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ANÁLISE DA PSICOPATIA MEDIANTE O PRISMA DA LEGÍTIMA

DEFESA PUTATIVA
ANALYSIS OF PSYCHOPATHY THROUGH THE PRISM OF PUTATIVE
LEGITIMATE DEFENSE
Fabrícia Brasil Barbosa1
Tereza Victória e Souza Holanda2
Klelton Mamed3

RESUMO

O presente trabalho se dedica a estudar a psicopatia e as suas implicações na legislação penal


brasileira, em especial no instituto da legítima defesa putativa. Destarte, apresenta
fundamentações doutrinárias para responder se esses indivíduos em questão são considerados
doentes mentais ou portadores de transtorno antissocial, considerando a aplicabilidade da
sanção penal. Ao longo desse artigo, é indispensável compreender os meandros da psicopatia e
suas complexidades, através da psicologia, para assim ser possível conectar à legítima defesa
putativa. No tópico da legítima defesa, a intenção é explicar seu conceito e sua classificação no
ordenamento jurídico, para compreender um dos seus desdobramentos, que é conhecida por ser
ficta e imaginária, só o autor da legítima defesa consegue identificá-lo como um perigo real.
Essa questão reflete sobre os inimputáveis e os imputáveis e em qual dessas categorias o
psicopata se enquadraria segundo o Direito brasileiro. Por fim, a conclusão deste trabalho
abordando as nuances finais da temática que foi apresentada.

Palavras-chave: Direito Penal; Psicopatia; Defesa Putativa; Imputabilidade.

ABSTRACT

The present work is dedicated to the study of psychopathy and its implications in Brazilian
criminal law, especially in the institute of putative legitimate defense. Thus, it presents doctrinal
grounds to answer whether these individuals are considered mentally ill or have an antisocial
disorder, considering the applicability of the penal sanction. Throughout this article, it is
essential to understand the ins and outs of psychopathy and its complexities, through
psychology, to be able to connect to putative legitimate defense. In the topic of self-defense,
the intention is to explain its concept and classification in the legal system, to understand one
of its consequences, which is known to be fictitious and imaginary, only the author of self-
defense can identify it as a real danger. This question reflects on the unimputable and the
imputable and in which of these categories the psychopath would fall under Brazilian law.
Finally, the conclusion of this work addresses the final nuances of the theme that was presented.

Keywords: Criminal Law; Psychopathy; Putative Defense; Imputability.

1
Graduando em Direito na Universidade do Estado do Pará - CESUPA, cursando o 9º semestre. Graduada em
Administração de Empresa e Gestão Empresarial; Pós-graduada em Recursos Humanos. Funcionária Pública dos
Estado do Pará; bisabb@hotmail.com
2
Cursando o 9º semestre de Direito na Universidade do Estado do Pará, CESUPA. E-mail:
tereza17060415@aluno.cesupa.br.
3
Doutorando em Sociologia do Direito na Universidade Federal do Pará - UFPA. Mestre em Direito pela
Universidade Federal do Pará – UFPA. Delegado da Polícia Civil do Estado do Pará. Professor de Filosofia, Direito
Penal e Direito Processual Penal no Centro Universitário do Pará (CESUPA). Orientador do presente artigo.
1

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo examinas as características relacionadas ao perfil


de um psicopata e de que forma se dá a aplicabilidade do direito penal brasileiro em face aos
crimes realizados por pessoas acometidas por esse transtorno. Haja vista que, tais crimes
refletem diretamente na legislação penal, uma vez que é de suma importância identificar o que
é a “psicopatia”, para que possa ser aplicado de forma adequada a punição nos indivíduos que
por esse acometidos pelo transtorno e que realizam algum tipo de crime.
O tema aqui retratado reflete um tipo de indivíduo que vive em sociedade e que, muitas
vezes, apresenta desde tenra infância característica de transtorno de conduta (A Criança Má) ou
personalidade antissocial. Mas por tratar-se de pessoas inteligentes acabam passando pelas
vidas de outras pessoas sem trazer prejuízo aparentes.
Infelizmente, esses indivíduos não possuem remorso e, geralmente, praticam crimes
horrendos, de forma premeditada que atraem grande audiência, tanto nas mídias sociais,
Streaming, como em canais de TV aberta. Além de alavancarem vendas de livros que tratam de
crimes envolvendo esses criminosos. Fica evidente o exagerado sensacionalismo que é
transmitido pelos filmes, livros e séries sobre assassinos em série (serial killers) ou mesmo
crimes de parricídio que estarrecem a população por sua violência ou por seus motivos torpes.
Desta forma, a pesquisa apresentada visa analisar o conceito de psicopatia, entrando em
um breve histórico para compreender como são vistos os criminosos e o porquê dos psicólogos
e psiquiatras preferirem usar o termo Transtorno de Personalidade Antissocial.
Ademais, no que tange à psicopatia, esta causa um interesse singular, pois o transtorno
se apresenta na sociedade por evidenciar um ser humano sem empatia, que não consegue se
colocar no lugar do outro, que por seus impulsos pode praticar qualquer tipo de conduta ilícita,
que podem ser leves indo até as mais graves, como homicídios, e que abalam a sociedade e o
Judiciário.
Devido à grande abrangência do tema, surgem então, algumas questões atinentes ao
psicopata, como, por exemplo, as seguintes: seria ele imputável, semi-imputável ou
inimputável? Como a legislação brasileira encara a psicopatia, como doença mental ou um
distúrbio de transtorno social?
Não obstante, existe uma confusão do que é a doença mental e o transtorno de
personalidade, e que refletem diretamente nos julgamentos e decisões dos tribunais sobre o
referido tema. Há duas vertentes jurídicas que podem ser levantas, a primeira, que os psicopatas
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são equiparados aos criminosos comuns, e de outra banda, encarcerados nos presídios, ou
equiparados aos doentes mentais e colocados em hospitais de custódia.
Para os psicólogos e os psiquiatras, os psicopatas são considerados pessoas com
personalidade anômala, ou seja, essa personalidade está fora dos padrões aceitáveis de uma
sociedade, ocorrendo um desvio de conduta, que acaba criando o transtorno antissocial. Desta
forma, um fator importante a ser mencionado dessa anomalia psíquica é a ausência de emoções,
de se colocar no lugar do outro, de sentir culpa, remorso. A empatia, é algo que só existe nas
pessoas com sentimentos, códigos morais e éticos, e funciona como um bloqueio das atitudes
desumanas e cruéis. A pessoa com o transtorno psicótico, devido à ausência de empatia, pode
cometer brutalidades sem sentir remorso ou temer qualquer punição. Mas não podemos afirmar
que eles não têm sentimentos, por exemplo, sentem felicidade em conseguir êxito em seus
planos maléficos, gostam de se sentir superior, tendo a sensação de superpoder por deixar a
vítima sem defesa.
O grande risco social é conviver com alguém que não tem medo das punições que
possam sofrer por seus desvios de conduta ou mesmo crimes hediondos. A sociedade criou para
viver em harmonia um emaranhado de regras, leis e vários tipos de penalidade prevendo a vida
social respeitosa.
Considerando que os psicopatas não entendem o sentido de punição e não aprendem
com elas, já que são pessoas desprovidas de remorso e com dificuldade de reintegração e
ressocialização na sociedade, conclui-se ser, praticamente, impossível sua reinserção social sem
causar risco aos demais elementos sociais.
Mesmo no Brasil com uma legislação penal pouco efetiva na questão da punibilidade,
existe um estudo do preso com Transtorno antissocial, para a progressão da pena, os mesmos
são submetidos a testes que são referência em qualquer lugar do mundo, um dos testes utilizados
é o Rorschach. Que pode indicar o tipo de personalidade do indivíduo podendo constatar ser o
mesmo é manipulador ou agressivo camuflado e o nível de possibilidade de sua progressão de
regime. Dando, até certo ponto, um refrigério a questão da negativa de liberdade de presos
psicopatas, refratários a todo tipo de terapias.
Pode-se observar que em alguns países, como por exemplo os Estados Unidos, a prisão
perpétua ou a pena de morte são possíveis, o que não é aceito na legislação penal brasileira em
tempo de paz, por ser Cláusula Pétrea, que não podem ser mudadas por uma emenda à
Constituição.
Nesse diapasão, é importante ressaltar a visão da Psicologia sobre a Psicopatia, de forma
que, a mesma não é considerara uma doença mental para a referida área de estudo e sim,
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indivíduos que possuem um desvio de personalidade, ou seja, um transtorno antissocial que de


