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1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3
2 CONCEITUANDO A SAÚDE E A SAÚDE MENTAL ............................................. 4
2.1 Reflexão e implicações da conceituação de saúde e saúde mental ................... 6
2.2 Promoção de saúde mental ................................................................................ 8
2.3 A doença mental e a zona cinzenta que a separa da normalidade................... 10
2.4 Facetas da psicopatologia ................................................................................ 12
2.5 Afinal, o que é doença mental?......................................................................... 14
2.6 Família e sociedade diante do adoecimento mental ......................................... 17
3 FUNDAMENTOS DE MENSURAÇÃO EM SAÚDE MENTAL .............................. 23
3.1 Indo além do vocabulário da psicometria .......................................................... 23
3.2 Utilidade dos instrumentos de avaliação ........................................................... 25
3.3 Qualidades de uma escala ............................................................................... 26
3.4 Como escolher a escala a ser usada ................................................................ 29
3.5 Limites .............................................................................................................. 30
4 DIAGNÓSTICO E O DSM-5.................................................................................. 30
4.1 O DSM-5 e os papéis e atributos do diagnóstico .............................................. 32
5 A COMPREENSÃO DE DIFERENTES ABORDAGENS À CLASSIFICAÇÃO
DIAGNÓSTICA ......................................................................................................... 34
6 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ......................................................................... 40
1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno,
Bons estudos!
2 CONCEITUANDO A SAÚDE E A SAÚDE MENTAL
Para nos aprofundarmos em uma área, precisamos ter conhecimento sobre sua
história e como os conceitos foram mudando com o passar do tempo, principalmente
quando tratamos de conceitos mutáveis como os de doença e saúde. No decorrer do
tempo, tivemos diversas alterações nessas definições, principalmente por serem
influenciadas pela religião, cultura, política, momento histórico e ciência.
No contexto da biologia, o conceito de doença e saúde teve seu primeiro
registro no texto “Da doença sagrada”, escrito por Hipócrates no século V a.C. O autor,
citado por Cairus (2005) traça uma divisão bem evidente entre o processo de doença
e saúde e a religião, quando afirma: “Eis aqui o que há acerca da doença dita sagrada:
não me parece ser de forma alguma mais divina nem mais sagrada do que as outras,
mas tem a mesma natureza que as outras enfermidades” (CAIRUS, 2005, p. 2).
Essa natureza seria de origem biológica, se fundamentando na harmonia e
balanceamento entre quatro fluidos presentes no organismo: bile negra, bile amarela,
sangue e fleuma. Mesmo com sua influência, a escola hipocrática não conseguiu
limitar o embasamento religioso em relação ao cuidado em saúde.
Durante diversos períodos históricos (principalmente na Idade Média), a saúde
era mensurada conforme a obediência e devoção do indivíduo em relação às
doutrinas religiosas, pelo fato da doença ser entendida como uma punição divina pelos
pecados cometidos.
Como exemplo, podemos citar a masturbação, que era interpretada como uma
doença que ocasionava desnutrição (através do desperdício excessivo de sêmen) e
distúrbios mentais no indivíduo. Com o passar do tempo, outros conceitos surgiram e
a influência da religião ficou limitada a orações pela saúde do enfermo em seu leito
hospitalar ou em capelas dentro dos hospitais.
A saúde pode ser definida em diferentes perspectivas. Quando nos referimos
ao aspecto místico, conseguimos evidenciar outro conceito dentro da cultura oriental.
Com esse conceito em mente, Chase (2018) aborda os chakras como vórtices de
energia em rotação, localizados em sete partes do corpo (cóccix, umbigo, estômago,
coração, laringe entre as sobrancelhas e região superior do cérebro). O equilíbrio
entre essas energias é o que mantém o indivíduo saudável, ou seja, o desequilíbrio
nos chakras origina as doenças.
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Temos outro conceito de saúde, baseado na perspectiva da homeopatia, que
consiste no uso da lógica pela "cura pelo semelhante". Fisher e Ernst (2015) afirmam
que a homeopatia é: "[...] uma terapêutica que utiliza preparação de substâncias cujos
efeitos exercidos no indivíduo saudável correspondem às manifestações do transtorno
no paciente" (FISHER; ERNST, 2015, documento on-line).
Como foi dito anteriormente, certos comportamentos displicentes com a cultura
vigente já foram interpretados como sintomas de uma enfermidade. Nos Estados
Unidos do século XIX, por exemplo, os senhores de engenho interpretavam que um
escravo estava doente quando tinha falta de disposição para o trabalho ou até vontade
de escapar da fazenda. Conforme Scliar (2017), esses atos eram diagnosticados
como “disestesia etiópica” (no caso da falta de disposição) e “drapetomania” (no caso
de escapar da fazenda), “doenças" cujo “tratamento” era o açoite.
Partindo para um conceito mais atual, a Organização Mundial da Saúde (OMS),
em 1948, conceituou saúde como uma situação onde o indivíduo se dispõe
integralmente de um bem-estar mental, físico e social. Como podemos observar, esse
conceito não se resume à ausência da doença, o que pode nos levar à conclusão de
que nenhum indivíduo é totalmente saudável, já que uma variação de humor pode ser
interpretada como um mal-estar mental. Essa perspectiva é abordada na obra “O
Alienista”, de Machado de Assis.
