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Atuação do terapeuta
abordagem sistêmica
1
INTERAÇÃO SISTÊMICA LTDA.
CNPJ –20.299.805/0001-95
BELO HORIZONTE, MG, BRASIL
WWW.INTERACAOSISTEMICA.COM.BR
CONTATO@INTERACAOSISTEMICA.COM.BR
(0055) 31 99941 4532
2
"Só o mais tolo dos ratos se
esconderia na orelha de um gato.
Mas só o mais esperto dos gatos,
se lembraria de procurá-lo lá."
Frase do explorador Scott Love
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CARO LEITOR,
Não seria um exagero metaforicamente dizer que, muitas vezes, os terapeutas, em
seus consultórios, parecem gatos que estão jogando com ratos. Como se o terapeuta se
colocasse na posição de gato que vigia a toca que o rato está escondido, com a esperança de
que, a qualquer momento, vai conseguir pegá-lo.
O rato quando se apresenta para a brincadeira, se mostra frágil, pequeno, indefeso e
o terapeuta, por sua vez, se mostra forte, astuto e sabedor das coisas.
Então a brincadeira do gato e rato começa.
Porém não são poucas as vezes que os pobres ou espertos (?) ratinhos fogem, deixando
o gato sem entender por onde escapou.
Este material didático foi organizado com a intenção de despertar a atenção dos
terapeutas para os jogos inconscientes dos *clientes que, como ratos, chegam aos
consultórios, dissimulando tudo e preparadíssimos para a fuga.
E como os terapeutas se entusiasmam com esse jogo de esconde-esconde!
A jogada do cliente é pedir ajuda, sem pedir, apenas queixando. Dizer que quer mudar,
contanto que nada mude. Dizer que seu problema está num ponto, desviando
completamente a atenção do terapeuta da real questão.
Continuando nessa metáfora, o cliente esconde-se na “orelha” do terapeuta, que o
escuta, escuta, escuta, mas não encontra nada, porque ali não tem nada para ser
encontrado.
Assim, desejo que este material didático auxilie os terapeutas a perceberem que, na
vida, existem muitos jogos sim, e que o consultório de psicoterapia é mais um lugar para
tais jogos.
Que desenvolvam habilidades não apenas de perceber os jogos de seus clientes, mas
principalmente de atuarem de forma lúcida dentro dos jogos que eles estão jogando.
Boa atuação a todos!
Jaqueline Cássia de Oliveira
* Neste material didático são usados tanto o termo paciente quanto cliente.
Essa nomenclatura é de uso livre no Brasil.
4
ÍNDICE
A SANTA CEIA ........................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO..............................................................................................................................................................................8
O MUNDO ESTÁ MUITO COMPLEXO.....................................................................................................................9
PARTE 1 – COMO VOCÊ PENSA?
PENSAMENTOCARTESIANO..................................................................................................................................12
PENSAMENTO SISTÊMICO ....................................................................................................................................13
PENSAMENTO COMPLEXO.....................................................................................................................................13
MEIO CÉREBRO É MELHOR DO QUE NADA, MAS É MELHOR USAR O CÉREBRO TODO.............15
O PONTO DE VISTA É A VISTA DE UM PONTO..............................................................................................16
O FRIO PODE SER QUENTE? Jandira Masur....................................................................................................17
AS POSSIBILIDADES PARA UM PENSAR SISTÊMICO COMPLEXO.........................................................18
QUADRO – OS 4 CAPTADORES DO TODO.........................................................................................................22
PENSAMENTO CRIATIVO E PENSAMENTO REPETITIVO.........................................................................23
COMO ENXERGAR O PONTO CEGO?...................................................................................................................23
PENSAMENTO CRIATIVO.......................................................................................................................................23
PENSAMENTO REPETITIVO...................................................................................................................................24
QUAL O LUGAR DO PENSAMENTO?...................................................................................................................24
O PROCESSO CRIATIVO............................................................................................................................................25
ELENCO CRIATIVO.....................................................................................................................................................27
PENSAMENTO LINEAR, SISTÊMICO E COMPLEXO......................................................................................28
ALGUNS PRINCÍPIOS DO PENSAMENTO COMPLEXO.................................................................................29
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USO DE RECURSOS.....................................................................................................................................................49
INTERVENÇÕES SISTÊMICAS................................................................................................................................50
RESISTÊNCIA E TREINAMENTO DA MUDANÇA..........................................................................................51
A CAPACIDADE DE MANOBRA DO TERAPEUTA...........................................................................................52
PREMISSA E CONTEXTO DO CLIENTE...............................................................................................................52
O TEMPO NECESSÁRIO............................................................................................................................................52
OS PERIGOS DE UMA MELHORA..........................................................................................................................53
PLANIFICAÇÃO DE ATENDIMENTO...................................................................................................................53
CONHECENDO O TERRENO – CAMPO MINADO............................................................................................53
RISCOS E EVOLUÇÃO DO SINTOMA...................................................................................................................54
TEORIA DAS RECAÍDAS...........................................................................................................................................54
O USO DA LINGUAGEM CONDICIONAL.............................................................................................................54
O USO DA SUGESTÃO................................................................................................................................................54
ATENÇÃO AO VÍNCULO, PERTINÊNCIA E RESISTÊNCIA..........................................................................54
AVALIAÇÃO, ACOMPANHAMENTO E REDEFINIÇÃO DE METAS..........................................................55
INTERRUPÇÃO DO PROCESSO TERAPÊUTICO..............................................................................................55
FINALIZAÇÃO DO PROCESSO TERAPÊUTICO................................................................................................55
PARTE 6 – TERAPIA DA METÁFORA
METÁFORA E AS LINHAS PSICOTERAPÊUTICAS.........................................................................................56
PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA..........................................................................................................................56
PSICOTERAPIA JUNGUIANA..................................................................................................................................57
PSICOTERAPIA ERICKSONIANA..........................................................................................................................57
TERAPIA SISTÊMICA E A TERAPIA DA METÁFORA...................................................................................57
O QUE SÃO METÁFORAS.........................................................................................................................................58
A IMAGINAÇÃO CRIATIVA......................................................................................................................................58
IMAGENS METAFÓRICAS........................................................................................................................................59
TRANSFORMANDO A IMAGEM METAFÓRICA...............................................................................................60
DIFICULDADES COM O USO DA METÁFORAS................................................................................................60
O CARTEIRO E O POETA..........................................................................................................................................61
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A SANTA CEIA
Existe uma lenda referente à pintura da Santa Ceia, ou Última ceia de Jesus com seus
apóstolos que narra o seguinte fato:
Ao conceber esse quadro, Leonardo Da Vinci deparou-se com uma grande dificuldade:
precisava pintar o bem na imagem de Jesus e o mal na figura de Judas, o amigo que resolvera
traí-lo durante a ceia. Da Vinci interrompeu o seu trabalho no meio, até que conseguisse
encontrar os modelos ideais.
Certo dia, enquanto assistia a um coral, viu num dos rapazes a imagem perfeita de Cristo.
Convidou-o para o seu atelier e reproduziu seus traços.
A “Última ceia” estava quase pronta, mas Da Vinci ainda não havia encontrado o modelo
ideal de Judas.
O cardeal, responsável pela igreja, começou a pressioná-lo, exigindo que terminasse logo o
mural. Depois de muitos dias procurando, o pintor finalmente encontrou um jovem
prematuramente envelhecido, bêbado, esfarrapado, atirado na sarjeta.
Imediatamente, pediu aos seus assistentes que o levassem até a igreja.
Da Vinci copiava as linhas da impiedade, do pecado, do egoísmo, tão bem delineadas na face
do mendigo, que mal conseguia parar em pé.
Quando terminou, o jovem já um pouco refeito da bebedeira, abriu os olhos e notou a pintura
à sua frente. E disse, numa mistura de espanto e tristeza:
Há três anos, antes de perder tudo o que tinha, numa época que eu cantava num coral. Tinha
uma vida cheia de sonhos e o artista me convidou para posar como modelo para a face de
Jesus!
7
INTRODUÇÃO
Até o ano de 1.500, a visão do mundo, tanto na Europa quanto na maioria das outras
civilizações, era orgânica. Sua característica era a interdependência dos fenômenos
espirituais e materiais. A estrutura da visão orgânica do mundo assentava-se em Aristóteles
e na Igreja.
O trabalho científico apoiava-se na razão e na fé, tinha como meta a compreensão do
significado das coisas. As questões prioritárias eram de ordem espiritual e estavam ligadas a
Deus e à alma.
Na medida em que a visão de um universo orgânico, vivo e espiritual foi substituído por
uma noção de mundo-máquina, houve uma mudança radical na perspectiva medieval, nos
séculos XVI e XVII.
A era moderna adota como metáfora a máquina. Essa evolução deu-se a partir de
mudanças revolucionárias na Física e na Astronomia, estimuladas pelos trabalhos de
Copérnico, Galileu e Newton.
Segundo Galileu, a natureza poderia ser descrita matematicamente. Postulou, também,
que os cientistas deveriam restringir-se ao estudo das propriedades essenciais dos corpos
materiais (forma, quantidade, movimento) que poderiam ser medidas e qualificadas.
