O Profiling e As Contribuições Da Psicologia Na Resolução de Crimes

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O Profiling e as Contribuições da Psicologia na Resolução de Crimes

Conference Paper · October 2013

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O Profiling e as Contribuições da Psicologia na Resolução de
d
Crimes

Diego Rafael Schmidt (1), Gabriela Quadros de Lima Stenzel (2)


(1) Acadêmico da Escola de Psicologia da IMED, Passo Fundo – RS.
E--mail: diego_rspsi@yahoo.com.br

(2) Professora da Faculdade de Psicologia da PUCRS,


PUCRS, Porto Alegre – RS.
E
E-mail: gabriela.lima@pucrs.br
O Profiling e ass Contribuições da Psicologia naa Resolução dos
Crimes

Resumo: O presente artigo compreende uma revisão da literatura que tem como objetivo
apresentar uma das aplicabilidades, porém pouco difundida no Brasil, da Psicologia no contexto
das investigações criminais. Trata-se
Trata de uma técnica denominada de profiling, que ocupa-se
ocupa das
características percebidas nas cenas de crimes para levantar informações acerca dos ofensores,
elaborando um Perfil Criminal. O estudo e a interpretação das cenas de crimes em série
possibilitou historicamente o avanço desta
d técnica. Trata-se de um método que visa correlacionar
aspectos e características singulares de cada cena de crime a fim de elaborar um Perfil
Psicológico de possíveis ofensores,
ofensores visando facilitar a sua detenção. Outras contribuições
retiradas da Psicologia Clínica
línica são apresentadas, como os conceitos de organização e
desorganização, o uso da avaliação e a importância de diagnósticos psicopatológicos para a
compreensão da técnica do profiling.
profiling A elaboração de conceitos próprios, como modus operandi
e assinatura, tornou-sese possível através de conhecimentos relacionados à Psicologia
sicologia no que
concernee à observação do comportamento.
comportamento Mencionam-se, se, ainda, algumas características
psicodinâmicas associadas à vitimologia, para casos mais graves.
Palavras-chave: Profiling; Criminologia;
Criminologia Investigação; Perfil Criminal; Análise Criminal;
Criminal
Avaliação Psicológica.

Abstract: This article includes a literature review that aims to present one of the applicability, but
less known in Brazil, of the Psychology in the context of criminal investigations. This is a
technique called profiling,, which is concerned with the characteristics perceived in crime scenes
to gather information about the offenders, preparing a Criminal Profile. The study and
interpretation of crime scenes in series historically enabled the advancement of this technique. It
is a method that aims to correlate aspects and unique characteristics of each crime scene in order
to develop a psychological profile of potential
pote offenders, to facilitate the arrest. Other
contributions withdrawn from clinical psychology are presented, such as the concepts of
organization and disorganization, the use of evaluation and the importance of psychopathological
diagnoses for understanding
nding the technique of profiling.. The elaboration of concepts themselves,
as modus operandi and signature, made it possible through knowledge related to psychology
regarding the observation of behavior. Mention is also some psychodynamic characteristics
associated with victimology, for more severe cases.
cases

Keywords: Profiling; Criminology;


Criminology Research; Criminal Profile; Criminal Analysis;
Analysis Psychological
Assessment.

