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INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3
Prezado aluno,
Bons estudos!
1 CONCEITUANDO A SAÚDE E A SAÚDE MENTAL
Antes de conhecer afundo uma área é necessário também aprender sobre sua
história. O conceito de saúde e doença são mutáveis e com o passar do tempo
houveram várias mudanças, pois, essas definições são influenciadas pela cultura,
religião, momento histórico, política e ciência.
A concepção biológica da saúde e da doença tem seu registro mais antigo
traçado por Hipócrates, na obra denominada Corpus Hippocraticum, no século V a.C.
O autor Hipócrates, citado por Tavares, 2019 delimita uma clara divisão do processo
saúde/doença com a religião: “Eis aqui o que há acerca da doença dita sagrada: não
me parece ser de forma alguma mais divina nem mais sagrada do que as outras, mas
tem a mesma natureza que as outras enfermidades”. Tal natura seria de origem
biológica, baseado no equilíbrio entre quatro fluidos do corpo: bile amarela, bile negra,
fleuma e sangue. Ainda que muito influente, a escola hipocrática não impediu a
influência religiosa sobre cuidado em saúde.
Em vários momentos da história, a saúde se media pela devoção e obediência
de acordo com os parâmetros religiosos, devido a doença ser considerada uma
punição divina pelos pecados cometidos. Por exemplo, a masturbação já foi tratada
como uma enfermidade provocadora de desnutrição (pela perda de esperma) e de
distúrbios mentais.
A saúde possui vários conceitos, de característica mística podemos observar
outro conceito na cultura oriental, Chase (2018) explica que os chakras são vórtices
de energia em rotação que ocorrem em sete partes do corpo, a consequência da
harmonização dessa energia é a saúde, enquanto o desequilíbrio nos chakras é a
doença. Já a homeopatia utilizada a lógica da "cura pelo semelhante". Ela é "[...] uma
terapêutica que utiliza preparação de substâncias cujos efeitos exercidos no indivíduo
saudável correspondem às manifestações do transtorno no paciente" (FISHER;
ERNST, 2015, documento on-line).
Comportamentos que desviam do recomendado pela cultura vigente também
já foram tratados como sinal de adoecimento. Como por exemplo, no século XIX, nos
Estados Unidos: a vontade de um escravo fugir ou a ausência de disposição para o
trabalho forçado tinham como diagnósticos respectivamente “drapetomania" e
“disestesia etiópica", ambas “doenças" tratadas com açoite (SCLIAR, 2007).
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A Organização Mundial da Saúde, em 1948, trouxe o seguinte conceito: “Saúde
é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de
doença”. Essa conceituação ampliou significativamente a noção de saúde, visto que
este passa a se alicerçar no tripé físico/biológico, psicológico/mental e social/cultural.
A compreensão sobre a assistência em saúde também é ampliada, redirecionando o
modelo exclusivamente curativista (foca unicamente no tratamento de doenças) para
a importância da prevenção de agravos, promoção de saúde e reabilitação.
Para que a saúde se consolide em nível individual e coletivo, é indispensável a
existência de saneamento básico, o acesso à alimentação saudável, as políticas de
imunização, o acesso a lazer e atividade física, a educação em saúde, dentre outros.
O governo brasileiro e o Ministério da Saúde não apresentam uma
conceituação de própria autoria acerca da saúde ou da saúde mental, porém, a
Constituição Federal de 1988 assegura a universalidade da assistência em saúde em
seu art. 196: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação" (BRASIL, 1988, documento on-line).
Esse direito representa uma ruptura com os modelos de saúde adotados até
então, no qual o acesso aos serviços de saúde eram exclusividades dos trabalhadores
com carteira de trabalho assinada e seus dependentes. Também assegura que não
deverá ocorrer qualquer forma de exclusão por classe social, etnia, idade, credo,
orientação sexual, naturalidade ou quaisquer outros motivos.
