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Questões éticas na psicoterapia breve

Prof. Carlos Henrique Gonçalves

Descrição

Você vai entender os limites técnicos e éticos da atuação em


psicoterapia breve na prática clínica e o fenômeno da iatrogenia
relacionada à prática.

Propósito

A abordagem dos limites técnicos e éticos, bem como a


contextualização das atitudes que podem contribuir para a ocorrência
de iatrogenias em decorrência do tratamento, são conteúdos
extremamente importantes que auxiliarão os profissionais de psicologia
no aprimoramento de sua prática clínica e no estabelecimento de
condutas corretas na atuação em psicoterapia breve.

Objetivos

Módulo 1

Limites técnicos

Reconhecer os limites técnicos para a atuação da psicoterapia breve.

Módulo 2

Limites éticos

Reconhecer os limites éticos para a atuação da psicoterapia breve.


Módulo 3

Iatrogenia

Identificar as condições que contribuem para a ocorrência da


iatrogenia e a sua prevenção.

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Introdução
A psicoterapia breve é uma forma de atuação clínica que tem
características peculiares, como ter um prazo de tratamento mais
curto, manutenção de foco e um bom planejamento terapêutico.
Diante dessas características, é importante observarmos
algumas condições específicas que indicam um caso clínico para
ser atendido nessa modalidade e, dentre elas, o grau de
motivação e consciência do problema por parte do paciente,
assim como um bom treinamento para manejar a motivação e
auxiliar o paciente a desenvolver ferramentas próprias para
superar seus problemas.

Observamos também alguns critérios de indicação e


contraindicação para que um paciente seja indicado à
psicoterapia breve, como um ego minimamente estruturado e
uma boa capacidade de insight para realizar reflexões sobre seu
problema. Também é importante a observação de alguns critérios
que contraindicam a psicoterapia breve, como algumas
psicopatologias crônicas graves, tendências sociopáticas, riscos
eminentes de vida e outros comportamentos e circunstâncias de
vida do paciente. Neste estudo, ampliaremos em mais detalhes
condições de indicação e contraindicação à psicoterapia breve.

A finalidade de um tratamento, seja ele médico ou psicológico, é


promover um bem ao paciente, aliviando o seu sofrimento frente
ao problema que está enfrentando. Entretanto, observamos a
ocorrência de processos iatrogênicos nos quais podem ser
causados danos e prejuízos em decorrência desses tratamentos.
Ainda não dispomos de ampla gama de estudos sobre esse
fenômeno, mas já está disponível uma série de recomendações
inerentes a posturas e procedimentos do terapeuta no sentido de
prevenir que ocorra. Atentos a essas observações, temos a
oportunidade de aprimorar a qualidade do atendimento que
proporcionamos ao nosso paciente.
1 - Limites técnicos
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer os limites técnicos para a atuação da
psicoterapia breve.

Condições para início do tratamento


Quando uma pessoa busca por tratamento psicológico, podemos supor
que algumas barreiras internas já foram superadas como, por exemplo,
a identificação de estar vivendo um conflito psicológico além do
razoável e a falta de recursos para lidar com as situações. Também
revela a existência de um certo grau de motivação por parte do paciente
para promover mudanças, mesmo que ainda se encontre em fase de
queixas e lamentações, sem a condição de ter uma melhor
compreensão dos seus problemas.

O estado motivacional para o tratamento é a primeira


condição para que a psicoterapia breve possa ser
indicada e tenha chance de auxiliar ao paciente.

É importante que você avalie esse grau de motivação para que o


mantenha e, se possível, o aumente ao longo do processo terapêutico,
contribuindo para o fortalecimento do vínculo terapêutico, que também
é um aspecto fundamental para que o tratamento tenha sucesso. Nesse
sentido, alertamos para a postura que você deve ter como terapeuta,
sendo acolhedor, motivador, genuíno, colaborador e incentivador e,
dessa forma, facilitando a expressão do paciente sobre suas situações
e o engajamento deste nos exercícios reflexivos que será convidado a
fazer.
Um grau de motivação adequado contribuirá para que o paciente tenha
disposição de encarar o desconforto ao lidar com seus problemas em
terapia, tendendo a ser fiel nos seus relatos e a fazer um exame
introspectivo de seus sintomas cognitivos e emocionais com
curiosidade e vontade de mudar.

Assim, ele estará mais apto a perceber novas ideias e terá expectativas
mais realistas com relação às possibilidades do tratamento diante dos
esforços de tempo e financeiro despendidos.

Como estamos tratando de um processo terapêutico de curta duração,


essas condições iniciais dão a base do início do tratamento e, quando
ocorrem a contento, nos permitem observar uma melhora no ânimo e
capacidade de enfrentamento do paciente.

Junto ao nível de motivação do paciente, o nível de consciência que a


pessoa tem sobre seu problema também é um fator importante.

Entenda os estágios da mudança de comportamento:

psychology Pré-contemplação

É um estágio no qual o paciente não observa


intenção de mudança e não reconhece as causas
de seu problema.

psychology Contemplação

É o estágio no qual o paciente mostra ter


consciência de seu problema, tem intenção de
enfrentá-lo, mas não tem ferramentas que
permitam uma atitude na direção da mudança.

psychology Preparação

É o estágio no qual algumas iniciativas já podem


ser observadas, mas sem efetividade.
psychology Ação

É o estágio quando o paciente decide pela mudança


de comportamento. É quando medidas e atitudes
de enfrentamento já são observadas e repetidas.

psychology Manutenção

É o estágio no qual a mudança de comportamento


ganha consistência, com avanços de habilidades e
ganhos terapêuticos.

psychology Recaída

Ao sofrer uma recaída, o paciente pode identificar


elementos de risco que devem ser evitados ou
controlados e desenvolver novas estratégias para
evitar outras recaída.

psychology Término

É o estágio no qual o paciente já adquiriu a


capacidade de enfrentar o problema, encontrando-
se fortalecido para evitar recaídas.

