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Curitiba/PR
2021
JORGE RIBAS DA CRUZ NETO
Curitiba/PR
2021
Autorizo a reprodução parcial ou total desta obra, para fins acadêmicos, desde que citada a fonte.
“Fazer todo o bem que possa, amar sobretudo a liberdade, e jamais renegar a verdade”
Ludwig van Beethoven
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 5
2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................... 7
2.1 ETIOPATOGENIA ................................................................................ 8
2.2 SINAIS CLÍNICOS ................................................................................ 10
2.3 FISIOPATOLOGIA ............................................................................... 11
2.3.1 Imunoglobulinas ................................................................................... 12
2.4 ATUAÇÃO DOS LINFÓCITOS NO PROCESSO DO PRURIDO ......... 13
2.5 ALÉRGENOS NO CONTEXTO DA MEDICINA VETERINÁRIA .......... 14
2.6 DIAGNÓSTICO .................................................................................... 14
2.7 TESTES CUTÂNEOS ........................................................................... 15
2.8 TESTES UTILIZADOS NA CLÍNICA MÉDICA ..................................... 17
2.8.1 Teste de escarificação ......................................................................... 17
2.8.2 Teste de puntura ou skin track test ...................................................... 17
2.8.3 Teste de autossoro (TAS) .................................................................... 18
2.8.4 Teste de contato (TC) ........................................................................... 18
2.9 TERAPÊUTICA .................................................................................... 19
3 RELATO DE CASO ............................................................................. 28
4 RESULTADOS ..................................................................................... 32
5 DISCUSSÃO ........................................................................................ 33
6 CONCLUSÃO ...................................................................................... 34
REFERÊNCIAS ................................................................................................. 35
iii
LISTA DE ABREVIATURAS
AA Ácido araquidônico
DAC Dermatite atópica canina
DAPP Dermatite alérgica a picada de pulgas
ELISA Teste de imunoabsorção ligado a enzimas
EPA Ácido eicosapentanóico
GLA Ácido gamalinolênico
IL Interleucina
LA Ácido linoleico
TAS Teste com autossoro
TC Teste cutâneo
iv
1. INTRODUÇÃO
5
freqüência: Pastor Alemão, Cocker Spaniel, Dachshund, Doberman e Poodle Gigante
(GRIFFIN e DEBOER, 2001). A DAC também pode acometer cães mestiços (WHITE,
1998).
A deposição da lâmina lipídica do estrato córneo na pele de cães atópicos
mostrou-se marcadamente heterogênea comparada com a pele de cães normais. Olivry
et al. (2001) realizaram um trabalho por meio do qual compararam a pele de cães
atópicos com a de cães normais, utilizando microscopia eletrônica, e demonstraram as
diferenças estruturais dos lipídeos presentes no estrato córneo nestes dois grupos.
Os testes alérgicos são úteis para identificar a hipersensibilidade mediada por IgE
e para selecionar alérgenos para imunoterapia específica alergênica em cães com DAC.
É extremamente importante estabelecer o perfil de sensibilidade do paciente antes de
iniciar o tratamento (OLIVRY et al., 2005). Cunha et al. (2012) descreveram a presença
de anticorpos contra ácaros domésticos, como Dermatophagoides farinae e Blomia
tropicalis em amostras de soro de cães portadores de DAC no Rio de Janeiro.
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2. REVISÃO DA LITERATURA
Segundo Soldera (2015), Dermatite Atópica Canina (DAC) é uma doença alérgica
caracterizada clinicamente por eritema e prurido cutâneo e que, normalmente, predispõe
animais afetados a infecções cutâneas secundárias causadas por bactérias e leveduras.
Na maioria das vezes, quantidades elevadas de anticorpos da classe das IgE alérgeno-
específicas podem ser demonstradas através de sorologia. É considerada de caráter
multifatorial, pois implica uma reação de hipersensibilidade do tipo I a alérgenos
ambientais, uma barreira cutânea débil, maior propensão para infecções secundárias
bacterianas e ou fúngicas, entre outros fatores (NUTTALL, 2008).