Uma crítica ao art. 196 argumenta que ele coloca o cidadão em uma posição
passiva e infantilizada, como se a saúde fosse um bem concreto que pudesse ser
dado a alguém sem exigir nenhuma ação por parte do indivíduo. O Estado pode
fornecer assistência, promoção e educação em saúde, pode promover acesso à
alimentação balanceada e barata, fomentar a prática de atividades físicas, garantir
saneamento básico, realizar imunização e prevenção de agravos, etc. Porém, o
indivíduo precisa ser corresponsabilizado pela própria saúde, pois somente ele tem o
poder de praticar os diversos hábitos de vida recomendados para garantir a própria
saúde física e mental. (TAVARES, 2019).
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1.1 Reflexão e implicações da conceituação de saúde e saúde mental
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pessoa autônoma e independente. Uma mulher com esses aspectos poderia na
cultura ocidental do século XXI ser considerada como portadora de transtorno mental,
contudo, nas culturas muçulmanas tradicionais, essa mulher teria status de esposa
exemplar pela sua submissão ao marido.
Devemos tomar o cuidado de não posicionar a compreensão biológica da
saúde como modelo “correto” ou absoluto. Essa visão trouxe inquestionáveis avanços
a todas as áreas da medicina. Entretanto, sua utilização de forma única e restrita
resultou em décadas de aplicação do modelo biomédico, hospitalocêntrico, curativista
e centrado no especialista. Suas limitações são claras na psiquiatria e na medicina
psicossomática, mas mesmo doenças de etiologia inquestionavelmente biológica
devem ser avaliadas sob a ótica biopsicossocial. Uma parasitose, por exemplo, não
deve ser tratada exclusivamente com a prescrição de anti-helmínticos. Também deve
ser realizada educação em saúde sobre lavagem de mãos, higiene pessoal, cuidados
com alimentos, verificação de acesso a água tratada e saneamento básico, rastreio
de familiares e envolvimento dos pais em todo o processo de tratamento. (TAVARES,
2019).
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saudável e na menor incidência de câncer e doenças cardiovasculares. (TAVARES,
2019).
O sono preservado contribuiu para a manutenção e recuperação da saúde
mental, e a boa higiene no sono tem papel fundamental no sono de qualidade. Veja o
Quadro a seguir que apresentam as recomendações para esse cuidado:
HIGIENE DO SONO
(TAVARES, 2019, p. 6)
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a consciência enquanto encoraja a abertura, a curiosidade e a aceitação. (TAVARES,
2019).
A divisão dos processos psíquicos normais dos patológicos não pode prescindir
dos modelos humanísticos para a completa apreensão dos fenômenos mentais. É
indispensável abranger diferentes referenciais teóricos, como o psicológico, o social e
o biológico. (TAVARES, 2019).
Cumpre salientar que há muita controvérsia sobre o conceito de normalidade e
de saúde em psicopatologia. Observe o quadro a seguir que apresenta os critérios de
normalidade.
Conceito de
Descrição
Normalidade
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Aqui se enquadra o conceito adotado pela OMS. É um
conceito muito vasto e impreciso, já que bem-estar não
Normalidade como bem-estar
pode ser definido objetivamente, além de ser
demasiadamente utópico.
(TAVARES, 2019, p. 7)
Conceito de
Descrição
psicopatologia
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Este modelo é antagônico à psicopatologia categorial, argumentando
ser mais próximo da realidade, pois o conjunto de queixas
Psicopatologia
apresentadas pelos indivíduos dificilmente se enquadram
dimensional
exclusivamente em uma categoria. Cria-se então o “espectro bipolar”,
“espectro da esquizofrenia”, etc.
Os transtornos mentais seriam comportamentos desviantes que
Psicopatologia
surgem a partir da discriminação, da pobreza, da migração, do
sociocultural
estresse, da desmoralização, etc.
