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Psicologia Jurídica

UVA - Psicologia
2023.1

Flavio Roberto de Carvalho Santos


Pós-doutor em Ciências Fisiológicas /Ciências Cognitivas e Neuropsicofarmacologia – UFES
Doutor em Saúde da Criança e do Adolescente - UNICAMP
Mestre em Sexologia Clínica - UGF
Especialista em Neurociências Aplicada a Aprendizagem – IPUB/UFRJ
Aprofundamento em Sexologie et Energie de Vie en Psychothérapie – SFU/Paris
Psicólogo - UGF
Psicologia Ementa
Jurídica
• O status da Psicologia Jurídica. A
interface entre o Psicólogo e as
instituições de Direito. A importância do
trabalho em equipe multiprofissional.
Psicologia Jurídica
UNIDADE 1. Histórico da Psicologia jurídica

1.1. Psicologia Jurídica: limite de um campo de saber e


de uma prática
1.2. Histórico e fundamentação teórica
1.3. A importância do trabalho em equipe
multiprofissional na justiça .

UNIDADE 2. Psicologia Jurídica nas Varas de Família


2.1. Perspectivas da atuação do psicólogo nas Varas de
Família
2.2. Famílias em litígio: separações e transformações
2.3. Mediação de conflitos e a atuação do psicólogo
Psicologia Jurídica
UNIDADE 3. Psicologia Jurídica nas Varas de Infância e Juventude
3.1. Psicologia nas Varas da Infância e Juventude
3.2. Adolescentes em conflito com a Lei
3.3. Inimputabilidade e menoridade: O Código de Menores de 79 e o
Estatuto da Criança e do Adolescente.

UNIDADE 4. Psicologia Jurídica nas Varas Criminais


4.1. Criminoso e a imputabilidade.
4.2. Lei de Execução Penal
4.3. Psicologia no Sistema Penitenciário
Bibliografia básica
• BRITO, L. M. T (Org.) Temas de Psicologia Jurídica. Rio de Janeiro: Relume e
Dumará, 1999.
• CRUZ, R. M.; SAIDY, K. M.; RAMIREZ, D. C. (Org.) O trabalho do Psicólogo no
campo jurídico. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005
• GONÇALVES, H. S.; BRANDÃO, E. P. (Org.) Psicologia Jurídica no Brasil. 3ª
edição. Rio de Janeiro: Nau, 2011.

Bibliografia complementar
• AZAMBUJA, M. R. F.; FERREIRA, M. H. M (Org.). Violência sexual contra
crianças e adolescentes. Porto Alegre: Artmed, 2011.
• BRITO, L. M. T. (Org.). Famílias e separações: perspectivas da psicologia
jurídica. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2008.
• FERRARI, Dalka Chaves de Almeida &MIYAHARA, Rose MaryPeres &SANCHES,
Christiane. (ORGS) Violação de Direitos de Crianças e Adolescentes:
perspectivas de enfrentamento. São Paulo, Summus, 2014.
• PAULO, B. M. (Org.). Psicologia na prática jurídica: a criança em foco. Niterói:
Impetus, 2009.
• SERAFIM, Antonio Pádua e SAFFI, Fabiana. (ORGS) Psicologia e práticas
forenses. 2ª ed. rev e ampl - Barueri; SP: Manoele,2014
Plano de Ensino Psicologia Jurídica – terça-feira / 2023.1
Dia Conteúdo
Fer 28 Apresentação do plano de curso, objetivos e atividades. Diagnose da turma. UNIDADE 1. Histórico da
Psicologia jurídica - 1.1. Psicologia Jurídica: limite de um campo de saber e de uma prática
Mar 07 1.2. Histórico e fundamentação teórica

14 1.3. A importância do trabalho em equipe multiprofissional na justiça .