No entanto, o conceito da OMS expandiu consideravelmente aquilo que
interpretamos como saúde, pois ele se baseia no tripé biológico e físico, mental e
psicológico, cultural e social. Também se expandiu o entendimento sobre a
assistência em saúde, que tirou o foco do modelo totalmente curativista (com enfoque
exclusivo no tratamento de doenças) e passou a considerar também a relevância de
um tratamento paliativo, visando a promoção da saúde, a prevenção de agravos e a
reabilitação.
Para estabelecer a saúde tanto no contexto coletivo quanto no individual, será
essencial a garantia de uma alimentação saudável, de saneamento básico, de acesso
às atividades físicas e ao lazer, as políticas de imunização, a educação em saúde e
às demais políticas sociais básicas dispostas na constituição.
Referente ao conceito de saúde ou saúde mental, o governo brasileiro e o
Ministério da Saúde não concedem uma definição de sua autoria, entretanto, a Carta
Magna de 1988 garante uma assistência universal de saúde no seu art. 196:
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A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988).
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paternalista, podendo adotar políticas autoritárias que se fundamentam na procura
pelo bem-estar social em plenitude. Em contrapartida, diversos indivíduos e culturas
podem ter diversas interpretações referentes aos elementos que definem o “bem-estar
social”, já que essas políticas são de natureza social e não penal.
Não encontramos problemas referentes ao conceito de saúde e saúde mental
exclusivamente no campo teórico, também podemos notá-los no cotidiano, através de
entrevistas clínicas com os pacientes e familiares. Não são raras as vezes em que
nos deparamos com depoimentos justificando os sintomas psiquiátricos como
consequência de “encosto”, possessão demoníaca, “falta de Deus no coração” ou
outras interpretações religiosas, que fatalmente conduzem o tratamento para,
exclusivamente, sessões de descarrego, orações, cirurgia espiritual ou exorcismo.
Essa forma de interpretar a enfermidade tem a capacidade de ser prejudicial
ao paciente caso possa atrasar ou afastá-lo do início das intervenções clínicas, que
realmente poderão ajudá-lo. Em suma, o comportamento completamente distante do
que é esperado em sua cultura, também pode ser interpretado como transtorno
mental, mesmo nos dias atuais.
Como exemplo, podemos citar o transtorno de personalidade dependente, que
se representa pela enorme dificuldade que um indivíduo possui na tomada de
decisões rotineiras, em discordar de seus colegas, em se arriscar ao tomar qualquer
iniciativa, se distanciando de qualquer característica que a torne uma pessoa
independente e autônoma.
Uma mulher que apresente essas características pode ser considerada como
uma pessoa acometida por transtornos mentais, se considerarmos a cultura ocidental
do século XXI, no entanto, essa mesma mulher pode ser considerada como um
exemplo para as demais esposas nas culturas muçulmanas tradicionais, por ser fiel e
submissa a seu marido.
Resumidamente, devemos estar atentos para não nos considerarmos o
conceito biológico da saúde como algo absoluto ou “correto”. Essa perspectiva
resultou em progressos inquestionáveis em todas as áreas da medicina. No entanto,
sua aplicação como uma conduta única e restrita no tratamento deu origem a anos de
aplicação exclusiva do modelo hospitalocêntrico, biomédico e curativista com enfoque
total no especialista.
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Essa conduta possui limitações bem evidentes no campo da medicina
psicossomática e da psiquiatria, já que mesmo doenças com uma causa
evidentemente biológica, devem ser submetidas a uma avaliação sob a perspectiva
biopsicossocial.
A título de exemplo, vamos tomar uma parasitose, cujo tratamento não deve se
resumir à prescrição de anti-helmínticos, também será essencial uma reeducação em
certos hábitos como higiene pessoal, lavagem de mãos e cuidados com alimentos,
bem como a verificação do acesso do paciente ao saneamento básico e água tratada,
monitoramento dos sintomas em familiares e possibilitação dos pais se envolverem
durante o curso do tratamento.
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probabilidade de desenvolver doenças cardiovasculares e câncer e de manter o peso
ideal.
Manter um sono estável também auxilia na recuperação e manutenção da
saúde mental. A tabela 1 traz algumas recomendações para alcançar um sono de
qualidade, conforme Poyares e Tufik (2003).
HIGIENE DO SONO
Para finalizar, vamos abordar sobre a meditação, uma prática que vem se
destacando não só na promoção da saúde mental, como também no tratamento de
distúrbios mentais, que pode ser executada de maneira singular ou associada com
outras práticas, como reiki, ioga ou até mesmo com um tratamento psicoterápico.
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Shapiro (1981) conceitua a meditação como uma prática onde o indivíduo faz
uso de determinadas técnicas para direcionar seu foco a um pensamento, objeto ou
atividade, com o objetivo de atingir um estado de clareza emocional e mental.
