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UNIDADE 2.

Psicologia Jurídica nas Varas de


Família
2.1. Perspectivas da atuação do psicólogo nas Varas de
Família
2.2. Famílias em litígio: separações e transformações
2.3. Mediação de conflitos e a atuação do psicólogo
2.1. Perspectivas da atuação do psicólogo nas
Varas de Família

• Se existe amor, há também esperança de existirem verdadeiras


famílias, verdadeira fraternidade, verdadeira igualdade e verdadeira
paz. Dalai Lama
Etimologia de “família” Família tem origem
no latim FAMILIA, e significava “grupo
domestico” ou o conjunto das propriedades
de alguém, isso incluía os escravos e os
servos.

Família deriva de FAMULUS ou FAMULI no


plural, e significava “Servo ou escravo
doméstico”.
• Na prática decorrente da rotina de trabalho do psicólogo junto ao Tribunal
de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, diversas são as diretrizes e
regulamentações tanto da instituição quanto dos Conselhos Regionais e
Federal.
• No Aviso de nº 1247, a Corregedoria Geral da Justiça (2016) resolve pelo
estabelecimento de certos limites quanto ao escopo das atuações dos
‘Analistas Judiciários’ Psicólogo. Estabelece que: “É vedada a realização de
atendimento às partes visando psicoterapia dentro no âmbito do
processo judicial.”
• Assim, observadas tais demandas ao longo da interação com crianças e
adolescentes atendidos por ocasião de depoimentos especiais, deve-se
encaminhá-las à rede de proteção do município.
• Para Sacramento (2019), a função desse ramo da profissão é a de auxiliar o
Direito na busca de soluções exteriores à esfera de conhecimento deste. Ao se
posicionar em um manifesto acerca do depoimento especial, a Associação
Brasileira de Psicologia Jurídica (2016) contempla o arcabouço da Psicologia:
Processos mentais, dinâmicas de violência, desenvolvimento humano e técnicas
de entrevista.
• Este tipo de procedimento é, de fato, uma das atribuições do psicólogo jurídico, o
que fundamenta sua condição de explicitamente favorável à realização dessa
prática por estes profissionais. Já em relação ao aparato técnico e teórico
utilizado por cada psicólogo em suas atividades, podem ser feitas algumas
observações dado a diversidade das mesmas.
2.1. Perspectivas da atuação do psicólogo nas
Varas de Família
• Antropologia: existem 3 tipos básicos
de família:

Família tradicional: geralmente


numerosa, centrada na autoridade do
patriarca, mais comum até a primeira
metade do século passado (sec XX).
Eram considerados "familiares" não
estava só os pais e filhos, mas todo o
entorno familiar (avós, tios, primos,
etc), onde as relações se baseavam nos
conceitos morais e autoritários da
época.
2.1. Perspectivas da atuação do psicólogo nas
Varas de Família
• Família nuclear, ou psicológica: surgida a partir da metade do século
XX, basicamente com pai, mãe e poucos filhos. As relações não são
mais tão autoritárias, e o conceito de família engloba um núcleo mais
caseiro.

• Família pós-moderna: surgiu mais recentemente, em que não


existem regras básicas de parentesco. Filhos morando com só um dos
pais (devido ao divórcio), casais sem filhos, uniões homossexuais, etc.
Para alguns, não é um estilo de família, mas justamente a falta de um
"estilo" pré-determindo.
2.1. Perspectivas da atuação do psicólogo nas
Varas de Família
• Monogamia
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família
• Poligamia: é um sistema onde o
homem/mulher tem mais de um
parceiro/a ao mesmo tempo.

• É um termo de origem grega,


que significa muitos
casamentos.
Poliginia: casamento de um homem com
varias mulheres
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família

