Você está na página 1de 21

Manual do Módulo S3_Viver em Sociedade

No final deste módulo deverás ser capaz de:


1. Distinguir tipos de família.
2. Referir o papel da família na socialização.
3. Explicar transformações que estão associadas à vida familiar na sociedade 1

contemporânea.
4. Referir indicadores demográficos da vida familiar.
5. Verificar a evolução desses indicadores em Portugal.
6. Caracterizar as funções da escola.
7. Analisar o papel da escola na sociedade contemporânea.
8. Relacionar o grau de escolaridade com a inserção no mercado de trabalho.
9. Referir as novas funções da escola na sociedade do conhecimento.
10. Referir indicadores sobre a escolaridade portuguesa.
11. Verificar a evolução desses indicadores em Portugal.
12. Distinguir tipos de organizações e dar exemplos.
13. Expor as características das organizações.
14. Explicitar em que consiste o conceito de cultura organizacional.
15. Evidenciar o novo conceito de organização na sociedade do conhecimento.
Manual do Módulo S3_Viver em Sociedade

1. A vida familiar
1.1 O conceito de família

A família mais do que um fenómeno biológico é, essencialmente, um fenómeno social que é o


fundamento da organização de uma sociedade. Neste sentido, a família constitui a instituição
2
social básica, sendo considerada um dos mais importantes pilares da sociedade.
A família é a mais antiga das instituições sociais humanas e possui um carácter universal,
embora as formas de vida familiar variem de cultura para cultura e de geração para geração.
Por isso, alguns autores sugerem que se aborde o conceito no plural – famílias -, dado que
existe uma pluralidade de modelos familiares.
Quando falamos de família, podemos sentir-nos tentados a considerar a nossa como sendo o
tipo “normal” e os outros como “menos normais” ou desviantes. Mas cada cultura tem a sua
concepção de família e nenhuma delas se pode considerar melhor ou pior do que as outras.
São apenas diferentes.
Na base de constituição da família, destacam-se três tipos de necessidades humanas
fundamentais, que explicam a universalidade do fenómeno familiar: as necessidades de
satisfação sexual e reprodutiva, as necessidades de alimentação e segurança, e a
necessidade de afiliação e pertença.

Figura 1. Necessidades do fenómeno familiar

A família é, hoje, uma instituição em mudança. As estruturas, os modelos e as vivencias


familiares reflectem as profundas transformações sociais, económicas e tecnológicas, assim
como ao nível das mentalidades e dos valores.

Proposta de Trabalho

1. Sob orientação do professor, elabora um genograma da tua família e compara com


o genograma das famílias dos teus colegas.

Na estrutura dos grupos familiares distinguem-se dois tipos de relações básicas entre os seus
membros: a relação de descendência ou consanguínea e a de união ou afinidade. Assim, no
Manual do Módulo S3_Viver em Sociedade

primeiro caso temos os filhos, os irmãos, os pais e os avós, enquanto que no segundo temos os
cônjuges, os cunhados, os sogros e os enteados.

Conceitos elementares sobre a família


3
Texto 1
“Uma família é um grupo de pessoas unidas directamente por laços de parentesco, no qual os adultos assumem a
responsabilidade de cuidar das crianças. Os laços de parentesco são relações entre indivíduos estabelecidas através do
casamento ou por meio de linhas de descendência que ligam familiares consanguíneos (mães, pais, filhos e filhas, avós,
etc). O casamento pode ser definido como uma união sexual entre dois indivíduos adultos, reconhecida e aprovada
socialmente. Quando duas pessoas se casam, tornam-se parentes; contudo, o casamento une também um conjunto mais
vasto de pessoas que se tornam parentes. Pais, irmãos e outros familiares de sangue tornam-se parentes do outro
cônjuge através do casamento.”
Anthony Giddens, Sociologia, Fundação Calouste Gulbenkian, 2004, 4ª edição

Em quase todas as sociedades podemos identificar a chamada família nuclear, constituída por
dois adultos de sexo diferente que vivem maritalmente, numa relação reconhecida e aprovada
socialmente, com os seus filhos biológicos e/ou adoptados. Quando com estes elementos
vivem outros parentes (tios, sobrinhos, avós…), fala-se de família extensa.
Já referimos anteriormente que, nas sociedades ocidentais, as famílias são monogâmicas, ou
seja, cada pessoa só pode ser casada com uma outra num dado momento. Noutras
sociedades, porém, pratica-se a poligamia, o casamento de uma pessoa com duas ou mais
pessoas. Quando um homem é casado com mais do que uma mulher, estamos perante a
poliginia, o tipo mais comum de poligamia. Mais rara é a poliandria, quando uma mulher é
casada com mais do que um homem (geralmente um conjunto de irmãos).

