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A Gestalt-terapia desenvolveçse na metade

do século fi, quando existiam basicamenreduas


abordagens psicoterapêuticasj a psicanalítjca
ea
comporÌamental. Surgiu no âmbitoda psicologia
humanista, conhecida também comoTerceira Forca
ouMovimento prol
em doDesenvolvimento Humano
lHuman GrowtttMovement). Essa aboroagem psrco
lógicatrouxe umanova visãodohomem, enÍatizando
nã0apenas seusconflitos e dificuldades,
mastanì_
bémsuaspossibilidades e potencialidades.
A psicG
logiahumanista demaneira gerale a Gestalt-terapia
empartcular sãoinfluenciadaspelafenomeno/ogrã e
peloexistenciaiismo.
A íenomenologia procura esfudar a experiência
talcomoelaocorre, semreduziìa aseuscomponen
tes;é umaabordagem do conhecìmento baseada
emumadescricão imparcial daexperiêncja ímedia
ta.Busca conhecer osfenômenos pormeiodades-
cricão deles,examinando paraissoa experiêncìada
formacomoelaé percebida e compreendida pelo
. sujeìto. Eo estudo daquilo queaparece à conscìê+
cia,queé dado. ìratasedeexplorar a própria
coÍsa
quese percebe, evitando forjarhipóieses ouinter_
pretacoes. Segundo a Íenomenologia, nadapode
ì serdescrito semlevaremcontao olhardosujeito:
'ds suaintencionalidade.
s considerar
aquele
nã0apenas
quea conhece;
Paraconhecer algoe precrso
a coisaemsi,mastambém
é dessa Íormaquesepode
ï
teracesso à experiênciacomoelaocorre, domodo
\
comoé vivenciada.
\ lssotemimportantes consequências
l notabalfìo
l \ ^ ü
psicoterapêutico, ümavez que o que podeíamos
\ J < S chamar detealidade" sóexiste através daexperiêrÈ
quea úvencia.
N
! ^ \ ciadosujeito Assim, paraapreender
\J I ( \r a realÌdade dopaciente, o psicoterapeuta devesus-
çi'.- '-< pender julgamento
{ o próprio e a expeÍência pessoal
c\ tò) a respeitodascoisas (suspensão Íenomenológica),
S:--dr Lilianl'4eyer a
\-- Frazão fimdecompreender aquela pessoa queo procura.
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Pstc0ÌERAptÂs
I Gêstatr-rerapia

PorRafaelAlves
Lirna{reúsão
ténicã^exto:
LilianM.Frazâol
lq. .'..,.'

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PSIC0TERAPtAS
I Gesrôli_terèFià

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PSIC0TERÂPIAS
I Ge5rêlr-reràpiã
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EtortnauhÉ Ltxo
OgXìolNAL u
PSIC0TERAPIÂS
I Gestalr-reÍapiâ

0 processo
de ) Diferentemente da psicanálise, a fenome-
nologia náo concebe a consciência como uma
tomada.consciência, estrutura psíqrrica, e sitr. coír\o ter coflscíêncía
de alguma coisa. Para os fenomenólogos, ela
quedenominamos é sernpre a consciência de algo. O processo

awareness,é umdos de tomada de consciência- que denomina-


mos
'ãwareness"-
é um dos principais pila-
principais
pitares
do res do trabalho clínico em Gesralt-rerapia.
Quando essaabordagem terapêutica surgiu
trabatho
ctínico
em no Brasil preferiu-se, porém, maater a pala-

Gestatt-terapia vta awareness(ter consciênciade), para evi-


tar que íosse confundida corn o conceito de
consciência da psicanáÌise,
Corno dito anteriormenre, a psicologia
humanista também foi influenciada pelo
existencialismo - correnre Âlosófica que
enfatiza questóes ligadas à liberdaáe in-
dividual responsabilidade e subjetividade
do ser humano. Ou seja"concebeo hornem
como essencialmentelivre. Segundo o filó-
sofo existencialista francês Jean-Paul Sar-
tre (1905.-1980), o homem só não é livre de
não escolher. Portanto, liberdade impüca
escolha (mesmo que seja na forma de náo
escolha) e é iimitada pela situaçáo (dado
que o homem está sempre inserido em al-
guma, ele só pode escolher a partir dela).
Essa liberdade, da gual falam os exisren-
cialistas, implica também responsabilidade
pelas escolhas-
É de Sartre a ftase famosa: "Náo somos
responsáveis por aquilo que nos fizeram;
somos responsáveispot aquiÌo que fazemos
com o que nos Êzeram",que tem desdobra-

