180 U/I e do ß-
hidroxibutirato entre 1.000 e 1600 µmol/I são associados a aumento de desigualdade
na relação do DAE, os testes dos corpos cetônicos no leite podem ser usados como
18
previsores do DAE em vacas leiteiras com duas semanas de paridas (RADOSTITS
et al., 2000).
Quando disponíveis e indicados testes laboratoriais, os valores ácidos básicos
e eletrolíticos constituem os mais adequados para bovinos com DA, que parecem
excessivamente desidratados e fracos ou apresentam historias crônicas, os animais
severamente cetóticos e, portanto pode mostrar pH sanguíneo na variação ácida,
intervalo aniônico alto e valor de bicarbonatos mais baixo que o esperado nos
bovinos com DA. Sempre se indica uma avaliação dos corpos cetônicos presentes
na urina e esta ajuda explicar as variações inesperadas da alcalose metabólica
prevista, encontradas na maioria dos bovinos com DA simples (REBHUN, 2000).
A centese do abomaso deslocado através do 10º e 11º espaços intercostais,
no terço médio da parede abdominal, pode relevar a presença de liquido com
ausência de protozoários e pH 2, o liquido ruminal possui protozoários em pH 6 e 7,
o liquido não é sempre presente em apreciável quantidade no abomaso, por isso,
um resultado negativo na punção não pode ser interpretado como fator para eliminar
a possibilidade de abomaso deslocado (RADOSTITS et al., 2000).

4.2.13 Achados necroscópicos

A doença normalmente não é fatal, mas as carcaças de animais acometidos


são observados em abatedouros, o abomaso deslocado é aprisionado entre o rúmen
e o assoalho da parede abdominal, contendo quantidade grande de liquido e gás.
Em casos ocasionais, é fixado na posição por aderências que se originam de úlcera
abomasal. O fígado gorduroso é comum em vacas que morrem de complicações de
DAE poucos dias depois do parto (RADOSTITS et al., 2000).

4.2.14 Diagnostico diferencial

O DAE mais freqüentemente em vacas com poucos dias depois do parto


caracterizando-se por emagrecimento, um abdome esquerdo mais aplanado e
cetose secundária, os “pings” característicos podem ser evidenciados por
auscultação e percussão, a presença de cetose secundária na vaca imediatamente
19
após o parto pode fazer surgir as suspeita da doença, a cetose primária
normalmente ocorre em vacas de alta produção duas a seis semanas depois do
parto (RADOSTITS et al., 2000).
Para detectar essa doença tem os diferenciais mais comuns, como:
Indigestão simples, que por via de regra ocorre a inapetência a anorexia, e histórico
na mudança da alimentação, e redução na produção de leite. Cetose primaria, é
caracterizada pela inapetência. Reticuloperitonite traumática, em sua forma aguda, é
caracterizada por estase ruminal, febre moderada, gemido na palpação. Indigestão
vagal, caracteriza-se pela distensão abdominal progressiva, devido ao grande
aumento do rúmen. Síndrome da vaca gorda ao parto é caracterizada por excessiva
condição corpórea, inapetência a anorexia, cetonúria, motilidade ruminorreticular
reduzida ou ausente, mas normalmente sem pings sobre o rúmen (RADOSTITS et
al., 2000).

4.2.15 Tratamento

Atualmente a correção cirúrgica costuma ser uma prática mais usada, e


diversas técnicas são descritas, com ênfase no ato de evitar recidiva do
deslocamento, também é usado uma técnica na terapia médica.

4.2.16 Técnicas cirúrgicas abertas

A abomasopexia paramediana direita e a omentopexia pela fossa paralombar


direita são maneiras mais amplamente usadas de corrigir o deslocamento do
abomaso à esquerda. A omentopexia pela fossa paralombar direita é mais popular,
porque o animal permanece de pé, e o cirurgião pode trabalhar sozinho, sem
assistente. Há necessidade de maior habilidade para realizar a abomasopexia
paramediana direita, a qual requer manos manipulação, porque o abomaso costuma
retornar à sua posição, quando a vaca é colocada em decúbito dorsal. A maior
desvantagem é o número de pessoas necessárias para manter o animal nessa
posição. Há uma pequena diferença no custo da abomasopexia paramediana a

20
direita, quando comparada com a omentopexia pela fossaparalombar direita, da qual
a modificações da descrição original (RADOSTITS et al., 2000).

4.2.17 Técnicas de sutura fechada

Uma série de técnicas de sutura fechada para abomasopexia é recomendada,


com finalidade de serem mais rápidas e mais baratas, porém as complicações que
podem ocorrer ainda indicam que a laparotomia e a omentopexia são desejáveis, na
técnica de sutura fechada, o local preciso da inserção da sutura é desconhecido. As
complicações consistem em peritonites, celulites, deslocamento abomasal ou
evisceração, completa obstrução do pré-estomago e tromboflebite, da veia
subcutânea abdominal (RADOSTITS et al., 2000).
Rolamento da vaca produz resultados moderadamente bons para alguns
pesquisadores, porém a recidiva ocorre. A vaca é amarrada e colocada em decúbito
dorsal; depois rolada vigorosamente para a direita, sendo esse movimento
interrompido bruscamente, para que o abomaso liberte, sendo que a possibilidade
de sucesso são maiores nos estágios avançados, quando o rúmen tiver menor
tamanho, a restrição de alimentos durante dois dias antes desse procedimento pode
ser aconselhável (RADOSTITS et al., 2000).

4.2.18 Controle

Como se trata de uma doença multifatorial a prevenção deve ser feita através
da identificação, quando possível, dos fatores predisponentes. O fator principal a ser
considerado é o manejo nutricional do rebanho. Deve-se evitar animais obesos no
estágio final de gestação e garantir um manejo efetivo de cocho neste período.
Evitar os animais em balanço energético negativo proporcionando dieta adequada.
Garantir aos animais uma fonte de fibra efetiva para que o rúmen possa estar
sempre repleto tornando-se, portanto, em uma barreira física para o deslocamento
de abomaso. A dieta no período final de gestação deve conter no mínimo 17% de
fibra bruta evitando também uma acidose ruminal pelo incremento na ingestão de
grãos neste período. As dietas de transição devem ser adequadas reduzindo as
21
chances de indigestão. Todas as doenças que ocorrem no período pós parto devem
ser imediatamente solucionadas (metrite, mastite, retenção de placenta, etc).
Qualquer fator que esteja levando a problemas de hipocalcemia deve ser corrigido
(REBHUN, 2000).
Segundo HARTMANN, recomenda-se como tratamento preventivo a
administração da dieta aniônica no período que compreende 21 dias antes do parto,
promovendo-se moderada acidose metabólica ruminal.

4.3 DESLOCAMENTO DE ABOMASO À DIREITA DAD

4.3.1 Etiologia

Etiologia do DAD ainda não é bem compreendida, mas ela é comparada ao


DAE, em questão pode-se acreditar que a atonia abomasal possa ser a precursora
da dilatação e o deslocamento, e, conseqüentemente, do vólvulo abomasal, a
dilatação pode ser o resultado da distensão primária do abomaso. Nos bovinos
adultos com DAD sem obstrução do piloro, parece que a causa mais provável é a
atonia do abomaso. Em bezerros, pode haver obstrução do piloro que resulta em
dilatação (RADOSTITS et al., 2000).

4.3.2 Epidemiologia

4.3.2.1 Vacas leiteiras em lactação

Dilatação, DAD e vôlvulo abomasal ocorrem principalmente em vacas leiteiras


adultas, normalmente de três a seis semanas após o parto, tem-se observado um
aumento na freqüência no seu aparecimento, sendo provavelmente devido a uma
melhora nas técnicas de diagnóstico ou, ainda, porque as vacas são intensamente
alimentadas, para melhorar a produção leiteira (RADOSTITS et al., 2000).
O vôlvulo abomasal (VA) ocorre em bezerros desde poucas semanas de vida
até seis meses, normalmente sem história prévia de doença, sugerindo que a causa

22
possa ser acidental. O meteorismo abomasal verifica-se em bezerros sem causa
predisponente aparente, também ocorre o VA em touros adultos e vacas prenhes,
mas em grau menor (RADOSTITS et al., 2000).