forma consciente esses sujeitos realizam crimes.
Não obstante, serão apontados alguns tópicos relacionados ao tema, tais como: a
definição do Psicopata, as sanções que são atribuídas para essas pessoas pelo Estado e a falta
de legislação para amparar esses indivíduos.
O primeiro capítulo, trata sobre um breve histórico da Psicologia, suas principais linhas
de estudo terapêutico, seus princípios e o ambiente social, analisando a respeito do diagnóstico
a ser imputado no comportamento do ser humano.
O segundo capítulo, explana a definição da personalidade e os traços de comportamento
do indivíduo em face do seu meu social e as características de confrontos internos e externos.
O terceiro capítulo, traz um prisma sobre a psicopatia e seus aspectos psicológicos,
demonstrando as características desse indivíduo e o porquê de se destinar uma atenção relevante
para esses casos.
O quarto capítulo, ressalta sobre a legítima defesa putativa e de que forma é classificada,
pois a mesma se constitui em uma situação de perigo que existe somente no imaginário da
pessoa que supõe ter sofrido uma agressão, de modo que, o ato do suposto agredido é revestido
de antijuridicidade, diferente da pessoa que age na legítima defesa real.
O quinto capítulo, discorreu sobre o comportamento criminoso do psicopata e a
aplicabilidade da sanção penal, quanto a sua imputabilidade, semi-imputabilidade ou
inimputabilidade.
O sexto capítulo, analisou a legitima defesa putativa a luz da psicopatia, no qual o
indivíduo acometido pelo transtorno antissocial, não poderá aproveitar da sua condição para
obrigatoriamente obter julgamento favorável para os seus atos praticados ilicitamente, ou seja,
o seu julgamento será analisado através do caso concreto, se realmente ocorreu erro escusável.
Este artigo foi desenvolvido através de revisão bibliográfica, com fontes primárias, com
consultas de livros, em análise de textos legais, assim como, em fontes secundárias (artigos,
publicações especializadas e dados oficiais publicados na internet).

1. PSICOLOGIA
1.1. UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A PSICOLOGIA
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A Psicologia é uma ciência que estuda a mente e o comportamento humano em face as


interações com o ambiente social e físico com a finalidade de diagnosticar, compreender, ex-
plicar e orientar as mudanças que ocorrem no comportamento das pessoas. Ademais, levando
em consideração que é uma aérea nova dentro da ciência, pois foi reconhecida a partir de 1879.
A partir de fatores externos, a psicologia analisa a convivência com outras pessoas, fa-
miliares e também as experiências de vida do indivíduo, já a análise interna é verificada pelos
valores, princípios e crenças, e de que forma essas influências externas e interna afetam o jeito
de pensar, agir e sentir do ser humano.
Em termo gerais, existe dentro da psicologia tradicional cinco
principais linhas terapêuticas: psicanálise, terapia analítica,
psicodrama, psicologia comportamental e Gestalt.
O estudo apresentado abarca a psicanálise, na medida em que apresenta critérios que
compreendem condutas delituosas e princípios importantes para o julgamento na seara jurídica:
como: (1) o princípio do determinismo, segundo o qual cada ato tem uma intenção, motivação
e significado, ou seja, as causas de um delito se encontram nos planos subjacentes da
consciência, e a sua análise permite entender o ciclo criminoso de um agente psicopata, através
de suas motivações estabelecendo um perfil de vítimas; (2) o princípio da transferência, de
acordo com o qual uma ideia adormecida pode vir a se tornar referência de uma ação de forma
abrupta; (3) o princípio da repressão ou censura, que indica que existe uma força repressora que
vem de uma luta interna ou uma censura consciente para controlar ideias ilegais com o que é
legal. Insta ressaltar, o lado social que não pode ser deixado de lado e nesse caso, a criminologia
tem um papel fundamental, pois as questões humanas e médicas abarcam o estudo da sociedade,
da cultura e da antropologia de forma a explicar o crime e o ato criminoso.
Contudo, considerando o estudo da mente criminosa e suas características psicológicas,
é um tema que abarca uma série de conhecimentos como a conduta e as circunstâncias delituosa
do sujeito, no qual se pode obter instrumentos e informações relevantes para a análise do caso.
Neste contexto, explana-se características necessárias para o entendimento do que é a
psicopatia, uma doença mental ou um transtorno de personalidade antissocial.

2. TRANSTORNO DE PERSONALIDADE
Personalidade é o conjunto de características que liga o homem e seu meio social, assim
como define traços de comportamento, ou seja, são vários fatores genéticos ou hereditários,
somados aos fatores do cotidiano, que se interligam. Para a Associação Americana dos
Psiquiatras, os transtornos de personalidade estão relacionados à ideia de análise e valoração, e
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os traços significativos da personalidade do indivíduo o tornam inflexível ou desadaptado em


diferentes ambientes ou situações. Estudos psicológicos definem que a personalidade é uma
construção de fatores relacionados ao meio em que o indivíduo está inserido, ou seja, não está
somente relacionada ao nascimento, mas também com as mudanças do cotidiano.
Para Jorge Trindade, a personalidade parte da construção interna para uma futura
manifestação diante dos indivíduos de uma sociedade.

A personalidade refere-se a uma individual característica de modelos de pensamento,


sentimento e comportamento. Nesse sentido, ela é interna, reside no indivíduo, mas é
manifestada globalmente, e possui componentes cognitivos, interpessoais e
comportamentais, de modo que descreve modelos comportamentais através do tempo
e das situações. (TRINDADE, 2010, p.160-161 )

Considerando que, algumas alterações do comportamento começam a surgir na fase da


