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UNIDADE 3 – Psicologia Jurídica: A Contribuição da Psicologia

para o Direito e a Atuação do Psicólogo nas Diversas Varas

1 A Psicologia e o Direito: Psicologia Jurídica


Os atores jurídicos deverão entender e conhecer as questões
comportamentais na percepção da realidade social, assim, a ligação entre
o Direito e a Psicologia é de suma importância.
Nesse diálogo entre o Direito e a Psicologia, uma área será influenciada
pela outra, já que ambos trabalham com o comportamento humano. Esse
comportamento que é vivenciado pela psicologia deverá ser regulado pelo
Direito, dirimindo condutas e conflitos.
O indivíduo passa a receber a influência de vários fatores que interferem e
contribuem para mudanças em seu comportamento. Esses fatores podem
ser:

Exógenos: Ligados ao ambiente e a cultura.


Endógenos: Aqueles relacionados ao conteúdo físico e psiquismo do
indivíduo, como valores, esquemas de pensamento, características da
personalidade, entre outros.

O comportamento humano é o resultado da interação complexa desses


fatores. No entanto, nenhum deles pode ser indicado como determinante
exclusivo da alteração do comportamento (FIORELLI, 2008, p. 140).
Notamos que esses comportamentos poderão ser alvos de conflitos,
necessitando assim de uma intervenção para conciliar ou indicar punição a
estes. Tal intervenção poderá ocorrer via judicial, onde estará o psicólogo
jurídico para auxiliar o juiz em suas decisões.

1.1 Psicologia jurídica ou psicologia forense?


O termo “forense” nos remete a todas as atividades nos foros e tribunais, e
a Psicologia Forense foi uma área dedicada aos estudos
dos comportamentos criminais. Aos poucos, ganhou novo olhar, a fim de
entender o ser humano como o centro de estudo.
Todavia, a evolução entre o Direito e a Psicologia faz nascer a Psicologia
Jurídica, desenvolvida por psicólogos nomeados peritos e/ou assistentes
técnicos, com finalidade de analisar os conflitos comportamentais.
A psicologia jurídica é uma ramificação da Psicologia que estuda o
comportamento humano com base nas normas legais e institucionais que o
regulam. Tem como função humanizar o exercício do Direito através de sua
atuação nas demandas comportamentais.
Fatima França (2004) apresenta o conceito de psicologia jurídica em alguns
países para, ao final, mencionar o mais adotado no Brasil:
Psicologia Jurídica é uma das denominações para nomear essa área da Psicologia que
se relaciona com o sistema de justiça. Na Argentina, denomina-se Psicologia Forense,
embora haja muitos profissionais argentinos filiados à Associação Iíbero-Americana de
Psicologia Jurídica, o que permite inferir a adoção do termo Psicologia Jurídica. De
acordo com publicação do Colégio Oficial de Psicólogos de España Oficial de Espanha,
o termo adotado naquele país é Psicologia Jurídica, no entanto, a Associação Europeia
de Psicologia e Ley atribui a designação de Psicologia e Ley. No Brasil, o termo
Psicologia Jurídica é o mais adotado (FRANÇA, 2004, p. 74).

Nesse caminho, faz-se a compreensão de fenômenos e processos ligados à


psicologia no ambiente forense, onde sua finalidade é estudar o
comportamento dos atores à luz do Direito, sua singularidade e
subjetividade de acordo com os casos.
O profissional irá atuar na avaliação do comportamento humano através
de métodos e técnicas que visam dar um diagnóstico psicológico do perfil e
do processo psicopatológico da pessoa que é parte da demanda judicial
instaurada. Tais métodos e técnicas deverão ser realizados através de
laudos, pareceres e relatórios que permitem auxiliar os magistrados na
condução dos processos judiciais e a tomarem suas decisões de forma
coerente e justa.
Com o intuito de eliminar tais demandas judiciais, o psicólogo participa de
uma equipe multidisciplinar para análise comportamental da(s) pessoa(s)
envolvida(s), assessorando o juiz na decisão acerca da situação através da
execução de políticas que visam aos direitos humanos, à cidadania, à
orientação familiar e ao combate à violência.

2 Conceito e evolução da psicologia jurídica


A psicologia jurídica é um braço da psicologia que consiste em uma análise
comportamental do ser humano com base em estudos psicológicos ligados
aos ditames legais (Direito).