4.3.3 Fatores de risco

Há poças informações disponíveis sobre a epidemiologia do deslocamento do


abomaso a direita, e do vólvulo abomasal. A maioria dos fatores de risco, descritos
para o DAE, é relevante para o DAD e O VA. A alimentação com altos níveis de
grãos para vacas leiteiras, no começo da lactação, é considerada um grande fator
de risco, entretanto, não existe dado confiável para suportar essa relação de causa e
efeito. Não se sabe ainda por que a doença ocorre em pequena porcentagem nas
vacas de alta produção de leite, alimentadas em grande de grãos (RADOSTITS et
al., 2000).
O risco do VA aumenta com a idade, e para as vacas leiteiras o maior risco
situa-se entre 4 e 7 anos de idade, o gado leiteiro tem muito mais risco de ter essa
doença do que o gado de corte. Aproximadamente 28% dos casos de VA ocorrem
nas primeiras duas semanas depois do parto. Os casos fatais relacionados em
hospitais, apresentam uma relação de VA e DAE de 23,5% e 5,6% respectivamente.
O VA também pode ocorrer após a tentativa de correção do DAE pelo método do
rolamento do animal (RADOSTITS et al., 2000).

4.3.4 Patogênese

No DAD, inicialmente ocorre atonia abomasal, resultando no acúmulo de


líquido e gás na víscera, o que leva a gradual distensão e deslocamento da direção
caudal do lado direito, durante a fase de dilatação, comumente prolongada por
vários dias, há secreção continua de ácido clorídrico, cloreto de sódio e potássio
para dentro do abomaso, que aos poucos se torna distendido e não elimina o seu
conteúdo para o duodeno, o que leva à desidratação e à alcalose metabólica com
hipocloremia e hipocalemia. Essas mudanças são típicas da obstrução funcional da

23
porção superior do trato intestinal e ocorrem, o DAD e obstrução do duodeno em
bezerros (RADOSTITS et al., 2000).
Em uma vaca adulta em média de 450 kg pode acumular mais de 35 litros de
líquido no abomaso dilatado, sendo que ele tem o tamanho fisiológico em torno de 8
litros, resultando em desidratação, que pode variar de 5 a 12%do peso do animal.
Em caso simples, há somente ligeira hemoconcentração e pouca alteração no
eletrólitos, assim como no equilíbrio ácido-básico, com moderada distensão do
abdômen. Esses casos são reversíveis com hidroterapia, nos casos complicados, há
grave hemoconcentração, hipovolemia e desidratação, bem como acentuada
alcalose metabólica com grave distensão do abomaso. O grau de desidratação
constitui um auxiliar confiável no prognóstico pré-operatório. A hipovolemia,
compressão da veia cava caudal e estimulação do sistema nervoso simpático, em
resposta à distensão e torção do abomaso, resultam numa taquicardia, também um
auxílio confiável no prognóstico pré-operatório (RADOSTITS et al., 2000).
Em bovinos com um grave e prolongado VA, a acidose metabólica pode-se
desenvolver e se sobrepor à alcalose metabólica, levando uma pequena
concentração de bases no líquido extracelular, esses casos graves requerem
cirurgia e hidroterapia, sendo que, pode ocorrer uma acidúria paradoxal nos bovinos
acometidos de alcalose metabólica associada com doença abomasal, o que pode
ser decorrente da excreção do ácido pelo rim em resposta à grave depleção de
potássio ou excreção dos ácidos graxos metabólicos, como resultado da inanição,
desidratação e deterioração da função renal. (RADOSTITS et al., 2000).

4.3.5 Fase do vôlvulo

Depois da fase de dilatação e deslocamento, o abomaso distendido pode-se


torcer no sentido horário ou anti-horário (se observa pelo lado direito), num plano
vertical ao redor de um eixo horizontal que passa através do corpo, nas
proximidades do orifício omaso-abomasal. O vôlvulo costuma apresentar um giro de
180 – 270º, causando a síndrome da obstrução aguda com deterioração circulatória
local e necrose isquêmica do abomaso. Exames detalhados, feitos a necropsia, de
animais com vôlvulo do abomaso indicam que o deslocamento pode ocorrer em
24
duplo sistema axial. Um sistema relata o deslocamento do abomaso em um modelo
de pêndulo, estando o ponto de suspensão situado na superfície visceral do fígado,
e consistindo os braços em partes do trato digestivo adjacentes ao abomaso, outro
sistema compreende eixos centrados no abomaso, que permitem ao órgão rodar,
sem alterar a sua posição no abdômen (RADOSTITS et al., 2000).
Em alguns casos, o abomaso e o omaso com uma distensão bem grande
formam uma alça com parte cranial do duodeno, essa alça pode estar torcida em
360º no sentido anti-horário, quando vista por trás ou do lado direito da vaca. O
retículo é puxado caudalmente para o lado direito do rúmen por sua ligação ao fundo
do abomaso, o provável modo de rotação encontra-se em um plano sagital
(RADOSTITS et al., 2000).
O VA, com envolvimento do abomaso e retículo, pode ocorrer, mas constitui
somente 5% dos casos, os danos causados pela pressão e tensão no tronco ventral
do nervo vago e nos vasos sanguíneos são, em parte, responsáveis pelo mau
prognóstico nos casos graves, mesmo depois de uma cirurgia bem sucedida de
correção. (RADOSTITS et al., 2000).
Com algumas evidências, há especulações de que os exercícios violentos e
transportes pesados possam ser fatores que contribuam na patogênese do VA
agudo, que se verifica, ocasionalmente, em vacas adultas e bezerros, sem história
prévia de doença associada à fase de dilatação (RADOSTITS et al., 2000).

4.3.6 Sinais clínicos

4.3.6.1 Dilatação e fase do deslocamento

Na dilatação e DAD, costuma haver uma história de parto nas últimas


semanas, com inapetência e diminuição na produção láctea, as fezes são anormais,
apresentando-se reduzidas na quantidade. A vaca pode ter sido tratada de alguma
disfunção digestiva nos últimos dias. A anorexia costuma ser completa, quando o
abomaso se encontra distendido. Normalmente, há depressão, desidratação, falta de
interesse para a comida, talvez aumento da sede e, algumas vezes, fraqueza
muscular. As vacas acometidas bebericam água continuamente. A temperatura
25
geralmente está normal, a freqüência cardíaca varia de normal a mais de 100 b.p.m.,
e os movimentos respiratórios, via de regra, apresentam-se dentro de normalidade.
As mucosas costumam se apresentar secas e pálidas. O segmento rúmen-retículo
encontra-se atônico e o conteúdo ruminal é sentido como excessivamente pastoso.
À palpação, o abomaso distendido pode ser detectado como uma víscera tensa,
imediatamente atrás e baixo do arco costal direito. O baloteamento foi feito no terço
médio da parede abdominal lateral direita imediatamente atrás do arco costal,
simultaneamente com a auscultação, pode revelar sons de chapinhar na água,
sugerindo uma víscera cheio de liquido, a percussão auscultatória sobre a porção
média direita e terço superior do abdômen normalmente esclarecem as
características dos altos “pings” (RADOSTITS et al., 2000).
O VA costuma desenvolver-se alguns dias depois do aparecimento do DA,
mas geralmente não se consegue distinguir precisamente os estágios da doença,
entretanto no VA, os achados clínicos são muito mais graves que durante a fase de
dilatação. O abdômen é visivelmente distendido, há acentuada fraqueza e
depressão, a desidratação é obvia. A freqüência cardíaca encontra-se em 100 – 120
b.p.m., e os movimentos respiratórios estão aumentados. Pode ocorrer decúbito,
com um abdômen grandemente distendido e gemidos, constituem um mau
prognóstico, nesse estágio o exame retal é muito importante, no estágio de
dilatação, o abomaso parcialmente distendido pode ser palpável com a ponta dos
dedos no quadrante inferior direito do abdômen, mas em vacas muito grandes talvez
não possa ser palpável. Na fase de vôlvulo, a víscera distendida costuma ser
palpável no abdômen direito em qualquer parte do quadrante, superior ou inferior
(RADOSTITS et al., 2000).
As fezes normalmente são em volume menor, moles e escuras, não devem
ser confundidas com diarréia, como de costume é feita pelo proprietário do animal.
Os bovinos com VA ficam deitados depois de 24 horas do aparecimento do
problema, a morte geralmente ocorre em 48 – 96 horas devido ao choque de
desidratação, pode ocorrer em ruptura do abomaso que pode causar morte súbita
(RADOSTITS et al., 2000).