4
PSIC0TERAPIAS
I Gêstèlt-têràpia

fnentos ll1Ìportantes no con[exto psicote, mas somenle o homem é dotado de exis-


rapêutico, Por exemplo, comLìmente nos tência, uma yez que só ele é capazde reletir
colocemos como vítimas passivas daquilo sobre si mesmo, o que náo acontececom as
que nos acontece.No entanto, ainda que coisas.Por meio dessa reflexâo, o ser hu-
nos tenhâm feito coisas,temos a liberdade mano pode descobrir sua exisrência e dar
e a responsabilidadede escolhero que fazer sentido a ela.
com aquilo Êzeram conosco, Kierkegaard (L9]:-I855), outro rm-
Lembro-me de uma pacientecujospais portante filósoío existencialism, por sua
a impediram de dedicar-seaos estudos.Se- vez, distinguiu a angústia do medo, na
gundo eles,"mulheres nâo ptecisavamnem medide em gue a primeira não possui um
deveriam estudar".Issopoderia rer se cons- objeto determinado, enquanro o segundo
tiruído ern sério obstáculo ao seu desenvol- o tem, Costumamossaberdo que sentimos
vimento intelectual. Porém, ao se apossar medo; mas a angústia é um sentimento que
de seu desejo de adquirir conhecimentos, não se refere a um objeto específico.Ela é
responsabilizando -sepor íazeraJgumacoi- inerente à nossa existênciae advém do faro
sa com o que frzetam a ela, a paciente fez de que esta náo é dotada de cerËezasnem
uma escolha:investiu esforçosno esïudo e de garantias.
acabou se tornando uma intelectual reco-
nhecida no seu canpo de atuação.
Também é de Sarrre a frasq'A existên- PSICOLOGIA
DAGESTATT
ciaprecedee governaa essência". Diferente-
mente da ideia de que há uma alma imutá- A Gestalr-terapia foi_criada pelo médico
vel que é a nossaessência,o filósofo afirma alemáoFrederickPérls (1893-1970), segun-
que primeito o homem existe,se descobre do 6lho de uma famíia judaica alemá- Seu
e só depois disso pode alcançar seu âma- pai, Narhan, era ume pessoarígida e exi-
go, Além disso,o existencialismoconsideta gente, embora bastante ausente da vida do
cadaser humano como único. Embora pos- ÊÌho, em virtude de sua pro6ssáo,cakeiro-
samos partiÌhar cafacterísticascom as ou- viajante. Sua mãe, Amalia, êra uma pessoa
lras pessoes,a maneira peculiar como elas culta, oarticularmente interessada ern teatrr.r
são consrituídasem cada um de nós nos e ópera, o que veio a influenciar fortemente
torna seressingulares. Fritz, como também era chamado. Suas ir-
O filósoío existencialistaMartin Heidegger mãs, Else (a mais velha) e Grete (a caçula),
(1889-1976) estabeleceu urna diferença faleceram num campo de concentraçáo du-
imporranreentreser e existir:ascoisassão, rante a Segunda Guerra Mundial.

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onfc'rt.Ai

PSI[0ÌERAPIAS
I GesrarL-rerêpia

Perls era, desde jonem, bastante irre-


quieto e irreverente, o que lhe causou al- Nossa
percepção
guns problemas ao longo do prc,cessode
escolarização,Apesar de inteligente, che-
pormeto
seorqantza
gou a ser expulso da escolaem 1906, o que
acabou por abrir-lhe noves porlas, No.ano
dafoimacadde
seguinte, marÌiculou-se por vontade pró- totatidades,
Gesta{ten
Pria num colégio mais liberal. Nessa nova
instituição escolar,estimulado por profes-
que,demodonatural
sores de tendência mais hurnanista, Perls
sobressaiu como aluno, chegando a ser
e espontâneo,
o ser
dispensadodos examesorâis, coisâ enráô humanoaspercebe
POUCOCOmUm,
Também nessa época teve contato com to das pessoas,decompondo-os em pâÌtes,
Max Reinhardt (1873-1943), gtanàe expo- a título explicarivo.
ente do teatro expressionista, que focalizava Porém, no começo do século XX, alguns
fundamer,talmcnce a maneiracomoo sujeiro psicólogos, pardcularmente \Molfgang Kõh-
apreende a realidade (a exptessãodas emo. ler, Kurt Kofika e Max Werúeimer, fizeram
çóes), tendo buscado recursos para dirninÌir uma descoberta importarte: a de que náo
a distância enrre atoÍes e público, de modo a percebemos as coisas através da sorna de
favorecer a particip açãoda plaÍeia. suas diferentes partes, e sim do todo. Por
A formaçáo acadêmica e intelectual de exemplo, ao ouvirmos uma sinfonia náo
Fritz Peds deu-se no início do século XX, noramos isoladamenrecada noca, mas sim
épocade muita efervescência culcural e cien- o todo: a música. A1érn disso, eles descobri-
cíÂca,tendo participado de modo vivaz des- ram que nossa percepçáo é ioíuenciada não
se ambiente rico e sido forremente influen- apenas por aquiÌo que vemos, mas tarnbém
ciado pot ele. por fatores inrernos-
,.1Ì\evolucaolndustrlalocorrlctanos se- Foram os escudos dessesproÊssíonais,
culos XVIII e XIX nâo só levou a desdo- em particular os ligados aos fenômenos da
bramentos tecnológicos e cientíÊcos impor- percepçáo, que deram origem à Psìcologíada
tarÌtes, corno tambérn trouxe a ilusáo de que Gestak (palavta alemã que signiFca forma
se poderia desvendar o mistério humano: ou configuração)ouPsicologíada Forma.Ao
conhecer de forma minuciosa e objetiva o usar parte deles no âmbito da clínica, Perls
funcionamento psíquico e o comportamen- cnot a Gestalt' t erapi a.