1.2 A génese da família nuclear nas sociedades ocidentais

Como já foi referido, o modelo de família considerado ideal em cada momento da História e
em cada sociedade não assumiu sempre a sua forma mais pura, pois coexistiram formas
diferentes de organização familiar. Apesar disso, é possível encontrar algumas regularidades e,
acima de tudo, analisar a evolução dos valores, atitudes e comportamentos historicamente
associados a esta instituição. É neste pressuposto que faremos de seguida, em traços muito
gerais, uma contextualização histórica do processo de generalização do modelo de família
nuclear mais comuns nas sociedades ocidentais:
 A família anterior à Revolução Industrial era vasta em termos de estrutura, de funções
e de hierarquias. Ao nível da estrutura, o número elevado de filhos – considerado um
factor de prestígio entre as classes altas e de necessidade para o povo, dado que as
crianças cedo começam a trabalhar e a contribuir para o sustento da família – era
apenas contrariado pelas elevadas taxas de mortalidade infantil. No grupo familiar
conviviam várias famílias nucleares de duas ou três gerações: os pais, os filhos
solteiros, os filhos casados e os respectivos cônjuges e filhos. A residência era comum
Manual do Módulo S3_Viver em Sociedade

ou próxima, as actividades comuns e as relações frequentes. A família detinha


funções económicas (todos trabalhavam para um património comum), de segurança
(em caso da velhice, doença ou cuidado das crianças), educativas (responsável pelas
socializações primária e secundária dos seus elementos) e religiosas (a religião
sacralizava os principais momentos familiares e a família perpetuava crenças e rituais
através das gerações). Além disso, a sua hierarquia era rígida, baseada nas diferenças
sexuais, de idade e de geração: as mulheres estavam subordinadas aos homens, os
4
jovens aos mais velhos e o elemento com mais autoridade na família era o homem
mais velho – o ancião. A mulher gozava de um estatuto muito baixo: da alçada do pai
enquanto solteira mudava para a do marido ao casar e, em caso de viuvez, passava a
responder perante o filho mais velho. O seu estatuto só aumentava na proporção
directa do número de filhos que conseguisse ter.
 A Revolução Industrial do final do século XVIII trouxe uma série de transformações.
As populações abandonam as localidades rurais e migram para as cidades, para junto
das fábricas onde passam a trabalhar, e esta autonomia de residência (o facto de os
indivíduos passarem a viver longe das suas famílias) torna inviável o velho sistema
familiar. Com isso, perdem-se não só a estrutura hierárquica como também os
serviços mútuos. A forma de constituição dos casais altera-se: cessa o controlo
familiar e passam a dominar as preferências pessoais (ao invés das patrimoniais) na
escolha do cônjuge. O controlo dos mais velhos e dos parentes sobre o indivíduo
diminui. A escassez de espaço nas cidades impede a residência conjunta de muitos
familiares e limita o número de filhos. Estes deixam de constituir um factor de riqueza
(mão-de-obra) para os pais, que, por seu lado, já não podem contar com a ajuda dos
parentes na sua criação. A família tradicional vê-se, assim, substituída pela família
conjugal ou nuclear, unida por laços emocionais, com um alto grau de privacidade
doméstica e preocupada com a educação dos filhos. O casamento obedece a um
critério de escolha pessoal, guiado por normas de afeição ou de amor romântico e em
que é valorizada a sexualidade. Homem e mulher, marido e esposa têm diferentes
posições, tarefas e autoridade na família: a mulher encarrega-se dos filhos e das
tarefas domésticas, o homem sai para trabalhar, é o “ganha-pão”.
 Em meados do século XX, estava já generalizado o sentimento de que a família é – ou
deveria ser – um mundo privado de realização pessoal.

A família em mutação Texto 2

«A família actual já não corresponde ao esquema tradicional enaltecido pela sociedade industrial. As gerações já não
coexistem sob o mesmo tecto, e a importância da autoridade paterna decresce à medida que se impõe a afectividade
como valor essencial. Não existe desagregação, mas a mutação profunda da família que, não se limitando a um modelo
único, antes se desdobra em diversas modalidades de que não tínhamos, até agora, nenhuma experiência.
As transformações do nosso século modificaram profundamente o tecido social. (…) O emprego das mães, por exemplo,
retira-lhes tempo para consagrar à família. (…) Como corolário aparece o novo pai, mais à vontade nas tarefas que,
outrora, eram estritamente da alçada da mãe, como os cuidados prestados ao bebé.»
Jean-Pierre Pourtois, Flugutte Desmet e Christine Barras, “Educação Familiar e Parental”in Inovação, vol. 7, 1994

1.3 Tipos contemporâneos de família


Manual do Módulo S3_Viver em Sociedade

A família nuclear foi atrás descrita na sua forma mais tradicional: uma família constituída por
dois adultos de sexo diferente que vivem maritalmente com os seus filhos biológicos e/ou
adoptados. No entanto, hoje em dia, encontramos diversos tipos de família. Conheçamos,
então, melhor os novos tipos de família que têm surgido nas sociedades ocidentais nas últimas
décadas.