Pacientes geralmente procuram terapia por viverem problemas inter-


relacionais, seja em suas relações familiares, profissionais ou sociais.
Por meio da ajuda terapêutica, eles têm a oportunidade de rever seus
comportamentos e expectativas em relação a si e aos outros, alinhando
tais expectativas e percepções a uma realidade objetiva mais funcional.
Pesquisas mostram que a maioria dos pacientes que buscam
tratamento breve se encontram no estágio de contemplação, e a
capacidade adaptativa apresentada no início do tratamento pode ser
preditora de um bom aproveitamento do processo terapêutico.

Atenção!

No processo terapêutico, o avanço dos estágios de consciência pode


não se dar de forma linear, podendo haver recaídas a padrões
anteriores. Da mesma forma, um progresso e melhora repentina do
quadro devem ser encarados por você com desconfiança, devendo
manter um olhar para verificar se o paciente realmente adquiriu
habilidades de enfrentamento da situação.
Em um processo terapêutico breve, além das condições adaptativas,
motivacionais e de estágio e consciência, a relação que se estabelece
entre o terapeuta e o paciente é fundamental para que tenhamos
condições de bons prognósticos. Um processo terapêutico é um
encontro de duas pessoas, extrapolando as condições teóricas e
técnicas da abordagem utilizada pelo terapeuta.

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Processo terapêutico: encontro de
duas pessoas
Neste vídeo, conversaremos sobre a observação de detalhes
importantes para o início do tratamento, com destaque para a forma na
qual cada encontro poderá suscitar situações relacionais entre
terapeuta e paciente.

Critérios de indicação
Para que você identifique se uma pessoa tem indicação para o
atendimento em psicoterapia breve, deverá olhar as características
específicas de cada caso. Apresentaremos a seguir situações e
características de pacientes que lhe auxiliarão nessa identificação,
entretanto, adiantamos que, ao longo do tempo de evolução da
psicoterapia breve, a característica principal e necessária para a
indicação é a motivação para insight por parte do paciente.

O primeiro passo para essa avaliação é a realização de um diagnóstico


nosológico ou um diagnóstico psicodinâmico extenso e avaliação da
estrutura de personalidade do paciente, que nos indicarão a adequação
para psicoterapia breve. Dessa forma, você poderá colher o máximo de
informações sobre a doença de seu paciente para a projeção de um
prognóstico e possível tempo necessário de terapia.

Atenção!

Embora não seja recomendado trabalhar com prazos estabelecidos, é


possível avaliar, por meio de uma coleta de informações adequada, se o
paciente é indicado para a psicoterapia breve ou outra abordagem mais
adequada ao seu caso. É importante ressaltar que não se deve fazer a
indicação para a psicoterapia breve sem antes realizar um diagnóstico e
avaliar a personalidade do indivíduo.
É importante você saber que a psicoterapia breve é uma técnica, e não
deve ser utilizada indiscriminadamente para qualquer caso dentro da
ideia de que é melhor algum tipo de tratamento do que nenhum. Assim
como os pacientes devem ser avaliados em suas características de
personalidade e de psicopatologia, o terapeuta deve avaliar se detém
conhecimento necessário e condições técnicas para realizar o
atendimento. Caso perceba que o paciente pode se beneficiar da
psicoterapia breve, mas não possui como profissional as condições
necessárias, o terapeuta deve encaminhar o paciente a outro
profissional.

Lemgruber (1997, p. 51) nos apresenta características que devem ser


observadas para que reconheçamos o paciente como em condições de
se submeter ao tratamento em psicoterapia breve, sendo o principal
deles o ego minimamente estruturado a ponto de poder enfrentar
situações aflitivas. Além dessa característica básica, o paciente deve
apresentar um problema circunscrito, habilidade em reagir às
interpretações na entrevista inicial e, como já pontuamos antes, um grau
de motivação evidente para promover mudanças.

Também é desejável que possua uma capacidade intelectual acima da


média e boa versatilidade e sofisticação psicológica e tenha tido pelo
menos um relacionamento emocionalmente significativo em sua
infância. Vale ressaltar que recuperar e explorar memórias da infância
serão apenas possíveis resultados do processo da terapia e não
necessariamente um ponto focal de exploração.

Lembrar de algo do passado pode incrementar a capacidade do


paciente em compreender problemas que enfrenta no presente e isso
deve ser conduzido de forma hábil por parte do terapeuta para que
utilizemos desse movimento em auxílio aos exercícios de reflexão do
paciente sobre seu problema.

Junto ao ego em condições de refletir e lidar com seus problemas, é


importante que você também observe no paciente um grau de
consciência sobre o que está passando. Essa característica permite que
o paciente fale de seus problemas, de si próprio e de sua vida de forma
honesta, podendo reconhecer que seus sintomas têm origem
psicológica. Esse contexto será favorável a que o paciente se coloque
de forma curiosa a respeito de si próprio, com capacidade de
introspecção, permitindo abertura a novas perspectivas e gerando
expectativas mais realistas com relação aos resultados possíveis e
desejáveis.
Já em uma primeira consulta, você poderá fazer uma avaliação se o
problema que levou o sujeito a procurar terapia é algo circunscrito e
bem delimitado, ou seja, uma situação de vida específica e bem definida
e que representa a dificuldade presente no momento atual da vida desse
sujeito.

Quando entrevistado, o paciente que tenha uma boa consciência de seu


problema o trará com uma simplicidade visível, nos permitindo, dessa
forma, a descoberta de um foco a tratar.

Essa simplicidade é representada por algumas características, como


queixas diretas e simples com relação a uma situação, problema bem-
definido e relatado e sintomas também claramente relacionados à
situação.

Fica evidente a importância que você deve dar ao levantamento das


informações desde o primeiro momento do tratamento.

