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A PSICOLOGIA CRIMINAL PARA ALÉM DO BEM E DO MAL: os

psicopatas e a ausência de empatia1

Sarah Fabiana Comerlato2


Beatriz Hering Faht3

RESUMO

Na Psicologia criminal nos deparamos com pessoas acometidas por transtornos mentais, dentre eles a psicopatia
ou transtorno de personalidade antissocial, ao qual retira do sujeito a capacidade de sentir emoções e de se
comportar socialmente como uma pessoa normal. O objetivo geral do estudo é conhecer os estudos na área da
psicologia criminal referente as características da personalidade dos psicopatas e fascinante ausência de empatia
com as outras pessoas. Os objetivos específicos são: Conceituar a Psicologia Criminal; Conceituar o transtorno de
personalidade antissocial, psicopatia; Delimitar os estudos que apontam a ausência de empatia no psicopata. Esta
é uma pesquisa da abordagem qualitativa, com objetivos exploratórios e procedimento técnico bibliográfica. A
partir da realização do estudo sobre os psicopatas, evidencia-se a falta de empatia e o comportamento como a
frieza, a mentira, atitudes dissimuladas entre outros. Portanto, considera-se a Psicologia Criminal uma área de
investigação necessária e relevante que contribui significativamente na resolução de um crime ou na avaliação do
perfil do criminoso.

Palavras-chave: Psicologia Criminal. Psicopatia. Transtorno de Personalidade Antissocial.


Empatia.

CRIMINAL PSYCHOLOGY BEYOND GOOD AND EVIL: psychopaths


and the absence of empathy

ABSTRACT

In criminal psychology we come across people affected by mental disorders, among them psychopathy or
antisocial personality disorder, which removes from the subject the ability to feel emotions and to behave socially
as a normal person. The general objective of the study is to know the studies in the field of criminal psychology
regarding the personality characteristics of psychopaths and the fascinating absence of empathy with other people.
The specific objectives are: To conceptualize Criminal Psychology; Conceptualizing antisocial personality
disorder, psychopathy; To delimit studies that point to the absence of empathy in the psychopath. This is a research
of the qualitative approach, with exploratory objectives and technical bibliographic procedure. From the study on
psychopaths, there is a lack of empathy and behavior such as coldness, lying, disguised attitudes, among others.
Therefore, Criminal Psychology is considered a necessary and relevant research area that contributes significantly
to the resolution of a crime or to the evaluation of the criminal's profile.

Keywords: Criminal Psychology. Psychopathy. Antisocial Personality Disorder. Empathy.

1
Trabalho de Conclusão de Curso, do Curso de Psicologia do Uniavan, 2020/2.
2
Acadêmica do curso de Psicologia. E-mail: sah_comerlato@hotmail.com
3
Psicóloga e Mestre em Educação. E-mail: beatriz.hering@uniavan.edu.br
2

1 INTRODUÇÃO

A Psicologia Criminal colabora para a elaboração de perfis criminais, através da


observação de características dos delitos, assim como comportamentos dos criminosos vistos
na cena do crime por testemunhas ou segundo relatos das vítimas. Podendo auxiliar na
construção dos perfis psicológicos e no perfil diante do tipo de crime cometido e tudo isso com
base da análise da cena de outros crimes parecidos (GOES JÚNIOR, 2012).
Crimes praticados por Psicopatas possuem um número grande e aparentemente a
sociedade só toma noção quando os crimes chegam a uma grande proporção e são divulgados
já contendo muitas mortes. Em muitos dos casos, um horror imenso chama a atenção de muitas
pessoas e ao mesmo tempo por outro lado muitas pessoas acabam tendo grande fascínio pela
falta de empatia dos psicopatas.
No curso de Psicologia, especificamente na disciplina de Psicologia Forense foi
discutida a Psicologia Criminal, despertando dessa forma o interesse nesse estudo na tentativa
de compreender o transtorno de personalidade antissocial, a psicopatia. Sendo assim, se faz
pertinente apresentar conceitos expostos por estudiosos na área da Psicologia e do Direito, nas
seguintes temáticas: Psicologia criminal, criminologia, psicopatia, empatia.
Afinal, quem são os psicopatas? São pessoas que não possuem a capacidade de se pôr
no lugar dos outros, ou seja, não tem empatia, não possuem sentimentos por outras pessoas, só
pensam em si mesmo e buscam as coisas somente para o seu prazer. “São como competentes
atores em cena que mostrariam para outras pessoas, o personagem mais próspero para que
alcance os seus objetivos” (HARE, 2013, p. 40).
Robert Hare (apud SILVA, 2014, p. 41) diz que “os psicopatas têm percepção de todos
os seus atos, ou seja, eles sabem que estão excedendo indo além de regras estabelecidas pela
sociedade, mas mesmo assim permanecem operando conforme suas ambições, como querem”.
O trabalho do psicólogo criminal se dá por meio de uma avaliação psíquica do criminoso
e procura esclarecer as características da personalidade do sujeito envolvido no crime e a
possível dinâmica do evento ocorrido e que ele está diretamente envolvido (FERNANDES;
FERNANDES, 1995).
Portanto, o estudo tem como problemática a seguinte questão: O que indicam os estudos
na área da psicologia criminal com relação as particularidades da personalidade dos psicopatas
e a ausência de empatia para com outras pessoas?
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Justifica-se a importância do tema para outras pessoas pela ocorrência de que pessoas
comuns podem considerar o psicopata, aquele que cometeu um grave delito ou um ato
criminoso com destaque mundial, como alguém de referência. Nesse sentido, os filmes, as
biografias, as reportagens veiculadas na mídia, além de um papel informativo também podem
estimular pessoas a reproduzir o comportamento do criminoso, como um ato para conquistar
popularidade ou prestígio.
Um modelo de psicopata no Brasil que tomou dimensões no mundo é popular como o
Maníaco do Parque, sendo ele Francisco de Assis Pereira. Uma de suas caraterística era
modificar diversas vezes a versão dos fatos e o número de vítimas que possuía. O caso gerou
grande inspiração a um escritor chamado Gilmar Rodrigues que escrever um livro chamado
"Loucas de Amor - mulheres que amam serial killers e criminosos sexuais” (UOL, 2018).
No entanto, esse estudo procura lembrar que os psicopatas criminosos possuem m
transtorno severo de personalidade, e, portanto, precisam de suporte e acompanhamento
psicológico para primeiramente identificar se o indivíduo se enquadra como um psicopata
realmente, em que grau ele se encontra da psicopatia ou é apenas um criminoso comum através
do trabalho de diagnóstico.
Frente ao exposto o estudo objetiva conhecer os estudos na área da psicologia criminal
a partir das características da personalidade dos psicopatas e a grande ausência de empatia dos
mesmos com outras pessoas. Para atender a tal propósito foram elaborados os seguintes
objetivos específicos: Conceituar a Psicologia Criminal; Conceituar o transtorno de
personalidade antissocial, psicopatia; Delimitar os estudos que apontam a ausência de empatia
no psicopata.
Tem-se como hipótese encontrar em produções científicas publicadas por estudiosos da
área da psicologia criminal, apontamentos a respeito das características específicas do
transtorno de personalidade antissocial, ou seja, os psicopatas bem como explicações científicas
que justificam a ausência de empatia do psicopata com as outras pessoas que de certa forma
acabam por cometer delitos graves.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A classificação metodológica do estudo é de abordagem qualitativa, descritiva e


