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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2
2 ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS ............................................ 3
2.1 Aproximações e distâncias entre as psicoterapias ............................... 5

3 PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA/PSICODINÂMICAS ............................ 6


3.1 Conceito ............................................................................................... 6

3.2 Conceitos técnicos em psicodinâmica ................................................ 10

3.3 A psicoterapia de apoio ...................................................................... 13

3.4 A psicoterapia de orientação psicanalítica ......................................... 14

4 A TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL (TCC) .......................... 15


4.1 Quando o TCC é indicado .................................................................. 26

4.2 Psicoterapia de grupo......................................................................... 26

5 TERAPIA EXISTENCIAL/HUMANISTA (CENTRADA NA PESSOA E A


PSICOTERAPIA BREVE) ..................................................................................... 29
5.1 Psicoterapia breve .............................................................................. 30

5.2 O manejo técnico do enquadre psicoterápico .................................... 39

5.3 Primeira Entrevista ............................................................................. 40

5.4 Segunda Entrevista ............................................................................ 41

5.5 Terceira Entrevista ............................................................................. 41

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 43

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INTRODUÇÃO

Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS

Fonte: https:google.com

A psicoterapia pode ser compreendida como um conjunto heterogêneo de


abordagens terapêuticas baseadas em diversos conceitos teóricos e técnicos, visando
influenciar o paciente e ajudá-lo a enfrentar seus conflitos emocionais, cognitivos e
comportamentais. Tendo em vista essa compreensão, os objetivos da nossa
exposição são os seguintes:
a) Mostrar como se dá a utilização de fundamentos teóricos e técnico-
conceituais oriundos das investigações psicanalíticas e cognitivos comportamentais
que tenham relevância para a psicoterapia.
b) Apontar para a especificidades da psicoterapia de grupo, diferenciando-a da
psicoterapia individual, com a finalidade de tornar este material uma referência para
iniciantes na área, bem como para outros profissionais em diferentes áreas
relacionadas ao campo da saúde.
c) Apresentar aspectos das formas de psicoterapia existentes e mais utilizadas
na atualidade, passando pelas psicologias de caráter psicodinâmico, existencial,
métodos neurolinguísticos, cognitivos e pela psicanálise.

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De acordo com Roudinesco e Plon (1997), o termo psicoterapia vem das
palavras gregas Psykê (mente) e Therapeuein (cura), e foi usado, a partir do século
XIX, para designar um conjunto amplo de formas de tratamento e intervenção
psicológica, que buscavam tratar sintomas psicopatológicos e comportamentais;
designando, assim, formas variadas de terapia, tais como a psicodinâmica, a
musicoterapia, a hipnoterapia e formas diversas de aplicação de teorias da psicologia
no campo da psicoterapia.
A psicoterapia, tal como a entendemos atualmente, encontra suas origens, na
prática do hipnotismo, especialmente nos trabalhos do médico e fisiologista austríaco
Josef Breuer (1842 – 1925), que começou a usar o hipnotismo como tratamento
catártico para pacientes histéricos e no livro Hipnotismo, Sugestão e Psicoterapia de
Hippolyte Bernheim, publicado em 1891. Sigmund Freud (1856 – 1939), enquanto
neurologista e interessado nas pesquisas e resultados obtidos por esse método,
também começou a utilizá-lo; mas percebeu seus efeitos de curta duração, e diversas
vezes, o insucesso do tratamento, passando, assim, a valorizar e investigar a
importância da relação médico-paciente para a eficácia da técnica psicoterápica, no
caso de Freud, da psicanálise que começava a nascer (ROUDINESCO; PLON, 1997).
A origem da psicanálise e da concepção de psicoterápica moderna se configura
na obra Estudos sobre histeria (1893 – 1895) escrita através da parceria de Sigmund
Freud e (1856 – 1939) J. Breuer (1842 – 1925), onde o método hipnótico é descrito,
mas começa a ser questionado, especialmente por Freud. A configuração do campo
psicanalítico, se inicia, portanto, através do abandono por Freud da técnica hipnose-
catarse e pelo uso de estratégias de associação livre, interpretação de sonhos e uso
de divindades e representações mitológicas para interpretar experiências relatadas
pelos pacientes.
Atualmente, a psicoterapia pode ser conceituada como um conjunto amplo e
variado de abordagens terapêuticas baseadas em conceitos teóricos e técnicos,
devendo, ainda, ser realizadas por profissionais qualificados e preocupados com o
estudo e prática de sua técnica de modo empreendor, ou seja, pelo enfrentamento
cotiana da questão psicoterápica. Ao utilizar princípios de análise psicológica,
comunicação verbal e relação terapêutica, a psicoterapia (ou as psicoterapias) tem
como principal objetivo influenciar o paciente para ajudá-lo a compreender e superar

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seus conflitos emocionais, cognitivos e comportamentais, como já dissemos
anteriormente (CORDIOLI, 2008)

2.1 Aproximações e distâncias entre as psicoterapias

Embora as modalidades e os conceitos da psicoterapia variem amplamente,


pode-se dizer que eles têm alguns pontos em comum e compreender essa
convergência é extremamente importante. São eles:
a) Consideram que todo processo depende de uma relação de confiança
emocional do paciente com o terapeuta, como também da capacidade do terapeuta
de manejar sua afetividade diante as demandas colocadas pelo paciente. Nesse caso,
é preciso que seja posta uma estrutura relacional onde o paciente se sinta à vontade
para confiar no terapeuta e acreditar que ele o ajudará a transformar e entender seus
conflitos práticos e existênciais, que se traduzem em sofrimento emocional. Entende-
se, assim, que um dos objetivos do processo psicoterápico, partilhado pelas diversas
tendêncais e abordagens, é de que a terapia deve ajudar o paciente a diminuir seu
sofrimento.
c) Consideram, assim, a necessidade de se ater a modelos conceituais que
forneçam explicações para os sintomas/ problemas, bem como possam ajudar na
constituição de procedimentos de resolução de problemas colocados como demanda
pelo paciente. As psicoterapias surgem de uma confluência entre teoria e prática, já
que precisam de estabelecer estratégias a partir de teorias já existentes, mas
necessitam de ordenar e desenvolver estratégias analíticas a partir da prática clínica.
Em relação às características técnicas, as formas de psicoterapia se
diferenciam em seus objetivos, objetos focais e recursos utilizados (interpretação,
exposição, psicoeducação), relacionados à frequência e duração da terapia, ao
cenário (grupo, família, individual), à formação exigida pelo terapeuta, aos requisitos
do paciente antes da terapia, escopo e resultados a serem alcançados (CORDIOLI,
2008).

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3 PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA/PSICODINÂMICAS

Fonte: https://psicomednet.com

O termo psicodinâmico é empregado geralmente para indicação e


entendimento dos fenômenos mentais, tendo sua origem em investigações de origem
psicanalítica. Nesse sentido, pode-se desenvolver uma compreensão psicodinâmica
dos fenômenos mentais de comportamento considerandos casos clínicos estudados
e desenvolvidos no âmbito das análises psicanalíticas; tendo em vista que uma visão
psicodinâmica da experiência psicológica e do comportamento pode, assim, se
configurar em uma psiquiatria e psicologia psicodinâmicas; e até mesmo testes e
experimentos psicológicos, inclusive com seres não humanos, podem ser
interpretados de acordo com referenciais teóricos psicodinâmicos.

3.1 Conceito

O ponto de partida para a psicanálise, como sugerimos anteriormente, foram


as investigações de Freud e Breuer acerca do fenômeno histérico. Todavia, a
psicanálise toma relevo na obra A interpretação dos sonhos, publicada em 1900, que
Freud considerava como sua obra mais importante. Para Freud, os sonhos dariam
acesso à dimensão inconsciente da vida psíquica, expressando os desejos mais
íntimos dos seres humanos e também os mecanismos de censura utilizados para

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encobrir esses desejos, a saber, o que ele identificará através dos processos de
repressão e sublimação próprias ao aparelho psíquico.
Ainda que o conceito de inconsciente tenha se expandido e se transformado ao
longo da evolução da teoria psicanalítica, o inconsciente, tal como entendido por
Freud, tornou-se o “lugar” de maior impacto de sua investigação sobre o ser humano
moderno; pois, a partir de sua compreensão, as formas de agir, escolher e
compreender o mundo são fundadas em uma subjetividade que não é mais dona de
si mesma, no sentido em preconizado nas teorias filosóficas da modernidade clássica,
tal como a compreensão cartesiana, por exemplo.
A concepção de subjetividade freudiana tem seu conteúdo vinculado,
fundamentalmente, às pulsões (representantes mentais da vida instintual) e às
primeiras práticas sexuais infantis, deslocando a questão da subjetividade para além
de uma compreensão tratada unicamente pela suposição de racionalidade como
fundamento da experiência, mas pondo em cena aspectos relevantes do corpo
enquanto ser desejante, na qual a existência humana se estrutura. Segundo Mabilde
(2014), Freud estabelece o inconsciente, como sistema, marcado por um
funcionamento, de acordo com leis específicas, desprovidas de lógica temporal,
espacial e causalidade, indicando, assim, que os processos primários do aparelho
psíquico não se reduzem a objetividade das normas e leis do mundo natural, onde a
objetividade se dá em termos de temporalidade, espacialidade objetiva e causalidade
enquanto explicação dos fenômenos (MABILDE, 2014).
De acordo com Roudinesco e Plon (1997), o primeiro modelo mental totalmente
psicanalítico, proposto por Freud, foi denominado como a primeira tópica. Na
perspectiva deste modelo, se estabeleceu que a vida mental é dividida em sistemas
conscientes, pré-conscientes (onde o comportamento mental ainda não é consciente,
mas pode se tornar) e inconscientes. Na perspectiva da primeira tópica, o movimento
do aparelho psíquico se dá pelo esforço do conteúdo reprimido nas formações do
inconsciente de retornar aos sistemas conscientes e pré-conscientes; possível
somente através da deformação posta em movimento pelos processos de censura
(oriundos das relações entre ego e superego) e transformação dos conteúdos e
dimensões inconscientes da psiquê humana em conteúdos suportáveis pela dimensão
consciente da experiência da psique (LAPLANCHE; PONTALIS, 2001).