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Indicadores para a psicoterapia breve
Neste vídeo, refletiremos sobre a importância do diagnóstico
nosológico, bem como os recursos de adaptação do paciente, o estágio
de consciência frente ao problema e a qualidade do vínculo com o
terapeuta observado no início do tratamento, que também são
indicadores para a psicoterapia breve.

Critérios de contraindicação
Devemos saber identificar se o paciente tem indicação e adequação
para um atendimento em psicoterapia breve, sendo importante que,
desde o primeiro contato, tenhamos o cuidado não somente com a
correta indicação de tratamento, mas também para evitar que o paciente
possa se prejudicar com o tratamento insuficiente e inadequado frente
às suas características. Para tal avaliação, você poderá contar com o
auxílio do que as pesquisas já nos informaram e, principalmente, com o
bom senso clínico.

Malan (1981, p. 75) traz categorias de pacientes que entende como


contraindicados para a psicoterapia breve, que são:

psychology Tentativas sérias de suicídio

psychology Dependência química

psychology Hospitalização prolongada

psychology Mais de uma série de eletroconvulsoterapia


(ECT)

psychology Alcoolismo crônico

psychology Sintomas obsessivos-compulsivos


incapacitantes

psychology Sintomas fóbicos incapacitantes

psychology Atuações gravemente hetero ou


autodestrutivas

Também fique atento a algumas condições observadas na avaliação


inicial que podem contraindicar o atendimento em psicoterapia breve,
como a evitação e incapacidade de estabelecer contato com o
terapeuta, crenças extremamente rígidas e problemas complexos
indicativos de trabalho de longo prazo, falta de motivação mínima para o
tratamento e, completando essa relação, um estado de perturbação
depressiva ou psicótico.

Tenha sempre em mente que, para além dos critérios que indicam
adequação do caso para a psicoterapia breve, é preponderante para
obtenção de resultados que o nível de motivação do paciente seja
elevado e que a capacidade de focalização por parte do terapeuta esteja
em bom nível.

Ocorrendo essas duas condições, até mesmo casos nos quais


observamos um grau de neuroticismo bem elevado e pacientes com
transtornos psiquiátricos crônicos, não estando em fase aguda,
poderiam se beneficiar de uma psicoterapia breve.

Atenção!

É necessária uma avaliação sobre como se encontra a estruturação do


ego do paciente, que não estando em um bom nível, contraindicará a
psicoterapia breve. Lembrando que as funções egóicas se dividem em
percepção, memória, pensamento, consciência, juízo crítico, raciocínio,
linguagem e comunicação, sendo funções importantes e que precisam
estar em condições de permitir a realização de insights.

Paralelamente à avaliação dos critérios de indicação e contraindicação,


brevemente citados neste estudo, você deverá se utilizar do bom senso
clínico. Um paciente com uma patologia complexa, que a princípio torne
o caso não indicado, pode reunir capacidades cognitivas ou nível de
motivação que o habilitem à psicoterapia breve, visando a resultados
que podem vir a beneficiá-lo. Por outro lado, outro paciente com a
mesma patologia pode não reunir as mesmas condições, não sugerindo
tais benefícios.

Reforçamos e acrescentamos aqui casos de não indicação para


psicoterapia breve, relacionando os transtornos maníacos e
hipomaníacos, psicoses, sérias tendências sociopáticas e condições
envolvendo risco de vida como, por exemplo, uma doença autoimune
em estágio avançado (LEMGRUBER, 1997, p. 50).

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Casos de não indicação para
psicoterapia breve
Neste vídeo, refletiremos sobre as categorias de pacientes e casos
contraindicados para psicoterapia breve.

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Podemos admitir que a busca por ajuda terapêutica representa uma


atitude frente ao seu sofrimento, podendo revelar um certo grau de
motivação para o tratamento. Qual é a importância da motivação do
paciente para a psicoterapia breve?

Para o atendimento em psicoterapia breve, o grau de


A
motivação não interfere para o início do tratamento.

A motivação é condição fundamental para a


B indicação e possibilidade de auxílio ao paciente em
psicoterapia breve.

A motivação só será condição necessária em casos


C
de transtornos de personalidade.

Um atendimento em psicoterapia breve pode ser


iniciado sem a motivação por parte do paciente e,
D
caso a motivação ocorra ao longo do tratamento,
será um fator de auxílio.

Somente em casos de ideações suicidas a


E motivação será necessária para o início do
tratamento.
Parabéns! A alternativa B está correta.

Para indicação a atendimento em psicoterapia breve, é uma


condição fundamental que o paciente tenha um certo grau de
motivação para o tratamento, de forma a se empenhar
minimamente no processo. O fato de procurar atendimento,
independentemente do seu grau de consciência sobre o problema,
já é indicativo de existência de motivação, algo que deve ser
explorado pelo terapeuta.

Questão 2

Já no primeiro contato, é extremamente importante a identificação


de aspectos que contraindicam a psicoterapia breve, contando para
tal com uma avaliação da observação clínica e o bom senso do
terapeuta. Aponte a seguir o grupo de características que
contraindicam a psicoterapia breve segundo Malan (1981):

Tentativas repetidas de suicídio, ser menor de idade


A
e alcoolismo.

Sintomas obsessivos-compulsivos incapacitantes,


B
transtorno de ansiedade e depressão severa.

Alcoolismo crônico, tentativas sérias de suicídio e


C
hospitalização prolongada.

Mais de uma hospitalização de longo prazo,


D
dependência química e ser menor de idade

Sintomas fóbicos incapacitantes, ter feito


E eletroconvulsoterapia e histórico de transtorno de
ansiedade.

Parabéns! A alternativa C está correta.

Segundo Malan (1981), tentativas sérias de suicídio, dependência


química, hospitalização prolongada, mais de uma série de
eletroconvulsoterapia (ECT), alcoolismo crônico, sintomas
obsessivos-compulsivos incapacitantes, sintomas fóbicos
incapacitantes e atuações gravemente hetero ou autodestrutivas
são características que contraindicam a psicoterapia breve por
indicarem tratamento de longo prazo. A opção de cuidar pacientes
com essas características em psicoterapia breve pode incorrer no
erro de fornecer tratamento inadequado e insuficiente diante de
suas características.