5
a. Agregados monoparentais
As famílias monoparentais são constituídas por apenas
um adulto e seu(s) filho(s). Na grande maioria dos
casos, o adulto destas famílias é uma mulher. Existem
várias situações que originam a monoparentalidade: a
separação ou o divórcio, a viuvez, a geração por parte
de uma mulher solteira. Estas famílias ainda são alvo de
discriminação social, nomeadamente as mães solteiras
e divorciadas.
Por outro lado, a custódia partilhada dos filhos começa a
ganhar adeptos, permitindo à mãe e ao pai constituírem dois
agregados familiares autónomos e partilhando os filhos.
Nos restantes casos, trata-se maioritariamente de famílias que
enfrentam uma fragilidade financeira pelo facto de subsistirem
apenas com o rendimento de um adulto, vivendo em
contextos de pobreza e exclusão social.

b. Famílias recompostas

Os segundos casamentos estão relativamente generalizados na


nossa sociedade. Podem acontecer em várias circunstâncias. No
início do século XX, a maioria dos segundos casamentos
acontecia após a viuvez de um dos cônjuges. Com o aumento das
taxas de divórcio, passa a ser a situação de divorciado a mais
comum entre novos noivos.
Quando pelo menos um dos cônjuges traz para o novo
casamento um ou mais filhos do casamento anterior, falamos de famílias recompostas.

Voltar a casar Texto 3

«Por mais estranho que tal possa parecer, a melhor forma de maximizar as oportunidades de casamento é, para ambos
os sexos, ter sido casado anteriormente! As pessoas que já foram casadas e se divorciaram têm mais probabilidades de
voltar a casar do que as pessoas solteiras da mesma idade. Em todos os grupos etários os homens divorciados são mais
propensos a voltar a casar do que as mulheres divorciadas (…). Em termos estáticos, pelo menos, os novos são mais
elevadas do que as taxas dos primeiros.»
Anthony Giddens, op. cit.

c. Coabitação
Manual do Módulo S3_Viver em Sociedade

A coabitação é cada vez mais frequente entre os jovens, sobretudo


como um período de experiência de vida em comum antes do
casamento oficial. No entanto, a coabitação também pode acontecer
por opção, indicando algum desinteresse pelo casamento formal. Em
Portugal, a união de facto é reconhecida juridicamente.

6
d. Casais homossexuais

A evolução das mentalidades tem possibilitado a estabilização de


relações entre homossexuais que optam por viver maritalmente.
Dado que a maioria dos países não reconhece oficialmente estas
uniões, os casais assumem livremente os compromissos inerentes
ao casamento, não tendo acesso, no entanto, aos mesmos direitos.
Na prática, e em Portugal, verifica-se a coabitação ou o casamento,
a partilha do rendimento e do relacionamento sexual, mas não é
permitida a adopção de crianças.

Proposta de Trabalho

1. Sob orientação do professor, debate do seguinte tema:


 adopção pelos casais homossexuais.

1.4 Novos comportamentos da família

A evolução dos papéis familiares está intimamente ligada às transformações ocorridas na


estrutura familiar. Desde logo, a proibição do trabalho infantil e a instituição da escolaridade
obrigatória, tornaram a criança uma fonte de despesa para a família e não mais uma fonte de
rendimento, mas também lhe deram um lugar central na orientação da afectividade dos
elementos da família.
A mulher, durante muito tempo mantida dentro de portas como “dona de casa”, responsável
pelas tarefas domésticas e pelo cuidado dos filhos e do marido, passa a trabalhar fora de casa,
tal como o homem, e a acumular o emprego com o trabalho doméstico. A partir desta
situação, atenua-se a exclusividade do papel expressivo associado à mulher e do papel
instrumental atribuído ao homem, gerando-se famílias de dupla carreira – a mulher e o
homem desempenham ambos os papéis.
À medida que o casamento deixa de ser constituído com base em critérios económicas, o amor
romântico ganha terreno como factor de selecção dos cônjuges e a satisfação sexual é trazida
para dentro do casamento. Valoriza-se a intimidade emocional e sexual do casal.
Mais recentemente, as mulheres têm reivindicado a igualdade de direitos e de deveres no
casamento, exigindo ao homem a partilha das tarefas domésticas e do cuidado com os filhos.

1.5 Indicadores demográficos sobre a família


Manual do Módulo S3_Viver em Sociedade

A evolução da instituição familiar pode ser acompanhada através dos seguintes indicadores
demográficos:
 nupcialidade (casamentos) ou coabitação,
 divórcio
 natalidade (número de crianças nascidas por mulher).