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ofltctNÁr

PSIC0TERÁPlÂS
I Gesralr-terapia

FIGURAE FUNDO O quevocêvênessa


ilustraçâo?
Um cáìi-
ce?Ou seráoduas facescontraDostasolhan-
Nossa percççáo se organiza por inter- do umapara a outrai Na verdadq podemos
médio da formaçãode totalida4qs(Gesralfez) enxergar as duas coisas,mes, quarrdo o .á-
que sáopercebidas,de modo natural e espon- lice é a Êgura. não vemos as faces, que, nes,
tâneo,pelo ser humano, Elas sáo consriruí- te momento, sáo o fundo, e vice-versa (ao
das pot jgurc (aguiìo que em determinado priorizarrnos as faces, elas torrÌam-se uma
momenro sobressai,'lalta aos olhos'l como figura e o cálice,o fundo)-
se diz popularmente) e Assim rambém ocorre em inúmerassi-
fando (o que está lá,
mas rrâoé percebido).Por exemplo,o que é cuàçõese contexrosde vida: algumas coisas
6gurapara mim nesremomento e rransmi- surgem de modo mais nítido ou inrenso na
tir de maneira clara aos leitores o que vem nossepercepçãoque outras. Figura e fundo
a ser a Gestalt-terapia,É ni3so que está mi- consliruem uma totalidade (ou Gesralt),mas
nhe atenção,rneu foco, minha energia.Isso não se trata de uma toralidade 6xa. A cada
é a figura; todo o resto (que os psicólogos momento, e de acordo com nossasnecessi-
da.Gestalt chamam de fundo) - as provas dades e/ou interesses, a 6gura muda. por
que ainda cenhode coÍrigir, os pacienresque exemplo, se ao escrever este lexto comeco e
vou atender mais tarde, os telefonernas que sentir sede, o que aré agora era Êgu." para
tenho de dar hoje erc. - sáo coisas que exis, rnim - redigi-lo - começa a deixar de sê-lo,
tem, embora eu náo me dê cónta delas nesié e, em lugar disso, minha vonrade de beber
lnstante em Particular. água se torna a figura. O texto, ao menos
Essa dinârnica figura/fundo pode ser momentaneamente,
Passaa serfundo.Eu me
mais bem compreendida por meio de se- Ievânao vou até a geladeira, tomo um copo
guinte ilusrração clássica; de água e sacio minha sede. Esta enráo deixa
de ser figura, passa a ser fundo, e redigir este
texto torna-se de novo Êgura-Além disso,a
cada alternância figura/fundo a rorelidade
muda e se reconÊgura.Trala-sê de urn pro-
cessoaltamenre dinâmico e fluido. Quando
náo há fluidez na formaçáo e desruiçáo de
Gestaltet, üzernos trarar-se de urna Gesralt
fixa ou cristalizada.
Além disso, uma mesma figura pode ter
significados completamente diferentes a de-
PSIC0ÌERÁPlÀS
I Gêsratr-terapia

pender do fundo no qual aparece.Se eu es- Em vimrde desseprincípio, rernos dúorl-


tou diaate do fogo e vejo um recipiente com dade em 6car com aquilo que em Gestalt-te-
água. nessemornento a água signiÊcr apagar rapia, charnarnos de situaçóes (o1r Gestalten)
o fogo. Numa outra ocasiáo,em que estou abertas ou inacabadas.Trata-se de vivências
com sede e vejo água, ela tem outro significa- que náo sedesenvolveramde forma satisfaró-
do: aplacar minha sede. Dessa forma, a de- ria para nós. Por exemplo, quando nos desen-
pender do fundo (fogo ou sedenesseexem- Èenqemoscom uma pessoâ,costulÌrajÌÌos (e-
plo), a água tem um senrido diferenre" moêr o gue aconteceue dizer a nós mesmos:
É por essarazáo que, às vezes,âspessoas "Eu poderia ter feito isto ou aquilo'l "eu deve-
vrvemexâEâmeÍìEe e mesmaexperiência,mas ria tcr dico X ou Y" etc. Esses ensaios mentais
ao ouvirmos seusrelarostemos â impressáo üsam completar ou fechar a situacáo.
de que esta, epesar de comurr a todas elas, Em adendo a essadescobera da Psicolo-
foi totalmente diversa para cada urna. E na gle de Gestak, temos a da Teoria de Campo,
realidade foi mesmo, pois o fundo no qual do psicólogo alemáo Kurt Lewin (1890-
Maria viveu a experiência náo é igual ao de 1947), segundo a qual "açóes ou situaçóes
Joáo diante da mesma situaçáo, Fundo, agui, nâo completadas são fortemente registadas
signi6ca a história de vida da pessoa, suas e carregadas de tensão, e, assim que houver
vivências, a cultura na qual eÍa se insere seu uma opora.rnidadg o indiúduo buscará ali-
contexto familiar, seu conhecimento ecc. viá-Ia". Esse fenômeno é denominado'efeito
ZeigatnlF, nome de uma aluna de Iew.in
que formulou essaideia.
TËNDÊNCN AOFECHAMENTO Êsses achados da Psicologia da Gestalt e
da Teoria de Campo são muiro importantes
Outra descoberta importante da Psicolo- no *abalho clínico da Gesralt-terapia,uma
gìa da,Gestalt é que tendemos, Ílaturalmerlre, vez que nos ajudam a compreender que boa
a completar formas incompletas ou imper- parte de nosso soÊimento e de nossas di6-
feitas, Por exemplo, ao vermos uma ünha culdades na vida está relacionaú a situaçóes
circular, ainda que ela náo se feche por com- üacabadas ov Gestqttet abertas, às quais
pleto, dizemos tratar-se de um círculo, ten- buscamos resolver a fim de nos Ìivrarmos
demos a"vê-lo"como tal, Temos a inclinaçáo dessadesagradávelrensâogue ocupa múto
de agrupar elementos de modo a 'Gchar" a de nossa energia, tornando-a indisponível
'tompleta1
6gura, tornando-a mais A esse para outras atividades.
fenômeno foi dado o nome de"rendênciaao No que se refere à meneirâ como as coi-
fechamentd' ou "lei do fechamento', sas se organizam em nossa percepçáo,os
,/";1Ãt ó \
o
ê