2 - Limites éticos
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer os limites éticos para a atuação da
psicoterapia breve.

Ética na prática da psicologia


Neste tópico, teremos contato com o conceito de ética e sua aplicação
junto à psicologia e, mais especificamente, a atuação em psicoterapia
breve. Contextualizaremos a ética na psicologia, tanto na formação
profissional quanto na postura profissional e em situações específicas
na atuação clínica. Como forma de auxiliarmos o entendimento da ética
na prática clínica em psicoterapia breve, promoveremos um diálogo
entre o Código de Ética Profissional do Psicólogo e situações
específicas características dessa atividade clínica.

Todo exercício de profissão pressupõe o domínio de uma competência


técnica, uma postura de compromisso com a sociedade e um rigor
ético. Com a psicologia não é diferente e, na medida em que a prática da
atuação do psicólogo foi sendo reconhecida no Brasil, com sua
regulamentação ocorrendo em 1962, os aspectos da profissão foram
ficando mais claros, passando a contar com conselhos regionais e
federal, que cumprem as funções de regulamentar, orientar e fiscalizar o
exercício profissional.

Atenção!
Ao terminar o seu curso de formação e se tornar um psicólogo, você
contará com um código de ética profissional, que o norteará nos seus
procedimentos para que se mantenha dentro de uma conduta ética
esperada, aplicável em todas as áreas de atuação da psicologia,
inclusive a atuação clínica.

A profissão de psicólogo se define por um corpo de práticas que busca


atender às demandas sociais, suportado por padrões e procedimentos
técnicos seguros e confiáveis e pelo acompanhamento de normas
éticas garantindo um bom padrão de relação entre os profissionais,
principalmente com a sociedade e público diretamente atendido. A
função principal do nosso código de ética profissional é garantir um
padrão adequado de atuação que valide e fortaleça a relação da
categoria junto à sociedade. O código de ética não tem como função
determinar a conduta técnica da atuação, que fica a cargo dos cursos de
formação e das variadas especializações existentes no campo da
psicologia.

O conhecimento é algo dinâmico, com constantes descobertas que são


fruto de novas pesquisas, permitindo o aprimoramento do
conhecimento sobre o comportamento humano, suas psicopatologias e
o desenvolvimento de técnicas terapêuticas mais eficientes que alteram
as práticas da psicologia à medida que avança.

Da mesma forma, o código de ética da psicologia permanece em


constante renovação e adequação às novas práticas que despontam.
Um exemplo é o fato de experimentarmos de forma mais massiva o
atendimento on-line por ocasião da pandemia do covid, iniciada em
2020. A necessidade de uma adequação para o atendimento
psicológico fez com que essa prática fosse revisada e consolidada
como uma forma eficiente de psicoterapia, inclusive para a psicoterapia
breve.

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Padrão adequado de atuação
Neste vídeo, refletiremos sobre a função principal do Código de Ética
Profissional do Psicólogo, buscando garantir um padrão adequado de
atuação.
Ética na formação do psicólogo
clínico
A psicoterapia breve remete diretamente à atuação clínica, seja em
atendimentos individuais ou em grupo. Veremos a seguir algumas
orientações relativas à formação do psicólogo e na condução de sua
trajetória profissional, no que se refere a ética.

A formação acadêmica do psicólogo o habilita para a realização de


avaliações psicológicas, diagnósticos, aplicação de testes psicológicos,
além do reconhecimento de possibilidades de tratamento, das
limitações técnicas das abordagens e limitações pessoais frente aos
casos clínicos. Diante de tantos desafios e responsabilidades, é
altamente recomendável a boa aplicação no curso de graduação e nos
cursos de aperfeiçoamentos das diversas áreas de atuação da
psicologia que eventualmente você venha a optar. Nessa direção,
encontramos a orientação do Código de Ética Profissional do Psicólogo
em seus Princípios Fundamentais, item IV:

O psicólogo atuará com


responsabilidade, por meio
do contínuo aprimoramento
profissional, contribuindo
para o desenvolvimento da
Psicologia, como campo
científico de conhecimento e
de prática.”
(Código de Ética Profissional do Psicólogo, 2005, p.
7)

É, portanto, um cuidado ético profissional manter uma constante e


permanente prática de estudos para aperfeiçoamento técnico
profissional, sempre em escolas e centros de pesquisa confiáveis e
reconhecidos pelos conselhos e órgãos reguladores de ensino próprias
à psicologia.

Ao lado desse contínuo aperfeiçoamento profissional, você deve cuidar


de sua condição psicológica, pois atuamos junto aos nossos pacientes
utilizando como ferramenta fundamental a nossa estrutura egóica.
Devemos ficar atentos aos momentos e situações nas quais precisamos
de um cuidado psicológico, buscando uma terapia quando perceber
necessário.
Estamos falando aqui de uma dinâmica natural e esperada no encontro
de duas pessoas, no caso paciente e terapeuta, em que o fenômeno da
contratransferência, que são as sensações e emoções que o terapeuta
vive ao longo de uma sessão diante das manifestações de seu paciente,
pode influenciar na boa condução do tratamento se não for bem
observada (ROMARO, 2014).

É recomendado que você, caso observe ser necessário, busque por


supervisão junto a profissionais mais experientes. Isso garantirá uma
ampliação da visão sobre os casos clínicos, contribuindo para uma
atuação mais eficiente.

Ao seguir essas recomendações, cuidando de sua permanente


atualização e crescimento profissional, assim como de sua condição
psicológica, você trabalha para estar em uma condição mais favorável
para atender às demandas de seus pacientes, identificando limitações
técnicas e pessoais e sabendo quando é indicado encaminhar o
paciente a um colega mais habilitado. Essa atitude é um sinal de
respeito e não de limitação profissional. Isso porque não é exigido do
psicólogo que ele tenha condição de lidar com qualquer caso clínico que
se apresente, mas sim atuar dentro de seus limites.

