Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
ENTREVISTA E
ACONSELHAMENTO
PSICOLÓGICO
Entrevista no
processo de pesquisa
e investigação
científica
Anna Rita Maciel Simião
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
Em termos gerais, a pesquisa científica começa com uma ideia, com o interesse
que desperta o pesquisador a fazer ciência e a descobrir e produzir novos conhe-
cimentos. Para fazer ciência, o pesquisador precisa de um desenho de pesquisa,
ou seja, um delineamento que vai nortear o projeto e seus respectivos contornos.
Uma pergunta, ou item a ser pesquisado, encaminhará a investigação para alcançar
os objetivos traçados. Assim, um bom projeto depende de um bom desenho de
pesquisa.
Para desenhar um projeto de pesquisa, além de empenho e cuidado com as
questões éticas e teóricas da profissão, é preciso conhecimento científico ade-
quado e a escolha de uma metodologia. Entre a etapa de desenho de pesquisa
e a etapa de trabalho de campo para entrevistar os participantes, existe um
2 Entrevista no processo de pesquisa e investigação científica
métodos e práticas nem sempre são tão óbvios e diretos quando comparados
à pesquisa quantitativa. Flick (2014) define a pesquisa qualitativa como uma
abordagem metodológica interessada em analisar o significado subjetivo ou
a produção social de questões, eventos ou práticas, coletando dados não
padronizados, análise de textos ou imagens, em vez de números e estatísticas.
Dentro do contexto da pesquisa em ciências sociais, ciências da saúde
e ciências humanas, que trazem um desafio para o pesquisador — uma vez
que o próprio objeto de estudo dessas áreas envolve especificidades, abs-
trações e singularidades que o diferenciam das outras áreas das ciências
— a pesquisa qualitativa tem uma boa inter-relação, pois permite investigar
cientificamente subjetividades psicológicas e constructos sociais abstratos
dentro de determinados grupos. De acordo com Serapioni (2000), podemos
destacar como características principais das pesquisas qualitativas:
Pesquisa Pesquisa
Dimensão quantitativa qualitativa
Questionário
Também chamados de surveys, os questionários são um conjunto de perguntas
estruturadas a serem respondidas pelos participantes da pesquisa. Os ques-
tionários podem ser criados pelos pesquisadores para atender ao desenho
de pesquisa de determinado enunciado, ou podem ser usados questionários
psicológicos criados e certificados por outros profissionais. É um método
fácil de aplicar e capaz de abranger muitos sujeitos na pesquisa, tornando
o grupo amostral bem abrangente. É recomendável que o pesquisador e
seus associados passem por um treinamento de aplicação do questionário
(BARBOSA, 1999).
Análise documental
Para a análise documental, o pesquisador utiliza os documentos de registro
da instituição examinada para coletar informações sobre os participantes.
Esses documentos podem ser prontuários médicos, relatórios do RH da orga-
nização, entrevistas do RH de desligamento ou admissão, etc. É um método
de fácil aplicabilidade e que não exige treinamento prévio nem contato direto
do pesquisador com os participantes (BARBOSA, 1999).
Grupos focais
Um grupo focal é um grupo de discussão com o propósito de obter informa-
ções sobre os participantes. Pessoas com alguma característica comum entre
si são convidadas a participar da discussão sobre determinado assunto. O
pesquisador age como moderador do grupo e incentiva os participantes a
conversar entre si, trocando experiências, relatando suas necessidades e
expectativas. O objetivo principal de qualquer grupo focal é revelar as per-
cepções dos participantes sobre os tópicos em discussão. Os grupos focais
tendem a envolver no máximo 12 pessoas por aproximadamente 90 minutos.
8 Entrevista no processo de pesquisa e investigação científica
Observação direta
Na observação direta, o pesquisador age como um observador, coletando
informações a partir do exame atento dos comportamentos e ações dos par-
ticipantes da pesquisa em determinada situação. O pesquisador deve então
relatar com fidelidade o que viu e percebeu. Exige um treinamento muito
específico para o observador, incluindo competências como habilidades de
observação e de registro. O observador não interage com os participantes,
nem com a situação, funcionando como um agente externo (BARBOSA, 1999).