Ao mesmo tempo, na Inglaterra, Francis Bacon descrevia o método empírico da Ciência.
A partir dele, o objetivo da Ciência passou a ser o conhecimento que possibilitaria o controle
e a dominação da natureza. Essa mudança seria prosseguida por Descartes e Newton.
Descartes, fundador da Filosofia Moderna, foi profundamente afetado pela Nova Física e
pela Nova Astronomia. Para ele, seria rejeitado todo conhecimento que fosse meramente
provável e só o que fosse perfeitamente conhecido e passível de medição, comprovado e
quantificado seria aceito como a sua Nova Ciência. Estava implantado o método Cartesiano
de causa e efeito e o pensamento científico linear e reducionista. Na verdade, Descartes
iniciou o esboço de seu trabalho, mas foi Newton que o realizou.
Através de Newton, surgiu o referencial teórico matemático consistente que se manteve
como base do pensamento científico até boa parte do século XX. Ele acreditava no
esoterismo, mas seus estudos alquímicos nunca foram publicados. Foi considerado o “último
dos mágicos”.
A visão Newtoniana consistia em uma concepção mecanicista da natureza, onde a
máquina cósmica era vista como causal e determinada. Era a lei da previsibilidade absoluta:
tudo tinha causa e efeito definidos e passíveis de serem detectados a qualquer momento,
desde que conhecessem os seus detalhes (negação do inesperado).
Os séculos XVIII e XIX utilizaram-se da mecânica Newtoniana para explicar o
movimento dos planetas, luas e cometas; o fluxo das marés e de outros fenômenos ligados à
gravidade. E persistiram durante o século XIX as elaborações mecanicistas nas áreas da
Física, Química, Psicologia e Ciências Sociais.
Novas descobertas e novas formas de pensamento começaram a evidenciar as
limitações do modelo Newtoniano e a preparar o caminho para as revoluções científicas do
século XX.
8
A partir de descobertas como: fenômenos elétricos e magnéticos, Teoria Espacial da
Relatividade de Einstein, a exploração do mundo atômico e subatômico, os cientistas
reformularam as suas premissas. Surge a Física Quântica, elaborada durante as três
primeiras décadas do século XX.
A nova Física exigiu grandes mudanças nos conceitos de tempo, matéria, objeto, causa e
efeito. A visão do mundo surgida a partir da Física Revolucionária caracteriza-se por
conceitos como: orgânica, holística, ecológica ou visão sistemática no sentido geral dos
sistemas: o universo passa a ser visto como indivisível, dinâmico, cujas partes estão
interligadas.
A concepção sistêmica vê o mundo em termo de relações e de integração. Os sistemas
são totalidades integradas, cujas propriedades não podem ser reduzidas às de unidades
menores. Todo e qualquer organismo, desde a menor bactéria até os seres humanos,
passando pela imensa variedade de plantas e animais é uma totalidade integrada. E todos
esses sistemas naturais são totalidades cujas estruturas específicas resultam das interações
e interdependências de suas partes.
Esse estado de interligação não linear dos organismos vivos indica que as tentativas
convencionais da Ciência Biomédica de associar doenças a causas únicas são muito
problemáticas.
Quanto mais estudamos o mundo vivo, mais nos apercebemos de que a tendência para a
associação e interdependência é uma característica essencial dos organismos vivos. As
maiores redes de organismos vivos formam ecossistemas, em conjunto com animais, plantas
e micro-organismos, através de uma intrincada rede de relações que envolvem a troca de
matéria e energia em ciclos contínuos.
Sabendo que tudo é um todo, o pensamento sistêmico trouxe para a era moderna a
renovação da visão de realidade, dentro de uma consciência de interpelação e de
interdependência essencial de todos os fenômenos físicos, biológicos, psicológicos, sociais,
culturais e espirituais.
A psicoterapia de abordagem sistêmica baseou-se nesses princípios.
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PARTE 1
PENSAR
A origem desse verbo vem do termo em Latim pensare que traduz um significado de
suspender ou “pendurar” e se refere aos pratos da balança, fato que originou em nossa
língua também a palavra pesar. Seguindo por esse caminho de sentido figurado, o “pesar os
prós e os contras” traduziu-se num enfoque de ponderar, examinar e por fim gerou pensar
no sentido de refletir, meditar.
PENSAMENTO CARTESIANO
A visão é de causa e efeito.
A pergunta principal feita é POR QUÊ?
Pega uma parte e diz que é o TODO.
Possui visão reducionista.
Racionaliza sem refletir.
Vê separadamente, em partes, sem noção de conjunto, de sistema, de redes, de
complexidade, de TODO.
É simples – não percebe a complexidade da vida.
É ISTO OU AQUILO.
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PENSAMENTO SISTÊMICO
A soma das partes é maior que o TODO.
A pergunta principal feita é PARA QUÊ?
Considera as partes e o TODO.
Apoia-se no conceito de redes, de web.
Faz reflexões.
É ISTO & AQUILO.
PENSAMENTO COMPLEXO
O pensamento complexo não nega os modelos de pensamentos linear e sistêmico. Ele dá
um passo além: inclui a aleatoriedade, a incerteza, a imprevisibilidade e impossibilidade de
separação entre sujeito e objeto. Homem, máquina e ambiente estão intrinsecamente
interligados.
avalia possibilidades,
abraça a complexidade,
considera o novo e inusitado (que não se sabe onde vai dar).
É ISTO & AQUILO & MAIS ALGUMA COISA.
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DIFICULDADES PARA UM PENSAR COMPLEXO
O cérebro humano, seus hemisférios cerebrais direito e esquerdo e o corpo caloso.
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MEIO CÉREBRO É MELHOR DO QUE NADA,
MAS SERIA MELHOR USAR O CÉREBRO TODO.
Com uma sequência de aulas verbais e numéricas, as escolas que frequentamos não
estão equipadas para ensinar a modalidade de processamento de informações característica
do hemisfério cerebral direito. Afinal, o hemisfério cerebral direito não tem controle verbal
muito bom e não é capaz de emitir proposições lógicas como: "isto é bom ou ruim pelas
razões a, b, c”. O hemisfério cerebral direito não é muito capaz de observar sequências - de
começar pelo começo e prosseguir passo a passo. Pode começar pelo meio ou pelo fim; não
tem uma noção muito boa de tempo e não é muito capaz de dar nome às coisas e separá-las
em categoria.
Ainda hoje, embora os educadores se mostrem cada vez mais interessados na
importância do pensamento intuitivo e criativo (hemisfério cerebral direito), os sistemas
escolares, em geral, continuam estruturados em torno da modalidade típica do hemisfério
cerebral esquerdo. Numa direção linear, as primeiras matérias que estudamos são verbais e
numéricas: aprendemos a ler, escrever e contar. As aulas têm seus horários; as carteiras são
arrumadas em fila; as respostas são estereotipadas; os professores dão notas e todos sentem
que alguma coisa está faltando.
O hemisfério cerebral direito - o sonhador, o artista, o intuitivo, sente-se perdido em
nosso sistema educacional e pouco desenvolve. Talvez encontremos, aqui e ali, algumas
aulas de arte, de artesanato, de música, redação criativa; mas provavelmente não
encontraremos cursos de imaginação, de visualização, de intuição, de inventividade. No
entanto, essas são aptidões às quais os educadores aparentemente dão valor, esperando que
os alunos desenvolvam sua imaginação, percepção e intuição como consequência natural do
ensino de matérias verbais e analíticas. Felizmente, esse desenvolvimento realmente ocorre
em muitos casos, quase a despeito do sistema educacional - o que demonstra a grande
capacidade de sobrevivência do hemisfério cerebral direito.
Talvez, agora que os neurocientistas nos deram uma base conceitual para o treinamento
do hemisfério cerebral direito, possamos começar a construir um sistema educacional capaz
de educar todo o cérebro. Tal sistema deverá incluir o ensino de desenho, da pintura e
outros, que é uma forma eficaz de adquirir acesso às funções do hemisfério cerebral direito.
Assim, essa integração das funções do hemisfério cerebral esquerdo e hemisfério cerebral
direito, formará um indivíduo com maior poder de raciocinar e também intuir; de repetir e
também de criar; de usar a lógica e também a emoção, enfim, uma utilização maior de todo o
cérebro.
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O PONTO DE VISTA É A VISTA DE UM PONTO
Exercício 1
Você é capaz de ver duas figuras, ao mesmo tempo, em cada uma das imagens abaixo?
Exercício 2
Quantas pessoas há nesta imagem?
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AS POSSIBILIDADES PARA UM PENSAR COMPLEXO
É muito difícil pensar complexo, porque pensamento por si só, não consegue INTEGRAR.
Nosso cérebro é dividido em dois hemisférios. O hemisfério cerebral direito com as funções
subjetivas e amplas de sentir e intuir e o hemisfério cerebral esquerdo com as funções
objetivas e focais de raciocinar e perceber.
SENTIMENTO
Sentir vem do latim sentire, que originalmente significava ouvir, escutar, porém logo
passou a significar a percepção de todos os sentidos. Para sentir preciso "escutar" e
para fazer a escuta é preciso silêncio externo e interno (silenciar o pensamento).