Em suma, a meditação consiste em um processo que conduz o indivíduo a um
estado mental baseado em uma atenção que não juíza o presente momento,
englobando os pensamentos, as sensações, o estado corporal, o ambiente e a
consciência, ao mesmo tempo que incentiva sua curiosidade, sua abertura e sua
aceitação (HOFMANN; GOMEZ, 2017).
Goleman (1997) afirma que não é recomendado fazer somente a meditação em
certos casos clínicos. O autor cita como exemplo os pacientes com surtos psicóticos,
cuja meditação tende a agravar sua compreensão da realidade, já que ficará
completamente imerso em sua realidade interior.
Outros exemplos incluem pacientes com estados emocionais agudos, pela
agitação excessiva no começo da meditação e os neuróticos-obsessivos que podem
tanto não estar abertos à novas experiências, como também podem se preocupar
bastante com suas ações.
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Tabela 2 – Conceito de normalidade e sua descrição
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O fator patológico se inicia assim que começa a gerar
sofrimento para o próprio indivíduo e seu grupo social.
Normalidade funcional A disfuncionalidade é manifestada através dos
prejuízos laborais, acadêmicos, familiares, conjugais
e sociais.
O transtorno mental diz respeito à fossilização das
possibilidades existências e à perda da liberdade
Normalidade como
existencial. O conceito de normal se refere ao senso
liberdade de humor e senso de realidade, com a capacidade de
desvalorizar os problemas e encontrar prazer na
realidade.
Fonte: Adaptado de Dalgalarrondo (2008).
Conceito de
Descrição
psicopatologia
Tem foco maior na estrutura dos sintomas, na
Psicopatologia
forma das alterações psíquicas e na sua ausência
descritiva
ou presença.
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Atribui o foco na experiência individual, no
Psicopatologia conteúdo das vivências, nos temores e desejos do
dinâmica indivíduo e nos movimentos internos, que nem
sempre conseguem ser classificados.
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Podemos entender que não existe somente um referencial psicopatológico que,
individualmente, consiga englobar toda a complexidade de cada indivíduo humano.
Todos os conceitos apresentados possuem pontos fortes e certas limitações. Durante
o atendimento clínico cotidiano, o profissional precisa entender o indivíduo do modo
mais amplo possível para, posteriormente, escolher o referencial que mais se adeque
ao momento e ao caso em evidência.
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Os sintomas que resultam no tormento que consideramos “clinicamente
significativo” podem vir de acontecimentos vivenciados no cotidiano, como medo,
tristeza ou ansiedade (considerados normativos), sendo diagnosticados considerando
a potência da frequência, intensidade e duração que ocorrem.
Também podemos evidenciar certos sintomas incomuns na normalidade,
dentre eles, podemos citar os casos de delírios ou alucinações. Devemos ter bem
elucidado em nossa mente que qualquer acontecimento que seja parte intrínseca de
um contexto cultural, religioso, ou político jamais deve ser interpretado como um sinal
ou sintoma de uma doença mental. Na tabela abaixo, veremos alguns critérios
diagnósticos para um transtorno comum às crianças: o mutismo seletivo.
Esse incômodo dura, no mínimo, um mês, não sendo restrito ao primeiro mês escolar.
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medicamentoso, também permitindo a apuração de dados epidemiológicos e
estatísticos para investigar os mecanismos fisiopatogênicos. Sem a presença de uma
base científica, a psiquiatria e o curandeirismo seriam muito similares.
Vale salientar que o diagnóstico formal consiste apenas em uma das fases da
avaliação psiquiátrica. Os outros elementos que foram excluídos do diagnóstico
podem e devem ser considerados na prática clínica.
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Finalmente, a consolidação das requisições desse movimento veio no dia 6 de
abril de 2001, através da Lei Federal nº 10.216, que modificou o protocolo de cuidados
com a saúde mental, tornando oficial o atendimento psiquiátrico regional no Brasil,
tendo em vista a demanda por um tratamento mais humanizado às pessoas com
enfermidades de cunho emocional, dando origem aos serviços de base comunitária
para acolhimento e atendimento desses paciente, entre esses serviços, temos o
CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). (BRASIL, 2001).
Surgiram também outras portarias e leis depois da promulgação da Lei Federal
nº. 10.216 de 2001, que foram formuladas visando regulamentar o atendimento
psiquiátrico comunitário, no entanto, nenhuma dessas portarias ou leis foram
suficientes para assegurar a execução de todas as práticas inovadoras no contexto
da saúde mental.
Os serviços comunitários ainda possuem uma cobertura insuficiente em relação
à população, também carece de profissionais qualificados para a execução dessas
funções, além disso, tivemos uma reintegração do enfermo no âmbito de sua família
sem o devido preparo da comunidade e da própria família para proporcionar o convívio
ideal com esses pacientes.
Está presente na literatura as diversas contradições referentes à reintegração
do indivíduo com transtorno mental em sua família, entre elas, temos a determinação
de um “retorno para casa” ao paciente, porém, oferecendo em raras oportunidades
qualquer tipo de serviço fora dos âmbitos hospitalares, sem considerar minimamente
o desgaste que os familiares terão durante a readaptação do indivíduo.