A dermatite atópica canina é uma dermatite pruriginosa inflamatória comum, que
se caracteriza pela produção excessiva de imunoglobulinas IgE específicas contra
alérgenos ambientais (HALLIWELL, 2006). Os principais alérgenos ambientais
envolvidos na patogênese da DAC são o pó doméstico e os antígenos de ácaros; pólens
de gramas, árvores e ervas; esporos; antígenos epidérmicos e antígenos dos insetos.
Ácaros de poeira presentes nos domicílios, particularmente Dermatophagoides farinae e
D. pteronyssinus (da família Pyrogliphidae), são os principais alérgenos responsáveis
pela hipersensibilidade imediata em cães, afetando 30 a 100% dos cães com DAC
(RANDALL et al., 2003). Os ácaros da família Glycyphagidae, particularmente Blomia
tropicalis, são frequentemente encontrados em casas de áreas tropicais e subtropicais e
são frequentemente espécies de ácaro encontradas em poeira domiciliar (BINOTTI et
al., 2001).
A idade em que os sinais clínicos se iniciam varia de seis meses a sete anos
(OLIVRY et al., 2010). Cerca de 70% dos cães desenvolvem a doença entre um e três
anos de idade (SCOTT, MILLER e GRIFFIN, 2001).
De acordo com Dethioux (2006) essa doença é considerada uma síndrome
complexa e sua etiopatogênese ainda é mal compreendida. Diversas células
inflamatórias participam da resposta imune, sendo consideradas mais importantes: (1)
as células de Langherhans e células dendríticas dermais, ambas responsáveis pela
apresentação e processamento de antígenos; (2) linfócitos-B, responsáveis pela
produção de citocinas levando a ativação de células-B e outras células inflamatórias; (3)
7
mastócitos, responsáveis pela produção e liberação de mediadores inflamatórios
(SOLDERA, 2015).
Segundo Zanon et al. (2008), o diagnóstico da DAC poderá ser firmado com base
na história, em sinais clínicos e na eliminação laboratorial de alguns diferenciais.
Entretanto, o diagnóstico e a revelação dos alérgenos envolvidos só poderão ser
conseguidos mediante o teste cutâneo intradérmico.
As principais fontes de alérgenos envolvidas na DAC são: ácaros da poeira
domiciliar, ácaros de produtos armazenados, pólens de gramíneas, árvores e arbustos;
esporos de fungos; bolores, debris da epiderme humana, sementes de gramíneas, penas
e outros antígenos epidermais e de insetos (WILLEMSE, 2002).
O diagnóstico é baseado no histórico e na apresentação clínica e posteriormente
por testes intradérmicos ou testes sorológicos, tais como testes de imunoabsorção ligado
a enzimas (ELISA) e o teste de radioalergoabsorção, os quais demonstram níveis
aumentados de IgE alérgeno-específico. A identificação dos alérgenos responsáveis
pela doença é extremamente importante, pois permite que medidas terapêuticas e
preventivas possam ser introduzidas (SOLDERA, 2015).
2.1 - ETIOPATOGENIA
8
IV), de acordo com a base imunológica. As reações do tipo I são aquelas que envolvem
predisposição genética, produção de anticorpos reagentes, além da degranulação de
mastócitos. São reações que geralmente se iniciam após o segundo contato com o
antígeno, sendo também chamadas de reações imediatas, e são mediadas
principalmente pela IgE. Uma vez feito o contato com o alérgeno, as células de
Langerhans entram em contato com este e os linfócitos T auxiliares são requisitados
para fazerem a apresentação do antígeno aos linfócitos B. Estes produzem anticorpos
IgE alérgenoespecíficos e células de memória. Os anticorpos IgE se ligam aos
mastócitos e basófilos teciduais, o que resulta em degranulação dos mastócitos e
liberação de mediadores inflamatórios pré-formados, além da estimulação da cascata do
ácido araquidônico. Esses mediadores pré-formados são: histamina, heparina,
serotonina, cininogenase, proteases neutras, fator quimiotático eosinofílico da anafilaxia,
fator quimiotático do neutrófilo, fator ativador das plaquetas (DEBOER, 2004) e todos os
derivados do ácido araquidônico.