Poliandria: casamento de uma


mulher com vários homens,
ao mesmo tempo.
Tipos raros de casamento no mundo
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família
• No estudo em psicopatologia, há questões que devem ser
valorizados quanto a cultura e sociedade sobre o que é
patológico ou não. Uma destas questões se refere ao
casamento.
• O casamento conhecido em nossa cultura é algo recente na
história, tendo ocorrido como sacralizado pela igreja por volta
do século XII e, no século XIII é normatizado pela moral cristã
com o rigor monogâmico e indissolúvel. Há, espalhado pelo
mundo, vários tipos de casamento: 1 - irmãos dividindo
esposa; 2 - homens não irmãos dividindo esposa; 3 - vila
feminina; 4 - casamento grupal; 5 - casamento complexo; 6 -
irmãos gêmeos dividindo esposa; 6 - pai e filho dividindo
esposa; 7 - mãe e filha dividindo marido; 8 - monogamia; 9 -
poligamia (poliginia - um home com varias mulheres; e
poliandria - uma mulher com vários homens).
2.1. Perspectivas da atuação do psicólogo
nas Varas de Família
• A prática do psicólogo em Varas de Família exige o conhecimento básico dos
códigos jurídicos que regulam as famílias no Brasil. As razões de tamanha,
obrigação não são poucas. Em primeiro lugar, 'há necessidade de um código
compartilhado entre o psicólogo e os demais membros da equipe
interprofissional, incluídos os operadores de Direito. E de conhecimento comum
que. os arranjos amorosos e familiares com que esses operadores se.
surpreendem hoje em dia levam a um a interlocução do Direito com outros
saberes. Sem o respaldo da equipe interprofissional, a ação do Juiz é
insuficiente para regular as relações entre os sexos e de parentesco.
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família
• Com o Código Civil Brasileiro de
1916, consolida-se a definição de
família como sendo a união
legalmente constituída pela via do
casamento civil. A conformidade ao
modelo jurídico de família é o que
torna as relações entre os sexos
legítimas ou não. Desse, modo,
convém observar nessa definição de
família a defesa do casamento e o
repúdio do legislador ao
concubinato. No Código de 1916, o
modelo jurídico de família está
fundamentado em uma concepção
de origem romano-cristã.
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família
• A família é vista como núcleo fundamental da sociedade, legalizada através da
ação do Estado, composta por pai, mãe e filhos (família nuclear) e,
secundariamente, por outros membros ligados, por laços consanguíneos ou de
dependência (família extensa). Ao mesmo tempo , ela organiza-se num modelo
hierárquico que tem o homem como o seu chefe (família patriarcal). O homem é
o chefe da sociedade conjugal e da administração dos bens comuns do casal e
particulares da mulher, bem como detentor da autoridade sobre os filhos e
representante legal da família. Por sua vez, a mulher casada é considerada
relativamente incapaz, em oposição à situação jurídica da mulher solteira maior
de idade. Essa incapacidade retira da mulher o poder de decidir sobre a prole e o
patrimônio, cuja competência pertence ao homem. A mulher casada precisa de
autorização do seu marido para exercer profissão, para comerciar, além de estar
fixada ao domicílio decidido por ele. Os compromissos que assumir sem
autorização marital não te m ‘eficácia jurídica.
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família
• De 1946 a 1964, caracterizado politicamente como democrático,
destacam-se a lei de reconhecimento de filhos ilegítimos (lei 883/49)
e o "Estatuto da mulher casada” de 1962, que outorga capacidade
jurídica plena à mulher. Com este Estatuto, a decisão sobre a prole e o
patrimônio deixa de ser exclusividade do homem. Ele revoga a
incapacidade da mulher casada.
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família
• O movimento feminista, a introdução da mulher no mercado de
trabalho, a pílula anticoncepcional, a liberação sexual aliados aos
efeitos do chamado “milagre econômico”, marcado pela mobilidade
social ascendente dos setores médios da população, o
desenvolvimento industrial urbano e a abertura para o consumo, são
alguns dos fatores que colocam em xeque o modelo familiar
preconizado; pelas legislações, o que irá se refletir nas decisões
jurisprudenciais e nas propostas de reformulação do Código Civil.
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família
• E evidente que todo panorama de mudança nos anos 70 torna
extremamente frágil não apenas os deveres correlatos entre os sexos,
mas também o ideal de indissolubilidade do matrimônio. Vale
acrescentar que nessa época o Brasil estava em pleno regime militar,
sob a presidência do General Ernesto Geisel, cuja origem protestante
luterana admite o divórcio. Ademais, havia uma certa insatisfação
entre os militares na medida em que se obstruía a promoção dos
desquitados, chegando ao generalato e até mesmo à Presidência da
República, apenas os casados. Desse modo, eles influenciaram - ao
lado de uma gama imensa de desquitados com famílias recompostas -
o Poder Executivo com objetivo de legitimar e regular o fim do
casamento.
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família
• Em 26 de dezembro de 1977, é promulgada a Lei 6515, conhecida