(TAVARES, 2019, p. 8)
Fracasso persistente para falar em situações sociais específicas nas quais existe a
expectativa para tal (por exemplo, na escola), apesar de falar em outras situações.
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No exemplo apresentado no quadro, podemos observar a existência de uma
vivência relativamente comum (dificuldade ou vergonha de falar em determinadas
situações sociais), mas, devido a sua intensidade e duração (a dificuldade se
transforma em incapacidade), ocorre de alguma forma o prejuízo funcional ao
indivíduo. É necessário se atentar ao cuidado em excluir situações que poderiam
justificar determinado comportamento.
O diagnóstico categorial apresenta uma certa ineficiência, pois os transtornos
mentais nem sempre se enquadram completamente nos limites de um único
transtorno. A título de exemplo, a pessoa que sofre de depressão frequentemente terá
queixas relacionadas à ansiedade, podendo ou não se enquadrar em um diagnóstico
adicional.
Ademais, é mais comum a ocorrência de transtornos mentais em conjunto com
outros do que isoladamente, como é o caso dos transtornos de personalidade. Se
estatisticamente a comorbidade psiquiátrica é mais frequente do que um diagnóstico
isolado, há de se inferir que ambos os transtornos seriam na verdade manifestações
de uma única doença, e não dois ou mais diagnósticos isolados.
Tendo em vista que um conselho de especialistas definiu os critérios para os
diagnósticos, eles são vulneráveis a falhas e vieses humanos. Grupos de pesquisa
tentam classificar os transtornos mentais de acordo com um mecanismo
etiopatogênico biológico subjacente (como disfunção do sistema serotoninérgico,
noradrenérgico, etc.), sem sucesso até o momento.
Apesar do diagnóstico categorial apresentar determinadas limitações, a
escolha desse método se deu pelo fato possuir uma série de vantagens. Inicialmente
ele permite uniformizar o diagnóstico psiquiátrico ao redor do mundo, possibilitando a
troca de informações confiáveis por pesquisadores e profissionais de saúde. Se não
houvesse uma padronização diagnóstica não caberia a possibilidade de comparação
entre as descobertas de um estudo com outro (tendo em vista a hipótese que cada
um utilizou diferentes critérios para classificar os enfermos). Também permite a
realização de pesquisas clínicas sobre a efetividade do tratamento (medicamentoso
ou não medicamentoso), levantamento de dados estatísticos e epidemiológicos e
investigação de mecanismos fisiopatogênicos. Sem embasamento científico, a
psiquiatria não seria diferente do curandeirismo.
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É importante destacar que a realização de um diagnóstico formal é apenas uma
parte da avaliação psiquiátrica. Os demais elementos excluídos do diagnóstico podem
e devem ser avaliados na prática clínica. (TAVARES, 2019).
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Em 1970, o movimento de desinstitucionalização psiquiátrica se iniciou no
Brasil, esse movimento de modificação nas práticas de cuidados aos possuidores de
transtornos mentais foi iniciado e proposto por trabalhadores, usuários e familiares
dos serviços de psiquiatria, impulsionados por condições precárias de trabalho em
saúde mental e pela necessidade de um atendimento psiquiátrico de base comunitária
não excludente.
A Reforma Psiquiátrica brasileira foi um movimento político e social, que tinha
como foco a aquisição de novas práticas em saúde mental, essa reforma propôs uma
modificação de um modelo hospitalocêntrico para um voltado em atenção em redes,
com recuperação, promoção, prevenção de agravos e, principalmente, com a
ressocialização.
Essas medidas propostas pela Reforma Psiquiátrica ganharam força a partir de
1986, quando se realizou a oitava Conferência Nacional da Saúde, na qual foi formada
uma comissão a fim da elaboração de novas propostas para a assistência psiquiátrica
brasileira. Foi proposto por essa comissão que:
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A literatura evidencia que a reaproximação da família com o portador de
transtorno mental é permeada de contradições, como a imposição de um “retorno para
casa” do paciente, sem a oferta de serviços extra-hospitalares em números suficientes
e sem levar em consideração o desgaste a que ficam sujeitos os familiares.