21 UNIDADE 2. Psicologia Jurídica nas Varas de Família - 2.1. Perspectivas da atuação do psicólogo nas Varas
de Família
28 2.2. Famílias em litígio: separações e transformações

Abr 04 2.3. Mediação de conflitos e a atuação do psicólogo

11 Referências técnicas para atuação do psicólogo nas varas de família;


https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2019/11/BR84-CFP-RefTec-VarasDeFamilia_web1.pdf
18 Revisão de conteúdos

25 Atividade avaliativa de A1

Mai 02 UNIDADE 3. Psicologia Jurídica nas Varas de Infância e Juventude - 3.1. Psicologia nas Varas da Infância e
Juventude
Referências técnicas para atuação do psicólogo na rede de proteção às crianças e adolescentes em
situação de violência:
https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2020/06/REFERE%CC%82NCIAS-TE%CC%81CNICAS-PARA-
ATUAC%CC%A7A%CC%83O-DE-PSICO%CC%81LOGASOS-NA-REDE-DE-PROTEC%CC%A7A%CC%83O-
A%CC%80S-CRIANC%CC%A7AS-E-ADOLESCENTES-EM-SITUAC%CC%A7A%CC%83O-DE-
VIOLE%CC%82NCIA-SEXUAL.pdf
09 3.2. Adolescentes em conflito com a Lei
Plano de Ensino Psicologia Jurídica – Terça-feira / 2023.1

Dia Conteúdo
16 3.3. Inimputabilidade e menoridade: O Código de Menores de 79 e o Estatuto da Criança e do
Adolescente.
23 Referências técnicas para atuação do psicólogo em medidas socioeducativas:
https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2021/12/rt_crepop_medidas_socioeducativas_2021.pdf

30 UNIDADE 4. Psicologia Jurídica nas Varas Criminais - 4.1. Criminoso e a imputabilidade.

Jun 07 4.2. Lei de Execução Penal

14 4.3. Psicologia no Sistema Penitenciário

21 Referências técnicas para atuação do psicólogo no sistema prisional:


https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2021/04/Refer%C3%AAncias-T%C3%A9cnicas-para-
Atua%C3%A7%C3%A3o-dasos-Psic%C3%B3logasos-no-Sistema-Prisional-FINAL.pdf
28 Revisão de conteúdos