Este último é ativado por uma entre duas vias, a lipoxigenase, que leva à formação
de leucotrienos, ou a cicloxigenase, que leva à formação de prostaglandinas. Os
leucotrienos e a histamina aumentam a permeabilidade vascular e induzem a contração
da musculatura lisa. Assim, ocorre resposta bifásica iniciada tanto por mediadores
solúveis quanto por células inflamatórias. A combinação dos mediadores inflamatórios
pré-formados e derivados do ácido araquidônico resulta no desenvolvimento dos sinais
de inflamação, como eritema, edema e prurido. Contudo, clinicamente não está bem
estabelecido qual é o mediador mais relevante em relação à manifestação dos sinais da
DAC em cães (MARSELLA e OLIVRY, 2001).
Quando se compara cães atópicos a cães normais, verifica-se que há uma
“superexpressão” da interleucina (IL) – 4 nos primeiros (MARSELLA, 2006). Algumas
áreas da pele apresentam maior predileção para manifestação dos sinais de atopia, são
elas: pavilhões auriculares e membros. Nelas, a concentração de mastócitos é maior
(AUXILIA e HILL, 2000).
A DAC pode ser classificada como uma doença que se inicia através da reação
do sistema imunológico do paciente e segue com influências externas pela atuação de
alérgenos irritantes, bactérias e fungos que levam à piora dos sintomas (HNILICA, 2012).
As influências intrínsecas estão associadas a alterações genéticas destes animais e de
9
seu sistema imunológico, visto a reação exacerbada deste frente a estes alérgenos
inalados, ingeridos ou penetrados via transepidérmica. Os fatores externos aparecem
como oportunistas, aproveitando-se da falha da barreira lipídica cutânea e
estabelecendo infecções secundárias (DEBOER, 2017).
Esta teoria do envolvimento “interno-externo” levou o conhecimento da dermatite
atópica a um novo patamar, desta forma foi possível perceber novidades em sua
fisiopatogenia que permitiu reconhecer, por exemplo, que a DAC nem sempre é mediada
com IgE e que outros mecanismos podem estar envolvidos pelo menos em alguns
pacientes isolados (OLIVRY et al., 2010).
Alguns mecanismos envolvidos na patogenia da doença são: a diminuição da
função da barreira epidérmica, que resulta em aumento da permeabilidade da pele
facilitando a entrada de alérgenos e outros irritantes; a baixa produção de peptídeos
antimicrobianos pelas células epidérmicas com aumento da propensão desses animais
a infecções cutâneas e o aumento da resposta inflamatória frente a substâncias
secretadas por microrganismos, como as exotoxinas estafilocócicas. Além disso, a
importância da atenção às condições ambientais, visto que estas podem afetar e
modificar o desenvolvimento da alergia e a resposta de um indivíduo geneticamente
predisposto (OLIVRY et al., 2010).
10
sendo estes a conjuntivite com blefarite secundária e em cadelas pode haver
apresentação de estro irregular (CERDEIRO et al., 2021).
As manifestações iniciais contribuem para o desenvolvimento de infecções e
podem originar lesões secundárias como alopecia focal ou difusa, pústulas, máculas,
edema, liquenificação, hiperpigmentação e em animais de pelame claro pode ocorrer
discromia ferruginosa devido à lambedura excessiva. As lesões crônicas são observadas
principalmente nos locais onde há prurido intenso e repetido (SCOTT; MILLER;
GRIFFIN, 2001).
Diferente dos outros cães, o Buldog Inglês atópico quase sempre apresenta
eritema, edema e lesões cutâneas secundárias, mas pouco ou nenhum prurido. A otite
externa e o prurido do pavilhão auricular ocorrem em aproximadamente 86% dos
pacientes (GRIFFIN e DEBOER, 2001). Conjuntivite, epífora e blefaroespasmo podem
estar presentes em 50% dos casos (OLIVRY e HILL, 2001a). Seborréia acentuada é
observada em 12 a 23% dos cães atópicos (GRIFFIN e DEBOER, 2001).