infância, pode-se dizer que o momento crítico e passível de diagnóstico venha ser na fase adulta.
Sendo necessária a separação das limitações de que existem em cada tipo de transtorno,
juntamente, com suas características, pois cada um desses comportamentos precisa ser tratado
e julgado de forma diferente.
Entretanto, a personalidade é composta pelo temperamento, que é o comportamento
mais inato, e o caráter, que é moldado no indivíduo através de interações sociais, é uma
construção, e vai se formando ao longo da vida e se solidifica com a maturidade,
homogeneizando os comportamentos e transformando-os em constantes.
Sobre essa égide, os traços de personalidade quando são mal-ajustados e inflexíveis
comprometem um sofrimento subjetivo e que compõe uma classe de transtorno de
personalidade, marcados pela má adaptação social. Os transtornos de personalidade são casos
complexos e ainda pouco entendido diante de tantas possibilidades para a ciência da mente e
do comportamento humano. Pois, é importante salientar que os julgamentos e o estilo vida
socialmente e culturalmente aceitáveis, estão envolvidos com um nível de cuidado para a
sociedade, que é exercido por meios de políticas sociais e de saúde.
Isto posto, o transtorno de personalidade antissocial, e uma das suas características é o
desprezo por outras pessoas. Sintomas esses que podem começar na infância, mas o diagnostico
só é possível na fase adulta. Os indivíduos que possuem o referido transtorno, possuem padrões
de mentiras, agir impulsivamente, infringir a lei, não tem sentimento de culpa ou remorso, poder
de manipulação e uma inteligência acima da média. Para tanto, é necessário analisar o
comportamento psicopata, considerando se tratar de um transtorno de personalidade e não uma
doença mental, para melhor compreensão do tema abordado.
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3. PSICOPATIA
3.1 UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A PSICOPATIA
Alguns estudiosos da filosofia e da psiquiatria, começaram a indagar sobre atitudes
consideradas fora do comum, e que estavam sendo praticadas por determinadas pessoas, de
modo que, esses comportamentos eram considerados repugnantes e reprovados pela
sociedade. Atinente, será que essas pessoas, realizavam esses atos consciente? Sabiam o que
estavam fazendo? Eles sentiam algum sentimento de culpa? Esses eram alguns dos
questionamentos que levaram aos estudos sobre a psicopatia.
Na antiguidade, eram realizados experimentos sobre transtornos em uma condição de
estado livre, onde os indivíduos que eram acometidos por tal situação, recebiam uma atenção
diluída, de modo que as crises eram vistas como algo sobrenatural. Somente a partir do final
século XVIII e início do século XIX, que os distúrbios e transtornos mentais começaram a
receber uma maior ênfase nos estudos e nas pesquisas.
Na Europa, no século XIX, obtiveram-se alguns estudos sobre abordagem cientifica
da doença, onde o tema psicopatia veio a tona e junto com ele as dúvidas e questionamentos.
O filósofo e médico Próspero Despine, que em sua obra Psycologie naturelle, defendia a tese
de que os criminosos eram psicologicamente anormais, e que, diante disso, os tornava isentos
de sentimento de moralidade (ZATTA, 2014, p 40). Ainda no século XIX, a “escola francesa”
de psiquiatria definiu a psicopatia como, indivíduos desequilibrados psicopatia eram pessoas
desequilibradas. (SILVA, 2014 apud CLARA, 2017, p. 1).
No ano de 1909, o termo sociopatia é mencionado pelo neurologista britânico K.
Birnbaum, sendo proposto como sinônimo de psicopatia, pois os indivíduos que eram
diagnosticados com essa anomalia cometiam atos antissociais, (SILVA, 2012 apud CLARA,
p.1).
Paul Engen Bleuler, em 1924, foi pioneiro ao conceituar a psicopatia, dando-lhe o
significado de “defeito moral congênito ou adquirido”, referente a pessoas que causam sofri-
mento pessoal e social devido a anormalidades (ZATTA, 2014, p 41).
Durante o percurso teórico sobre o tema trazido à baila, deparou-se com a etimologia da
palavra psicopatia, que vem do “grego psyche + pathos, cujo significado é a denominação
genérica das doenças mentais” (SADALLA, 2017, p. 13). A definição de psicopatia não vem a
ser uma concordância entre os especialistas. Segundo definição em termos gerais, o psicopata
é considerado uma pessoa com características agressivas que vai do nível leve ao mais grave.
Envolvendo múltiplos comportamentos de personalidade, que manifestam diversas
especificidades no aspecto moral, social e criminal: desvio de caráter, ausência de sentimentos
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para com o outro, frieza, insensibilidade aos sentimentos alheios, manipulação, egocentrismo,
falta de remorso e de culpa para atos cruéis e inflexibilidade com castigos e punições (SANTOS,
2018, p. 20)
Uma das primeiras conceituações para psicopatia vem da descrição do psiquiatra Hervey
M. Cleckley, que criou o termo “máscara da sanidade” ao publicar um livro homônimo, em
1941, pois acreditava que um psicopata poderia ser qualquer pessoa que vive e age
aparentemente normal em uma sociedade, definiu também características típicas de um
psicopata, como:
Charme superficial e boa inteligência, ausência de delírios e outros sinais de
pensamento irracional, ausência de manifestações psiconeuróticas, falta de
confiabilidade, insinceridade, falta de remorso ou vergonha, comportamento
antissocial e inadequadamente motivado, julgamento pobre e dificuldade para
aprender com a experiência, egocentricidade patológica e incapacidade para amar,
pobreza geral nas relações afetivas, falta de responsividade (atitudes compreensivas
que visam, através do apoio emocional, favorecer o desenvolvimento da autonomia e
da autoafirmação) na interpretação geral das relações interpessoais, comportamento
fantástico com o uso de bebidas, raramente suscetível ao suicídio, interpessoal, trivial
e pobre integração da vida sexual, e a falha para seguir planejamento vital. (HERVEY
M. CLECKLEY, 1941 apud SADALLA, 2017, p. 25- 26)

Não obstante, a definição mais apropriada relata ser um distúrbio mental grave em que
o portador apresenta comportamentos antissociais e amorais sem demonstração de
arrependimento ou remorso, incapacidade para amar e se relacionar com outras pessoas com
laços afetivos profundos, egocentrismo extremo e incapacidade de aprender com a experiência.
Através dos avanços das pesquisas e com um mapeamento do cérebro, observou-se uma
ligação entre áreas e reflexos comportamentais, ocorrendo o entendimento de que os psicopatas
apresentam adulterações de regiões cerebrais específicas que intercedem os comportamentos
sociais complexos.
Portanto, as alterações comportamentais são derivadas de anormalidades no sistema
límbico (área do cérebro responsável por processar as emoções), o que leva ao portador do
transtorno não obtiver a maioria dos requisitos necessários ao convívio social, como empatia,
afetividade e consciência. Porém, o lado cognitivo funciona normalmente, ficando responsável
pela característica da inteligência acima da média. (SANTOS, 2018, p. 21)
Com o passar dos anos, os estudos nas áreas da Psicologia e da Psiquiatria que
abarcavam a psicopatia foram se aperfeiçoando até os dias atuais. Destacando as pesquisas
realizadas por James Prichard, que trouxe o termo “insanidade moral (ou loucura moral) para
a forma de alteração mental na qual o poder de autocontrole estava prejudicado.” (SHINE,
2010, p. 18)
Para Nelson Hungria, o conceito de psicopatia é definido:
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Portadores de psicopatia a escala de transição entre o psiquismo normal e as psicoses


funcionais. Seus portadores são uma mistura de caracteres normais e caracteres
patológicos. São inferiorizados ou degenerados psíquicos. Não se trata propriamente
de doentes, mas de indivíduos cuja constituição é “ab initio”, formada de modo
diverso da que corresponde ao “homo medius. (HUNGRIA, 1942, p. 140)

As pessoas acometidas pela psicopatia, traçam características peculiares quanto ao seu


comportamento e à sua personalidade. Com isso, as condutas criminosas que os psicopatas
exercem vem desafiando as autoridades e tendo um aumento relevante na sociedade. Porque
para eles não há limites para alcançar o seu bel-prazer, inclusive as normas gerais, que são
meros obstáculos, pois o que prevalece é a “lei do mais forte” (SILVA, 2018, p. 96).
A análise que se faz, quanto aos psicopatas, tem entendimento diferenciado podendo encontrar
em correntes como: (1) A clássica, que tem como ponto fundamental debate o levantamento da
ideia que os psicopatas são plenamente capazes de realizar julgamentos morais e direcionar
suas ações, são capazes de controlar os impulsos, porém, não tem o sentimento do que é certo
ou errado, devendo ser responsabilizados por suas condutas ilícitas. (2) Não-clássica, os
psicopatas não são capazes de realizar algum julgamento moral verdadeiro, mas tem a
capacidade e a habilidade de falar e se tornar o que a outra pessoa deseja, por não vivenciar
algumas emoções, não agem de acordo com o que falam, pois todos os seus sentimentos são
falsos e forjados para com o outro. (SINNOT-AMSTRONG, 2008, apud OLIVEIRA, 2011,
p.12)