Sentir é uma ação interior.
Sentimento é diferente de emoção, de sensação, de impulsividade e erotismo. Esses
são manifestações reais ou teatrais de sentimento.
Há pessoa que pode ser sensível a si mesma, mas é uma "toupeira" em relação aos
outros; ou é sensível ao outro e não escuta a si mesma.
Esse primeiro captador do TODO conecta você com o SENTIDO da sua vida; ou seja, o
que faz "sentido" para você e, portanto, lhe dá prazer.
Sentimento está ligado a prazer, sabor e felicidade.
Prazer e felicidade: ser feliz é gostar de algo e fazer algo que gosta. A felicidade é
movida pelo sentimento, pela escuta de si mesmo, considerando o outro.
Símbolo elementar: água.
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Fazer escalda-pés (colocar os pés imersos em água quente, com sal grosso e ervas
aromáticas por 10 minutos antes de dormir).
PENSAMENTO
PERCEPÇÃO
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INTUIÇÃO
21
GOSTO NÃO GOSTO
F
A
Ç
O
N
Ã
O
F
A
Ç
O
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PENSAMENTO CRIATIVO E PENSAMENTO REPETITIVO
"Penso 99 vezes e nada descubro.
“Deixo de pensar, mergulho no silêncio, e a verdade me é revelada”.
Einstein
VER MELHOR
Todo olho tem um "ponto cego", portanto cada um de nós tem uma das quatro funções
dos captadores do TODO menos ativada. Precisamos saber qual delas é menos desenvolvida,
para saber onde estamos deixando vazar energia.
Fazendo pausas, rupturas. A pausa nos tira do repetitivo e nos capacita a ver melhor.
A pausa nos tira da morbidez, do apego, da inércia.
Quando o cliente busca a terapia, ele geralmente chega com algo repetitivo, algo mórbido
e apegado que é o seu SINTOMA. Assim, o terapeuta sistêmico entende que aí tem um mal
maior escondido, que é um ponto cego para o cliente.
O terapeuta precisa criar uma pausa nesse PENSAMENTO DESARTICULADO do cliente e
mudar a direção da "prosa" (dar uma volta de 180º). O terapeuta introduz o novo, o inédito, o
inusitado, usando metáforas, analogias, imagens, exercícios, fotos e tantos outros recursos,
como forma de ajudar o cliente a fazer uma pausa em seus pensamentos padronizados,
repetitivos e sem saída. E, assim, introduz uma nova forma de ver a situação.
PENSAMENTO CRIATIVO
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PENSAMENTO REPETITIVO
Nós não nos identificamos com o nosso corpo. Nós nos identificamos com o nosso
pensamento. Assim, usamos mais o pensamento e ficamos “pobres”, dissociados,
iludidos.
Desde os tempos de Newton, Descartes e depois com a revolução industrial, o homem
vem ficando cada mais vez mais deslumbrado com o pensamento mecanizado. Isso
porque o pensamento mecanizado, linear é mais econômico e rápido, levando-nos à
inércia e à padronização. Quanto mais intelectualizada for uma pessoa, mais
“preguiçosa” no aspecto físico, ela é.
Pensamento desarticulado é apegado, vê sempre do mesmo jeito (ponto cego). Ele
não acompanha o momento, não é ao vivo e em cores. É igual macaco. Pula de galho
em galho, pra frente, pra trás.
O corpo é que nos dá presença, de estar onde devemos estar. E o centro da
presença é a respiração.
Pensamento repetitivo é ladrão de alegria. Contrai a respiração, vem angústia.
Observação: o ponto da angústia pela Medicina Tradicional Chinesa, localiza-se na
altura do osso esterno.
Achamos que somos o que pensamos. Isso não é verdade, porque pensamos de forma
repetida, como a nossa família, a nossa cultura (valores, regras). Temos padrões de
funcionamento pensados pelo nosso contexto familiar, social, etc. É repetição, é
inércia, é pensamento desarticulado. Não é criativo.
Pensamento não quer saber do REAL, embora uma das funções dele seja facilitar o
contato com o TODO, o REAL. Pensamento quer saber de ILUSÃO, de parte. Ex: a gula
não vem do corpo, vem do pensamento. Ou seja, o corpo nos dá noção do REAL e o
pensamento pode nos levar para a ILUSÃO.
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O PROCESSO CRIATIVO
"Meu conselho aos jovens em começo de carreira é que procurem perceber o simples contorno
das grandes coisas com espírito aberto, desarmado e sem preconceito."
Hans Selye, Físico.
Para essa ideia ficar mais simples de ser apreendida, proponho o seguinte exercício:
Há cinco perguntas listadas abaixo.
Se você praticou qualquer uma das atividades apresentadas em cada questão, assinale ao
lado da pergunta.
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4. ALGUMA VEZ VOCÊ...
- Vendeu ou comprou alguma coisa por telefone ou internet?
- Esteve envolvido em esportes de competição?
- Abriu um negócio (empresa, loja, escritório, consultório, etc.)?
- Negociou um contrato (de trabalho, de aluguel, de compra e venda etc.)?
- Participou de alguma encenação ou peça de teatro?
Agora uma chance para você se avaliar em cada papel criativo (Explorador, Artista, Juiz,
Guerreiro):
Agora, tão importante quanto conhecer os papéis, é saber quando entrar em cena:
senso de oportunidade é fundamental. Usar determinado personagem na hora errada - como
o juiz para garimpar informações ou o artista para pôr uma ideia em prática - é incoerente. É
como dirigir em marcha ré numa via expressa. Quem entra com a personagem errada na
hora errada não vai longe. Logo, preste atenção ao tipo de pensamento adequado a cada
situação e só então assuma o papel.
Algumas pessoas são tão apegadas a um tipo de personagem que acham difícil mudar
de papel. Isso pode ser desastroso para seu desempenho criativo.
Exemplo: se você ficar preso ao papel de explorador, talvez jamais consiga extrair uma
ideia das informações que colher. Se aderir ao artista, gastará todo o seu tempo inventando e
reinventando sua ideia, sem nunca sair do lugar. Se vestir sempre a toga do juiz, vai inibir o
artista e ficar pesando suas ideias durante tanto tempo que, quando decidir, será tarde
demais. Se incorporar o guerreiro, que é louco para ver as coisas funcionando, irá agir sem
antes saber se os outros personagens deram conta de suas funções devidamente.
O TERAPEUTA SISTÊMICO
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PENSAMENTO LINEAR, SISTÊMICO E COMPLEXO
Recapitulemos:
O pensamento linear, ou linear-cartesiano, é a tradução atual da lógica de Aristóteles. Trata-
se de uma abordagem necessária (e indispensável) para as práticas da vida mecânica, mas
que não é suficiente nos casos que envolvem sentimentos e emoções. Ou seja, não é capaz de
entender e lidar com a totalidade da vida humana.
O pensamento complexo resulta da complementaridade (do abraço, como diz Edgar Morin)
das visões de mundo linear e sistêmica. Essa abrangência possibilita a elaboração de saberes
e práticas que permitem buscar novas formas de entender a complexidade dos sistemas
naturais e lidar com ela, o que evidentemente inclui o ser humano e suas culturas. As
consequências práticas dessa visão bem mais ampla são óbvias.
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ALGUNS PRINCÍPIOS DO PENSAMENTO COMPLEXO
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PARTE 2
ABORDAGEM SISTÊMICA
“O ser humano tem um jeito de ser. Nunca vai deixar de ser humano.”
Zélia Nascimento
A NATUREZA HUMANA
Fonte: Curso Zélia Nascimento
Belo Horizonte, MG.
Paulo Leminsky
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3. TENDÊNCIA À INÉRCIA
O termo inércia, da 1ª. Lei de Newton diz: existe na natureza uma tendência de não se
alterar o estado de movimento de um objeto, isto é, um objeto em repouso tende
naturalmente a permanecer em repouso. Um objeto com velocidade constante tende
a manter a sua velocidade constante.
Homeostase estática é um termo usado em Terapia Familiar Sistêmica, sobre uma
disfunção do ciclo de vida familiar – muda-se o ciclo vital, mas tudo é feito pelo
sistema familiar para se autorregular e manter o “clima”.
Acomodação: a vida busca evolução, mas o ser humano busca acomodação.
A conclusão é que o ser humano tem dificuldades com mudança.
O terapeuta sistêmico deve prestar atenção ao pedido de ajuda do cliente, quando o
cliente chega ao consultório, falando de sua queixa, está implicitamente dizendo:
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6.QUER TER RAZÃO E PODER
Uso excessivo do pensamento de causa e efeito (o porquê).
Uso do pensamento trágico – sem saída – rigidez, perfeição, vaidade.
Uso do pensamento dramático – uso abusivo das emoções, para manipular e ter
razão. A emoção é objetiva, porque é externa, é ação. Desastres, tragédias, perigos,
abusos, pecados são mais interessantes (filmes, novelas, jornais).