Jul 04 A2

11 A3
UNIDADE 1. Histórico da Psicologia jurídica

1.1. Psicologia Jurídica: limite de um campo de saber e de uma prática


1.2. Histórico e fundamentação teórica
1.3. A importância do trabalho em equipe multiprofissional na justiça .
1.1. Psicologia Jurídica:
limite de um campo de saber e de
uma prática
1.1. Psicologia Jurídica: limite de um campo
de saber e de uma prática
• Segundo destaca Sacramento (2019), o Direito e a Psicologia se
aproximaram em razão da preocupação de ambos com a conduta
humana. Assim, as questões humanas tratadas no âmbito do Direito e
do Judiciário são muito complexas. Para os que têm alguma
experiência na área fica claro que as demandas não são meramente
burocráticas ou processuais. Elas revelam situações delicadas, difíceis
e dolorosas.
1.1. Psicologia Jurídica: limite de um
campo de saber e de uma prática
• Para Sacramento (2019), a Psicologia jurídica se dá na aplicabilidade
dos conhecimentos psicológicos à temas relacionados ao direito. Essa
área de especialidade pretende compreender e desconstruir os
conflitos levados ao Judiciário, às vezes aparentemente insolúveis,
mediante aproximações com as pessoas e dinâmicas escondidas
nelas. Reconhecendo que a maioria das demandas do Judiciário são
complexas e envolvem diversas dimensões, o psicólogo jurídico é
convocado a trabalhar sobretudo de maneira interdisciplinar, a fim de
observar os conjuntos de fatores sociais e emocionais intrincados que
tornam aqueles indivíduos e aquelas circunstâncias particulares, em
cada atendimento realizado.
1.1. Psicologia Jurídica: limite de um campo
de saber e de uma prática
• A quase totalidade das questões jurídicas está relacionada à conduta humana, de cuja
determinação dependem as decisões judiciais que, ao incidirem na vida do indivíduo,
promovem alterações na sua vida social, no seu patrimônio e no seu comportamento.
Diante desta realidade e da crescente demanda oriunda do poder judiciário, em busca
de laudos, perícias, mediações e consultorias, a Psicologia Jurídica cresce como uma das
áreas mais promissoras para a atuação de Psicólogos.
• Os ramos do Direito que frequentemente demandam a participação do Psicólogo são:
Direito da Família, Direito da Criança e do Adolescente, Direito Civil, Direito Penal e
Direito do Trabalho. Todavia, o campo abrange uma indeterminada gama de subdivisões
de áreas e formas de atuação.
1.1. Psicologia Jurídica: limite de um campo
de saber e de uma prática
• Direito e Psicologia tratam do mesmo objeto, ou seja, o comportamento humano. Ou
seja, o DIREITO, é entendido como o conjunto de regras que busca regular esse
comportamento, delimitando condutas, via as Leis e formas de solucionar conflitos.
A PSICOLOGIA, compreender este mesmo comportamento, que o Direito regula e
delimita. A Psicologia entende a singularidade, a subjetividade do ser humano, de
acordo com cada caso. Já o sujeito do Direto é um sujeito consciente, que segue ou
não as leis estabelecidas pelo ordenamento jurídico, de acordo com sua sanidade ou
não ou seu desejo ou não de cumpri-lo.
1.1. Psicologia Jurídica: limite de um campo
de saber e de uma prática
• A história da atuação de psicólogos brasileiros na área Jurídica
iniciou no reconhecimento da profissão, década de 1960. Tal
inserção ocorreu lenta, muitas vezes de maneira informal, por
meio de trabalhos voluntários. Os primeiros trabalhos ocorreram
na área criminal, enfocando estudos acerca de adultos criminosos
e adolescentes infratores da lei (Rovinski, 2002). O trabalho do
psicólogo no sistema penitenciário existia, ainda que não
oficialmente, em alguns estados brasileiros há pelo menos 40
anos. Contudo, foi a partir da promulgação da Lei de Execução
Penal (Lei Federal nº 7.210/84), que o psicólogo passou a ser
reconhecido legalmente pela instituição penitenciária
(Fernandes, 1998).
1.1. Psicologia Jurídica: limite de um campo
de saber e de uma prática
Para Brito (2005), os psicodiagnósticos eram vistos como instrumentos
matematicamente comprováveis para a orientação dos operadores do Direito.
Inicialmente, a Psicologia era identificada como uma prática voltada para a
realização de exames e avaliações, buscando identificações por meio de
diagnósticos. Essa época, marcada pela inauguração do uso dos testes
psicológicos, fez com que o psicólogo fosse visto como um testólogo, como na
verdade o foi na primeira metade do século XX (Gromth-Marnat, 1999).
Psicólogos da Alemanha e França desenvolveram trabalhos empírico-
experimentais sobre o testemunho e sua participação nos processos judiciais.
Estudos acerca dos sistemas de interrogatório, os fatos delitivos, a detecção
de falsos testemunhos, as amnésias simuladas e os testemunhos de crianças
impulsionaram a ascensão da então denominada Psicologia do Testemunho
(Garrido, 1994).
1.1. Psicologia Jurídica: limite de um campo
de saber e de uma prática
• Atualmente, o psicólogo utiliza estratégias de avaliação psicológica,
com objetivos bem definidos, para encontrar respostas para solução
de problemas. A testagem pode ser um passo importante do
processo, mas constitui apenas um dos recursos de avaliação (Cunha,
2000).
• Também se deve destacar a Neuropsicologia forense, pois a
Neuropsicologia e a Psiquiatria Forenses tem recebido grande
atenção recentemente, muito provável pelas diversas situações em
que os neuropsicólogos tem sido chamados a atuar, bem como pelo
grande número de colegas que estão atuando como peritos judiciais
(Serafim, 2015).
1.1. Psicologia Jurídica: limite de um campo
de saber e de uma prática
• Esse histórico inicial reforça a aproximação da Psicologia e
do Direito pela área criminal e a importância dada à
avaliação psicológica. Porém, não era apenas no campo
do Direito Penal que existia a demanda pelo trabalho dos
psicólogos. Outro campo em ascensão até os dias atuais é
a participação do psicólogo nos processos de Direito Civil.

• Ainda no Direito Civil, destaca-se o Direito da Infância e


Juventude, área em que o psicólogo iniciou sua atuação
no então denominado Juizado de Menores. Apesar das
particularidades de cada estado brasileiro, a tarefa dos
setores de psicologia era, basicamente, a perícia
psicológica nos processos cíveis, de crime e,
eventualmente, nos processos de adoção
1.1. Psicologia Jurídica: limite de um campo
de saber e de uma prática

• Os ramos do Direito que frequentemente demandam a


participação do psicólogo são: Direito da Família, Direito da
Criança e do Adolescente, Direito Civil, Direito Penal e Direito
do Trabalho.
1.1. Psicologia Jurídica: limite de um campo
de saber e de uma prática
• A definição de Psicologia Jurídica e de seu objeto de estudo suscita a
mesma inquietação de se definir, praticamente, todas as áreas das ciências
humanas. Contudo, temos a definição dada pelo Colégio Oficial de
Psicólogos de Madri, que diz que a Psicologia Jurídica é “um campo de
trabalho e investigação psicológica especializada cujo objeto é o estudo do
comportamento dos atores jurídicos no âmbito do Direito, da Lei e da
Justiça” (Colégio Oficial de Psicólogos da Espanha, 1998).

