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Entrevista 

Lúdica 
Diagnóstica
Entrevista Lúdica Diagnóstica
 A realização de avaliações psicológicas de crianças tem sido uma das principais
práticas profissionais do psicólogo no País. 
 A avaliação psicológica, principalmente a realização do psicodiagnóstico, está
entre as três práticas mais realizadas pelos psicólogos no Brasil,
independentemente de sua área de atuação (Área Clínica, Saúde e escolar)
 O uso da entrevista lúdica diagnóstica se sobressai nessas práticas, sendo referida
como uma técnica usada diariamente por psicólogos que trabalham com crianças.
 Essa técnica de coleta e análise de informações tem como principal
fundamentação teórica os estudos de Sigmund Freud, Melanie Klein e Anna
Freud.
Entrevista Lúdica Diagnóstica
 Em acréscimo à palavra do paciente, há muitas décadas passou-se a
utilizar brinquedos, jogos e instrumentos lúdicos como mediadores da
comunicação entre o avaliador e o avaliando para fins de diagnóstico psicológico.
 É possível perceber as muitas influências do pensamento psicanalítico sobre os
aportes teóricos e técnicos descritos.
 Duas perspectivas adotadas quanto à entrevista lúdica diagnóstica com crianças:
uma relacionada ao campo da avaliação psicológica e outra, ao campo da
psicanálise.
Entrevista Lúdica Diagnóstica
 Arminda Aberastury (psicanalista), embora não tenha tratado do uso de testes
psicológicos, exerceu especial influência ao evidenciar o valor diagnóstico da
entrevista lúdica e ao estabelecer diferenças entre a “hora do jogo diagnóstica” e a
“hora do jogo terapêutica”, o que pode ter reforçado a ideia da necessidade de um
modelo de entrevista mais objetivo e sistematizado durante o período avaliativo.
 HJD -  Se configura como um procedimento técnico utilizado a fim de conhecer e
compreender a realidade da criança em processo de avaliação
 HJT - engloba um processo que tem começo, desenvolvimento e fim em si
mesmo, operando como uma unidade que deve ser interpretada como tal.
Entrevista Lúdica Diagnóstica
 Apesar de muito difundida e por profissionais da área, a entrevista lúdica
diagnóstica ainda é um campo a ser investigado devido à carência de definições
mais claras sobre sua operacionalização.
 Nomenclaturas utilizadas para se referir a essa modalidade de entrevista: hora do
jogo diagnóstico, ludodiagnóstico, entrevista com a criança, entrevista lúdica,
entrevista clínica com a criança,  hora ludodiagnóstica, observação lúdica ou hora
lúdica, entre outros.
Entrevista Lúdica Diagnóstica - Definição
 Em psicologia, pode-se definir a entrevista clínica como:
 Um conjunto de técnicas de investigação, de tempo delimitado, dirigido por um
entrevistador treinado, que utiliza conhecimentos psicológicos, em uma relação
profissional, com o objetivo de descrever e avaliar aspectos pessoais, relacionais
ou sistêmicos (indivíduo, casal, família, rede social), em um processo que visa a
fazer recomendações, encaminhamentos ou propor algum tipo de investigação em
benefício das pessoas entrevistadas. (Tavares, 2000, p. 45).
Entrevista Lúdica Diagnóstica - Definição
 A entrevista lúdica diagnóstica potencializa a análise dos resultados de outras técnicas
comumente empregadas durante a avaliação Psicológica com crianças, como a entrevista
com pais ou responsáveis, a entrevista familiar e os testes projetivos e psicométricos, por
exemplo.
 Ela permite compreender e formular hipóteses sobre a problemática do paciente
  Seu objetivo inclui a investigação da interação com a criança, visando o estabelecimento
de um diagnóstico sobre o comportamento desta e suas múltiplas determinações.
 Essa técnica também é utilizada para avaliar as representações dos conflitos básicos da
criança, tanto do ponto de vista evolutivo (adequação ou não do comportamento à idade)
quanto do ponto de vista patológico (incluindo defesas predominantes, ansiedades,
relações objetais, etc.)