PSIC0TERAPtÁ5
| Gêstat.-te.apia

t
0 sofrimento
.
se No livro Gejúabúerepía (1971), perls,
Hefferline e Goodm an fa]atamd.elcrerarauu
retactona
a situações ae uqtoresou clorkirrâkcìa:quando diferen-

|
que
inacabadas, , .
tes necessidades ocorrem simultaneamen-
te, a pessoa atende pdlneiro à necessidade

ouscamos
resolver
t"
dominante (o que inclui a de sobrevrvência
psíquica). Náo se rrata aqú de elgo fixo e in-
a flm0enoslvrar variável mas dinâmico, o qúe signiÊcague,a
cada momento, determinada coisapode ser
datensãoqueocupa mais relevanrepara mim que outras. Essa

nossa
energia formulação de'ãjustamento criarivo, tam-
bérn é muito impottante para o trabalho clí-
nico, na rnedida em que coloca um foco bas-
psicólogos áa Gestak chegaram à conclu- tante diferente sobre aquilo que chamamos
são. nas paÌavrasde Koffka, de que'a or- defunciotamextosauàôvele íâo sauàãveL
ganizaçáopsicológica será sempre táo 'boa, Mais que uma pÍeocupaçáo com saúde
quanto as condiçóes reinances permitirem,,,
e doença, a Gestalt-terapia" em consonán-
o que constitui o'princípio da pregnârr- cia com as ideias do Movimento em prol do
cia ou ïa boa Forma'ilsso rluer dizer que DesenvoL'imento Humar'o (Human Growtb
tendemos a organizat as coisas da melhor Movement), volta-se para as questóes rela-
forma possível em determinado mornento, üvas ao crescimento e desenvolvimento da
considerando náo só as nossaspossibilida- pessoa em sua totalidade (visão holísdca do
des,mas também as condiçóesdo ambielte homem), algo que se evidencia no subtín:lo
(o campo) ern que nos enconlramos. - Estimuleçãoe crescimettone ptersonalìdade
Essa ideia têm a ver com o conceitô de humara - daprimeira publicaçáo em inglês
ajustofieflto crìctivo fotÍrrrlllido por Perls,
da abordagem, escrita por Perls, HeFerüne
que se refere à nossa capacidadede satis- e Goodman: Gutah therepy: excitetrent eíã
fazer às necessidadesde acordo corn nos- growth in the tbe bumat personalíty(1951).
sa hierarquia de dominâncias (ou de valo- De acordo com os autores:"Crescimento é
res) e com as possibilidadesdisponíveis no a função da ftonteira de contato no campo
campo organismo/meio, sempre visando organisrno/meio; é através de ajusramento
uma aurorregulaçáoorganísmica,por meio criacivo,mudança e crescimenroque as uni-
da qual o organismo tenla menteÌ-se em dades orgânicas complexas conrinuarn a vi-
estado de equilíbrio. ver na unidade mais ampla do campo".
PSIC0TERAPIAS
I Gêsrart*cefapia

Em seu Ìivro Gestab-terapia expLicada


(1976), Perls apresenra LLmadefiniçáo de Distúrbios,
inibições
saúde em que se pode perceber a influên-
cia do neuropsiquiatraalemáo Kurt Golds-
e interrupções
teÁ (1878-1965): "Saúde é o equilíbrio
apropriado da coordenaçáo de tuão aquìIo
docrescimento
que somos"(destaque nosso), enfatizando estãoa serviço
que ela não é algo que úeaos,e sitn o que
sonros,e se manifesra em oossa totalidade dasobrevivência
existencial, Dessa íorma, os assim cha-
mados'distúrbios menrais" não abrangem
psíquica,já
tendosido
apenas a dimensão mental, mas a pessoa funcionais
e saudáveis
na sua totalidade.
Eventualmente,pode ser que alguns des- da psicologia da Gestalte dz teoria holísti-
sesdistúrbios, das inibiçóes e das interrup- ca,do estadisrae milirarJan Smuts (1870-
çóes do processo de creséimento, tenham 1950),daÁÊica do Sul.Observousoldados
estadoa serviçoda sobrevivúneia psíquica; que haviam sofrido lesõescerebraisgravese
nessesentido, é possível pensá-los em ter- notou a ocorrência de mudançasglobais de
mos de ajustamentoscriativos,No entanto, comportamênto e personalidade: eles pas-
se ao longo do ternpo permanecerem des- sarea a se preocupar com ordem e limpeza
Iocados de seu conrexro, há o risco de se numa tentativa de evitar situaçóes ines-
tornarem Gestahet 6.xas ou cristalizadas, peradas e se proteger dos danos causados
perdendo sua função saudável- pelos traumatisrnos no cérebro. Percebeu
então como uma lesáo numa parte do or-
ganismo afeta a totalidade dele (a natuteza
SAUDE
E DOENCA holística do funcionamenro humano) e a
'hutorregulaçáo
tendência natural à orga-
Táo logo se formou em medicina, Perls nísmicd' - processocomplexo de obtençáo,
trabalhou com Goldstein, que, por sua vez, perda, ganho e manutençáo do equilibrio
atuou no Instituto de Soldados Portadores da pessoacomo um todo.
de Lesáo Cerebral, em Frankíurt, Alema- Desseponto de vista,a doençasãriaen-
nha. Foi aí que conheceu Laura Posner, táo uma perturbaçâo nos processosvitais
com quem veio a se casarem 7929. de uma pessoadiante de situaçõesque re-
Goldstein utilizou e ampliou as ideias presentam risco para ela, Por essarazáo,os