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Permanente atualização e
crescimento profissional
Neste vídeo, refletiremos sobre a formação ética do psicólogo clínico
como parte das condições mais favoráveis para atender às demandas
de seus pacientes.

Ética na prática da psicoterapia


breve
Neste núcleo conceitual, propomos um diálogo entre o Código de Ética
Profissional do Psicólogo e a psicoterapia breve, identificando e
comentando os principais pontos convergentes com a prática.

Entenda os principais pontos a seguir.

artigo 1º expand_more

No seu item “b”, sobre as responsabilidades do psicólogo, o


código de ética diz: “Assumir responsabilidades profissionais
somente por atividades para as quais esteja capacitado pessoal,
teórica e tecnicamente”. Esta recomendação indica a
necessidade do psicólogo saber principalmente dos limites,
indicações e contraindicações da atuação em psicoterapia breve.
Nesse mesmo artigo, no item “d”, observamos orientação para a
prestação de serviços sem visar ao benefício pessoal em caso
de calamidade pública ou de emergência, e aqui encontramos
uma condição de atuação para a psicoterapia breve por ser bem
indicada para atuação em emergências e desastres.

artigo 3º expand_more

“O psicólogo, para ingressar, associar-se ou permanecer em uma


organização, considerará a missão, a filosofia, as políticas, as
normas e as práticas nela vigentes e sua compatibilidade com os
princípios deste Código.” Aqui, encontramos uma orientação que
se encaixa na atuação da psicoterapia breve em instituições de
saúde, e a necessidade de haver a habilidade em se relacionar
com as normas existentes, mantendo a observação das
condutas dentro de preceitos éticos.

artigo 7º expand_more

O artigo 7º comenta sobre a possibilidade de atuação do


psicólogo intervindo na prestação de serviços psicológicos
efetuados por outro profissional e em seu item “b” especifica:
“Em caso de emergência ou risco ao beneficiário ou usuário do
serviço, quando dará imediata ciência profissional”. Novamente
aqui nos remetemos ao atendimento em instituições de saúde,
nas quais o suporte é circunstancial, podendo ocorrer com
paciente que já pode contar com suporte psicológico.

artigo 8º expand_more
O artigo alerta sobre atendimento a menores de idade: “Para
realizar atendimento não eventual de crianças, adolescentes ou
interdito, o psicólogo deverá obter autorização de ao menos um
de seus responsáveis, observadas as determinações da
legislação vigente.” Esta é uma recomendação que abrange a
todos os tipos de abordagens na atuação clínica, devendo o
psicólogo que atua em psicoterapia breve ficar atento a esta
recomendação, pelo fato de seus atendimentos poderem ocorrer
em circunstâncias não previamente desejadas e previstas pela
família do menor de idade, como, por exemplo, em emergências
e de internações em instituições de saúde. Lembre-se de que ao
atender pacientes nas situações descritas neste parágrafo, as
informações que deverão ser passadas aos responsáveis devem
ser o estritamente essencial para a promoção de cuidados ao
seu paciente.

artigo 9º expand_more

O artigo fala sobre o sigilo: “É dever do psicólogo respeitar o


sigilo profissional a fim de proteger, por meio da
confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou
organizações, a que tenha acesso no exercício profissional.”
Essa também é uma orientação determinante na atuação clínica
de forma geral, em que você pode se ver diante de dilemas sobre
resguardar o sigilo estando diante de informações que revelem
riscos de vida ou indícios de crimes. Em casos dessa
complexidade, o próprio código de ética fornece orientações
complementares que auxiliarão com relação aos procedimentos
adequados de como fazer a comunicação a familiares e
contextos jurídicos, em nível de detalhes. Trabalhando com
psicoterapia breve, ou qualquer outro tipo de abordagem clínica,
recomendamos sempre que você mantenha um círculo de
relações profissionais em psicologia para estudos de casos ou
supervisão, nos quais poderá encontrar suporte caso se depare
com situações de decisão difícil.

A ética sempre será uma questão a ser refletida e decidida por você,
evidenciando a liberdade de pensarmos diante das normas e costumes
que regem a cultura na qual estamos inseridos.

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Ética: questão a ser refletida e
decidida
Neste vídeo, refletiremos sobre a ética como questão a ser examinada e
decidida pelo psicólogo, a partir dos valores humanos e pensamento
crítico em cada situação da vida profissional do psicólogo.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Toda profissão conta com normas éticas que regem a atuação de


seus profissionais. A psicologia conta com conselhos (federal e
estaduais) para tal observação. Nesse sentido, marque a alternativa
que apresenta as atribuições específicas dos conselhos na área da
psicologia.

A Colher opiniões do mercado, vigiar e punir.

Regulamentar, orientar e fiscalizar o exercício


B
profissional.

C Regulamentar e divulgar.

D Observar melhores práticas e divulgar.

E Orientar e desenvolver novas abordagens.

Parabéns! A alternativa B está correta.

Os conselhos federal e estaduais de psicologia têm a função de


regulamentar, orientar e fiscalizar as práticas dos profissionais que
atuam no campo da psicologia, garantindo a observação à
competência técnica, compromisso com a sociedade e com o rigor
ético do profissional.

Questão 2

No que se refere à atuação em uma organização como uma


instituição de saúde, por exemplo, o que orienta o Código de Ética
do Profissional Psicólogo?
Não assumir posicionamento nem tomar decisões
A
para não influenciar na condução do caso clínico.

Envolver-se o menos possível com os trabalhos


B coletivos e de equipe, preservando a atuação clínica
individual.

Atuar estritamente dentro das normas vigentes da


instituição, deixando de lado orientações do código
C
de ética para uma melhor harmonização com a
equipe.