2.1 Conceito da psicologia jurídica


O trabalho do psicólogo no campo jurídico – ainda que tenha se ampliado
não somente no campo pericial – ainda carece de discussão e
desenvolvimento curricular que lhe faça referência. Essa deficiência reflete-
se, também, nos casos em que são necessárias intervenções dos Conselhos
de Psicologia, principalmente dos Comitês de Ética, quando tratam sobre
laudos e conteúdos afins, onde é possível observar a escassez de
profissionais que trabalham com essa demanda e que apresentem
competência técnica específica para compreender a natureza, limites e
possibilidades do trabalho pericial (MACIEL; CRUZ, 2009, p. 46).
As demandas da referida psicologia são enormes: envolvem diversas
complexidades devido às transformações ocorridas na sociedade quando
atuam nas relações familiares – quer entre casais, quer em relação a pais e
filhos – marcadas por violência e questões raciais e de gênero.

2.2 Detalhamento das atribuições


Clique abaixo e acompanhe detalhadamente as atribuições do psicólogo
jurídico (CFP, 2020).
1. Assessora na formulação, revisão e execução de leis.
2. Colabora na formulação e implantação das políticas de cidadania e
direitos humanos.
3. Realiza pesquisa visando à construção e à ampliação do
conhecimento psicológico aplicado ao campo do Direito.
4. Avalia as condições intelectuais e emocionais de crianças,
adolescentes e adultos em conexão com processos jurídicos, seja por
deficiência mental e insanidade, testamentos contestados, aceitação
em lares adotivos, posse e guarda de crianças ou determinação da
responsabilidade legal por atos criminosos.
5. Atua como perito judicial nas varas cíveis, criminais, justiça do
trabalho, da família, da criança e do adolescente, elaborando laudos,
pareceres e perícias a serem anexados aos processos.
6. Elabora petições que serão juntadas ao processo, sempre que
solicitada alguma providência ou que haja necessidade de
comunicar-se com o juiz durante a execução da perícia.
7. Eventualmente, participa de audiência para esclarecer aspectos
técnicos em Psicologia que possam necessitar de maiores
informações a leigos ou leitores do trabalho pericial psicológico
(juízes, curadores e advogados).
8. Elabora laudos, relatórios e pareceres, colaborando não só com a
ordem jurídica como com o indivíduo envolvido com a Justiça, através
da avaliação da personalidade desse indivíduo e fornecendo
subsídios ao processo judicial quando solicitados por uma
autoridade competente, podendo utilizar-se de consulta aos
processos e coletar dados considerados necessários para a
elaboração do estudo psicológico.
9. Realiza atendimento psicológico através de trabalho acessível e
comprometido com a busca de decisões próprias na organização
familiar dos que recorrem a Varas de Família para a resolução de
questões.
10.Realiza atendimento a crianças envolvidas em situações que chegam
às Instituições de Direito, visando à preservação de sua saúde
mental, bem como presta atendimento e orientação a detentos e
seus familiares.
11.Participa da elaboração e execução de programas socioeducativos
destinados a crianças de rua, abandonadas ou infratoras.
12.Orienta a administração e os colegiados do sistema penitenciário,
sob o ponto de vista psicológico, quanto às tarefas educativas e
profissionais que os internos possam exercer nos estabelecimentos
penais.
13.Assessora autoridades judiciais no encaminhamento a terapias
psicológicas, quando necessário.
14.Participa da elaboração e do processo de Execução Penal e assessora
a administração dos estabelecimentos penais quanto à formulação
da política penal e no treinamento de pessoal para aplicá-la.
15.Atua em pesquisas e programas de prevenção à violência e
desenvolve estudos e pesquisas sobre a pesquisa criminal,
construindo ou adaptando instrumentos de investigação psicológica.

2.3 Atuação dos psicólogos dentro dos ramos do Direito


Acompanhe detalhes sobre a atuação dos psicólogos nos ramos do Direito.
 Direito da Família: Ações de divórcio, disputa de guarda e
regulamentação de visitas.
 Direito de Criança e do Adolescente: Adoção, destituição do poder
familiar e medidas socioeducativas aos adolescentes.
 Direito Civil: Ações de indenização em decorrência de danos
psíquicos e nos casos de interdição judicial.
 Direito Penal: A análise da periculosidade, das condições de
discernimento ou sanidade mental das partes em litígio ou em
julgamento.
 Direito do Trabalho: Perícias em processos trabalhistas.