bibliográfica. A pesquisa qualitativa é uma forma de conhecer um determinado assunto a partir
da interpretação de textos, sendo arrecadadas informações a fim de aprofundar mais sobre o
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tema escolhido, buscando abranger os dados obtidos com a teoria empregada. Destaca o
subjetivo como meio de incluir e interpretar as experiências e avalia as informações narradas
de uma forma organizada e intuitiva (GÜNTHER, 2006).
Quanto aos objetivos, o estudo é rotulado como descritivo, ou seja, procura apresentar
delinear os acontecimentos e elementos e podemos dizer que tem como finalidade observar,
armazenar e analisar os episódios sem ter influência do pesquisador. Procura identificar,
analisar e registrar as características que tem semelhança com o acontecimento e faz parte
definitivamente de toda a nossa vida acadêmica. (TRIVIÑOS, 1987).
O procedimento técnico delimitado é a pesquisa bibliográfica, realizada para
fundamentar de acordo com a teoria o objeto de estudo, colaborando com elementos que
auxiliam a análise futura dos dados alcançados. Os maiores exemplos da pesquisa bibliográfica
são sobre averiguações sobre sistema de ideias ou aquelas que se recomendam à análise das
várias posições a partir de um problema (FONSECA, 2002). A coleta de dados se deu
basicamente na leitura de livros e artigos científicos da área pesquisada, confirme ilustrado no
Quadro 1, na seção 4 desse artigo.
Mediante a classificação das referências teóricas, o pesquisador poderá distinguir e
classificar o material selecionado, garantindo dessa forma responder, explicar e delimitar diante
aos objetivos escolhidos e consentir acolher a hipótese preposição com antecipação planejada
(FONSECA, 2002).

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 PSICOLOGIA CRIMINAL

A psicologia criminal é uma abordagem que consiste em um aproveitamento direto da


psicologia e da psicanálise à análise e abrangência de condutas violentas ou vistas como
delinquentes. É uma ajuda da parte teórica da psicologia ao caminho da administração da justiça
e do direito, já que em si ela aborda a criminalidade em um contexto biopsicossocial. A
abordagem estuda a saúde mental, analisando e observando a personalidade do indivíduo e os
seus conflitos internos, tentando entender o porquê das atitudes mais agressivas ou o porquê de
um crime violento (SÁ, 2007).
Essa ciência nasceu da necessidade de legislação correspondente para os casos dos
indivíduos considerados doentes mentais e que tenham cometidos crimes pequenos ou até
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graves. Teve um grande desenvolvimento quando o FBI abriu em sua academia uma unidade
de análise comportamental.
O psicólogo criminal faz acompanhamento de reclusos em situação de liberdade
condicional e quando libertados um acompanhamento no processo de inserção na vida. Realiza
diagnósticos das causas dos incômodos e perturbações mentais apresentadas, dá atenção a
depoimentos baseados em falsas memórias, traça perfis psicológicos tendo a intenção de ajudar
a polícia a capturar criminosos, testemunha muitas vezes em tribunais como especialistas
ajudando a dar caminhos e até penas, e ainda prestam serviços de ajudas as vítimas de violência,
seja ela qual for. A investigação criminal pode ser útil para alguns ramos da psicologia, mas
infelizmente, sabe-se que não há tantos recursos financeiros em alguns ramos para contratar
profissionais capacitados para os processos pontua Sá (2007).
Quando se discute psicologia criminal, presencia-se uma terminologia extrapolada, que
deverá ter por verdadeiro desígnio a promoção de um diálogo não hierarquizado entre o direito,
a criminologia, a psicologia, a psiquiatria e a psicopatologia, de modo a envolver melhor como
estes diferentes campos de conhecimento observam a origem do crime e, a partir daí seus pontos
de aproximação e de distanciamento (SÁ, 2007).
Quanto ao Psicólogo Criminal pode-se dizer que existem múltiplas as possibilidades de
atuação, como exemplos a seguir, destaca Sá (2007):

a) Perícia Criminal: possibilidade de trabalhar através do ingresso na Polícia Civil ou


Federal prestando concurso público. Não demanda graduação específica, ou seja,
pode ser feita diante de várias formações.
b) Servidor Público: Polícia, a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), as Forças
Armadas e os Tribunais de Justiça, fazendo concurso público e ainda assim pode
trabalhar em presídios ou unidades de detenção.
c) Assistente técnico: o Psicólogo Forense, como é chamado por pessoas próximas à
profissão de Psicólogo Criminal, pode ser contratado como auxiliar técnico para
análise e avaliação de laudos de psicólogos peritos.
d) Independente: os profissionais podem agir por si só proporcionando serviços de
ajuda no campo da investigação forense e criminal, operando também na área de
segurança para as empresas privadas.
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O mercado em Psicologia Criminal segue se desenvolvendo e evoluindo em decorrer ao


aumento das demandas e dos desafios. Embora ligado a um cenário difícil e complicado, é
importante sempre lembrar que a Psicologia Criminal é parte fundamental na preparação de
medidas preventivas com a inclusão ao universo criminal (SÁ, 2007).

