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Psicologia Jurídica e Psicopatia aplicados no Direito Penal

Ana Beatriz Cobra Guimarães 1


Ana Paula Bastos dos Santos2
Vitor Jorge Alves Silva 3
Yanka Christine Marcondes Pires4

Resumo

O presente trabalho, que tem como título "Psicologia Jurídica e Psicopatia


aplicados no Direito Penal", busca dissertar sobre o que é a Psicologia Jurídica,
mostrar como é o trabalho de um psicólogo no âmbito judiciário, caracterizar um
psicopata e por fim analisar o caso concreto de homicídio cometido em outubro de
2002 pela estudante de Direito Suzane Von Richthofen, que apresentou as
características típicas e foi analisada e diagnosticada como psicopata. Além disso,
analisamos o processo pelo qual um psicopata consuma seus crimes e como devem
ser punidos e condenados, levando em conta os seus transtornos mentais e
comportamentais que devem ser levados em conta para a aplicação da sentença.
Conclui-se, portanto, através de todas as pesquisas realizadas, que os agentes que
possuem transtornos e distúrbios mentais devem ser punidos de forma diferenciada,
pois não se encaixam nos padrões ordinários de comportamento humano.

Palavras chaves: Psicologia Jurídica. Psicopatia. Direito Penal. Psicopatologia.


Suzane Louise Von Richthofen.

Introdução

1
Estudante de Direito do UNISAL – Centro Universitário Salesiano de Lorena, email para contato:
ana.beatriz.guima@hotmail.com
2
Estudante de Direito do UNISAL – Centro Universitário Salesiano de Lorena, email para contato:
anapbastos@live.com
3
Estudante de Direito do UNISAL – Centro Universitário Salesiano de Lorena, email para contato:
vitoorjorge@hotmail.com
4
Estudante de Direito do UNISAL – Centro Universitário Salesiano de Lorena, email para contato:
yanka_pires@hotmail.com

1
Muito se discute sobre psicologia jurídica e psicopatia. Afinal, estes são temas
presentes no cotidiano, pois a figura do psicopata se tornou extremamente popular
devido aos meios de comunicação que produzem filmes, livros, series de televisão,
entre outras formas de entretenimento com esse tema. Também é um assunto que
fascina a maioria das pessoas devido ao comportamento dessas pessoas que
muitas vezes se mostram indiferentes aos atos cometidos por eles mesmos, muitas
vezes com brutal violência, e conseguem manipular tudo e todos ao seu redor para
que as coisas que se realizem conforme planejado.

Com o intuito de entender essas mentes criminosas e buscar uma punição


ideal para elas, buscamos pesquisar como são estudadas essas pessoas que tem
esse distúrbio mental e outros tipos de doença que levam a uma percepção
distorcida da realidade para então analisar as formas de punição que lhes são
aplicadas de acordo com a legislação brasileira e o Código Penal vigente. Afinal,
entender as razões que levam o indivíduo a praticar delitos traçando uma detalhada
análise de sua personalidade e de seu convívio em sociedade é fundamental para a
aplicação da Lei Penal. É desta forma que os aplicadores do Direito poderão nortear
suas decisões, juntando a tais análises, provas materiais para que se possa dar
condenação ou absolver alguém e, até mesmo, definir a que regime deve o agente
de determinado crime ser submetido.

É indiscutível a importância da conexão entre o Direito e a Psicologia, já que


as duas ciências estão intimamente ligadas tendo como objetivo principal trazer a
harmonia na sociedade, não só afastando dela pessoas que poderiam prejudicá-la,
como também dando a essas pessoas tratamento devido de seu distúrbio
psicológico.

1.0. O que é a psicologia jurídica?

A psicologia jurídica é a área da psicologia que se funde com o Direito. Nota-


se um crescimento elevado na área, devido ao maior interesse de estudantes,
estimulados por uma popularização de filmes, programas de televisão e livros, nos
quais são mostrados personagens que resolvem crimes e encontram criminosos
2
usando a psicologia. Entretanto, esses retratos são certamente exagerados, não
mostrando o real trabalho realizado por estes profissionais. Sendo assim, os
psicólogos jurídicos desempenham um papel fundamental no sistema judiciário.5

Ao se tratar da relação entre o Direito e a Psicologia, existem duas


denominações utilizadas: psicologia forense e psicologia jurídica, sendo esta a mais
adotada no Brasil. Afinal, o adjetivo jurídico apresenta uma maior abrangência do
que o termo forense. Segundo o autor do Dicionário Prático de Língua Portuguesa, o
termo forense é relativo ao foro judicial, aos tribunais. Já a palavra jurídico é ligada
ao Direito, à sua ciência e aos seus preceitos. Assim, a palavra jurídica torna-se
mais abrangente por referir-se aos procedimentos ocorridos nos tribunais, bem como
àqueles que são fruto da decisão judicial ou ainda àqueles que são de interesse do
jurídico ou do Direito.