A piodermite estafilocócica acomete em torno de 68% dos cães atópicos.
Geralmente é superficial, mas pode ser profundo em alguns casos (HILLIER, 2002).
Alguns cães atópicos desenvolvem sinais não cutâneos, como rinite, catarata, asma
(OLIVRY e HILL, 2001b), ceratoconjuntivite seca, distúrbios urinários, gastrointestinais e
hipersensibilidade hormonal. Cadelas podem apresentar ciclos estrais irregulares, taxa
de concepção diminuída e incidência elevada de pseudociese (DEBOER, 2004).
2.3 - FISIOPATOLOGIA
11
Os antígenos absorvidos por via percutânea encontram-se com IgE nas células
de Langerhans, os quais são capturados, processados e apresentados aos linfócitos T
alérgeno específicos. Há uma consequente expansão preferencial de células T helper2
culminando em produção aumentada de IgE pelos linfócitos B. A IgE interage com
mastócitos e basófilos através dos receptores específicos. A expansão subsequente ao
alérgeno forma ligações cruzadas com duas moléculas de IgE induzindo degranulação
e liberação ou produção de mediadores que produzem reações alérgicas, histamina,
leucotrienos e citosinas (WILLENSE, 2002).
Há evidências de que defeitos genéticos primários na barreira epidérmica podem
ser determinantes no desenvolvimento da dermatite atópica. A IgE se distribui pela
superfície das células dendríticas e de mastócitos, originando a formação do complexo
antígeno-anticorpo, o realce da capacitação e da apresentação antigênica e a
degranulação mastocitária, o que conduz à amplificação da resposta imune, da
inflamação e do prurido associado a dermatite atópica (SCOTT et al., 2001).
A via epicutânea é a principal via de penetração dos alérgenos na pele, além de
ser a principal responsável pelos escores clínicos e pela persistência do prurido e dos
sintomas lesionais em cães com DAC (DETHIOUX, 2006).
2.3.1 – Imunoglobulinas
São proteínas produzidas por linfócitos B com várias subunidades que atuam na
imunidade, compostas de duas cadeias pesadas e duas cadeias leves, incluindo formas
monoméricas ou poliméricas, e formas transmembranosas (receptores de antígenos de
células B) ou secretadas (anticorpos). São classificadas de acordo com a seqüência de
aminoácidos de suas cadeias pesadas em cinco classes: IgA, IgD, IgE, IgG e IgM, e
subclasses. IgG e IgM são normalmente encontradas no soro em maiores
concentrações, IgA é a mais encontrada em secreções, como saliva, leite e fluido
intestinal. A IgD é um receptor de antígeno dos linfócitos B, portanto raramente
encontrada em fluidos corpóreos; e a IgE é encontrada em baixíssimas concentrações
no soro, e está presente nas reações alérgicas (HARTMANN, 2021).
IgE também é produzida por plasmócitos localizados abaixo da superfície
corporal, como a IgA. Quando o antígeno se liga à IgE, uma rápida liberação de
12
moléculas inflamatórias pelos mastócitos é desencadeada. A inflamação aguda
resultante aumenta as defesas locais e ajuda a eliminar o invasor. Apresenta meia-vida
curta, de 2 a 3 dias (HARTMANN, 2021).
13
2.5 – ALÉRGENOS PRESENTES NA MEDICINA VETERINÁRIA
2.6 - DIAGNÓSTICO
14
da superfície da pele em mais de um local acometido, por meio de “imprint”, para
realização de exame citológico (HILLIER, 2002). Fazer swab de pústulas para a cultura
bacteriana se houver uma resposta inapropriada a antibioticoterapia. O exame citológico,
bem como a cultura bacteriana das orelhas acometidas também é indicado (HILLIER,
2002).
15
diagnóstico e tratamento de doenças alérgicas, como no caso da imunoterapia
(DETHIOUX, 2006).