Nupcialidade e coabitação Causas


Diminuição do número absoluto de Dificuldades dos jovens em entrar no
casamentos. mercado de trabalho.
Aumento dos casamentos civis e Precariedade no trabalho.
diminuição dos casamentos católicos. Prolongamento do percurso académico da
Aumento da idade média do primeiro maioria dos jovens.
casamento para ambos os sexos. Diminuição da influência da Igreja e da
Aumento dos segundos casamentos. religião na sociedade.
Aumento do número de filhos fora do Maior liberdade de expressão e de
casamento. autenticidade dos sentimentos, em
Aumento do número de casais que vivem detrimento das convenções tradicionais.
em coabitação ou outras formas de Alteração de critérios valorativos
conjugalidade, como a união de facto. fundamentais e consequente valorização do
Crescente importância do amor, da individualismo e do hedonismo.
afectividade e da partilha como valores
estruturantes da conjungalidade.
Divórcio Causas
Aumento do número de divórcios. Alterações legislativas que simplificam o
divórcio.
Generalização do trabalho feminino e
consequente autonomia financeira das
mulheres.
Preponderância de um maior
individualismo e legitimação social
relativamente à procura da felicidade.
Diminuição da influência da religião e da
Igreja na sociedade.
Crise económica que afecta a estabilidade
de muitos casais.
Natalidade Causas
Diminuição do número de filhos por Prolongamento da carreira escolar e
mulher. académica dos jovens e particularmente das
Adiamento da decisão de ter filhos por mulheres.
parte dos casais e das mulheres em Dificuldades na entrada no mercado de
particular. trabalho.
Aumento das famílias com um único filho e Precariedade no trabalho.
das famílias sem filhos. Aumento do custo de vida em
contraposição aos baixos salários auferidos
pela maioria dos trabalhadores em Portugal.
Dificuldades em conciliar a vida profissional
com a vida familiar.
Insuficientes apoios estatais à promoção da
Manual do Módulo S3_Viver em Sociedade

natalidade.
Inexistência de uma rede pública
abrangente, de qualidade e com horários
compatíveis à realidade laboral da maioria
dos pais.

Quadro 1. Síntese dos indicadores demográficos sobre a família.

2. A escola na sociedade do conhecimento


2.1 A socialização formal e informal

A escola é um agente socializador decisivo na sociedade, proporcionando a chamada educação


formal. Entende-se por este termo toda a educação (ou instrução) integrada no sistema
educativo, portanto em estabelecimentos de ensino e/ou educação. Escolas, universidades e
centros de formação profissional são, assim, considerados agentes de socialização formal.
Noutro âmbito, toda a educação que acontece fora do sistema educativo institucionalizado é
considerada informal, onde a socialização é levada a cabo pelos agentes que não a escola – e,
mesmo na escola, tudo o que não seja a
transmissão de um currículo pré-determinado –
é informal. É, assim, informal a aprendizagem
das regras de bom comportamento na sala de
aula, do reconhecimento da autoridade do
professor e da necessidade de cumprimento de
horários, por exemplo. Já a transmissão dos
conteúdos dos manuais escolares constitui a
educação formal.
Factores como o alargamento temporal da escolarização, a recente obrigatoriedade das
empresas proporcionarem formação aos seus colaboradores, a diversificação dos cursos de
formação (profissional ou outra) e a multiplicação de especializações sob a forma de pós-
graduações, dão conta da crescente importância dada à componente formal da educação. Com
efeito, a qualificação dos recursos humanos de um país é essencial para o seu
desenvolvimento e requer investimentos de longo prazo.

2.2 A escolaridade obrigatória


Hoje em dia, consideramos ser natural e inevitável o facto de todas as crianças frequentarem a
escola. No entanto, durante muitos séculos o conceito de instrução esteve afastado da grande
maioria das populações. Antes da invenção da imprensa escrita, os escassos textos que
existiam eram escritos à mão e poucas pessoas tinham acesso a eles. Além disso, ler e escrever
eram actividades inúteis no quotidiano da maioria dos indivíduos.
Manual do Módulo S3_Viver em Sociedade

A Revolução Industrial e a expansão das grandes cidades geram e divisão do trabalho e a