54
PSIC0TERAPIÁs
| €esiâat-rerapia

srntomâs cleveriârnser pensadoscoÍno fen-


quêimasseo couro cabeludo da criança, si-
tativas de adaptação,em busca de um novo
tuação em que se tornou saudável.
equilíbrio diante das possibilidades do or-
ô. A"à g.r"i .*u", podemos dizer
ganismo e do meio.
Em Gesrart:terapia,
concebemos ::;::.:::t:ï:::::,':ï.ï:Jï:':",:",;
. ".ud""
doençacomo processos
que Íãvorecem oo di- da sobreuir*;;;;;;.", e por essarazão
. desenvolyimento do indivíduo,
1*1."-
(luâr,por sua vez não se restringea " i*au* frfC9*á;.;*9-*ndo sido, na
fascses- sj4 pIIF3D funcionais e saudáv91Ç
--
pecíficas,e,sim a um processode crescimen- .tt""
Joellatner; no liu|o g"xok th"ropy
to e traasformaçãoconstarÌteque ocorteao booh (1973), menciona alguns aspectosin-
longo de toda a existência humana. Desse dicadores á funcionJento saudável:
modo "saúdd' e "áoençe, ou "firncionamento (l) Comportamento inrçgrado e holíscico;
saudável"e "náo saudável'jsão pensadasdiale- (2) poss;bihdade de criação e desrrúcáo
tÍcatÌÌente,uma vez que um mesmo comporre- satisfatória de Gestahen;
mento pode ser saudávclou não, dçendendo (3) Autenticidade e espontaneidade (nâo
de"a serviço do qud'ele esú. se trata simple"-".rr" L ã"". o qo" qo.-
Um fato_ilustratìvo a esserespeito ocor- remos, e sirn de estat centrado, em conta-
reu comigo hámuitos anos,Eu estavanuma to pleno conoscoe com o meio);
festa infantil dianre da mesa onde havia o (4j Conh".imento das nossas necessida_
bolo de aniversário e gelatinas com veli- des, imersas no aqui -qo"e agora da própria
nhas,para que todas as crianças pudessem existência,p.." o f*z ,r.."ssá.io
âpegâ-les.A mrnhe ÍÍente esravauma me_ conhecere aceitaro que"e somos;
nina de cerca de 4 anos de idade com lon- (5) Rendição ao proàso;
gos cabeloscrespos.Ao virar-se pata olhar (6) Autossuporte;
alguma coisa, o cabelo dela pegou fogo. Ra- (7) Incegraçâo,que implica não apenesco_
pjdamentg olhei a minha volta procurando nhecimÀto *acrçe. de nossos desejos,
algo com que pudesse apagá-lo (um paoo, "
necessidades,comporramenros e húilida_
uma bebida, um copo com reírigerante, um des, rnas também nos sabermos parre do
agasalho). Não encontrando nada à máo, campo.Como úrma peds:,.Na saúdeesta_
comecei a dar tapas na cabeça da gatott mos em contâro conoscoe com a realidaddl
para exdnguir o fogo - o que aconteceu. (B) Awareness,qteêacapacidade de àpre-
Esse comportamento de'istapear" a meni- ender o mundo fenomêmco,como ocorre
na poderia ser consideradonão saudável,se no momenro presente,com a totalidade
náo estivessei serviço"de evitar que o fogo de nossossentidos;
PSIC0TERAPtÀS
I cêsratt-têrãpi.