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Em 1914, Freud estabeleceu em Memória, Repetição e Elaboração que os
conteúdos reprimidos são "lembrados" no comportamento (manifestações, sintomas)
mesmo que não sejam lembrados, pois são repetidos e vivenciados em outro
horizonte conforme as capacidades de elaboração do sujeito e a dinamicidade do
aparelho psíquico. Através da repetição, o sujeito reedita também
importantes relações passadas em seu presente, determinando suas formas
presentes e futuras de relacionamento com os outros e consigo, inclusive com o
terapeuta. Nesse sentido, essa repetição será responsável, se bem manejada pelo
terapeuta, por construir empatia necessária no âmbito da psicoterapia, enquanto
tentativa de recuperar o que precisa ser elaborado e ressignificado pelo paciente;
sendo também uma forma de resistência, pois favorece a continuidade dos atos
comportamentais atuados, isto é, a sedimentação da experiência em uma série de
complexos e sintomas (FREUD, 2010)
Atendo-se à experiência clínica e os resultados de pesquisa que desenvolveu
entre 1900 e 1923, Freud começou a especular sobre uma nova divisão do aparelho
psíquico, considerada por ele estruturalmente mais dinâmica e possivelmente mais
próxima ao funcionamento do psiquismo; capaz, portanto, de englobar as
complexidades do funcionamento mental e ampliando nossa compreensão do mesmo.
Em 1923, então, ele dividiu o órgão mental em três instâncias: ego, superego e id:
este modelo ficou conhecido como segunda tópica.
Em “O ego e o id” (1997), Freud definiu três instâncias do que constitui o órgão
mental, identificando o id como a parte pulsional/instintiva (por exemplo, com
conteúdo libidinal e agressivo) e a dimensão mais primitiva do aparelho psíquico, parte
da qual diferirá devido à influência do mundo exterior, que será chamado de ego.
O ego é dotado das funções de percepção, atenção, movimento, memória e
pensamento, e essa instância é influenciada pelo id. Já o superego é classicamente
definido como uma instância com função normativa onde limites e regras são
estabelecidos internamente.
Sob um pensamento freudiano, é a interação entre estas instâncias, que
determinará o funcionamento mental de uma pessoa: a batalha entre o id e o mundo
exterior pode resultar em uma estrutura de personalidade psicótica, conforme a vida
pulsional do id é imposta ao sujeito perante a realidade, influenciando suas

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habilidades adaptativas, podendo levar a reconstruir e vivenciar a realidade por meio
de seus sintomas que, no caso da experiência psicótica, pode se caracterizar por
delírios e alucinações. Por outro lado, a neurose é o resultado de um conflito entre o
id e o ego: quando a liberação de poderosos impulsos é bloqueada pelo ego e pelas
forças repressivas (superego), surgindo então os sintomas neuróticos (por exemplo,
fobias, pensamentos obsessiva-compulsivos). Hoje, essa formação é entendida como
característica de todo funcionamento psíquico individual, no sentido de que os
próprios traços de caráter são representativos desses comprometimentos neuróticos
do sujeito com seu mundo, que apresentam variantes patológicas nos sintomas
neuróticos, mas se constitui como base para o entendimento do sujeito moderno, já
que se admite que a represão e sublimação de certas ‘pulsões’ determina todo o
sugimento da civilizção, pelo menos em uma pespectiva psicanalítica freudiana
(GABBARDI, 2016).
Atualmente, com o avanço do pensamento psicanalítico e das ciências do
comportamento, a compreensão da neurose e da psicose continua a se expandir e
mesmo se modificar. Bion (1897-1979), um dos grandes expoentes do pensamento
psicanalítico trata destes temas no âmbito de uma terapia em grupo, baseada nos
conceitos e práticas da psicanálise. Desta maneira, seu trabalho contribuiu para
formação de um campo de conceitos para a psicodinâmica, conforme o qual, entende-
se que todos os indivíduos, em aspectos mais primitivos, tendem a responder com
uma reduzida tolerância à frustração, com ódio à verdade, e apresentam pouco
domínio de impulsos agressivos e destrutivos.
Assim, considera-se, que os mecanismos de defesa são processos de extrema
importância dentro da prática psicodinâmica e teoria psicanalítica, já que são eles que
se manifestam nessa esfera mais primitiva da experiência humana. Já que
socialmente impulsos instintivos não podem ser colocados em prática, uma vez que a
gratificação do mesmo também geraria problemas adaptativos ao ego, entende-se;
como forma de neutralizar essas forças, a experiência da transformação e
deslocamento de tais impulsos. Os mecanismos de defesa agem a favor da repressão,
influenciando o Ego a se proteger das exigências instintuais do Id (FREUD, 1997), na
perspectiva de Freud e Bion. O entendimento sobre esses mecanismos de defesa é

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de grande importância para a prática clínica, orientando o raciocínio diagnóstico
psicodinâmico e o planejamento terapêutico (GABBARD, 2016).
Os mecanismos de defesa podem ser organizados em hierarquia, desde os
mais primitivos, como a negação (aspectos difíceis da realidade) e a somatização
(transformar a dor emocional em sintomas físicos), até os mais maduros, como o
humor (procurar um elemento cômico), e sublimação (dar ao impacto
inaceitável/inadequado um destino socialmente aceitável).
Ao longo dos anos de desenvolvimento teórico, os modelos mentais de Freud
foram sendo transformados e ampliados, culminando em várias "escolas
psicanalíticas" das quais se destacam Melanie Klein (1882-1960) e, como indicamos,
acima, também Wilfred Bion (1897-1979). Com base nas contribuições de Melanie
Klein, a psicanálise infantil avançou muito, e os brinquedos e jogos tornaram-se
ferramentas importantes no trabalho psicanalítico e, portanto, objetos expressivos em
uma abordagem psicodinâmica do desenvolvimento infantil. Klein reformulou e
expandiu ainda mais vários conceitos freudianos de psicanálise, e sua influência se
reflete no trabalho de vários autores posteriores.
Ao contrário de Freud, que não dava credibilidade ao trabalho psicanalítico
sobre psicopatas, outra contribuição relevante de Bion é sua proposta em analisar a
vida psicológica desses pacientes, fazendo importantes descobertas que orientam o
pensamento clínico psicanalítico atual. Além disso, Bion enfoca a função analítica,
estabelecendo conceitos e vértices para facilitar uma melhor compreensão do
funcionamento do par analítico paciente-analista, estabelecendo novos parâmetros
para o desenvolvimento da própria função psicanalítica, tendo em vista a criação de
um clinica não apenas dos indivíduos, mas dos grupos.

3.2 Conceitos técnicos em psicodinâmica

Entende-se, assim, que as técnicas psicanalíticas foram desenvolvidas (e


continuam a evoluir) para permitir o acesso ao estado inconsciente do paciente e, na
perspectiva, aberta por Bion, para a estruturação da experiência inconsciente ao nível
grupal ou, se quisermos, intersubjetivo. Para facilitar esse processo, a associação livre
foi estabelecida como regra fundamental da psicanálise, e o paciente tinha que relatar

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espontaneamente tudo o que lhe vier à mente durante a sessão. Esse aspecto se
manifesta tanto na expressão verbal (a escolha das palavras) quanto na forma como
se expressa, de modo que a liberdade de expressão permite ao terapeuta acessar o
conteúdo contido da dimensão inconsciente da mente.
A transferência é um dos principais conceitos e focos da técnica psicanalítica,
e reflete a situação onde ocorre os conflitos na terapia psicanalítica. Quando acontece
uma encenação, pelo paciente, através da relação com o psicoterapeuta, considera-
se que no âmbito da análise está sendo expresso as formas mais primitivas de relação
do paciente com seu passado, criando-se, assim, uma possibilidade para o
surgimento das fantasias, desejos e impulsos emocionais que se encontram imergidos
na psicoterapia, devendo ser compreendidos e analisados, pois manifestam o
inconsciente do paciente, e a maneira como ele viveu até aquele momento
(GABBARD, 2006)
Na perspectiva de Freud (1966), a contratransferência se apresenta, por outro
lado, como um conjunto de reações inconscientes do analista para com a pessoa do
analisando e, mais especificamente, à transferência do sujeito em análise. Hoje, a
contratransferência também é compreendida como uma dimensão de comunicação
original entre o paciente e o terapeuta, podendo ser um potente instrumento a favor
da transferência. Tanto a transferência quanto a contratransferência são conceitos
que se estenderam até a atualidade e seus significados podem variar de acordo com
cada escola psicanalítica, porém, eles indicam fenômenos que existem nas relações
interpessoais e devem ser observados, especialmente nas relações de cuidado.
O termo, atividade interpretativa, preconizado por Zimerman, em seu livro
Manual de técnica psicanalítica: uma revisão (2008)), fornece um parâmetro
importante para a compreensão da complexidade dos fenômenos da transferência e
da contratransferência na relação psicanalítica. O autor sugere que mais do que um
desmembramento analítico do conflito pulsional, o método da interpretação, em
relação à transferência e à contratransferência, se dá pela construção de novos
sentidos, significados e pela nomeação de padrões sedimentados de comportamento
linguístico, bem como das novas e conflituosas experiências emocionais que podem
surgir em análise (ZIMERMAN, 2004). É por meio dessa interpretação que se pode
refazer conexões entre pensamentos, comportamentos ou sintomas e seus

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significados inconscientes no contexto da relação instituída entre o paciente e o
terapeuta através dos processos de transferência e contratransferência.
O contexto da transferência e da contratransferência diz respeito às regras que
permeiam o engajamento psicoterápico, no sentido de que abrange desde o número
de sessões semanais, horários e custos até o uso de divindade ou locais presenciais,
entre outros protocolos que buscam regular o processo psicoterápico. O próprio
ambiente já constitui um importante fator terapêutico, permitindo que surja um espaço
para projetar os aspectos inconscientes do paciente; e o terapeuta pode, com o
paciente, construir a realidade terapêutica por meio de regras pactuadas de acordo
com os processos de transferência e contratransferência.
Esses aspectos técnicos existem nos diversos tipos de psicoterapia
psicodinâmica, em um continuo que vai da psicoterapia de apoio à expressiva. No que
tange à psicoterapia de apoio, ela se apresenta como enquanto um modelo eclético,
certamente o mais usual tanto em instituições públicas como em consultórios privados
(CORDIOLI et al., 2008). Ela é muito utilizada em situações de crise ou descompen-
sações temporárias, pois seu objetivo é restaurar ou reforçar as defesas do paciente
em relação ao mundo e as hostilidades de um ambiente no qual ele está inserido,
entendendo as determinações pelas quais ele entra em formas específicas de relação.
Busca-se, portanto, integrar as capacidades que foram prejudicadas (CORDIOLI et
al., 2008).
A terapia expressiva, por outro lado, é aquela que utiliza de meios expressivos
tais como pintura, música, literatura, entre outras, para colocar o paciente em um
processo de significação e ressignificação da sua experiência, conforme situações de
crise ou mesmo no âmbito de atividades e objetivos reparadores e preventivos. As
terapias expressivas também são chamadas de terapias artísticas e encontram suas
primeiras formulações nos trabalhos de Jung (1875-1961). No Brasil, um dos casos
fundamentais e fundadores desta abordagem, foi realizado pela psiquiatra e
psicanalista Nize da Silveira (1905-1999), que utilizou dos trabalhos de Jung, mas em
uma perspectiva inovadora, descrevendo sua abordagem prática e teórica da terapia
artística e ocupacional em obras de grande importância tais como Imagens do
inconsciente (1981), Casa das Palmeiras (1986), O mundo das imagens (1982),
Terapêutica ocupacional: teoria e prática (s/d).