Conduzir-se exclusivamente pelo que orienta a


D técnica de sua abordagem clínica,
independentemente das normas da instituição.

Ter habilidade em se relacionar com as normas


E existentes, mantendo a observação às posturas
éticas da prática em psicologia.

Parabéns! A alternativa E está correta.

O artigo 3º do Código de Ética Profissional do Psicólogo orienta


para que se considerem as normas, procedimentos e culturas das
organizações mantendo a observação às posturas éticas e, dessa
forma, contribuir para uma atuação mais integrada com instituição
e equipes de trabalho. Atuar de forma independente não contribui
para a qualidade da atuação do psicólogo em instituições, assim
como a não observação de orientações éticas do campo da
psicologia também coloca em risco a sua atuação junto à
instituição, sociedade e paciente.
3 - Iatrogenia
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as condições que contribuem para a
ocorrência da iatrogenia e a sua prevenção.

O que é iatrogenia no campo da


saúde mental?
Iatrogenia faz referência a um estado de doença ou um efeito adverso e
indesejado fruto de condutas médicas ao longo de um tratamento. Tem
sua origem no grego iatros, que significa médico, remédio ou medicina,
geno que significa aquele que gera ou produz, e ia significando uma
qualidade. Dessa forma, o termo iatrogenia poderia significar qualquer
atitude do médico, entretanto, o significado mais aceito é um resultado
negativo da atuação do médico. Podemos afirmar que todo tratamento
tem potencial para proporcionar um benefício como um potencial
iatrogênico, que não vai depender somente de capacidades
profissionais do terapeuta, mas também da forma como se dará a
relação terapeuta e paciente, no caso da atuação em saúde mental.

Segundo Tavares (2007), podemos compreender a amplitude do termo


iatrogenia, incluindo a atuação da psicologia como:

Iatrogenia (ou iatrogenose,


iatrogênese) abrange, portanto, os
danos materiais (uso de
medicamentos, cirurgias
desnecessárias, mutilações etc.) e
psicológicos (psicoiatrogenia – o
comportamento, as atitudes, a
palavra) causados ao paciente, não
só pelo médico como também por
sua equipe (enfermeiros, psicólogos,
assistentes sociais, fisioterapeutas,
nutricionistas e demais
profissionais).

(TAVARES, 2007, p. 181)

Em auxílio à compreensão sobre o conceito de iatrogenia, seus efeitos e


a reflexão sobre quais são as condições que favorecem e previnem tal
fenômeno, é importante relembrarmos quais são os objetivos de um
tratamento psicoterapêutico, mais especificamente, em psicoterapia
breve. Um paciente busca um apoio psicológico quando se encontra em
sofrimento psíquico, tendo esgotado seus recursos psicológicos diante
de seus problemas.
O tratamento psicológico visará então a auxiliar este paciente na
compreensão mais clara do problema, um melhor conhecimento de
suas características pessoais e, por fim, no desenvolvimento de
habilidades e estratégias psicológicas e comportamentais para lidar
com os problemas que enfrenta.

Em psicoterapia breve, esse percurso se dá com características


específicas, como um tempo limitado de tratamento, busca de um foco
terapêutico e atuação objetiva.

Em uma visão global, ficamos diante de um cenário que envolve uma


pessoa com suas características, situações problema, objetivos a serem
alcançados e técnicas terapêuticas a serem utilizadas, sendo, então, um
processo complexo que merece um olhar atento para a prevenção de
consequências indesejáveis, como o aumento do sofrimento do
paciente ao final do tratamento.

Uma vez que você já viu o significado do termo iatrogenia, vamos


compreendê-lo melhor no âmbito da atuação em saúde mental, mais
especificamente, na psicoterapia.

A iatrogenia na psicoterapia é um tema pouco


abordado no que se refere à atuação clínica, o que faz
este estudo bem relevante para que você amplie seu
olhar de cuidado junto a seu paciente.

Encontramos poucos estudos sobre os efeitos iatrogênicos na área da


saúde mental, sendo levantadas algumas possíveis explicações, como
uma certa ignorância por parte dos profissionais de saúde mental de
que sua atuação pode causar algum mal pelo fato do tratamento ser
apenas um encontro em que o paciente fala e é ouvido, sendo, portanto,
considerado não invasivo, não configurando risco de danos. Outro
problema é a resistência por parte dos profissionais de serem
pesquisados e não perceberem, ou subestimarem possíveis danos,
tendo uma maior tendência a acreditarem que estão sendo bem-
sucedidos no tratamento que estão oferecendo. Outra dificuldade é de
ordem metodológica para o estudo do tema, com falta de clareza
terminológica e de métodos adequados (JUNIOR, 2016, p. 80).

Atenção!
Estudos apontam que os tratamentos em saúde mental provocam uma
piora em até 10% dos casos, índice que pode ser considerado
preocupante. Como já comentamos, houve pouco avanço nos estudos
sobre o efeito iatrogênico pois, de uma forma geral, as pesquisas dão
mais ênfase aos benefícios terapêuticos.

Ao longo dos anos de pesquisa na evolução das psicoterapias, foi


possível observar avanços com relação à eficácia ou à diferença de
eficácia entre diferentes abordagens. Entretanto, este avanço não
ocorreu no mesmo nível do conhecimento dos possíveis efeitos
adversos causados pelo tratamento, sendo também um reflexo de
dificuldades metodológicas já mencionadas.

Diante desse cenário e da importância de evitarmos causar mais danos


ao paciente que já enfrenta um conflito psicológico, fica claro o quanto é
importante avançarmos em pesquisas que futuramente nos permitirão a
elaboração de procedimentos mais aprimorados para que o potencial
iatrogênico seja reduzido.

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Redução do potencial iatrogênico
Neste vídeo, refletiremos sobre a iatrogenia em saúde mental e a
adoção de procedimentos para que o potencial iatrogênico seja
reduzido.