26
4.3.7 Patologia clínica

4.3.7.1 Bioquímica sérica

Há vários graus de hemoconcentração (auemento do hamatócrito e da


proteína sérica total), alcalose metabólica, hipocloremia e hipocalcemia. A
intensidade do vôlvulo pode ser classificada, e o prognóstico avaliado de acordo
com a quantidade de líquido no abomaso, bem como a concentração de cloretos no
soro e q freqüência cardíaca:
 Grupo 1 – abomaso distendido principalmente com gás;
 Grupo 2 – abomaso distendido com gás e líquido, redução cirúrgica possível
sem remoção do líquido;
 Grupo 3 – abomaso distendido com gás e líquido, 1 – 29 litros de líquido
removidos antes da redução do abomaso;
 Grupo 4 – abomaso distendido com gás e liquido, mais de 30 litros de líquido
removidos antes da redução da torção.
Os níveis de cloreto no soro e a freqüência cardíaca antes da cirurgia também
auxiliam na avaliação do prognóstico. Vacas classificadas nos grupos 3 ou 4, ou as
que tenham níveis pré-cirúrgicos de cloreto iguais ou abaixo de 79 mEq/l ou pulso
igual ou maior de 100 b.p.m possuem um mau prognóstico. Na urinálise pode,
também, haver acidúria paradoxal (RADOSTITS et al., 2000).
A contagem total e diferencial dos leucócitos pode indicar a reação de
estresse nos primeiros estágios, e nos estágios mais avançados do vôlvulo pode
haver uma leucopenia com neutropenia e desvio degenerativo à esquerda devido à
necrose isquêmica do abomaso e peritonite inicial. A centese do abomaso distendido
pode produzir grande quantidade de líquido sem protozoários e pH entre 2 a 4. O
líquido pode ser serosanguinolento, quando há vôlvulo (RADOSTITS et al., 2000).

4.3.8 Achados necroscópicos

Na dilatação, o abomaso é bastante distendido com líquido e alguma


quantidade de gás, o rúmen pode conter uma quantidade excessiva de liquido. Em
27
alguns casos, pode haver a impactação do piloro com partículas do solo ou areia,
podendo verificar-se um acompanhamento da úlcera-pilórica, no VA, o órgão é
bastante distendido com um liquido sanguinolento acastanhado, além de ser
normalmente torcido em sentido horário, (isso visto do lado direito), freqüentemente
com deslocamento do abomaso mostra-se bastante hemorrágico e gangrenoso,
podendo haver ruptura (RADOSTITS et al., 2000).

4.3.9 Diagnóstico diferencial

O diagnóstico diferencial da dilatação à direita, deslocamento e vôlvulo do


abomaso dependem da consideração da presença ou ausência de pings, no
abdômen direito, os achados do exame retal e de outros achados clínicos. A
detecção de um ping na percussão auscultatória do abdômen direito deve ser
acompanhada de um exame retal, para determinar a presença e a natureza do gás
que preenche a víscera responsável pelo ping (RADOSTITS et al., 2000).
As características da dilatação e DA são: parto recente, indigestão vagal
desde o parto, fezes moles e escassas, um ping sobre o abdômen direito e a
presença de uma víscera distendida e tensa na porção direita baixa do abdômen.
Deve-se diferenciar de impactação do abomaso associada com indigestão vagal,
ulceração abomasal subaguda com moderada dilatação do abomaso, torção cecal,
hidropsia fetal, reticuloperitonite traumática crônica ou subaguda do vôvulo
(RADOSTITS et al., 2000).
De acordo com RADOSTITS et al., 2000, as doenças que resultam em pings
no abdômen direito são a dilatação e distensão do abdômen, ceco, duodeno cranial,
partes do intestino delgado, cólon descendente do reto, bem com pneumoperitônio,
a avaliação dos pings depende do tamanho da área e localização do som obtido por
percussão auscultatória, as características clínicas comuns desses pings são o
seguintes:
 Dilatação e DAD: os pings são normalmente audíveis entre a 9ª e 12ª
costelas, estendendo-se da junção costocondral das costelas até o seu terço
proximal, raramente, os pings estendem-se para fossa paralombar na
dilatação e DAD;
28
 Vôlvulo abomasal: a área do ping é maior que a do DA, estendendo-se mais
cranialmente e caudalmente, freqüentemente para a fossa paralombar direita,
mas não preenchendo completamente a fossa. Ainda a borda ventral da área
de ping no vôlvulo abomasal, é variada, com freqüência horizontal por causa
do nível do líquido dentro do abomaso;
 Dilatação cecal: o ping costuma ser confinado à porção dorsal da fossa
paralombar e caudalmente a um ou dois espaços intercostais, na dilatação e
torção do ceco, o ping geralmente preenche a fossa paralombar;
 Obstrução intestinal: a presença de áreas múltiplas e pequenas de pings, que
variam em altura e intensidade, é características da dilatação do jejuno, íleo,
causada por intussuscepção intestinal ou vôlvulo intestinal;
 Dilatação do cólon descendente e reto: um ping na porção caudal direita do
abdômen junto a porção ventral do processo transverso das vértebras, indica
a dilatação do cólon descendente e reto, normalmente ouvido depois da
palpação retal;
 Pneumoperitônio: os pings podem ser audíveis sobre ampla área,
bilateralmente, no terço dorsal do abdômen, num estudo, os valores de
sensibilidade e preditivos do abomaso como fonte de pings, foi de 98% e
96%, respectivamente, para o ceco e/ou cólon ascendente a sensibilidade e
preditividade foi de 87% ambos.

4.3.10 Tratamento

O prognóstico na dilatação à direita, deslocamento e vôlvulo será favorável,


se o diagnóstico for feito poucos dias do início dos sinais clínicos e antes que uma
grande quantidade de líquido se acumule no abomaso, o abate do animal, para
salvar o prejuízo, pode ser o melhor modo de ação para bovinos de valor comercial.
Vacas com considerável valor econômico podem ser tratadas conforme foi
apresentado aqui, nem todos os casos requerem correção cirúrgica, o tratamento
clínico é possível nos casos moderados (RADOSTITS et al., 2000).

29
4.3.10.1 Tratamento clínico e casos mais moderados

Nesses casos moderados de dilatação e mínimo deslocamento, com um


moderado distúrbio sistêmico, o tratamento empírico com 500 ml de borogluconato
de cálcio a 25% IV pode produzir bons resultados, o motivo do uso do cálcio é
aumentar a motilidade abomasal. Para algumas vacas acometidas, deve-se
oferecer, feno de boa qualidade, nada de ração e concentrados, por durante três à
cinco dias, e devem ser monitoradas diariamente, a correção cirúrgica poderá não
ser necessária, se o apetite e os movimentos do trato alimentar voltarem à
normalidade em poucos dias. Os pings no abdômen direito pode, gradualmente,
tornar-se menor em dois a três dias, e eventualmente, desaparecer (RADOSTITS et
al., 2000).
Em casos moderados de dilatação, somente com leve hemoconcentração e
alcalose metabólica, o tratamento iniciado cedo com líquidos e eletrólitos IV e VO
costuma produzir bons resultados, a hidroterapia é essencial para restaurar a
motilidade do trato gastrintestinal, particularmente do abomaso distendido com
líquido e que precisa começar a evacuar seu conteúdo para o duodeno, a fim de que
absorção de eletrólitos possa ocorrer. Comumente, a vaca não recupera o seu
apetite, até que atonia abomasal tenha sido corrigida (RADOSTITS et al., 2000).
Antes da cirurgia corretiva, o gás pode ser eliminado do abomaso bastante
distendido como medida emergencial e prioritária por laparotomia. O animal é
colocado em decúbito dorsal, e o abdômen puncionado com uma agulha
hipodérmica 16x12 no ponto mais alto do abdômen distendido, entre o umbigo e
apófise xifóide. Depois que a distensão é aliviada e a hidroterapia iniciada, a
necessidade da laparotomia deve ser avaliada, e, se necessário, realizada
(RADOSTITS et al., 2000).