necessidade de mão-de-obra cada vez mais especializada e letrada. Além destes factores,
verificou-se a aceleração do desenvolvimento cultural decorrente dos ideais humanistas e
iluministas que ganharam forma no século XVIII. A Reforma protestante também terá tido um
papel importante, «pois a aprendizagem da leitura era essencial ao conhecimento directo do
texto bíblico»1. Os sistemas de ensino generalizam-se, assim como os conhecimentos mais
abstractos, por oposição aos conhecimentos práticos que eram transmitidos oralmente de
9
geração em geração. Nas sociedades modernas passa a ser indispensável saber ler, escrever e
calcular, assim como possuir conhecimentos básicos sobre o meio físico, social e económico.
Actualmente, a educação proporcionada pelos estabelecimentos de ensino é fundamental na
definição das oportunidades de carreira e para o posicionamento dos indivíduos no mercado
de trabalho. Embora nem sempre andem a par com as necessidades específicas deste
mercado, a cada momento espera-se das escolas e das universidades que formem os cidadãos
do futuro e lhes dêem ferramentas que permitam desbravar novos campos do conhecimento e
da técnica, tendo em vista o desenvolvimento dos países e a melhoria das condições de vida
das pessoas.
Em Portugal, a alfabetização das populações aconteceu tardiamente em relação aos outros
países europeus. Em meados do século XIX, 75% da população portuguesa era analfabeta e
1960 – há pouco menos de um século – este valor decresceu para apenas 40,3%. No início do
século XX, o número de escolas era insuficiente, os professores não estavam bem preparados
do ponto de vista científico e pedagógico e as crianças eram muito necessárias em casa para
contribuírem para a economia doméstica, pelo que os pais resistiam ao seu ingresso na escola.
O período designado por Estado Novo, que teve início em 1933, marcou o aparecimento de
uma tentativa de combate ao analfabetismo e de recuperação do atraso de cerca de um
século em que o nosso país se encontrava relativamente à Europa mais evoluía. No entanto,
essa tentativa ficou marcada por algumas opções políticas que tiveram consequências
consideradas negativas:

A opção do Estado Novo sobre o conteúdo do ensino Texto 4

«O Estado Novo, não podendo isolar-se em absoluto das novas exigências, teve de escolher (…). Amparando-se na
contraposição entre a “instrução” e a “educação”, aquela como treino do intelecto e esta como formação de carácter,
valorizou a função educativa da escola, em detrimento da sua finalidade instrtutiva. Destinada a incutir a “virtude”, e
não a propiciar o treino profissional ou a transmitir conhecimentos úteis, a escola passa a ser concebida mais como
instrumento vantajoso, de doutrinação do que local de aprendizagem para a vida profissional.»
Medina Carreira, O Estado e a Educação, Cadernos do Público, nº7, s/d

Durante mais de quatro décadas, a escola foi um local privilegiado de doutrinação política e
religiosa, ao invés de um espaço de aquisição de conhecimentos científicos, técnicos,
históricos, etc.

1
Medina Carreira, O Estado e a Educação, Cadernos do Público, nº7, s/d
Manual do Módulo S3_Viver em Sociedade

A educação no Estado Novo Texto 5

«Durante a ditadura salazarista, o desenvolvimento educacional foi muito limitado. A escolaridade obrigatória foi
reduzida, de início, para três anos e depois para seis no final da década de [19]60. A política governamental era a de
manter a educação da maioria da população tão limitada quanto possível. As escolas punham o acento tónico na
obediência, submissão, ordem, respeito pelas hierarquias, conformismo, perseverança, gosto pelo trabalho e limpeza. O
sistema educativo era altamente centralizado e estritamente controlado. (…) O menos que se pode dizer é que estas
10
políticas tudo faziam para desencorajar uma educação cívica participada e esclarecida.»

Don Davies e tal., As Escolas e as Famílias em Portugal – Realidade e Perspectivas, Livros Horizonte, 1989

Já no período de reconstrução europeia do pós-Segunda Guerra, tornou-se visível a


inadequação do sistema de ensino vigente. O analfabetismo manteve-se elevado, assim como
o insucesso escolar e a fuga à escola de muitos jovens, para além do número reduzido de
professores e da escassez de instalações e de material escolar. As assimetrias regionais eram
muito marcadas, com uma escolarização muito superior nas zonas litorais e urbanizadas
relativamente ao interior e às zonas rurais. Verificavam-se também assimetrias sociais, dado
que as famílias de baixos recursos não conseguiam sustentar um percurso escolar dos filhos
após o ensino obrigatório. Em suma, o sistema de ensino eliminava facilmente os filhos das
famílias de trabalhadores e residentes no interior de Portugal.
Nos anos 70 do século XX, a insustentabilidade do atraso do país obrigou à instauração de
grandes reformas, que aconteceram pela mão do então ministro da Educação, Veiga Simão.
Estas reformas incidiram no fomento da educação pré-escolar, no prolongamento da
escolaridade obrigatória, na reconversão do ensino secundário e na expansão e diversificação
do ensino superior.

As reformas de Veiga Simão Texto 6

«O regime saído da reforma atribuiu a todos os portugueses o direito à educação, mediante o acesso ao s vários graus de
ensino e aos bens da cultura, sem distinções que não se fundassem na capacidade e dos méritos, tornou efectiva a
obrigatoriedade de uma educação básica generalizada, procurou facilitar às famílias o cumprimento do dever de instruir
e educar os filhos.
O sistema educativo de 1973 passou a abranger a educação pré-escolar, a educação escolar e a educação permanente.
O ensino escolar compreendia o ensino básico – primário e preparatório -, o secundário, a formação profissional e o
ensino superior. O ensino básico era obrigatório e com a duração de oito anos.
A institucionalização da educação pré-escolar permitiria assegurar que as situações de privilégio na área da educação se
não consolidassem na infância e que as crianças pudessem ter um desenvolvimento equilibrado menos dependente dos
estatutos familiares.
O ensino obrigatório atingiu os cinco anos com a República, diminui para três anos nos primeiros tempos da ditadura de
1926, subiu depois para os quatro anos, fixando-se em seis em 1964. A elevação para os oito anos constituía, pois, um
importante progresso quantitativo.»
Medina Carreira, op. cit.
Manual do Módulo S3_Viver em Sociedade