como Lei do Divórcio, que regulamenta a dissolução da sociedade
conjugal e do casamento. A Lei do Divórcio abole o termo “desquite”
já tão culturalmente identificado no país e estabelece a possibilidade
de somente um divórcio por cidadão.
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família
• A força da definição dos papéis sexuais permanece e revela-se,
sobretudo, no tocante aos cuidados e educação dos filhos. Diz a lei,
no artigo 10, Iº, que “se pela separação forem responsáveis ambos os
cônjuges; os filhos menores ficarão em poder da mãe, salvo se o Juiz
verificar que tal solução possa advir prejuízo de ordem moral para
eles” . Em outras palavras, o cuidado em relação aos filhos é visto
naturalmente como sendo responsabilidade da mulher, independente
de qualquer outra condição, exceto a de ordem moral. A mulher
portanto só perde a guarda dos filhos caso se conduzir contra os
padrões morais, critério bastante nebuloso, vale dizer, de constatação
subjetiva e, ainda mais, deixada à aferição do juiz.
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família
• Significativas mudanças no que concerne aos direitos
e deveres familiares é a Constituição Federal de 1988.
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família
• Com a Constituição, o concubinato passa a adquirir proteção do
Estado, na condição de união estável (art.226 §3°). Com efeito, o
casamento deixa de ser a única forma legítima de constituição da
família, tal como era definida no Código Civil. O conceito de família
amplia-se na medida em que passa a legitimar a diversidade de
uniões existentes no contexto brasileiro.
• Não se pode mais falar em uma forma exclusiva de família, e sim
tratar da matéria no plural, passando-se a considerar também como
entidade familiar a relação extramatrimonial estável, entre um
homem e uma mulher, além daquela formada por qualquer dos
genitores e seus descendentes, a família monoparental (art.226 §3° e
§4°).
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família
• A admissão de novos arranjos amorosos e familiares fazem surgir
novos problemas, de modo que se torna cada vez mais necessário o
atendimento de equipes interdisciplinares junto às Varas de Família. A
Constituição elimina também a chefia familiar, determinando a
igualdade de direitos e deveres para ambos os cônjuges, homens e
mulheres (art.226, §5°). No artigo 5, parágrafo I’ está prescrito que
homens e mulheres são iguais perante a lei.
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família
• É nela que se encontram pela primeira vez no Brasil os direitos da
criança, expostos no artigo 227, a partir do conceito de proteção
integral e do entendimento da criança como sujeito de direitos.
Assim, diz a lei que “é dever da família, da sociedade e do Estado
assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão”. No mesmo artigo, §6°, ficam proibidas discriminações
entre filhos havidos dentro e fora do casamento e na adoção.
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família
• A Convenção Internacional situa no artigo 9 o direito da criança de ser
educada por seus dois pais, exceto quando o seu melhor interesse
torne necessária a separação. Contudo, mesmo na situação em que a
criança é separada da família, ela tem o direito de manter o contato
direto com os pais. Reafirmando tal perspectiva, o Estatuto da
Criança e do Adolescente dispõe o direito de a criança e o
adolescente serem criados e educados no seio da família; (art. 19) e
estabelece os deveres dos pais em relação aos filhos ..menores,
“cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e
fazer cumprir as determinações judiciais” (art.‘í22).
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família
• REFERÊNCIAS TÉCNICAS PARA A ATUAÇÃO DE
PSICÓLOGAS(OS) EM VARAS DE FAMÍLIA/CFP-
CREPOP,2019.
• A atuação de psicólogas(os) no Sistema de Justiça, em
especial no Poder Judiciário, é uma prática recente no
Brasil, afeita à Psicologia Jurídica reconhecida pelo
Conselho Federal de Psicologia (CFP) como uma área
especializada da Psicologia em 2000, por delimitar um
campo de saber próprio de atuação da(o) psicóloga(o)
no âmbito das questões e dos problemas jurídicos.
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família
• O recorte nas varas de família foi uma resposta à crescente demanda de
consultas e processos éticos em torno da atuação das(os) psicólogas(os)
neste âmbito, embora muitas questões extrapolem a matéria do Direito de
Família e dialoguem com concepções e conceitos advindos de conflitos
humanos relacionados à vida em família, tais como encontradas nas varas
da infância e da juventude, nas varas especiais de crimes contra a criança e
adolescente e de crimes contra a mulher, entre outras instâncias.
• A natureza das questões conflitivas das relações familiares, aliada à
complexidade das relações humanas contemporâneas, exigiu que o
exercício do Direito pudesse ser auxiliado por outras disciplinas, como a
Psicologia e o Serviço Social para compreender as manifestações
subjetivas, culturais e contextuais de um tempo que redefine as famílias, as
funções parentais e suas formas de exercer a proteção, educação e cuidado
com os filhos.