1. INTRODUÇÃO

A Psicologia enquanto ciência que estuda o comportamento humano conquista cada vez
mais seu espaço na sociedade contemporânea. A partir desse movimento, tornou-se
tornou possível
promover a utilização de métodos e técnicas psicológicas para fins de avaliação em diferentes
contextos, como nas organizações, na educação e nos
n processos jurídicos, entre outros.
outr
Nesse sentido, tornou-se
se sensato pensar na aplicabilidade da Psicologia
sicologia para análise em
investigações policiais e/ou criminais,
criminais questionando-se o sistema de investigação e as técnicas
utilizadas durante os inquéritos no Brasil (JUNDI, 2009). Nesse contexto, convém destacar o
termo profiling.
O Perfil Criminal, ou do inglês profiling,, constitui uma técnica de investigação criminal
que se utiliza de conhecimentos e métodos do âmbito da Psicologia para elaborar um Perfil
Psicológico acerca de criminosos
minosos procurados (CORREIA; LUCAS; LAMIA, 2007), tendo como
base as cenas dos crimes e suas características
característica (RODRIGUES, 2010).
Muito embora
mbora esse termo possua diversas designações, como destaca Rodrigues (2010),
caracteriza-se como uma única metodologia
metodologi que pode ser utilizada na análise das cenas de crimes.
Trata-se de uma técnica que reúne conhecimentos da Psicologia, Psiquiatria e Psicanálise
P com o
intuito de esboçar o Perfil Criminal do ofensor investigado.
investigado No entanto, pouco escreveu-se
escr sobre
os Perfis de Criminosos, de modo que o profiling constitui-se como um método deliberadamente
prático (DOUGLAS et al., 1986).
1986)
Pode-se dizer que o objetivo de um profiler consiste em analisar cuidadosamente a cena
de um crime a fim de extrair características e traços
traços de personalidade dos criminosos e predizer
determinados aspectos do seu comportamento. Seu principal propósito inclui buscar indícios que
levem os investigadores à captura de possíveis
possíveis responsáveis em situações cuja quantidade de
provas for limitada (RODRIGUES, 2010).
Sabe-se que nem todos os profissionais participantes das investigações criminais possuem
subsídios teóricos para identificar esses traços.. Mesmo que não exista uma profissão
regulamentada de profiler (CORREIA; LUCAS; LAMIA, 2007), estudos estudos constataram que
Psicólogos e Psiquiatras desempenham essa tarefa de maneira assertiva quando comparados aos
profissionais não especializados (RODRIGUES, 2010; TORRES; BOCCACCINI; MILLER,
2006).
O aumento da violência obrigou a Justiça à desenvolver novoss métodos de intervenção
social. Deste modo, quanto mais evidente for a influência do comportamento violento sobre a
sociedade moderna, mais esse assunto acaba sendo discutido pela mídia. Mesmo que pouco de
concreto tenha sido proposto para intervir quando o crime já ocorreu, a Psicologia
sicologia têm se
empenhado através
ravés das políticas públicas e com o desenvolvimento de pesquisas em Psicologia
Social para tentar transformar a condição da segurança no país (DOUGLAS et al., 2006).
2006)
Muito embora esse caráter preventivo seja de extrema importância para a sociedade, é
impossível negar a relevância dos Perfis Criminais para a resolução de crimes violentos já
cometidos. Trata-sese de uma técnica não conhecida pelo Conselho Federal de Psicologia,
Psicol
justificando o fato de não haverem regulamentações definidas acerca
acerca do papel do profissional
Psicólogo
sicólogo neste campo de atuação (GARCIA, 2012).
Aparentemente, no Brasil, a profissão de profiler não tem interessado tanto ao público
quando comparada aos Estados Unidos. Entende-sese que os americanos dedicam tamanho
tamanh interesse
ao tema segurança e tratam o assunto com muita seriedade, investindo enormes quantias de
dinheiro em tecnologias e pesquisas para a produção de conhecimento e profissionalização
(SOUZA, 2012).
No presente trabalho, propõe-se
propõe realizar uma revisão da literatura para discorrer sobre as
contribuições da Psicologia para o entendimento e avaliação dos criminosos a partir das
características das cenas dos crimes. Para tanto, tornou-se necessário discorrer sobre os principais
conceitos relacionados ao Perfil Criminal, suas abordagens e aplicações (ou implicações) no
auxílio das investigações policiais.
2. CONTRIBUIÇÕES DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA PARA O PROFILING