O cuidado com uma pessoa que possui transtorno mental é um desafio para a
família, sendo a aceitação da doença e do adoecido pelos integrantes familiares um
elemento indispensável para a reabilitação psicossocial. A existência de um ente
familiar adoecido mentalmente impacta todos os membros da família e a comunidade
local que ele habita. Devido à exigência de uma nova demanda de atenção e cuidados,
a rotina da família pode alterar gerando uma sobrecarga.
A convivência com um portador de uma patologia psiquiátrica nem sempre será
harmônica e os familiares irão lidar periodicamente com o sentimento de insegurança,
limitações e conflitos, exigindo que a família, como grupo, esteja em constante
movimento de repensar e reorganizar suas dinâmicas de convívio. Mediante isso,
cabe a cada membro familiar o dever de adquirir um papel e um significado próprio
para conseguir administrar o novo cotidiano da vida familiar.
O ato de cuidar de uma pessoa que sofre com um transtorno mental implica em
aceitar que aquele membro familiar não apresentará mais comportamentos já
conhecidos e pode manifestar sintomas de autodestruição, agressividade e
isolamento, por exemplo. Hábitos inadequados de higiene, alimentação e gastos
financeiros também podem gerar nos familiares sentimentos de raiva, ansiedade e
frustração. Além disso, os cuidadores também devem ofertar cuidados no sentido de
acompanhamento em consultas, supervisão medicamentosa, organização domiciliar
e responsabilidade com custos advindos do tratamento.
Insta salientar acerca dos estudos, eles apontam que a imprevisão do
comportamento da pessoa adoecida debilita expectativas sócias, fazendo com que os
familiares motivados pela vergonha e pelo cansaço se distanciem de suas atividades
sociais.
Porém, ainda que o transtorno mental ocasione muitas modificações na rotina
das famílias, elas devem ser consideradas como um grupo com grande potencial de
acolhimento e ressocialização. É no contexto familiar que se desenvolvem aspectos
relativos à sociabilidade e afetividade, sobretudo durante a infância e à adolescência.
(TAVARES, 2019).
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Estudos afirmam que a inclusão das famílias nos cuidados em saúde mental
está vinculada a um declínio no número de reinternações e na cronificação de
patologias psiquiátricas. No decorrer do tempo as famílias desenvolvem artifícios para
manejo de suas próprias dificuldades e até conseguem prever uma possível
intensificação dos sintomas procurando por ajuda profissional rapidamente.
O incessante sofrimento pode ocasionar uma maior união entre os familiares,
reforçando os vínculos familiares e proporcionando forças para aceitar e enfrentar a
caminhada do “cuidar juntos”.
Porém, há a necessidade de auxílio dos profissionais de saúde as famílias para
a compreensão do significado de vivenciar um transtorno mental em um ente familiar.
É preciso que os profissionais de saúde estimulem as vivencias saudáveis entre os
familiares, mediante diálogo, troca de afeto e compartilhamento de experiências.
Nos dias atuais, infelizmente, a comunidade ainda apresenta a concepção de
que a pessoa com transtorno mental se encontra sob condição de anormalidade
humana, colocando-a em posição de periculosidade e de incapacidade. A doença
psiquiátrica não é apenas um conjunto de sintomas, ela representa uma simbologia
moral, psicológica e social.
É comum que a sociedade subjugue a capacidade do acometido por doença
mental, o infantilizando e retirando a possibilidade de ele ser o protagonista de sua
própria história. O estereótipo de inutilidade faz com que o enfermo diversas vezes
não consiga um emprego, e gerando a família o ônus financeiro.