As famílias ainda possuem a necessidade de encarar o desafio de assimilar
certos cuidados que serão necessários para conviver com pessoa acometida pelo
transtorno mental, entre eles temos a aceitação do adoecido e da doença por parte
dos integrantes da família, este sendo um componente fundamental para uma boa
reabilitação psicossocial.
O impacto mental provocado pela enfermidade que acometeu um ente familiar
afeta todos os integrantes da comunidade local e da família que convive com o
enfermo. Tendo em vista a exigência de uma necessidade até então inédita de
cuidados e atenção, alguns familiares podem ficar sobrecarregados, alterando
consideravelmente a rotina cotidiana.
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Podemos imaginar que não será fácil conviver com um portador de uma
patologia psiquiátrica, pois ela não será harmônica em certos períodos e os familiares
deverão conviver, de tempos em tempos, com as limitações, a insegurança, e os
conflitos, requerendo um espírito coletivo por parte da família, para reorganizar e
repensar frequentemente suas dinâmicas de convívio. Com isso, é função de cada
integrante da família assumir um significado próprio e um papel para administrar com
sucesso esse novo dia-a-dia em casa.
A responsabilidade de cuidar de um indivíduo afetado por um transtorno mental
também engloba a aceitação de que aquele integrante da família não irá mais
manifestar comportamentos usuais com frequência, podendo até mesmo apresentar
comportamentos agressivos, autodestrutivos e isolacionistas.
Podem também desenvolver hábitos inapropriados em questão de
alimentação, higiene e gastos financeiros, que poderão despertar sentimentos de
ansiedade, raiva e frustração em seus familiares. Ademais, os cuidadores também
precisam incluir em suas obrigações o acompanhamento do paciente em supervisão
medicamentosa, consultas, organização domiciliar e responsabilidade referente aos
custos que virão do tratamento (CASABURI, 2016).
Também devemos destacar os estudos, que dissertam sobre a
imprevisibilidade do comportamento de pessoa adoecidas, que retira grande parte de
suas expectativas de se relacionar socialmente, fazendo até mesmo seus familiares
se distanciarem de suas atividades sociais devido ao cansaço e a vergonha que
podem sentir.
No entanto, mesmo que o transtorno mental desencadeie diversas mudanças
no cotidiano familiar, elas precisam ser encaradas como um conjunto de
transformações que possuem um grande potencial para ressocializar e acolher o
paciente. A construção de características referentes à afetividade e sociabilidade deve
acontecer dentro do âmbito familiar, principalmente quando estamos tratando de
pacientes na adolescência ou na infância.
Estudos endossam que a incorporação das famílias nos cuidados referentes à
saúde mental está intimamente relacionada à diminuição do número de internações
repetitivas e do número de pacientes com transtornos psiquiátricos crônicos. Com o
passar do tempo, as famílias aprimoram suas táticas para administrar suas próprias
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dificuldades, desenvolvendo a possibilidade de antecipar uma provável crise ou
intensificação dos sintomas, o que agiliza a procura por ajuda profissional.
O sofrimento constante pode resultar em um fortalecimento da união entre os
familiares, substanciando os vínculos entre os integrantes e fornecendo disposição
para enfrentar e aceitar o percurso fundamentado na ideia de “cuidar juntos”.
No entanto, ainda será essencial que os profissionais de saúde ajudem os
familiares a entenderem o significado de experienciar a convivência com um
transtorno mental presente em um ente familiar. Cabe aos profissionais de saúde
estimular e aconselhar as famílias visando proporcionar uma convivência saudável
entre os integrantes, através da troca de afeto, do diálogo e do compartilhamento de
experiências.
Lamentavelmente, a sociedade ainda mantém o pensamento de que indivíduos
com transtornos mentais se encontram em um estado de anormalidade humana
atualmente, atribuindo a eles uma posição de incapacidade e de periculosidade. Os
transtornos mentais não são apenas um conjunto de sinais e sintomas, eles possuem
também uma simbologia psicológica, moral e social.
É comum que a sociedade subjugue a capacidade do acometido por doença
mental, o infantilizando e retirando a possibilidade de ele ser o protagonista de sua
própria história. O estereótipo de inutilidade faz com que o enfermo diversas vezes
não consiga um emprego, e gerando a família o ônus financeiro.
É sabido que o transtorno mental possui várias casualidades como biológicas,
sociais e psicológicas, porém, ainda está entranhada na sociedade a concepção de
que a pessoa com esse tipo de transtorno é alguém incapaz e merecedor de
isolamento.
A presunção de incapacidade faz com que o adoecido não obtenha
oportunidades de atuação desde atividades como confecção de seu próprio alimento
até a reinserção no mercado de trabalho. Isso faz com que o mesmo entre em um
ciclo de não oportunidades, podendo fazer com que sentimentos de
autodesvalorização ganhem maiores proporções e, inevitavelmente, migrem para o
isolamento social.