3 A Psicologia Jurídica: surgimento e evolução


A ligação entre a Psicologia e o Direito, ou seja, o surgimento da Psicologia
Jurídica deu-se no século XVIII, quando foram estabelecidas normas de
convívio conforme normas legais de conduta.
Em 1868, Prosper Despine, médico francês, publicou o livro Psychologie
Naturelle, em que investiga o comportamento de grandes delinquentes da
época, buscando avaliá-los em suas características psicológicas, auxiliando,
assim, a justiça. Com base nesse estudo, fez nascer, em 1875, a Psicologia
Criminal, voltada aos aspectos psicológicos do criminoso. Pitaval, na França
(1734); Richer (1772) e Schaumann (1792) na Alemanha foram precursores
da pré-história da Psicologia Criminal.
No século XIX, os estudos sobre testemunhos das pessoas interessadas
realizados pela psicologia despertaram o interesse da Justiça, conforme
narrado por Vivian de Medeiros Lago et al. (2009, p. 484):

“Psicólogos da Alemanha e França desenvolveram trabalhos empírico experimentais


sobre o testemunho e sua participação nos processos judiciais. Estudos acerca dos
sistemas de interrogatório, os fatos delitivos, a detecção de falsos testemunhos, as
amnésias simuladas e os testemunhos de crianças impulsionaram a ascensão da então
denominada Psicologia do Testemunho (GARRIDO, 1994). Atualmente, o psicólogo
utiliza estratégias de avaliação psicológica, com objetivos bem definidos, para
encontrar respostas para solução de problemas. A testagem pode ser um passo
importante do processo, mas constitui apenas um dos recursos de avaliação (CUNHA,
2000).”

Esse estudo experimental dos processos psicológicos foi um dos marcos


científicos de ligação entre a psicologia e o Direito; procurava-se estudar
hábitos, memórias e motivação das pessoas envolvidas.
Flavia de Novaes Costa (2001) apresenta a Psicologia Jurídica e comenta
algumas nomenclaturas diferentes, as quais variavam de acordo com a
atividade e o local da prática:
“O trabalho de psicólogos em organizações de Justiça tem recebido distintas
denominações, de acordo com a atividade e o local onde ocorre. O Colégio Oficial de
Psicólogos de Madri denomina Psicologia Jurídica “um campo de trabalho e
investigação psicológica especializada cujo objeto é o estudo do comportamento dos
atores no âmbito do Direito da Lei e da Justiça, com distintas dimensões de estudo e
interpretação: Psicologia aplicada aos Tribunais, Psicologia Penitenciária, Psicologia da
Delinquência, Psicologia Judicial, Psicologia Policial e das Forças Armadas, Vitimologia e
Mediação (COSTA, 2001, p. 23).”

No Brasil, os psicólogos adentraram de maneira informal e gradativa na


área do Direito, inicialmente através da área criminal, com estudos sobre o
comportamento. Somente em 1978 ocorreu o primeiro concurso para
Psicólogo Jurídico, realizado pelo Instituto Oscar Freire, Departamento de
Medicina Legal, Ética Médica e Medicina Social e do Trabalho da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Nos anos 1970, psicólogos de maneira informal atuavam nos Juizados de
Menores do Tribunal de Justiça de São Paulo, onde realizavam trabalhos
voluntários com famílias em situação de vulnerabilidade social e
econômica.
Somente em 1985 foi realizado o primeiro concurso público para o cargo de
perito de juiz.
Com o processo de redemocratização do país, foram implantadas e
implementadas nova políticas públicas e foi criada uma legislação que as
ampara. Assim, novas demandas judiciais que necessitavam da intervenção
desse profissional nasceram, as quais impulsionaram concurso para
satisfazer tal situação.

3.1 O Conselho Federal de Psicologia e a Psicologia Jurídica


acompanhe marcos legais que foram fundamentais para a consolidação da
Psicologia Jurídica.