4.3.10.2 Correção cirúrgica

Nos casos mais avançados de dilatação, deslocamento ou vôlvulo, é


necessária a laparotomia para a drenagem do abomaso distendido de correção do
vôlvulo, se presente. Para corrigir a desidratação e a alcalose metabólica, bem como

30
para restituir a motilidade normal ao abomaso, é preciso hidroterapia intensiva no
pré e pós-operatório, algumas vezes por muitos dias. Estudos eletromiográficos de
pós-operatório abomasal e motilidade duodenal revelam perda de motilidade,
alguma motilidade retrógrada e perda da atividade do pico. Os colinérgicos são
usados para restaurar a motilidade, não sendo, porém, seguros. O transplante de
conteúdo do rúmen, para restaurar a função ruminal e o apetite, promove um
estímulo mais eficaz para restaurar a motilidade do trato gastrointestinal
(RADOSTITS et al., 2000).
A composição do líquidos e soluções eletrolíticas indicam no deslocamento à
direita e vôlvulo abomasal é objeto de muita pesquisa. Há vários graus de
desidratação, alcalose metabólica, hipocloremia e hipocalcemia. Com auxilio do
laboratório, é possível monitorar a bioquímica sorológica durante a administração
dos líquidos e eletrólitos, corrigindo, assim, certas deficiências eletrolíticas pela
adição dos eletrólitos apropriados líquidos. Sem o laboratório, o veterinário não tem
escolha, mas deve usar soluções seguras e criteriosas. As soluções eletrolíticas
balanceadas que contém sódio, cloreto, potássio, cálcio e uma fonte de glicose
costumam ser suficientes (RADOSTITS et al., 2000).
As soluções isotônicas de cloreto de potássio e cloreto de amônio (KCI 108g,
NhчCl 80g, H2O 20 litros), promovem uma fonte de potássio e cloretos, podendo
corrigir a alcalose. Tal solução pode ser dada por via IV numa média de 20 litros em
4 horas, para vacas com 450 kg, de peso vivo, o que pode ser seguido pelo uso de
solução eletrolítica balanceada numa proporção de 100-150 ml/kg por um período de
24 horas (RADOSTITS et al., 2000).
A terapia eletrolítica oral pode ser recomendada, particularmente no período
pós-operatório após drenagem cirúrgica do abomaso distendido. Uma mistura de
cloreto de sódio (50-100g), cloreto de potássio (50g), e cloreto de amônio (50-100g)
pode ser administrada diariamente VO, juntamente com o tratamento parenteral, o
tratamento com cloreto de potássio (50g/dia) pode ser mantido diariamente, até que
o animal retorne ao seu apetite normal (RADOSTITS et al., 2000).

31
4.3.11 Controle

Nesses casos de dilatação à direita, deslocamento e VA, não existe


informação segura sobre o controle. Devido ao fato do seu mecanismo de patogenia
ser semelhante ao DAE, parece racional recomendar os programas de alimentação
usados para controlar o DAE (RADOSTITS et al., 2000).

32
5. DESLOCAMENTO DE ABOMASO - Relato de Caso

5.1 Histórico de casos clínicos

Durante o período de estágio na Lacticínios Tirol, foram atendidos 18 casos


de DAE, 5 DAD e 1 DAD em touro.

Numero do animal – Propriedade – 598


Cidasc – 728988
Espécie – Bovina
Raça – Holandesa
Idade – 4 anos
Peso – 540 kg

5.2 Anamnese

No dia 22 de março 2011, foi relatado pelo proprietário que a vaca


apresentava anorexia, teve uma redução na produção de leite, não acompanhava as
outras vacas. Estava no 10º dia do período pos-parto.

5.3 Exame clínico

Ao examinar a vaca, na auscultação associada a percussão, revelou-se um


som anormal, percutindo um som metálico, a freqüência cardíaca aumentada 110
b.p.m, temperatura 37,8ºC, freqüência ruminal reduzida, na palpação retal observou-
se poucas fezes e escuras com certa viscosidade, fétidas e brilhantes, alimento mal
digerido, odor cetonico. Apresentava um grau moderado de desidratação com as
mucosas pálidas e secas, o pêlo era arrepiado e opaco. Escore de condição
corporal: 2,5.

33
5.4 Diagnóstico

Com o exame físico realizado, a suspeita de deslocamento de abomaso à


esquerda se confirmou. Tendo assim um prognóstico reservado.

5.5 Tratamento

Foi realizada a laparotomia exploratória pelo flanco esquerdo, assim foi


observado o abomaso deslocado, aparecendo entre o rúmen e a parede das
costelas. Foi realizado o posicionamento do abomaso e sua localização fisiológica.

5.5.1 Técnica cirúrgica

Inicialmente realizou-se uma lavagem com água e detergente neutro, em


seguida uma ampla tricotomia no flanco esquerdo onde foi feita a incisão, após a
tricotomia, mais uma vez lavado, e desinfecção do local, com solução de água e
iodo (Figura 3).

FIGURA 3 – Foto do animal em estação após a tricotomia e a lavagem do local a ser incisado,
preparação da área cirúrgica.

34
O procedimento cirúrgico foi realizado com o animal em estação, com
aplicação de anestésico local na linha de incisão, utilizando dois frascos de cloridrato
de lidocaína 2% com vaso constritor (cada frasco de 50 ml). A cirurgia foi iniciada
através de uma incisão vertical no flanco esquerdo de ± 20 cm na fossa para-lombar
começando 5 cm ventralmente ao processo transverso da vértebra lombar. Incisou-
se a pele, músculo obliquo abdominal externo e interno, músculo abdominal
transverso e cuidadosamente o peritônio, para que não houvesse perfuração do
rúmen. Após a incisão completa, o abomaso foi visualizado (Figura 4).

FIGURA 4 – Inicio da incisão no flanco esquerdo.

35
FIGURA 5 – Abomaso deslocado entre o rúmen e a parede abdominal esquerda no final do arco
costal.

Assim o cirurgião, explorando todo interior do animal, passando o braço


esquerdo em direção caudal em relação ao rúmen para palpar o abomaso distendido
com gás no lado esquerdo do rúmen, assim sendo, obteve uma confirmação
completa do DAE.
Em seguida utilizando uma agulha curva, com fio de algodão numero 1 (fio
urso) transfixando na curvatura maior do abomaso 3 pontos, em seguida com 2
agulhas em “S” com aproximadamente 40 cm de fio preso em cada agulha em S,
essas agulhas foram passadas pela parede ventral com aproximadamente 10 cm do
umbigo, cuidando para que não houvesse vasos calibrosos, as agulhas já passadas
pela parede, o cirurgião foi posicionando o abomaso com a palma da mão, e um
auxiliar vai puxando o fio com as duas agulhas tracionando o abomaso para seu
local fisiológico a ser fixado na parede ventral do abdômen na parte externa do
animal.

36
FIGURA 6 – Abomaso na parede abdominal ventral com ponto captonado.

Após fixado o abomaso, sutura-se o peritônio, com fio catgut nº 2, com pontos
contínuos ancorados, seguido o músculo abdominal transverso, também com fio
catgut nº 2 continuo ancorado. A pele é suturada com fio de algodão nº1 (fio urso),
pontos continuo ancorados. Os pontos que fixam o abomaso e os pontos de pele
são retirados em torno de 15 dias após a cirurgia.

FIGURA 7 – Sutura do flanco esquerdo.


37
Após a cirurgia, no local da incisão entre as camadas de sutura de pele e
músculos foi depositado o conteúdo de bisnaga de antibiótico para infusão intra-
mamaria, a base de cefaperazona sódica.
No pós operatório foi indicado apenas limpeza diária dos pontos e aplicação
de iodo.
Para uma boa evolução pós cirúrgica manter o animal em uma boa pastagem,
fornecendo pouca silagem e muita água fresca.
Após a cirurgia não era indicado uso de antibióticos, somente observação
diária do animal.
Após 15 dias, no retorno o proprietário relatou que logo no dia seguinte a
cirurgia de correção do deslocamento do abomaso o animal já voltou a pastar
normalmente.