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A terapia artística, ou psicoterapia expressiva, ou ainda arteterapia, na
perspectiva de Jung e Nise, tem a função de mediar a produção e a expressão de
símbolos do inconsciente através da atividade artística, contribuindo para ampliação
da imagem e da compreensão que os pacientes têm seus conflitos e personalidade
(CRUZ JUNIOR, 2015). Embora as questões teóricas e técnicas discutidas até agora
tenham se concentrado na exposição psicoterapêutica individual, cabe destacar que
essas dimensões também estão presentes em outras modalidades, como a terapia de
grupo onde também se pode utilizar técnicas psicoterapias ocupacionais e artísticas.

2.3 Espécies de psicoterapias psicodinâmicas

Entre a vasta gama de técnicas psicoterapêuticas que trabalham com quadros


psicodinâmicos, há um amplo espectro, desde o apoio/orientação à terapia
expressiva, voltada para visão que pressupõe uma elaboração cuidadosa e
reconstrução da personalidade.
O termo psicanálise define tanto o arcabouço teórico para o desenvolvimento
da psicoterapia psicodinâmica quanto uma modalidade específica de tratamento
localizada como o maior representante da intervenção expressiva: a análise
psicanalítica.
Nos tópicos abaixo, serão expostos alguns modelos de psicoterapia
psicodinâmica que se destacam. Importante relatar, que como ressaltado por Gabbard
(2006), esses extremos são intercambiáveis no processo psicoterapêutico, segundo
as demandas e tipos de pacientes, sendo, portanto, possível que em determinado
momento, por exemplo, os pacientes que se iniciaram em uma forma terapia, precise
se deslocar para uma outra abordagem (GABBARD, 2006)

3.3 A psicoterapia de apoio

De acordo com Fiorini (2013), a psicoterapia de apoio é projetada para reduzir


a ansiedade em tempos de crise e reduzir ou até suprimir os sintomas. Segundo autor,

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nesta abordagem, o terapeuta está em uma posição mais desenvolvida do contexto,
exercendo uma postura mais instrutiva e tranquilizadora, visando não estimular
vínculos que possam dificultar o diálogo entre terapeuta e paciente. A terapia é voltada
para os aspectos conscientes e centrada nas dificuldades práticas do paciente
(FIORINI, 2013)
Além do limite de tempo fixado desde o início, a postura mais ativa do terapeuta
se reflete na postura face a face que o paciente assume e em uma sessão de
tratamento menos frequente, que pode ser semanal, quinzenal ou mesmo mensal,
desenvolvida, normalmente, algumas semanas, mas podendo se estender por anos.

3.4 A psicoterapia de orientação psicanalítica

Assim como na análise psicanalítica, na psicoterapia de orientação


psicanalítica, o objetivo é o alcance da visão, por meio do qual, o paciente terá a
possibilidade de elaborar os conflitos inconscientes que estão na origem de seus
sintomas; porém, na psicoterapia de orientação psicanalítica, busca-se um foco
(relacionado à fonte da dor e motivação mudar), explicando que o trabalho muda a
partir dele. Nessa modalidade de psicoterapia, o ambiente possuí algumas
características que se assemelham à psicoterapia de apoio, como a posição face a
face do paciente com o terapeuta. No entanto, são utilizadas mais sessões (uma a
três sessões por semana) e o acompanhamento pode durar meses ou até anos
(MONDRZAK, 2014.)
Outra importante ferramenta da psicoterapia de orientação psicanalítica é o uso
da transferência, e embora sua profundidade de exploração seja diferente daquela da
análise psicanalítica, é a partir desse auge que a interpretação se orienta para o foco
escolhido do trabalho psicoterapêutico. Nesta modalidade de psicoterapia, mesmo
predominando o uso de técnicas como a validação empática, também se estimula à
elaboração, esclarecimento, e a explicação.
A análise psicanalítica é a principal representante do extremo "expressivo", e
como um modo de tratamento difere entre os modos psicodinâmicos, especialmente
do ponto de vista técnico, o eixo inicial não é necessário em primeiro lugar, devendo
a psicoterapia, através do uso da divindade, estimular o paciente a associar um maior

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retorno ao nível inconsciente e promover uma relação empática mais profunda.
(MONDRZAK, 2014.)
Facilitada por um ambiente psicanalítico, a projeção de conteúdos subliminares
traz um melhor entendimento da realidade interna que vive o paciente, e facilita sua
mudança psicológica.
Na análise psicanalítica são utilizadas mais sessões durante a semana, três a
cinco vezes, predominando as interpretações transferenciais, por meio das quais se
busca uma elaboração do conflito primário. Este último, pode ser compreendido como
as experiências iniciais essenciais na vida de um paciente (figuras parentais ou os
substitutos deles) e que estabelecem seus padrões de relacionamentos, a habilidade
de lidar com sentimentos, suas fantasias e a maneira de ver o mundo (EIZIRIK,
HAUCK, 200).
Até aqui tratamos das psicoterapias de caráter psicodinâmica, fundamentadas
nas diversas manifestações da tradição psicanalítica. Na próxima sessão trataremos
da terapia cognitivo-comportamental (TCC), uma abordagem muito presente no
mundo contemporânea, sendo também uma das mais estudadas nos cursos de
graduação em psicologia.

4 A TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL (TCC)

A abordagem cognitivo comportamental (TCC) se compreende como uma


terapia baseada em evidências científicas e se baseia em indicadores que
demonstram sua eficácia (NEUFELD e CARVALHO, 2017). A TCC integra conceitos
das psicologias cognitivas e comportamentais e tem como principal finalidade
compreender a função e a estrutura dos aspectos cognitivos, que seriam a capacidade
dos indivíduos de atribuir significados as suas experiências e sua relação com a
maneira como sujeito responde as situações vivenciadas.
Ao longo do tempo, a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) expandiu seu
desenvolvimento sobre os modelos conceituais e teóricos da tradição comportamental
e cognitiva, com um objetivo de melhorar a compreensão do funcionamento
psicológico humano e ampliar a eficácia dos tratamentos realizados. Atualmente, foi
dividida a história da terapia cognitiva e comportamental em três momentos –

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conhecidos também como "ondas", tendo com base nas formas de intervenção e
conceitos desenvolvidos em cada um dos momentos.
O primeiro momento ou primeira onda, se caracterizou-se por uma fusão de
múltiplas modalidades de terapias comportamentais destinadas a excluir
comportamentos e emoções inadequados, com base em princípios experimentais que
antecederam a revolução cognitiva da década de 1960, trata-se do momento clássico
em que a cientificidade era buscada em explicações de caráter fisiológico para
conduta humana, ainda que o tema do comportamento estive no centro de todas as
abordagens e teorizações e ela apresentasse também as bases para uma abordagem
descritiva em psicologia.
Com o surgimento dos modelos cognitivos, no final da década de 1950 e início
de 1960, principalmente com as teorias de Aaron Beck (1921-2021) e Albert Ellis
(1912-2007), surge a ‘segunda onda’, com um novo paradigma cognitivo e novas
formas de intervenção clínica que hoje são chamadas especificamente de Terapia
Comportamental Cognitivo (TCC). Portanto, a (TCC) atual é caracterizada por um
conjunto de abordagens teóricas e intervenções clínicas baseadas na lógica dos
modelos cognitivos.
A “terceira onda” retoma e transforma a perspectiva externalista da primeira
onda, continuando a focar no modelo cognitivo oriunda da Terapia Cognitiva
Comportamental (TCC) tal como ela se forma na segunda onda, mas passando do
conteúdo para o contexto, para a compreensão e aceitação de sensações e
sentimentos como elas se desdobram no ambiente, integrando tecnologias de
diferentes abordagens para esse fim.
É importante frisar que esta é uma história da composição das ondas norte-
americanas, apresentada várias vezes em publicações nacionais e internacionais,
mas não é a única possível, ainda que seja extremamente didática e útil para
compreender a formação desta abordagem. No Brasil temos uma "cronologia
invertida", pois, nos Estados Unidos o surgimento da terceira onda foi necessária para
popularizar a terapia focada no externalismo, enquanto no Brasil tal terapia
representada pela Terapia Analítica Comportamental já estava em andamento desde
a década de 1970 (LEONARDI, 2015)

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Ademais, é importante destacar a ausência de superioridade entre os trabalhos
e teorias desenvolvidos em cada um dos momentos que caracterizam o
desenvolvimento da psicologia comportamental. A divisão entre elas, atualmente está
mais vinculada a uma organização didática e histórica das ideias, como já frisamos.