Apesar de não haver unanimidade quanto aos méritos destas reformas, os princípios a elas
subjacentes prendiam-se com o acesso à escolarização por parte de toda a população e a
melhoria qualitativa dessa mesma escolarização. No entanto, para a sua implementação seria
necessária a instauração de um regime democrático no país, o que só veio a acontecer em
1974.
O estado da educação portuguesa antes de 1974 Texto 7

11
«A educação não tinha sido uma grande prioridade para Salazar, que governava o país desde 1926 de uma forma
conservadora, autoritária e antidemocrática. A educação obedecia aos preceitos de Deus, Pátria e Autoridade. O papel
do ensino primário, que era o que a maioria da população recebia, era essencialmente um prolongamento da Igreja. O
objectivo da escola primária era ensinar o respeito por Deus, Pátria e Autoridade, e se mais alguma coisa ela fizesse, não
seria expor crianças e ideias “perigosas”. (…) Marcello Caetano, sucessor de Salazar (…), estabeleceu um regime
ligeiramente mais liberal. Pouco a pouco foi crescendo o reconhecimento da necessidade de “modernizar” o país e o
papel da educação nesse processo. Em particular, o ministro da educação de então, Veiga Simão (…), foi muito
influenciado pelo que aprendeu nas conferências e artigos da OCDE acerca do papel da educação na modernização (e no
atraso de Portugal nesta área). No início dos anos [19]70, ele introduziu uma série de reformas no sector obrig atório que
não tinham precedentes e que romperam claramente com a herança de Salazar. Como resultado da sua política,
instalou-se um clima muito mais aberto e ameno à reforma educativa em Portugal nos anos imediatamente anteriores à
revolução.»
Stephen Stoer e Roger Dale, “Apropriações políticas de Paulo Freire:
Um exemplo da Revolução Portuguesa”, in Educação, Sociedade & Culturas, nº11, 1999

Com efeito, a revolução de Abril de 1974 gerou uma grande preocupação em instruir as
populações e em combater o analfabetismo. Foram criados movimentos de voluntários que se
deslocaram para as zonas mais remotas do país, com o objectivo de ensinar a ler e a escrever
os adultos que não tinham tido oportunidade de ir à escola (as designadas campanhas de
alfabetização).
O direito à educação passou, então, a ser considerado universal e inalienável e a escolarização
das crianças um dever. Com esta obrigatoriedade, teve início aquilo a que ainda hoje se chama
escola de massas.

2.3 O insucesso e o abandono escolares


Apesar de todos os princípios enunciados e de todos os esforços políticos, a democratização
modo ensino não proporcionou uma sociedade mais igualitária. De facto, a escola é acusada
de continuar a reproduzir as desigualdades sociais, embora de forma subtil e, muitas vezes,
inconsciente e involuntária.

A família tem um papel preponderante no percurso escolar da criança. O seu posicionamento


na estrutura de classes, as suas expectativas quanto ao papel da escola e escolarização dos
seus filhos, o apoio que quer dar e/ou efectivamente dá a essa mesma escolarização são
determinantes. Dito de outro modo: “As atitudes e expectativas das famílias relativamente à
escola e ao seu papel no trajecto de vida das suas crianças divergem conforme o
posicionamento social dessas mesmas famílias e os seus capitais económico, escolar e
cultural”.
As famílias que se posicionam no topo da estrutura social de classes são, por vezes,
portadoras de alguma desconfiança relativamente às potencialidades da escola – do ensino
público – a à sua capacidade de preparar convenientemente as crianças para um percurso
escolar que se quer longo, pelo que tendem a evitar as escolas públicas e a preferir o ensino
Manual do Módulo S3_Viver em Sociedade

privado. Além das diversas unidades curriculares de que os estabelecimentos de ensino