(9) Contato de boa qualidade, sob a for,


uniâo e sçaraçáo, e pela qual o novo é assi-
ma de,engajamenropleno no processo, rnilado o,.,,"j"iJo 1Ç".raendo de ser nu-
de m_odoe propiciar absorção cornpleta e tritivo para o org:nisrno como totalidade ou
satisfatória_daquilo com que estamos nos tóxico para ele)."É por meio do contero que
relacionando- ocorrem as mudanças, tânto na própria pes-
soa quânto nas elperiências que ela tem do
,AWARENESS mundo,sendoessaumafunçáoprimordiú
E CONTATO De forrna geral, a Gestaft-terapia busca lidar
com asquestóesque impedem ou diÊcultam
No trabarho crínico em GesraÌr -^,-,,-
e de-
buscamosresgalaros 0."."",." ;:ï::Xn"'; ::j:ï:iïJï1'*ï.ï...":rescimento
de desenvolvimento e crescimento. Daí
O conrato ." 1r*n;r, de contato,
at€nrarÌÌos náo apenas para es "r"i.
1::".:: al. que não deve ser co4fundida com seu sentido
diÊculdades da pessoa, mas também para
geográfico.Na geograha, a fr.onreira é Êxa e
suaspossibilidadese potencialidades- razoavelrnentepermanenre, enquanro aqul
Visamos, antes de tudo, acolher e com- i61pli6aplasdcàade e permeabilidade. Ou
preender-o paciente que nos procura. Para 5g1a,a f)ontr;rc d" cotitato náo é 6xa, po-
tanto, colocamos entre parêntesesnossos 4lrr4q 16 expandir ou retrair (plasticãa-
juÌgamentos e ideias apriorísticas (suspen-
de), dependendo das condiçóesãa relação
sáo fcnomenológica), buscando apreender ináivídì-.o/ambienre. por exemDlo, numa
a maneira como apessoapercebee entende situaçáo de ameaça a tendê.rcia é har,er
o que se passacom ela, Ouvimos com res- maior retraçáo da fronreira de contato. É
peito, aceitamos e validamos a experiência poi meio dela gue ocorrem es rrocas entre
do cliente e sua singularidade existencial, ã irrdiuídoo o i-biente (permeabilidade),
pretendendo estar em sintonia com seu so- "
promovendo mudaaça e crescimento.Já a
frimento psíquico' ialta de permeabilid.ádee porosidade oela
Trabalhamos fundamentalmente corn inalica dLificuldade nos D.ocessos de cresci-
o que denominamos cottq.to,deÊnido por mento e desenvolvimeritohumanos, sinali_
Perls, Hefferline e Goodman ert Gestqlt- zando que talvezhajapouco uso das poten-
terqÍ)id corrro o processo por intermédio do cialidad.lese recurso-sáo indivíduo.
qual uma Êgura de interesse sobressaide um A quaÌidade do con xatoê dada peladwa-
fundo ou contexto do campo organismo/ reness (ter consciência de, dar-se cor,ta)
ambiente. -Cglgto é uma funçáo que sin- qoe impüca a capacidade de apreendermos,
tetiz:r, simultanearnentc, a necessidade áe çe1n 16ss6s sentidos, o lÌÌundo fenomênico
PSICoÌERAptÀS
I Gesrõtt-tèrêpia

no momento presente-Envolve utilizarmos eIa poderá


se dar conta de suas necessida_
nossosrecursosperceptivose emocionâis des
e possibilidades e inreragir arivamenre
para perceber o que se passa conosco em com
o ambleote, pot meio do ajustamento
nível corporal menel e emocional a
çada cflaüvo, com vlstas a encottrer a melhor
instante, bem como apreender aguilo que forma de
satisfazerseusanseios.
se passa fora de nós (num determinado
momento algumãcoisapode setotnar mais
proeminente, vir a set Êgur"), FUNCOES DOSISTEMA SEr_F
Se,por um lado, a awcretessdoïa o con-
tato de qualidade,este pode se dar sem ela, Ao sistema de contatos responsávelpe-
,
Isso significa que, independentemente de los a1ustamentoscriativos na
fronteira de
percebermose apreendermoso que sepas- contato dá-se o nome de self Em
boa parre
sa dentro e fora de nós, estamosem conraro das teorias psicoÌógicaso sef é concebido
com aÌguma coisa (ao respirar, por erem- como uma estl:utura relatiyamente
estável
plo, nossospulmóes em relaçáoao ar), mas ao longo do tempo.
Já na Gestalt-terapia
é somente cendoawareness a esserespeito ele é um sistema de contatos, con diferen-
gue poderemosFazerbom uso dele. tes modos de funcionar: id, ego e personali-
A ênfase que áamos à awarexesse ao dade, que sáo as;íatçõesdo sistema self.
conracona Gestalr-terapiavisa aproximar E por intermédio d af*nção id qrL,etemos
a pessoados fundamentosde sua experiên- conteto com nossas necessidades,desejos,
cia, pois é a partir dessâaproximaçâoque pulsóes,situaçóesinacabadas,que sáo per-
cebidas principalmente (e náo de forma ex-

Visamos
acother clusiva) no corpo. Essa filnção oos mobiliza
e nos compele à açáo em direçáo a um futu-

e compreender
o ro próximo. Denre as três funçóes do sefé
a mais espontâneae expressiva.
paciente;
paratanto, A funçâo ego,pot suevez, possibüta a to-
mada de consciência de nossas r.recessidades
cotocamosentre ê â consequentê responsabüdade por nossas

parênteses
nossos escolhase tejeições, tendo em vista as ques-
róes de liberdade e responsóilidade do exis-
julgamentose ideias tenciüsmo, como expostâsanteriormenÌe.
E, por fim,hâ afutção personelíãaãe,qte
apriorísticas Ç dentre as três, a mais estável. Trata-se do
PSICoTÈRAPIAS
I GêstôLr-terapÍê

0 Gestatt-terapeuta Boa parre do sofrimento psiquico tem


a ver com a existência de Gestaken al>er-
nãoprestaatençãosó ras, inacabadasou crisralizadesefoo com
o fato de que não percebemos claramente
aoqueé dito,mas nossasnecessidadese, portanto, nâo poder-

também aosgestos, mos priorizá-las de acordo corn aquilo que


Perls chamon de bierarquia de dominàncias
à expressão
corporat, ou de valores.Com isso, não conseguimos
mobilizar os recursos adequados para su-
à mímica
faciateà prir nossasnecessidadesna relaçãoque es-

modutaçãodavoz tabelecemos com o ambiente.