5.6 Discussão

Na bovinocultura de leite a ocorrência de DA é de grande importância, pois


tem uma relevância muito grande nos prejuízos econômicos causados devido a essa
síndrome, tem uma grande perda na produção de leite, os custos são altos em
tratamentos.
Hoje um manejo preventivo tem um significado muito grande, principalmente
na parte nutricional, que vem sendo um ponto principal para uma prevenção desta e
de muitas outras doenças relacionadas ao gado de leite.

38
6. LAMINITE E AFECÇÕES PODAIS

6.1 Introdução

Em nosso País onde a produção baseia-se em um plantel fundamentalmente


pastoril, a necessidade de deslocamentos dos animais por terrenos íngremes na
maioria das vezes devido ao aproveitamento das propriedades, exige uma perfeita
condição de saúde podal. Portanto as enfermidades do locomotor dos bovinos estão
adquirindo cada dia mais relevância, sobretudo com a ampliação da produção
animal e a constante intensificação do avanço genético, nutricional e de manejo. (AG
– A REVISTA DO CRIADOR, 2011).
É importante recordar que os animais com problemas podais andam menos,
do ponto de vista de manejo ficam sempre para trás, alimentam-se menos e se
mantém perto das aguadas, não evidenciam os sinais de cio e permanecem grande
parte do tempo em decúbito (AG – A REVISTA DO CRIADOR, 2011).
O Brasil possui um dos maiores rebanhos bovinos do mundo, atualmente com
207 milhões de cabeças. A bovinocultura possui importância econômica para o país,
participando grandemente da balança comercial e na economia interna do país (AG
– A REVISTA DO CRIADOR, 2011).
Atualmente, a pododermatite asséptica difusa, ou laminite, é considerada uma
das principais causas de claudicação na espécie bovina, pois se estima que mais de
60% das afecções podais estejam a ela associadas. Laminite é a inflamação dos
tecidos sensitivos ou lâminas do casco, estruturas que unem a parede do casco à
falange distal. Há uma tendência de aumento da ocorrência de enfermidades do
sistema locomotor de bovinos à medida que os animais se tornam mais
especializados. Desde meados do século XX, geneticistas e criadores intensificaram
os trabalhos de melhoramento de bovinos leiteiros. Progressos relevantes surgiram
quanto à capacidade digestiva e respiratória, maior desenvolvimento da glândula
mamária e, conseqüentemente, maior produção de leite. Entretanto, estes
resultados não foram acompanhados, na mesma velocidade, pelo melhoramento da
capacidade de sustentação do corpo pelas pernas e patas. Paralelamente,
atendendo a demanda de mercado, foram realizadas modificações nas instalações

39
visando adequá-las às necessidades de intensificação dos sistemas de produção
dos rebanhos, de modo a torná-los mais produtivos. Esses fatores culminaram com
maior concentração de animais por área, resultando em maior volume de dejetos,
maior umidade, piora na condição de higiene e manejo mais complexo. Na busca de
soluções para estes problemas, iniciou-se um processo de impermeabilização dos
pisos das construções objetivando reduzir a umidade e facilitar a limpeza. Este
processo culminou com a construção dos sistemas loose-house, tie-stall e free stall,
em cujas instalações as vacas freqüentemente permanecem a maior parte do tempo
em pé sobre piso de concreto, em situações de desconforto por falta de cama
adequada que as estimulem ao descanso (AG – A REVISTA DO CRIADOR, 2011).
Segundo REBHUN, 2000 a laminite ou inflamação das lâminas e do córion
sensíveis é uma afecção subdiagnosticada nos bovinos leiteiros. Geralmente, todos
os quatro pés são afetados em um certo grau, mas alguns bovinos exibem uma
claudicação de apenas um membro, podendo variar entre os quatro membros, os
sinais de claudicação de crescimento excessivos dos cascos, anéis de crescimento
nos cascos e de hemorragia subsolar destacam a doença.

6.2 Principais afecções podais

O casco é um excelente indicativo do manejo utilizado no rebanho do gado


leiteiro, ele sinaliza através de suas lesões e pelo seu aspecto qual é o problema de
manejo que ocasionou o distúrbio. Mas para saber interpretar as informações que o
casco oferece, é importante que o casqueador saiba reconhecer as lesões podais.
As lesões podem ser classificadas de acordo com região acometida. As principais
lesões que acometem a sola do casco são, hematoma de sola, ulcera de sola,
abscesso de sola. Na maioria das vezes as lesões acometem a sola do casco estão
associadas às mudanças sistêmicas ocasionadas pela acidose ruminal e mudanças
do periparto.

40
6.3 Etiologia

A laminite nos bovinos leiteiros é mais freqüentemente causada por uma


superalimentação com alimentos ricos em energia. Os bezerros e as novilhas com
laminite geralmente foram estimulados a crescer e alimentados com uma quantidade
excessiva de alimentos com uma quantidade excessiva de alimentos facilmente
fermentáveis, (exemplo, milho com muita umidade), ou rações leiteiras mistas totais
que sobraram das vacas lactantes. Em qualquer caso, a anamnese revela o
problema. As novilhas de primeira cria, em repouso de produção, a exposição pela
primeira vez a dietas de lactação ricas em energia junto com a liberação de
endotoxinas ou outros mediadores a partir de infecções, tais como metrite séptica,
mastite séptica ou pneumonia podem contribuir para uma laminite. As de primeira
cria conseqüentemente apresentam uma incidência mais alta de laminite aguda que
as vacas adultas. Como o caso dos eqüinos, as endotoxinas sozinhas
ocasionalmente podem causar uma laminite nos bovinos, mas a maioria das
laminites nos bovinos leiteiros se associa a uma alimentação com carboidratos
rapidamente fermentáveis (REBHUN, 2000).
A patogênese começa com uma ruminite causada pelos alimentos ricos em
energia que fermentam o suficiente para causar acidose ruminal de grau baixo com
uma subseqüente ruminite química (REBHUN, 2000).
As outras causas de laminite incluem exposição acidental a quantidades
excessivas de grãos e laminite térmica ou mecânica acarretada pelo uso exagerado
de um esmerilhador na sola durante o aparamento do casco (REBHUN, 2000).
Embora já comprovada a relação entre a ocorrência de laminite e acidose
ruminal e/ou sistêmica, várias pesquisas foram realizadas com o intuito de
estabelecer uma ligação entre laminite e outras afecções.
Outros fatores, como teores de proteína, energia, cálcio, fósforo, cobre,
manganês, selênio, zinco, molibdênio e vitaminas A, D e E também foram
incriminados na etiopatogenia da doença. Estes minerais e vitaminas são essenciais
na formação e manutenção da integridade do casco, na cicatrização e na imunidade
(AG – A REVISTA DO CRIADOR, 2011).

41
6.4 Sinais clínicos

A laminite aguda aparece como uma claudicação tanto em membros


anteriores como nos posteriores. Os membros anteriores freqüentemente se
posicionam mais para frente que o normal para evitar uma sustentação de peso no
dedo. Os membros posteriores se mantêm mais sob o corpo do que o normal, pela
mesma razão. Os bovinos afetados relutam em se levantar ou andar. Alguns bovinos
podem se recusar a ficar de pé, devido a dor que sentem nos cascos acabam
repousando sobre seus joelhos, (carpianos), isso também enquanto comem e
bebem, assumindo assim uma posição ou atitude de “prece”. Quando são forçados a
se levantar, esses bovinos sapateiam nos membros afetados, descansando
alternativamente um e depois outro membro.
Quando a vaca anda, os pés afetados são colocados gentilmente no solo em
uma maneira de calcanhar para dedo. Quando muda de direção, a vaca demonstra
uma dor extrema, com os membros dianteiros estendidos na frente da sua posição
de sustentação de peso normal. A andadura fica rígida, e o animal geralmente
apresenta um dorso arqueado (REBHUN, 2000).
Os pés afetados ficam mais quentes que o normal e extremante sensíveis a
uma pressão solar em ambos os dedos, (mediais e laterais), com provadores de
casco. A falange distal tende a girar menos nos bovinos laminíticos que os eqüinos.
Isso se baseia tanto no exame radiográfico como na necropsia de muitos bovinos
laminíticos (REBHUN, 2000).
Os bovinos cronicamente afetados sofrem os efeitos do tempo excessivo
gasto em decúbito e apresentam uma perda de peso, feridas de decúbito e lesões
de pressão. A perda de peso se deve tanto a dor como a redução da capacidade de
procurar alimento (REBHUN, 2000).
A laminite crônica resulta em cascos excessivamente longos com um ângulo
mais baixo nos calcanhares, também se observa anéis de crescimento, e também
um crescimento muito rápido provoca uma rachadura subseqüente dos dedos e da
parede em uma equimose ou hemorragia de sola. A separação da linha branca
devida a um crescimento de parede rápido pode aumentar a incidência de