3.2 CONCEITUANDO A PSICOPATIA

A psicopatia é uma concepção psicológica com definição controversa (HARE, 2013).


Por muito tempo a pessoa que tinha a conduta desigual, ou seja, o comportamento
diferente de acordo aos princípios sociais ou jurídicas era visto como loucos ou lunáticos, ou
seja, condutas violentas ou antissociais eram avaliados como influência demoníaca e o
delinquente. O doente mental era separado da convivência social por meio do isolamento
(NUNES; TRINDADE, 2013).
Existe uma curiosidade e ainda ao mesmo tempo uma apreensão com as pessoas que se
comportam de uma configuração, que não é acatado como normal ou natural, mas não têm uma
deficiência intelectual ou traços de uma doença mental. A falta de uma definição e de um
conceito diante da psicopatia fez com que fosse vista de forma imensa, abordando por muito
tempo sem uma diferenciação especifica (BITTENCOURT, 2011).
No século XIX, o termo psicopata era empregado de forma aberta para diferenciar
indivíduos com doenças mentais, e a psicopatia ainda não tinha nenhuma ligação, não era
batizada ou conhecida pelo nome de personalidade antissocial. Recentemente, a psicopatia é
reconhecida e chamada como Transtorno de Personalidade Antissocial, que possui a sigla
TPAS. Mas, é necessário lembrar que não é toda pessoa portadora do transtorno que é definida
ou chamada de psicopata (ZATTA, 2014).
“A psicopatia é considerada uma anomalia cujo os casos vistos no mundo são de 3% no
sexo masculino e 1% no sexo feminino. O que se pode constatar é que a cada 25 pessoas, uma
pessoa é psicopata” (SILVA, 2014, p.02). A autora ainda aponta que os psicopatas são
considerados seres humanos que podem ser encontrados e descobertos em todos os lugares.
Estão presentes nem que sejam como pessoas fantasmas em todo o nosso meio social e
profissional, camuflados ou disfarçados de executivos de sucesso de alto padrão, guias
religiosos, trabalhadores normais, pais e mães de família como qualquer outra pessoa, políticos
entre outros.
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As pessoas consideradas ou identificadas como psicopatas são analisadas como


manipuladoras, persuasivas, frias, dissimuladas, irresponsáveis, narcisistas, impulsivas,
agressivas, insensíveis e imorais, sendo capazes de realizar qualquer coisa para contentar seus
desejos. Não se importam na maioria das vezes em não cumprir normas morais e jurídicas, ou
seja, são capazes todavia de eliminar pessoas que fiquem em seu caminho sejam elas família,
pessoas conhecidas ou pessoas aos quais não conhecem. Não ligam para as emoções ou
sentimentos das outras pessoas e muito menos com a dor e o sofrimento das mesmas, pelo fato
de serem pessoas que não tem medo, remorso ou arrependimento. São consideradas pessoas de
inteligência muito avançada e de um raciocínio rápido e persuasivo (SILVA, 2014).
Para dar o diagnóstico de Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS) é realizado
um processo avaliativo baseado no “Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorder” ou
então conhecido como DSM-V (2014) que apresenta o TPAS como sendo uma característica
por um conjunto de comportamentos antissociais com um padrão de desobediência e infração
dos direitos das outras pessoas (p.645).
Os psicopatas não possuem desorientação, não tem delírios ou alucinações, não são
considerados loucos ou doentes mentais como o nome indica do grego psyche (mente) e pathos
(doença), significa “doença da mente” (SILVA, 2014, p. 38).
Segundo Trindade, Beheregaray e Cuneo (2009, p. 97) dizem em suas palavras que: “O
psicopata oculta graves carências emocionais atrás de uma aparência de normalidade. Apresenta
baixo nível de ansiedade, falta de remorso ou vergonha, narcisismo e incapacidade para amar,
ausência de reações afetivas básicas, e comportamento irresponsável”.
“Entretanto, ao contrário do que o termo sugere, a psicopatia na verdade não se trata de
uma doença", conforme explica Silva (2014, p. 38).
Trindade, Beheregaray e Cuneo definem que o transtorno a psicopatia não é baseamento
suficiente para justapor o grau de segurança, pois segundo eles, na pessoa considerada
psicopata:
Sua capacidade cognitiva encontra-se preservada, o que os torna “sadios” perante o
direito penal, razão pela qual a eles não deve ser aplicada medida de segurança, mas pena.
Doença mental não é sinônimo de inimputabilidade, salvo quando houver prejuízos de ordem
cognitiva e/ou volitiva (TRINDADE, BEHEREGARAY; CUNEO, 2009, p. 23).
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“A taxa de reincidência dos psicopatas é três vezes maior em comparação aos outros
criminosos e eles representam entre 33 a 80% dos delinquentes criminais crônicos”
(TRINDADE; BEHERENGARAY; CUNEO, 2009, p.110-111).
Fabbrini e Fabbrini (2011, p. 140) consideram que os indivíduos identificados como
psicopatas são semi-imputáveis e que estão inclusos na classe de portadores de neurose
profunda, conforme descrito a seguir:

Os psicopatas, as personalidades psicopáticas, os portadores de neuroses profundas


etc. em geral têm capacidade de entendimento e determinação, embora não plena. [...]
Em todas as hipóteses, comprovada por exame pericial, o agente será condenado, mas,
tendo em vista a menor reprovabilidade de sua conduta, terá sua pena reduzida entre
um e dois terços, conforme art. 26, parágrafo único. A percentagem de redução deve
levar em conta a maior ou menor intensidade de perturbação mental, ou quando for o
caso, pela graduação do desenvolvimento mental, e não pelas circunstâncias do crime,
já consideradas na fixação da pena antes da redução. Entretanto, tendo o Código
adotado o sistema unitário ou vicariante, em substituição ao sistema duplo binário de
aplicação cumulativa da pena e medida de segurança, necessitando o condenado de
especial tratamento curativo, a pena pode ser substituída pela internação ou tratamento
ambulatorial.