Para o psiquiatra Vladimir Bernik, apoiando- -se em teorias da psicanálise:

Acredita-se, na linguagem psicanalítica, que o psicopata é uma pessoa que


congenitamente nasceu sem o ‘superego’, ou seja, a parte da personalidade que serve
como limitador e controlador dos impulsos que, livremente e sem qualquer controle,
brotam do seu inconsciente. (BERNIK, 2018, p.10)
Para Ana Beatriz Barbosa Silva (2015, p.56) a psicopatia possui níveis variados de
gravidade: leve, moderado e grave. Os primeiros se dedicam a trapacear, aplicar golpes e
pequenos roubos, mas provavelmente não sujaram as mãos de sangue nem mataram suas
vítimas. Já os últimos botam verdadeiramente a “mão na massa”, com métodos bárbaros e
desumanos, sentindo um prazer enorme com seus atos.
Uma das ferramentas mais usadas pelos especialistas para tentar identificar indivíduos
acometidos pelos transtornos de que vimos falando é o PCL-R (psychopathy checklist-revised)
ou Escala Hare, que se baseia em um questionário elaborado pelo psicólogo canadense Robert
D. Hare, na década de 1970, o objetivo de diagnosticar padrões comportamentais antissociais e
psicopatas.
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Para maior elucidação, o método, da Escala citada ao norte, contém vinte questões, que
são desenvolvidas para avaliar pessoas acusadas de crimes, sendo até hoje aplicado em
processos criminais. A pontuação analisada, vai do número 0, para quem não apresentar
nenhuma característica, até o 24, sendo considerado o grau máximo de psicopatia.
O teste se dá em duas partes: a entrevista com a pessoa em suspeita e uma revisão de
seus registros, checando as informações no histórico familiar, profissional, escolar e criminal.
O profissional que aplica o PCL-R deve avaliar as características do paciente relacionado aos
itens do questionário que compreendem as relações interpessoais do indivíduo, o seu
envolvimento afetivo ou emocional, respostas a outras pessoas ou situações, provas de desvio
social e estilo de vida. (SADALLA, 2017, p. 18)
A Organização Mundial de Saúde, OMS, utiliza o termo Transtorno de Personalidade
Dissocial e o registra no CID-10 (Classificação Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde) sob o código F60.2:

Transtorno de personalidade caracterizado por um desprezo das obrigações sociais,


falta de empatia para com os outros. Há um desvio considerável entre o
comportamento e as normas sociais estabelecidas. O comportamento não é facilmente
modificado pelas experiências adversas, inclusive pelas punições. Existe uma baixa
tolerância à frustração e um baixo limiar de descarga da agressividade, inclusive da
violência. Existe uma tendência a culpar os outros ou a fornecer racionalizações
plausíveis para explicar um comportamento que leva o sujeito a entrar em conflito
com a sociedade. (CID-10 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2003 p. 9-10).

Isto posto, é importante ressaltar que a psicopatia é demonstrada por características e


comportamentos variados de uma pessoa portadora do distúrbio antissocial. Porém, não
significa que quem obtém esses requisitos, necessariamente é um psicopata, assim como, um
indivíduo pode obter o transtorno antissocial e não demonstrar nenhum sinal. Mas é mister,
prestar atenção nas características apontadas pelo psiquiatra Hervey Cleckley:

Atração superficial; boa inteligência; inexistência de delírios ou outros sinais de


pensamento irracional; ausência de nervosismo; ausência de confiabilidade; falta de
veracidade; inexistência de remorso ou vergonha; comportamento antissocial;
julgamento precário; incapacidade de aprender com a experiência; inexistência de
correspondência nas relações interpessoais; egocentrismo patológico; incapacidade de
amar e insuficiência geral das principais ações afetivas; vida sexual impessoal,
corriqueira e pouco integrada; incapacidade de seguir um plano de vida. (HERVEY
M. CLECKLEY, 1941 apud SADALLA, 2017, p. 25- 26)

Essas características só ressaltam o predador social entre a sociedade, na qual o mundo


é apenas um palco para realizarem o seu show recheado de manipulação e enganos. Por isso,
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não é incomum encontrar casos criminais relacionados a essas pessoas, é necessário analisar
como os tribunais estão julgando casos que envolvam psicopatas.

3.2 CASOS CONCRETOS


Em tese, os psicopatas criminosos possuem histórico de infância abarcada por violência
física ou psicológica, maus-tratos e abandono, porém, a inclinação para a delinquência torna-se
mais evidente na vida adulta, quando a criminalidade se solidifica. Alguns dos criminosos mais
famosos da literatura jurídica brasileira é a demonstração de como o ordenamento pátrio ainda
está debilitado para lidar com esses casos.

3.2.1 Pedro Rodrigues Filho – “Pedrinho Matador”


Acreditava ter mais de 100 mortes em seu currículo, porém, a Justiça o condenou por
18 homicídios a mais de 128 anos de prisão. A primeira vez que sentiu vontade de
matar foi aos 13 anos de idade. Segundo ele, só morria em suas mãos “quem merecia”
e baseado nessa argumentação que Pedrinho matou o próprio pai. O pai de Pedrinho
assassinou a sua mãe com 21 facadas, em consequência, Pedrinho matou o pai, preso
na mesma cadeia que ele, com 22 facadas, arrancando um pedaço do seu coração e o
mastigando para selar a vingança. Na prisão, ele foi considerado um dos maiores
matadores já visto. Ficou preso por 42 anos, depois que estava liberdade, tornou-se
comentarista de crimes no YouTube, com seu próprio canal. (CASOY, 2020, p. 1)

3.2.2 Francisco da Costa Rocha - “Chico Picadinho”


Considerando um número de vítimas menor em relação aos outros assassinos em sé-
rie, Chico Picadinho abusou da crueldade e do sadismo enquanto cometia seus cri-
mes nos anos 70 e se tornou o mais conhecido serial killer brasileiro. As duas mulheres
assassinadas por ele foram esquartejadas e partes do corpo foram jogadas no vaso
sanitário de seu apartamento e o restante guardado em uma mala. Francisco da Costa
Rocha está preso na Casa de Custódia de Taubaté, interior de São Paulo, há 42 anos –
a pena máxima no Brasil é de 30 anos. Na cadeia, Chico Picadinho cuida da biblio-
teca e pinta quadros nas horas vagas, como relata Ilana Casoy em seu livro Arquivos
Serial Killers – Made in Brazil, publicado pela DarkSide® Books. Em depoimento,
Chico chegou a afirmar que “sentia um impulso violento e incontrolável de matar suas
vítimas”. (CASOY, 2020, p. 1)