Causas da iatrogenia na psicoterapia


breve
Analisaremos a seguir as posturas e procedimentos que nos indicam
serem potenciais causadores de efeitos iatrogênicos no paciente,
quando submetido à psicoterapia breve.

Atenção!
O paciente fragilizado pelo problema que enfrenta pode idealizar na
figura do terapeuta uma série de expectativas e fantasias já ao longo do
primeiro encontro. Esses fatores podem contribuir para que iatrogenias
ocorram em decorrência de fenômenos inerentes à relação terapeuta-
paciente, como a transferência, contratransferência e mecanismos de
defesa (negação, projeção, racionalização, repressão...).
Estes comportamentos e reações podem ocorrer desde o primeiro
momento da sessão, na qual você deve estar bem atento aos
comportamentos do paciente, vigilante com relação aos seus
pensamentos e as emoções diante dele. A falta de atenção a esses
detalhes atrapalha na formação de um vínculo terapêutico consistente,
contribuindo para que situações iatrogênicas possam ocorrer
futuramente. Outra consequência de um processo de
contratransferência não observada é dificultar a observação de detalhes
importantes sobre o caso, expressos no discurso e comportamento do
paciente.

A ocorrência de iatrogenia é mais comum do que se pode supor, e


assinalamos aqui alguns erros apontados por Ortiz (2013, p. 279) que
merecem nossa atenção.

psychology Maior interesse em apontar distúrbios, do


que áreas preservadas da vida do sujeito

psychology Demora além do necessário em eventos


traumáticos

psychology Dar previsões negativas que não servem a


um propósito positivo

psychology Dar um diagnóstico sem explicar as


implicações práticas

psychology Ficar calado e não intervir nos momentos


críticos do paciente

psychology Expressar interpretações antecipadamente


e hipóteses incertas
Você deve lembrar que o atendimento em psicoterapia breve tem um
término previsto e que o paciente prosseguirá com suas questões com
as habilidades e resoluções que conseguir angariar com a sua ajuda e,
caso não ocorram a contento, podem fazer com que ele tenha
dificuldades agravadas em temas mais exigentes.

Outros aspectos que podem contribuir para a ocorrência de situações


iatrogênicas são: a falha na estrutura dos atendimentos, como a
impossibilidade de uma sequência dos atendimentos em que o paciente
não é atendido com a periodicidade necessária diante da gravidade de
seu problema; a inadequação do ambiente terapêutico, fazendo com
que o paciente não se sinta à vontade para falar de seus problemas; e a
falta de dedicação ou competência do terapeuta. Nesses casos,
sentimentos, como o de desamparo, podem fazer com que o paciente
desacredite do tratamento e em sua própria capacidade de melhora.

Muito dos erros que são cometidos pelos psicoterapeutas dizem


respeito às suas próprias personalidades, apontando para a
necessidade de um olhar de cuidado para si. Em decorrência dessas
dificuldades não observadas, pode-se gerar expectativas irrealistas com
relação ao tratamento que realiza, junto a um excesso de autoconfiança
e à falta de experiência profissional. Nesse sentido, é importante que
você busque cuidar desses aspectos de sua personalidade, tanto
pessoalmente em um processo terapêutico de autoconhecimento,
identificação e resolução de seus conflitos, além de manter um contínuo
aperfeiçoamento profissional e suporte para seus casos em grupo de
estudos ou a supervisão de seus casos, até que adquira experiência
mais aprofundada.

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Ocorrência de situações iatrogênicas
Neste vídeo, refletiremos sobre a iatrogenia na psicoterapia breve, suas
possíveis causas e aspectos que podem contribuir para a ocorrência de
situações iatrogênicas.

Como prevenir a iatrogenia em


psicoterapia breve?
Antes de iniciarmos com dicas e orientações sobre como prevenir um
processo iatrogênico, é importante relembrarmos características
principais da psicoterapia breve, como a realização de uma boa
avaliação psicológica inicial, um bom planejamento terapêutico que
identifique focos a serem trabalhados, forma objetiva de atuação e
tempo previsto para o término. Diante dessas características, é
importante atentarmos para cuidados que você deve tomar no início e
ao longo de todo o tratamento, buscando evitar que danos psicológicos
sejam causados ao paciente. Apontaremos a seguir algumas
orientações no sentido de contribuir para uma melhor condição de
tratamento e prevenção a situações iatrogênicas.

Certifique-se de que o caso é adequado para o atendimento em


psicoterapia breve, evitando o tratamento aquém do que seria
necessário, principalmente os que sinalizam um longo prazo de
tratamento.

Atenção!
É necessário que você observe sua postura frente ao seu paciente, que
deve ser humilde, genuína, sensível, não julgadora, interessada, parceira
e proativa, no sentido de contribuir para a formação de um bom vínculo
terapêutico, compreensão do processo por parte do paciente,
aumentando as chances de engajamento por parte deste no tratamento.

Devemos lembrar sempre que um processo psicoterapêutico é uma


relação entre duas pessoas, na qual o cuidador deve estar em condições
de cuidar de outras pessoas. Vale dizer que você deve saber identificar
se está em condições psicológicas de atuar, buscando auxílio sempre
que necessário. Os processos de contratransferência, quando não
observados, contribuem para que a relação terapeuta-paciente não
ocorra da melhor forma em benefício do paciente.

Como a psicoterapia breve é dinâmica e tem uma previsão de término,


você deve se empenhar em esclarecer ao seu paciente todo o processo,
levantando os problemas e identificando os objetivos terapêuticos. É
muito importante que você forneça e peça feedbacks constantemente,
de forma a alinhar as expectativas e ajustar o planejamento terapêutico.
Use linguagem clara e acessível, evitando terminologias técnicas que
podem gerar confusão e possível frustração em seu paciente.