Segundo o DSM-V (2014, p.660) o padrão de comportamento antissocial continua até


a vida adulta. “Indivíduos com transtorno da personalidade antissocial não têm êxito em ajustar-
se às normas sociais referentes a comportamento legal”, e complementa, “A característica inerte
do transtorno da personalidade antissocial é um padrão resumido de indiferença e
impassibilidade e abuso infração dos direitos das outras pessoas, o qual aparece na infância ou
até no começo da adolescência e continua na vida adulta” (p.659).

3.3 IDENTIFICANDO UM PSICOPATA

Um psicopata possui a aparência normal e demonstra atitude perigosa, e não são todos
considerados criminosos. Os psicopatas são pessoas vistas como frias, impulsivas e violentas,
e veem os outros como presas fáceis nos aspectos emocionais, físicos ou econômicas (SILVA,
2014).
Cabral (2018) apresenta uma maneira que Michael Stone considerado referência na
informação da “anatomia do mal”, um psiquiatra que criou uma hierarquia dos graus da
psicopatia.
No site Livraria Criminal (2014) tomou-se como base os estudos de Michael Stone, que
representa a hierarquia da seguinte forma:
1. Pessoas que matam outras pessoas dito como em defesa própria.
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2. Pessoas e até parceiros que matam outras motivados por ciúmes.


3. Pessoas manipuladores que matam e excitam outras pessoas a matarem as outras
pessoas em seu nome, ou seja, como se fosse eles mesmos com a finalidade de se
auto defender.
4. Pessoas que matam em sua defesa, porém que aborrecem seu agressor ao limite.
5. Pessoas traumatizadas e desesperadas que matam, porém depois se arrependem.
6. Assassinos que são intensos, mas não são considerados psicopatas.
7. Pessoas que são muito narcisistas e matam outras pessoas por ciúmes.
8. Pessoa não psicopata com raiva presa contida que mata quando atinge o auge ou um
extremo.
9. Criminosos que agem pela paixão, pela falta de controle emocional que cria situações
desastrosas e não conseguem raciocinar quando o assunto é sentimento com traços
de psicopatia.
10. Pessoas que não são psicopatas e matam outras pessoas ao qual acham que são
barreiras para um objetivo.
11. Psicopatas que matam pessoas por considerar que elas são obstáculos para um
objetivo.
12. Psicopatas com sede vontade de força que matam outras pessoas quando se sentem
incomodados e ameaçados.
13. Assassinos psicopatas que matam outras motivados pela raiva e ódio.
14. Psicopatas que são frios, individualistas e egocêntricos e que matam outras pessoas
em seu benefício próprio.
15. Ataques de psicopatia ou múltiplos e diferentes assassinatos.
16. Psicopatas que cometem ações com aperfeiçoamento de violência, em espaços
longos.
17. Assassinos seriais com depravações e perversões sexuais.
18. Assassinos que torturam.
19. Psicopatas levados ao terrorismo, chantagem e estupro sem cometer assassinato.
20. Assassinos que veem e possuem a tortura como anseios e pretextos principais.
21. Psicopatas que não assassinam eliminam suas vítimas, porém torturam as mesmas
de forma extrema.
22. Psicopatas que torturam as vítimas de forma extrema por um grande período e depois
as matam.
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O psicopata tem demonstrações e tipos de manipulações, normalmente tem uma


conversa normal com outras pessoas, ao qual permanece calmo durante o tempo todo. Não
altera nunca o tom de voz e nunca mostra irritação, mente normalmente sem que a outra pessoa
perceba e não percebe as ligações emocionais, ou seja, não vê nem adota claramente a realidade.
Faz o que for preciso para buscar e alcançar o que deseja, esquecendo e não tendo consciência
(SILVA, 2014).
Para se identificar o diagnóstico da psicopatia, é tomado como base a escala criada pelo
psiquiatra Robert Hare, em que o médico mede, avalia, analisa e pontua a pessoa cujo suspeita
do transtorno de 0 a 2, de acordo com as especialidades e características comportamentais
analisadas e identificadas. Ao fim, o médico checa e confronta o valor obtido em um todo com
a escala de Hare para verificar e identificar o grau de psicopatia e se ela realmente existe
(SILVA, 2014).
Para ser diagnosticado e identificado como um psicopata, a pessoa deve apresentar
algumas semelhanças e apresentar alguns indícios, de acordo com o DSM-5 (2014):

a) Não se adaptar às normas sociais no que se refere a comportamento e até contrariar


desobedecer às normas que podem resultar em detenção.
b) Tendências a ser falso e o uso de mentiras e enganação para obter vantagem em algo.
c) Impulsividade ou abortivo em planejar o que vem pela frente, ou seja, o futuro.
d) Excitação e atitude contrária, que se opõe e que costuma desaprovar, caracterizado
por muitas, ou seja, constantes agressões físicas e até lutas corporais.
e) Insensível e indiferente pela sua segurança ou de outras pessoas
f) Irresponsabilidade frequente, não consegue manter uma conduta dura no trabalho
ou cumprir com seus deveres financeiros.
g) Falta de remorso e sentimentos, atua de maneira apático indiferente ou racionalizada
em semelhança a ter ferido, maltratado ou roubado alguém.