Psicologia Jurídica é uma área especifica da Psicologia e, por isso, o estudo


desenvolvido nessa área deve ter uma perspectiva psicológica. O objeto de estudo
da Psicologia Jurídica são os comportamentos complexos que ocorrem ou podem vir
a ocorrer, devendo ser de interesse do jurídico que englobam as atividades
realizadas por psicólogos nos tribunais e fora dele. Acredita-se que ela vai além do
estudo do comportamento mas também é o estudo das consequências das ações
jurídicas sobre o indivíduo. Segundo Foucault (1974), tanto as práticas jurídicas
quanto as judiciárias são as mais importantes na determinação de comportamento,
pois por meio delas é possível estabelecer formas de relações entre os indivíduos.
Tais práticas, submissas ao Estado, passam a interferir e a determinar as relações
humanas e, consequentemente, determinam o comportamento dos indivíduos.

Portanto, para maior entendimento de Psicologia há de delimitar a ação da


Psicologia como Jurídica, pois estudar comportamentos é umas das tarefas da
Psicologia. Já por Jurídico entende-se as atividades realizadas por psicólogos nos
tribunais e fora dele. 6

5
DE SOUZA, Felipe. O que é psicologia forense? (autor e professor). Disponível em:
<https://www.psicologiamsn.com/2012/07/o-que-e-psicologia-forense.html> . Acesso em: 19 nov.
2014
6
FRANÇA, Fátima. Reflexões sobre psicologia jurídica e seu panorama no Brasil. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1516-36872004000100006&script=sci_arttext#*a>.
Acesso em: 19 nov. 2014
3
1.1. O trabalho do psicólogo no âmbito judiciário

O exercício profissional de um psicólogo no âmbito jurídico, resume-se


predominantemente em realização de laudos, pareces e relatórios. Afinal, os
psicólogos, assim como outros profissionais que exercem suas funções nas
instituições carcerárias, dificilmente tem acesso ao funcionamento interno das
prisões e acabam por desconhecer os reais problemas do seu local de trabalho.

No que diz respeito aos exames, Rauter diz que a partir de 1984, com a
consagração do principio de individualidade das penas, “ampliam as oportunidades
em que um condenado será tornado alvo de uma avaliação técnica” e crescem em
importância “os procedimentos que visam diagnosticar, analisar ou estudar a
personalidade e a história de vida dos condenados”, com o “objetivo de adequar o
tratamento penitenciário às características e necessidades de cada preso” ou de
“prever futuros comportamentos delinquências”. 7

Os autores Júlio César Fontana-Rosa e Cláudio Cohen dizem que:

A partir da Revolução Francesa, concretiza-se a corrente penalista liberal, e


a pena deixa de ter um caráter unicamente de castigo. Deixa de ser a Lei de
Talião: ‘Olho por olho, dente por dente’. Ela passa a ter uma visão mais
humanística, buscando construir não apenas uma medida que proteja a
sociedade das ações nocivas dos infratores. Busca, também, proteger
esses últimos da reação que a sociedade pode ter diante desses
comportamentos. (...) Com o auxilio de novos conhecimentos sobre os
transtornos mentais, a Justiça passa a entender que os indivíduos
portadores de psicopatologias, que tenham infringido a lei, devem ser alvo
de atenção especializada, uma condição protetora proporcionada pelo
8
Estado e um tratamento, não de reclusão simplesmente.