• Cadernos de Psicologia Jurídica : Psicologia na prática jurídica. [Recursos Eletrônico]. /


Associação Brasileira de Psicologia Jurídica. - São Luís: UNICEUMA, 2019.
1.1. Psicologia Jurídica: limite de um campo
de saber e de uma prática
• Para Popolo (1996), a Psicologia Jurídica...
É o estudo, dentro da perspectiva psicológica, de condutas complexas e
que, de forma atual ou potencial, têm interesse jurídico, de maneira a
possibilitar sua descrição, análise, compreensão, crítica e eventual
atuação sobre elas, em função do jurídico. (POPOLO, 1996 apud
FRANCA, 2004 p. 74).
1.1. Psicologia Jurídica: limite de um campo
de saber e de uma prática
• O Psicólogo Jurídico trabalha no paradigma da interdisciplinaridade, que
pressupõe que as demandas atendidas no âmbito da Justiça são complexas e
precisam ser conhecidas em suas diversas dimensões, objetiva e subjetivamente.
A intervenção de uma equipe interprofissional implica reconhecer o indivíduo
como um sujeito singular, conhecendo o conjunto de suas características pessoais
e sociais, a partir da especificidade da atuação de cada profissão. Isto se
exemplifica na atuação na área da Infância e Adolescência, o qual geralmente,
atua em conjunto com profissionais do Serviço Social. Já na área Criminal, em que
a atuação também se associa ao Psiquiatra, que pelo Código Penal é quem tem
precedência para atuação na área.
1.1. Psicologia Jurídica: limite de um campo
de saber e de uma prática
• Os Psicólogos Jurídicos não são somente aqueles que exercem sua
prática profissional nos Tribunais, mas também os que trabalham com
questões diretamente relacionadas ao sistema de Justiça. Tem sido
comum encontrar Psicólogos que atuam em consultórios clínicos e,
por vezes, são convidados ou solicitados a emitir pareceres que serão
anexados a processos, estes são denominados Assistentes Técnicos ou
Peritos Parciais.
1.1. Psicologia Jurídica: limite de um campo
de saber e de uma prática
• Na Psicologia Jurídica há uma predominância das atividades de confecções de
laudos, pareceres e relatórios, pressupondo-se que compete à Psicologia uma
atividade de cunho avaliativo e de subsídio aos magistrados. Cabe ressaltar que o
Psicólogo, ao concluir o processo da avaliação, pode e deve recomendar soluções
para os conflitos apresentados, mas jamais deve determinar os procedimentos
jurídicos que deverão ser tomados. Ao juiz sim, cabe a decisão judicial, não
compete ao Psicólogo incumbir-se desta tarefa. É preciso deixar clara esta
distinção, reforçando a ideia de que o Psicólogo não decide, apenas conclui a
partir dos dados levantados mediante a avaliação e pode, assim, sugerir e/ou
indicar possibilidades de solução da questão apresentada pelo litígio judicial.
1.1. Psicologia Jurídica: limite de um campo
de saber e de uma prática
Psicologia Jurídica
Investigação, formação e ética em questões sociais e legais, relação entre
direito e psicologia, pesquisa em psicologia jurídica.
Psicologia Criminal
Trata do fenômeno delinquencial, das relações entre Direito e Psicologia e
intervenção junto aos Juizados Especiais Criminais, perícia, insanidade mental
e crime, estudo sobre o crime, trabalho com egressos, penas alternativas
(penas de prestação de serviço à comunidade).
Psicologia Penitenciária ou Carcerária
Trata de estudos dos re-educandos, intervenção junto ao recluso, prevenção
de DST/AIDS junto à população carcerária, atuação do psicólogo, trabalho
com agentes de segurança, stress em agentes de segurança penitenciária.
1.1. Psicologia Jurídica: limite de um
campo de saber e de uma prática
Psicologia Jurídica e Direito de Família
Na Vara de Família, as questões de separação, paternidade,
legislação, acompanhar visitas, perícia, disputa de guarda,
atuação do assistente técnico.
Psicologia do Testemunho
Atua no caso de falsas memórias em depoimentos de
testemunhas.
Psicologia Jurídica e Direito Civil
Acidentes de trabalho, psicologia e judiciário.
1.1. Psicologia Jurídica: limite de um campo
de saber e de uma prática
Psicologia Policial/Militar
Avaliação pericial em instituição militar, implantação do
curso de direitos humanos para policiais civis e
militares.
Proteção à Testemunha
Trabalho multidisciplinar em programa de apoio e
proteção a testemunhas, vítimas de violência e seus
familiares.
Autópsia Psicológica
Avaliação retrospectiva mediante informações de
terceiros
1.2. Histórico e fundamentação teórica
Gregos
• Período anterior a era cristã (700 a.C.), os filósofos pré-socráticos
procuravam entender a relação do homem com o mundo pela percepção.
• Sócrates (469 – 399 a.C.) preocupou-se com o que separa o homem dos
animais – a razão.
• Platão (427 – 347 a.C.) definiu o lugar da razão no corpo (cabeça) onde há a
alma que era ligada ao corpo pela medula. Alma separada do corpo.
• Aristóteles (384 – 322 a.C.) alma e corpo não podem ser dissociados.
Psyché ou alma seria o principio ativo da vida. Tudo que tem vida tem
alma.
1.2. Histórico e fundamentação teórica
Império Romano e Idade Média
• O império romano surge e domina o grego, e uma das principais
características é o cristianismo como força religiosa que domina a
política.