sistemade representaçóes
queo indivíduo O AQUI E AG0RA
tern de si (independentemente de serem
falsas ou verdadeiras) e que são fruto de A Gestalt-terapia náo trabaÌha buscan-
experiências e introjeçóes que vâo formar do no passadoas causasdo que se passano
e autolltLgetn. presente, e sirn lidando com o aqui e agora.
A depender do contexto no qual se inse- De acordo com o princípio da contempo-
re,uma mesmacoisapodeadvir de funçóes raneidade,forrnulado por Lewin na Teoria
diferentes.Porexemplo,àsvezesaonosdar- de Campo, "qualquer comporramen[o ou
mos conta de certo incômodo ou mal-estar qualquer outra mudança no campo psico-
no estômago,percebemosque estamoscom lógico depende someote do campo psico-
fome (funçáo id). Pode acontecer também lógico naquele momento'; assim como o
de nos yermos no horário de almoço, sern passadopsicológico e o fututo psicológico
vontade de èômer, mas escolhemosfazê-lo sáo partes simultâneasdo campo psicológi-
Para náo senlir fome mais tarde, no mero co existeÌrteem um dado momento'. Desse
de uma reuniáo. Nesse caso,o desejode se rnodo, podemos üzer que passadoe fururo
alimentat tem a ver com a íunçáo ego. estáopresenresno âqui e agora: o primeiro,
Neurose e psicose.por sua vez,sâoper- nas lembranças e também nas marcas que
turbaçóes da mesma funçáo, porém de na- deixou na existência de cada um, quer a
rutezas diferences:enquanro a primeira é pessoase dê conta ou náo; o segundo,por
da qwctreness d.a far.ção iã, a segu:nda ê ta inrermédio dos planos, sonhos, projetos,
própria funçáo id. exPecrafÌvas etc,
PSIC0ÌERÀPtAS
I Gestatt-teÍ6pia

Dessa forma, há, como apontou San- existe o som do depois, Se eu parar a vrtro-
to Agostinho, ffês formas de presente: o la, a agulha ainda esraráem conrato com o
presente do presenle, o do passado e,o disco,mas nìo haverámúsica,porquc cxis-
do futuro. Ou seja, não se trara de negar aeo agora âbsoluto. Se vocêapagasseo pas-
a existência do que se passou, ou mêsmo sado ou anteclpasseos aemasque teráo lu_
de desrl'alorizá-1o,
e sim reconhecer que o gar daqui a cês minutos, você oão poderia
passadoesráno presentee pode ser aparcrr entender o fato de eser escutando o disco
deleexperienciado e reconfigurado. que agore esrá locendo- Mas, se apagasseo
De acordo com Perls, a questáo do aqui âgora,nadâ acoÌrteceria.Assim, novam€nle,
e agora é como um Koan - essasquestóes se lembrarmos ou anteciparmos, só pode-
Zen que pareceminsolúveis.O Koan sig- remos fazê-lo no aqui-e-agoral'
nifca: hada existe a náo ser o aqui e agora'.
O agora é o presente, é o fenômeno, e o que
vocêpercebe,
éo momenrono qualvocêor- TRABALHOCLÍNICO
rege consigo as suas assim chamadas nÌeÌÌìó-
rÌase âs suasassimchamadasanrecipaçôes. Ao mesmo rempo que o Gesra_lr-tera-
Seja lembrando ou antecipando, tocê o fa.z. Peula procure ajudar o paciente e fechar
agora.O passadonáo é mais. O futuro ainda Gestalten abertas, busca também ampliar
náo é, Quando eu digo êu fuil nâo é agota, suas possibilidades de awareness,ate mes-
é o passado. Quando eu digo êu quero' é o mo pare q1Ìeo pacienrese dê conra de suas
fututo, ainda náo é - nada pode possivel- potencialidades e as uailize. Para ranro,
mente existir exccto agora, Algumas pessoas analisa a estrutura interna da experiência
progÌemam coisasa parÍir disto. Elas fazem presente seja qual for o grau ã,ecottato qae
uma exigênciar'Vocêdeveriaviver no aqur e o paciente tenha com ela.
no agorá- E eu digo que não é possível viver O GestaÌr-terapeuranão presaaalenção
no aqui e no agora, e entretaffo nada existe apenasàquilo que é dito pelo pacienre,mas
excetooaquieoagora, também ao que é expressopor ele, Ecando
Como resolver este dilemai O que está alento aos gesros,à exprêssãodo corpO à
implícito na palavta agora? Como pode postura, à gesticulaçáo, à mírnica facial e
uma simples palavra como agoralevar ânos corporal, ao tom e à modulaçáo dz voz etc.
e anos para ser entendidai Se eu tocar um Observa rudo aquilo que possaâjudá-lo a
disco, o som sô apatecetâquando o disco compreender mais a fundo a experiência
e a agulhe se tocarem, onde eles entrarem dequele que o procure e indicar possíveis
em conrato.Não exrsteo som do ances,não Gestaltez inacabadas.