Um exemplo é a Lei de Execução Penal (LEP) que segundo Salo de


Carvalho, institui a avaliação criminológica como elemento daquilo que a doutrina
penal denomina “individualização administrativa da pena”. Após dada a sanção pelo
magistrado, cabe aos agentes penitenciários classificar os condenados para
determinar o programa “ressocializador” – os condenados serão classificados,

7
GONÇALVES, Hebe Signorini; BRANDÃO, Eduardo Ponte. Psicologia Jurídica no Brasil. 3ªed.
2011. São Paulo. Nau Editora. 198p.
8
COHEN, Claudio. FERRAZ, Flávio Carvalho. SEGRE, Marco. (organizadores). Saúde Mental, Crime
e Justiça. São Paulo: Edusp, 2006. 109p.
4
segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da
execução penal (art. 5°, LEP).

Assim, os condenados (principalmente aqueles que cumprem pena em


regime fechado) são submetidos a avaliações para que possam ser devidamente
classificados e para se estabelecer os parâmetros do tratamento penal. Para isso, a
Comissão Técnica de Classificação (CTC), presidida pelo Diretor da instituição
carcerária e composta por dois chefes de serviço, um psiquiatra, um psicólogo e um
assistente social (art. 7°, LEP), obtêm dados da personalidade requisitando
informações, entrevistando pessoas e realizando as diligências necessárias.

Enquanto a CTC tem o objetivo de avaliar o cotidiano do condenado para


propor à autoridade competente as progressões e regressões dos regimes, o Centro
de Observação Criminologica (COC) realiza exames periciais e pesquisas
criminologicas que retratarão o “perfil do preso” com o intuito de auxiliar os órgãos
de execução. Realizam prognósticos de não-delinquencia, requisito para
concesssão do livramento condicional – para o condenado por crime doloso,
cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento
ficará também subordinada à constatação de condições pessoais que façam
presumir que o liberado não voltará a delinquir (art. 83, parágrafo único, CP).9

1.2. Psicopatologia Forense na esfera Penal

Antes as punições para enfermes e doentes mentais eram iguais aos


daqueles que não portavam tais deficiências. Com o auxilio de novos conhecimentos
sobre os transtornos mentais, a Justiça passa a entender que os infratores
portadores de psicopatologias devem ter um tratamento diferenciado, com
especialistas, atenção e tratamento, ao invés de somente reclusão. A criminologia
estuda, previne e pune os infratores capazes e responsáveis, enquanto a
psicopatologia forense estuda, previne e trata dos infratores que possuem algum
transtorno mental que comprometa o entendimento de licito e ilícito.
9
CARVALHO, Salo de. O papel da perícia psicológica na execução penal. In: Psicologia Jurídica no
Brasil. BRANDÃO, Eduardo Ponte; GONÇALVES, Hebe Signorini (org.). Rio de Janeiro: NAU, 2004,
p. 141-155.
5
O doente mental, incapaz de compreender sua ação ou omissão, ou que
ainda tenha a compreensão, mas não distingue se é um ato licito ou ilícito, não é
punido, não é passível de castigo. Assim, o infrator insano, recebe uma pena de
restrição de liberdade, pela aplicação de medida de segurança, pois é considerado
perigoso para o convívio em sociedade. Tal medida de segurança é feita em um
hospital psiquiátrico a fim de proporcionar tratamento. Após o tratamento, se o
paciente apresentar melhoras, deixando de oferecer perigo a si mesmo e a
sociedade, receberá alta, independente do tempo fixado pela lei (prazo mínimo de
um ano de acordo com a Lei de Execução Penal). Então sob essas condições, um
infrator sem suas faculdades metais adequadas, mesmo que recuperadas no dia
seguinte, terá de se tratar no hospital psiquiátrico por pelo menos um ano.

O nosso Código Penal teve influencias da Escola Positiva do oriente, onde


considera-se delito como um fenômeno individual e social ao mesmo tempo. Na
prática, seria o estudo da pessoa que cometeu o crime e o lugar gerador da
influência. Cabe ao médico, portanto, estabelecer o diagnostico sobre a capacidade
para compreender a criminalidade do ato e de dirigir suas ações. 10

1.3. Modificadores da responsabilidade penal

Assume-se a maioridade penal aos 18 anos, para todos, os tornando


imputável, ou seja, respondem juridicamente pelos seus atos. Entretanto, mesmo
atingindo a maioridade penal, o indivíduo que possui transtornos mentais pode não
ser totalmente imputável sendo então semi-imputável ou inimputável.