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família
• Partindo da premissa de que qualquer tema relacionado às famílias é
indissociável do contexto em que elas se encontram, considera-se crucial a
análise dos condicionantes sócio-históricos que perpassam as relações
estabelecidas entre os sujeitos, a Psicologia e o Sistema de Justiça. Desse modo,
considerar as novas estruturas familiares hoje presentes na sociedade é um dos
desafios colocados para a atuação da(o) psicóloga(o) no sistema de justiça.
• O conceito de família na contemporaneidade ampliou-se a partir da Constituição
Federal (1988) que legitimou a diversidade de uniões no contexto brasileiro e
determinou a igualdade de direitos para ambos os cônjuges, homens e mulheres.
Assim, a família monoparental foi legitimada reconhecendo-se também, como
entidade familiar, aquela composta por qualquer um dos pais e seus
descendentes (artigo 226, parágrafo 40).
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família
• De acordo com o censo demográfico do IBGE (2010) o conceito tradicional de
família, composta por um casal heterossexual com filhos, esteve presente em
49,9 % dos lares visitados, enquanto que em 50,1 % das vezes, a família ganhou
uma nova forma com o surgimento de novos arranjos e diferentes estruturações
familiares. Foram encontrados no Censo de 2010, dezenove tipos de parentesco
no Brasil, contra onze presentes no censo de 2000. As famílias homoafetivas já
somam sessenta mil, sendo 53,8 % delas formadas por mulheres. Mulheres que
vivem sozinhas são 3,4 milhões, enquanto que 10,1 milhões de famílias são
formadas por mães ou pais solteiros. Inclui-se a expansão da família pluriparental
ou recomposta que é a família formada por filhos provenientes de um casamento
ou relação anterior.
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família
• A sexualidade constitui um dos principais dispositivos de controle e
produção de subjetividade na sociedade ocidental. Desse modo,
acredita-se que seja fundamental para a Psicologia, na atualidade,
problematizar alguns de seus conceitos basais que organizam a forma
como entendemos a constituição dos sujeitos, muitos explicitamente
pautados por uma lógica heteronormativa de gênero e sexualidade
(ANJOS, 2016). Uma adoção acrítica de noções naturalizantes de
gênero, sexualidade e subjetividade por parte da Psicologia Jurídica
pode criar, manter ou reforçar preconceitos, estigmas, estereótipos
ou discriminações em relação às pessoas transexuais e travestis
envolvidas em questões judiciais.
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família
• A inserção das(os) psicólogas(os) no Sistema de Justiça tornou-se
obrigatória a partir do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
que definiu, em 1990, as funções das equipes interdisciplinares
(artigos 150-151) como órgão auxiliar do Juízo em todos os Tribunais
de Justiça do país.
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família
• Como dispõe a Resolução n.º 06/2019 do CFP, que revogou a
Resolução CFP 07/2003: […] toda a ação da(do) psicóloga(o) demanda
um raciocínio psicológico que se caracteriza por uma atitude
avaliativa, compreensiva, integradora e contínua que norteia sua
intervenção em qualquer um dos campos de atuação da Psicologia e
está relacionado ao contexto que origina a demanda.
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família
• As ações judiciais encaminhadas às varas de família envolvem pessoas
que mantêm, entre si, vínculos carregados de afetividade o que
significa considerar também que: o encontro com a(s) pessoa(s) que
faz(em) parte de um processo de Vara de Família não é mera condição
de aplicação de instrumentos de avaliação que é demandada por um
terceiro. Supõe considerar que essas pessoas procuram o Judiciário
para resolver conflitos de família porque não encontraram outra
forma de lidar com o sofrimento que advém deles (SUANNES, 2008,
p. 29).
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família
• Brito (2002a) sugere que a(o) psicóloga(o) que atua junto ao sistema
de justiça decodifique, de acordo com o conhecimento teórico da
Psicologia, as perguntas e demandas que lhe são dirigidas,
procurando interpretar a problemática de acordo com o referencial
próprio de sua disciplina. Como explica a autora, guarda de filhos,
regulamentação de visitas, negatória de paternidade, divórcio,
destituição do poder familiar são, quase sempre, temáticas
estudadas em obras de Direito de Família, e não de Psicologia.
Expõe, portanto, que a(o) psicóloga(o) não deve se fixar na
tipificação do direito e sim identificar, a partir de seu campo de
conhecimento, os temas que podem estar relacionados e de que
modo eles podem contribuir para a demanda processual que lhe é
encaminhada. Nos exemplos citados pela autora, estudos sobre
famílias contemporâneas, cuidados e funções parentais,
relacionamento entre pais e filhos, relações de gênero, sexualidade
humana, desenvolvimento infantojuvenil, entre outros, são
vivamente relacionados com a Psicologia e servem como base de
compreensão e de interpretação para as situações que chegam ao
judiciário.
2.1. Perspectivas da atuação do
psicólogo nas Varas de Família