Existem os “construtores” dos dramas e tragédias e existem os “cuidadores” dos
dramas e tragédias (jornal, revistas, polícia, igrejas, psicólogos, assistentes sociais,
médicos, governo...).
O ser humano em geral, não busca ser feliz, busca ter razão e poder.
O ser humano troca suas relações amistosas, em geral, por relações de poder ou de
disputa de poder: entre marido e mulher, entre o cliente e o terapeuta, etc.
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SER HUMANO É DIFERENTE DE SER HUMANO
EM PROCESSO DE HUMANIZAÇÃO
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"Se a psicoterapia deve ser realmente um
encontro humano, ela requer um terapeuta que
tenha retido a capacidade de ser uma pessoa.
Eu considero um guia básico para meu
papel profissional o de maximizar o crescimento
de todos os envolvidos no processo terapêutico,
inclusive o meu próprio. Talvez antes de tudo, o
meu próprio...
Minha capacidade de ser real, de estar vivo
durante a sessão, de responder de forma pessoal
é a essência do que eu tenho para oferecer..."
Carl Witacker
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PARTE 3
A PESSOA DO TERAPEUTA
“Como é por dentro outra pessoa
quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
com que não há comunicação possível,
com que não há verdadeiro entendimento.
Nada sabemos da alma
senão da nossa;
a dos outros são olhares,
são gestos, são palavras,
com a suposição de qualquer semelhança no fundo.”
Fernando Pessoa
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Ao cliente deve ser comunicado que terapeuta e terapia também têm seus limites
(não tem soluções mágicas) e que há regras básicas para o trabalho acontecer (um
contrato terapêutico).
O terapeuta precisa lembrar que o ser humano é paradoxal. Ele deve perceber as
diferenças entre PRECISAR E DESEJAR: ou seja, precisar e não desejar terapia poderá
ser um grande impasse terapêutico.
O terapeuta trabalha com as expectativas próprias e as do cliente, evitando
frustrações e desistências. Tem noção de responsabilidade compartilhada e sabe que
o processo evolutivo é cheio de recaídas - Cristo que é filho de Deus, caiu 3 vezes...
O terapeuta sistêmico tem dor e sofrimento, mas sabe a diferença entre um e outro.
Sabe que dor passa, mas sofrimento não, porque é algo ligado à forma de como se
pensa sobre um fato. O sofrimento está ligado ao pensamento de importância e
orgulho ferido, sem humildade com a vida. É algo da natureza humana.
O terapeuta sistêmico tem compaixão tanto com a dor, quanto com o sofrimento.
O TORNAR-SE TERAPEUTA
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QUAL O SEU ESTILO COMO TERAPEUTA?
Um terapeuta poderá fazer várias formações, estudar várias abordagens, ter mestres e
supervisores, mas não poderá ser apenas uma cópia.
Quando estiver em frente ao cliente, precisará ter movimento próprio, ser criativo,
pensar com a própria cabeça e sentir com o próprio coração.
Abaixo, algumas perguntas para reflexão:
Quais são as escolas e teorias que você usa como modelos?
Você consegue localizar, dentro dessas escolas e modelos, o seu ponto original?
Você confia ou desconfia de você como terapeuta?
O ser humano pode ter vários tipos de relações, algumas delas são:
a. Viva - onde duas pessoas interagem com vivacidade, fazem trocas, aprendem,
ensinam, doam, recebem. O sentimento entre as pessoas é de gratidão.
b. Morta ou relação de co-dependência - onde tem um “morto”, desvitalizado,
pesado, inerte, doente, problemático e um outro que se faz de vivo e que o arrasta.
O terapeuta precisa prestar atenção para não ser o “vivo” que arrasta morto,
criando uma relação de poder.
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c. Combativa ou tóxica - relação com disputa de poder, que também pode surgir
entre terapeuta e cliente.
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PARTE 4
O ENCONTRO TERAPÊUTICO
A pessoa do terapeuta precisa "contar consigo"
muito mais e muito além das técnicas!
Carl Witacker
UM ENCONTRO HUMANO
Texto organizado a partir do livro:
Dançando com a Família
Carl Witacker
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O processo terapêutico basicamente acontece em torno de pessoas e relacionamentos
e não de técnicas interventivas, compreensões teóricas e direções para alívio de sofrimentos.
Para que o terapeuta possa ser útil à família, a busca deve ser de instrumentalizar o
encontro terapêutico. Ou seja, o terapeuta utiliza as cenas formadas durante as sessões para
atingir os elementos envolvidos no jogo de maneira significativa.
A família, ao procurar a terapia, já fez a distribuição de cargos e títulos e tem uma
consciência do caminho para a solução dos impasses a serem trabalhados. Também já
existem culpados e vítimas, já há um quadro de responsabilidades e danos e todos os
envolvidos no jogo viciado que os mantém aprisionados.
A ótica do sistema familiar precisará ser alterada, a família precisa poder enxergar a si
e aos seus relacionamentos de novas formas, sua "comodidade" deverá ser perturbada para
que o crescimento aconteça num movimento crescente, contínuo e contagiante. Somente
através da coragem de tentar "viver" uma mesma situação de outra maneira é que o esforço
do desenvolvimento será acionado.
Um terapeuta sem coragem terá dificuldades para provocar o potencial de expansão
de um sistema em tratamento. Quando a pessoa do terapeuta se intimida para pressionar,
provocar, instigar ou até mesmo convidar a família a identificar os sentimentos gestados na
sessão(repetições dos padrões familiares vividos fora do consultório), o sistema de crenças
que estará sendo validado é que o terapeuta escolheu decidir pela família por acreditar que
ela esteja demasiadamente adoecida para decidir , mover-se e progredir.
A pessoa do terapeuta, que tem recursos pessoais para indicar caminhos para
evolução, precisará conter-se para não invalidar os recursos e habilidades que a família
possui para ativar a sua fórmula particular de se curar.
Segundo Witacker ajudar, não ajuda! Um dos desafios do terapeuta é não aceitar a
força, a grandiosidade, a sabedoria e condição de cura que a família deposita nele. Se aceita
por ele, tal condição colocará a família na posição de incapacidade de mover-se e de
incompetência para treinar “o se cuidar".
Só há crescimento real quando família e terapeuta interagem vivamente: o confronto
e o apoio se alternam, as pessoas relacionam e "vêm" o relacionamento acontecer.
41
FOT – Família de Origem do Terapeuta
42
A terapia sistêmica baseia-se num processo integrado da pessoa do terapeuta e de suas
habilidades técnicas. No trabalho clínico o terapeuta tem em sua pessoa o mais rico
instrumento de trabalho. É útil ao terapeuta voltar-se para seu genograma, examinando
como seus modelos relacionais e o lugar que ocupou em sua família de origem interferem no
posicionamento frente a cada família e a cada cliente que atende.
Murray Bowen organizou sua Teoria Intergeracional dando destaque ao tema da
família de origem do terapeuta. Em 1967, em congresso realizado na Filadélfia, apresentou
um trabalho a respeito da própria família de origem, surpreendendo a comunidade científica
presente. Ele verificou que os terapeutas que tinham mais êxito na clínica eram os que mais
haviam trabalhado as próprias famílias, pois estavam mais diferenciados das histórias das
famílias dos clientes. Reconhecendo como a própria vida do terapeuta afeta e é afetada pela
terapia que está conduzindo, com respeito aos seus problemas não resolvidos, transformou a
debilidade do terapeuta em um instrumento útil para a condução da terapia.
O terapeuta sistêmico, quando trabalha sua família de origem, passa a reconhecer com
mais clareza e prontidão a ressonância provocada nele pela interação com as famílias que
atende. Seu “eu pessoal” torna-se uma ferramenta para seu “eu terapêutico”. O que o seu “eu
pessoal” registra e vivencia na terapia informa seu “eu terapêutico” sobre as experiências
que o cliente vive na família dele.
A resolução de algumas questões fundamentais, que o trabalho com a família de
origem do terapeuta promove, contribui para humanizar sua experiência e sua formação,
pondo destaque na sua capacidade de reconhecer a riqueza, diversidade e capacidade das
famílias.
O trabalho clínico está repleto de desafios pessoais para os terapeutas. O terapeuta
sistêmico, ciente da interdependência existente entre o técnico e o pessoal, evolui quando
integra o conhecimento da sua família de origem à habilidade técnica, propiciando a si
próprio uma experiência de crescimento compartido.
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PARTE 5
O PROCESSO TERAPÊUTICO
"A noite é escura e estou longe de casa,
guia-me até lá..."
PAPEL E FUNÇÃO
Terapeuta (papel) e terapêutico (funcionamento)
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PRIMEIROS CONTATOS – entrevista telefônica
Criada pelo Grupo de Milão (Palazzoli, Prata, Boscolo e Cecchin), a entrevista telefônica
pode ser usada para colher dados, trabalhar o pedido de terapia, fazer levantamentos de
hipóteses e criação de estratégias para a primeira sessão.
Quando o cliente liga marcando a sessão, se não for possível naquele momento fazer
uma entrevista telefônica, pode ser solicitado ao futuro cliente, um horário adequado para
que possam falar melhor sobre o pedido de terapia.