Ortiz (2013, p. 281) nos fornece uma série de dicas importantes em um


processo psicoterapêutico que ajudam a prevenir a iatrogenia, da qual
separamos as que mais nos auxiliam em um atendimento em
psicoterapia breve:

Formulações pouco claras, confusas ou não


compreensíveis podem resultar em confusão e aumentar o
nível de ansiedade e autodesqualificação por parte do
paciente.

Minimizar os sintomas de seu paciente pensando que está


ajudando a manejá-los pode ter um efeito contrário,
causando uma percepção de não estar sendo
compreendido ou diminuindo mais ainda sua percepção de
autoeficácia por não estar conseguindo lidar com algo tido
como simples.
Maximizar a percepção dos sintomas visando obter maior
aderência ao tratamento pode gerar desesperança no
paciente.

Falta de respeito ao tempo de reação e ritmo do paciente


mina a motivação dele.

Diagnóstico errado ou uma comunicação inadequada


podem aumentar a reflexão sobre o problema além do
razoável, elevando o nível de ansiedade.

Iniciar a abordagem de problemas centrais sem que o


vínculo terapêutico esteja estabelecido não contribui para
a disposição a flexibilização.

Como uma boa dica, busque empreender em uma postura empática,


aprimorando sua capacidade de escuta para que o paciente se perceba
compreendido e sinta-se mais à vontade para falar de seus conflitos. A
empatia é uma virtude que cada um de nós traz em algum nível, mas
que pode e deve ser aprimorada a cada dia. Um bom exercício de
aprimoramento da empatia é a auto-observação quando diante de um
paciente, se você está inteiramente interessado em saber tudo o que
ocorre com ele e compreender como ele percebe o que relata. Pode
parecer uma postura óbvia, mas não é incomum que atravessemos
nossa percepção com perspectivas nossas. Uma melhor compreensão
do paciente previne iatrogenia.

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Orientações de como prevenir um
processo iatrogênico
Neste vídeo, abordaremos estratégias de prevenção à iatrogenia.

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1
Toda atuação médica ou psicológica tem potencial, tanto de trazer
benefícios como de causar danos ao paciente, sendo este último
efeito denominado iatrogenia. Em se tratando de um processo
psicoterapêutico, os fatores envolvidos em um processo que seja
benéfico ao paciente ou iatrogênico são

A setting terapêutico e incapacidade de insight.

capacidade profissional e qualidade da relação


B
terapeuta-paciente.

C descaso terapêutico e a patologia envolvida.

D experiência profissional e tempo de tratamento.

E motivação e setting terapêutico.

Parabéns! A alternativa B está correta.

Os fatores envolvidos em um processo que resultará em um


benefício ou prejuízos ao paciente são a capacidade profissional e a
relação terapeuta-paciente.

Questão 2

Um primeiro passo no sentido de evitar a iatrogenia em psicoterapia


breve é reconhecer se o caso é ou não adequado a essa forma de
tratamento. Além dessa observação, a postura do terapeuta
também é um fator determinante para prevenir a iatrogenia. Marque
a alternativa que apresenta as posturas adequadas do terapeuta
nesse sentido.

A Imparcial e silencioso.

B Inflexível e imparcial.

C Genuíno e sensível.

D Direto e inflexível.

E Proativo e aconselhador.
Parabéns! A alternativa C está correta.

Para contribuir para o estabelecimento de uma confiança no


tratamento e engajamento por parte do paciente no tratamento, o
terapeuta deve manter uma postura genuína, sensível, além de não
julgadora, interessada, parceira e proativa. Dessa forma,
contribuímos para uma melhor probabilidade de sucesso no
tratamento, além de prevenir a iatrogenia.

Considerações finais
Neste estudo, tivemos a oportunidade de observar as condições
adequadas para o início em um atendimento em psicoterapia breve,
como a observação do grau de motivação e consciência do problema
por parte do paciente, uma boa avaliação psicológica, um bom
planejamento terapêutico e atenção especial à formação de um vínculo
terapêutico sólido. Dessa forma, preparamos a base para um bom
tratamento.

Também tivemos a oportunidade de reconhecer as condições e


características específicas dos pacientes que indicam ou contraindicam
a psicoterapia breve.

Outro ponto importante que abordamos se refere à iatrogenia e ao


cuidado em não permitir que ocorram danos e prejuízos de ordem
psicológica em decorrência do atendimento que oferecemos, com uma
série de recomendações sobre procedimentos técnicos.

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Podcast
Neste podcast, refletiremos sobre as principais questões éticas
envolvidas na psicoterapia breve e o papel ativo do psicólogo em
diferentes contextos, com destaque para a prática na clínica e em saúde
mental.
Explore +
Para uma orientação mais ampla sobre a ética na prática da
psicoterapia, consulte o site do Conselho Federal de Psicologia, mais
especificamente a seção Orientação e Ética.

Referências
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de Ética Profissional do
Psicólogo. Brasília, agosto de 2005. XIII Plenário do Conselho Federal de
Psicologia

JUNIOR, C. K. A.; MORETTO, M. L. T. Reflexões acerca do potencial


iatrogênico das psicoterapias no campo da Saúde Mental. Rev. SBPH, v.
19 n. 1, Rio de Janeiro – jan./jul. – 2016.

LEMGRUBER, V. Psicoterapia Breve Integrada. Porto Alegre: Artes


Médicas, 1997.

MALAN, D. H. As Fronteiras da Psicoterapia Breve: um exemplo de


convergência entre pesquisa e prática médica. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1981.

ORTIZ, E. M. Manual de Psicoterapia com Enfoque Logoterapéutico.


Bogotá: Manual Moderno, 2013.

PROCHASKA, J. O.; Di CLEMENTE, C. C. Transtheoretical Therapy:


Toward a more integrative model of change. Psychotherapy Theory,
Research and Practice, vol. 19, #3, Fall, 1982.

ROMARO, R. A. Ética na Psicologia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.

TAVARES, F. M. Reflexões acerca da iatrogenia e educação médica.


Revista Brasileira de Educação Médica, v. 31, n. 2, 2007, p. 180-185.

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