• A(O) psicóloga(o) não deve incorrer em julgamento ou, através da


avaliação, ter pretensão de definir um arranjo de guarda ou uma
regulamentação de convivência, cuja atribuição é exclusivamente do
juiz. A função da(o) psicóloga(o) seria lançar luz sobre os fatores
psicológicos em jogo, sem responder à questão final sobre o
julgamento: “se o processo judicial é o de guarda, a avaliação
psicológica buscará as potencialidades e as dificuldades de cada um
dos genitores à luz do relacionamento e das necessidades especificas
do (a) filho (a) em questão” (SHINE, 2017, p. 3).
2.2. Famílias em litígio: separações e
transformações
• O litígio conjugal pode ser entendido como um sintoma, pendente de
que algo a ser resolvido entre o casal, é uma tentativa de não perder
nada. Todos acusam “Só quero os meus direitos!”. E apresentam a
sensação de que estão perdendo algo e transferem e focam no valor
da pensão alimentícia, na discussão de guarda de filho, no
patrimônio etc.
• Declarado e instalado o litígio para que um saia vitorioso, como se
houvesse um perdedor e um ganhador, uma disputa! Ambos lutam
por ganhar o máximo possível, na fantasia de compensar a perda de
algo... O afeto.... O outro....! Brigas conjugais não há um vitorioso,
ambos são conivente em igual. A separação, quando é inevitável,
como ato de responsabilidade e de compromisso com o saudável,
deve funcionar como um bálsamo e também como um processo de
libertação.
• Pereira, R. C - advogado e presidente nacional do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), mestre (UFMG) e doutor (UFPR)
em Direito Civil e autor de livros sobre Direito de Família e Psicanálise – 2018.
2.2. Famílias em litígio: separações e
transformações
Nos sujeitos que protagonizam litígios familiares de longa duração, observam-se alguns aspectos
comuns: alto grau de agressividade, postura refratária às intervenções, discurso baseado na lógica
adversarial. E, frequentemente, esses sujeitos têm como objeto do pedido judicial, o filho. Ocorre que, no
desenrolar do processo, emerge a conjugalidade conflituosa para a qual não há respostas no referencial
normativo. Alguns juristas utilizam a leitura psicológica para analisar a questão. Peluso (1999) afirma
que as crises matrimoniais, frequentemente, constituem manifestações tardias de um processo de ruptura,
do qual as pessoas têm consciência parcial, ressaltando que seria uma pretensão o dever dos juízes de
desvendá-las com base nos recursos do processo. Dias e Souza (2000) realçam que cada parte luta para
comprovar a sua versão, atribuindo ao outro a culpa pelo fim do relacionamento, e busca a sua
absolvição, esperando que o juiz proclame sua inocência.
Antunes, A. L. M. P.; Magalhães; A. S.; Féres-Carneiro, T. - Litígios intermináveis: uma perpetuação do vínculo conjugal? / PUC-Rio / 2010
Litígios intermináveis: uma perpetuação do vínculo conjugal? (bvsalud.org)
2.2. Famílias em litígio: separações e
transformações
• A passagem do âmbito privado ao público é uma fase importante da separação. Inicialmente são os círculos íntimos, a
família, os amigos e o trabalho, que são informados da separação do casal. Posteriormente, é o Estado que deve conhecer e
reconhecer o fim do casamento. O privado e o íntimo são tornados públicos e levados à lei para serem regulados e
legitimados.
• Muitos casais legalizam o fim do casamento quando estão começando a serem superadas as tristezas e novos investimentos
estão começando a ocorrer, evidenciando a possível superação do luto, ou, como propõe Caruso (1981), usando o recurso
de dirigir a libido para outro objeto, a fim de fugir da vivência catastrófica provocada pela separação. Nesses casos, o
processo legal da separação ou do divórcio seria mais uma etapa necessária para corporificar o ato da separação, seria a
cena representativa do corte (Andino, 1996). Contudo, nesta fase, a cena teria a máxima visibilidade e seria exposta ao
Estado para legitimar formalmente o fim daquele "amor". Esse momento, representativo do fim, pode conceber também um