Conforme a Classificação Internacional das Doenças em sua 10° versão,


considera como determinantes para modificação da responsabilidade penal
os portadores de transtornos mentais ou comportamentais, como os
transtornos: 1) mentais orgânicos, de desenvolvimento; 2) em decorrência,
esquizotipicos e delirantes; 3)do humor; 4) neuróticos; 5) comportamentais;
6) de personalidade, 7) retardo mental; 9) desenvolvimento psicológico etc.
11
(referências).

10
COHEN, Claudio. FERRAZ, Flávio Carvalho. SEGRE, Marco. (organizadores). Saúde Mental,
Crime e Justiça. São Paulo: Edusp, 2006. 110p.
11
COHEN, Claudio. FERRAZ, Flávio Carvalho. SEGRE, Marco. (organizadores). Saúde Mental,
Crime e Justiça. São Paulo: Edusp, 2006. 118p.
6
1.4. Sobre a Inimputabilidade Penal

É isento de pena o agente que, por doença mental ou desvio mental


incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou omissão, inteiramente
incapaz de entender o caráter ilicito do fato ou de determinar-se de acordo
12
com o entendimento.

Esse artigo trata da imputabilidade, e após a CID-10 (lei que entendia como
doença mental os quadros psicóticos e as toxicomanias graves) considera-se como
doença mental todo transtorno mental que retire sua capacidade de entender o que
é licito e o que é ilícito e também quem não tem capacidade de agir de acordo com o
entendimento.

1.5. Sobre imputabilidade parcial

A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de


perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou
retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou
13
de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Essa é uma área complexa da criminologia e da psicologia jurídica pois


estuda-se os transtornos de personalidade antissocial, mas se provada leva a
redução da pena. Porém se o juiz aplica-los uma medida de segurança serão
considerados inimputáveis.

1.6. Inimputáveis: Medida de segurança

Quando provado a inimputabilidade do agente, o juiz decretará uma medida


de segurança em um hospital de tratamento psiquiátrico, sob uma medida de
internação de acordo com o Art. 96 do Código Penal:

As medidas de segurança são:


I - Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta,
em outro estabelecimento adequado;
II - sujeição a tratamento ambulatorial.
14
III - sujeição a tratamento ambulatorial

E Art. 97 do Código Penal dita que:

12
Art. 26 do Código Penal
13
Art. 26 do Código Penal. Parágrafo único
14
Art. 96 do Código Penal
7
Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se,
todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz
15
submetê-lo a tratamento ambulatorial.

2.0. Psicopatia

Desde o século passado os especialistas procuram desvendar as possíveis


causas dos desvios psicopáticos, já que a personalidade está sempre disposta a
transtornos, sejam eles na sua formação ou na continuidade.16

Esse transtorno em especial pode estar associado a três principais fatores


que muitas vezes aparecem juntos: disfunções cerebrais ou biológicas ou traumas
neurológicos, predisposição genética e traumas na infância que podem ser abuso
emocional ou sexual, violência, separação dos pais entre outros.

Sendo assim, a causa pode ser buscada na genética ou na influência que o


meio teve sobre a pessoa.

A psicopatia é uma doença que atinge cinco milhões de brasileiros e graças a


sua grande capacidade de manipulação, muitos vezes eles ocupam cargos de
grande poder.

Geralmente ocorre com o sexo masculino, atingindo mulheres em uma


frequência bem menor e costuma aparecer aos quinze anos os acompanhando pelo
resto da vida.17

É comum a confusão que ocorre entre o gênero psicopata e o serial killer,


porém nem todos os psicopatas costumam ser violentos, muitos passam a vida sem
crimes e fingindo ter sentimentos genuínos em relação a outras pessoas. 18

É comum também a confusão entre psicopatas e sociopatas, muitas vezes


usados para descrever pessoas com os mesmos sintomas. A diferença é bem
pequena, na psicopatia a genética é uma grande parte da causa, o individuo já

15
Art. 97 do Código Penal
16
Significado de Psicopatia. Disponível em: <http://www.significados.com.br/psicopata>. Acesso em:
19 nov. 2014
17
A psicopatia é uma doença que atinge cinco milhões de brasileiro. Disponível em:
<http://www.7minutosparamudarsuavida.com.br/programa.asp?id=95>. Acesso em: 19 nov. 2014
18
ROMANZOTI, Natasha. Todos os psicopatas são perigosos?. Disponível em:
<http://hypescience.com/psicopatas-sao-perigosos/>. Acesso em: 19 nov. 2014
8
nasce impulsivo, possui ausência de medo, o que o leva a comportamentos que
buscam o risco, e vai contra as regras da sociedade. Já o sociopata tem o
temperamento próximo ao do indivíduo comum, e a doença tem como causa os
fatores negativos na socialização, como negligência dos pais.19

O que diferencia um psicopata das outras pessoas é que sempre vai haver
nele um sentimento de que não está fazendo nada errado, eles se consideram
imunes a punições.