privado normalmente dispõem e que promovem potencialmente uma formação mais
diversificada (por exemplo, o apoio à realização dos trabalhos de casa, actividades desportivas,
educação musical e iniciação a uma língua estrangeira), estas famílias consideram que a
qualidade de ensino e o nível de exigência da aprendizagem são superiores nestas instituições,
o que vai ao encontro dos seus objectivos e expectativas.
A meio da estrutura de classes, as famílias tendem a utilizar o percurso académico das
12
crianças e dos jovens como forma de alcançar alguma mobilidade social ascendente. Nesta
posição, a expectativa é de que o ensino permita alcançar uma “boa” colocação no mercado
de trabalho. Este percurso académico representa muitas vezes um investimento feito com
algum sacrifício, pelo que o número de filhos tende a ser controlado.
Já na base da estrutura de classes é comum encontrar-se uma outra atitude face à escola.
Aqui, a família pode não lhe reconhecer qualquer utilidade para um melhor posicionamento
no mercado de trabalho. O desinvestimento na escolarização dos filhos é por estes percebido
e interiorizado, conduzindo ao seu desinteresse pela escola e ao seu abandono precoce.
Nestes casos, é também frequente a descontinuidade entre as aptidões e interesses de que a
criança é portadora e o tipo de conhecimentos que a escola transmite, o que reforça o seu
distanciamento relativamente ao percurso escolar.
Este afastamento entre a escola e as famílias oriundas de classes sociais desfavorecidas tem
sido alvo de diversos estudos, que apontam o facto de a instituição escolar tender a reproduzir
as desigualdades sociais.
De facto, ao invés de garantir a igualdade de
oportunidades entre todos os alunos e de orientar a
sua acção pelo critério da meritocracia (segundo o qual
o sucesso é baseado no mérito do aluno, não em
factores externos à escola), a instituição escolar acaba
por manter a até reforçar as diferenças existentes na
sociedade. Não por acaso, a maioria dos casos de
insucesso e de abandono escolar centra-se nas crianças
oriundas das classes mais baixas e de grupos desfavorecidos (minorias étnicas, por exemplo),
que dispõem de menores recursos económicos, culturais e sociais.
Uma das explicações avançadas é que os saberes, a linguagem e a cultura transmitidos na
escola estão mais próximos dos saberes, da linguagem e da cultura das classes médias e altas –
o que determina que as crianças possuidoras de saberes, linguagem e cultura diferentes do
universo escolar, têm dificuldade em compreender e assimilar o que ali lhes é transmitido.
Estes alunos partem, portanto, para a sua viagem escolar em franca desvantagem face aos
restantes, o que poderá reflectir-se negativamente nos resultados da sua aprendizagem.

A diferença de saberes Texto 8

«Efectivamente, o “puto” que chega à escola é portador de uma série de saberes resultantes da sua própria história de
vida, divergentes dos do colega do lado que teve uma outra experiência, pelo que toda a turma a quem é oferecido um
curriculum escolar único, obrigatório, comum, geral, e para todos, é bastante heterogénea culturalmente. Há que dizer
também então que os alunos não estão em pé de igualdade. É essa diferença, essa heterogeneidade de experiências, de
saberes, essa riqueza de conhecimentos vários, desde o mais prático e pragmático até ao teórico e abstracto que os
filhos de algumas elites adquiriram já há algum tempo, que o curriculum escolar não conseguiu ainda abraçar e
incorporar nos conteúdos a valorizar, aferir e avaliar.»
Ricardo Vieira, Entre a Escola e o Lar – O curriculum e os saberes da infância, Escher, 1992
Manual do Módulo S3_Viver em Sociedade

Pierre Bourdieu (1930 – 2002) introduziu o conceito de reprodução cultural para designar a
forma como a escola contribui para a perpetuação das desigualdades económicas e sociais de
geração em geração. Segundo este sociólogo, o saber que a escola valoriza e transmite é o
saber preconizado pelos grupos sociais com maior poder cultural e social. No seguimento de
Ivan Illich (1926-2002), o autor refere o facto de existir na escola um “currículo escondido”,
constituído por valores, atitudes e hábitos coincidentes com os dos grupos dominantes. Assim,
13
a escola é veículo de um arbítrio cultural: «Toda a acção pedagógica é objectivamente uma
violência simbólica enquanto imposição, por um poder arbitrário, de um arbítrio cultural».
Este arbítrio cultural é, segundo Bourdieu, duplo, na medida em que:
› por um lado, a cultura ensinada na escola é apresentada como sendo universal e
neutra; no entanto, ela é fruto de uma selecção de obras e conteúdos efectuada pelos
grupos sociais com maior poder cultural e simbólico;
› por outro lado, o ensino dessa cultura dissimula o poder de quem a impõem, na
medida em que a instituição escolar é apresentada como tendo uma autoridade
pedagógica neutra e inquestionável.
Em consequência do arbítrio cultural, a
escola produz efeitos desiguais sobre os
alunos em função da sua classe social e
tende, assim, a reforçar, legitimar e
consagrar as diferenças iniciais. Para
Bourdieu, o sistema de ensino é a forma
mais dissimulada de transmissão de poder e
de privilégios na sociedade, já que contribui
para a reprodução da estrutura de classes e
das relações entre classes sob a capa de uma aparente neutralidade.