O primeiro momento da abordagem comportamental (A primeira onda)

O termo Terapia Comportamental foi introduzido por pelo menos três grupos de
pesquisa diferentes. Lindsley, Skinner e Solomon (1953), utilizaram esse termo pela
primeira vez nos Estados Unidos, para se referir a uma intervenção baseada no
condicionamento operante realizada em psicopatas hospitalizados para reduzir suas
alucinações. Em 1959, Hans Eysenck (1916-1997) na Inglaterra propôs uma nova
modalidade de tratamento caracterizada pela aplicação da teoria da aprendizagem ao
tratamento de distúrbios psicológicos através do uso de condicionamento e
modelagem operante e clássico. E por fim, Richard Lazarus (1922-2002) desvendou
o termo em 1958 para se referir à incorporação de procedimentos laboratoriais
objetivos à psicoterapia, tratando a terapia comportamental como parte do
procedimento característico de suas propostas de intervenção, conhecido como
Terapia Multimodal (FRANKS,1996)
Mesmo com a existência de diversas intervenções abarcadas pelo termo
Terapia Comportamental durante a primeira onda, é comum encontrar algumas
características compartilhadas por estas propostas. Seu principal objetivo é eliminar
respostas indesejadas e emocionais que são julgadas inadequadas pela tecnologia,
elas se baseiam, portanto, em uma concepção de relação de estímulo-resposta entre
meio e organismo. Além disso, esse grupo de terapias caracteriza-se pelo rigor
experimental, o que, segundo alguns autores, limita o estudo de problemas humanos
menos objetivos e relegados a tradições menos empíricas, mas que, por outro lado,
torna possível a inserção da psicologia em campos amplos da pesquisa experimental
(BARBOSA, 2006)
Uma das origens do modelo comportamental se encontra no final do século
XIX, quando o trabalho de fisiologista russo Pavlov (1849-1946) que estudava a
digestão em cães, descrevendo um processo que veio a ser conhecido como teoria

17
do condicionamento clássico (ocorre mediante a associação de um estímulo inicial)
ou respondente. O condicionamento, tratado por Pavlov em muitos de seus trabalhos,
é o processo de eliciar, na forma de ser de um organismo, uma resposta
topologicamente similar a um estímulo previamente neutro em resposta a um reflexo
específico que, após várias apresentações semelhantes, torna-se um estímulo
incondicionado para aquela resposta.
Outros trabalhos, como os de Watson e Mary Cover Jones, Skinner também
foram necessários para o desenvolvimento de intervenções conhecidas como Terapia
Comportamental e para torná-la uma modalidade de psicoterapia. A obra de Watson
deu origem ao chamado behaviorismo metodológico, que surge em oposição às
propostas psicológicas de caráter introspeccionista e propõe o estudo do
comportamento observável por meio de métodos científicos experimentais para prevê-
lo e controlá-lo. Desta perspectiva, entende-se, que a introspecção fora abandonada
como método de abordagem da subjetividade, e o aspecto subjetivo não faz mais
parte da ciência do comportamento, ou psicologia, porque ainda não há uma maneira
confiável de abordar a experiência interior, isto é, a estrutura descritiva e fenomenal
dos eventos psíquicos. O behaviorismo de Watson não é isento a constatação da
esfera psíquica, ele simplesmente propõe deixar de lado os aspectos internos até que
a ciência possa efetivamente acessá-los (COSTA, 2002)
Muitas das técnicas responsivas usadas pelos principais terapeutas vieram não
apenas das ideias de Pavlov e Watson, mas também do neobehaviorista (1930), que
é uma escola de pensamento que propõe que o estudo da aprendizagem através do
foco em métodos observacionais e descritivos. Trata-se, de uma tendência, que
também enfatiza o papel do ambiente no processo de aprendizagem e a importância
dos métodos de controle do comportamento e tarefas como base do processo
psicoterápico. Exemplos desta última dimensão são dessensibilização sistêmica,
exposição ao vivo/imaginada e a exposição de prevenção de respostas (WOLPE,
1973)
A proposta de Skinner, denominada Behaviorismo Radical, introduziu como
inovação as ideias do monismo materialista e construção social do mundo subjetivo.
O conceito de comportamento operante refere-se ao que um organismo faz, ou seja,
seu comportamento, que tem impacto no mundo ao seu redor e tem efeito

18
retrospectivo sobre o organismo, alterando a probabilidade de que o comportamento
ocorra novamente. As consequências de reforço são aquelas consequências que
aumentam a probabilidade de sua ocorrência futura após uma resposta. Uma
consequência punitiva é aquela que tem o efeito direto de suprimir a resposta, além
dos efeitos colaterais. Segundo Skinner, é o comportamento do tipo operante que dá
origem à maioria dos problemas humanos. Um exemplo típico, no contexto da terapia,
é o chamado capricho infantil. Este é um comportamento operante que aumenta em
frequência quando uma consequência reforçadora (como atenção) está presente.
Outro exemplo é a resposta de evitar do medo, na qual os pacientes aliviam os
sintomas de ansiedade evitando situações que o causam (por exemplo, lugares
fechados e lotados) (SKINNER, 1953/1970).
A extinção, outro conceito desenvolvido por Skinner (1953/1970), envolve
pausar o reforço produzido pela resposta eliciada, ou quebrar a relação contingente
entre a resposta e a consequência, fazendo com que a frequência da resposta retorne
ao seu nível operacional. Este conceito é amplamente utilizado em clínicas
comportamentais para reduzir comportamentos indesejados. No caso da birra de uma
criança, essa resposta pode ser eliminada desfazendo as consequências de reforço
após a ocorrência da reação de birra.
Além de uma redução na frequência das respostas, esse processo leva a fortes
respostas emocionais, o que levou recentemente os clínicos a usá-lo. (ABREU, 2004)
No início da década de 1970, as práticas comportamentais foram muito
questionadas por serem consideradas muito rígidas. Essa situação acabou levando a
tentativas de adicionar componentes cognitivos às tecnologias existentes, o que levou
ao surgimento de abordagens cognitivas. No âmbito desta abordagem, a pesquisa
sobre aprendizagem social enfatiza a mudança de comportamento dos indivíduos por
meio da interação e observação com os outros. Para Skinner (1953/1970), a
aprendizagem pode ocorrer através da exposição do indivíduo a contingências sociais
(vínculo de dependência entre variáveis do organismo e do ambiente social), como
também, sem que o indivíduo tenha sido diretamente exposto às situações, ou seja,
indiretamente, por meio da observação das contingências às quais outros indivíduos
foram expostos. Segundo ele, a maioria dos comportamentos humanos é aprendido
observando os outros, um processo chamado de modelagem (SKINNER, 1953/1970).

19
Após os importantes trabalhos de Antonio Bandura (1977) e os avanços do
estudo dos processos cognitivos posto por suas investigações, trouxe aspectos novos
que passaram a ser utilizados pelas abordagens cognitivas-comportamentais, abrindo
espaço para o que foi chamado de segunda onda.

O segundo momento da psicologia comportamental ( A segunda onda) - TCC

A segunda onda da Terapia Cognitiva Comportamental (TCC ) surgiu com


modelos cognitivos. Os modelos cognitivos propõem que os transtornos psicológicos
surgem de uma forma distorcida/disfuncional de perceber a si mesmo, aos outros, ao
mundo e ao futuro, conhecida como (tríade cognitiva). Nesse sentido, essas
distorções da mente afetam e são influenciadas pelo humor e comportamento.
As abordagens da segunda onda podem ser divididas em racionalistas e
construtivistas. A abordagem racionalista pressupõe ideias sobre emoções. Assim, a
atividade cognitiva desencadeia respostas emocionais, fisiológicas e
comportamentais subjacentes. A abordagem construtivista enfatiza o papel da
emoção nas atividades cognitivas (BECK, 1997). Ambas as abordagens são
consideradas abordagens de terapia cognitiva, pois se baseiam no conceito da
interação entre razão e emoção.
Alguns principais autores da segunda onda, são Albert Ellis, teórico da Terapia
Racional Emotivo-Comportamental; Aaron Beck, autor da Terapia Cognitiva; e Michael
Mahoney, autor da Terapia Cognitiva construtivista. Os métodos de Baker e Ellis são
considerados métodos racionalistas porque visam reformular padrões de pensamento
disfuncionais responsáveis por mudanças de humor e comportamento (BROWN,
2011). Por outro lado, a abordagem Construtivista de Mahoney prioriza as emoções
como ponto central do entendimento do funcionamento mental (ABREU; VALLE;
ROSO, 2001)
Na segunda onda da Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), o foco será na
terapia cognitiva (TC), por ser a mais estudada e ter o maior número de opções de
tratamento testadas e validadas. A Terapia cognitiva (TC) é uma prática de
psicoterapia baseada em evidências desenvolvida por Aaron T. Beck, originalmente

20
desenvolvida para tratar a depressão. Dentre os pressupostos básicos da terapia
cognitiva (TC) tem-se que:
a) a cognição afeta as emoções e comportamentos;
b) a atividade cognitiva pode ser monitorada e alterada; e
c) alterando as cognições pode-se modificar as emoções e comportamentos
subjacentes (BECK, 1997)
Conforme a abordagem cognitiva e comportamental, não são os fatos, mas a
interpretação dos fatos que causa as patologias e o sofrimento da pessoa humana.
Entende-se, assim, que é a maneira como vivenciamos os eventos que nos rodeiam
e se expressam na forma de pensamento automático (PA) que levam a
comportamentos que podem causar sofrimento.
Nesse caso, o entendimento de como se dá o pensamento automático é
importante nos avanços do cliente, pois possibilita o reconhecimento de sua situação
e, enquanto suporte para uma compreensão de sua vida comportamental e cognitiva,
fomenta estratégias capazes de se desdobrar em comportamentos que possam
substituir ou neutralizar comportamentos disfuncionais.
O pensamento Automático (PA), de caráter disfuncional, é comum em vários
fenômenos psicopatológicos, os quais se apresentam carregados de distorções
cognitivas que podem ser resumidas da seguinte maneira:

➢ Prospectivo preditivo: o cliente em seu sofrimento tende de antecipar o futuro,


considerando que naturalmente, todo futuro possível será sempre terrível e
insuportável. Ele, nesse caso, é orientado, por uma crença de que a realidade
só pode ser uma coisa má e ruim, a qual ele está destinado como ser sofredor
e impotente.
➢ Desqualificando: nestes momentos, o paciente é tomado por atitudes e
palavras a partir das quais ele desqualifica e desvaloriza experiências e
eventos com caráter positivo, insistindo que eles não são importantes no
conjunto de sua vida.
➢ Leitura de mente (O cliente apresenta-se quase sempre tomado pela ideia de
que consegue vivenciar diretamente os pensamentos das pessoas, enquanto

21
esses pensamentos ou intenções de outro, o visam constantemente; ele se vê
carregado por essa crença sem ter evidência nenhuma (BECK, 1997)

A origem do Pensamento Automático (PA) está nas crenças centrais do


indivíduo. Essas crenças constituem os padrões mais profundos da estrutura
cognitiva, consistindo em ideias rígidas e globais sobre si mesmo, os outros, o mundo
e o futuro. Essas crenças se desenvolvem na infância como tentativas de organizar o
mundo interno e externo. Quando essas crenças são formadas a partir de experiências
favoráveis, os indivíduos desenvolvem conceitos positivos sobre si mesmos, tais
como: “eu sou capaz”, “eu sou adequado”. Caso contrário, serão desenvolvidas
crenças negativas, tais como: “sou incompetente”, “não sou amável”. Tais crenças
permanecem convincentes na idade adulta, mesmo após novas experiências que
desafiam as crenças centrais. Eles influenciam como os indivíduos interagem com o
mundo, levando-os a escolher detalhes sobre o ambiente e lembrar de dados
relevantes que possam confirmar as crenças pelas quais eles ordenam seu mundo e
também seu sofrimento.
Iniciando com as crenças centrais, outras categorias de crenças
chamadas intermediárias (também chamadas de condicionais ou crenças de regras)
são desenvolvidas. Essa categoria intermediária não se apesenta diretamente
relacionada à situação e geralmente se expressa na forma de suposições do tipo
“se… então…” ou regras de “deve” ou “deveria”. Elas se revelam também como
estratégias compensatórias, atitudes por meio dos quais o indivíduo imagina que suas
crenças centrais negativas serão encobertas ou não se manifestarão. Por exemplo,
se uma pessoa com a crença central ‘eu sou incompetente’ ativada e associada à
crença intermediária ‘se eu sou incompetente então tenho que me empenhar ao
máximo’, pode engajar-se em tarefas extremamente difíceis (estratégia
compensatória) para encobrir a crença central ‘sou incompetente’.
As crenças intermediárias refletem ideias ou entendimentos mais resistentes
à mudança que os pensamentos automáticos (BECK, 1997)
Segundo a Terapia cognitivo (TC), as distorções cognitivas não são o único
fator associado aos transtornos mentais. Outros fatores como suscetibilidade

22
genética, alterações bioquímicas e conflito interpessoal também estão associados aos
transtornos mentais e as distorções cognitivas podem agravá-los ou mantê-los.