1. O TERAPEUTA INVESTIGA
quem encaminhou ou como esse cliente chegou até a terapia;
há quanto tempo recebeu o encaminhamento ou indicação;
quem fez o pedido (por exemplo, telefonou para marcar);
para quem é o pedido de ajuda;
há quanto tempo o problema ou sintoma se apresentou;
que tipo de ajuda já foi providenciada;
quais os resultados obtidos;
investiga quem está disposto a vir à sessão (individual, casal ou família).
2. PERTINÊNCIA À TERAPIA
O terapeuta também faz uma avaliação do grau de pertinência à terapia.
Exemplo: se foi o médico ginecologista quem encaminhou, pode significar que o
pedido de ajuda é do médico, não do cliente que ligou. Assim é necessário avaliar qual
o real desejo ou interesse dessa pessoa em fazer uma psicoterapia.
3. LEVANTAMENTO DE HIPÓTESES
A partir dessa breve entrevista telefônica, o terapeuta começa o processo de
levantamento de hipóteses, usando de perguntas (não direcionadas ao cliente) como:
- para que a pessoa/casal/família me procurou? O que ela quer? O que ela não
quer? Para que esse cliente criou esse sintoma, esse problema? O que poderia
ser pior na vida dele, ou do casal, família, do que esse problema ou sintoma?
Para a primeira sessão do consultório, o terapeuta usará de hipóteses que serão
incorporadas ou descartadas.
O processo de “hipotização” é ininterrupto e não tem certo ou errado, bom ou ruim.
São possibilidades de ver de outra forma a problemática apresentada.
A ENTREVISTA INICIAL
1. LEVANTAMENTO DA QUEIXA
O terapeuta não pode ficar preso somente a histórias (quando, desde quando, etc.) e
sim, perceber as "nuanças": como o cliente fala, qual o tom dado à história, o gestual,
etc. Melhor dar valor a essa comunicação não verbal, porque é daí que surgirão
"pistas" do funcionamento inconsciente do cliente.
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2. CIRCULAÇÃO DA QUEIXA E AMPLIAÇÃO DO FOCO
Fazendo perguntas sistêmicas, como por exemplo:
O que significa para você ser depressivo ou ter depressão (linguagem do cliente) ou
estar deprimido (linguagem do terapeuta sistêmico)?
Quem mais no seu sistema apresenta esse sintoma?
Quem é o seu contra ponto? Se você está deprimido, quem está na euforia?
Quais os tratamentos que você já fez? Teve melhora ou piora?
Se você melhorar, o que de pior pode acontecer na sua vida?
DEFINIÇÃO DE OBJETIVOS
CONTRATAÇÃO
Fazer um contrato de trabalho verbal com o cliente: quem participará das sessões; o
número de sessões (se for o caso); negociações financeiras; de férias; de faltas, etc.
Em alguns casos poderá haver contrato de trabalho por escrito, como por exemplo,
com crianças que estão sob responsabilidade não legal de outro.
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A REMUNERAÇÃO DO TERAPEUTA
A ESTÓRIA DO CALDEIREIRO
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INTERVALO ENTRE AS SESSÕES
O intervalo entre as sessões deve ser de no mínimo 15 dias entre uma sessão e outra,
para terapias individuais e casais. Para terapia familiar poderá ser de um mês entre
uma sessão e outra.
O objetivo do intervalo maior é o cliente (seja individual, casal ou família) ter um
tempo para rearrumar emocionalmente e relacionalmente o que foi aberto e
circulado na sessão presencial. Se a sessão acontecer em um intervalo curto de
tempo, corre-se o risco de se tornar um lugar de queixas ou de narração de fatos.
FASE DIAGNÓSTICA
O terapeuta sistêmico utiliza, além do verbal, vários outros tipos de recursos e tarefas.
Tarefas – tem como principal função “espichar” a sessão terapêutica fazendo com
que o conteúdo trabalhado em consultório possa ser experimentado na vida prática,
além de auxiliar a aprendizagem feita pelo cliente naquele momento.
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INTERVENÇÕES SISTÊMICAS
“Seja implacável, mas encantador.
Seja esperto, mas simpático.
Seja paciente, mas ativo.
Seja doce, porém, letal.”
Castaneda
1. DESESTABILIZAÇÃO
O terapeuta deve localizar em que situação se apresenta aquele cliente, aquele
sistema: numa homeostase estática ou já desestabilizado, tentando voltar à
estabilidade. Caso estejam todos organizados para uma homeostase estática, o
terapeuta deverá criar uma forma de impactar, provocar, inventar inesperados,
promovendo uma “confusão” no sistema.
2. DIRETA OU DISCRIMINATIVA
Acontece quando se nomeia, às claras, o que está oculto, principalmente quando se
está trabalhando a individuação de uma pessoa.
Objetivo - organizar o individual.
O trabalho terapêutico nesses termos implica:
Discriminar “depositações” complementares e circulares, seja de papéis, seja de
funções na relação.
Reapropriação ou retirada da “depositação”: clarear, junto ao cliente, a sua
participação no jogo circular. Ex: machão e dondoca - aprisionados nesse papel
(tirar a etiqueta).
3. INDIRETA OU METAFÓRICA
Uso de histórias, metáforas, anedotas. Pode ser usada com quase todos os tipos de
clientes e em todos os períodos da terapia. O trabalho metafórico implica trabalhar
junto ao cliente a palavra-corpo, palavra-ação, palavra-poética. Esse trabalho
demanda do terapeuta: senso de humor; condição poética; riqueza de símbolos e,
sobretudo, capacidade de lidar com o imprevisto, de modo que ele possa ajudar o
cliente a lidar também com o inesperado.
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Outros exemplos: ser diferente não significa ser melhor ou pior; admirar alguém não
significa gostar de alguém; quais são as coisas de importância na vida do cliente e quais
são os valores de sua vida, por aí afora.
5. PARADOXAL
Este tipo de intervenção não deve ser usada com pacientes psicóticos e nem
adolescentes, porque já são naturalmente do “contra.”
A intervenção paradoxal é auxiliar para pessoas que tem uma comunicação muito
paradoxal – falam uma coisa e fazem outra.
Exemplo de intervenção paradoxal: com um casal que briga muito e que não sabe
nunca por onde começou a briga, ou porque brigaram, suas falas são muito
paradoxais. Dizem que querem paz, mas buscam a guerra todo o tempo.
Pode-se propor que não parem de brigar. Até que se consiga entender porque
brigam tanto, é importante que continuem a brigar. Também dar a tarefa de que
anotem dados sobre suas brigas: quando começaram a brigar, quem começou e como
começou. Mas que é muito importante que eles briguem várias vezes ao dia, para que
possa ser entendida e diagnosticada tal problemática.
Aqui o casal experimenta, em terapia, o próprio paradoxo: se eles brigarem, estarão
sendo obedientes ao terapeuta e contra aquilo que dizem buscar, que é parar de
brigar. Mas se pararem, também estarão indo a favor do terapeuta e da terapia e
contra aquilo que fazem, que é brigar. Um impasse é criado, podendo aparecer qual é
realmente a questão que a briga mascara.
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O cliente, por fim, aceita o convite para a mudança: a partir da ampliação da
consciência sobre sua história, o cliente passa a desejar a mudança (desejo é energia
que leva a buscar algo). Mas é preciso ter vontade (que é a força para a ação). Como
terapeutas, devemos lembrar que SEMPRE aparecerá o desejo de mudança e a
resistência à mudança.
Muito treino e atenção são necessários, da parte do terapeuta e da parte do cliente,
até que uma mudança aconteça, e seja incorporada ao padrão de funcionamento do
cliente.
Possíveis recaídas – a recaída é uma condição humana, assim terapeuta e cliente
precisam estar cientes disso. Cada pessoa tem o seu tempo, o seu ritmo.
O terapeuta deve estar preparado para fazer mudanças de rumos, ter senso de
oportunidade.
Atenção ao ritmo! Não “disparar-se”.
Pequenos passos enquanto se avalia o modo como o paciente anda.
Reavaliar hipóteses que não apresentam sentido;
Abandonar estratégias que não funcionam, porque aumenta a resistência ou a perda
de credibilidade aos olhos do paciente.
O TEMPO NECESSÁRIO
PLANIFICAÇÃO DE ATENDIMENTO
Planificar é muito importante para aplicar com eficiência a própria influência e ter
melhores resultados terapêuticos.
Se não se dedica à planificação o tempo necessário, diminuem notavelmente as
possibilidades de êxito e o tratamento se converte em uma aventura prolongada e
errática que acaba por definhamento. Ao examinar nossos próprios fracassos
descobrimos que o fator concreto mais decisivo tem sido a falta de uma planificação
do tratamento.
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Após os primeiros contatos, o terapeuta faz uma avaliação: - qual a inspiração para
esse caso? Qual a intenção do sintoma? Qual a ajuda que o cliente quer e de qual ajuda
o cliente precisa?
O terapeuta observa criteriosamente o enunciado do problema, porque, muitas vezes,
ele não corresponde à queixa do cliente ou aparece de forma vaga e imprecisa.