O teste cutâneo é um método amplamente utilizado na área clínica para análise
da sensibilização a determinados antígenos, auxiliando no diagnóstico de asma ou rinite
alérgica. O surgimento de pápula representa uma reação em que há presença do
anticorpo IgE específico em relação ao alérgeno testado. No entanto, para ser
considerado positivo, deve-se aplicar em conjunto o controle negativo (solução salina) e
o controle positivo (histamina), considerando positivo o resultado cujo diâmetro da pápula
for igual ou maior a três milímetros em relação ao controle positivo. O significado do teste
positivo relaciona-se a uma sensibilização e não necessariamente à alergia, sendo
necessária uma correlação clínica para comprovação da doença alérgica.
O teste cutâneo apresenta valores positivos entre 10 e 15% de pacientes
assintomáticos, que porventura podem vir a apresentar sintomas da doença alérgica com
o passar dos anos. A principal vantagem do teste cutâneo é a praticidade e rapidez do
resultado, que é dado entre 30 e 40 minutos, além de possuir baixa incidência de efeitos
adversos e baixo custo (ZANON et al, 2008).
Em estudos clínicos, além de servir como fator de identificação a sensibilizações,
serve como avaliação da resposta a tratamentos para atopia, como a imunoterapia, e em
programas de educação em doenças alérgicas, fazendo com que o paciente visualize a
resposta alérgica, reforçando a informação verbal e ajudando na avaliação da causa-
efeito da alergia (SOLDERA et al., 2015).
Contudo, no que se refere ao teste cutâneo, o principal desafio para o diagnóstico
preciso vai além da aplicação, em virtude de a sensibilização variar de indivíduo para
indivíduo.
Inúmeros são os reagentes específicos testados mundialmente, não havendo um
consenso sobre quais são os principais alérgenos que devam ser aplicados nos
diagnósticos de asma e rinite alérgica, dificultando a escolha dos reagentes mais
adequados para a aplicação
Desde o reconhecimento de várias comorbidades, como por exemplo a dermatite
de contato, a urticária de contato, a rinite, a asma, a anafilaxia e outras que podem ser
causadas por exposição a certas substâncias orgânicas de origem proteica ou
inorgânica, passou-se a estabelecer práticas de reexposição às citadas substâncias
16
como meio auxiliar no diagnóstico dessas doenças. Os testes cutâneos usados na
alergia clínica constituem uma ferramenta auxiliar importante no diagnóstico das
doenças alérgicas (DETHIOUX, 2006).
Os testes cutâneos podem ser úteis como meio de confirmação diagnóstica nos
vários tipos de alergias, os testes ideais devem ser rápidos de fácil execução de baixo
custo e boa sensibilidade e especificidade. No entanto, podem produzir resultados falso
positivos ou falso negativos. Um teste alérgico positivo não significa, necessariamente,
a presença de doença alérgica, visto que pacientes não alérgicos podem ter testes
positivos, do mesmo modo que um teste negativo não exclui uma etiologia alérgica, deste
modo os testes cutâneos devem sempre estar relacionados com a história clínica, o
exame físico e se a exposição a determinados agentes suspeitos podem ser fatores
desencadeantes de doenças alérgicas (SOLDERA, 2015).
Este tipo de teste não é mais usado na clínica atual, pois tem uma especificidade
muito baixa além de causar sangramentos locais frequentes. É 500 vezes menos
sensível do que os testes intradérmicos e 50 a 60 vezes menos sensível que os testes
de puntura (prick-test). Está mais frequentemente associado a reações falso-positivas do
que os teste de puntura e intradérmico, uma vez que causa maior trauma cutâneo local,
não estando recomendado na rotina diagnóstica ou em trabalhos científicos.
17
Na realidade o que ocorreu nos últimos 60 anos foi a melhoria de qualidade dos
extratos alergênicos. Entre 1970 e 1980 passou-se a utilizar e aperfeiçoar métodos in
vitro para a determinação de IgE específica e nesta década foram publicados trabalhos
enfocando principalmente análises comparativas entre estes métodos novos (in vitro) e
os testes cutâneos (in vivo) e a partir daí os testes cutâneos começaram a ser
reabilitados.