A Avaliação Psicológica
sicológica constitui um processo que possui o objetivo de compreender os
fenômenos mentais dos sujeitos,
sujeitos podendo abranger entrevistas clínicas, a aplicação de testes
psicométricos ou projetivos e a elaboração do exame do estado mental de um paciente. Seja de
forma padronizada
dronizada ou não, juntamente com o psicodiagnóstico, ambas constituem procedimentos
que visam o levantamento de dados e a formulação de hipóteses, a fim de oferecer um
encaminhamento para a situação clínica apresentada (CUNHA, 2000; CRUZ, 2011).
2011)
Por se tratar
tar de um procedimento amplo, todos estes métodos citados compreendem uma
forma de avaliação, tanto isoladamente quanto em conjunto (CUNHA, 2000). Da mesma maneira,
maneira
o profiling constitui um estilo de exame psicológico distinto, o qual leva em consideração os
diversos elementos das cenas dos crimes na compreensão da personalidade do(s) ofensor(es) e
da(s) sua(s) vítima(s) (CORREIA; LUCAS; LAMIA, 2007).
Trata-se de um exame realizado
realiz pelo profiler com a finalidade de auxiliar os profissionais
do âmbito forense, isto é, em uma forma de perícia.
perícia. Deste modo, diferentemente da Avaliação
Psicológica
sicológica de cunho clínico, na qual o paciente procura o profissional por desejo próprio, na
perícia
ia este elemento de voluntariedade não se encontra presente (ZAMEL;
ZAMEL; WERLANG,
WERLANG 2008).
No profiling, o profissional utiliza-se
se de métodos psicológicos para possibilitar maior
compreensão acerca dos fenômenos mentais dos sujeitos investigados, especialmente em casos de
crimes pouco comuns (CORREIA;REIA; LUCAS; LAMIA, 2007),
2007 , como nos casos de homicídios, em
que não é possível utilizar-se
se do depoimento da
d vítima. Rodrigues (2010, p. 10) defende que um
Perfil Criminal pode ser perfeitamente elaborado se levarmos em conta “comportamentos
evidentemente exibidos durante o cometimento de um crime”, ou seja, a cena do crime ou na n
entrevista
revista de testemunhas oculares.
Apesar de o Perfil Criminal ser utilizado tradicionalmente naa compreensão de crimes
estranhos, como assassinatos em série, esta técnica tornou-se indicada na investigação de crimes
com caráter excessivamente violento, patológico ou que conservem algum tipo de ritual
(RODRIGUES, 2010). Portanto, enquadrar-se-iam
enquadrar iam assassinatos, sequestros, crimes sexuais ou
bizarros, assaltos, incêndios, crimes rituais, sejam estes
e es em série ou não (CORREIA; LUCAS;
LAMIA, 2007).
Acredita-se que o início do profiling estivera associado com o trabalho do personagem
fictício de Sir Arthur Conan Doyle, Sherlock Holmes. Entretanto, aparentemente, o primeiro perfil
de que se têm relatos data da Segunda Guerra Mundial,
Mundial construído com êxito pelo
elo psiquiatra Dr.
W. C. Langer acerca daa personalidade de Adolf Hitler (DOUGLAS et al., 1986; EGGER, 1999;
RODRIGUES, 2010).
Desde a década de 1950, investigadores tem desenvolvido Perfis Psicológicos
sicológicos sobre
criminosos com base nas cenas dos crimes. Podem-se mencionar os agentes da Unidade de
Ciência Comportamental (Behavior
Behavior Science Unit)
Unit da Federal Bureau of Investigation - FBI, do
NCAVC – National Center for the Analysis of Violent Crime ou da CIA - Criminal Investigative
Analysis,, cujo conhecimento serviu
serviu de impulso para o desenvolvimento da prática do Perfil
Criminal
riminal (DOUGLAS et al., 1986; EGGER, 1999; RODRIGUES, 2010).
Ainsworth (2001) enfatiza a importância da cena do crime, centralizando o trabalho do
profiler no entendimento daquilo que aconteceu na cena, o seu motivo e o Perfil
erfil de sujeito que
provavelmente cometeria tal crime. Assim, traçar um Perfil compreende uma tarefa que demanda
habilidade e conhecimento do profissional, pois demanda estar atento a possíveis conexões físicas
ou simbólicas, as quais possam servir de motivação para um ato criminoso (RODRIGUES, 2010).
Por isso, destaca-se a importância da avaliação das competências do profissional, e não apenas ao
método do profiling propriamente
nte dito. Snook et al. (2008), ressaltam a importância da Academia
e da Psicologia enquanto ciência no desenvolvimento e validação dos Perfis Criminais.
A Psicologia dispõe de métodos e técnicas que permitem a avaliação dos sujeitos, como
as testagens,, o psicodiagnóstico, as entrevistas clínicas somadas às diferentes teorias que abordam
o tema da psicopatologia ou o funcionamento
funci da personalidade, constituindo-sese uma ferramenta
básica para a realização dos Perfis Psicológicos ou, neste caso, Criminais.