Psicopatas são personalidades inadaptadas, que não conseguem se ajustar.


Suas principais características são: desvio de caráter, ausência de sentimentos,
insensibilidade aos sentimentos alheios, manipulação, narcisismo, egocentrismo,
frieza, falta de remorso e de culpa em atos cruéis e a inflexibilidade com castigos e
punições.

Com a ausência de medo, acabam buscando condutas de risco e perigo,


muitas vezes terminando em atitudes anti-sociais por já serem incapazes de aceitar
as normas sociais e se estabelecer nelas.20

2.1. O passo-a-passo de um criminoso

Hilda Morana, doutora em psiquiatria forense pela USP e presidenta do


Departamento de Psiquiatria Forense da Associação Brasileira de Psiquiatria e Hugo
Marietan, professor de psiquiatria na Universidade de Buenos Aires, descrevem o
passo-a-passo de um criminoso, indo desde a preparação para o crime, como
consumam-no e escondem as provas até como esquivam-se do julgamento e fazem
sua volta à sociedade.

1. A PREPARAÇÃO
Organizado, o psicopata prepara minuciosamente sua ação e só a comete
quando e onde julga ideal. É impulsivo, mas não passional. Consegue
administrar a tensão e o estresse, canalizando-os para a hora do crime.
2. O CRIME

19
DE SOUZA, Felipe. Qual a diferença entre a sociopatia e a psicopatia?. Disponível em:
<https://www.psicologiamsn.com/2014/01/qual-a-diferenca-entre-sociopatia-e-psicopatia.html>.
Acesso em 19 nov. 2014
20
Significado de Psicopatia. Disponível em: <http://www.significados.com.br/psicopata>. Acesso em:
19 nov. 2014

9
Em geral, procura humilhar, subjugar e causar dor. O tipo de crime depende
do grau de psicopatia. Muitos cometem fraudes e estelionatos. Já outros
optam pela violência - homicídios, estupros, sequestros e torturas.
3. AS PROVAS
Após cometer o crime, tenta eliminar as provas de todo jeito. Muitos
homicidas seriais esquartejam as vítimas para dar sumiço no corpo.
4. CAPTURA
Quando pego, ele nega categoricamente o crime. Ou começa a fingir: faz-se
de louco, simula múltiplas personalidades. No processo, procura manipular
todos, inclusive seu advogado e peritos. Tenta convencer o promotor, o juiz
e a família das vítimas de sua inocência ou insanidade.
5. O JULGAMENTO
Em geral, o psicopata pode seguir dois caminhos na Justiça brasileira. O
juiz pode declará-lo imputável (tem plena consciência de seus atos e é
punível como criminoso comum) ou semi-imputável (não consegue controlar
seus atos, embora tenha consciência deles). Nesse segundo caso, o juiz
pode reduzir de um a dois terços sua pena ou enviá-lo para um hospital de
custódia, se considerar que tem tratamento.
6. O PROBLEMA LEGAL
Muitos promotores brasileiros evitam a semi-imputabilidade, pois pode
reduzir a pena. Além disso, quem vai para hospital de custódia em geral são
criminosos diagnosticados com doença mental tratável, o que não é o caso
da psicopatia.
7. A PRISÃO
Como não há prisão especial para psicopata no Brasil, ele fica com os
criminosos comuns. Por saber que a pena poderá ser reduzida caso se
comporte bem, se passa por preso-modelo. Mas, por baixo dos panos,
ameaça os outros presos, lidera rebeliões. Prejudica a reabilitação dos
presos comuns, que passam a agir cruelmente para sobreviver.
8. DE VOLTA À SOCIEDADE
Mesmo décadas de prisão não bastam para "re-educar" o psicopata. Ele
não se arrepende nem sente remorso. Uma vez soltos, 70% deles voltam a
cometer crimes. A única coisa que ele aprende é evitar os erros que o
21
levaram à prisão. Da próxima vez, agirá com ainda mais cuidado.