O prick- test é o mais seguro e de fácil execução, tem boa reprodutibilidade e é
considerado o melhor para uso na prática clínica da alergia. Na rotina é aconselhável
que seja realizado em duplicata a fim de diminuir os resultados falso-negativos. Durante
a realização de protocolos científicos, recomenda-se seu uso em quadruplicata.
Em estudos conduzidos por Cerdeiro et al. (2021) o teste de puntura foi mais
eficaz na identificação da sensibilização do pólen de gramíneas em cães com dermatite
atópica do que no teste intradérmico da pele. A sensibilização para o pólen de gramíneas
ocorreu em cerca de um quarto dos indivíduos e foi mais comum a Cynodon dactylon e
Lolium multiflorum através do teste de puntura.
Esse teste é usado para detectar e definir possíveis agentes químicos exógenos
que podem ser a causa da dermatite alérgica de contato. Tais agentes químicos podem
causar dermatite por mecanismos imunológicos. O TC é uma exposição experimental
feita em condições especiais, limitada local e temporalmente. Mediante este teste há
possibilidade de comprovar a sensibilização da pele de um paciente a determinada
substância. Recomenda-se sua utilização quando há suspeita de dermatite de contato,
nos eczemas crônicos recorrentes ou nas dermatites com liquenificação.
18
2.9 - TERAPÊUTICA
19
Quando se confirma a presença de malassezíase, antifúngicos (como o
cetoconazol, na dosagem de 10 mg/kg, via oral, a cada oito horas) são necessários como
parte coadjuvante do tratamento. Uma opção alternativa para o tratamento, porém, de
difícil execução é através do impedimento do animal à exposição ao alérgeno, sendo
possível em raros casos, isso porque a maioria dos pacientes reagem a vários tipos de
antígenos (HNILICA, 2012).
Não existe um protocolo de tratamento universal e o gerenciamento da DAC deve
ser adaptado ao caso individual com base na resposta à terapia, potencial de efeitos
adversos, conformidade do proprietário e custos de medicações (WERFELL et al., 2016).
- Retirada do alérgeno
- Terapia tópica
O tratamento tópico tem como objetivo a remoção dos alérgenos da pele. O uso
de agentes tópicos antipruriginosos é geralmente mais eficiente no tratamento de áreas
localizadas de prurido. Em geral, a maioria dos cães atópicos deve ser banhada a cada
uma ou duas semanas com xampus hipoalergênicos contendo aveia (SCOTT; MILLER;
GRIFFIN, 2001). Xampus antibacterianos e antisseborréicos também auxiliam no
tratamento de infecções e dermatite seborréica secundárias, respectivamente (WHITE,
1998).
20
- Anti-histamínicos
- Ácidos graxos
21
enzimas cicloxigenase e lipoxigenase diminuindo, portanto, a produção de leucotrienos
e prostaglandinas, apresentando, portanto, ação antiinflamatória (DEBOER, 2004). Cães
com atopia exibem anormalidades nos lipídios que formam a proteção da epiderme,
levando à perda de água e hiperidrose (OLIVRY e HILL, 2001b). Desta forma, há
evidências de que a administração oral de altas doses de ômega 6 poderia melhorar os
sinais clínicos provocados por tal alteração. A suplementação de ácidos graxos na dieta
poderia, portanto, diminuir a perda de água pela pele, pois essas substâncias se
incorporam aos lipídeos intracelulares da epiderme (DEBOER, 2004). Assim, como a
perda de água está aumentada em cães atópicos, a suplementação oral com ácidos
graxos essenciais e a aplicação tópica de óleos podem levar à normalização da barreira
epidérmica (MARSELLA, 2006).
As dosagens indicadas são 40 mg/kg de ácido graxo ômega 3 e 60 a 138 mg/kg
de ácido graxo ômega 6, administrados por via oral uma vez ao dia (HILLIER, 2002).
Obtêm-se efeitos sinérgicos quando se utiliza ácidos graxos associados à anti-
histamínicos ou a glicocorticóides. O uso adequado dos agentes não esteróides pode
permitir que até 60% dos casos de DAC sejam satisfatoriamente tratados sem
glicocorticóides. Além disso, a associação de ácidos graxos permite freqüentemente
redução nas doses requeridas de glicocorticóides (WERFELL et al., 2016).