Ainda com relação ao comportamento do psicopata Silva (2014, p. 70) diz que:

Sinal bastante característico do comportamento dos Psicopatas é a total falta de


preocupação ou constrangimento que eles apresentam ao serem desmascarados como
farsantes. Não demonstram a menor vergonha caso sejam descobertos. Esses tipos de
Psicopatas são muito comuns no mercado de trabalho, muitas vezes, fingindo ser
profissionais qualificados em áreas que nunca atuaram.
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O transtorno da psicopatia pode ocorrer tanto no sexo masculino quanto no sexo


feminino, mas geralmente as características são mais evidentes e manifestadas em homens
depois dos 15 anos, enquanto que nas mulheres as características e o diagnóstico são mais difícil
pelo fato de não terem tantos comportamentos descontrolados. O transtorno psicológico como
a psicopatia, pode acontecer de acordo a diversas circunstâncias, como por exemplo alterações
cerebrais, de acordo a fatores genéticos. Também em situações como traumas de infância, como
exemplo abuso sexual e até abuso emocional, ou diversas violências e vários conflitos dentro
de casa (HARE, 2013).
As principais particularidades para ajudar a identificar um psicopata é a falta de empatia,
os comportamentos impulsivos, o fato de não se importar com outras pessoas e apenas consigo
mesmo. Adotar certas atitudes descontroladas não levando o apreço as outras pessoas e não
pensando no antes e no depois de algumas ações. O fato de não admitir a culpa, ou seja, sempre
nega e não se sente responsável pelas suas atitudes, sempre acham que estão certos nunca errado
colocando a culpa em outras pessoas. O individualismo também é uma característica, pois
acredita que o mundo gira em torno de si, que é o centro das atenções. Por se considerar muito
importante, o comportamento pode ser delineado como narcisismo e ainda tem o fato de mentir
muito, na maioria das vezes nem percebe que está falando mentiras e acredita em tudo que fala
(SILVA, 2014).

3.4 TRATAMENTO PSICOPATIA

A psicopatia é um transtorno que não tem cura, ou seja, a pessoa depois de uma intensa
avaliação e diante de uma confirmação do transtorno, geralmente é internada e segue com
tratamentos em ambulatórios. Mesmo que não tenha cura, o processo periódico de reavaliação
e tratamento se faz necessário para avaliar o grau de perigo que ele apresenta para a população,
ou seja, o quanto a pessoa representa de risco para as outras pessoas (HENRIQUES, 2009).
Ressalta-se que a pessoa considerada como psicopata é muito inteligente e pode
apresentar grande periculosidade, permanecendo em alguns casos no sistema de regime
prisional, ou seja, cumprindo a pena pelo crime cometido. Em tal ambiente, pode provocar e
incentivar várias fugas, organizar motins criminosos e ainda incentivar mortes dentro do próprio
presídio. (HENRIQUES, 2009).
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O que existe como forma de tratamento da psicopatia e recomendado por um psiquiatra,


são as sessões de psicoterapia com um psicólogo e o uso de medicamentos que possam ajudar
e melhorar o quadro clínico. A dificuldade encontrada no tratamento dos psicopatas é que os
indivíduos não se identificam como psicopatas ou com as características do transtorno, muitas
vezes afirmando e julgando que o seu comportamento é normal e não admitem ou aceitam que
possuem traços características de psicopatia, o que faz com que não aceitem ou procurem ajuda
psiquiátrica (GONÇALVES, 2007).
Tratar de um psicopata é uma luta incessante, ou seja, sem fim e com muitos desafios,
pois não há como mudar a maneira de ver e sentir o mundo do psicopata. Psicopatia é
literalmente considerado um modo de ser. Pesquisas até demonstram e sugerem que os
psicopatas podem ser mais suscetíveis, ou seja, capazes ou passíveis de receber, experimentar
e sofrer certas alterações, ou até a possibilidade de adquirir certas qualidades que focalizam no
comportamento positivo, do que sendo punidos por comportamentos ruins (GONÇALVES,
2007).
É preciso observar e ter um cuidado, pois terapias, medicamentos e outras técnicas para
auxiliar no tratamento de um indivíduo psicopata, pode gerar o efeito contrário, ou seja, o
psicopata pode ficar cada vez mais capaz de manipular as pessoas e ainda aperfeiçoar seu modo
de ser (HENRIQUES, 2009).
Se o transtorno problema for detectado cedo, ainda na infância, é possível alcançar
melhora na condição do indivíduo, pois o tratamento na infância permite e se baseia na tentativa
de mudar o comportamento da criança e a ensinar a ter noções do que seria mal, ou seja, do que
é errado. Caso o diagnóstico seja feito na adolescência as chances diminuem de maneira
drástica, porém existe uma possibilidade mesmo que pequena. Se o diagnóstico for feito e
percebido somente na vida adulta, o transtorno definitivamente passa praticamente a não tem
cura e somente paliativos para amenizar ou acalmar os sintomas em alguns casos, mas na
maioria não tem o que fazer a não ser a possibilidade de afastar o indivíduo da sociedade
(ADSHEAD, 2001).
Pode-se dizer que existem seis fatores notórios de complexo na questão do tratamento
da psicopatia, segundo aponta Adshead (2001), sendo eles:

a) O primeiro fator é a avaliação da natureza e a seriedade da patologia, ou seja, qual


é o tipo de psicopatia que o psicólogo pretende tratar.
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b) O segundo fator é o grau que o transtorno se encontra, como o transtorno afeta a


vida da pessoa e das outras pessoas que convivem com o psicopata, ou seja, uma
análise do quanto o transtorno já contaminou e modificou a vida social da pessoa.
c) O terceiro fator é a saúde prévia da pessoa, se existe morbidade e identificar os
fatores de risco, pois todo o histórico de vida da pessoa é de grande importância para
a análise e processamento do transtorno.
d) O quarto fator é definido como a hora da interferência do diagnóstico e da
interferência terapêutica, ou seja, avaliar a condição atual da pessoa que pode ajudar
na identificação de um diagnóstico. Não esquecendo que existe sim a dificuldade de
realizar a identificação da patologia antes do tempo, geralmente a pessoa
considerada como psicopata só é descoberta após provocar algum delito ou ação.
e) O quinto fator é a experiência adquirida e a disponibilidade das pessoas da equipe
terapêutica em acolher a causa. Destaca-se a necessidade de preparo da equipe que
inicia o tratamento psicoterapêutico do psicopata.
f) O sexto e último fator é a disponibilidade de lugares especializados no atendimento
de transtornos como a psicopatia, pois a maioria dos sistemas de saúde dispõe de
ambientes para receber psicopatas, pelo fato do custo ser alto e não possuir nenhuma
garantia de que iria funcionar o tratamento e ter resultados positivos.