 2000 - A ligação da Psicologia com o Direito foi designada através da


Resolução CFP n° 014/ 00 do Conselho Federal de Psicologia (CFP) ao
instituir o título profissional de especialista em Psicologia Jurídica e a
delimitação das atividades descritas como relativas a essa especialidade.
Entendemos o termo Psicologia Jurídica como uma denominação genérica
das aplicações da Psicologia relacionadas às práticas jurídicas, enquanto
Psicologia Criminal, Psicologia Forense e Psicologia Judiciária são
especificidades dela, como se fossem ramificações da área (SACRAMENTO,
2012).
 2003 - A Resolução CFP nº 007/2003 institui o Manual de Elaboração de
Documentos Escritos produzidos pelo psicólogo, decorrentes de avaliação
psicológica, e revoga a Resolução CFP nº 17/2002, destacando que a
avaliação psicológica é um processo técnico-científico de coleta de dados e
interpretação a respeito de fenômenos psicológicos resultantes da relação
indivíduo-sociedade. Dentre as diversas modalidades de avaliação
psicológica, destacam-se o laudo e o parecer psicológico, conceituando-a e
definindo suas estruturas.
 2007 - A Resolução CFP nº 013/2007 menciona que o psicólogo especialista
em Psicologia Jurídica atua no âmbito da Justiça.

 2010 - Em 2010, o CFP emitiu três resoluções que se referiam ao


trabalho nessa área, ou seja, as Resoluções n ° 008/2010 , n°
009/2010 e n° 010/2010 .A Resolução n° 008/2010 dispõe sobre a
atuação do psicólogo como perito e assistente técnico no Poder
Judiciário (CFP, 2010).A Resolução n° 009/2010 define a atuação no
sistema prisional, vedando a esses profissionais a realização do
exame criminológico (CFP, 2010). A Resolução n° 10/2010 institui a
regulamentação da Escuta Psicológica de Crianças e Adolescentes
envolvidos em situação de violência, na Rede de Proteção, vedando
ao psicólogo o papel de inquiridor daqueles que supostamente
estariam nessa situação (CFP, 2010).

 2011 - A Resolução CFP 012/2011 regulamenta a atuação da(o)


psicóloga(o) no âmbito do sistema prisional:
"Art. 2º. Em relação à atuação com a população em privação de liberdade
ou em medida de segurança, a(o) psicóloga(o) deverá: [...]
Parágrafo Único: É vedado à(ao) psicóloga(o) participar de procedimentos
que envolvam as práticas de caráter punitivo e disciplinar, notadamente os
de apuração de faltas disciplinares.
Art. 4º. Em relação à elaboração de documentos escritos para subsidiar a
decisão judicial na execução das penas e das medidas de segurança:
[...]
b) A partir da decisão judicial fundamentada que determina a elaboração
do exame criminológico ou outros documentos escritos com a finalidade de
instruir processo de execução penal, excetuadas as situações previstas na
alínea 'a', caberá à(ao) psicóloga(o) somente realizar a perícia psicológica, a
partir dos quesitos elaborados pelo demandante e dentro dos parâmetros
técnico-científicos e éticos da profissão."

 2012 - Em 2012, o CFP expediu nova resolução, Resolução CFP


017/2012, que dispõe sobre a atuação do psicólogo como perito em
seus diversos contextos e exige a autorização dos responsáveis legais
quando a pessoa atendida for criança, adolescente ou interdito (art.
4º, parágrafo único da Resolução CFP nº017/12).
Todavia, quando há determinação judicial a fim de que os psicólogos
forenses realizem a perícia, a necessidade de anuência dos responsáveis,
ainda que seja do detentor da guarda, é suprida pela própria determinação
judicial, não havendo, portanto, infrações éticas em face da ausência de
consentimento (CFP, 2020).

 2018 - A Resolução nº 9, de 25 de abril de 2018, estabelece diretrizes


para a realização de Avaliação Psicológica no exercício profissional da
psicóloga e do psicólogo, regulamenta o Sistema de Avaliação de
Testes Psicológicos - SATEPSI e revoga as Resoluções nº 002/2003, nº
006/2004 e nº 005/2012 e Notas Técnicas nº 01/2017 e 02/2017.
"Art. 1º Avaliação Psicológica é definida como um processo estruturado de
investigação de fenômenos psicológicos, composto de métodos, técnicas e
instrumentos, com o objetivo de prover informações à tomada de decisão,
no âmbito individual, grupal ou institucional, com base em demandas,
condições e finalidades específicas. § 1º Os testes psicológicos abarcam
também os seguintes instrumentos: escalas, inventários, questionários e
métodos projetivos/expressivos, para fins de padronização desta Resolução
e do SATEPSI.
§ 2º A psicóloga e o psicólogo têm a prerrogativa de decidir quais são os
métodos, técnicas e instrumentos empregados na Avaliação Psicológica,
desde que devidamente fundamentados na literatura científica psicológica
e nas normativas vigentes do Conselho Federal de Psicologia (RESOLUÇÃO
CFP nº 9/2019)."
O psicólogo jurídico observará as situações que norteiam a demanda
judicial através de uma avaliação psicológica da situação para auxiliar o juiz
em sua decisão acerca do processo.