42
abscessos subsolares e da doença de linha branca. A redução da produção,
eficiência reprodutiva e a perda de peso constituem seqüelas (REBHUN, 2000).
Em vacas leiteiras submetidas à exploração intensiva em sistema de
confinamento permanente prevalece a forma sub-clínica de laminite, de evolução
lenta e, portanto, insidiosa e crônica. Os sinais clínicos não são evidentes desde o
início e os produtores e técnicos só percebem a doença cerca de seis meses após a
exposição dos animais aos fatores de risco, quando começam a manifestar lesões
podais secundárias à laminite, como hemorragia e úlcera de sola, sola dupla, erosão
de talão, doença da linha branca, fissuras ou rachaduras e deformações no estojo
córneo. Na laminite crônica, a recuperação do animal é demorada e incerta (AG – A
REVISTA DO CRIADOR, 2011).

6.5 Diagnóstico

O diagnóstico da laminite aguda é feito através da observação da atitude e


da andadura do paciente, palpando-se os cascos, podemos avaliar o aquecimento
dos cascos, artérias digitais, aparando os cascos e usando-se os provadores de
casco para testar sua sensibilidade quando se aplica uma pressão no dedo e na
sola proximal. Geralmente, envolve-se mais de um pé e, tipicamente envolve-se
ambos os pés, ou mesmo todos os quatro pés. O diagnóstico diferencial da
equimose da sola, dos abscessos da sola e da fratura da falange distal é descartado
através de um aparamento dos pés e do número de dedos afetados. As radiografias
podem ser menos úteis nos casos de laminite aguda, pois ocorre menor rotação de
Fз nos bovinos do que nos eqüinos, devido as diferenças anatômicas nas lâminas e
no córion. No entanto, estudo radiográfico pode demonstrar uma redução de
densidade na região dorsal, na qual um edema e uma hemorragia separam as
lâminas sensíveis e córneas, e alguns casos ocasionais apresentam evidências sutis
de rotação de Fз. As vistas laterais com a chapa radiográfica inserida no espaço
interdigital para detalhar uma Fз única proporcionam os melhores detalhes
(REBHUN, 2000).
Sem duvida, as dietas ricas em concentrados e o excesso de energia podem
causar uma laminite tanto sub-clínica como clínica, e a laminite de grau baixo pode
43
não ser tão óbvia quanto uma claudicação para os proprietários dos bovinos
afetados. Pode-se observar andadura lenta e arrastada, excesso de tempo gasto em
decúbito, redução da eficiência reprodutiva menor que a ideal (REBHUN, 2000).
Se os sinais clínicos de laminite se encontrarem ausentes não se deve forçar
o diagnóstico simplesmente com base na presença de uma hemorragia subsolar. Se
existir alguma dúvida significativa, pode-se acompanhar os bovinos descartados até
o abate e examinar seus pés para confirmar ou negar a presença de laminite
(REBHUN, 2000).

6.6 Tratamento

A laminite aguda é tratada através de agentes analgésicos, antiinflamatórios


tais como aspirina (12 a 24mg oralmente, b.i.d., para uma vaca adulta),
fenilbutazona (4,4mg/kg, a cada 48h, oralmente) ou flunixina-meglumina (0,55ª
1,1mg/kg, b.i.d.). alguns clínicos recomendam as anti-histaminas e os
corticosteróides, mas eu não uso essas preparações (REBHUN, 2000).
Os exercícios no solo macio ou embebimento dos pés afetados em agua fria
também ajudam. Embora os bovinos afetados relutem em se mover, deve-se
estimulá-los a andar sobre o solo macio após começar a terapia com analgésicos.
Manter o animal afetado em uma baia com uma cama boa, ou com um piso de areia
é muito mais desejável do que uma baia de confinamento com piso de concreto, pois
assim minimiza as chances de lesões secundarias. Também se tem usado o DMSO
intravenoso (1g/kg administrado intravenoso e lentamente após uma diluição com
volume equivalente de dextrose 5%) (REBHUN, 2000).
Além da terapia especifica para laminite, devem-se tratar as doenças
associadas predisponentes (tais como metrite, mastite e pneumonia), como
problemas primários para reduzir a produção de endotoxinas ou de outros
mediadores. Caso se suspeite de uma acidose ruminal ou de uma alimentação
excessiva com carboidratos, devem-se empregar laxantes, tampões e uma
alimentação, com fibras antes dos concentrados. Além disso, indica-se uma
avaliação nutricional completa caso se observem casos múltiplos nas novilhas de
primeira cria em uma única propriedade (REBHUN, 2000).
44
Deve-se continuar os analgésicos, por um mínimo uma semana, e pode exigir
isso por um período muito mais longo. Deve-se avisar o proprietário que podem
desenvolver recidivas após superalimentação, enfermidades, gestação ou nos
partos futuros, quando se expõe novamente a vaca a dietas ricas em concentrados
(REBHUN, 2000).
A laminite crônica é tratada através do uso criterioso de analgésicos,
(conforme descritos em laminite aguda), e um aparamento de casco freqüente em
uma tentativa de restaurar um ângulo normal com os cascos afetados. O prognostico
é ruim nos animais jovens, pois eles são prováveis de recidivar quando alimentados
com dietas ricas em energia. O prognostico é reservado nos animais adultos porque
eles são propensos a outros problemas musculoesquelético e são prováveis de
apresentar má eficiência reprodutiva e níveis de produção menores que os ideais
(REBHUN, 2000).

6.7 Controle e conforto animal

O primeiro passo para o controle da claudicação é ter em mente uma frase


muito divulgada no meio científico, e também no meio dos consultores que
trabalham a campo. “As afecções podais são doenças do conforto animal”, o baixo
conforto animal esta associado com aumento da prevalência da claudicação. Atuar
sobre os fatores predisponentes irá minimizar a ocorrência de lesões, mas é
necessário ainda instituir um manejo preventivo, que irá garantir a manutenção da
saúde do casco. As medidas de prevenção ajudam a disseminação de lesões de
origem infecciosa(REBHUN, 2000).

45
7. LAMINITE E AFECÇÕES PODAIS – Relato de caso

Numero do animal – Propriedade – 388


Cidasc – 541670
Espécie – Bovina
Raça – Holandesa
Idade – 3 anos
Peso – 490 kg

7.1 Anamnese

No dia 27 de abril de 2011 foi atendido um bovino da raça holandesa. O


proprietário relatou que a vaca apresentava anorexia, relutância em caminhar,
prostração e decúbito esternal, diminuição da produção de leite. Já vinha
apresentando claudicação ha 20 dias, e se agravou. A alimentação era constituída
por pasto, silagem e ração, sendo a mesma das outras vacas do rebanho. O local
onde o animal passava a maior parte do tempo era em piquetes de aveia, azevém e
tifton. O relevo do terreno era irregular, e o caminho por onde passavam para ir e vir
da pastagem para ordenha é cheio de pedras. O piso da sala de ordenha era
abrasivo.

7.2 Exame clínico

No exame clínico a paciente pesava 490Kg e apresentava parâmetros


fisiológicos dentro da normalidade. O animal manifestava intensa claudicação de
membro pélvico direito, mantendo-o sempre suspenso. Também foram observados
aumentos de volume e de temperatura local, além de intensa sensibilidade ao toque,
na parte distal.

46
FIGURA 8 – Mostrando o local da lesão, fistula na região da borda coronária no lado abaxial do dígito
lateral e outra fistula na região interdigital
Fonte AG – A REVISTA DO CRIADOR

7.3 Diagnóstico

A análise do histórico de cronicidade, e os sinais clínicos, a presença e a


profundidade das fistulas drenando conteúdo purulento embasaram a conclusão do
diagnóstico de infecção da articulação interfalangeana distal.