No conjunto de todos os fatores necessita-se analisar e considerar todas as informações


bem como os estudos científicos em relação a psicopatia (ADSHEAD, 2001).
As pessoas criminosas que são consideradas como psicopatas, não têm como se curar e
pouco são recuperadas diante de tratamentos psicológicos. Uma forma para as pessoas que
forem identificadas com o transtorno da psicopatia é uma cela de isolamento para que a pessoa
não tenha contato nenhum com outras pessoas (SILVA, 2014).

3.5 AUSÊNCIA DE EMPATIA

A empatia é apontada como uma disposição psicológica que se classifica no sentir o que
outra pessoa sente ou sentiria, ou seja, sentimentos naturais do ser humano, caso pertencente a
mesma posição que a outra pessoa. Quando uma pessoa tem empatia, ela é capaz de sentir e ter
sentimentos normais como qualquer outra pessoa e ainda tem a capacidade de se colocar no
lugar de outras pessoas (SILVA, 2014).
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O empático é capaz de se relacionar e se afeiçoar com outras pessoas, o que não acontece
com a pessoa denominada psicopata. Embora não se apegar aos valores habituais ou
sentimentos verdadeiros, o psicopata consegue ir em busca do que quer, muitas vezes simulando
sentimentos a fim de driblar, ou seja, enganar outras pessoas. Sucessivamente em busca de uma
oportunidade para manipulá-las em seu favorável benefício, pois é uma pessoa que tem uma
facilidade de mentir sem ser notado (SILVA, 2014).
Ainda segundo a referida autora, a empatia causa e provoca prazer, alegria,
contentamento e satisfação na maioria das pessoas comuns, já para o psicopata a relação com
outra pessoa tem consecutivamente uma meta e um fim a ser obtido ou buscado, ou seja,
alcançar prazer ao fazer o outro sofrer.
Psicopatas são pessoas estimadas e consideradas que possuem um transtorno
psicológico ao qual não os deixa sentir algum tipo de emoção, como sentimentos normais que
as outras pessoas têm. Eles não têm qualquer tipo de culpa ou arrependimento ou tristeza, e são
capazes de fazer crueldades à suas vítimas sem algum tipo de sentimento positivo, ou seja, bom
(SILVA, 2014).
Kaplan e Sadock (1993) definem a o anseio e pretensão de um psicopata paralelo como
um emaranhar estado de sentimentos, com elementos somáticos, psíquicos e comportamentais,
pertinentes e relacionados ao afeto e ao humor.
Silva (2014, p.144) destaca que:

É importante ter em mente que todos os psicopatas são perigosos, uma vez que eles
apresentam graus diversos de insensibilidade e desprezo pela vida humana. Porém,
existe uma fração minoritária de psicopatas que mostra uma insensibilidade tamanha
que suas condutas criminosas podem atingir 10 perversidades inimagináveis. Por esse
motivo eu costumo denominá-los de psicopatas severos ou perigosos demais. Eles são
os criminosos que mais desafiam a nossa capacidade de entendimento, aceitação e
adoção de ações preventivas contra as suas transgressões. Seus crimes não apresentam
motivações aparentes e nem guardam relação direta com situações pessoais ou sociais
adversas.

Os psicopatas na maior parte das vezes cometem crimes com frieza e até chegam a
cometer crimes maiores que os demais criminosos. Ainda, na maioria das vezes contra as
pessoas que fazem parte do seu meio social, com o simples fato de contentamento pessoal
(HARE, 2013).
É importante dizer que: “Embora o termo o psicopata seja normalmente entendido pelos
leigos como sinônimo de serial killer, estes representam a minoria dos psicopatas, visto que
existe uma graduação de psicopatia, conforme explica Silva (2014, p. 13).
15

Para Hare (2013, p.71) os psicopatas sabem precisamente muito bem o que estão
provocando fazendo e o porquê estão agindo de certas formas, e afirma:

O padrão da personalidade do psicopata como um todo o distingue do criminoso


comum. Sua agressividade é mais intensa, sua impulsividade é mais pronunciada, suas
reações emocionais são mais “rasas”. Entretanto, a ausência de sentimento de culpa é
a principal característica distintiva. O criminoso comum tem um conjunto de valores
internalizado, embora distorcido; quando viola esses padrões, ele sente culpa.

Indivíduos como os psicopatas apresentam grandes riscos à sociedade e a si mesmos,


pelo fato de que não demonstram seus sentimentos e são pessoas capazes de ir até às últimas
consequências para alcançarem suas vontades ou desejos. Possuem o fato de não se importarem
em ferir ou magoar até mesmo as pessoas mais chegadas ou próximas (HARE, 2013).

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 O QUE É PSICOLOGIA CRIMINAL?

Conforme planejado no objetivo específico, inicialmente pretende-se conceituar a


psicologia criminal na perspectiva dos autores Liene Martha Leal, García-Pablos de Molina,
Alvino Augusto de Sá e Cristóvão de Melo Goes Júnior.
A Psicologia Criminal é um dos campos de atuação que pertence a Psicologia Jurídica,
ao qual o profissional é chamado para atuar em processos criminais. O psicólogo pode atuar de
diversas formas como na avaliação de suspeitos, compreensão das motivações do crime e
detecção de comportamentos perigosos, ou seja, é um ramo que se dedica mais propriamente
ao Direito Penal. O primeiro ramo da Psicologia Forense a surgir foi a Psicologia Criminal que
é considerada um subconjunto da mesma, pois realiza estudos psicológicos de alguns dos tipos
mais comuns de delinquentes e criminosos em geral, como, por exemplo, os psicopatas. A
mesma estuda as condições psíquicas dos criminosos e a forma pelo qual nele se processa
origina uma denominada ação criminosa (LEAL, 2008).
Para Molina (2002, p. 253) a Psicologia Criminal, “[...] corresponde à Psicologia o
estudo da estrutura, gênese e desenvolvimento da conduta criminoso”.
A Psicologia Criminal é uma abordagem que consiste em uma aplicação direta da
psicologia e da psicanálise, na análise e compreensão de condutas violentas ou vistas como
delinquentes, aponta Sá (2014). O trabalho do profissional dessa área geralmente acontece em
16