começo, pode inscrever os sujeitos em outro ciclo de sua história e produzir uma marca que daria outra representatividade
ao vínculo. Nesse sentido, o ato jurídico seria assemelhado a um ritual de passagem, na sua função de outorgar um outro
estatuto ao sujeito. Pereira (2003) parte da premissa de que, na linguagem jurídica, os ritos sociais se traduzem por meio
dos processos judiciais e que a função do rito judicial seria de por fim a uma demanda (intra e interpsíquica) e marcar a
entrada em outra etapa da vida. O autor sustenta que o processo judicial é um ritual sob o comando de um juiz,
representante legal e simbólico da lei, com a função de por fim a uma demanda e instalar uma nova fase na vida das
pessoas.
2.2. Famílias em litígio: separações e
transformações
• Alguns ex-parceiros ingressam com seus processos legais da separação, mas
no decorrer dos atos jurídicos ocorre uma série de ações, ou de atuações, de
cada uma das partes, que se constituem em entraves às necessárias
negociações relativas ao patrimônio e aos filhos. A situação de conflito
impede acordos privados ou uma busca por serviços especializados que
possam operar uma transformação mantendo a privacidade da família. O
ingresso no judiciário busca uma intervenção da lei para além do conjunto
de normas da sociedade, uma lei inscrita como um super-eu, no sentido
freudiano do termo. Shine (2002) sustenta que a escolha de lidar com os
conflitos por meio do processo judicial, "responde a uma necessidade
anterior de ataque e defesa que precisa, de certa forma, do reconhecimento
público que é alcançado em um procedimento legal" (p. 69).
2.2. Famílias em litígio: separações e
transformações
• O encontro da psicologia com o direito vem se desdobrando em novos
saberes, dentre os quais ressaltam-se a perspectiva foucaltiana sobre a
política de normalização nas Varas de Família (Reis, 2009) e a perspectiva
de Legendre (2004) que aponta o risco da instituição não ocupar mais os
lugares centrais de referência na ordem genealógica.
• O trabalho do psicólogo jurídico requer um olhar transdisciplinar, atento ao
contexto social que influencia a formação das subjetividades (Altoé, 2003),
ao conjunto normativo onde sua práxis está inserida, à representação da lei
para os sujeitos que recorrem a ela e, tudo isso, sem perder de vista o
funcionamento singular de cada célula desse organismo – o sujeito.
2.3. Mediação de conflitos e a atuação
do psicólogo
2.3. Mediação de conflitos e a atuação
do psicólogo
• A Doutrina da Proteção Integral, disposta no artigo 227 da Constituição Federal e
regulamentada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n.8.069, de 13 de
julho de 1990), promove o protagonismo dessas pessoas em condição de
desenvolvimento. De acordo com seu artigo 2º, “considera-se criança, para os
efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente
aquela entre doze e dezoito anos de idade”. Já em seu artigo 5°, lê-se que
nenhuma destas deverá ser vítima de qualquer tipo de negligência, violência e
opressão, devendo haver punição, na forma da lei, a qualquer atividade que
ameace seus direitos e sua segurança (BRASIL, 1990). Assim, em conjunto com
outras normativas nacionais e internacionais importantes, se faz possível um
deslocamento da compreensão anterior de crianças e adolescentes como meros
objetos de tutela e controle do Estado – e de seus genitores – para que sejam
considerados sujeitos possuidores de direitos. A Lei 13.431, conhecida como a Lei
da escuta protegida, em seu art. 2º, reitera que a crianças e adolescentes são
outorgados os direitos fundamentais inerentes a qualquer pessoa humana.
2.3. Mediação de conflitos e a atuação
do psicólogo
Mediação e Conciliação de Conflitos
• Mediação, conforme Ferreira (2001, s/p), advém do latim Mediatione que
significa intercessão, intermédio [...] intervenção com que se busca
produzir um acordo. [...] Derivado do verbo latino mediare – de mediar,
intervir, colocar-se no meio (Müller, 2005a).