O terceiro momento da TCC

A abordagem da terceira onda foi desenvolvida no início da década de 1990,


quando analistas comportamentais norte-americanos propuseram um modelo de
tratamento baseado em análise comportamental para se diferenciar dos terapeutas
comportamentais ecléticos, resultando na clínical behavior analysis (HAYES, 2004).
Surgiu, assim, um abordagem voltada a valorização do caráter externo próprio as
dimensões comportamentais, preocupada com a modulação das emoções e dos
processos cognitivos tais como eles se desdobram em práticas e condutas.
As Terapias Comportamentais Cognitivas (TCCs), ao aceitá-las, ao invés de
modificar ideias acerca dos fenômenos comportamentais e de sentimento/cognição,
que são características da primeira e segunda ondas, respectivamente, passaram,
ainda mais, a enfatizar a relação entre os indivíduos e seu meio, mediando o mundo
psicológico pela sua aparição nas formas de comportamento, baseando-se na ideia
de que os pensamentos não devem controlar diretamente a ação, mas sim os valores
pelos quais indivíduos orientam suas condutas (VANDENBERGHE, 2006)
Outra característica marcante da terceira onda é a utilização de diferentes
conceitos e tecnologias na prática terapêutica. A maioria desses métodos compartilha
os pressupostos dos métodos cognitivos ou comportamentais tradicionais, mas é uma
tendência da terceira se apropriar de princípios práticos e teóricos oriundos de outras
abordagens, perspectivados, obviamente, de acordo com as bases epistemológicos
que orientam a abordagem comportamental e cognitiva. Assim, é possível, em uma
abordagem TCC, utilizar-se de mindfulness, técnicas de Gestalt terapia, princípios de
terapia aceitação e até da psicanálise. Alguns exemplos desses modelos integrativos
são:

➢ Terapia de Aceitação e Compromisso,


➢ Psicoterapia,
➢ Analítica Funcional,

23
➢ Terapia do Esquema,
➢ Terapia Comportamental Dialética, e
➢ Terapia Cognitiva Processual

A Terapia Comportamental Cognitiva(TCC), em muitos casos, pode se dar


como uma intervenção psicoterapêutica breve , utilizando-se de 10 a 25 sessões,
que se concentram em abordar a demanda atual do cliente. Em casos específicos,
como certos transtornos de personalidade, a duração do processo de tratamento pode
ser estendida de dois a três anos, já que são colocadas demandas mais complexas
que necessitam de um aprofundamento maior na história pessoal e cognitiva do
cliente (BECK, 1977)
Em suas ações de intervençao, ao adotar a abordagem cognitiva e
comportamento, o psicológo desenvovolve uma prática colaborativa e psicoeducativa
com seu ciliente. O terapeuta se esforça, assim, para ensinar ao cliente modelos
cognitivos a partir dos quais ela possa entender sua maneira de acessar e
compreender o mundo , como também a estrutra dos seus sintomas, avaliando
também, junto com terapeuta, o curso do tratamento e a prevenção de recaídas
conforme as demandas apresentadas. Além disso, com objetivo de abreviar os efeitos
do tratamento, são usadas tarefas em casa, que se dão na forma de experimentos e
exercícios. As sessões de psicoterapia possuem, nesta abordgem, uma estrutura em
que o cliente participa de sua construção. Na estrutura das sessões alguns objetivos
e estratpegias são colocadas como base de todo processo terapeútico. Elas são:
a) avaliação do humor, ou seja, como o paciente sente-se naquele dia e
semana anterior;
b) discussão da agenda para a sessão, isto é, organziação dos assuntos e
problemas a serem conversados na sessão do dia;
c) feedback da sessão anterior, investigando se a sessão anterior ajudou o
paciente;
d) revisão da tarefa de casa, buscando reconhecer e sanar as dificuldades e
aprendizados com a tarefa de casa;

24
e) discussão dos itens da agenda e planejamento de nova tarefa de casa (o
cliente elabora ativamente sua tarefa de casa baseando-se nos assuntos tratados na
sessão);
f) resumo da sessão e feedback (no início do tratamento o terapeuta faz o
resumo da sessão, posteriormente o cliente faz o resumo). A estruturação da
sessão visa o aprendizado do cliente na forma da terapia em que esta envolvido e a
otimização do tempo da sessão (BECK, 1997)
O cliente, portanto, no decorrer das sessões, é treinado para reconhecer e
registrar o que acontece com suas emoções, pensamentos e comportamentos
disfuncionais, começando assim a desenvolver suas conceituações cognitivas. Neste
percurso, outras técnicas cognitivas podem ser utilizadas. Algumas delas são as
seguintes:

➢ Questionamento socrático,
➢ Descatastrofização,
➢ Significado idiossincrático,
➢ Avaliação de vantagens e desvantagens,
➢ Reatribuição,
➢ Identificação de distorções cognitivas,
➢ Registro diário de pensamento disfuncional,
➢ Continuum cognitivo,
➢ Cartões de enfrentamento,
➢ Seta descendente,
➢ Resolução de problemas e tomada de decisão, etc.

Dentre as técnicas utilizadas no ambito terapia comportamental, podemos


destacar ainda, o treino de respiração diafragmática e o treino de relaxamento,
exposição (in vivo e cognitiva; gradual ou inundação), intenção paradoxal, distração,
exposição e prevenção de resposta, reversão de hábito, modelação, modelagem, role-
play, ensaio comportamental e treino de habilidades sociais.

25
4.1 Quando o TCC é indicado

Originalmente, a Terapia Comportamental Cognitiva(TCC) foi desenvolvida


para tratar a depressão. Atualmente existem vários estudos mostrando que ela atua
positivamente em diferentes tipos de transtornos mentais como:

➢ Transtornos de caráter depressivo,


➢ Transtorno de ansiedade generalizada,
➢ Transtorno de ansiedade social,
➢ Transtorno do pânico,
➢ Tabagismo,
➢ Transtorno obsessivo-compulsivo,
➢ Fobias específicas,
➢ Transtornos alimentares,
➢ Disfunção sexual,
➢ Esquizofrenia,
➢ Personalidade desordens,
➢ Problemas de relacionamento interpessoal

Por se tratar de uma abordagem que defende a participação ativa do paciente,


pressupõe-se que ela possa provocar alta motivação, treinando o paciente, para o
desenvolvimento de razóaveis habilidades antiansiedade, o que se torna possível
quando se consegue uma boa aliança terapêutica.
Por outro lado, a Terapia Comportamental Cognitiva(TCC) é contraindicada em
pacientes com alta ansiedade, dificuldade de vínculo, falta de motivação, psicose
aguda e deficiência mental grave (nestes casos, é necessário ajuste da técnica)
(RANGÉ; BORBA, 2008).

4.2 Psicoterapia de grupo

O interesse pela pesquisa em psicoterapia comportamental e de grupo remonta


ao século XX, onde se destacou as contribuições de Bion (1975) e Freud (2011), entre

26
outros, baseando-se sobre o entendimento da influência dos fenômenos
sociais/grupais na composição do sujeito e sua singularidade subjetiva.
Os primeiros relatos do uso da psicoterapia de grupo ocorreram nos Estados
Unidos no início de 1900, com as experiências de Lazel e Marsh. Em 1908, o médico
americano Joseph Platt (atualmente considerado um pioneiro da psicoterapia de
grupo) usou esses grupos para tratar pacientes com tuberculose por razões
econômicas e práticas.
Duas vezes por semana, ele realizava reuniões com cerca de 20 a 30 pacientes
para discutir aspectos de saúde e condições de vida (por meio de aconselhamento,
orientação e apoio), e tem observado melhorias significativas nessas áreas,
principalmente pelo reconhecimento do paciente de que não tem uma experiência
única, e, portanto, pode compartilhar e acolher (BECHELLI, 2004)
Lazell publicou um artigo na Psychoanalytic Reviews em 1921 intitulado "The
Collective Therapy of Early-Onset Dementia", relatando que ele estava gerenciando
um grupo de pacientes com demência (agora conhecido como esquizofrenia) em
pacientes internados, onde diferentes tópicos são discutidos com métodos
psicanalíticos. Ele destaca que a participação do paciente em grupos é benéfica para
o avanço do tratamento da doença.
Marsh (1935), se apropriando destas experiências prévias, iniciou uma
atividade de grupo com pacientes psicóticos internados, reunindo cerca de 200 a 400
deles, três vezes por semana com o objetivo de integrar a mente, a emoção e a
atividade motora. Posteriormente estendeu este tipo de trabalho aos familiares dos
pacientes, trazendo esta contribuição inovadora (BECHELLI, 2004)
Com o tempo, a prática foi adotada por outros psiquiatras para o tratamento de
pacientes internados hospitais e, posteriormente, também ambulatórios. Ressaltando
a enorme expansão desta modalidade de tratamento durante e após a Segunda
Guerra Mundial, principalmente no âmbito do que foi se convencionou chamar de
traumas guerras. Semelhante ao que acontece na psicoterapia individual, as
psicoterapias de grupo são realizadas por meio de diferentes abordagens teóricas e
técnicas, e com diversos objetivos, entre eles:

➢ Alívio de sintomas,

27
➢ Informação,
➢ Autoajuda,
➢ Reestabelecimento do funcionamento psicossocial (intervenção em crise),
➢ Acolhimento,
➢ Treinamento de habilidades sociais e manejo de situações/ doenças médicas
específicas (CORDIOLI, 2008).