presídios ou sistema penitenciários, pois é nesse meio que inicialmente se procura compreender
as pessoas frente a delinquência, bem como estudar e analisar as instituições prisionais em seu
âmbito procurando desenvolver meios de intervenção que busquem de forma saudável a
reinserção social dos presos. É necessário e desejável que o sistema funcione em um todo, tanto
em seus posicionamentos teóricos como em suas práticas (SÁ, 2014).
Independente da concepção da criminologia clínica deve-se pensar que ela vem para
ajudar e dar subsídios no enfrentamento da análise da conduta, que o Direito Criminal define
como sendo criminosa e da pessoa que praticou o crime, a análise do cárcere do indivíduo ou
praticado pelo indivíduo, de suas vicissitudes e a discussão e divergências de acordo com as
estratégias de intervenção dos delinquentes, levando em consideração à reinserção do criminoso
no convívio social a partir de sua avaliação (SÁ, 2014).
A Psicologia Criminal surge a partir da busca de sistematizar a variedade investigativa
que rodeia a figura do criminoso e do crime cometido. Pode-se considerar que ela busca dados
de persuasão que procurem ajudar na junção de provas da infração penal do criminoso, na
intuição de buscar identificar autoria, a materialidade e as circunstâncias em que ocorreu o
crime (GOES JÚNIOR, 2012, p. 34).

4.2 O QUE CARACTERIZA O TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTISSOCIAL:


PSICOPATA?

Outro propósito desse estudo foi conceituar o transtorno de personalidade antissocial


“psicopata”, e para isso optou-se pelo olhar de Harold Schechter e dos estudos de Kerry Daynes
e Jéssica Fellowes.
De acordo com Harold Schechter, psicopatas não são considerados legalmente insanos.
Eles sabem a diferença entre o certo e o errado e são considerados pessoas muito racionais e na
maioria das vezes muito inteligentes. Alguns conseguem ser bastante charmosos e o que mais
assusta neles realmente é o fato de parecerem tão normais, sendo que não são (SCHECHTER,
2013).
Em seu livro “Serial Killers. A anatomia do mal: Entre na mente dos psicopatas”,
Schechter (2013) aponta um criminologista chamado Edward Glover, autor do “The Roots of
Crime - As Raízes do Crime” publicado em 1960, ao qual afirma que os psicopatas são
extraordinariamente egoístas, narcisistas e desonestos e que nada importa à eles a não ser suas
próprias necessidades. Existem ainda psicopatas que, nos piores casos já vistos, têm sonhos
17

monstruosos e imensos de tortura, estupro e assassinato aos quais caça a sua vítima, sem o
menor escrúpulo (SCHECHTER, 2013).
De acordo com Kerry Daynes e Jéssica Fellowes no livro “Como identificar um
psicopata”, pontuam que pode ser uma pessoa qualquer, tanto uma bem-sucedida como não, e
mesmo assim a única coisa que teriam em comum é a série de problemas emocionais e
comportamento antissocial ao qual são capazes de causarem grandes danos ou estragos, seja
em famílias, organizações ou comunidades inteiras (DAYNES; FELLOWES, 2012).
Por mais que possam desenvolver estados mentais como qualquer outra pessoa os
psicopatas não são considerados dementes, pelo contrário, eles são pessoas consideradas com
total consciência, que tem total controle do seu comportamento. Seus atos, crimes e atitudes são
considerados muito mais assustadores, pois não podem ser considerados consequências de uma
doença temporária e sim de uma grande permanência da sua indiferença fria e calculista em
relação as outras pessoas. Eles não são considerados pessoas loucas, mas de toda forma são
pessoas muito más (DAYNES; FELLOWES, 2012).
Para ser considerado um psicopata de acordo com Daynes e Fellowes (2012) destacam
ser necessário que se tenha evidências tanto das características de personalidade quanto do
estilo de vida, embora cada pessoa possua uma combinação diferente. Por trás do olhar deles
existe um mundo emocional ao qual se considera muito empobrecido, mas para perceber é
necessário um olhar muito atento. Os psicopatas são pessoas observadores, que prestam atenção
em tudo inclusive em como as pessoas reagem, e usam isso de tal forma que se tornam
maravilhosos imitadores das emoções, que na maioria das vezes considera-se normal pelo fato
de que são enganadores excelentes. Conviver com um psicopata, num primeiro momento pode
ser considerado “normal e divertido” até por um tempo, pois a inconsequência e impulsividade
deles contagiam as outras pessoas, mas a sua autoconfiança pode mudar rapidamente se
transformando em arrogância dominadora.

4.3 EXISTE AUSÊNCIA DE EMPATIA NO PSICOPATA?

Como último objetivo, o estudo ainda pretendeu trazer uma discussão a respeito da
ausência de empatia no psicopata. Para isso, a seguir o Quadro 1 ilustra as obras utilizadas que
atendem a temática proposta.
18

Palavras-chave Ano Base dados Título Autores


Psicanálise; 2012 Livro Como identificar um Psicopata Kerry Daynes; Jéssica
Psicologia Fellowes
Patológica;
Psicopatas;
Psicopatias
Psicologia 2014 Livro Mentes perigosas O psicopata Ana Beatriz Barbosa Silva
Criminal; mora ao lado
Psicopatologia
Psiquiatria; 2013 Livro Sem consciência. O mundo Robert D. Hare
Psicopatia perturbado dos psicopatas que
vivem entre nós
Psicopatas 2013 Livro Serial Killers. A anatomia do mal: Harold Schechter
Entre na mente dos psicopatas
Criminologia; 2008 Revista dos Criminologia: introdução a seus Antonio García-Pablos de
Psicopatas Tribunais fundamentos teóricos, introdução Molina; Luiz Flávio
às bases criminológicas da lei nº Gomes
9.099/95 – lei dos juizados
especiais criminais
Quadro 1. Estudos da psicopatia.
Fonte: Comerlato, Faht (2020).