59
frrrt ]
o*rnro^t
1

PslcoTERÀpìAs
I Gesrâtt-rerãpia

Além disso, no trabalho clínico busca-


se favorecer o eutossapoftedo paciênte. Se
-no início do processo de desenvolvimento
a criança precisa de muiro apoio ambien-
taì (heterossuporreJ, ao Ioogo do prcicesso
matutacional, vai se dando a transiçáo des-
te pãra o âutossupote, que - vale lembrar
náo se confunde com autossuÊciência,
uma vez que em Gestalt-rerapia pensamos
sempre no homem existindo num campo;
por issoele não exisresem um ambjenre.
emsuaunicidade
Na medida ern que hâ awaretess,conÍa' esingutaridade
to e suporte, é possívelao paciente respon-
sabilizar-se pelos próprios senrimenros, oe novas posslollloades e cte aDossamento
sensaçóesc ações,o que lhe propiciará fa- e desenvolvimento de porenciüdades. fsto
zer escolhase ajuscamenros criativosmais ocorre'ha" e "por meio da" relaçáo terapêu-
adequadosàs necessidadese possibilidades ticâ, para a qüaÌ não basta a presença ísica
do campo. Com isso,os processosde autor- do terapeuta. Tampouco são súcientes as
regulaçãoorganísmicapoderáo set resgata- intervençóes que ele possa fazer ou os expe-
oos âo mesmo lemPo que os cte lormeçâo rlmenaos que venna a sugerrr-
e destruição à,e Cescaltense tornarâo mais Nessa nova relaçáo que se configura,
fluidos e dinâmicos, mais irnportante que o "fazer" do terapeu-
Fundamentalmentg ta ó.o seu ser, ou seia, a qualídadede sua
a Gestalt-terapia é
uma abordagem psicoterápicaexperiencial presença.Trata-se àe vÍf.a l)reseíç4 ,utêx-
náo apenas no sentido de que busca com- tice e envolvida, permitindo a si mesmo ser
preender a experiência do paciente pelo quem ele é, assim como favorecerque o pa-
modo como ele a compreendee vivencia, ciente também o sel-a,pois, de acordo com
mas também pelo fato de que oferece re- Arnold Beisser,em urn capítulo publicado
cLrrsospara que .x pessor experiencie novas no lìvro Gestak-tera?ia (1977), de F"ga"
situaçóesno âmbito psicoterapêutico. e Shepperd, a mudança é uma ocorrência
A própria relaçáoreÍapêuticaé uma ex- DaÍadoxalume vez oue nos transformamos
periência fundamental e, muitas vezes,fun- quando nos tornamos aquiÌo que somos,
dante para os pacientes,pois é um esPaçode e náo quando tentarÌÌos nos tornar o que
ressigniÊcação de suasvivências,de abernrra náo soínos, A experiência clínice rÌos rnos-

ó0
PSIC0ÍERAPIAS
I GÊsrè{L-tef
âpiã

tra que, na maiôfia das ïezes, o gtTettaz o dade, alreridade e humanidade do pacrenre
pãcienLeà rerâpiaé jusramenLesuâ impos- por parte do terapeuta.
sibilidade de verdadeiramenteser e, desse Este deve respeitar a experiência feno-
lugar,esrabelecer e/ou manrerrelaçóes. menológica daquele que o procura, adenrar
A presença auiênrica do terapeuta náo iespeitosamenteseu mundo e aceitá-lo tal
pode se tesumit a ?a/ecel autêntico. No como ele é, bem como aquilo que pode vir a
livro Ibe bealìngãiologuein psycbotberapy ser.Implica conÊar no potencial do cliente e
(.1994),de Maur icc Friedman,é mencio- na crença do homern como ser em consaârÌte
nâda Lrma importante difetença feita pelo processode crescimentoe desenvolvimenro-
Êlósofo,escriror e pedagogoMartin Buber Em resumo, podemos dizer qtÌe o que
(1878-1965) no que concerne à diferença dota a relaçáo terapêutica de qualidade é
entre seÍ e parecer.ao ser,posso me doar ao a possibilidadede o pacienrevivenciarsua
outro esPontaneamente,sem me pÍeocupâr humanidade, em relaçáo à do outro, hon-
com a imagem que elepossater de mim. Ao rando a beleza e rambérn a dor de existir.
Parecer,a pÍeocúpaçAoê coÍr. aquilo que o
outro possa pensar de mim, o que resulta
em gestos calculados parâ môstrâr-se es-
pontâneo, sincero, ou seja lá o que for que
- eu imagino - possavir a set alvo da apro-
vaçáoalheia. EssepaÍecer deslrói a aur€ntr-
cidade da vida, pessoae pessoâ.
A quali<ládeda presença do psrcotera-
peuta é dada muito mais por sua atitude
que por qualquer outra coisa.Mais que um LlLlANMEYER FRÀZÃO é psìcoterapeuta,meslreeín psi-
ato, ela é dada por uma postura de respeito cologiaclííica,píofesçorado Departamento dePsicllogia
Clínicádo lnsìihrtode Psicologiãda UniveÌsidade
de São
ao outro em sua unicidade e singularidade. PauloíUSP)e membroda êquipêdocentedoDepartarÌrên-
Em Gestalt-terapia enfatizamos que o to de Gestah-Terapia do InstifutoS€desSaderdiae,onde
processo ocorÍe na relação eítre tetapenta tambémé coordenadora do Setorde Eventos.Parlicipo!
do grupoquêintrcdúziua Gestah-ter'âpia no Brâsil,lendo
e pacience.O cspaço terapêutico se cons-
sidofundadorado CenÍ! de Estudosde Gesàlt de São
titui como possibilidade de se relacionat Paulo.Ecolaboradora emteinamentosdegesàlt-terape&
com um outro de forma aurènrica,a partir tâs emterÌitórionacionale intemacional.sóciafundadora
de sua humanidade em releçáoà do outro, e ex-membíoda direÈoda GestaltÌìerá-
da lÍrtemational
py Aasociation (IGTA),
fundadoÌadaAssociacão Brásileila
Pare tanto, faz-se necessáriauma posiçáo de Psicoterapìa (Abrapl,do EspaçoThereseTellegen e do
de respeito e consideraçáopela singulari- CenLode Estudos de GesìãltdeSãoPaulo.

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