3.2.3 Febrônio Índio do Brasil – “Filho da Luz”

Acreditava que estava nesse mundo para cumprir uma missão, e possuía uma tatuagem
no peito “Eu sou o filho da luz”. Numa dessas detenções, Febrônio, que passara a ler
a Bíblia nos intervalos e durante a noite, teve uma visão na qual uma mulher de lon-
gos cabelos loiros o escolheu como o Filho da Luz, o que lhe trouxe a incumbência
de declarar a todos que Deus não havia morrido. Segundo a visão, ele deveria tatuar-
se e tatuar meninos, ainda que com emprego de força física, com o símbolo D C V X
V I, que significava Deus, Caridade, Virtude, Santidade, Vida, Ímã da vida. A tatua-
gem serviria como talismã para aqueles que a exibissem no corpo.
Posto provisoriamente em liberdade, Febrônio voltou a ser preso em 21 de fevereiro
de 1927, no morro do Corcovado, enquanto dançava, completamente nu e com o
corpo todo pintado de amarelo, na frente de uma criança aterrorizada que estava amar-
rada ao tronco de uma árvore. Como ouviu de testemunhas que Febrônio, mais cedo,
havia sido flagrado cozinhando, na casa em que era inquilino, uma cabeça humana .
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Na ocasião, ele “afirmou que havia retirado a cabeça de um cemitério nas proximida-
des e estava fervendo o crânio para retirar pedaços do couro cabeludo e mau cheiro”.
Em 1928, Febrônio foi levado diante do júri, e em sua defesa, o seu advogado susten-
tou sua inimputabilidade penal em face de sua manifesta loucura, dados esses que fo-
ram falsificados.
No dia 8 de fevereiro de 1935, Febrônio, aproveitando a distração da guarda provo-
cada pela chegada dos funcionários do turno da manhã, escalou o muro do Manicô-
mio Judiciário com uma corda feita de lençóis atados cuja extremidade possuía um
gancho fabricado com alças de balde. Sua fuga, durou até o dia seguinte, pois foi de-
latado por quem o hospedou. Febrônio, encontrado totalmente despido, foi recondu-
zido ao Manicômio Judiciário, onde permaneceu até sua morte, em 27 de
agosto de 1984, aos 89 anos de idade, como consequência de enfisema pulmonar.
(CASOY, 2020, p. 1)
Entende-se a vasta pesquisa entorno da psicopatia e as complexidades relacionada a ela,
nesse sentido, o ordenamento jurídico Brasileiro ainda não está preparado para analisar e julgar
casos envolvendo esse tipo de transtorno. Por isso, como visto através dos casos concretos,
além da atenção midiática que recebem, eles são julgados como criminosos comuns. Através
desse prisma, o presente artigo tem como objetivo sanar a dúvida de como os psicopatas vão
ser julgados se caso a máquina judiciária seja ativada para tratar da legítima defesa nessas con-
dições específicas, além de trazer o instituto das discriminantes putativas e como elas se apre-
sentam nesse contexto.

4 LEGÍTIMA DEFESA PUTATIVA


A preocupação do Código Penal com a proteção a bens jurídicos é manifesta, a ponto
de descrever as diversas possibilidades existentes de praticar um fato ilícito. O tipo penal é
delimitado no conteúdo do Código, bem como, há a previsão legal das causas que excluem a
antijuridicidade do fato. Desse modo, há quatro "justificativas" que afastam a antijuridicidade
e estão presentes no artigo 234: estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento de
dever legal e exercício regular de direito. Sendo assim, comprovado os meios, não há como
classificar a ilicitude, requisito para a enquadrar o crime, desses atos que são amparados pelo
Código Penal, pois o cenário geral legitima a sua realização. O direito brasileiro, de forma
majoritária, adota a teoria tripartite que classifica o crime a partir de três elementos cumulativos,
são:
Fato típico é o comportamento humano (positivo ou negativo) que provoca um
resultado (em regra) e é previsto na lei penal como infração [...]; Antijuridicidade é
a relação de contrariedade entre o fato típico e o ordenamento jurídico [...] e por fim,

4
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - em estado de necessidade; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - em legítima defesa; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (Vide ADPF 779)
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. (Incluído pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
12

Culpabilidade é a reprovação da ordem jurídica em face de estar ligado o homem a


um fato típico e antijurídico[...] (JESUS; ESTEFAM, 2020, p. 218 - 219)

Dessa forma, para a prática do crime, alguns requisitos precisam ser caracterizados, fato
que não ocorre em agentes que atuam sob a legítima defesa, exercício regular de direito, estado
de necessidade ou estrito cumprimento de dever legal. Portanto, caso o autor utilize qualquer
das “justificativas” citadas acima, esse está afastando a antijuridicidade dos seus atos, logo, não
há crime.
Especificamente no artigo 34 do Código Penal, na qual entende: “que quem, de maneira
proporcional, repele injusta agressão, atual ou iminente, do seu direito ou de terceiros, não
estará cometendo um crime”. Esse dispositivo está se referindo a legítima defesa e de modo
taxativo discorre sobre as suas possibilidades de aplicação. Sendo assim, para classificar como
tal, é preciso:
(1) haver injusta agressão;
(2) a defesa tem de decorrer de uma agressão que aconteceu ou que está para acontecer
(atual ou iminente);
(3) a agressão ocorre contra direito próprio ou para defender direito de terceiro;
(4) a oposição é realizada por meios necessários;
(5) não deve extrapolar os limites da própria razão e meios, ou seja, de forma moderada.
Entretanto, há a possibilidade de alguém incidir em um erro, porque é subjetiva a forma
que um indivíduo pode lidar com uma determinada situação. Nesse sentido é possível que,
através do erro, um indivíduo acredite que está agindo em legítima defesa, quando na verdade
não está.
O direito penal brasileiro se refere às descriminantes putativas, cujo significado é o
seguinte: o termo “em latim, putativus significa algo que parece ser o que não é. Sua aparência
é enganosa. [...] pertence somente à imaginação. Em português, a palavra “putativo” manteve
praticamente o mesmo sentido.” (DICIONÁRIO ETIMOLÓGICO, 2021), em outras palavras,
é uma situação imaginária e se passa apenas na imaginação do agente. As descriminantes
putativas estão dispostas no artigo 20, §1º, ipsis litteris:
É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe
situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena
quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo. (BRASIL, 1948,
p. 16)
Necessário se faz ressaltar a parte em que o artigo afirma que o ordenamento jurídico só
admite a modalidade putativa, se o erro for plenamente justificável, ou seja, na situação que em
agente se encontra tem que ser razoável a dúvida ou desconfiança. Consoante Damásio de Jesus,
vejamos o seguinte exemplo do que seria a legítima defesa putativa em um caso concreto:
13

Suponha-se o caso de o agente acreditar que se encontra em face de agressão injusta


(na realidade, inexistente), vindo a matar o pretenso agressor. Ele supõe uma situação
de fato (suposição da agressão injusta) que, se existisse (se houvesse realmente a
agressão), tornaria a ação legítima (haveria legítima defesa real, excludente da
antijuridicidade). Como não havia agressão injusta, não há legítima defesa real, que
exclui a ilicitude. O fato por ele cometido é ilícito. Mas, como laborou em erro de tipo
essencial (invencível), não há dolo ou culpa. (JESUS; ESTEFAM, 2020, p. 411)

Destarte, entende-se que a legítima defesa putativa se refere ao erro inculpável e


inevitável (artigo 21, CP), posto que não haveria possibilidades de um homem médio evitar o
equívoco. Portanto, o ordenamento jurídico tenta se adaptar a legítima defesa em uma situação
que não se enquadraria se dependesse do tipo penal previsto no artigo 25 do Decreto-lei nº
2.848/40, no qual não há injusta agressão por parte do “agressor”, mas essa situação existe
manifestamente na imaginação da “vítima”.
Destarte, é mister entender os desdobramentos relacionados com a legítima defesa
putativa, foi analisado quanto ao indivíduo imputável de forma geral, mas também quanto a sai
aplicação em indivíduos psicopatas. Para isso, os termos imputabilidade, semi-imputabilidade
e inimputabilidade serão abordados para enriquecer a compreensão do assunto em questão.