Psicopatas, de acordo Daynes e Fellowes (2012) são depostos de qualquer empatia, pois
tentam ter aquilo que querem sem se importar com quem seja. São capazes de atravessar o seu
caminho e com todo o seu charme, muita manipulação e muita habilidade eles chegam até você
seja de qualquer forma, desde a sua casa e até mesmo no seu coração, sem que as vezes você
mesmo perceba o perigo. São incapazes de ter qualquer sutileza ou emoções profundas como
uma pessoa normal, pois seus sentimentos na maioria das vezes não passam apenas de reações
consideradas primitivas e passageiras, ligadas as suas vontades e necessidades. Isso quer dizer
que são considerados incapazes de compreender os sentimentos das outras pessoas, são
indiferentes aos direitos e ao bem estar dos outros, aos quais eles mesmos consideram que são
simples objetos que serão manipulados ao seu próprio prazer.
Os psicopatas são considerados pessoas frias, calculistas, sem escrúpulos, dissimulados,
muito mentirosos, altamente sedutores e que fazem tudo apenas em seu próprio benefício. Eles
não são capazes de estabelecer vínculos afetivos com outras pessoas ou se colocar no lugar dos
outros. Não possuem sentimento de culpa ou remorso e na maioria das vezes são agressivos e
violentos. Os psicopatas são considerados verdadeiros predadores sociais, no qual são
19

geralmente extremamente charmosos e atraentes e costumam deixar um grande rastro de perdas


e destruição por onde passam. A observação principal dos mesmos é a impressionante falta de
consciência nas relações nos ambientes do convívio humano e o fato de que o seu jogo se baseia
no poder e na autopromoção à custa das outras pessoas (SILVA, 2014).
Os psicopatas demonstram uma apavorante falta de apreensão com os efeitos
devastadores causados por suas ações sobre as outras pessoas. Geralmente os psicopatas são
diretos ao discorrer sobre um assunto e declaram calmamente e com tranquilidade que não tem
nenhum sentimento de culpa, que não sentem qualquer tipo de remorso pela dor ou destruição
que causaram e acreditam que não tem nenhum motivo para se preocupar (HARE, 2013).
Os psicopatas possuem várias características como: o egocentrismo, a ausência de
remorso, pouca emoção e falsidade, que estão relacionadas ao fato de manifestar uma
expressiva falta de empatia. Eles são pessoas que não conseguem se colocar no lugar de outras
pessoas, sentir o que outras pessoas sentem ou estar na pele das mesmas e que não tem nenhuma
preocupação com o sentimento alheio (HARE, 2013).
Um psicopata ama alguém da mesma forma como as pessoas amam uma coisa material
e não da forma como se ama outra pessoa, por exemplo. Ele não sente da mesma maneira como
as outras pessoas sentem, quando se trata de amor ao próximo. Em geral, o psicopata tem o
sentimento de posse, de propriedade sobre tudo. Os psicopatas veem as coisas diferente e
simplesmente não conseguem vivenciá-las (HARE, 2013).
A principal característica de um psicopata é a sua total falta de empatia. O psicopata é
incapaz de amar, de se importar com alguém, de sentir pena de outra pessoa a não ser dele
mesmo. Para eles, as outras pessoas são simplesmente objetos que são usados e manipulados a
seu favor e prazer (SCHECHTER, 2013)
Os psicopatas são pessoas consideradas desprovidas de sentimento, ou seja, eles não
sentem nenhuma culpa ou algum remorso e são capazes de manter uma frieza apavorante em
situações que, perante a sociedade nunca seria normal (SCHECHTER, 2013).
O psicopata é uma pessoa que tem uma capacidade muito restrita no sentir algo e
responder às emoções diferente das pessoas que não possuem o transtorno, apontam Gomes e
Molina (2008). Pessoas normais que não são consideradas psicopatas tem aceleração do ritmo
cardíaco e contraem os músculos faciais, enquanto os psicopatas não mostram ou demonstram
diferenças significativas nesses aspectos. O cérebro de um psicopata possui maior atividade que
o de uma pessoa normal. Estudos realizados utilizando pequenas descargas elétricas, segundo
os autores, verificaram que pessoas consideradas psicopatas são consideradas menos sensíveis
20

ao medo e que possuem um mecanismo mental que desconecta os sinais de medo ou de


ansiedade que são associados à ameaça das descargas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho apresentou como objetivo apontar os estudos na área da psicologia


criminal com relação as particularidades da personalidade dos psicopatas e a ausência de
empatia para com outras pessoas. Com base nisso, buscou-se na literatura, referencias que
puderam auxiliar no entendimento do comportamento de psicopatas e a ausência de empatia
dos mesmos.
Na Psicologia Criminal é possível identificar formas de reeducação e ressocialização de
psicopatas na sociedade e que a reincidência de crimes não é uma regra, ou seja, nem todos
continuam cometendo os mesmos crimes. As pessoas podem errar e se arrepender, por mais
que o psicopata na sua grande maioria não sente culpa ou arrependimento, não se pode deixar
essas pessoas à mercê da delinquência. Atenta-se ao fato de que a falta de empatia nos
psicopatas, em sua maioria, não se dão conta do tamanho do prejuízo que estão causando a
sociedade.
A partir da Psicologia Criminal é possível entender de certa forma a construção do perfil
de um criminoso, ou no caso em questão dos psicopatas. Essa área se torna relevante
contribuindo na resolução de um crime, usando ferramentas da própria psicologia, o que acaba
por vezes relacionado crimes com características semelhantes, pois as condições psicológicas
do psicopata ou como ele se comporta com relação ao crime podem revelar informações que na
descrição do perfilamento.
Os psicopatas são considerados pessoas que não possuem qualquer empatia e
consciência moral, mas dotados de um sistema cognitivo e volitivo em perfeito funcionamento,
na maioria muito inteligentes e persuasivos. Por muito tempo foram feitos estudos e análises
para descobrir a origem da psicopatia, na tentativa de encontrar o porquê do comportamento
tão diferentes e a sua falta de empatia para com outros indivíduo. O que apontam os estudos é
o fato da psicopatia estar relacionada a fatores genéticos ou biológicos, já para outros estudiosos
consideram que o transtorno seja a partir de um ambiente social problemático. Com base em
tudo que foi estudado considera-se o tema da psicopatia extremamente atual, sendo conhecido
por muitas pessoas em forma de filmes, séries e até documentários.
21

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