• Mesmo com as invasões bárbaras (por volta de 400 d.C.) o


cristianismo sobrevive e se fortalece como religião principal da Idade
Média.

• A psicologia nesse período é relacionada ao conhecimento religioso,


pois o poder politico, econômico e o saber são de sua propriedade
1.2. Histórico e fundamentação teórica
Renascimento

• No século XV, época do mercantilismo e descobertas, avanços


científicos com Copérnico, Galileu e Descartes; na arte com Da Vinci,
Boticelli e Michelangelo etc...

• As ideias renascem!
1.2. Histórico e fundamentação teórica
Século XIX
• Avanço da ciência, nova ordem econômica (capitalismo)...
• Industrialização e Revolução industrial.
• A nobreza empobrece e a burguesia enriquece.
• Os dogmas da igreja são questionados, o conhecimento se
torna independente da fé.
• Surge Hegel com a importância da história para entendê-lo.
• Darwin surge com o evolucionismo.
• Os problemas humanos da “mente” além de serem estudados
pelos filósofos, passam a ser estudado pela neurologia e
filosofia.
• O homem é entendido com uma máquina exatamente como o
mundo era visto como um relógio.
1.2. Histórico e fundamentação teórica
• Assim, para conhecer o psiquismo humano, era preciso conhecer os
mecanismos e o funcionamento da maquina de pensar – o cérebro.
Dai, a psicologia trilha o caminho pela fisiologia, neuroanatomia e
neurofisiologia
• O status de ciência é obtido a medida que se libera da filosofia, com
Wilhelm Wundt (1832 – 1926).
• Define seu objeto de estudo – o comportamento, a vida psíquica, a
consciência
• Formula método de estudo desse objeto.
• Formula teorias
1.2. Histórico e fundamentação teórica
• No sentido mais amplo, o objeto de estudo da psicologia é o homem.

• A subjetividade humana é a síntese singular e individual que cada um


constrói conforme se desenvolve e vivencia as experiências da vida social e
cultural; é uma síntese que identifica, de um lado, por ser única, e iguala,
de outro, na medida em que os elementos que a constituem são
experienciados no campo comum da objetividade social.