5 IMPUTABILIDADE, SEMI-IMPUTABILIDADE E INIMPUTABILIDADE


A prima facie é imprescindível enfatizar quanto à imputabilidade, semi-imputabilidade
ou inimputabilidade do psicopata, levando em consideração que a culpabilidade é um dos
elementos caracterizadores da conduta delitiva, bem como, de pessoas que são inimputáveis ou
semi-imputáveis ao direito brasileiro e, assim, versar sobre o comportamento criminoso de
pessoas com psicopatia.

5.1 IMPUTABILIDADE
A definição atribuída para a imputabilidade disposta no livro de direito Penal (parte
geral) de André Stefam é:
Trata-se da capacidade mental de compreender o caráter ilícito do fato (vale dizer, de
que o comportamento é reprovado pela ordem jurídica) e de determinar-se de acordo
com esse entendimento (ou seja, de conter-se), conforme se extrai do art. 26, caput,
interpretado a contrario sensu. Em outras palavras, consiste no conjunto de
condições de maturidade e sanidade mental, a ponto de permitir ao sujeito a
capacidade de compreensão e de autodeterminação (STEFAM, 2021, p. 400)

Imputar vem do latim IMPUTABILIS, de IMPUTARE, que significa “atribuir ato ou


qualidade negativos a uma pessoa”, de IM, “em”, mais PUTARE, “pensar, calcular, deduzir”
(ORIGEM DA PALAVRA, 2013). No direito penal, um sujeito imputável apresenta
determinadas condições pessoais, que o capacitam de assimilar um comportamento punível, são
14

essas: (1) higidez biopsíquica (boas condições biológicas, psíquicas e psicológica) e (2)
maturidade (é o apogeu do estado de desenvolvimento humano, significa maturidade
comportamental e também mental). De maneira oposta ao conceito de imputável, encontra-se
o artigo 26, CP cujo agente do fato típico seja acometido por doença mental ou desenvolvimento
mental incompleto ou retardado, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou
de determinar-se, presente essas características, trata-se de inimputabilidade.
Consequentemente, de modo diverso, imputabilidade refere-se a indivíduo mentalmente
saudável e bem desenvolvido, que pode compreender a natureza ilegal do seu comportamento.

5.2 SEMI-IMPUTÁVEL
Nesse caso, diferenciando da imputabilidade, este apresenta uma redução na capacidade
de entendimento do delito. André Estefam, se refere a esse termo como uma criação
equivocada, já que não é possível depreender o meio termo da imputabilidade, ipsis litteris:
Deve-se destacar que a expressão “semi-imputável” se mostra dogmaticamente
equivocada, embora de uso corrente. Isto porque a imputabilidade não tem meio-
termo: ou o agente é imputável, porque compreendeu bem a ilicitude do ato e teve
plenas condições de se autocontrolar, ou não. Aquele que tem diminuída sua
capacidade de compreensão é imputável, justamente porque tinha tal condição
(embora em grau menor). Não é correto, portanto, denominá-lo “semi-imputável”.
Tanto é imputável o agente nesse caso que nossa lei comina-lhe uma pena (reduzida).
A inflição de uma pena, ainda que menor, revela inequivocamente a presença da
imputabilidade, fator essencial para se constatar a culpabilidade do agente (lembre-se
que sem imputabilidade não há culpabilidade e, sem esta, não há pena...). (ESTEFAM,
2021, p. 405)

Sendo assim, em tese, sua classificação iguala a imputabilidade, como dito pelo autor,
no entanto, no uso comum, a semi- imputabilidade se apresenta como um delito de pena
reduzida. Evidencia-se em decorrência de perturbação da saúde mental, por desenvolvimento
mental incompleto ou retardado, e teve sua capacidade de entendimento e autodeterminação
diminuída, ou em decorrência de embriaguez incompleta, proveniente de caso fortuito ou força
maior acusado será considerado semi-imputável, ficando sujeito a uma pena diminuída (de um
a dois terços). (ESTEFAM, 2021)

5.3 INIMPUTÁVEL
A máxima obtida pela Constituição Federal, presente no artigo 5º trata-se de: ''todos são
iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza''. Mas também há uma compreensão
inerente a esse entendimento que afirma: “tratar os desiguais na medida de suas desigualdades”
e, devido a isso, o direito penal introduziu algumas exceções atinentes a esse fato, refere-se a
figura do sujeito inimputável.
15

São considerados inimputáveis, segundo o ordenamento jurídico, (1) os menores de 18


anos (artigo 27, CP5); (2) embriagues completa involuntária (artigo 28, §1º, CP6); (3)
portadores de doença mental, inteiramente incapazes de entender o ato ilícito (artigo26, CP7).
As duas últimas hipóteses especificam o estado de compreensão do indivíduo, no sentido serem
definitivamente incapazes de entenderem seus atos.
A contrario sensu da imputabilidade, neste, o sujeito não apresenta higidez biopsíquica
(corpo e mente em boas condições) e maturidade. Quanto a menoridade do indivíduo, o código
penal entende que os efeitos do crime serão analisados de acordo com o ECA (LEI Nº 8.069,
DE 13 DE JULHO DE 1990), independente se o menor de idade tiver aptidão para entender a
ilicitude do ato. No entanto, quanto a doença mental, Nachara em seu livro Imputabilidade
Penal e psicopatia entende que nem sempre essa condição excluirá a imputabilidade, pois
depende do momento, se caso essa pessoa apresentar momentos de lucidez durante o ato ilícito,
este não será julgado como inimputável.
Dessa forma, a existência por si só de doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado não exclui a imputabilidade do agente. A atuação de tais
fatores devem ser necessariamente conjunta (O mesmo preceito aplica-se à hipótese
de semi-imputabilidade). Assim, a imputabilidade somente será afastada se, no
momento da conduta humana (comissiva ou omissiva0, o agente, por doença mental
ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era inteiramente incapaz de
conhecer o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com tal entendimento.
(SADALLA, 2017, p. 114)
O legislador penal considerou que há pessoas que apresenta incapacidade de
discernimento do ato ilícito, por esse motivo, incluir os artigos que preveem a inimputabilidade.
Compreendendo os termos norte citados, analisar-se-á as características da legítima
defesa putativa, a psicopatia, considerando tanto ao que foi trabalhado no presente artigo quanto
a análise teórica de acordo com o Direito Penal.

6. LEGÍTIMA DEFESA PUTATIVA E A PSICOPATIA


A inimputabilidade e imputabilidade na legítima defesa se apresentam da seguinte
forma:
(1) um homem médio (inteligência mediana e com comportamento comum), clássica
definição de imputável, pode agir em legítima defesa putativa (ficta ou imaginária) se por erro

5
Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na
legislação especial. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
6
Art. 28 [...] § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou
força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.
7
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
16

realmente justificável se defende de “agressão injusta” e sendo assim, seu ato será dotado de
licitude e inculpabilidade.
(2) um indivíduo diagnosticado com transtorno mental, um inimputável, na qual, devido
a sua situação, este se coloca como vítima de algo que não existe, seja uma “perseguição”
advinda de algum surto, paranoia, alucinação ou perturbação. Apesar de não ser considerado
crime, suas ações não são desprovidas de ilicitude. Essa situação é complexa e para Greco, a
melhor conduta a ser seguida é essa:
Embora possa o agredido repelir a agressão injusta, como se trata de inimputáveis,
deve escolher a forma de repulsa que cause o menor dano possível, ou mesmo, como
dizia Hungria, em determinadas situações, desconsiderar a agressão, pois neste caso
não estaria se comportando como um pusilânime, um covarde. (GRECO, 2015, p.
410)