Do ponto de vista técnico, os grupos podem ser fechados ou abertos (número


fixo ou não fixo de membros), homogêneos ou heterogêneos (em termos de queixas,
características clínicas e sociodemográficas, etc.), com ou sem duração
predeterminada. O número e frequência de visitantes (diários, mensais) variam. A
escolha de qualquer uma dessas especificidades está diretamente relacionada aos
objetivos terapêuticos do grupo e às características da população-alvo (MELLO, 2000)
Os grupos terapêuticos são vistos como um contexto privilegiado para o
aprendizado do relacionamento humano. Segundo Bechelli e Santos, os grupos
“facilitam a identificação, a revelação de particularidades e intimidades, o oferecimento
de apoio ao semelhante, o desenvolvimento de um objetivo comum, e a resolução das
dificuldades e dos desafios que se assemelham” (BECHELLI, SANTOS, 2004, p.6).
Nesse sentido, os grupos apresentam fatores terapêuticos específicos e únicos
conforme apontado brilhantemente na obra de Vinogradov e Yalon, intitulada Manual
de Psicoterapia de Grupo (1991). Estes autores destacaram a presença de 10 fatores
terapêuticos grupais, tais a seguir;

➢ Instilação de esperança,
➢ Universalidade,
➢ Oferecimento de informação,
➢ Altruísmo,
➢ Desenvolvimento de técnicas de socialização,
➢ Comportamento imitativo,
➢ Catarse,
➢ Reedição corretiva do grupo primário,
➢ Fatores existenciais,

28
➢ Coesão e aprendizagem interpessoal (VINOGRADOV S; YALON ID
VINOGRADOV , 1992).

Inúmeros estudos também demonstraram a eficácia da psicoterapia de grupo,


cuja aplicação consolida o espaço terapêutico, principalmente para
sintomas/transtornos mentais como terapia primária ou adjuvante. Destacam-se
também os fatores econômicos associados à implantação desta modalidade de
tratamento, onde a relação custo/benefício é quase sempre favorável.

5 TERAPIA EXISTENCIAL/HUMANISTA (CENTRADA NA PESSOA E A


PSICOTERAPIA BREVE)

Na década de 1950, também como alternativa à psicanálise, surgiu uma técnica


centrada na pessoa, que focava em aspectos não específicos da psicoterapia, como
a pessoa do terapeuta, a empatia, o calor humano e a autenticidade, trata-se de uma
tendência e uma abordagem representada e desenvolvida por Carl Rogers (1902-
1987).
Enquanto isso, Viktor Frankl (2005) propôs uma forma de psicoterapia
humanista existencialista inspirada no existencialismo, enfatizando o valor da
liberdade de escolha. Frankl, que foi mantido em um campo de concentração durante
a Segunda Guerra Mundial, estabeleceu que o objetivo de sua psicoterapia
(logoterapia) era descobrir o sentido da vida, argumentando que mesmo nas
condições mais adversas, devemos encontrar motivos para satisfação pessoal.
Para ele, o desespero e o suicídio se constituem como alternativas para quem
não consegue encontrar sentido na vida. Frankl se opôs a Sartre, que acreditava que
a vida era absurda e deveria ser suportada heroicamente. Em uma entrevista,
concedida a Revista Manchete, em 1984, o próprio Frankl (1997) explicou os
princípios de sua abordagem, tornando-se no Brasil um autor conhecido pelo grande
público.
Apesar de seu apelo do ponto de vista filosófico, a psicoterapia existencial e
centrada na pessoa teve pouco sucesso como uma abordagem eficaz, tanto no Brasil
quanto na sociedade norte-americana, ainda que atualmente seja uma tendência que

29
se mescla a muitas outras e transforma o cenário de aplicação e estudo da psicologia
e do comportamento humano. Por exemplo, a terapia de "terceira onda", conhecida
como terapia cognitivo-comportamental, passou a utilizar em seu vocabulário muitos
conceitos que buscam descrever a singularidade do sujeito, o que é um impacto da
psicologia existencial nos postulados das correntes que se autodenominam como
científicas. Além disso, essa abordagem, abriu espaço para considerações sobre o
que se chama atualmente de psicoterapia breve, na qual muitas abordagens podem
ser utilizadas, mas volta para a vida concreta do sujeito, algo que se herda da
psicologia humanista/existencial.

5.1 Psicoterapia breve

Fonte: https:google.com

Segundo Gilliéron (1986), a psicoterapia breve é aquela que se baseia e se


define pela possibilidade de realização de um satisfatório processo de psicoterapia.
Através de uma intervenção ativa de focalização e de modo igualmente favorável.
Nessa perspectiva são considerados três aspectos:
(a) é possível desenvovler uma psicoterapia breve através de um método mais
diretivo;
(b) é possivel realizar terapia breve em qualquer abordagem teórica:
psicanalítica, junguiana, rogeriana, behaviorista, entre outras, mas adotando um

30
aspecto diretivo e considerando as relaçoes dialéticas existentes em qualquer
situação humana.
c) o que caracteriza a psicoterapia breve é o manejo técnico do enquadre
psicológico.
Uma das metodologias, atualmente, muito utilizadas, nesse tipo de terapia, é
a neurolinguística, que apesar ter sido concebida por dois pesquisadores, sendo, um
deles, psicólogo, não é considerada um método ou prática de intervenção psicológica
pelos Conselhos Federal e Regional de cada Estado no Brasil; tendo, assumido,
apesar de sua utilização por muitos profissionais da psicologia, o caráter de ‘prática
charlatã', próxima aos manuais de auto-ajuda onde muitas vezes é descrita e
celebrada.
Enquanto campo de investigação, a neurolinguística propõe se tratar de uma
área de conhecimento que partilha da descoberta da neurociência com a linguística,
dando como base metodológica a ideia de que o comportamento pode ser modificado
e a treinado pelo condicionamento do pensamento através da fala e do discurso. Seu
objetivo prático é a intervenção terapêutica e preventiva no intuito de aprimorar o bem-
estar das pessoas, conforme a utilização de práticas que devem ser adotadas pelos
clientes como exercícios, o que pode resultar em ganhos em poucos meses, quando
identificada a situação que o cliente visa superar.
No entanto, geralmente, de fato, a neurolinguística se tornou uma ciência do
“aprendizado do sucesso”. Ou seja, baseia-se em uma concepção de “sucesso” e
procura estudar quais as variáveis envolvidas no alcance do que na sociedade atual
se entende como ‘ser humano bem sucedido’. Por isso, ela busca desenvolver através
de sua base ‘linguística’ e ‘neurológica’, as mais diferentes áreas da vida pessoal,
prometendo por suas técnicas a superação de problemas que em outras abordagens
são visualizados de modo muito mais sério e grave.
A técnica empregada pela neurolinguística representa, portanto, o estudo da
vida daquela pessoas consideradas, de acordo com um conjunto de critérios, como
bem-sucedidas na vida (como eficiência em acumular bens materiais, desenvolver-se
bem nas relações afetivas, desenvolver-se espiritualmente, cultivar pensamentos
positivos, dentre outros). O conceito de eficiência é indispensável nessa atuação, a
partir do qual ela replica em seu inteiror valores de um mundo adminsitrado,

31
controlado, nos quais o corpo e a mente devem ser disciplinados tendo em vista
adptação e felicidade, concebendo a felicidade como isso que se identifica
diretamente com os valores do consumo próprios a uma sociedade burguesa e
capitalista.
A importância de descrever sucintamente sobre a neurolinguística, se dá
porque essa ciência ou pseudociência tem se apresentado com
tamanha popularidade atualmente e sendo compreendida como uma forma de
trabalhar para alcançar resultados satisfatórios rapidamente, participando, assim, do
campo do que se chama psicoterapia breve, que pode em muitos casos, estar próxima
de uma auto-ajuda do que de uma intervenção psicológica de alcance duradouro. O
foco da neurolinguística é ajudar as pessoas a resolver de forma rápida e prática até
mesmo problemas graves e melhorar suas vidas.
Avaliando a técnica executada pela neurolinguística para alcançar resultados
rápidos, identifica-se o seguinte: geralmente, as atividades de neurolinguística
abarcam em entrevistas individuais, palestras motivacionais e exercícios de
condicionamento (assemelhados com as técnicas de condicionamento operante), com
a finalidade de promover no “paciente/cliente” uma categoria satisfatória de
pensamento positivo
A concepção é a de reformular os pensamentos por meio de comandos verbais
altamente instrutivos, de modo que o paciente/cliente pare de realizar pensamentos
negativos e inicie (apenas) pensamentos positivos.
As práticas de intervenção neurolinguísticas operam com o conceito de
inconsciente, compreendido como uma dimensão psicológica onde elaborações
psíquicas para o sucesso ou o fracasso podem se estabelecer, obtendo resultados
funcionais ou disfuncionais acerca do comportamento do indivíduo respectivamente.
Os resultados obtidos pela neurolinguística são “quase imediatos” por meio de
atividades fortemente instrutivas fundamentadas na conjectura ideológica do sujeito:
sempre pensar positivo, desenvolver a “inteligência emocional”, dissociar os
preconceitos e culpabilização contra o sucesso, etc.
A neurolinguística tem sido muito criticada por ser considerada como
“pseudociência” que cultiva uma ideologia imediatista e uma enaltação do sucesso,
baseada no sentido neoliberal, advindo da classe burguesa dos países desenvolvidos