Alguns efeitos adversos após o uso prolongado de ácidos graxos ômega 3 podem
ocorrer, como um aumento no risco de sangramentos associado à disfunção plaquetária
e fibrinólise. A função plaquetária pode ser alterada pelos ácidos graxos ômega 3, pois
esses são incorporados à membrana das plaquetas. Além disso, o uso prolongado de
ômega 3 tem o potencial de induzir à peroxidação e à formação de lipofuscina no tecido.
O acúmulo de lipofuscina pode afetar a viabilidade e a função celular e o acúmulo de
ácidos graxos no tecido os deixa mais pré-disposto à peroxidação lipídica (SCOTT;
MILLER; GRIFFIN, 2001).
- Glicocorticóides
22
limitado aos períodos ativos da doença com duração menor que 4 meses ou naqueles
em que os anti-histamínicos e a imunoterapia não foram eficazes (SCOTT; MILLER;
GRIFFIN, 2001).
Os glicocorticóides previnem a ativação de muitas células do sistema imune, como
linfócitos T, eosinófilos, células dendríticas e macrófagos, que estão envolvidas na
inflamação e na alergia. Também agem suprimindo produção de citocinas, como
interferon gama e interleucinas. A produção de anticorpos não é suspensa, apenas
diminuída. Em níveis farmacológicos, os glicocorticóides bloqueiam a ação da fosfolipase
A2 nas membranas celulares, o que resulta na inibição da cascata do ácido araquidônico,
produtor de potentes mediadores inflamatórios (SCOTT; MILLER; GRIFFIN, 2001).
A prednisona via oral é o glicocorticóide de escolha para o tratamento de DAC
(ALVES et al., 2018). O esquema terapêutico mais utilizado consiste em indução e
manutenção (SCOTT; MILLER; GRIFFIN, 2001). A dosagem de indução comumente
usada é de 1,1 mg/kg a cada 24 horas. Entretanto, nos quadros graves, usa-se a
dosagem de 1,75 a 2,0 mg/kg/dia. Geralmente essas dosagens são administradas
durante 3 a 10 dias, a cada 24 horas ou divididas a cada 12 horas durante 2 a 4 dias,
seguidas da dosagem total a cada 24 horas até o 10º dia. Mantém-se este esquema até
que os sinais da doença estejam controlados. Após, inicia-se o protocolo da terapia de
manutenção (SCOTT; MILLER; GRIFFIN, 2001), com o objetivo de se atingir valores
entre 0,25 e 0,5 mg/kg a cada 48 horas. Na terapia de manutenção a dosagem em dias
alternados sofre redução pela metade a cada 1 ou 2 semanas. Este esquema não diminui
alguns efeitos colaterais, como a hipotrofia adrenal, mas os torna menos graves e de
início tardio (SCOTT; MILLER; GRIFFIN, 2001).
Nos cães, os efeitos colaterais associados ao uso crônico de glicocorticóides
sistêmicos são muitos. Entre eles está a poliúria, polidipsia, alopecia, polifagia,
obesidade, infecções urinárias do trato inferior até efeitos mais graves como pancreatite,
ulceração e perfuração gastrintestinal e miopatias (SCOTT; MILLER; GRIFFIN, 2001).
23
– Ciclosporina
24
e histológico. Uma das vantagens dessa droga é que seu uso pode ser tópico, limitando
os riscos de efeitos colaterais sistêmicos. Em cães atópicos seu principal efeito é a
diminuição do eritema, contudo a diminuição do prurido não é significativa (MARSELLA
e OLIVRY, 2001).
O ungüento de tracolimus tem se demonstrado seguro e eficaz para o tratamento
da atopia em humanos (MARSELLA, 2006). Quando utilizado a 0,1% durante 4 semanas,
reduziu satisfatoriamente os sinais clínicos da atopia. Poucos estudos têm avaliado a
eficácia do tracolimus no tratamento da dermatite atópica canina (MARSELLA, 2006).