Entrevista
Um elemento importante dos métodos de coleta é a entrevista. No âmbito da
pesquisa e investigação científica, principalmente de pesquisas nas ciências
sociais, humanas e da saúde, a entrevista é um dos métodos de investigação
mais empregados.
Stewart e Cash (2017) definem a entrevista como um processo de comu-
nicação interacional entre duas partes, em que pelo menos uma delas tem
um propósito predeterminado e claro que envolve os atos de perguntar e
responder.
A entrevista é um processo complexo que demanda compromisso do pes-
quisador, já que a pesquisa nas ciências sociais, humanas e de saúde sempre
corresponde a uma prática que também contém uma dimensão reflexiva e
de descoberta, para além da testagem de conceitos e teorias. Essa dimensão
é a da comunicação e da relação entre as pessoas.
Nesse contexto, a entrevista como coleta de dados se torna um método
interpretativo e uma situação social que consegue dar voz às muitas plura-
lidades que fazem parte das diversas etapas de uma investigação científica,
incluindo a própria singularidade do pesquisador, que passa a ser um agente
interno e ativo, que está envolvido em todos os momentos da pesquisa.
Autores como Garret (1981) e Seidman (1991) afirmam que o próprio ato
de entrevistar envolve o interesse na história e argumentações do outro,
baseando-se nas artes de ouvir, conversar e perguntar. O propósito da en-
trevista não é somente fornecer respostas a perguntas específicas, nem
mesmo testar hipóteses ou avaliar um conceito específico. O propósito da
Entrevista no processo de pesquisa e investigação científica 9
Entrevista estruturada
Na entrevista estruturada, o pesquisador segue um roteiro previamente
estabelecido de perguntas abertas ou mesmo um questionário de múltipla
escolha. Não é permitido adaptar, inverter ou elaborar novas perguntas
para as determinadas situações que surgirem durante o experimento. Esse
estilo de entrevista é o muito usado em pesquisas quantitativas, que tem
um foco menos vago e mais definidos que pesquisas qualitativas (FRASER;
GONDIM, 2004).
Entrevista semiestruturada
As entrevistas semiestruturadas combinam elementos das entrevistas es-
truturadas e abertas. O pesquisador conta com um roteiro previamente
estabelecido, mas o contexto da conversa permite que o participante tenha
liberdade para discorrer sobre as questões. Assim como as abertas, são
muito usadas em pesquisas qualitativas, pois são desencadeadas por um
processo de trocas verbais e não verbais entre pesquisador e entrevistado
(FRASER; GONDIM, 2004).
10 Entrevista no processo de pesquisa e investigação científica
Análise de dados
Uma vez que os dados tenham sido coletados, o próximo momento da pesquisa
é a análise de dados. Nessa etapa, o pesquisador deve interpretar os dados da
pesquisa para, a partir deles, tentar responder as perguntas do enunciado. Por
terem objetivos muito distintos, a análise de dados de pesquisas qualitativas
e de pesquisas quantitativas diferem bastante entre si.
Na pesquisa quantitativa, a análise de dados gira em torno do conceito de
variáveis. As variáveis são as características a serem medidas pela pesquisa. São
variadas e podem ser codificadas em números. Reis, E. e Reis, I. (2002) definem
e separam as variáveis em variáveis quantitativas, ou seja, características
que apresentam valores numéricos que fazem sentido natural matemático,
e variáveis qualitativas, que são as características que não possuem valores
quantitativos que fazem sentido, pois representam uma classificação dos
indivíduos. Além disso, as variáveis podem ser nominais (sexo, cor dos olhos,
religião, etc.) ou ordinais (escolaridade, estágio de uma doença, etc.).
As análises em pesquisa quantitativa são descritivas, pois buscam explicar
as relações estatísticas entre as variáveis e a população pesquisada. As análises
em relação às variáveis podem ser, de acordo com Freitas e Mascarola (2002),
Entrevista no processo de pesquisa e investigação científica 11
Estudo de validação:
■ métodos de codificação para descrever ou qualificar a atividade
verbal e/ou não verbal;
■ o paciente (real ou simulado) como juiz da qualidade relacional e
técnica.