O terapeuta estabelece as soluções já tentadas pelo cliente: isso agiliza o processo,
pois não serão tentadas novamente da mesma forma. Fique atento ao investimento da
pessoa em cada uma das tentativas anteriores e na presente, com o objetivo de
canalizar seus esforços em uma única direção.
O terapeuta deve prever o que ocorrerá se a terapia não der certo. Exemplo: o cliente
ficar louco de verdade, não voltar à realidade com a evolução do sintoma. Ou mesmo
um psicótico, em potencial, suicidar-se por não conseguir unir o casal de pais.
Desde o início do processo terapêutico o cliente deve estar ciente das possíveis
recaídas que acontecerão durante todo o processo terapêutico. A recaída é uma forma
que o ser humano usa, para resistir ao processo de mudança.
O USO DA SUGESTÃO
Durante todo o processo, do início ao fim, o terapeuta deve prestar atenção ao vínculo
terapêutico, à resistência humana pela mudança (tendência à “inércia) e à pertinência
terapêutica.
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AVALIAÇÃO, ACOMPANHAMENTO E REDEFINIÇÃO DE METAS
É importante que o cliente saiba desde o início que ele pode parar o tratamento
quando quiser.
A terapia poderá ser interrompida também pelo terapeuta, caso perceba que
aconteceu uma contaminação, também se a terapia ou estilo de terapeuta estão
inadequados para aquele paciente ou sistema.
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PARTE 6
TERAPIA DA METÁFORA
Você presta atenção nas metáforas que o seu cliente usa na terapia?
Você está consciente de que as metáforas são formas de "capturar" o problema,
os sintomas, os sentimentos, pensamentos e crenças de um indivíduo?
Você já convidou o seu cliente para explorar e transformar as representações metafóricas;
e engajá-las na sua imaginação criativa?
Você já observou as mudanças que acontecem nessas breves intervenções?
Você já reparou que as imagens metafóricas borbulham quando você
está numa conversação com seu cliente ?
A Teoria da Metáfora não é uma nova escola de psicoterapia e sim uma forma de
intervenção. As diversas abordagens utilizam a metáfora, seja criada pelo cliente ou construída
pelo terapeuta para o cliente. Em todas elas a metáfora ocupa um lugar de destaque,
espelhando as imagens do "eu", da vida e das relações com os outros.
Todas as expressões e conceitos das teorias em psicoterapia são metáforas, explícitas ou
implícitas, um caminho que fala da própria experiência ou da representação mental de uma
experiência.
PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA
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PSICOTERAPIA JUNGUIANA
PSICOTERAPIA ERICKSONIANA
Milton Erickson foi o pioneiro no uso de estórias e anedotas como metáfora na terapia.
Sua abordagem difere das abordagens psicodinâmicas em função dos conceitos de
consciente e inconsciente.
A experiência inconsciente não é verbalmente expressa; os sintomas são vistos como
defensores e protetores e assim as intervenções paradoxais atuam, ao mesmo tempo, nos
níveis consciente e inconsciente.
Exemplo: ..."não abra mão das suas culpas, você precisa delas para compreender sua
esposa". (intervenção paradoxal).
As anedotas, as estórias e as metáforas ajudam o cliente na reflexão de suas ideias
enquadrando-as numa nova perspectiva. Contêm na sua estrutura alguma mensagem a ser
transmitida, uma aprendizagem, ou a dica da resolução da questão.
Quando a estória ou a anedota contêm essa intenção de instruir ou apontar algo para quem
ouve, ou o ouvinte "põe a carapuça" ao escutá-la, diz-se então que a estória ou anedota se
tornou uma metáfora para ele.
A comunicação indireta é o modo mais direto para se promover mudanças; uma leve, bela e
respeitosa forma de se chegar à compreensão do problema. É uma abordagem polida, de
múltiplos níveis, que inclui verbalizações que constroem um contexto no qual a pessoa acessa
recursos e percebe seus potenciais para mudar.
Metáforas são espelhos que refletem nossas imagens internas, imagens das nossas
relações interpessoais e das nossas relações com a vida. Elas podem se tornar a chave que abre
novas possibilidades para um eu criativo e para o "in-sight" (visão de dentro).
A terapia da Metáfora oferece um novo caminho para que o cliente consiga iluminar partes
dentro dele que estão obscuras e transformá-las. É um tipo de intervenção que vai enfatizar a
comunicação metafórica entre terapeuta e cliente.
Duas categorias de metáforas identificadas :
- Produzidas pelo cliente.
- Produzidas pelo terapeuta.
A IMAGINAÇÃO CRIATIVA
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2. Quando o cliente não consegue se aproximar das metáforas espontaneamente, o
terapeuta vai convidá-lo a explorar o tema através de perguntas.
Exemplo: Brincando um pouco com esse assunto, o que lhe parece isso? Você gostaria
de descobrir alguma coisa a mais sobre isso? Se você quisesse saber mais, como poderia
fazê-lo?
O objetivo é encorajar o cliente a criar imagens metafóricas.
IMAGENS METAFÓRICAS
Em todo o processo, o terapeuta somente vai ajudar o cliente a criar a narrativa das suas
próprias imagens.
Quando o cliente tem dificuldades para criar uma imagem metafórica ou não compreende
a questão e continua a responder literalmente ao invés de descrever a metáfora, o terapeuta
vai continuar a ajudá-lo com mais perguntas:
“Se eu (terapeuta) estivesse vendo...(metáfora) do jeito que você vê (ou com os seus olhos), o
que eu veria? Utilizando o mesmo exemplo acima: "Se eu estivesse vendo você batendo sua
cabeça contra a parede da forma como você vê (ou, se eu pudesse ver com os seus olhos), o que eu
veria?
Se o cliente não consegue ainda explorar a imagem, o terapeuta pode dizer:
“Posso dizer a você a imagem que me ocorre quando eu escuto você dizer isso (metáfora)”?
“O que eu vejo é uma parede de uns 5 metros de altura feita de tijolos e você correndo em direção
a ela, com a cabeça abaixada e depois batendo a cabeça, caindo no chão, levantando-se,
afastando, correndo novamente em direção à parede e repetindo o movimento. Você imagina
alguma coisa assim ou criou uma imagem diferente da que eu criei?”
Em seguida, o terapeuta convida o cliente a explorar a metáfora como uma imagem
sensória. A metáfora pode ser explorada nas seguintes dimensões:
Cenário: descreva a cena ou aspectos da cena associados a tal metáfora.
Ação/interação: o que mais está acontecendo na ...(metáfora), ou, o que as outras
pessoas estão falando, pensando, fazendo?
Outras modalidades sensoriais: o que você está escutando, tocando, provando, sentindo
(cheiros), etc.
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Tempo: o que levou você a ...(metáfora), ou , o que estava acontecendo justamente antes
(da situação da metáfora), ou o que aconteceu depois (da situação da metáfora) ?
Na prática, a exploração de uma ou duas dessas imagens sensoriais são suficientes para
o cliente desenvolver e iniciar a transformação da metáfora.
Uma vez que a imagem está bem explorada, o terapeuta convida o cliente a descrever os
sentimentos e experiências associados com a imagem metafórica.
O que isso...(metáfora) parece ser ? Ou, qual a sua experiência com tal imagem
metafórica? Qual seu sentimento?
Existem momentos em que é desejável que o terapeuta introduza uma metáfora no diálogo
terapêutico, principalmente com clientes que têm dificuldades para criá-las. Atento às imagens
que vão surgindo dentro dele, descreve para o cliente:
"Quando você estava falando sobre ...me veio uma imagem... Essa imagem se ajusta, ou cabe
na situação que você está vivendo ?
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No decorrer do trabalho, terapeuta e cliente desenvolvem habilidades empáticas na
construção de imagens e nas suas devidas transformações.
O CARTEIRO E O POETA
E por falar em metáforas, um filme que ilustra o tema é “O carteiro e o poeta”. O cenário
do filme é uma ilha isolada na costa italiana onde o poeta Pablo Neruda curte exílio político.
Nasce a amizade entre um carteiro e o poeta. Duas pessoas tão diferentes, de lugares
diferentes, mas o que os une é a palavra.
Na praia, Mario – o carteiro e Pablo Neruda – o poeta, conversam. Pablo recita para
Mario um poema que acabara de fazer e fica pasmo com a observação do jovem de que
sentira algo estranho ao ouvir os versos. Logo depois, se encanta com a sensibilidade do
rapaz, quando este observa o ritmo das palavras semelhante ao vaivém das ondas que o fez
sentir-se como “um barco batendo entre as palavras”. Mario faz metáforas sem se dar conta e
não consegue entender como é possível criá-las sem ter tido a intenção. A ele escapa que as
imagens chegam espontaneamente e é a intenção o que menos importa ao poeta.
A partir desse momento, carteiro e poeta são dois homens definitivamente envolvidos
com palavras – um que as conduz e outro que as produz. Na realidade, o que torna uma
palavra metáfora é o que o poeta é capaz de fazer dela.
Para Mario é tudo muito novo e instigante e o resume na pergunta: – “O mundo inteiro é
então metáfora de qualquer coisa?” A pergunta cala o poeta que promete pensar, para
respondê-la no dia seguinte. Nesse diálogo, Neruda sintetiza a essência do poético enquanto
Mario o desafia a não abandonar a dialética da questão.