Entrevista Lúdica Diagnóstica - Definição
 A análise da entrevista lúdica diagnóstica permite conceituar o principal conflito
atual do paciente, evidenciar as principais defesas ante a ansiedade e sua
qualidade, e tornar manifestas as fantasias da criança quanto à doença, à cura e ao
tratamento. 
 Nessa técnica pode sugerir quais sentimentos contratransferenciais um futuro
terapeuta poderia experimentar com a criança, e orientar o profissional a realizar,
de maneira mais eficaz, um rapport com aquele determinado paciente.
Características da sala de atendimento
 Estrutura física;
 A sala de atendimento deve possibilitar à criança uso pleno dos objetos nela dispostos, sem
restrições. 
 A estrutura deve permitir que ela brinque inclusive com materiais que possam sujar a sala. 
 Além disso, o paciente deve sentir-se completamente livre, podendo movimentar-se no espaço e
sentar-se no chão.
 Outro critério importante na organização da sala de atendimento é o conforto, não apenas do
paciente, mas também do psicólogo.
 O conforto deve possibilitar a sensação de acolhimento por parte do paciente e de tranquilidade
e bem-estar por parte do profissional.
 A segurança é requisito prioritário na configuração do espaço de atendimento.
Características da sala de atendimento
 Equipamentos
 Disponibilizar mesas e cadeiras de diferentes tamanhos, adequadas à criança e ao
terapeuta.
 Uso de poltronas, almofadas e tapetes que permitam sentar no chão, uma vez que
grande parte da sessão ocorre nesse lugar.
 Uso de armários de fácil acesso à criança e em que possam ser colocadas caixas de
brinquedo ou gavetas auxilia no processo avaliativo.
 Não se deve seduzir as crianças oferecendo-lhes brinquedos em demasia, o que
excita demais os pacientes por conta do excesso de estímulos.
Características dos materiais
 Os materiais são selecionados em momentos diferentes, não havendo um consenso em
relação a essa questão. 
 As condutas mais comuns são:
 A seleção a priori (pré selecionar os brinquedos que serão usados com cada criança a partir
de alguma sugestão teórica ou da experiência clínica do entrevistador) e
 A seleção a posteriori (oferecer caixas e gavetas vazias e solicitar que a própria criança faça a
escolha dos brinquedos de sua preferência entre os muitos ofertados).
 Embora os psicólogos tenham critérios diferentes quanto ao momento e a quem deve
selecionar os materiais, a forma mais comum é a seleção a priori, em que o profissional os
escolhe a partir de cada caso (de acordo com a idade, com a conflitiva, com a dinâmica, etc.)
e soma-os aos materiais considerados standard ou padrão.
Características dos materiais
 O material standard pode ser sempre disponibilizado em uma caixa ou gaveta
individual ou em compartimentos coletivos, como estantes, baús ou armários, sem a
participação da criança na seleção dos materiais que ficam à disposição nas
entrevistas.
 Há, na prática, uma seleção prévia de materiais por parte do psicólogo, mas este não
irá compor a caixa de avaliação de seu paciente com todos os materiais indicados na
literatura, apenas com o que for do desejo do paciente.
 É possível que o psicólogo permita que seus pacientes tragam o que quiserem para as
sessões de avaliação, inclusive brinquedos, músicas, computadores,
tablets, smartphones, desenhos e animais de estimação, por exemplo. Essa postura é
válida, sendo mais uma forma de conhecer a criança.
Características dos materiais
 Quanto à quantidade de materiais, há a necessidade de uma boa variabilidade
de objetos.
 Brinquedos simples e variados, que possibilitassem uma infinidade de usos,
facilitando a comunicação com a criança.
 O excesso de materiais pode atrapalhar a avaliação, distraindo a criança e
impedindo a boa realização da entrevista.  
 Não é necessário muito material para avaliar uma criança, já que a dupla analítica
pode inventar, construir e se comunicar de muitas maneiras.
Características dos materiais
 A qualidade dos materiais é um aspecto bastante - eles devem ser simples, mas, ao
mesmo tempo, resistentes e manipuláveis, a fim de não quebrar com facilidade.