7.4 Tratamento

A paciente foi contida quimicamente com xylasina, para realização de exame


físico específico do membro afetado. Após criteriosa limpeza com água e sabão e
retirada do tecido necrótico, foi observada uma fistula na região da borda coronária
no lado abaxial do dígito lateral e outra fistula na região interdigital do mesmo
membro, com drenagem de material purulento. Foi realizado um bloqueio anestésico
regional circular, no membro, por infiltração de lidocaína a 2% sem vaso constritor.
As fistulas foram curetadas e irrigadas com solução fisiológica e iodo povidona.
Protegeu-se a lesão com compressas impregnadas com tetraciclina em pó e
bandagem nos dígitos e espaço interdigital. A bandagem foi protegida por ungüento

47
contendo alcatrão vegetal. E o tratamento consistia também no casqueamento, para
corrigir os aprumos para que o animal voltasse a andar corretamente.

FIGURA 9 – Foto após uma lavagem completa do casco


Fonte AG – A REVISTA DO CRIADOR

A troca da bandagem foi feita uma vez por dia, para o tratamento utilizou-se
flunixin meglumine, na dose de 1,1 mg/Kg e tetraciclina, na dose de 20 mg/kg/72
horas. Após uma semana de tratamento optou-se por ceftiofur, na dose de 2,2
mg/Kg/dia IM, por quinze dias. A partir de então a paciente foi mantida em piquete,
com locomoção restrita.

7.5 Controle

O controle dessas patologias baseia-se na prevenção fornecendo a esses


animais condições ambientais favoráveis, nutrição e manejo alimentar adequado.

7.6 Discussão

A infecção da articulação interfalangeana distal ocorre por progressão


ascendente de infecção no estojo córneo, muralha, sola, borda coronária, espaço

48
interdigital e também por traumas penetrantes no dígito. Neste caso relatado foi uma
infecção interdigital.
As laminites que acometem esses animais tem seqüelas irreversíveis, mesmo
com todo o tratamento, o que determina um numero elevado de descartes, o que
causa um prejuízo econômico muito grande na bovinocultura de leite.

49
8. DISTOCIA NA VACA

8.1 Torção de útero

8.1.1 Incidência

A incidência da distocia bovina varia muito e é influenciada por vários fatores.


A incidência total é de 3 a 10% dos partos, mas pode ser muito maior. Os fatores
seguintes, alguns dos quais são inter-relacionados tem demonstrado influenciar a
incidência da distocia em bovinos (JACKSON, 2004).
Fatores que influenciam na distocia:
Ambientais.
 Dieta, animais que são pouco alimentados ou muito alimentados, alimentação
muito pesada, e mesmo a redução drástica da alimentação nas ultimas
semanas, e estão em condições ruins podem sofrer níveis acentuados de
distocia.
 Supervisão do gado parturiente deve ser supervisionado intensamente por
pessoas experientes.
 Doença como a hipocalcemia ao nascimento é uma causa de inércia uterina
primaria, algumas criações com doenças, tais como salmonela e brucelose,
podem observar uma incidência aumentada de distocia.
 Indução ao nascimento embora isso possa reduzir a distocia causada feto
pélvica, a incidência de mau posicionamento fetal pode aumentar a distocia.

8.2 Causas de distocia na vaca

Vários estudos de casos de distocia bovina indicaram que a incidência de


várias causas é aproximadamente como a demonstrada na tabela abaixo.

50
TABELA 3: Causas de distocia e sua incidência (%) na vaca
CAUSA (%)
Desproporção feto – pélvica 45
Má apresentação fetal 26
Falha da cérvice/vagina ao dilatar 9
Inércia uterina 5
Torção uterina 3
Outras anormalidades maternas 7
Outras anormalidades fetais 5
Fonte: JACKSON, 2004

51
8.3 Torção de Útero

A torção de útero foi descoberta como a causa de mais de 7% de todas as


distocias bovinas em algumas pesquisas. O útero gestante rotaciona em seu próprio
eixo longo, com o ponto de torção sendo a vagina anterior imediatamente caudal à
cérvice. Na maioria dos casos, a torção é na direção anti-horaria com o obstetra
posicionado atrás da vaca. O grau de torção de 45 à 360º (JACKSON, 2004).
Durante o estagio foi relatado somente um caso de torção uterina.

8.3.1 Torção do útero durante a gestação

Essa é uma condição rara vista, muito menos freqüente como uma causa de
distocia a termo (JACKSON, 2004).

8.3.2 Etiologia

Desconhecida mas possivelmente associada com a instabilidade uterina e os


episódios de exercício estimulados (JACKSON, 2004).

8.3.3 Sinais clínicos

A condição é descrita em animais a partir da metade da gestação. Os animais


afetados podem mostrar sinais de desconforto, algumas contrações e a cauda pode
estar erguida. Pode ocorrer morte nos casos não tratados. A torção é palpável ao
exame retal como uma estrutura parecida com uma corda envolvendo a vagina
anterior, a cérvice e o corpo uterino. O útero pode ser percebido mais tenso do que o
normal (JACKSON, 2004).

52
8.3.4 Tratamento

A correção cirúrgica é necessária na maioria dos casos. O útero é abordado


por meio de uma laparotomia pelo flanco esquerdo. O útero (o qual pode apresentar
um comprometimento vascular e estar frágil) é cuidadosamente destorcido, é
fornecido uma terapia com antibióticos e antiinflamatórios não esteróides, o feto e a
placenta podem ser monitorados após o tratamento com a ultra-sonografia. A
separação da placenta do endométrio e o aborto podem ser complicações
(JACKSON, 2004).

8.4 Torção do útero como causa de distocia a termo

8.4.1 Etiologia

O útero bovino é tido como basicamente instável por varias razões. Essas
incluem: (1) as partes caudais do útero são fixadas nas paredes laterais da pelve
pelo ligamento largo; (2) conforme a gestação avançada, as partes craniais dos
cornos uterinos repousam no assoalho abdominal sem aderências estáveis
ligamentosas; (3) uma gestação de um único bezerro ocupa principalmente um
corno do útero, tornando o órgão mais pesado e mais volumoso de um lado do que
do outro; (4) a instabilidade pode aumentar quando a vaca abaixar sua parte frontal
primeiro, ao se deitar. A torção ocorre quando a vaca ou o feto realiza um
movimento repentino, causando a rotação do útero instável em seu próprio eixo
(JACKSON, 2004).
Se o feto rotacionar em seu eixo longo ao final da gestação, o útero pode
rotacionar com ele. Exercícios reduzidos podem aumentar a incidência de torção
(JACKSON, 2004).

53
8.4.2 Sinais Clínicos

Os primeiros sinais podem ser notados próximo do final do primeiro estágio


do trabalho de parto, o qual é prolongado, e a vaca pode mostrar sinais de leve
desconforto. A paciente pode adotar uma posição de “cavalo de balanço” de forma
que a superfície dorsal de sua espinha fique côncava e os membros anteriores e
posteriores se mantenham respectivamente mais para a frente e para trás do que o
normal. A torção do canal de parto Poe puxar um ou ambos os lábios vulvares para
dentro. O exame vaginal revela uma disposição anormal do canal do parto. A mão
não pode ser passada imediatamente na direção anterior da cérvice. A vagina se
estreita em forma de cone e as pregas da mucosa vaginal podem ser sentidas
formando um espiral oblíquo. A direção das pregas vaginais pode indicar a direção
da torção, tanto em sentido horário quanto anti-horário (JACKSON, 2004).
Se a torção for menor que 180º, a mão do obstetra pode passar através de
constrição para palpar o feto. Em tais casos deve ser tomado cuidado para evitar
confundir um feto morto com um vivo (JACKSON, 2004).
Quando palpado através da vagina anterior torcida, o feto pode parecer estar
flutuando longe da mão do obstetra, então retorna espontaneamente se estiver vivo.
A cérvice esta normalmente dilatada (JACKSON, 2004).
O exame retal irá confirmar o deslocamento, com os ligamentos largos sendo
anormalmente palpados como bandas esticadas no abdômen caudal (JACKSON,
2004).

8.4.3 Prognóstico

É muito bom nos casos em que são reconhecidos e tratados imediatamente.