O imaginário coletivo negativo é uma condição sine qua non para a efetivação
de práticas de cuidados comunitários. O suporte ofertado pelas redes sociais na
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comunidade é um aspecto fundamental na inclusão social de pessoas com transtornos
mentais.
As redes sociais em uma comunidade proporcionam ao indivíduo a organização
de sua identidade pessoal por meio de trocas e experiências e promove o sentimento
de pertencimento. Essas interações podem se formalizar nos bairros, nas igrejas ou
nos trabalhos e a partir da interação com o outro é possível que o indivíduo obtenha
uma imagem refletida de si próprio, favorecendo um processo de autorreflexão das
potencialidades e fraquezas.
Apesar da importância do convívio social, as pessoas com transtornos mentais
ainda encontram dificuldades em estabelecer e manter suas redes sociais, em razão
do contexto atual da sociedade que ainda impera a discriminação e o preconceito. Há
um paradigma emergente na atualidade e que precisamos lidar: o sujeito adoecido
mentalmente e sua relação com a sociedade.
Hoje estamos em um cenário que preza uma nova lógica de atendimento, que
é a lógica da inclusão. Devemos perpassar a concepção de apenas um aparelho
psíquico adoecido para um indivíduo imerso de um complexo histórico e cultural.
O transtorno mental é um fenômeno pouco compreendido e aceito e cabe aos
serviços de saúde especializados na área a ruptura da casualidade linear entre
doença e periculosidade. O trabalho deve ser feito de uma forma de atinja o maior
número de pessoas e espaços distintos, pois o adoecimento mental está em todos os
lugares. Se almejamos que a lógica excludente seja revista e quebrada, nós, como
profissionais de saúde, devemos orientar a população acerca dos mitos envoltos na
temática e como ações comunitárias podem auxiliar nos clientes acometidos por
transtornos mentais.
Os serviços especializados em psiquiatria, como CAPS, Residências
Terapêuticas, Ambulatórios de Saúde Mental e Hospitais Dia, devem orientar seus
trabalhos para as necessidades do cliente, deslocando as práticas para a comunidade
por meio da transdisciplinaridade. Deve-se haver uma ampliação dos espaços de
tratamento em saúde mental para uma rede de atenção à saúde, por exemplo, dentro
da atenção primária.
Fortalecendo os espaços de atenção ao portador de transtorno mental,
conseguiremos efetivar os pressupostos da reforma psiquiátrica e fazer com que a
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sociedade se sinta cada dia mais corresponsável pelos indivíduos que adoecem
mentalmente.
Por fim, o que almejamos é esclarecer que retirar os clientes com patologias
psiquiátricas do modelo de tratamento hospitalocêntrico foi uma prática importante,
mas que de nada adianta se não for ofertado um suporte profissional à comunidade e
à família que estão acolhendo esses adoecidos.
Retirar do hospital e inserir no âmbito familiar sem suporte é criar um ambiente
de sofrimento para ambos, cliente e família. A função dos profissionais é identificar as
potencialidades da família e da comunidade e utilizar isso como um recurso
terapêutico que melhorará a qualidade de vida de todos os envolvidos.
3 FUNDAMENTOS DE MENSURAÇÃO EM SAÚDE MENTAL
Na década de 1960, a chegada dos psicofármacos, estimulou a elaboração e a
aplicação de instrumentos de avaliação. A psicometria como ciência remonta ao fim
do século XIX, com diversos estudos experimentais em psicologia.
Todavia, devido à necessidade de medir a eficácia dos medicamentos,
promoveram o avanço de ferramentas capazes de constatar mudanças na
sintomatologia em função da intervenção terapêutica e de uma metodologia específica
para selecionar pacientes. A psicometria se consolidou como uma disciplina própria
de estudo, que se vale de técnicas estatísticas complexas, tornando sofisticada a
efetividade da mensuração.
Preliminarmente, se supôs que a utilização de escalas de avaliação em todas
as pesquisas garantiria a rigidez científica que auxiliou a incorporar essa disciplina na
prática clínica, tanto na área de psicofarmacologia como na área de
epidemiologia/saúde pública, e sanaria vários problemas na pesquisa clínica e na
avaliação de grandes amostras populacionais.
Contudo, ainda depois de mais de meio século da introdução dos primeiros
instrumentos, se faz necessário a necessidade de uma ampla disseminação do
conhecimento, tanto teórico como prático, para sua correta utilização.
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“instrumentos” de avaliação. Enquanto grande parte acredita que os instrumentos de
avaliação são úteis, muitos não saberiam explicar de forma precisa para que, e em
quais circunstâncias se utilizam os instrumentos de avaliação (MCDOWELL, 2006).
Geralmente poderíamos nos perguntar quais seriam os benefícios e
desvantagens desses instrumentos para o clínico, para o pesquisador e para o
paciente, quando, na verdade, as perguntas deveriam ser o porquê, para que e como
devemos usar instrumentos de avaliação.
O termo “validação” também é utilizado constantemente, pois é necessário
validar uma escala antes de usá-la numa pesquisa. Grande parte dos pesquisadores
reconhecem que, além da mera tradução de um instrumento, a escala também deve
ser validada antes de sua aplicação a um idioma/ambiente diferente do original.