 Recomendamos a inclusão de materiais que possam ser separados,
agrupados, enchidos e esvaziados, e que façam parte do cotidiano dos pacientes. 
 Os materiais devem ser, preferencialmente, de brinquedo, evitando a inclusão de
objetos reais (como mamadeiras) para não fomentar a regressão excessiva dos
pacientes. 
 Devem preservar a integridade física do paciente, e os jogos devem possibilitar
sua conclusão dentro do tempo de uma sessão.
Características dos materiais
 Em relação à idade, de forma geral, são ofertados materiais ligados a todas
as faixas etárias e conflitos desenvolvimentais. Isso permite ao profissional avaliar
a adequação da escolha do brinquedo à idade da criança. 
 Crianças pequenas (em idade pré-escolar), é comum a utilização de materiais
como massa de  modelar, espadas, arminhas, bolas, telefone, família terapêutica,
materiais gráficos simples, materiais desestruturados e brinquedos de encaixe e
que imitem comida. 
 Já o atendimento de crianças maiores (em idade escolar) é feito usando, além dos
materiais gráficos, materiais mais elaborados e estruturados, como jogos com
regras.
Características dos materiais
 O potencial expressivo e comunicativo de determinados materiais também
é critério de inclusão – empregam-se materiais que permitem à criança pensar e
falar sobre temas de sua vida e expressar suas pulsões sexuais, agressividade,
angústia, impulsividade, reparação, mecanismos de defesa e criatividade, por
exemplo.
 A maioria dos psicólogos utiliza materiais tanto estruturados (bonecos, jogos,
espadas, animais, fantoches, etc.) como não estruturados (argila, tinta, massa de
modelar, sucata, material gráfico, etc.) no processo avaliativo.
Entrevista Lúdica Diagnóstica
 Acompanhar a brincadeira da criança e não apenas observar é uma conduta
amplamente utilizada nas entrevistas lúdicas. 
 O psicólogo precisa jogar com espontaneidade, mostrando-se disponível para a
transferência e possibilitando a criação de uma aliança terapêutica. 
 Toma-se o cuidado de buscar o contato visual sempre que possível, olhando os
olhos da criança e se abaixando ao mesmo nível dela para brincar. 
 A comunicação deve ser feita com linguagem acessível à criança, mostrando
respeito à sua expressão afetiva.
Entrevista Lúdica Diagnóstica
 O papel do psicólogo pode ser descrito à criança como o de alguém que quer
- conhecer, descobrir e compreender o que a está deixando triste, irritada,
incomodada ou confusa, por exemplo.
 Esse espaço é apresentado como o lugar em que o psicólogo trabalha.
 As condutas técnicas incluem mostrar, nomear e oferecer à criança brinquedos e
materiais. realização do contrato de trabalho com a criança é feita no início,
durante ou no final da entrevista, dependendo dos primeiros movimentos do
paciente. Assim, o psicólogo pode avaliar as condições da criança para
compreender as combinações a serem feitas.
Entrevista Lúdica Diagnóstica
 Após a coleta de todas as informações ao longo do processo de avaliação
psicológica da criança, seja com o uso de testes ou não, costuma-se agendar
entrevistas devolutivas com os pais e com a criança.
Entrevista Devolutiva
Entrevista Devolutiva
 O momento da devolução das informações é fundamental para o processo da
avaliação psicológica, pois deve englobar, de forma sintetizada, todos os
momentos vivenciados durante as etapas anteriores, e, além disso, deve produzir a
integração desses momentos, conduzir a um fechamento e abrir portas para novos
direcionamento.
 A devolução das informações encerra um mini processo bastante complexo,
responsável por ratificar a importância da realização da avaliação psicológica e por
produzir efeitos nos sujeitos que o vivenciaram.
 É o ápice de todo o investimento realizado, para todas as partes interessadas – o
avaliando, sua família e o profissional – e deve apontar caminhos que levem a
alterações na vida dos envolvidos.