O caput do artigo 26 do Código Penal, dispõe que, no momento da ação, o distúrbio


psíquico é um fator desencadeante para tornar o agente inteiramente inimputável, isso decorre
da incapacidade de entender o caráter ilícito do fato ou da sua capacidade de autodeterminação,
de acordo com esse entendimento. Analisando por esse ângulo e considerando a tese formada
no presente artigo, o indivíduo, em razão do transtorno antissocial, é apático com relação aos
sentimentos alheios e também é detentor de uma capacidade intelectual aguçada, pois conhece
as normas gerais e age em consonância ao seus benefício pessoais, através da dissimulação e
manipulação, esse apresenta, na maioria das vezes, um convívio exemplar para a sociedade que
não geraria suspeitas para eventuais transgressões.
Evidencia-se que a figura do psicopata não se trata de um transtorno mental, porque
esse distúrbio de personalidade se identifica através de condutas sociais aversivas e reprováveis
pelo ordenamento jurídico. Consoante Trindade, os psicopatas não são dotados de
incapacidades, pelo contrário, há muito astúcia no seu modo predatório de viver, na qual estão
constantemente pensando na melhor forma de ser superior aos outros, seja enganando, matando
ou cometendo atos de completa desonra.
A psicopatia não é um transtorno mental como a esquizofrenia ou a depressão, mas
um transtorno de personalidade e devido a forma devastadora de comportamento
destes indivíduos perante a sociedade, nos levam a crer que os Psicopatas são os mais
severos predadores da espécie humana, não obstante, constroem uma verdadeira
carreira de crimes que se iniciam na infância até atingirem a vida adulta,
desenvolvendo maior grau de perversidade a cada crime cometido. (TRINDADE,
2010, p. 129)

Entendendo que o psicopata possui discernimento para compreender as leis e normas


vigentes, isso exclui a primeira parte das condições dadas pelo Código Penal, no artigo 26º,
para a classificação de um inimputável. Então, resta analisar a segunda parte do caput que se
17

refere a autodeterminação de acordo com o caráter ilícito do Direito. Nessa parte, o legislador
está se referindo a incapacidade do sujeito ativo para se conter no momento da ação ou omissão
delituosa, são impulsos inevitáveis que impedem a racionalidade dos atos do indivíduo. É
inconcebível dialogar o contexto da psicopatia com a incapacidade de autodeterminar-se,
porque esses possuem facilidade em arquitetar planos, sua conduta adquire forma depois de
muito planejamento, ou seja, são pessoas completamente racionais e apesar da forte
impulsividade característica (para obter satisfação momentânea), considerando o momento, é
possível frear seus impulsos (SADALLA, 2017, p. 160- 161). Dessa forma, não é possível
considerar os psicopatas inimputáveis
Sendo assim, para o Direito, estes indivíduos serão vistos, analisados e julgados como
criminosos comuns. Afinal, não é possível afirmar que o psicopata sofre com o requisito
biopsicológico da inimputabilidade, descrito no artigo 26º CP, cujo termo advém da soma do
biológico com o psicológico, o primeiro quanto ao caráter de possuir a doença, ser doente
mental ou retardado, e o segundo consiste no fato do agente entender o caráter ilícito e/ou de se
autodeterminar, referindo-se ao psicopata, como visto acima, este não se enquadra em nenhum
das condições para a inimputabilidade
Em relação a legítima defesa putativa ocorre quando alguém imagina estar em legítima
defesa, repelindo aquilo que ele acredita ser uma agressão injusta e atual. Trata-se de
discriminante putativa: há erro quanto à existência de uma justificante. Analisando a figura do
psicopata nesse contexto, esse ao se deparar com a legítima defesa ficta, erro no qual qualquer
pessoa, na mesma situação, e, diante das mesmas circunstâncias, está sujeito a exercer. A
configuração do instituto da Legítima Defesa putativa, se reproduzida nos termos da lei, afasta
a culpabilidade (um dos três requisitos para a classificação de um crime), não a ilicitude do ato,
todavia na prática, o julgamento ocorrerá de forma que considera a descriminante putativa e
considere a justifica apresentada de acordo com o erro, independente se o indivíduo em questão
tiver diagnóstico de psicopata.
Portanto, o indivíduo que apresenta o transtorno de personalidade da psicopatia poderá
recair em erro, plenamente justificável, e assim, se utilizar da legítima defesa putativa, porém
não é intrínseco. Sendo assim, não poderá utilizar da sua condição para obrigatoriamente obter
julgamento favorável (ato ilícito) através do uso da legítima defesa putativa por não se tratar de
indivíduo inimputável, na prática, isso significa que o seu julgamento será analisado através do
caso concreto, se realmente houve erro escusável.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
18

O presente estudo, demonstrou a evolução da psicologia como ciência e por ainda ser
um mistério para os tribunais, pois mesmo com o seu avanço ainda não é utilizada a com a
frequência necessária nos julgamentos. Haja vista que, na legislação brasileira quando um
psicopata é diagnosticado, por receio, medo e o desconhecimento aprofundado sobre o referido
assunto, o indivíduo acometido por transtorno antissocial e que venha a delinquir, é colocado
no sistema penitenciário como um criminoso comum, e após o cumprimento da pena, a forma
para introduzi-lo na sociedade novamente é bem mais difícil, pois o mesmo tende a ser banido
ou afastado do convívio social.
Primeiramente, se faz mister obter o conhecimento sobre esse universo da psicologia e
como os operadores do direito devem realizar uma integração entre os dois mundos, analisando
os transtornos existente, o diagnóstico mais apropriado para a identificação do indivíduo na
escala da psicopatia que é mensurado pela tabela HARE, e como deverá ser aplicabilidade da
sanção penal as pessoas que são acometidas. Haja vista que, algumas das características do
psicopata é, incapacidade de empatia, falta de sentimento de culpa, falta de remorso, sensação
de prazer no sofrimento dos outros, poder de manipulação entre outros.
Não obstante, quando se fala na aplicação penal do psicopata, ainda se obtém
divergências, se ele é imputável, semi-imputável ou inimputável. Contudo, a autodeterminação,
é um dos princípios fundamentais dos direitos humanos, compreendendo a
autorresponsabilidade, a autonomia, autorregulação e o livre-arbítrio do ser humano. Conceito
esse que abarca a impossibilidade do enquadramento do psicopata como um inimputável. De
maneira que, os indivíduos que são considerados inimputáveis por doença mental, são aqueles
que conforme o Código Penal Brasileiro, estão isentos de pena ou competem a redução por
doença ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, e sendo, ao tempo da ação ou da
omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato. O psicopata é vislumbrado
por sua insensibilidade e o prazer particular que obtém em realizar seus crimes, somado a
incapacidade de empatia, culpa ou remorso e uma inteligência acima da média, derivada de uma
pequena quantidade de conexões entre o córtex pré-frontal ventromedial do cérebro,
responsável pelos sentimentos. Ao cometer um ato criminoso, está consciente das suas atitudes,
sabe muito bem o que tá fazendo, porém , não é capaz de obter ou expressar qualquer sentimento
verdadeiro, pelo contrário, por agirem totalmente com a razão, conseguem utilizar sua
inteligência de um jeito perspicaz, manipulando e transgredindo. Na seara jurídica, percebe-se
a existência de uma superficialidade na norma e jurisprudencial sobre o tema, não podendo
mais ser aceito atualmente, pois estão sendo evidenciados cada vez mais casos sobre o referido
tema, de grau leve até os mais graves. Obviamente que, os que mais chamam atenção da mídia
19