É uma droga com baixo peso molecular, que penetra prontamente na pele
inflamada, mas pobremente na epiderme normal, levando à hipótese de que quanto
menor a inflação da cútis, menor será a sua capacidade de penetração. A aplicação
tópica é bem tolerada em cães, podendo ocorrer discreta irritação no local. Toxicidade e
efeitos adversos não foram reportados, além de nenhuma mudança na contagem total
de células sanguíneas e parâmetros bioquímicos (MARSELLA, 2006).
– Pentoxifilina
- Maleato de oclacitinib
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molécula não possui classificação de corticosteróide e nem de anti-histamínico, por ser
uma molécula recém-descoberta, ainda não possui nenhum tipo de classificação. O
protocolo indicado para o tratamento da dermatite atópica com utilização do oclacitinib é
através de dois ciclos, sendo o primeiro com duas administrações diárias com intervalo
de 12 horas durante 14 dias e o segundo, diminuindo para uma aplicação diária, com
intervalo de 24 horas, durante 14 dias (MARTINS, 2018).
- Lokivetmab
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3 - RELATO DE CASO
- Anamnese
Durante sua fase de filhote foi criada em domicílio, sem área externa. Os banhos
eram esporádicos e não havia controle de ectoparasitas. A alimentação consistia em
ração comercial. A partir dos 3 anos de idade houve troca de tutores e passou a conviver
com outros cães e receber alimentos cozidos, derivados da alimentação dos tutores.
Passou a ter controle mensal antipulgas (lufenuron), banhos quinzenais, vacinações e
vermífugos regularmente de acordo com as prescrições. Passaram a utilizar xampu
contendo fitoesfingosina para os banhos, devido à sua ação antipruriginosa.
Na continuidade, adotaram os seguintes procedimentos: controle de
ectoparasitas, banhos quinzenais e ração com hipoalergênicos composta por: carne de
cordeiro, fécula de mandioca, levedura de cerveja, óleo de vísceras de aves, óleo de
salmão, batata doce, frutas desidratadas, polpa de beterraba, semente de linhaça,
cloreto de sódio, algas Schizochytrium sp., zeolita, prebióticos, vitaminas (A, D3, E, K3,
C, B1, B2, B6, B12) minerais (sulfato de ferro, sulfato de cobre, iodato de cálcio, cloreto
de potássio, proteinato de zinco, óxido de zinco, óxido de manganês, proteinato de
selênio, selenito de sódio), lisina, metionina, taurina, ácido propiônico, aloe vera (0,01%),
extratos de chá verde e alecrim, cúrcuma e extrato de tocoferol.
Observando que o prurido era contínuo, os tutores procuraram assistência
veterinária.
27
Exame clínico
28
4- Prurido como primeiro sinal, e só depois lesões associadas
5- Extremidades dos membros torácicos afetadas
6- Pavilhões auriculares afetados
7- Margens auriculares não afetadas
8- Área dorso-lombar não afetada
Avaliação do prurido
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de aplicações com álcool a 70%. Em sequência, realizou-se a delimitação das áreas
onde o alérgeno seria aplicado, com caneta dermográfica de ponta fina, em
distanciamentos de 3 cm, totalizando 21 pontos. Para a aplicação dos alérgenos usou-
se lancetas descartáveis, embebidas previamente em extratos alergênicos
individualizados. Foram utilizados 19 extratos de alérgenos, sendo: arroz, frango, milho,
ovo, trigo, carne suína, carne bovina, caseína, ácaros (Dermatophagoides pteronyssinus,
Dermatophagoides farinae e Blomia tropicalis), fungos (Aspergillus fumigatus, Penicillium
notatum, Alternaria alternata e Candida albicans) e insetos (Blatella germanica (barata),
Periplaneta americana (barata), Barata mix (Blatella+Periplaneta) e Culex pipiens
(mosquito). Em seguida foram aplicados os controles, sendo: histamina para o positivo
e solução salina para o negativo.
30
4- RESULTADOS
31
5 - DISCUSSÃO
32
6 – CONCLUSÃO
33
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