Entrevista Devolutiva
 O momento da devolução das informações tem um papel essencial: em vez de
comunicar ao paciente e aos seus familiares o quadro nosológico e de prescrever
terapêuticas, esse momento torna-se decisivo por propiciar um espaço para a
construção conjunta – entre o profissional, o paciente e os seus familiares – de
uma rede de significados que dão sentido à existência do avaliando, tomando, para
isso, todas as informações referentes aos contextos intrapsíquico e psicodinâmico,
relacional e social, por ele vivenciados.
Entrevista Devolutiva
 O momento da devolução das informações será o palco de novos esclarecimentos,
tendo um papel fundamental no processo de avaliação psicológica no sentido de
descobrir, organizar e esclarecer a complexidade do que veio à tona a partir do
pedido de ajuda inicial. 
 O profissional deverá integrar os dados captados por meio das observações das
manifestações verbais e não verbais, dos silêncios, das omissões, das ausências,
das vivências, das transferências, das contratransferências e dos instrumentos
utilizados, atribuindo um sentido mais amplo ao pedido manifesto, somando-o ao
latente, agora descoberto.
Entrevista Devolutiva
 Na devolução, é necessário que o profissional possa nomear e esclarecer ao avaliando e,
em caso de criança, adolescente ou adulto dependente, também aos seus responsáveis, o
sentido dos sintomas, localizando-os dentro do contexto apreendido, bem como sua
importância e utilidade.
 O profissional deve devolver ao avaliando aquilo que é dele, e que, de algum modo, ele
explicitou no contexto da avaliação, de forma decodificada e processada, ou seja, com a
devida compreensão do complexo psicológico que o envolve.
 Dessa forma, é possível que o avaliando e sua família se apropriem daquilo que lhes diz
respeito.
 Reunir informações, organizá-las, apresentá-las e discuti-las, fazer pensar – esse é o
importante papel da devolução das informações na Avaliação Psicológica.
Entrevista Devolutiva
 É importante observar a reação verbal e não verbal do avaliando e de sua
família nesse momento, bem como as distorções transferenciais.
 Também é de grande importância observar as reações contratransferenciais do
profissional, pois elas permitem o aprofundamento da compreensão da
dinâmica do avaliando e de sua família, sendo uma fonte adicional de
informações.
 Essas análises dão origem a um diagnóstico e a um prognóstico mais próximos da
realidade, bem como à proposição de um planejamento mais adequado quanto às
indicações terapêuticas
Entrevista Devolutiva
 O êxito do processo dependerá em grande parte do modo como as informações
circularão entre as partes envolvidas. 
 O psicólogo deve ter em mente que é essencial comunicar ao avaliando aquilo que
eles terão condições de processar em seu benefício, e, até mesmo, de suportar.
A Técnica de Devolução
 No caso de avaliando adulto independente, a devolução das informações
geralmente ocorre diretamente para ele. 
 Nos casos em que forem detectados indicadores de risco ao paciente ou
a terceiros, deve-se informar ao avaliando que será solicitada a presença de um
familiar, a quem será comunicado o problema identificado e a respectiva indicação
terapêutica.
 Quando se trata de avaliando criança, adolescente ou adulto dependente,
existem, necessariamente, duas entrevistas básicas de devolução: uma com os pais
ou responsáveis, e outra, com o avaliando.
AS INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS
 As indicações terapêuticas devem ser apropriadas às possibilidades do avaliando e
de sua família, priorizando-se referenciar locais próximos à sua comunidade e
recursos financeiramente acessíveis, atendendo às necessidades observadas.
 Devem ser fornecidas sugestões de alterações na rotina familiar quanto a aspectos
relacionados ao avaliando - referentes à organização dos hábitos familiares,
ao encaminhamento para esportes e atividades recreativas e ao lazer da família,
entre outros.
O PROGNÓSTICO
 Expor os possíveis desdobramentos da condição atual é uma das mais importantes
tarefas da devolução de informações. 
 Considera-se que apresentar um prognóstico em curto e longo prazos, de forma
clara, faz parte do dever científico do Profissional.
 A devolução das informações deve desvelar o desconhecido e apontar novos
caminhos, para, quem sabe, levar a uma nova vida.

 Quadro 13.1 - página 305.


Terminamos por hoje!

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