• A mediação caminha no sentido oposto à do conflito judicial, o qual origina


um ganhador e um perdedor. Bush e Folger (1996) coadunam com
Schinitman (1999) ao conceituarem a mediação. Para eles, a mediação
pode ser entendida como um método de solução de conflitos no qual as
partes envolvidas recebem a intervenção de um terceiro, o mediador, que
contribui, por meio da reabertura do diálogo, a chegar a possibilidades
inventivas para a solução da disputa, em que ambos fiquem satisfeitos.

• A mediação é um método de solução de disputas flexível e não vinculador,


pelo qual um terceiro neutro facilita o diálogo entre as partes para ajudá-
las a chegar a um acordo (Highton & Álvarez, 1999).
2.3. Mediação de conflitos e a atuação
do psicólogo
Mediação – é um método de solução de disputas flexível e não vinculador, pelo qual um
terceiro neutro facilita o diálogo entre as partes para ajudá-las a chegar a um acordo (Highton
& Álvarez, 1999).
A mediação é um meio pacífico de solução de conflitos interpessoais, em que
o mediador, neutro e imparcial, voluntariamente escolhido pelas partes em conflito, intervém
como um facilitador. O mediador orienta as partes para um acordo mutuamente aceitável ou
desfechos possíveis.
O mediador não decide; a decisão é das partes. O mediador na “arte de conciliar”, usa técnicas
de pacificação, comunicação eficaz e conciliação, que levam as partes a decidirem pelo acordo
ou não.
Favorece a melhor comunicação entre as pessoas em conflito é o foco.
A mediação evidencia aos envolvidos a autoria de suas próprias decisões, ressalta a reflexão e
amplia alternativas de solução para o impasse.
A mediação é um processo em que não há adversários, mas os que desejam dissolver os
impasses, transformar um confronto em colaboração.
A mediação é um processo especificamente confidencial e ético, o psicólogo mediador terá
sua ação desta forma para garantir a confidencialidade do conteúdo do conflito e a
credibilidade do processo de mediação.
2.3. Mediação de conflitos e a atuação
do psicólogo
2.3. Mediação de conflitos e a atuação
do psicólogo
• É o método de solução de controvérsias que trabalha na perspectiva de que
o conflito ou a crise possui um potencial transformativo (Müller, 2005a).
Por meio da mediação é possível perceber e considerar, além dos
elementos objetivos antes referidos (questões patrimoniais), os afetivos
(sentimentos) e inconscientes (o não é verbalizado; atos falhos, etc.) dos
conflitos, ultrapassando as questões jurídicas, que consideram apenas
aspectos objetivos, para auxiliar na solução aditiva, ou seja, que soma e
agrega, tendente ao Holísmo, dado que quando alguém está com um
conflito na esfera familiar (separação, disputa de guarda, investigação de
paternidade etc.) seus problemas ultrapassam os elementos jurídicos, essa
pessoa diz algo e nessa fala, e em seu corpo, existe um algo “por dizer”.
Esse “por dizer” é também da esfera psicológica e normalmente o que
acarreta e sustenta o conflito (Pereira, 2000). Assim, é necessário perceber
a situação como um todo.
2.3. Mediação de conflitos e a atuação
do psicólogo
• A mediação, utilizando técnicas da Psicologia, em especial das
Psicoterapias, tais como a sumarização positiva, o resumo e o
enquadre, amplia e torna mais compreensíveis as diversas mensagens
e mostra a importância da escuta não nervosa, da interpretação do
que está por detrás do discurso, da linguagem corporal etc. Ocorre
que justamente as variáveis psicológicas do conflito familiar tornam
esse tipo de mediação o mais complexo, pois envolve, como
mencionado, além de aspectos objetivos, aspectos emocionais e
inconscientes.
2.3. Mediação de conflitos e a atuação
do psicólogo
• Para Müller (2005), a mediação de conflitos é uma técnica estruturada de
resolução de controvérsias na qual os disputantes buscam ou aceitam a
intervenção de um terceiro imparcial e qualificado, o mediador. Esse
facilitador os auxilia – por meio da reabertura do diálogo – a encontrar
soluções criativas e alternativas para o conflito, na qual ambos ganhem.
Portanto, na mediação a decisão não é imposta por um terceiro. E esse é
um aspecto significativo e diferencial de seu procedimento: não é o
mediador quem trará a solução – como ocorre na justiça estatal – mas sim
as próprias partes. Por isso, o acordo mediado traz uma solução
mutuamente aceitável e será estruturado de forma a preservar as relações
dos envolvidos no conflito. Dessa forma, o maior êxito desse método
ocorre quando ambas as partes têm algo a ganhar se o conflito é
solucionado negociadamente, vale dizer, quando as pessoas vão, ou
deveriam, seguir se relacionando no futuro, como é o caso de casais em
separação e com filhos.
2.3. Mediação de conflitos e a atuação
do psicólogo
As etapas da mediação