2.2. A punição dos psicopatas

Muito se discute a devida punição para a prática dos atos ilícitos cometidos
pelos considerados psicopatas. Afinal, eles tem plena consciência da ilicitude de
seus atos, mas não se importam com possíveis consequências, pois se consideram
acima de qualquer forma de lei, não acreditam que algum dia serão descobertos.

Apesar de não poder ser classificado como “louco”, o psicopata pode ser
caracterizado como um agente que se encontra na fronteira da sanidade e da
loucura, pois são motivos pela razão e pela vontade, não por seus sentimentos.
Seus atos são direcionados à plena satisfação dos desejos, mesmo que isso lhes

21
SZKLARZ, Eduardo. O psicopata na justiça brasileira – O caminho dos antissociais pelos sistemas
jurídico e carcerário é um ciclo sem fim de reincidência. Disponível em:
<http://super.abril.com.br/cotidiano/psicopata-justica-brasileira-620213.shtml>. Acesso em: 19 nov.
2014
10
mova à prática de crimes dos mais diversos, tais como: homicídio, estupro, golpes,
furtos e etc.

Nas palavras de Jorge Trindade:

São sujeitos que não internalizaram a noção de lei, transgressão e culpa.


Na realidade, os psicopatas sentem-se 'além' das normas, quando, na
verdade, são sujeitos 'fora' e 'aquém' do mundo da cultura. Pensar em
psicopatia como uma incapacidade de internalizar valores e uma insujeição
à norma aponta menos para uma doença nos moldes médico e psicológico
e mais para uma constelação de caráter com precárias condições para
22
realizar aquisições éticas.

De modo predominante, a Psiquiatria acredita que os psicopatas são


conscientes de seus atos. Após o diagnostico da psicopatia pela pericia, verifica-se
que o agente entende o caráter criminoso de seus atos. Porém, há uma corrente que
acredita que como ele não consegue controlar seus estímulos à pratica criminosa,
tem sua vontade reduzida e por isso é passível de aplicação do art. 26 do CP, que
descreve a semi-imputabilidade. Desse modo, receberia uma pena inferior à dos
imputáveis (art. 26, parágrafo único do CP). Estaria aprisionado junto como os
demais criminosos, podendo, devido ao seu comportamento dissimulado, livrar-se
antecipadamente da pena ou estimular pratica criminosa dos demais encarcerados,
e por isso é necessário que sejam separados dos demais.

Portanto, devido ao pleno conhecimento de suas atitudes, não há motivo para


afastar sua imputabilidade e diminuir sua pena. Isso seria apenas uma punição mais
branda a agentes que, em sua maioria, comentem os crimes mais bárbaros.23

3. Caso Richthofen

Em 31 de outubro de 2002, Suzane Louise von Richthofen, estudante de


Direito na PUC-SP, planeja e executa junto com Daniel Cravinhos (namorado) e

22
TRINDADE, Jorge. Manual de Psicopatologia Jurídica para operadores do Direito. 4ª Ed. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2010, p. 174.
23
BARROS, Jéssyka. A deficiência da punição dos psicopatas no sistema penal brasileiro - A
psicopatia como uma mazela social. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/31753/a-deficiencia-da-
punicao-dos-psicopatas-no-sistema-penal-brasileiro>. Acesso em: 19 nov. 2014

11
Cristian Cravinhos (cunhado) a morte de seus pais, Manfred von Richthofen e
Marísia von Richthofen.

A brutalidade como o crime foi executado e a imparcialidade da criminosa,


causaram grande comoção social. A princípio suspeitava-se de um crime de
latrocínio, uma vez que, a família era de classe alta, morava em um bairro nobre em
São Paulo e havia indícios na cena do crime.

As contestações da forma como o crime ocorreu se deram logo no início das


investigações, Suzane era totalmente fria em relação a morte dos pais, em fatos
narrados a princípio alega-se que a acusada saiu de casa junto com o namorado
Daniel, para levar o irmão Andreas Von Richthofen com 15 anos a um cybercafé,
após isso, o casal volta a casa dos Richthofen para buscar certa quantia de dinheiro
que faltava para pagar um motel em comemoração ao aniversário de Suzane que
ocorreria dois dias depois, enquanto isso, supostamente a casa era invadida por
criminosos e o casal covardemente assassinado.