2.1 A metodologia do profiling

A partir da revisão bibliográfica realizada sistematicamente, organizou


rganizou-se uma relação
dos aspectos-chave com os passos abordados por um profiler durante sua investigação.
Obviamente, todos os elementos pertinentes à cena de um crime servirão de subsídio para
a construção do Perfil.. Para que estes dados permaneçam os mais exatos possíveis,
possíveis em um
primeiro momento, muitos profissionais imprimem fotografias de diversos elementos das cenas,
como sua localização, a quantidade das cenas, a arma do crime, a organização ou desorganização
do local, inclusão ou a falta de elementos nas
as cenas e, em certos casos, ainda, da posição do corpo
da vítima (DAVIS, 1999; DOUGLAS
DOUGLA et al., 1986; DOUGLAS et al., 2006).
O local em que um crime é cometido revela muito acerca da personalidade de um ofensor.
Lugares desertos constituem grande risco para as vítimas,
vítimas ao passo que locais com grande
circulação de pessoas configuramm um fator de proteção para as mesmas.. Quer dizer, um criminoso
que deseja passar muito tempo com sua vítima inclina-se
inclina a escolher locais onde possua maior
privacidade para ser sua cena de crime (DOUGLAS et al., 1986).
Em seguida, organizam--se os modelos de classificação, os quais avaliam a presença ou
ausência de motivação sexual, ferimentos pós-morte,
pós morte, o número de ofensores e o grau de violência
presente na(s) cena(s) do(s) crime(s) ou também no(s) corpo(s) da(s) vítima(s) (CORREIA;
LUCAS; LAMIA, IA, 2007; DAVIS, 1999; DOUGLAS et al., 1986; DOUGLAS et al., 2006), que
abordar-se-áá em um tópico adiante.
Davis (1999) e Douglas et al. (1986) caracterizam ainda os crimes quanto ao seu tipo.
Para essess autores, a avaliação de casos de homicídios, assassinatos
assassinatos em massa ou seriais, podem
determinar se o crime foi planejado ou aleatório. Consideram-se assassinatos em massa ou em
série aqueles cujo número de vítimas é igual ou superior a três, em eventos isolados ou não. Nos
casos de assassinatos em série, as mortes respeitam a um intervalo
valo de tempo e localização, que
podem ser relativos. Já nos assassinatos em massa o evento acontece uma única vez, porém
envolvendo um grande número de vítimas.
Não se descartam evidências físicas ou dados resultantes das avaliações laboratoriais.
Elementos forenses como a causa e a hora da morte, duração do crime, presença ou não de abuso
sexual, tortura e de testemunhas, juntamente com os relatórios de autópsia constituem
informações que podem, em m momento posterior, definir características importantes acerca do
modo de agir e pensar do criminoso (DOUGLAS et al., 1986; DOUGLAS et al., 2006), levando
em conta a presença ou não de psicopatologia. Por tratar-se
tratar se de um assunto que merece
mer atenção
especial, o exame das características das vítimas também será abordado em tópico posterior.
Assim, na fase de avaliação do crime, sintetizam-se
sintetiza as informações obtidas tendo em vista
a formulação de hipóteses. Para tanto, faz-se necessária a reconstituição
onstituição do cenário criminal a fim
de compreender a assinatura e o modus operandi do criminoso (CORREIA; LUCAS; LAMIA,
2007; DOUGLAS et al., 2006), através da dedução dos comportamentos da vítima e do ofensor
(DOUGLAS et al., 1986).
A forma como um crimee é praticado, denominada de modus operandi (MO), permanece
diretamente relacionada a aspectos da personalidade do ofensor (CANTER, 2004). Douglas et al.,
(2006) definem o MO como os comportamentos especificamente exercidos pelo ofensor durante o
crime, mas que podem se modificar conforme seu “aprendizado”. Por exemplo, um assaltante que
utilize canivetes em seus crimes e fracassa, poderá aprimorar seu MO para empregar
empreg armas de
fogo ao dominar suas vítimas.
No extremo oposto, existe o conceito de assinatura, que compreende os elementos
singulares da cena do crime e o distingue dos demais crimes cometidos (VERDE; NURRA,
2010), sejam eles em série ou não. Segundo a constatação de Douglas et al., (2006), a assinatura
assin
de um crime é frequentemente imutável e imprecisa, isto é, diz respeito a um padrão de
comportamento específico, o qual nunca se modifica, tendo por base alguma fantasia de cunho
inconsciente do ofensor.
Esses elementos reunidos, pouco a pouco revelam aspectos da identidade do ofensor,
como idade estimada, sexo, status socioeconômico, presença nça de antecedentes criminais,
motivação pessoal, perfil tipológico e até a natureza de conflitos psicodinâmicos (CORREIA;
LUCAS; LAMIA, 2007; DOUGLAS et al., 1986; DOUGLAS et al., 2006).
Por fim, com base nas hipóteses elencadas e sua posterior confirmação, a última fase do
profiling resulta em um relatório, no qual se encontram suas conclusões, seguindo à investigação e
apreensão dos criminosos responsáveis (CORREIA; LUCAS; LAMIA, 2007; DOUGLAS et al.,
1986; DOUGLAS et al., 2006).
A interdição dos culpados permite checar se o Perfil Criminal
riminal elaborado confere com o
Perfil real do ofensor, servindo como mais
mais um elemento a corroborar a cientificidade da técnica
(DOUGLAS et al., 1986), ou ainda, a eficácia do profiling.