Abertura

Apresentação das partes

Levantamento de opções

Negociação

Agenda

Fechamento
2.3. Mediação de conflitos e a atuação
do psicólogo
Segundo Sales (2004), a mediação é um processo muito complexo, o que torna difícil delimitar seus principais objetivos e,
além disso, ultrapassa a solução de conflitos, sendo capaz de prevenir os mesmos.
Ainda de acordo com a autora, na prática da mediação, quatro objetivos ficam bem visíveis:
1. A solução de conflitos por meio do diálogo, que visa o acordo satisfatório entre as partes;
2. A prevenção de conflitos, pois além de facilitar a solução destes, o processo de mediação evita uma administração
desordenada do problema que poderia levar a consequências negativas (agressões física e verbal, discussões, como brigas,
que nada contribuem para a solução do problema, por exemplo);
3. A inclusão social por possibilitar acesso, reflexão e conhecimento de direitos e deveres dos indivíduos, promovendo assim
“maior participação dos indivíduos nas questões sociais” (Sales, 2004, p.32), independente da classe social. E ainda ensina
que as pessoas têm o direito de escolher e decidir cientes de que sua escolha deve ser produtora de bem-estar social para as
partes envolvidas;
4. A paz social, por resolver conflitos e assim prevenir a violência, incluindo os indivíduos como cidadãos participantes da
política do Estado, fazendo com que seja possível alcançar uma convivência social harmônica.
- Teixeira, G. N. - Reflexões sobre a psicologia no Programa de mediação de conflitos: um relato de experiência do trabalho desenvolvido em Minas Gerais.. Mosaico –
estudos em psicologia, Vol 1 n 1 p 17-23
2.3. Mediação de conflitos e a atuação
do psicólogo
• Por meio do uso de técnicas específicas e utilização de conhecimentos advindos
de várias disciplinas e ciências, como a Psicologia, o Direito, a Teoria Geral de
Técnicas de Negociação, Teoria dos Sistemas e de processos narrativos, o
mediador cria condições para o diálogo, “diferenciando necessidades em
diferentes níveis, evidenciando como há necessidades comuns a despeito de
posições antagônicas”, diz a psicóloga Rosane Mantilla, professora de Pós-
graduação da PUC. Segundo a psicanalista Eliana Nazareth, “como forma de
condução de conflitos, a mediação apresenta vantagens importantes em
comparação à arbitragem, pois propicia a retomada da autodeterminação das
pessoas com relação às próprias vidas. Fundamentalmente é a isto que a
mediação se propõe”. (CFP, 2006)
2.3. Mediação de conflitos e a atuação
do psicólogo
• CREPOP (Varas de família, 2019), em 2010, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou a resolução n.º
125, que dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses no
âmbito do Poder Judiciário para que os tribunais de todo o país ofereçam núcleos consensuais para
resolução de conflitos. A medida faz parte da Política Nacional de Tratamento dos Conflitos de Interesses,
que visa assegurar a conciliação e mediação das controvérsias entre as partes, assim como prestar
atendimento e orientação aos cidadãos. Vários Tribunais do país desenvolveram projetos relacionados à
Conciliação e Mediação, definidos como métodos autocompositivos de resolução de conflitos, próprios a
uma cultura não-adversarial, como resposta a crescente judicialização dos problemas sociais e das relações
familiares e comunitárias. O objetivo seria o de prestar auxílio a qualquer cidadão na tentativa de solução de
um problema, sem a necessidade de uma decisão judicial. O conciliador ou mediador deve ser capacitado
com a função de ajudar os envolvidos na demanda a encontrarem uma solução juntos, dentro da lei.
2.3. Mediação de conflitos e a atuação
do psicólogo
• Nos Núcleos de Conciliação as partes confiam a um terceiro, estranho
ao processo, a função de auxiliá-las a chegar a um acordo em vários
tipos de conflitos: pensão alimentícia, guarda dos filhos, divórcio;
partilha de bens; acidentes de trânsito; dívidas em bancos; danos
morais; demissão do trabalho; questões de vizinhança etc.
2.3. Mediação de conflitos e a atuação
do psicólogo
• A proposta da mediação busca a cooperação e a colaboração entre as
partes, em vez de privilegiar o lado adversarial da disputa, comum
nos processos judiciais no Direito de Família. A técnica da mediação
caracteriza-se por fortalecer a capacidade de diálogo, a fim de se
chegar a uma solução negociada dos conflitos.
• CENTRO DE REFERÊNCIA TÉCNICA EM PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS – CREPOP/ REFERÊNCIAS
TÉCNICAS PARA A ATUAÇÃO DE PSICÓLOGAS(OS) EM VARAS DE FAMÍLIA – 2019.

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