3.2 Atuação dos psicólogos jurídicos na área administrativa


O psicólogo jurídico poderá atuar em orfanatos, nos Conselhos Tutelares e
dentro da Administração Pública em geral.
Um exemplo dessa atuação é avaliar os candidatos dentro do processo
seletivo (concurso público) através de um exame
psicológico ou psicotécnico, previsto em lei e em edital de concurso.
Caso este seja declarado nulo, o(a) candidato(a) terá que refazê-lo para que
possa dar continuidade à seleção. O tema foi abordado no Recurso
Extraordinário (RE) 1133146, de relatoria do ministro Luiz Fux, que teve
repercussão geral reconhecida e julgamento de mérito no Plenário Virtual.
Vejamos na decisão a seguir como a Psicologia Jurídica é observada.
Quadro 1 - Decisão de juiz baseada em laudo psicológicoFonte: Elaborado pelo autor com base em
decisões judiciais, 2020

O quadro reproduz a decisão de um juiz quanto a um recurso encaminhado


por uma candidata diante de sua reprovação em exame psicológico.

3.3 O psicólogo e o Tribunal de Justiça


O processo judicial, quando aborda questões comportamentais, deverá
garantir às partes e ao juiz, através de uma equipe interdisciplinar,
a resposta de uma demanda judicial existente, através da realização das
perícias técnicas, como um meio de prova.
O psicólogo poderá propor soluções para os conflitos comportamentais,
entretanto, não poderá elaborar procedimentos jurídicos, já que essa
atividade pertencerá ao juiz.
O profissional psicólogo jurídico poderá atuar dentro do Poder Judiciário
nas áreas de:
 Execução Penal: sistema penitenciário
 Varas de Família
 Varas da Infância e da Juventude
 Juizados Especiais (Cível e Criminal)
 Varas de Penas Alternativas
 Varas Cíveis em geral
4 O psicólogo e sua atuação na Vara de Execução Penal e nos
presídios
A função dos psicólogos nos presídios é fazer o acompanhamento de
presos e familiares que necessitam auxílio psicológico, bem como verificar
se há possibilidade do apenado retornar ao convívio em sociedade através
do laudo criminológico.

4.1 Laudo criminológico


O psicólogo jurídico deverá avaliar os elementos com vistas
à individualização da execução, e buscar separar o apenado
potencialmente perigoso para a sociedade dos demais, identificando e
analisando sua personalidade e periculosidade, eventual arrependimento e
a possibilidade de voltar a cometer crimes. A avaliação é feita através de
um Exame Criminológico, que segundo Cezar Roberto Bitencourt (2007, p.
459) é:
“[...] é a pesquisa dos antecedentes pessoais, familiares, sociais, psíquicos, psicológicos
do condenado, para obtenção de dados que possam revelar a sua personalidade [...] É
uma perícia, embora a LEP não o diga, que busca descobrir a capacidade de
adaptação do condenado ao regime de cumprimento da pena; a probabilidade de não
delinquir; o grau de probabilidade de reinserção na sociedade, através de um exame
genético, antropológico, social e psicológico.”

Esse exame deixou de ser obrigatório para a progressão de regime com a


entrada em vigor da Lei nº 10.792, em dezembro de 2003, que alterou a Lei
de Execução Penal (Lei nº 7.210/84). Caso o magistrado ache-o necessário,
poderá determinar que seja realizado.
Os psicólogos estudam o comportamento humano com base nas leis para
elaborar o exame criminológico.
Todavia, em 2011 foi expedida a Resolução nº 12/2011, pelo Conselho
Federal de Psicologia, que proibia o psicólogo que atuava nos
estabelecimentos prisionais de:
 Elaborar prognóstico criminológico de reincidência.
 Aferir a periculosidade e o estabelecimento de nexo causal a
partir do binômio delito-delinquente.
 Participar de ações e decisões que envolvam práticas de caráter
punitivo e disciplinar.
 Elaborar documentos com fins de subsidiar decisão judicial
durante a execução da pena do sentenciado.
 Essa resolução foi suspensa e anulada por decisão judicial.
Entretanto, apenas a gravidade do delito cometido não justifica a
necessidade de exame criminológico para concessão de progressão de
regime. Com esse entendimento, a ministra Laurita Vaz, presidente do
Superior Tribunal de Justiça, concedeu liminar em Habeas Corpus para
afastar a exigência do teste. Ela ainda determinou que o juízo de execuções
penais examine os requisitos para a progressão de regime do condenado
(CONJUR, 2018).
Vejamos as decisões do STF/STJ no quadro abaixo.