32
Portanto, este é um assunto que basicamente não estimula a reflexão ou a
consciência social (mesmo ineficaz) e, do ponto de vista da psicologia), e em termos
psicológicos, não atinge a essência da psique, mas tem tido grande alcance popular
e adesão por psicoterapeutas das mais diversas tendências.
Por outro lado, não podemos esquecer, que intervenções em que se usa
apenas a neurolinguística, para tentar resolver problemas e melhorar a qualidade de
vida das pessoas, alcançam resultados muito superficiais e de curta duração (mesmo
que esta seja uma maneira rápida e prática para as neurolinguísticas justificarem suas
ações).
Na verdade, os indivíduos podem repentinamente se sentir estimulados pelo
pensamento positivo e podem obter algumas melhorias muito rápidas em seus
padrões de vida. No entanto, se o processo de autoconhecimento não for
desenvolvido, os resultados não se estabilizarão, por exemplo, durante o processo
terapêutico, porque as variáveis subjacentes que causam sintomas exposto do
paciente / cliente ainda não foram submetidos a qualquer intervenção ou construção.
É necessário salientar que o uso especializado, sistemático e extenso de
técnicas instrucionais não é o melhor método para buscar abreviar o tempo de
tratamento de qualquer tipo de intervenção, incluindo principalmente um procedimento
psicoterapêutico. Pelo motivo que, métodos ostensivamente instrutivos, certamente,
só alcançarão resultados superficiais e não duradouros, e ainda por cima, podem
superar ao livre-arbítrio do paciente, desconsiderando a liberdade na individualidade
como conjetura básica de todo processo psicoterapêutico, motivo pelo qual Freud e
Jung deixaram de lado a hipnose, enquanto técnica de intervenção psicoterápica. De
acordo com Jung, o tratamento por sugestão (hipnose,) não foi abandonado
levianamente, mas porque os seus resultados eram insatisfatórios. Na verdade, a sua
aplicação era razoavelmente fácil e prática; possibilitava, por exemplo, que um clínico
desenvolto tratasse de vários pacientes ao mesmo tempo, aparentando ser o começo
oportuno de uma metodologia verdadeiramente válida.
Entretanto, resultados verídicos de cura eram tão dispersos e transitórios, que
nem mesmo a promessa de possibilidades de tratamento que podem ser aplicadas ao
público ao mesmo tempo possibilitou salvar o tratamento por sugestão. Caso
contrário, os clínicos e os fundos de previdência fariam o possível para manter essa

33
abordagem, muito embora tenha sido abandonado devido a sua própria carência em
relação a constância dos sintomas dos pacientes.
Vale ressaltar que, não se fala aqui somente da hipnose, mas de toda técnica
sugestiva ou diretiva, quando aplicada de maneira exclusiva. Em contrapartida,
alguns pesquisadores insistiram em estudar o uso e o aprimoramento da tecnologia
da hipnose sem fazer dos comentários de Jung a última palavra e, eventualmente,
formaram vários métodos de desenvolvimento e evolução, que foram estabelecidos
na psicologia moderna, firmados numa posição sólida, ainda que controversa.
A exemplo, a escola Eriksson que é uma escola privada, que se tornou uma
das escolas mais notórias no campo das hipnoses. Normalmente, a hipnose é
caracterizada por utilizar de técnicas de relaxamento, que variam da simples
introspecção a imersão em um “estado alterado de consciência” ou de “transe
hipnótico”, que possibilita investigar mais diretamente níveis mais profundos da
psique , permitindo desde o surgimento desse conteúdo à concretização de uma
“reformulação” dos mesmos conteúdos pelo paciente, dependendo dos propósito e
do equipamento técnico da escola teórica de hipnoterapia utilizada.
A hipnoterapia é empregada em algumas escolas, até mesmo, para denvolver
o que se denomina “Terapias de Vidas Passadas”. Todos esses desenvolvimentos
recentemente fizeram a Comissão Federal de Psicologia reconhecer que a hipnose é
uma técnica complementar que pode ser usada em psicoterapia, contudo, ainda é
contraindicada como único método de trabalho.
A hipnose, assim como a neurolinguística, se mostrou uma ferramenta para
alcançar respostas mais rápidas através de uma técnica de sugestão qualificada pelo
ingresso num estado alterado de consciência (“transe hipnótico”). Utilizadas
exclusivamente, ambas as técnicas mostraram resultados frustrantes.
A Psicoterapia Breve, por sua vez, não se baseia em nada dessas coisas.
Embora muitos autores caracterizem a psicoterapia breve pelo uso da focalização e
da técnica ativa, processos diretivos, essa não é a real fundamentação, tão pouco a
razão da eficiência de uma psicoterapia breve.
A eficácia da psicoterapia de curto prazo ainda é amplamente questionada.
Jung, em particular, possuía um olhar ligeiramente pessimista sobre os benefícios
sociais de um processo curto,

34
... toda psicoterapia moderna que pretende ser responsável do ponto de vista
médico e respeitada por sua seriedade científica, já não pode ser de massas,
mas depende do interesse amplo e sem reservas dispensado a cada paciente
individualmente. O procedimento é necessariamente muito trabalhoso e
demorado. É certo que se fazem muitas tentativas no sentido de abreviar ao
máximo a duração do tratamento, mas não se pode afirmar que os resultados
tenham sido animadores. Porque quase sempre as neuroses são produto de
uma evolução defeituosa, que demorou anos e anos para se formar, e não
existe processo curto e intensivo que a corrija. O tempo é, por conseguinte, um
fator insubstituível na cura (JUNG, 1957, n.p.).

Gilliéron (1986) questionou ousadamente a "lentidão das profundas mudanças


psicológicas" e a "eternidade" do processo inconsciente; com suas pesquisas em
Lausanne, buscou demonstrar que só é possível realizar psicoterapia breve com o
uso de metodologia mais diretiva, ativa ou “focalizada”. Assim, se preocupou em
mostrar que mudanças duradouras podem ser obtidas por meio de psicoterapia de
curto prazo, e que essas mudanças são acompanhadas por transformações
estruturais na personalidade, por meio de uma técnica na qual, sem desprezar a
introdução de hipóteses psicodinâmicas no decorrer da fase de investigação,
possibilitasse o livre curso às associações do paciente, sem predeterminar o problema
consciente a ser trabalhado e sem requisitar do terapeuta uma postura
essencialmente ativa. .
Em sua pesquisa Gilliéron (1986), apresentou que, sob a ótica epistemológica,
o campo da Psicoterapia Breve corresponde a uma série de estudos com o objetivo
deinvestigar como o manejo técnico do ambiente psicológico afeta a maneira como o
paciente ordena seus conteúdos e concepções psíquicas, tal como os exprime ou
declara no setting terapêutico; investiga, assim, a forma como o manejo do enquadre
influi sobre a ordenação técnica e mental do psicoterapeuta, como também no vínculo
paciente-terapeuta, complementando com suas considerações e intervenções a
fundamentação e a razão da eficiência da terapia breve.
Tendo o terapeuta compreensão que essas são as evidências que respaldam
um trabalho de psicoterapia breve, utilizará da mesma em qualquer abordagem teórica
(comportamental, psicanalítica, fenomenológica, etc.), aplicando qualquer
combinação de técnicas (ativas, não-ativas, focalizada, não-localizada, etc.). Como
reitera Gilliéron (1986) é o enquadre que garante a existência de um processo. Sem
um enquadre, nós teríamos um simples diálogo informal entre duas pessoas, num
procedimento não científico, ainda que com algum valor terapêutico.

35
Seja qual for o entendimento procedente do psicólogo seria uma simples
observação como em qualquer diálogo. A interpretação só pode obter validade e
qualidade do tratamento na dinâmica interna do ambiente, e isso se tornou um
parâmetro que distingue a psicoterapia das conversas entre amigos.
Portanto, nas duas situações, os atributos técnicos e humanos do terapeuta se
preservam constantes, no sentido de serem características específicas do mesmo. No
entanto, modificar ou adotar um ou outro tipo de enquadre será o suficiente para
capacitá-lo a lidar com essas qualidades de modo diferente em cada situação. A
exemplo, em psicoterapia por tempo indeterminado, o psicoterapeuta pode demandar
mais tempo na elaboração do diagnóstico, do que na psicoterapia breve.
Nesse último caso, o terapeuta necessitará de condições para elaborar um
raciocínio mais ágil para o desenvolvimento do diagnóstico, que será mais alusivo,
pouco detalhado e conclusivo do que na psicoterapia por tempo indeterminado. Como
exemplo, ao longo do processo de terapia breve, o profissional pode se sentir mais
intimado a elaborar um raciocínio mais sucinto ou a sustentar um olhar globalizado do
processo. Além da necessidade de manter habilidades de raciocínio rápido, para que
ele possa diagnosticar rapidamente as nuances dos padrões de fala do paciente, é
necessário também que ele se equipe para atuar com intervenções breves de modo
mais eficiente (motivo pelo qual, a psicoterapia breve se transformou também numa
área de estudos dos métodos mais efetivos verificados na ciência clínica psicológica).
A maneira como o terapeuta acolhe também pode ser tratada de forma
diferente, são indicativos que as características técnicas e humanas permanecerão
inalteradas após a mudança da estrutura do espaço-tempo, portanto, as mudanças
nas tendências temporais e espaciais ou estruturas psicológicas requerem que o
cliente e o terapeuta façam ajustes de resposta diferentes, assim é necessário
treinamento das técnicas específicas para psicoterapia breve. Para tanto, é
necessária a oferta de treinamentos e cursos profissionalizantes para os profissionais
da área.
Como relata Lowenkron (1993), o estudo de conceitos fundamentais de alguma
teoria de psicologia profunda, como a psicanálise ou outra, conjugado à supervisão
de casos é indispensável à sedimentação da experiência do clínico em psicologia
breve.