É sabido que o transtorno mental possui várias casualidades como biológicas,
sociais e psicológicas, porém, ainda está entranhada na sociedade a concepção de
que a pessoa com esse tipo de transtorno é alguém incapaz e merecedor de
isolamento.
A presunção de incapacidade faz com que o adoecido não obtenha
oportunidades de atuação desde atividades como confecção de seu próprio alimento
até a reinserção no mercado de trabalho. Isso faz com que o mesmo entre em um
ciclo de não oportunidades, podendo fazer com que sentimentos de
autodesvalorização ganhem maiores proporções e, inevitavelmente, migrem para o
isolamento social. (TAVARES, 2019).
O imaginário coletivo negativo é uma condição sine qua non para a efetivação
de práticas de cuidados comunitários. O suporte ofertado pelas redes sociais na
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comunidade é um aspecto fundamental na inclusão social de pessoas com transtornos
mentais.
As redes sociais em uma comunidade proporcionam ao indivíduo a organização
de sua identidade pessoal por meio de trocas e experiências e promove o sentimento
de pertencimento. Essas interações podem se formalizar nos bairros, nas igrejas ou
nos trabalhos e a partir da interação com o outro é possível que o indivíduo obtenha
uma imagem refletida de si próprio, favorecendo um processo de autorreflexão das
potencialidades e fraquezas.
Apesar da importância do convívio social, as pessoas com transtornos mentais
ainda encontram dificuldades em estabelecer e manter suas redes sociais, em razão
do contexto atual da sociedade que ainda impera a discriminação e o preconceito. Há
um paradigma emergente na atualidade e que precisamos lidar: o sujeito adoecido
mentalmente e sua relação com a sociedade.
Hoje estamos em um cenário que preza uma nova lógica de atendimento, que
é a lógica da inclusão. Devemos perpassar a concepção de apenas um aparelho
psíquico adoecido para um indivíduo imerso de um complexo histórico e cultural.
O transtorno mental é um fenômeno pouco compreendido e aceito e cabe aos
serviços de saúde especializados na área a ruptura da casualidade linear entre
doença e periculosidade. O trabalho deve ser feito de uma forma de atinja o maior
número de pessoas e espaços distintos, pois o adoecimento mental está em todos os
lugares. Se almejamos que a lógica excludente seja revista e quebrada, nós, como
profissionais de saúde, devemos orientar a população acerca dos mitos envoltos na
temática e como ações comunitárias podem auxiliar nos clientes acometidos por
transtornos mentais.
Os serviços especializados em psiquiatria, como CAPS, Residências
Terapêuticas, Ambulatórios de Saúde Mental e Hospitais Dia, devem orientar seus
trabalhos para as necessidades do cliente, deslocando as práticas para a comunidade
por meio da transdiciplinariedade. Deve-se haver uma ampliação dos espaços de
tratamento em saúde mental para uma rede de atenção à saúde, por exemplo, dentro
da atenção primária.
Fortalecendo os espaços de atenção ao portador de transtorno mental,
conseguiremos efetivar os pressupostos da reforma psiquiátrica e fazer com que a
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sociedade se sinta cada dia mais corresponsável pelos indivíduos que adoecem
mentalmente.
Por fim, o que almejamos é esclarecer que retirar os clientes com patologias
psiquiátricas do modelo de tratamento hospitalocêntrico foi uma prática importante,
mas que de nada adianta se não for ofertado um suporte profissional à comunidade e
à família que estão acolhendo esses adoecidos.
Retirar do hospital e inserir no âmbito familiar sem suporte é criar um ambiente
de sofrimento para ambos, cliente e família. A função dos profissionais é identificar as
potencialidades da família e da comunidade e utilizar isso como um recurso
terapêutico que melhorará a qualidade de vida de todos os envolvidos. (TAVARES,
2019).
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2.1 Indo além do vocabulário da psicometria
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2.2 Utilidade dos instrumentos de avaliação
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determinada escala considerando todos os participantes de uma pesquisa.