2.2 A psicodinâmica da vitimologia


itimologia

Tanto Sá (2006) quanto Ballone;


Ballone Ortolani (2004) aceitam a existência de uma motivação
sexual de caráter perverso, mesmo que secundária, para os crimes sequenciais que impliquem
desejos de controle. Em casos extremos, o criminoso
cr pode obter, inclusive, gratificação sexual no
ato de matar, chegandoo a ser denominado de Assassino Sexual Serial.
Personalidades violentas frequentemente possuem características de impulsividade,
desejos de onipotência e controle, agressividade destrutiva, ambivalência, bem como fantasias
sexuais perversas, temor ao abandono
aband e à solidão, entre outras. Certasas formas de conduta
psicopática representam um modo de aliviar tensões primitivas vinculadas às ambivalências
infantis, através de um ritual sádico de controle. Isto é, o indivíduo busca exercer domínio sobre
suas vítimas e subjugá-las, em uma manifestação sádica de “amor” (SÁ, 2006).
Estudos de criminogênese relatam que seriais killers comumentemente advêm de famílias
conflituosas e patológicas, em que predomina uma forte repressão sexual, educação severa e
privação emocional (SÁ, 2006), influenciando
influencia diretamente na constituição de sua personalidade.
Um estudo do relacionamento entre o criminoso e sua vítima, ou simplesmente
vitimologia, compreende aspectos
spectos de
d ambas as personalidades.. A maneira como um ofensor
seleciona suas vítimas revela muito acerca ded si. Portanto, pode-sese dizer que a vitimologia
representa o aspecto mais importante e imprevisível de um perfil (DOUGLAS
DOUGLAS et al., 1986;
DOUGLAS et al., 2006). Conforme
onforme explica Sá (2006),
(2006 as vítimas seguidamente representam um
papel complementar na psicodinâmica
dinâmica do assassino. Ao passo que este exerce controle através da
sedução, as vítimas parecem estar dominadas por um estado de fragilidade e vulnerabilidade.
vulnerabilidade
Porém, estes dados elencados por Sá (2006) podem ser contraditórios em casos de
assassinatos em massa. Entende
ntende-se que a vítima pode configurar-se como uma pessoa
desconhecida ao ofensor, mas carregada
carrega de significados inconscientes para o mesmo.
Uma
ma análise cuidadosa das vítimas também fornece subsídios para a compreensão dos
motivos subjacentes ao crime. Nesse sentido, características
c físicas, como idade, raça e/ou sexo,
hábitos diários,, traços de personalidade, estrutura familiar, comportamentos pregressos e status
socioeconômico devem ser levados em conta ao analisar-se
analisar o Perfil Psicológico da vítima
(DOUGLAS et al., 1986).
Um entendimento acerca desse
d Perfil permite ao investigador compreender determinadas
informações
rmações acerca da cena de um crime e elaborar possíveis características propícias à persuasão
do criminoso (DOUGLAS et al., 1986; RODRIGUES, 2010; SÁ, 2006).
A compreensão de Sá (2006) acerca da vitimologia destaca d a presença de aspectos
autodestrutivos e suicidas disfarçados em muitos sujeitos vítimas de crime. crime No entanto,
sentimentos de fragilidade, desejos de ganho ou sucesso, busca pelo sofrimento e ingenuidade
podem-se constituir enquanto características alternativas e atenuadas,
atenuadas, especialmente para pessoas
que se colocam em situações de perigo. Esse pressuposto baseia-se
base na teoria de que tanto a vítima
quanto o criminoso buscam um meio de satisfação para seus desejos inconscientes,
inconscientes embora cada
um à sua maneira.
Nesse sentido, entende-se
se que papel da vítima não é completamente passivo perante seu
ofensor. Quer dizer, nessa linha de pensamento, ambos participam de forma inconsciente,
inconsciente
referindo-see a presença de tendências suicidas e homicidas na psicodinâmica dessas interações
(SÁ, 2006).