4.2 Vitimologia
A vitimologia objetiva a avaliação do comportamento e da personalidade da
vítima. Cabe ao psicólogo entender o perfil da vítima, o que poderá ensejar
cumplicidade passiva ou ativa do criminoso. Esta se dedica à aplicação
de medidas preventivas às vítimas e à reparação danos produzidos pelo
delito.

5 O psicólogo e sua atuação na Vara de Família


Os psicólogos jurídicos deverão resolver as demandas existentes sobre os
conflitos familiares relacionados a separação/divórcio, disputas de guarda,
regulamentação de visitas de pais e avós e interdições de pessoas que não
têm capacidade de gerir seus bens.
Conheça os processos:
Interdição: A interdição é uma medida de amparo criada pela legislação
civil, que é realizada através de processo judicial por meio do qual a
pessoa é declarada civilmente incapaz (total ou parcialmente) para a
prática dos atos da vida civil, tais como: vender, comprar, testar, casar,
votar, entre outros. Para tanto, essa pessoa declarada civilmente
incapaz deve ser representada ou assistida por uma outra pessoa
civilmente capaz, denominada curador (SILVA; DOBJENSKI, 2019). A
interdição é uma medida em que a pessoa perderá sua capacidade civil,
assim, o psicólogo irá avaliar se a pessoa possui capacidade mental para
responder por seus atos na vida civil.

Destituição do Poder Pátrio: A destituição do pátrio poder retira do(a)


genitor(a) tutela sobre o(a) filho(a), devido a situações extremas causados
por aquele(a). Entre os casos mais comuns, estão abuso sexual na família,
negligência, maus-tratos, entre outros.
É função do psicólogo avaliar a situação e emitir um laudo para embasar a
decisão judicial.

Separação/Divórcio: Durante o processo de separação e divórcio,


poderão aparecer certas situações geradas por conflitos, indecisões,
sentimentos (positivos e negativos) que macularam a relação familiar
existente, assim, o psicólogo deverá atuar na mediação desses conflitos,
auxiliando um possível acordo sobre as questões inerentes à demanda
em andamento.
Durante a entrevista, deverá avaliar o motivo do litígio e os conflitos
existentes, podendo, inclusive, indicar tratamento psiquiátrico ou
psicológico. Em seu laudo, poderá indicar a destituição do pátrio poder,
caso verifique a necessidade dele. Caso a mediação não seja acordada,
o(a) psicólogo(a) irá emitir um laudo informando tal situação ao juiz.
Regulamentação de Visitas: O psicólogo jurídico irá contribuir através de
avaliações com a família, objetivando mediar os conflitos e esclarecer ao
magistrado como é a dinâmica da família e as sugestões indicadas
durante a mediação no intuito da regulação das visitas.

Decisão judicial de interdição

6 O psicólogo e sua atuação no Juizado da Infância e


Juventude
Os processos que tramitam nas Varas da Família distinguem-se dos que são
processados perante a Vara de Infância e Adolescência, já que na primeira
se estudam as questões de interesse da família e, na segunda, resguardam-
se os direitos da criança/adolescente.
A função do psicólogo jurídico dentro das Varas da Infância e Juventude visa
mediar situações em que tanto a criança como o adolescente estão
presentes.
A criança deverá ser ouvida nos processos em que é envolvida.

6.1 Adoção
Nos casos de adoção, o psicólogo é responsável por desenvolver estudos
psicossociais tanto da criança a ser adotada quanto para as famílias que
pretendem adotá-la. Esses estudos são realizados por meio de entrevistas,
visitas ao domicílio do casal e análise de dados coletados através de
valores, atitudes e crenças dos envolvidos no processo de adoção.
6.2 Medidas socioeducativas
Entre os princípios que normatizam a execução das medidas
socioeducativas, destacam-se outros aspectos de fundamentação do
Paradigma Restaurativo, tais como o expresso favorecimento dos meios de
autocomposição de conflitos e a priorização explícita de práticas
restaurativas, atendendo, sempre que possível às necessidades das vítimas
e o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários (VASCONCELOS,
2017, p. 19).