(GORENSTEIN, 2016).
(GORENSTEIN, 2016)
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Um instrumento que manifesta boas evidências de qualidades psicométricas
em sua língua original pode ter suas propriedades alteradas e prejudicadas ao ser
traduzido para outro idioma. A maior parte das escalas utilizadas no Brasil foi
confeccionada em língua inglesa. As primeiras escalas de avaliação adotadas em
nosso país, eram traduzidas e sua aplicação em pesquisas ocorria sem estudos
formais sobre suas qualidades. Possivelmente, a necessidade de atuar de forma
competitiva no meio internacional no campo da psicofarmacologia fez pesquisadores
brasileiros escolherem a utilização de instrumentos ainda não validados em nosso
meio. A título de exemplo, podemos citar a Escala de Depressão de Hamilton, de uso
disseminado desde a década de 1980, que apenas em 2014 obteve sua merecida
validação no País.
A pura e simples tradução do instrumento por várias vezes se mostra
inapropriada ou insuficiente para começar a usá-lo. As expressões idiomáticas que
não possuem equivalência linguística e cultural devem ser adequadas para o idioma
português-brasileiro, assim como para a cultura local e para comportamentos
sancionados socialmente. Ademais, as manifestações clínicas, a evolução e o
prognóstico de muitos transtornos mentais podem sofrer a influência de fatores
socioculturais. O instrumento final, após os processos de tradução e adaptação
transcultural, precisa ainda de estudos adicionais de validação no novo ambiente para
que sua equivalência na população-alvo seja estabelecida. A exigência de validação
transcultural de um instrumento envolve processo demorado e trabalhoso, porém
necessário. (GORENSTEIN, 2016).
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utilizar uma longa entrevista estruturada, que requer treinamento especializado, para
avaliar um aspecto específico da patologia, como, por exemplo, uma fobia específica.
É importante também saber exatamente como utilizar, interpretar os resultados
e evitar os erros oriundos de fatores que interferem na medida. (GORENSTEIN, 2016).
2.5 Limites
3 DIAGNÓSTICO E O DSM-5
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de hipóteses e testes empíricos é de grande importância para se chegar a um
diagnóstico bem considerado e criteriosamente fundamentado, a base para a tomada
de decisões terapêutica e para o melhor resultado para o paciente.
Atingir a precisão de um diagnóstico é de suma relevância para uma assistência
clínica embasada, porém a obtenção de um diagnóstico implica tantos ônus e riscos
como benefícios para os pacientes. A autoridade de fornecer um diagnóstico é o poder
de deter tanto a dádiva da compreensão e do alívio, por um lado, quanto, por outro, o
problema de atribuir rótulos e possível estigma. Minimizar a carga do fardo de uma
doença psiquiátrica enquanto, ao mesmo tempo, há a tentativa de “não causar danos”
pode ser algo difícil de produzir, principalmente quando é levado em consideração os
preconceitos e a concepção errônea que persiste no meio social com relação a
doenças neuropsiquiátricas e condições relacionadas. A reputação de excelência de
um clínico, portanto, não se baseia na simples capacidade de chegar ao correto
diagnostico de uma doença. Um clínico excelente tem o julgamento profissional para
diagnosticar uma doença com rigor e também com uma compreensão da experiência
da doença e o significado completo de tê-la “nomeada” no contexto da vida do
paciente.
Em um estudo concentrado sobre os critérios diagnósticos do DSM-5, de forma
conjunta com a experiência clínica, e qualificado pelo estudo de ciências básicas e
aplicadas relevantes, promove o desenvolvimento do julgamento profissional. Tanto
para clínicos em treinamento quanto para profissionais experientes dedicados a
aprender ao longo da vida, o Guia de estudo para o DSM-5 é uma ferramenta para
atingir esse objetivo. (ROBERTS, 2017).