• A subjetividade é o mundo das ideias, significados e emoções construídos


internamente pelo sujeito a partir de suas relações sociais, de suas
vivencias e de sua constituição biológica, é fonte de suas manifestações
afetivas e comportamentais.
1.2. Histórico e fundamentação teórica
O Primórdio da Psicologia aplicada ao Direito
• A primeira articulação entre a Ciência Psicológica – século XIX:
avaliação da fidedignidade de testemunhos (Influência da
Psicologia Experimental).
• Estudos sobre memória, sensação e percepção no exame dos
testemunhos – Laboratórios de Psicologia Experimental.
• Cinco fatores para avaliação do testemunho:
(Mira Y López 1896/1964)
1. Modo como a pessoa percebeu o evento.
2. Modo como a memória o conservou.
3. Modo como a pessoa é capaz de evocá-lo.
4. Modo como quer evocá-lo.
5. Modo de expressá-lo.
1.2. Histórico e fundamentação teórica
• Final do séc. XIX e Séc. XX
• Perícia Psiquiátrica sobre a responsabilidade penal de adultos – solicitação
de avaliação psicológica (utilização de testes psicológicos – psicométricos).

• Neste período não apenas na área jurídica, mas em outros campos, como a
Clínica, Psicologia Escolar e Industrial predominam as práticas de avaliação
e diagnóstico psicológico.
1.2. Histórico e fundamentação teórica
• Segunda Metade do Século XX
• Com o reconhecimento da profissão na década de 60 do século
XX, novas atribuições e práticas foram se incorporando à
Psicologia, principalmente em interface com outras Ciências e
saberes.
• Décadas de 1970 e 1980 – primeiros registros de trabalhos de
psicólogos em instituições de Justiça no Brasil (perícia
terceirizada): saturação do mercado em Psicologia Clínica.
• 1985: 1o. Concurso público em São Paulo.
• Início da Década de 90 – luta dos psicólogos para criação do
cargo junto ao Poder Judiciário.
• 2000: Título de Especialista em Psicologia Jurídica pelo CFP:
atividades relacionadas ao contexto das organizações de
Justiça, incluindo organizações que integram os poderes
Judiciário, Executivo e o Ministério Público.
1.2. Histórico e fundamentação teórica
• A Psicologia Jurídica na Atualidade
• Hoje a Psicologia Jurídica não se restringe à elaboração de psicodiagnóstico
ou identificação de psicopatologias.
• Presente em quase todos os Tribunais de Justiça dos Estados do país, em
vários espaços de atuação: Varas de Família, Infância e Juventude, Execução
Penal, etc.
• Necessidade de compreender todos os condicionantes sociais e culturais
constitutivos da subjetividade humana, rompendo com a lógica
estritamente individual (intrapsíquica) que caracterizava a realização de
perícias psicológicas.
• Psicologia Jurídica: um novo olhar aos problemas do Direito e da Lei: “o
psicólogo (...) vai interpretar para os operadores do Direito a situação que
está sendo observada, ou ainda recontar o fato, a partir de um outro
referencial”
• “Colaborar com os que chegam ao Sistema de Justiça para que possam
compreender seu lugar subjetivo, seu vínculo com a sociedade, assim (...)
sugere uma função comprometida com esses sujeitos de direito” (Brito,
205, p. 15). – Não se converter em juízes ocultos – determinar sentenças.
1.2. Histórico e fundamentação teórica

A Psicologia Forense tem como um de seus possíveis


marcos de nascimento o ano de 1911, no “Tribunal de
Flandes” (Bélgica), quando um juiz convocou um
especialista (que usou de um saber diferente do
universo do Direito) para gerar um laudo pertinente à
validade do testemunho de crianças sobre um caso de
homicídio. (SAUNIER, 2002, p. 29).

Fonte: https://jus.com.br/artigos/61689/pericia-psicologica-forense-contextualizacao-e-metodos
• No Brasil, os primeiros registros da atuação de psicólogos
na área forense remontam ao ano de 1930, com as
atividades desenvolvidas pelo psicólogo polonês Waclaw
Radecki (1887-1953), no Laboratório de Psicologia da
“Colônia de Psicopatas de Engenho de Dentro”, no Rio de
Janeiro (CENTOFANTI, 2003).
• Pelo Decreto n.º 379, de 15 de Outubro de 1935, a nova
instituição recebeu o nome de "Colônia Juliano Moreira",
em substituição ao nome de Colônia de Psicopatas -
Homens. O Hospício era, neste momento, um local que
"calava" teimosos ou desagradáveis contraditores
existentes devido às mudanças causadas pela Intentona
Comunista e o clima de perseguição política aos direitos
individuais.
• Colônia Juliano Moreira, 1930