Entretanto, a forma de fazer isso na prática não é tão evidente, gerando
questionamentos como por exemplo:
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3.2 Utilidade dos instrumentos de avaliação
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O uso metódico de escalas padronizadas pode colaborar na busca dos
indivíduos que necessitam de tratamento, acompanhamento ou intervenção.
Ademais, complementa o diagnóstico clínico, uma escala é utilizada para examinar as
características clínicas de uma certa doença, documentar a gravidade e o nível
necessário de cuidado.
No decorrer do tratamento, a utilização de escalas sensíveis a mudanças
auxilia no monitoramento da melhora e dos efeitos adversos da intervenção. Essas
avaliações também são relevantes para determinar o prognóstico e definir a decisão
de tratamento ou conduta administrativa.
A utilização das escalas padronizadas, também beneficiam os pacientes, tendo
em vista que elas garantem a cobertura de sinais e sintomas e evitam sua omissão
associados ao problema.
No momento em que os sintomas são quantificados e acoplados de acordo com
um sistema de consenso, como o DSM e o CID, já abordados anteriormente, há o
aperfeiçoamento na consistência das avaliações, seja no decorrer do tempo ou entre
os examinadores. A uniformização da linguagem é imprescindível para aprimorar a
comunicação entre profissionais e pacientes.
Porém, as escalas padronizadas possuem suas desvantagens. Um aspecto a
considerar são os custos implicados no seu uso, o tempo do paciente e do clínico, a
necessidade de treinamento, os gastos com a aquisição do instrumento, material e
equipamentos associados.
O uso indiscriminado de um instrumento pode, por sua vez, levar à detecção
inadequada de muitos casos sem demanda real de tratamento. Portanto, é preciso
ponderar sobre os custos e benefícios da aplicação de determinada escala
considerando todos os participantes de uma pesquisa.
Algumas das principais perguntas que podemos fazer são: uma escala sem
validação é válida? E sem confiabilidade, é confiável? O que atesta a qualidade de
um instrumento?
Preliminarmente, a criação de uma escala deve ser orientada por princípios
teóricos considerados adequados, e o instrumento resultante deve possuir fortes
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propriedades psicométricas, entre essas propriedades atribuídas às escalas de
avaliação, destacam-se a confiabilidade e a validade, vejamos:
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3.4 Como escolher a escala a ser usada
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3.5 Limites
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reserva para o paciente e para aqueles que o amam e que se importam com ele. O
DSM-5 fornece a estrutura comparativa atual para doenças psiquiátricas.
O Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais tem como sua 5ª
versão o DSM – 5, trata-se de um guia que tem como objetivo caracterizar condições
significativas de saúde mental que atingem indivíduos situados em todas as regiões
do mundo.
O DSM-5 se desenvolveu e se tornou mais rígido e abrangente, de acordo com
a compreensão de Diferentes Abordagens à Classificação Diagnóstica, sendo esse
manual a representação de pareceres atuais de mestres clínicos e cientistas da área
psiquiatra, uma especialidade da medicina; em psicologia clínica; e em profissões
relacionadas à área da saúde.
Sempre que houver a disponibilidade de convincentes indícios, os diagnósticos
do DSM-5 serão qualificados por evidências das neurociências básicas e clínicas e
das ciências do comportamento. O diagnóstico de condições de saúde mental, assim
como de condições de saúde física, com frequência depende de dados cuja natureza
é descritiva ou subjetiva – por vezes com pouca verificação empírica e seguidamente
sem uma explicação biológica clara.
Por causa desses desafios, sempre que couber a possibilidade, o DSM-5 insere
a utilização de avaliações ou medições formais para conferir maior coerência e
precisão ao processo diagnóstico. De forma conjunta, os diagnósticos do DSM-5
representam um sistema útil para caracterizar fenômenos amplamente diversos em
contextos amplamente diversos.
O mais relevante talvez seja que os critérios diagnósticos do DSM-5 fornecem
um sistema valioso para clínicos em seu trabalho de amparo aos pacientes e também
para proporcionar uma linguagem em comum entre especialidades distintas. Também
podem ser utilizados os critérios diagnósticos do DSM para uma comunicação e criar
ideias que possam permitir uma compreensão ainda melhor sobre a condição do
paciente além de suas possíveis origens e provável futuro.
Hipóteses diagnósticas podem direcionar ao recolhimento de dados
suplementares – Por exemplo, A obtenção de maiores detalhes sobre a história do
paciente, ou até mesmo novos resultados de exames laboratoriais –, os quais, por sua
vez, irão permitir que algumas ideias sejam eliminadas e outras ganhem respaldo.
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O processo iterativo de geração de hipóteses e testes empíricos é de grande
importância para se chegar a um diagnóstico bem considerado e criteriosamente
fundamentado, a base para a tomada de decisões terapêutica e para o melhor
resultado para o paciente.