36
Na “situação clínica-experimental imaginada”, vimos que a situação real gerada
por um ou outro tipo de enquadre eleito (terapia por tempo indeterminado ou
psicoterapia breve) estimulará esta demanda. É como se o enquadre, nesse cenário,
carregasse “vida própria”, praticando natural e espontaneamente uma pressão num
sentido de estruturação ou outro.
Se de um lado;
(1) o paciente precisa se adaptar a cada situação de enquadre de uma forma,
(2) o terapeuta necessita desenvolver um manejo novo de suas qualificações
pessoais e técnicas (no último caso, desponta a necessidade de uma capacitação
técnica específica). Os fatores iniciais se localizam no registro íntimo de cada pessoa,
tanto no paciente quanto no terapeuta.
Havendo ainda um terceiro fator que se localiza na espera do interpessoal, e
remete-se;
(3) à interação paciente-terapeuta, que é então manejada de forma diferente
em um ou outro tipo de enquadre (breve ou prolongado).
Nos três tópicos se dispõe a chave para a atuação de uma psicoterapia breve
eficiente ou trágica, da mesma forma que os recursos que diferem a psicoterapia breve
dos demais formatos de procedimento que buscam minimizar o tempo de tratamento
do paciente, bem como a hipnoterapia ou a neurolinguística.
Essas terapias se embasam em métodos básicos de sugestão, ao passo que
psicoterapia (breve ou não) não se embasa em sugestão, mas na procura e
evidenciação sistemática das significações psíquicas do paciente, principalmente para
o próprio paciente.
Importante ressaltar que as alterações no enquadre espaço-temporal referidas
provocou a retificação dos propósitos de uma psicoterapia breve, assim como dos
parâmetros de avaliação quanto aos seus resultados alcançados. Isto é, um terapeuta
não pode ter os mesmos objetivos na psicoterapia breve, que mantém na psicoterapia
por tempo indeterminado.
Ademais, não é viável avaliar os resultados obtidos em psicoterapia breve
tendo como parâmetro o objetivo esperado na análise clássica, pois se isso for feito,
o psicoterapeuta sempre concluirá que seu trabalho de psicoterapia breve alcançou
resultados inferiores ao esperado, ou isso é um fracasso. Diante da necessidade de

37
atender às exigências do novo modelo de enquadre breve, os psicoterapeutas da
terapia breve buscaram desenvolver técnicas interventivas mais objetivas e
focalizadas, portanto, que para vários autores, a terapia breve é por vezes chamada
de “terapia focal” (MELO, 1998).
A focalização, o ecletismo técnico, e a intervenção ativa se espalhou de tal
maneira, que diversos autores consideraram (erroneamente) essas variações como o
“fundamento” e/ou como a própria “definição” do que seja a psicoterapia breve.
Gillierón (1986) em suas pesquisas, alcançando resultados positivos com a
psicoterapia breve sem recorrer a essas técnicas, explicitou que a base metodológico
e epistemológico nada mais é do que o manejo espaço-temporal do enquadre
psicológico, sendo concebível alcançar resultados apropriados com quaisquer
combinações de métodos, contanto que se compreenda a necessidade da preparação
do princípio mais estruturante do enquadre.
A condição para realizar de mudanças estruturais da personalidade em terapia
breve, manifestou-se previamente com os trabalhos de David Malan, que inspiraram,
bem como os trabalhos de Balint, as pesquisas de Gilliéron.
No entanto, à Gilliéron, coube o préstimo de identificar que tais mudanças
podem ser alcançadas prescindindo a utilização de métodos diretivos (técnica ativa,
focalização, etc.), ao passo que lhe coube o préstimo de posicionar a importância do
manejo técnico do enquadre psicológico, como instrumento essencial para explanar a
efetividade da psicoterapia breve, e conceder a sua matriz de fundamentação
metodológica.
Dessa forma, a técnica de Gilliéron, sob a ótica filosófica, respeita e embasa
para o pressuposto existencialista da “Liberdade na Personalidade”, ou da prevenção
da autonomia do paciente no processo psicoterapêutico, contingente a seu ato de
individuação e de caminho de vida.

38
5.2 O manejo técnico do enquadre psicoterápico

Fonte:psicologiasensus.com.

De acordo com Gilliéron (1986), grande parte da oposição da psicanálise


clássica ao modelo de trabalho intitulado como psicoterapia breve, historicamente
ocorreu em parte, porque Freud não desfrutava, à época em que criou sua ciência, de
dispositivos teóricos que lhe permitissem levar em conta, no detalhamento do
funcionamento psíquico, a intervenção da disposição da esfera analítica (isto é, do
enquadre psicoterápico) sobre o processo psicoterapêutico.
Atualmente, houve muitas mudanças e se multiplicaram os estudos
direcionados para o enquadre analítico ou para a dinâmica da contratransferência.
Com o desenvolvimento da pesquisa em psicologia clínica, o foco mudou da
problemática pulsional profunda e do conflito interno, para a inserção dos conflitos
atuais e interpessoais. No exercício, alguns profissionais ainda persistem em
considerar apenas variáveis psicológicas internas.
Segundo Gilliéron (1986) as hipóteses primordiais a se levar em consideração
em relação à esfera das psicoterapias breves são as seguintes:
1º) as variações do enquadre são suficientes para modificar o funcionamento
psíquico e intensificar as trocas relacionais;
2º) a técnica da interpretação deve ser estudada e adaptada a essas
modificações do funcionamento psíquico;

39
3º) é possível, em diversas formas de psicoterapia, tais como a psicoterapia
breve, respeitar estritamente as regras básicas da psicanálise, desde que se
compreenda a especificidade das resistências que aí surgem;
4º) a função do enquadre é criar uma situação psíquica apropriada para
favorecer a eficácia da interpretação;
5º) o enquadre apoia-se na cultura ambiental.
Ao passo que autores como L. Bellak e L. Small, Kurt Lewin, David Malan
(1978) dedicavam relevantes contribuições para a psicoterapia breve, utilizando
variados métodos ativos em psicoterapia breve; Gilliéron, em 1968 propôs-se num
estudo regular das psicoterapias breves na Policlínica Psiquiátrica Universitária de
Lausanne, trilhando uma via um tanto diferente que ocasionou as cinco hipóteses
supracitadas: ele abraçou uma metodologia não diretiva, fidedigna às técnicas da
psicanálise clássica freudiana, aplicadas à terapia breve.
Simultaneamente à fixação de hipóteses psicodinâmicas no período de
investigação, sua técnica compreendia em consentir livre curso às associações do
paciente, sem o terapeuta apontar antecipadamente o problema consciente a ser
tratado e sem impor uma ação especialmente ativa (ou muito menos, diretiva). Pelo
contrário, buscava-se do terapeuta, uma atitude de atenção flutuante, no lugar de uma
atenção focalizada.
Gilliéron atuava sistematicamente da seguinte forma:

5.3 Primeira Entrevista

I. Utiliza sessões semi-dirigidas, principalmente centralizadas nas demandas


atuais do paciente e posteriormente, em sua história pessoal.
II. O cenário e as situações do surgimento dos sintomas são avaliados bem de
perto, assim como a maneira de chegada à consulta;
III. Seguidamente, a anamnese é detalhada o mais profundo que for cabível,
tendo em mente as circunstâncias do aparecimento da desconformidade atual, o
terapeuta visa entender as peculiaridades fundamentais das relações objetais fixadas
pelo paciente no passado e no presente; A suposição implícita é que a maior parte
das desconformidades é provocada por pequenas crises relacionais.

40
IV. Finalizando a primeira entrevista, com todos os pacientes, Gilliéron
aguardava dos terapeutas que possuíssem uma ideia do tratamento que prediziam:
indicação medicamentosa, psicoterapia a longo ou a curto prazo, ou psicanálise.

5.4 Segunda Entrevista

I. É orientada a partir da impressão obtida pela primeira entrevista. Então, ao


se pensar em terapia de curto prazo, entende-se que o terapeuta deve elaborar uma
hipótese psicodinâmica simples, que condense da melhor maneira plausível a
problemática vivenciada pelo paciente;
II. De acordo com o autor, o propósito dessa segunda entrevista é determinar
a hipótese citada e, se viável, consolidar as bases do tratamento posterior através de
estudos interpretativos;
III. Formulando sua hipótese, o terapeuta precisa – conforme a hipótese
psicanalítica de Gilliéron – embasar-se na essência da relação que o paciente busca
estabelecer e permitir-lhe uma compreensão psicodinâmica que “esclareça” postura
atual do paciente, relacionando-a com seu passado.

5.5 Terceira Entrevista

É neste momento que as pontuações devem ser apresentadas, firmando as


modalidades do tratamento (horário, frequência das sessões, honorários).
Essa estrutura foi adaptada e se apresenta estreitamente ligada à essência do
trabalho universitário de formação que Gilliéron dirigia. Entende-se, então, a
necessidade de alterações de acordo com a instituição em que o processo de terapia
breve esteja sendo implementado. Na experiência da Universidade de Lausanne,
observa-se que Gilliéron debatia os casos clínicos nas inspeções de grupo. O seu
formato de trabalho buscava ser flexível ao máximo para ter se em conta,
simultaneamente, a vivência do terapeuta e a essência dos distúrbios do paciente.
Conforme suas indicações, ao estabelecer os modelos do tratamento, o
terapeuta sugere uma psicoterapia com tempo pré-determinado, e habitualmente,
solicita ao paciente que informe o tempo que ele se dedica, subjetivamente, para

41
solucionar suas complexidades. O terapeuta mesmo precisa produzir a sua própria
visão a esse respeito. Segundo Gilliéron (1986) a duração formal diversifica entre três
meses e um ano, sendo uma sessão por semana, eventualmente, duas, e sugeria que
a data da última sessão fosse estipulada com exatidão.
Estabelecidas as disposições básicas e proferido o critério de associação livre,
na recomendação do autor, o terapeuta possibilita que o processo evolua,
pontualmente, como acontece na psicanálise, porém, conservando-se atento às
transformações quase nada manifestas da transferência ocasionadas pela restrição
clara da duração e pela disposição face a face, em especial.
De acordo com a estruturação do procedimento psicoterápico sugerido por
Gilliéron, – o primordial é para o terapeuta, refere-se à compreensão do material
associativo do paciente: trata-se literalmente de compreendê-lo e não de direcioná-lo.
Assim, recomenda-se ter por foco facilitar as associações e propiciar tomadas de
consciência reais.
Vale ainda ressaltar, que a estruturação prática do trabalho de Gilliéron, pode
ser disposta a partir de algumas das cinco hipóteses fundamentais de trabalho
elencadas pelo autor.
A primeira hipótese diz que as variações do enquadre são consideráveis para
alterar o funcionamento psíquico e fomentar as trocas relacionais.
Estrategicamente, o enquadre reporta-se a uma série de causas que envolvem
os motivos socioculturais do tratamento e certos critérios mais ou menos
estabelecidos, por exemplo o lugar, a frequência e duração das sessões.
Este é um conceito mais complicado do que parece: na verdade, a
característica do enquadre é a fronteira que separa o espaço do processamento e do
espaço social, definindo assim uma área privilegiada em que as ações realizadas e
palavras trocadas têm valor terapêutico.
Quanto ao relacionamento terapêutico, ele define, portanto, a comunicação
entre o terapeuta e o paciente e se imprime no interior do enquadre, que exerce uma
colocação hierarquicamente elevada, no sentido de que se impõe, de alguma maneira,
a dois parceiros. Há uma interação dinâmica entre o enquadre e a relação. Em todo
caso, o enquadre determina um campo de força a que estão sujeitados tanto o
terapeuta quanto o paciente.

42
O enquadre possui duas finalidades teoricamente:
1º) uma finalidade dinâmica = propicia um campo dinâmico no interior do qual
se desenvolve a psicoterapia;
2º) uma finalidade tópica = demarca um espaço psicoterápico.

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