Estudos observacionais:
■ Os pacientes estão satisfeitos, bem informados?
■ Por quem?
■ Raciocínio do clínico: como acontece, o que o favorece ou dificulta?
■ Qualidade da história clínica: até que ponto corresponde à realidade
daquilo que o paciente traz para a consulta?
■ Compreensão do paciente sobre a informação recebida.
14 Entrevista no processo de pesquisa e investigação científica
Referências
ANJOS, A. Planejamento de experimentos I. Curitiba: Universidade Federal do Paraná,
7 mar. 2005. Disponível em: https://docs.ufpr.br/~aanjos/CE213/apostila.pdf. Acesso
em: 17 ago. 2021.
BAILLY, A. Dictionnaire grec français. Paris: Hachette, 1950.
BARBOSA, E. F. Instrumentos de coleta de dados em pesquisa. Minas Gerais: SEE-MG/
CEFET-MG, 1999.
BONI, V.; QUARESMA, S. Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas em ciências
sociais. Revista Eletrônica de Pós-graduandos de sociologia da UFSC, v. 2, n. 3, p. 68–80,
2005. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/emtese/article/view/18027.
Acesso em: 17 ago. 2021.
BRYMAN, A. Social research methods. 4. ed. Nova York: Oxford University Press, 2012.
CARRIÓ, F. B. Entrevista clínica: habilidades de comunicação para profissionais de
saúde. Porto Alegre: Artmed, 2012.
CÔRTES MIGUEL, F. V. A entrevista como instrumento para investigação em pesquisas
qualitativas no campo da linguística aplicada. Odisséia, n. 5, 2010. Disponível em:
https://periodicos.ufrn.br/odisseia/article/view/2029. Acesso em: 17 ago. 2021.
DUARTE, R. Entrevistas em pesquisas qualitativas. Educar em Revista, n. 24, p. 213–225,
2004. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0104-4060.357. Acesso em: 17 ago. 2021.
FLICK, U. An introduction to qualitative research. 5. ed. London: Sage Publications
Ltd, 2014.
FRASER, M. T. C.; GONDIM, S. M. G. Da fala do outro ao texto negociado: discussões sobre
a entrevista na pesquisa qualitativa. Paidéia, v. 14, n. 28, p. 139–152, 2004. Disponível
em: https://doi.org/10.1590/S0103-863X2004000200004. Acesso em: 17 ago. 2021.
FREITAS, H.; MOSCAROLA, J. Da observação à decisão: métodos de pesquisa e de aná-
lise quantitativa e qualitativa de dados. RAE-eletrônica, v. 1, n. 1, p. 1–30, 2002. Disponível
em: https://rae.fgv.br/rae-eletronica/vol1-num1-2002/observacao-decisao-metodos-
-pesquisa-analise-quantitativa-qualitativa. Acesso em: 17 ago. 2021.
GARRET, A. A entrevista, seus princípios e métodos. Rio de Janeiro: Agir, 1981.
GOMES, M. E. S.; BARBOSA, E. F. A técnica de grupos focais para a obtenção de dados
qualitativos. Educativa, fev. 1999. Disponível em: http://www.tecnologiadeprojetos.
com.br/banco_objetos/%7B9FEA090E-98E9-49D2-A638-6D3922787D19%7D_Tecnica%20
de%20Grupos%20Focais%20pdf.pdf. Acesso em: 17 ago. 2021.
Entrevista no processo de pesquisa e investigação científica 17
Leituras recomendadas
CRESWELL, J.; CLARKE, V. Pesquisa de métodos mistos. 2. ed. São Paulo: Penso, 2013.
GUNTHER, H. Pesquisa qualitativa versus pesquisa quantitativa: esta é a questão?.
Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 22, n. 2, p. 201–209, 2006. Disponível em: https://doi.
org/10.1590/S0102-37722006000200010. Acesso em: 17 ago. 2021.
MERRIAM, S. B. Qualitative research and case study applications in education. 2. ed.
San Francisco: Jossey-Bass Publishers, 1998.