(1873-1933) baiano, médico


psiquiatra, frequentemente
considerado como o fundador da
disciplina psiquiátrica e da
psicanálise pelos avanços que ele
promovidos. Primeiro professor
universitário brasileiro a citar e
incorporar a teoria psicanalítica
no ensino da medicina.
1.2. Histórico e fundamentação teórica
Em 1943 com a desativação das instalações do antigo Hospício
Nacional de Alienados e sua incorporação pela Universidade do Brasil,
inclusive o Pavilhão de Observação e Diagnóstico, passou a se
denominar Instituto de Psicopatologia, onde atualmente é o Instituto
de Psiquiatria da UFRJ.
1.2. Histórico e fundamentação teórica
1.2. Histórico e fundamentação
teórica
O “Manual de Psicologia Jurídica”, de Myra y
Lopez (1896/Cuba - 1964/Petrópolis), lançado
no Brasil em 1955, é considerado uma das
primeiras produções acadêmicas que aponta a
relação entre a Psicologia e o Direito no Brasil.

Nesse momento histórico, as áreas de atuação


dos psicólogos forenses eram direcionadas
apenas ao estudo de questões criminais. O
profissional da Psicologia Forense atuava com
o objetivo de gerar uma compreensão sobre a
conduta humana ligada ao delito, apontando
as motivações e, quando possível, a
possibilidade de reincidência do agente no ato
criminoso.
1.2. Histórico e fundamentação teórica

• No Brasil, a atuação do psicólogo na área jurídica teve seu início


marcado pelo enfoque tradicional, da aplicação da Psicologia
Científica ao Direito Positivo, postulado nos códigos legais.

• A ideia de que todo o Direito, ou grande parte dele, está impregnado


de componentes psicológicos, justifica a colaboração da Psicologia
com o propósito de obtenção de eficácia jurídica (BRITO, 1993: 24).
1.2. Histórico e fundamentação teórica
• Psicologia Jurídica é uma das denominações para nomear essa
área da Psicologia que se relaciona com o sistema de justiça.
• No Brasil, o termo Psicologia Jurídica é o mais adotado.
Entretanto há profissionais que preferem a denominação
Psicologia Forense. O adjetivo “jurídica” é mais abrangente.
Para o autor do Dicionário Prático de Língua Portuguesa, o
termo forense é “relativo ao foro judicial. Relativo aos
tribunais”. De acordo com o mesmo dicionário, a palavra
“jurídico” é concernente ao Direito, conforme às ciências do
Direito e aos seus preceitos. Assim, a palavra “jurídica” torna-
se mais abrangente por referir-se aos procedimentos ocorridos
nos tribunais, bem como àqueles que são fruto da decisão
judicial ou ainda àqueles que são de interesse do jurídico ou do
Direito.
1.2. Histórico e fundamentação teórica