são os crimes de assassinatos em séries, porém, os de grau mais leve estão aí no dia a dia das
pessoas e na grande maioria das vezes passam despercebidos como um criminoso comum.
Não obstante, está temática buscou a responsabilidade penal do psicopata em face ao
ordenamento jurídico penal brasileiro, ressaltando a importância da necessidade da integração
entre o Direito, a psicologia e a psiquiatria, estudando a personalidade e a mente do indivíduo
que possui o transtorno antissocial, para que seja realizado uma aplicação da sanção penal
adequada e definir o risco social do retorno do psicopata após o cumprimento da pena. Atinente,
o individuo que possui o transtorno antissocial da psicopatia, é imputável ou semi-imputável?
Entretanto, a definição imputabilidade ou semi-imputabilidade vai depender da análise de cada
caso com o alicerce de um laudo psiquiátrico, e por não se tratar de um doente mental e nem
criminosos comuns, é trazido à tona um problema quanto as medidas de segurança aplicadas,
de forma que faz mister uma nova política criminal para se trará do referido tema.
Em um segundo momento, o presente estudo explanou sobre a Legitima Defesa Putativa
e seus institutos, suas teorias e a sua aplicação, demonstrando que o agente em uma situação
fática pode cair no erro achando que está diante de uma realidade que na verdade está somente
em sua imaginação, ou seja, não é real. Acreditando e constrangido pela realidade que criou em
sua mente, age na defesa de uma agressão fantasiosa. Outro ponto importante é, além da ilusão
criada pelo agente, é necessário que a suposta agressão seja iminente ou atual e que ameace um
direito. Contudo, ao que se refere a legitima defesa é, uma forma instintiva e natural levando a
pessoa que foi agredida a repelir a agressão sofrida. O agredido encontra-se diante de uma
situação atual ou iminente de injusta agressão. Ademais, para que seja configurado, é preciso
que todos os requisitos previstos no artigo 25 do Código Penal Brasileiro, juntamente com os
requisitos subjetivos, estejam presentes.
Ulteriormente, o artigo discorre sua análise através da legítima defesa putativa e a
psicopatia em consonância ao que foi elucidado de ambos. Entende-se que os tribunais
brasileiros consideram o psicopata, no decurso da classificação do crime, como imputáveis,
sendo julgados como tal. Dessa forma, se mediante erro inteiramente justificável, o psicopata
agir sob legítima defesa putativa sua conduta será livre de ilicitude. Não obstante, não é possível
utilizar da condição de psicopata para aplicar o dispositivo da legítima defesa aplicando a
descriminante putativa, como acontece com os inimputáveis. Portanto, entende-se que a
imputabilidade do psicopata lhe dar plenas condições de higidez biopsíquica para ser julgado,
se este estiver desprovido de um forte fundamento.
20

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IN OLIVEIRA, Alexandra Carvalho Lopes de; STRUCHINER, Noel. Análise da figura do
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ZATTA, Melissa. A capacidade penal dos agentes diagnosticados com psicopatia: estudo
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80 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Direito). Criciúma-SC: Universidade do Extremo Sul
Catarinense, 2014.
22

AGRADECIMENTOS

Escrever um artigo, na maioria das vezes, nos proporciona solidão, mas que jamais seria
possível sem as pessoas mais importantes ao nosso redor, nos apoiando e nos incentivando. A
trajetória da vida na universidade apresenta vários obstáculos, e que só conseguimos passar por
eles porque temos grandes pessoas ao nosso lado. Esses 05 (cinco) anos na Universidade de
Direito, foi a realização de um sonho, um processo de amadurecimento, com vários
aprendizados, desafios, momentos alegres e momentos tristes, de risos e choros e que entrará
para a história da minha vida com um grande orgulho. Quero aqui, agradecer primeiramente e
a acima de tudo a Deus, que esteve e está o tempo todo cuidando de cada passo e cada decisão,
quando queria desistir Ele não deixava e renovava minhas forças; a minha amada família, pois
é o meu maior suporte, minha motivação, meu amor incondicional; Meus filhos, Luan Kenjy
Barbosa Nakayma e Lucas Ichiro Barbosa Nakayma, pois neles encontrei e encontro forças para
continuar a minha caminhada, e todo o meu grande amor para eles; ao meu pai Francisco
Barbosa e a minha mãe Maria Brasil Barbosa, por toda paciência, conselhos, apoio, participação
ativa, por sempre acreditarem em mim e por todo o amor; ao meu irmão Newton Martins
Barbosa Neto e sua linda e amada família; a minha irmã Fabíola Brasil Barbosa Rodrigues e
sua linfa e amada família, que sempre estiveram lá, com todo carinho, apoio, dedicação e amor.
A minha amiga Tereza Victória E Souza Holanda, que teve toda paciência comigo e me ensinou
tantas coisas durante essa trajetória, pois não foi uma caminhada fácil, mas ao dela conseguimos
encontrar um equilíbrio para enfrentar e vencer todos os desafios. Agradeço ao professor
Klelton Mamed por aceitar o convite de me orientar e por ter colaborado com este trabalho de
maneira tão atenciosa. Agradeço ao Centro Universitário do Estado do Pará - CESUPA, em
especial aos queridos mestres e funcionários, por me proporcionar essa experiência ímpar
nesses cinco anos. A todos vocês dedico essa conquista com o mais profundo amor e gratidão.

Fabrícia Brasil Barbosa


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AGRADECIMENTOS

Saber que nascemos de uma forma rara, nos dá mais responsabilidades pela vida que
nos foi concedida. E eu sempre ouvi isso da minha família, de como abrilhantei a vida de todos
com a minha chegada tão inesperada. Talvez por isso na minha vida as palavras chaves são três:
fé, amor e gratidão. E nesse momento agradeço, tenho fé e sou grata a Deus pelo milagre da
minha vida. O Senhor meu Deus me concedeu uma família maravilhosa, um verdadeiro
exemplo de amor romântico, que me deixa envaidecida de ter vindo desse ninho tão carinhoso.
Vindo de uma família estruturada no amor e na fé, também agradeço com todo meu ser a meus
pais, Terezinha e Sandro, que nunca perderam a fé e sempre estiveram ao meu lado apoiando
em tudo que fosse necessário para que a minha caminhada até aqui fosse doce, pois a luta pelos
meus sonhos apenas está começando. O encantamento pelo direito sempre foi presente no meu
lar, meus pais desejavam que eu segue a carreira deles pela paixão que cada um sente pelo seu
labor, e assim Deus permitiu que eu desse um passo à frente na minha vida e me deslumbrasse
com o Direito e as muitas possibilidades de sucesso que terei daqui para frente. Agradeço e sou
grata aos meus amigos, dentre eles Fabrícia e Evandro, pela cumplicidade, parceria e amizade,
digo além, pelo amor a mim dispensado nessa nova etapa que venho seguindo, tudo ficou mais
fácil com a presença deles. Muita coisa vivi nos últimos anos dentro da minha amada faculdade,
CESUPA, a própria passagem da adolescência para ser adulta foi impactante, mas meu
desabrochar foi sereno como sempre foi a minha vida. Diante de mim, vi ouro brilhar e carvão
surgir. Tive que fazer escolhas e hoje olhando para trás me orgulho das opções que fiz.
Diariamente estou aqui firme no meu propósito e pronta para os desafios que surgirão, sempre
agradecendo a Deus, meus pais, minha irmã, Thereza Manuela, por tornar muitos momentos da
minha vida encantadora só por sua existência, meu tio/padrinho, Antônio, que sonha, aconselha
e torce por minhas vitórias e me presenteia com belos livros, e meus amigos por tudo que tenho
e sou. Que Deus me surpreenda com uma vida cheia de sucesso, longevidade, saúde e
felicidades.

Tereza Victória e Souza Holanda

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