Nos que foram tratados por algum tempo após a sua ocorrência, pode ocorrer
comprometimento grave do suprimento sanguíneo do útero. Em tais casos, o
bezerro pode morrer e a parede uterina pode ficar necrosada e friável. A ruptura
uterina pode ocorrer espontaneamente ou, na tentativa de tratamento pode por meio
de rolamento e peritonite, podem ocorrer toxemia e morte. A possibilidade de lesão

54
uterina não percebida deve sempre ser lembrada nos casos em que o tratamento foi
tardio ou naqueles que não responderam bem a ele (JACKSON, 2004).

8.4.4 Tratamento

Vários métodos estão disponíveis: Rotação do feto e do útero pela vagina de


volta para sua posição correta. Isso é possível se a mão do obstetra puder passar
para dentro do útero e tocar o feto. O feto é agarrado por uma proeminência como
cotovelo, esterno ou coxa e é agitado de um lado par outro antes de ser empurrado
na direção oposta da torção (JACKSON, 2004).
Rolamento da vaca: o princípio desse método é rolar a vaca ao redor de seu
útero enquanto o órgão permanece na posição imóvel, é necessário três assistentes
para essa manobra. O bezerro deve ser sempre removido pelo obstetra assim que a
torção for corrigida (JACKSON, 2004).
A cérvice pode fechar dentro de 30 min após a resolução da torção, evitando
a saída fetal pela rota vaginal e tornando necessária a operação cesariana
(JACKSON, 2004).

8.4.5 Correção cirúrgica

Pode ser necessária se a rotação fetal for impossível e o rolamento da vaca


não for bem sucedida.
Uma laparotomia pelo flanco esquerdo é realizada com a vaca em estação
sob anestesia local. O útero é localizado e a direção da torção confirmada pela
palpação e pelo exame de região cervical. A parede uterina ou um membro fetal
dentro do útero é agarrado firmemente e uma tentativa é feita para rotacionar o útero
de volta para a sua posição correta (JACKSON, 2004).
Uma vez que o útero esteja corretamente no lugar, o bezerro pode ser
retirado pela vagina ou com operação cesariana. Se o útero não puder ser rodado, a
operação deve ser realizada com o útero em posição anormal. Uma vez que o feto
tenha sido removido, o útero pode ser normalmente rodado para sua posição correta
após o reparo da parede uterina. A condição desta deve ser checada
55
cuidadosamente antes do fechamento, se o útero estiver descorado, seu suprimento
sanguíneo pode estar comprometido, caso não recupere sua cor normalmente, as
perspectivas de sobrevivência são ruins. O uso de antibióticos e antiinflamatórios
não esteróides, como flunixina, podem auxiliar na recuperação e fornecer analgesia
(JACKSON, 2004).

9. DISTOCIA NA VACA – Relato de caso

9.1 Cesariana com torção de útero

Durante o período de estágio foram realizados 9 cirurgias de cesariana, em


oito casos parturientes os fetos apresentavam-se relativamente grandes, mas todos
em posição norma, sendo que um era com torção de útero.

Numero do animal – Propriedade – 785


Cidasc – 493820
Espécie – Bovina
Raça – Holandesa
Idade – 6 anos
Peso – 450 kg

9.2 Anamnese

No dia 23 de abril de 2011, às 20:00 horas o veterinário recebeu a chamada


para atender uma vaca da raça holandesa que estava em trabalho de parto.
Chegando ao local, o proprietário relatou que a vaca já estava em trabalho de parto
desde às 6:00 horas da manhã, o animal ficou estabulado o dia todo em observação,
não comia, não bebia água, ao fim da tarde o proprietário tentou auxiliar no parto,
mas não teve sucesso.

56
9.3 Exame clínico

O animal estava inquieto, apresentando muita dor, forcejando muito,


freqüência cárdica aumentada, 115 b.p.m, temperatura levemente aumentada
38,9ºC, na palpação intra-vaginal não se percebia o feto com facilidade para sair.

9.4 Diagnóstico

No estado que o animal se apresentava, não conseguindo parir, na palpação


intra-vaginal foi diagnosticado que o útero estava torcido, e assim não tendo a
certeza se o feto ainda estaria vivo.

9.5 Tratamento

Indicou-se fazer a cirurgia cesariana imediatamente explorando o flanco


esquerdo.

57
9.5.1 Técnica cirúrgica

FIGURA 10 - Lavagem com a água e detergente neutro.

Inicialmente foi feita uma lavagem com a água e detergente neutro


abundantemente, em seguida uma ampla tricotomia no flanco esquerdo onde foi
feita a incisão, após a tricotomia, mais uma vez lavado, e desinfecção do local, com
solução de água e iodo.
O procedimento cirúrgico foi feito com o animal em estação, foi efetuada
anestesia local em linha, utilizando dois frascos de cloridrato de lidocaína 2% com
vaso constritor (cada frasco de 50 ml).
Após a tricotomia, desinfecção e anestesia, se iniciou a cirurgia com uma
incisão vertical no flanco esquerdo de ± 25 cm na fossa para-lombar começando 5
cm ventralmente ao processo transverso da vértebra lombar. Incisou-se pele,
músculo obliquo, abdominal externo e interno, músculo abdominal transverso e
cuidadosamente o peritônio, para que não houvesse perfuração do rúmen.

58
FIGURA 11 - Incisão vertical no flanco esquerdo de ± 25 cm na fossa para-lombar.

Após a incisão completa foi explorada a cavidade interna do animal, palpando


o útero juntamente com o feto, para fazer a manobra anti-horária para desfazer a
torção, após feita esta manobra o útero foi tracionado e realizada uma incisão do
útero menos vascularizada. Realizada a incisão segurando o útero para fora da
cavidade, o feto foi retirado através de tração forçada juntamente com auxiliares.
Retirado o feto, e retirado o excesso de liquido acumulado no interior do útero,
em seguida o útero foi suturado com fio absorvível catgut nº 2, foi feito pontos
contínuos, sutura invaginantes. Em seguida colocou-se o útero novamente em sua
posição fisiológica. Antes de começar a sutura, administrou-se antibiótico (penicilina)
no interior da cavidade, para evitar aderências e outros problemas devido a
manipulação. Em seguida suturou-se o peritônio, com fio catgut nº 2, com pontos
contínuos ancorados, seguido o músculo abdominal transverso, também com fio
catgut nº 2 continuo ancorado. A pele foi suturada com fio de algodão nº1 (fio urso),
pontos continuo ancorados. Os pontos de pele foram retirados em torno de 15 dias
após a cirurgia.
E neste caso foi recomendado antibióticoterapia por 3 dias por via IM.
59
9.6 Discussão

Na bovinocultura de leite a ocorrência de partos distócico é de grande


incidência, devido a genética entre uma vaca e outra, usando touros diferentes,
assim diferenciando as vacas melhoradas, mas tendo relevância na produção de
leite, com um bom tratamento a vaca em pouco tempo volta a sua produção de leite
ao normal, os custos são altos nos tratamentos, mas quando se tem uma cria do
sexo feminino, futuramente é compensatório.
Hoje um manejo nutricional e um melhoramento genético tem um significado
muito bom, relacionadas ao gado de leite.

60
10. CONCLUSÃO

O estágio técnico profissionalizante é de extrema importância na vida do


acadêmico, pois permite aplicar os conhecimentos teóricos adquiridos durante o
curso, isso sem duvida é adquirido com uma grande experiência.
Vivenciar as dificuldades da profissão, as expectativas e os anseios dos
produtores que futuramente poderão ser nossos clientes, assim puderam nos
mostrar em tão pouco tempo a dimensão real do que iremos enfrentar na vida
profissional que é ser um Médico Veterinário.
Neste período de estágio os orientadores acadêmico, e profissional, foram
sem dúvida muito importante. Com orientador profissional pude vivenciar momentos
importantes de como fazer um atendimento e procedimento, e maneiras para facilitar
o diagnóstico e o prognóstico.
Durante o estágio também ensina ao acadêmico que ser um Médico
Veterinário não é apenas para salvar a vida desses animais, mas também a
minimizar e aliviar o sofrimento deles, e pensar na qualidade de vida para cada
animal.
Ao término do estágio foi possível perceber a verdadeira dimensão e
importância de sua realização.

61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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TURNER, A.S.; McILWRAITH, C.W. Técnicas Cirúrgicas em animais de Grande


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62

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