Assim é a relação entre o terapeuta e o cliente – um encontro de palavras, de
sentimentos, de imagens, de sons, de cores, de movimentos. E uma nova poesia poderá ser
produzida pelos dois.
61
PARTE 7
PENSAMENTO CRIATIVO
"Não basta olhar e ouvir o cliente.
É preciso construir em parceria (terapeuta e cliente),
soluções criativas para as suas necessidades.”
Carl Witacker
TÁTICAS
Uso de intervenções sistêmicas e recursos dinâmicos (tarefas, filmes, livros, rituais, etc).
O terapeuta enquadra as sugestões, prescrevendo as tarefas dentro do contexto da
pessoa. Ou seja, “vende a tarefa proposta.” Contextualizadas as tarefas, cabe ao
terapeuta criar o clima necessário para que o cliente as cumpra. Há pessoas que
desafiam o terapeuta ou se esmeram em colocá-lo em situação ridícula. Seria
interessante prescrever a tarefa sem nenhuma ênfase. Para pessoas que “escorregam”
das tarefas, pedir que façam uma lista de todas as formas nas quais acreditam como
possíveis manobras para o fracasso da mesma.
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PERGUNTAS SISTÊMICAS
Quando o terapeuta faz uma pergunta sistêmica, ele não tem uma resposta pronta ou
espera que o cliente dê aquela resposta que ele pensou. São perguntas que abrem, tanto
para o cliente quanto para o terapeuta, novas possibilidades e formas de se pensar a respeito
do que está sendo apresentado e vivido.
Assim, a pergunta sistêmica se abre também para novas perguntas. Como a agulha que
puxa a linha e a linha que puxa a agulha.
Exemplo: No ápice da briga de seus pais, você disse que “enlouqueceu”. Era sua única
alternativa fazer esse papel de doida? Se não era a única alternativa, que outra opção você
teria?
O trabalho com fotografias é muito rico, porque desde o momento em que o terapeuta pede
ao cliente para trazer fotos para a próxima sessão e até acontecer a procura e a seleção das fotos,
é criado um clima de revivências, com possibilidades de mobilizar percepções, sentimentos e
catarses.
Já no consultório, tanto o terapeuta quanto o cliente, podem visualizar através das fotos
selecionadas várias situações, contextos e épocas representativos da sua vida.
Ou seja, o psicoterapeuta faz um melhor diagnóstico do caso e o seu cliente terá várias
percepções e conscientizações, sem precisarem muita força ou resistência.
Além disso, esse trabalho facilita o vínculo terapêutico.
Pode ser feito de várias maneiras, dependendo do objetivo a ser atingido.
Pedir cerca de 15 a 20 fotos ao seu cliente - qualquer tipo de fotografia que ele tenha:
família, festas, infância, amigos, formatura, viagens, para a 2ª sessão.
Objetivo: auxílio no diagnóstico inicial; contextualização; facilitar o vínculo terapêutico.
Através desse trabalho, o terapeuta poderá se inteirar melhor do contexto (individual,
social, familiar, profissional, afetivo, espiritual) que o seu cliente está inserido. É possível,
através desse trabalho, o terapeuta perceber áreas mais disfuncionais, questões relacionais, etc.
Execução: O cliente vai apresentando as fotos para o terapeuta, que as distribui em grupos
diferentes, de acordo com o que está fotografado e seu contexto (individual, social, familiar,
afetivo, profissional, outro).
Observações:
- O clima deve ser leve e agradável, sem a preocupação de dar um retorno para o
cliente do que foi apresentado no trabalho de fotografias.
- Peça ao cliente para levar fotografias em papel, impressas, para que sejam
manuseadas.
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Apresentação das fotografias
As fotos poderão ser apresentas e colocadas sobre uma mesa ou no chão.
GENOGRAMA FOTOGRÁFICO
Pedir fotos de família (pode ser um número indeterminado). Esse trabalho poderá ser mais
prolongado e ser feito em mais de uma sessão.
Objetivo: auxílio no diagnóstico sobre o sistema familiar do cliente. É também muito eficiente
como catarse de sentimentos relacionados à família, à sua origem, à sua infância, à adolescência,
etc.
O cliente também vai apresentando as fotos para o terapeuta, que se preocupa em saber mais
a respeito da história daquela foto e das pessoas fotografadas (quando se deu a foto, quem são
as pessoas, como elas funcionam na vida, qual é o seu papel e função na família, etc.
É muito importante deixar o cliente contar a sua história. Nesse momento, o terapeuta
poderá ouvir mais, de uma maneira acolhedora e interessada.
O terapeuta estará atento às associações livres que surgirão no momento de execução dessa
tarefa.
Quando aparecer casal e/ou pai e mãe: se há gente no meio em várias fotos do casal;
quem busca quem (quem está querendo a relação).
Só há fotos familiares em situações de rituais? Há foto da família em situações mais
espontâneas?
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Observação: Há famílias mais antigas ou com situação financeira difícil para as quais,
realmente, só era possível ter fotos em situações especiais como batizados, casamentos,
formaturas.
Quem sempre está no meio das fotos? São as pessoas que aparecem para esconder
outros que não apareceram?
Quem sempre está nas margens das fotos? Qual o poder sutil dele no sistema familiar?
Quem sempre fica atrás e quem sempre fica na frente? Tem menos ou mais poder na
família?
Quem nunca aparece nas fotos (e o cliente justifica que essa pessoa não gosta de ser
fotografada ou que essa pessoa foi que "tirou a foto")? Essa pessoa tem sentimentos de
não pertencer à família? Quem fica sempre em posições opostas, são rivais ou até
inimigos?
Quem fica sempre perto de quem? São aliados ou cúmplices?
Verificar as fontes de poder, exemplo: pai ou mãe com determinado filho.
Observar a função da 1ª geração (avós) nessa família.
Como é a hierarquia nessa família - rígida, flexível, quebrada? Exemplo de rigidez: na foto
aparecem os irmãos enfileirados por ordem cronológica.
É um sistema familiar aberto ou fechado? Se for aberto, permite fotos com outras
pessoas; se é fechado, nunca há pessoas "de fora".
Qual a posição das mulheres nessa família? Por exemplo, encostadas em alguém ou, ao
contrário, segurando alguém.
Qual a posição dos homens nessa família? (Idem a anterior)
Observar a expressão facial e corporal para perceber a expressão da afetividade (amor,
raivas, ciúmes, medos, culpas, etc).
Quem busca o olhar de quem?
Quem se afasta de quem?
Quem segura quem?
Pedir ao cliente para fazer, em casa, um painel cronológico de fotos, onde o foco seja ele
mesmo.
Objetivo: ajudar o cliente a construir a sua história, assim ele poderá perceber padrões
repetitivos, fatos excluídos em determinadas épocas, como processa seus ciclos vitais, mudanças
significativas, tendências à permanência, etc.
O trabalho com fotos pode ser expandido para várias áreas, como por exemplo:
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Terapia individual (tanto de homens como de mulheres) - pedir fotos de mulheres ou de
homens da família e das relações sociais para poder observar padrões de interações,
papéis e funções.
Fotos de viagens, de festas, de eventos mais atuais, nas quais o terapeuta e o cliente
poderão juntos perceber mudanças significativas com o processo psicoterapêutico.
Observações:
O terapeuta precisa tomar o cuidado para não tornar-se somente um investigador ansioso
por informações. O trabalho com fotos só se torna eficiente se o terapeuta interagir com seu
cliente e realmente se interessar pelas suas fotos, sua vida. E também, se através dessas
informações e entendimentos obtidos, ajudar o seu cliente a fazer redefinições e reformulações
significativas em sua vida.
Por exemplo, se o terapeuta percebe que, no trabalho de fotos para diagnóstico inicial, o
cliente não traz fotos do grupo social (mas não chega a ser uma questão muito séria), poderão
ser lançadas a partir daí, sugestões ou tarefas como: ligar para amigos, inscrever-se em cursos
para conhecer pessoas, etc.
Quando o cliente traz para o consultório sua colagem de nomes, ele deve apresentar
ao terapeuta dando suas explicações do porque escolheu aquelas imagens. Mas o
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terapeuta vai prestar atenção na sutileza da sua fala, do que se repete nas imagens, o
que falta, o que sobra, o que é harmônico, o que é desarmônico, etc.
Cabe ao terapeuta ajudar o cliente a ir buscando, naquelas colagens, o inconsciente
familiar manifesto nas imagens.
4. OS PARADOXOS
Partindo do princípio de que o ser humano é paradoxal, mas que não tem consciência
disso, o terapeuta pode propor um trabalho de colagens. Como por exemplo: você fala
muito de coisas que precisa fazer, mas nunca fala do que deseja. Faça uma colagem de
imagens de coisas que precisa fazer e de coisas que deseja fazer e traga para a
próxima sessão.
Esse trabalho poderá ajudar o cliente e o terapeuta a ampliar a visão sobre a confusão
que o cliente faz entre prazer e dever.