• Popolo (1996, p. 21) entende ser Psicologia Jurídica

"El estudio desde la perspectiva psicológica de conductas complejas y


significativas en forma actual o potencial para o jurídico, a los efectos
de su descripción, análisis, comprensión, crítica y eventual actuación
sobre ellas, en función de lo jurídico".
1.2. Histórico e fundamentação teórica
A Psicologia Jurídica é uma área de especialidade da Psicologia e,
por essa razão, o estudo desenvolvido nessa área deve possuir
uma perspectiva psicológica que resultará num conhecimento
específico. No entanto, pode-se valer de todo o conhecimento
produzido pela ciência psicológica. O objeto de estudo da
Psicologia Jurídica são os comportamentos complexos (condutas
complexas) que ocorrem ou podem vir a ocorrer. Esses
comportamentos devem ser de interesse do jurídico. Este
recorte delimita e qualifica a ação da Psicologia como Jurídica,
pois estudar comportamentos é uma das tarefas da Psicologia.
Por jurídico, compreende as atividades realizadas por psicólogos
nos tribunais e fora dele, as quais dariam aporte ao mundo do
direito. Portanto, a especificidade da Psicologia Jurídica ocorre
nesse campo de interseção com o jurídico. (Popolo, 1996)
1.2. Histórico e fundamentação teórica
Fundamentações teórica e a busca da compreensão da realidade
• O poder do inconsciente e a estrutura psíquica pela psicanálise.
• A visão psicossocial do desenvolvimento pelos cuidados maternos, o
social e a percepção.
• A motivação como força de redução de tensão e satisfação de
necessidades
1.2. Histórico e fundamentação teórica
• O comportamento condicionado, operante, respondente e punição
dos behavioristas.
• A abordagem cognitiva das crenças e avaliações.
• A importância dos modelos pela visão sistêmica, subsistemas de
conflitos e alianças, sistemas sociais, ciclos vitais e conteúdo da
comunicação.
1.3. A importância do trabalho em equipe
multiprofissional na justiça .
• Valorizado nos meios judiciários e acadêmicos, a chamada "a ciência do novo
século", a Psicologia Jurídica traz para as salas de audiência e julgamento o
elemento humano, como complemento ao tecnicismo das leis jurídicas. A ciência
busca contribuições da Psicologia, bem como da Sociologia, da Assistência
Social, da Medicina, da Psiquiatria e outras áreas do conhecimento, para a
humanização do Direito para promover justiça social.
• A "Associação Ibero-americana de Psicologia Jurídica" concentra os movimentos
em torno dessa ‘ciência’ em doze países - Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba,
Espanha, Estados Unidos, México, Paraguai, Portugal, Uruguai e Venezuela.
Criada há mais de cinco anos, só em agosto de 1997 a Associação instalou uma
subsede no Brasil.
1.3. A importância do trabalho em equipe
multiprofissional na justiça .
• A psicologia trabalha com as questões psíquicas, elaborada pelo
indivíduo a partir dos conteúdos armazenados da história na mente.
• António Damásio (chefe do departamento de neurologia da
Universidade do Iowa), sintetizou a complexidade da investigação
psicológica, quando afirmou que
"as vezes, usamos nossa mente não para descobrir fatos, mas para
encobri-los ... ainda que nem sempre de maneira intencional”
(DAMÁSIO, 2000, p. 49)
1.3. A importância do trabalho em equipe
multiprofissional na justiça .
• Sem corpo não há mente, ensina Damásio (2004, p. 226),
contrariando Descartes (penso, logo, existo). Para a Ciência, e a
psicologia, em particular, reconhecer que o humano constitui uma
entidade total que inclui o corpo e a mente, na qual "o cérebro é a
audiência cativa do corpo" (DAMASIO, 2000, p. 196), estimula
reflexões conceituais e metodológicas de grande significado para o
entendimento dos mecanismos que comandam o comportamento.
• O cérebro é o palco das funções mentais superiores; o que a mente
comanda não ultrapassa os limites de funcionamento das estruturas
cerebrais e as possibilidades dessas funções, por meio do
processamento do que ali se encontra armazenado.
1.3. A importância do trabalho em
equipe multiprofissional na justiça .

Psicologia jurídica - Fiorelli, J. O.; Mangini, R. C. R. - 6. ed. - Sáo Paulo: Atlas, 2015.
1.3. A importância do trabalho em
equipe multiprofissional na justiça .
• As equipes multidisciplinares formadas por psicólogos, assistentes sociais e
pedagogos, se deparam diariamente com situações de pessoas mutiladas em sua
dignidade, pelo abandono, desprezo, sofridas e com sentimento de impotência;
fruto de situações e condições oriundas de relações sociais de submissão,
opressão, exploração, violência e também de risco social (CNJ, 2014).

• Em março de 2017, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) instituiu a Política


Judiciária Nacional de Combate à Violência contra as Mulheres por meio da
Portaria nº 15, que prevê as diretrizes para a atuação do Poder Judiciário com
base na legislação brasileira atual e nas normas internacionais. Entre os pontos
do documento – assinado pela presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal,
a Ministra Cármen Lúcia – está justamente a instalação das varas e juizados
especializados nos Estados com a atuação da equipe multidisciplinar.
1.3. A importância do trabalho em
equipe multiprofissional na justiça .
• O Depoimento Especial, anteriormente o Depoimento Sem Dano
(DSD), é um procedimento relativamente recente e foco de
discussões em diversas instituições, inclusive nos próprios Conselhos
Regionais e Federal de Psicologia.
• Com a promulgação da Lei de número 13.431/2017, este passou a ser
percebido como método preferível para audiências de processos de
estupro de vulnerável, podendo ser realizado por profissionais da
Psicologia, do Serviço Social ou do Comissariado da Infância.
1.3. A importância do trabalho em
equipe multiprofissional na justiça .
• LEI Nº 13.431, DE 4 DE ABRIL DE 2017. Estabelece o sistema de
garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou
testemunha de violência e altera a Lei no 8.069, de 13 de julho de
1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).

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