Ação de regulamentação do direito de visitas

6.3 Guarda e suas diversas modalidades


A guarda produz uma série de relações jurídica entre o guardião/guardiã e
o/a menor. Aquele/a, em regra, pertencerá ao/a genitor/a, todavia, por
determinação judicial, decorrente de sua ausência poderá autorizada a um
terceiro, com a intervenção e análise do psicólogo jurídico
Assim, observando o perfil de cada situação poderemos ter inúmeras
modalidades de guarda: Guarda Unilateral, Alternada, Compartilhada e
Institucional.
O Código Civil, alterado pela Lei nº11.698/2008 (BRASIL, 2008) determina que:
Art. 1.583. A guarda será unilateral ou compartilhada. § 1º Compreende-se por guarda
unilateral a atribuída a um só dos genitores por alguém que o substitua (art.1.584, §
5º), e, por guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o exercício de direitos
e deveres do pai e da mãe que não vivem sob o mesmo teto, concernentes ao poder
familiar dos filhos comuns.

§ A guarda unilateral será atribuída ao genitor que revele melhores condições para
exercê-la e, objetivamente, mais aptidão para propiciar aos filhos os seguintes fatores:
afeto nas relações com o genitor e como o grupo familiar; saúde e segurança e
educação.  (BRASIL, 2009).
A guarda dos filhos, em regra, pertencerá ao(à) genitor(a), todavia, por
determinação judicial. No entanto, há casos (alienação parental) em que a
criança ou o adolescente não poderá ficar sob o pátrio poder do(a)
genitor(a), já que o(a) mesmo(a) poderá concorrer para tal situação através
da violência ou abuso sexual (Síndrome de Alienação Parental – Lei nº
12.318 de 26 de agosto de 2010).
A situação mais comum é a mãe ser a principal alienadora, mas
a alienação também pode ser exercida por avós ou quaisquer outras
pessoas que tenham responsabilidade sobre o menor (NÜSKE; GRIGORIEFF,
2015).
Para entender toda essa dinâmica da família (pais e filhos), os psicólogos
deverão avaliar o histórico do filho através de uma entrevista com a
criança ou com o(a) adolescente somada à análise das situações que lhes
são expostas no contato com professores e profissionais que o cercam. O
psicólogo deve avaliar as falsas acusações ocorridas durante o processo
judicial e os traumas que poderão acontecer sobre tal situação.
Assim, sempre que o profissional verificar a possibilidade, deverá propor a
mediação, no âmbito familiar, através de uma escuta diferenciada com
finalidade de analisar os aspectos objetivos e subjetivos envolvidos no caso.

6.4 Escuta de crianças


A Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017 (BRASIL, 2017) estabelece o sistema de
garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de
violência e altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança
e do Adolescente).
A presente lei cria a escuta protegida de crianças e adolescentes, que é
disciplinada pela Recomendação CNJ nº 33/2010 e pela Resolução CNJ nº
299/2019. A norma tem foco na prevenção da violência institucional e busca
garantir condições especiais para crianças e adolescentes vítimas ou
testemunhas de violência. A lei determina que eles possam ser ouvidos em
locais apropriados, devidamente assistidos por profissionais especializados.
As regras também têm o objetivo de resguardar a intimidade do depoente
e evitar a reiteração de depoimentos que aumentem o sofrimento (CNJ,
2019). Vejamos a Resolução o art. 10 do CNJ nº 299/2019:
Art. 10. Os profissionais especializados que atuarão na tomada do depoimento
especial (Lei no 13.431/2017, art. 12, I) deverão ser preferencialmente aqueles que
integram o quadro de servidores da respectiva unidade da federação, que compõem as
equipes técnicas interprofissionais, as quais deverão receber capacitação específica
para essa atividade (CNJ, 2019).

Esse profissional especializado deverá ser capacitado através de uma


equipe interdisciplinar voltada ao procedimento do depoimento especial.

7 O psicólogo e sua atuação nas Varas do Trabalho


O psicólogo irá atuar nas demandas trabalhistas, avaliando a relação entre
as condições de trabalho e a repercussão da saúde mental do indivíduo,
através de laudo sobre os processos psicológicos e suas consequências sob
investigação.

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