Atingir a precisão de um diagnóstico é de suma relevância para uma assistência
clínica embasada, porém a obtenção de um diagnóstico implica tantos ônus e riscos
como benefícios para os pacientes. A autoridade de fornecer um diagnóstico é o poder
de deter tanto a dádiva da compreensão e do alívio, por um lado, quanto, por outro, o
problema de atribuir rótulos e possível estigma.
Minimizar a carga do fardo de uma doença psiquiátrica enquanto, ao mesmo
tempo, há a tentativa de “não causar danos” pode ser algo difícil de produzir,
principalmente quando é levado em consideração os preconceitos e a concepção
errônea que persiste no meio social com relação a doenças neuropsiquiátricas e
condições relacionadas.
A reputação de excelência de um clínico, portanto, não se baseia na simples
capacidade de chegar ao correto diagnostico de uma doença. Um clínico excelente
tem o julgamento profissional para diagnosticar uma doença com rigor e também com
uma compreensão da experiência da doença e o significado completo de tê-la
“nomeada” no contexto da vida do paciente.
Em um estudo concentrado sobre os critérios diagnósticos do DSM-5, de forma
conjunta com a experiência clínica, e qualificado pelo estudo de ciências básicas e
aplicadas relevantes, promove o desenvolvimento do julgamento profissional. Tanto
para clínicos em treinamento quanto para profissionais experientes dedicados a
aprender ao longo da vida, o Guia de estudo para o DSM-5 é uma ferramenta para
atingir esse objetivo.
Existe uma narrativa com relação a uma pessoa que perdeu as chaves do carro
à noite. Essa pessoa procurou as chaves próximo a um poste de luz, ainda que o
provável local que as tenha perdido seja a uma quadra de distância. Quando indagado
por que as procurava naquele lugar, respondeu que as estava procurando no único
local que podia pois havia luz suficiente para enxergar.
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Compreender a base fundamental ou o sustentáculo da queixa de saúde mental
de um paciente, frequentemente exige uma busca nos locais, os quais, na melhor das
hipóteses, há pouca luz. Com efeito, embora o esforço cada vez maior de preencher
a lacuna entre as descobertas da neurociência e a prática clínica, até o momento
escassos descobrimentos tiveram a capacidade de esclarecer com exatidão as
causas de doenças psiquiátricas.
Apesar de ser desanimador para alguns, o mistério das funções e a patologia
do cérebro humano representam uma fronteira extraordinária. A análise de que
persistem muitos questionamentos sem as devidas respostas em neurociência é, para
muitos, um “chamado” para explorar questões importantes para a espécie humana.
Como há a ausência de uma neurociência definitiva para oferecer explicações
causais para a saúde e a doença humanas, o DSM-5 é essencialmente dependente
de descrições – coisas que os pacientes experimentam e contam sobre suas
experiências (“sintomas”) e coisas observadas pelo clínico e por outros (“sinais”) e,
em menor grau, achados laboratoriais e resultados de neuroimagem.
Devido a abordagem descritiva ou “fenomenológica” do DSM-5, em vez de uma
abordagem causal ou “etiológica”, possui uma associação de evidências científicas e
o consenso de opiniões apresentadas por especialistas como sua base. Devido aos
avanços antecipados em ciência e aprofundamento de especializações, o DSM-5 se
trata de uma “obra em andamento” intencional.
O melhor modo de se compreender o DSM-5 é como uma estrutura sistemática,
que se qualifica por experiências e evidências, a qual reflete o amadurecimento, além
de sistemas diagnósticos anteriores. Ainda, por ser um documento “vivo”, certamente
irá mudar com o tempo.
Para recapitular, o DSM-5 consiste em uma estrutura diagnóstica cuja
orientação é fenomenológica, ela tem uma relevância que excede ciência da saúde, a
assistência clínica e a graduação de profissionais da área da saúde. Essa estrutura
também possui inúmeras aplicações no cotidiano, sendo usada diariamente por
advogados, professores, legisladores, legisladores, seguradoras, administradores
hospitalares e membros interessados do público.
Para todos os profissionais que se utilizam do DSM-5, devemos ressaltar que
a ciência biomédica diz respeito a um empreendimento humano, além disso, temos
numerosos exemplos, na história da medicina, onde abordagens sistemáticas,
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graduais e orientadas por evidências focadas em fenômenos observáveis resultaram
em avanços admiráveis quando nos referimos a área de saúde, até nos casos em que
as causas de uma enfermidade não eram conhecidas.
Do mesmo modo que John Snow conseguiu constatar que contaminação por
cólera diminuia quando não consumimos água contaminada antes de ser estabelecido
que a doença era causada por uma bactéria (PANETH, 2004), as pesquisas que
utilizam abordagens empíricas baseadas em critérios descritivos podem, e geralmente
conseguem, produzir uma diminuição da morbidade psiquiátrica.
Em contrapartida à cólera, as morbidades psíquicas raramente são causadas
por bactérias como a Vibrio cholerae, suas causas estão relacionadas com diversas
interações ambientais e vias biológicas que ainda não foram totalmente esclarecidas
(FRANCES; WIDIGER, 2012). No entanto, a neurociência clínica e básica vem
apresentando grandes achados nos dias atuais, cujas implicações são descobertas
diariamente.