Em seus depoimentos Suzane afirma uma família desestruturada, tendo um


possível pai alcoólatra e com casos extraconjugais e uma mãe com uma
sexualidade indecisa. Porém, depoimentos incoerentes e divergentes dos acusados
e depoimentos consistentes de familiares e amigos próximos do casal, faz com que
a polícia trace um perfil das famílias Richthofen e Cravinhos e chegam a conclusão
que possivelmente seria um crime premeditado pela filha do casal, fecha-se as
ideias e inicia-se interrogatórios contra os acusados.

Após Suzane confessar seus atos, conclui-se que o casal premeditou a morte
dos pais com 1 mês de antecedência, a princípio o motivo do crime seria os pais da
ré não autorizarem seu relacionamento com Daniel, mas com uma análise crítica aos
atos e questionamentos realizados por ela, pode-se presumir que tudo ocorreu pela
herança que seria deixada aos herdeiros do casal.

A frieza e imparcialidade de Suzane chamaram a atenção ao decorrer do


crime, principalmente no início dos fatos, quando não possuía um advogado de
defesa. A personalidade da criminosa foi analisada como extremamente perigosa
para o convívio social por alguns psiquiatras da área criminal.

12
Após análises psicológicas e psiquiátricas, sua personalidade foi classificada
como de uma condutopata. A condutopatia é um distúrbio de comportamento no
qual o indivíduo apresenta ausência de remorso, piedade, é egoísta, possui um
enorme desequilíbrio emocional e lhe faltam valores éticos a morais, sendo que, tais
quadros são irreversíveis, principalmente em casos de adultos, no qual possuem
uma personalidade cristalizada. Não há percepção de tal conduta antes do crime
cometido, uma vez que, o condutopata não transparece sua personalidade em fatos
cotidianos e seus crimes são realizados por motivo torpe, sem motivações
aparentes.24

CONCLUSÃO

Conclui-se, portanto, que a psicologia jurídica, ramo da área psicológica que


se funde com o Direito, é fundamental para a aplicação de penas e sentenças
impostas pelo sistema judiciário brasileiro, pois auxilia na tomada de decisão,
mostrando a necessidade ou não de causa de agravante ou de diminuição da pena
e que tipo de tratamento o condenado terá se o caso for de privação de liberdade
através do perfil psicológico do agente.

No caso dos psicopatas, é possível verificar a falha no sistema carcerário


brasileiro, pois não há no país prisões especiais para esse tipo de pessoa. Sua
capacidade de manipulação e indiferença com as consequências de suas atitudes
atrapalham o convívio com os outros encarcerados, podendo-lhes até mesmo ser
prejudicial. Por isso, é preciso atentar-se ao fato de que apesar de a lei não
considera-los completamente imputáveis, eles exigem uma forma de punição
diferenciada. O ideal seria uma combinação das penas tradicionais com tratamentos
psicológicos, com terapeutas e psiquiatras para poder reeducá-los na sociedade e
evitar futuros delitos e possíveis perigos para o resto da comunidade.

24
CASOY, Ilana. O quinto mandamento: caso de polícia. 7. ed. São Paulo: Ediouro, 2009.

13
Referências

A psicopatia é uma doença que atinge cinco milhões de brasileiro. Disponível em:
<http://www.7minutosparamudarsuavida.com.br/programa.asp?id=95>. Acesso em:
19 nov. 2014

BARROS, Jéssyka. A deficiência da punição dos psicopatas no sistema penal


brasileiro - A psicopatia como uma mazela social. Disponível em:
<http://jus.com.br/artigos/31753/a-deficiencia-da-punicao-dos-psicopatas-no-
sistema-penal-brasileiro>. Acesso 19 nov. 2014
CARVALHO, Salo de. O papel da perícia psicológica na execução penal.
In: Psicologia Jurídica no Brasil. BRANDÃO, Eduardo Ponte; GONÇALVES, Hebe
Signorini (org.). Rio de Janeiro: NAU, 2004, p. 141-155.

CASOY, Ilana. O quinto mandamento: caso de polícia. 7. ed. São Paulo: Ediouro,
2009.

COHEN, Claudio. FERRAZ, Flávio Carvalho. SEGRE, Marco. (organizadores).


Saúde Mental, Crime e Justiça. São Paulo: Edusp, 2006.

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