Existe uma narrativa com relação a uma pessoa que perdeu as chaves do carro
à noite. Essa pessoa procurou as chaves próximo a um poste de luz, ainda que o
provável local que as tenha perdido seja a uma quadra de distância. Quando indagado
por que as procurava naquele lugar, respondeu que as estava procurando no único
local que podia pois havia luz suficiente para enxergar. Compreender a base
fundamental ou o sustentáculo da queixa de saúde mental de um paciente,
frequentemente exige uma busca nos locais, os quais, na melhor das hipóteses, há
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pouca luz. Com efeito, embora o esforço cada vez maior de preencher a lacuna entre
as descobertas da neurociência e a prática clínica, até o momento escassos
descobrimentos tiveram a capacidade de esclarecer com exatidão as causas de
doenças psiquiátricas. Apesar de ser desanimador para alguns, o mistério das funções
e a patologia do cérebro humano representam uma fronteira extraordinária. A análise
de que persistem muitos questionamentos sem as devidas respostas em neurociência
é, para muitos, um “chamado” para explorar questões importantes para a espécie
humana.
Como há a ausência de uma neurociência definitiva para oferecer explicações
causais para a saúde e a doença humanas, o DSM-5 é essencialmente dependente
de descrições – coisas que os pacientes experimentam e contam sobre suas
experiências (“sintomas”) e coisas observadas pelo clínico e por outros (“sinais”) e,
em menor grau, achados laboratoriais e resultados de neuroimagem. Devido a
abordagem descritiva ou “fenomenológica” do DSM-5, em vez de uma abordagem
causal ou “etiológica”, possui uma associação de evidências científicas e o consenso
de opiniões apresentadas por especialistas como sua base. Devido aos avanços
antecipados em ciência e aprofundamento de especializações, o DSM-5 se trata de
uma “obra em andamento” intencional. O melhor modo de se compreender o DSM-5
é como uma estrutura sistemática, que se qualifica por experiências e evidências, a
qual reflete o amadurecimento, além de sistemas diagnósticos anteriores. Ainda, por
ser um documento “vivo”, certamente irá mudar com o tempo. (ROBERTS, 2017).
O autor ainda continua sua explicação sobre o DSM-5:
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décadas (Frances e Widiger, 2012). Todavia, a estimulante neurociência
básica e clínica apresenta grande potencial atualmente, e suas implicações
são reveladas todos os dias. Enquanto se aguardam novas respostas
científicas evidentemente definitivas referentes às causas e à prevenção das
doenças mentais, os clínicos irão utilizar a abordagem cada vez mais rigorosa
e meticulosamente descritiva do DSM-5 para ajudar a aplicar esse trabalho
em todos os locais, sejam eles em ambiente clínico, sejam eles na
comunidade, em sala de aula ou no tribunal. (ROBERTS, 2017).
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O Sr. Ramos nunca usou álcool nem outras substâncias. Reitera que se sente
triste “quase” todos os dias, especialmente pela manhã, e que perdeu quase 7 quilos.
Afirma que a perda de peso não foi intencional e que se deve ao fato de sua filha não
estar mais presente para preparar feijão e suas enchiladas favoritas. Continua com
seu regime de medicamentos, que inclui medicação para sintomas psicóticos e de
humor. Trabalha há mais de 30 anos no sítio da família. (ROBERTS, 2017).
De acordo com Roberts (2017) são questões a considerar:
O autor ainda aduz que quando se cria uma estrutura diagnóstica, deve-se
compreender e organizar os fenômenos clínicos em diferentes níveis hierárquicos e
componentes:
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5 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Roberts, Laura Weiss. Guia de estudo para o DSM-5 [recurso eletrônico] / Laura
Weiss Roberts, Alan K. Louie ; tradução: Régis Pizzato ; revisão técnica: Neury José
Botega. – Porto Alegre : Artmed, 2017.
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