Enquanto esperamos novas respostas científicas evidentemente definitivas
referentes às causas e à prevenção das doenças mentais, os clínicos irão utilizar a
abordagem cada vez mais rigorosa e meticulosamente descritiva do DSM-5 para
ajudar a aplicar esse trabalho em todos os locais, sejam eles em ambiente clínico,
sejam eles na comunidade, em sala de aula ou no tribunal.
O diagnóstico do DSM-5 tanto para o clínico, quanto para o paciente se presta
a várias funções e tem vários atributos. Pode-se compreender o diagnóstico como
uma hipótese, como uma forma de comunicação, como uma fonte de sofrimento,
como um risco e como uma “dádiva” terapêutica. Cada um desses aspectos do
diagnóstico possui relevância, em consonância com a abordagem do clínico e a saúde
dos pacientes.
5 A COMPREENSÃO DE DIFERENTES ABORDAGENS À CLASSIFICAÇÃO
DIAGNÓSTICA
Dar um nome, um diagnóstico, a uma doença decorrente de uma causa
específica e conhecida é intuitivamente fácil. Pneumonia pneumocócica, por exemplo,
é uma doença na qual o pulmão é infectado pela bactéria Streptococcus pneumoniae.
Ela afeta tipicamente crianças, idosos ou indivíduos imunocomprometidos e pode
provocar febre alta, tosse, falta de ar, respiração acelerada e dor no peito. Sem
tratamento, essa infecção pode levar à morte ou a uma incapacidade permanente.
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Uma pessoa com teor elevado de açúcar no sangue devido à falta de insulina
– porque as células beta do pâncreas que produzem insulina foram destruídas por um
processo autoimune – tem diabetes tipo 1. E uma pessoa que quebrou a perna em
um acidente de bicicleta terá uma perna quebrada, a qual pode ser caracterizada
como uma fratura óssea exposta, completa, cominutiva ou por compressão.
Quando as causas de uma doença forem indeterminadas, as formas de
identificar e classificar a disfunção e a perturbação da saúde, ao atribuir nomes ou
“diagnósticos” aos problemas, são menos intuitivas.
No contexto de doença mental, a origem da maioria dos transtornos mentais é
desconhecida, e biomarcadores definitivos para diversos transtornos ainda precisam
ser descobertos. Anos atrás, os diagnósticos psiquiátricos eram baseados em
premissas, ou seja, em afirmações de causalidade basicamente sem possibilidade de
verificação (ROBERTS, 2017).
Sem etiologia, patogênese ou biomarcadores discerníveis evidentes, os
diagnósticos psiquiátricos ficaram definidos por meio da fenomenologia, isto é,
vinculando-se o nome de uma doença a um conjunto específico de sintomas e sinais
que, juntos, representam uma “síndrome” psiquiátrica.
A identificação de limites claros entre síndromes diferentes é essencial para a
validade dos diagnósticos. Contudo, estabelecer esses limites revelou-se uma tarefa
difícil no caso de depressão maior, anorexia nervosa, esquizofrenia, transtornos de
estresse pós-traumático e dependência de álcool, entre outras doenças.
Pelo fato de um diagnóstico preciso propiciar informações úteis sobre etiologia,
tratamento e prognóstico, devemos manter o objetivo de diferenciar processos de
doença. O esforço em melhorar a classificação diagnóstica é a proposta do DSM-5,
que faz uso das descobertas de estudos clínicos e epidemiológicos. Em estudos
clínicos, o diagnóstico se baseia principalmente na investigação diagnóstica de
queixas relatadas e na observação clínica do paciente (ROBERTS, 2017).
Em epidemiologia, os sintomas são, em sua maior parte, achados que surgem
por meio do processo de indagação sistemática. Por exemplo, faz-se ao indivíduo uma
série de perguntas sobre diferentes sintomas psiquiátricos de base; respostas
positivas a sintomas essenciais desencadeiam a investigação de sintomas adicionais
com a finalidade de alcançar um diagnóstico.
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O DSM-5, portanto, utiliza uma abordagem que está em consonância com o
método que um médico usa para obter conclusões diagnósticas: com cada resposta,
o diagnóstico se aperfeiçoa. Vejamos agora um exemplo de caso, no qual acontece
um aperfeiçoamento de um diagnóstico
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estarem com bulimia nervosa, já que esse aspecto da face é um sinal que se relaciona
a poucas doenças, todas muito raras.
Em pediatria, manchas de Koplik são lesões na mucosa que demonstram a
presença da infecção prodrômica de sarampo; em neurologia, corpúsculos de Negri
são lesões no encéfalo que demonstram a presença de infecção por raiva; e, na
medicina geral, corpos de Aschoff são nódulos inflamatórios extremamente distintos
no coração, que demonstram a presença de febre reumática. A presença de achados
patognomônicos se torna um dado importante para um diagnóstico, mas, ainda assim,
cabe a um médico especialista estabelecer o diagnóstico apropriado.
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6 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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