É uma tarefa para inúmeras possibilidades.
Para muitos clientes, falar o que sentem, ou perceber o que estão sentindo é muito
complicado. Uma tarefa interessante para se trabalhar com adolescentes, jovens, intelectuais
é propor que pensem em uma música de que gostem muito e pedir que levem a letra e o cd,
pendrive ou outra tecnologia com essa música.
É importante que sejam músicas em língua de dominância do terapeuta e do cliente.
Em sessão, terapeuta e cliente escutam a música e o cliente fala sobre a “história” dela
na sua vida. O que traz de recordação ou porque está escutando muito, desde quando, etc.
Em seguida, passa-se a perceber o ritmo da música – acelerado, melancólico, lento, triste,
alegre, agressivo, etc. A letra e o símbolos que aparecem também serão observados.
O trabalho com a música é um pouco semelhante à interpretação de um sonho. Os
símbolos e metáforas “saltam” da letra e poesia com as quais o cliente se identificou.
A música escolhida pode estar falando de uma história que o cliente ainda não contou;
pode estar falando de uma tristeza ou luto com que ele não faz contato; pode estar falando
de expectativas que tem para o futuro e assim por diante.
RECURSOS DIVERSOS
Escrever cartas para pessoas significativas (podem ser guardadas por um tempo e
depois queimadas).
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Escrever uma historinha infantil com início, meio e fim, com no mínimo 20 linhas,
usando a mão esquerda (para quem é destro e direita para quem é canhoto).
Fazer a própria declaração de óbito (obituário).
Tarefas para casa - toda tarefa deve ser escolhida de acordo com o contexto e com um
objetivo a ser atingido, podendo ser: desestabilizadora, reorganizadora ou
estimuladora.
Exemplos :
Assistir a filmes.
Ler livros.
Fazer mudanças de percursos.
Fazer mudanças no ambiente (quarto, casa ).
Cuidar de uma plantinha escolhida pelo próprio cliente (saber a
respeito da planta, como se cuida, significado do nome, etc). A planta
pode ser apelidada pelo nome do cliente.
Fazer a escolha de um presente para se dar.
Fazer pesquisas sobre nomes, histórias familiares, etc.
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“EU QUASE QUE NADA NÃO SEI”
Depois de mais de 25 anos de trabalho como psicoterapeuta, desacelero o ritmo e faço
uma reflexão sobre minha profissão e principalmente sobre minha atuação profissional.
Não estou questionando os meus psicoterapeutas, porque eles fizeram e fazem o
melhor por mim.
Sou muito grata a essas pessoas que me acolheram, me questionaram, me instigaram,
me informaram e me auxiliaram a ampliar minha consciência.
Eu estou questionando a minha profissão, sim, mas sentada na cadeira do
psicoterapeuta.
E eu?
Será que consigo estar saudável e ser útil em minha profissão?
Já atendi “esquilhões” de pessoas e acredito que muitas delas não saíram "melhores" de
meu consultório.
Também sei que muitas saíram insatisfeitas com minha atuação, esperavam mais de
mim ou imaginaram que eu faria algo de melhor para a vida delas.
E muitas pessoas que eu atendi, não consegui, sequer, entender o seu pedido de ajuda.
E outras, hoje eu entendo que, na verdade, não tinham nenhum pedido de ajuda...
Mas, na posição de psicoterapeuta, peço desculpas a muitas pessoas, por não ter
diferenciado o que era uma dor (sentimento) daquilo que era um sofrimento (pensação).
Sofrimento este de grande validade no jogo de poder que, imaginariamente, tinham com a
vida.
Posso entender hoje que "forcei a barra" para que uma mudança acontecesse. E posso
ter prejudicado muitas pessoas com essa minha equivocada ideia de ajuda.
Depois de refletir e sair da zona de (des)conforto em que me coloquei
profissionalmente - “o lugar do suposto saber” - concluo que durante muitos e muitos anos
eu realmente acreditei nessa ilusão.
Este foi o pior dos meus pecados profissionais.
Acreditar que eu deveria saber tudo.
E avançando mais na minha tolice, eu acreditava que deveria fazer tudo!
Ah! Essa vaidade humana, que me pegou de jeito.
Daí em diante cometer muitas tolices profissionais foi fácil.
Muitas vezes, me empenhei ao máximo em "resolver" problemas que meus clientes
(alguns profissionais chamam de pacientes) não tinham, ainda, o desejo de resolver, porque
não eram problemas, e, sim, resoluções inadequadas que criaram para outros problemas
(piores?) que eles não queriam enfrentar. Direito deles!
Até então, eu não entendia que problemas não existem. O que existe é uma forma
rígida de vermos determinada situação. Então, problemas para serem resolvidos, primeiro
devem ser solucionados - diluídos, solúveis, menos densos.
Também não entendia que, em geral, o sintoma é um mal menor para aquele sistema,
para aquela pessoa. O mal maior é outra coisa, algo mais vergonhoso ou talvez mais
trabalhoso que eu, como psicoterapeuta, não terei a menor ideia, caso meu cliente não me
permita acessar.
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Aqui me lembro de Riobaldo, personagem de Guimarães Rosa, em Grande Sertão:
Veredas quando diz:
“...Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa.
O senhor concedendo, eu digo: para pensar longe, sou cão mestre
- o senhor solte em minha frente uma ideia ligeira,
e eu rastreio essa por fundo de todos os matos.
Amém!"
Muito diferente de Riobaldo, a minha crença de que eu deveria saber tudo e não
desconfiar de nada, me deixou numa vaidosa acomodação e então eu "rastreiava" pouco.
Para que desconfiar, “rastreiar”, farejar, se criar alguma interessante hipótese a
respeito da questão do cliente, me deixava sempre no meu lugar de poder – o tal lugar do
"suposto saber"?
Eu treinava bem, estudava muito, lia todas as teorias e qualquer questão que chegava
em meu consultório , eu estava preparada e tinha uma boa resposta.
Realmente respostas não me faltavam, mas me faltavam boas perguntas, sistêmicas e
reflexivas.
Por fim, e já não era sem tempo, venho me desprendendo desse vaidoso lugar do
"suposto saber" e aprendendo que a primeira pergunta que devo fazer a uma pessoa que
entra em meu consultório é:
- EM QUE POSSO AJUDAR?
Ou variações em torno dessa pergunta, como por exemplo:
- Foi você que resolveu pedir ajuda ou foi alguém que disse que você deveria buscar
uma ajuda?
- Você é uma pessoa que pede ajuda?
- A quem você já pediu ajuda?
- Essa pessoa ou profissional que você procurou antes, conseguiu ajudá-lo (a) em
alguma coisa?
- Essa pessoa ficou lhe devendo alguma coisa?
- Se eu puder ajudá-lo (a), e eu não sei se posso, o que realmente seria uma ajuda válida
para você?
Quero assinalar que a palavra ajudar vem do latim adjutare, que também
significa prestar socorro.
Talvez essa seja mais uma das minhas confusões em prestar ajuda, porque muitas vezes
confundi ajudar com prestar socorro ou salvar.
Então, além de ocupar o "lugar do suposto saber", eu queria também ocupar o lugar
daquele que socorre ou que salva.
Talvez, assim, ganhasse mais poder e reconhecimento...
Eu acreditava que esses eram os melhores lugares para se ocupar no "show" da vida.
Aqui fica uma dica sugestiva para meus colegas que estão em início de carreira, com
tanto entusiasmo em ajudar e com a crença de que devem assumir o lugar do suposto saber.
Um psicoterapeuta saudável (e não uma babá) tem um importante papel de ajuda
sim. Mas é preciso entender bem o pedido de ajuda que o cliente faz. "Pense longe" e
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verifique se está diante de uma pessoa que está pedindo ajuda de fato e disposta a colaborar
com a própria melhora.
"Rastreie" bem a sua trajetória, por quais consultórios essa pessoa passou, buscando
entender se ela tem ou está disposta a desenvolver a humildade para pedir, a paciência para
esperar as coisas acontecerem, a tolerância em receber o que o outro pode oferecer, sem se
tornar uma pessoa devedora ou cobradora, mas grata.
"Desconfie" das pessoas que não fazem trocas.
Não é fácil, mas dependerá muito do nosso nível de compreensão da complexidade
das interações humanas.
Do meu lugar de psicoterapeuta, digo que valeu a pena cada coisa inadequada feita,
cada tolice cometida, porque os aprendizados aconteceram.
Não é o fim, mas é um bom começo.
Imagino que para muitos dos meus clientes, pode não ter valido tanto a pena. Na
minha condição humana, com direito sagrado de errar, peço desculpas se não favoreci o
crescimento e o amadurecimento de muitos.
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BIBLIOGRAFIA
1. Amyr Klink
Cem dias entre céu e mar – Ed. José Olympio
2. Beatriz Coutinho
Apostila do curso – Terapia da Metáfora
4. Jandira Masur
O quente pode ser frio – Atica Editora
7. Jeffrey Zeig
Seminários didáticos de Psicanálise de Milton Erickson – Ed. Imago
8. Joel S. Bergman
Pescando Barracudas – Ed. Artes Médicas
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