2.3 Organização versus desorganização


esorganização

Organização e desorganização constituem as classificações tipológicas de comportamento


comumente empregadas pelos investigadores. Trata-se de conceitos que permitem a descrição de
características da personalidade dos criminosos, tendo por base a sua relação com a cena do crime
(RODRIGUES, 2010). Nesse sentido, expõem-se as diferenças entre ofensores de classificação
organizada e desorganizada.
Uma cena de crime
me “bagunçada”, por assim dizer, normalmente indica a forte presença de
um funcionamento psicótico ou de um transtorno psiquiátrico sério. O ofensor considerado
desorganizado e perverso sempre atua na sua zona de conforto (RODRIGUES, 2010). Estes
sujeitos tendem a apresentar aversão social, devido à dificuldade de relacionamentos
interpessoais, de modo que esses crimes assumem natureza sádica e brutal (DEVERY, 2010).
Normalmente esse tipo de crime não é planejado e não parece haver um padrão por detrás
do Perfil, tanto das vítimas quanto das cenas, em função do grau de psicose ou comprometimento
psíquico. Entretanto, cabe ressaltar que ofensores organizados podem desordenar uma cena de
crime com o intuito de confundir os investigadores
investigadores (DOUGLAS et al., 1986).
1986) Os crimes
cometidos de forma intencional,, mas não premeditados e cujas vítimas são aleatórias também se
configuram enquanto desorganizados
desorganizad (SÁ, 2006).
Já em uma
ma cena de crime organizada, o ofensor pode demonstrar cuidado em ocultar as
evidências. Vítimas
imas cuidadosamente seletas e o cuidado ao planejar um crime indicam um nível
de funcionamento organizado, cauteloso e, portanto, sem traços
traços psicóticos, podendo ser fácil a
distinção doo motivo do crime (RODRIGUES, 2010; DOUGLAS et al., 1986). Devery (2010)
aponta que estes sujeitos procuram,
rocuram, inclusive, acompanhar as investigações policiais de perto.
Há ainda uma categoria mista, em que se apresentam am elementos de organização e
desorganização para formar uma nova tipologia. Portanto, a importância da reconstituição
r do
crime repousa em formular hipóteses e compreender a organização ou desorganização, assinatura,
modus operandi e fatores dinâmicos aparentes (DOUGLAS et al., 1986).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O profiling não compreende um método exclusivo no processo de investigação.


investigação Trata-se,
por assim dizer, de uma teoria que se utiliza de métodos e técnicas da Psicologia e da Psiquiatria
para complementar as investigações nos processos criminais de forma independente.
independente Em virtude
dos avanços da Psicologia e o surgimento do profiling, tornou-se se possível relacionar esses dois
elementos, como as características das cenas de crime e os criminosos (DEVERY, DEVERY, 2010;
RODRIGUES, 2010).
Recentemente, questionou-se
questionou a validade dos Perfis Criminais devido à sua escassez de
supostos teóricos. Segundo Devery (2010), o profiling não herdara o caráter científico da
Psicologia
sicologia moderna. Porém, cabe ressaltar que, como toda ciência de ordem psicológica, o
profiling surgiu de uma demanda prática e, a partir da mesma, vem construindo suas teorias.
Para Souza (2012, p. 17), todaa análise criminal repousaria na produção de conhecimentos,
a fim de “prever, prevenir e reprimir atos delituosos”.
delituosos No entanto, para que isso aconteça,
ac esse
mesmo autor ressalta a importância de inserção de
d profissionais Psicólogos noo âmbito judiciário.
Embora a Psicologia já tenha conquistado seu espaço junto ao campo judicial no Brasil,
através dos serviços de perícia e avaliação (ZAMEL;
( WERLANG,, 2008), não raro os métodos
investigativos convencionais utilizados para investigação podem ser insuficientes, em especial
quando se fala da resolução de crimes violentos ou em série. Portanto, ressalta-
ressalta-se a necessidade
de se ampliar o campo de atuação do profissional Psicólogo e o embasamento teórico do profiling
para a identificação de ofensores (DOUGLAS et al., 1986).
Finalmente, constata-se
se que a aplicação dos
do métodos e técnicas do âmbito da Psicologia
permite analisar e produzir conhecimentos sobre os processos mentais dos criminosos e, mais
ainda, das cenas dos crimes – podendo
pode ser de grande utilidade para as investigações policiais.

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