2.4 A escola face à diversidade cultural


Vimos que a escola é responsabilizada pela reprodução das desigualdades sociais, na medida
em que é portadora de um currículo académico e de um “currículo escondido” que se
adequam às classes mais favorecidas da sociedade – com maior poder simbólico e cultural – e
que excluem, por inadaptação, as crianças das classes menos favorecidas.
Com efeito, estas crianças são portadoras de uma cultura diferente da cultura escolar, que o
sistema de ensino não valoriza nem está preparado para valorizar.
O mesmo acontece quando incluímos neste conceito de “cultura diferente” as culturas das
minorias étnicas, cada vez mais presentes na nossa sociedade.
A imigração tem provocado profundas transformações demográficas em Portugal e, nessa
medida, as escolas estão a tornar-se «instituições multiculturais por excelência». Para além da
raça cigana, tem-se registado nos últimos anos uma forte corrente migratória vinda dos países
de africanos de expressão portuguesa (os PALOP) e, mais recentemente, dos países de Leste
da Europa e do Brasil. O insucesso escolar destes alunos é muito frequente e o abandono é
precoce, aumentando a probabilidade de se reproduzirem as desigualdades sociais,
económicas e culturais que enfrentam.
Manual do Módulo S3_Viver em Sociedade

O respeito pela diversidade e pelo pluralismo cultural tornou-se preocupação presente nos
dias de hoje, face também ao aumento dos conflitos étnicos e religiosos ao nível mundial.
Numa época em que é cada vez mais comum o convívio e/ou confronto entre indivíduos
pertencentes a grupos culturais, étnicos e religiosos distintos, a
escola vê-se perante a necessidade de gerir a sua diversidade
cultural interna e de educar os jovens para uma cidadania plena.
Por essa razão, diversos autores defendem a aposta na
14
educação intercultural enquanto modelo que reconheça o valor
insubstituível da diversidade, abrindo espaço às diferenças e
subjectividades dos alunos e que procure alcançar maior justiça
social, garantindo iguais oportunidades de sucesso escolar.

2.5 A educação ao longo da vida


Hoje em dia, não se considera que a formação de uma pessoa fique completa num dado
momento da sua vida. As novas tecnologias da informação e da comunicação (TIC), por
exemplo, exigem uma constante actualização. Multiplicam-se as especializações, a formação
profissional, os seminários e conferências, a Internet torna acessível todo o tipo de informação
e vivemos num processo permanente de aprendizagem.
Ora, dada esta diversidade de fontes e formas de saber, tem-se dado preferência ao termo
aprendizagem, mais do que educação, reforçando a ideia de que a aquisição de novos
conhecimentos ocorre ao longo da vida e não apenas no seu início.
Segundo esta perspectiva, o que distingue as sociedades actuais das do passado é a
importância central assumida pela informação e pelo
conhecimento. Na “sociedade do conhecimento” em que
vivemos, as oportunidades de êxito pessoal e profissional
tendem a aumentar em função da capacidade de adaptação a
novos contextos, a flexibilidade e polivalência no trabalho, o
espírito empreendedor e criativo, a abrangência e
especialização dos conhecimentos, a disponibilidade para a
formação permanente, o domínio das TIC e de línguas estrangeiras, entre outros.
A formação profissional tornou-se recentemente obrigatória em Portugal. Esta mudança
obrigou os agentes a proceder regularmente ao levantamento das necessidades formativas
dos seus colaboradores e, a partir daí, elaborar um plano de formação tendente a desenvolver
as suas competências – sejam elas técnicas, comportamentais ou outras.
Manual do Módulo S3_Viver em Sociedade

15

3. As organizações
3.1 Conceito e exemplos
As profundas e inúmeras transformações ocorridas nas sociedades modernas fazem com que o
papel das organizações na vida dos cidadãos seja fundamental.
Se observarmos o mundo que nos rodeia, constatamos que vivemos numa sociedade
dominada por diversos modelos organizacionais e que todos nós pertencemos a várias
organizações e nos relacionamos directa e indirectamente com muitas outras.
O Homem moderno passa a maior parte do seu tempo em organizações, das quais depende
para nascer, viver, aprender, trabalhar, adquirir produtos e utilizar serviços de que necessita,
pelo que o papel das organizações assume uma importância crescente na sociedade. São as
organizações que actualmente assumem a responsabilidade pela execução das tarefas
necessárias para o funcionamento da sociedade: a produção de bens e serviços, o ensino, a
prestação de cuidados de saúde, a solidariedade social, a segurança, o desporto, entre muitas
outras actividades, todas a cargo das diversas culturas que emanam da sociedade.
Mas porque temos tantas organizações? Porque as sociedades são cada vez mais complexas e
as organizações são mais eficientes do que a acção individual e independente dos indivíduos.
É por isso importante estudar e compreender as organizações, as suas características
fundamentais, os diversos modelos e o impacto que têm nas nossas vidas.

Um exemplo de uma organização Texto 9

«Um hospital moderno é um bom exemplo de uma organização. Uma organização é um grupo amplo de pessoas,
estruturado em linhas impessoais e constituído para se alcançarem objectivos específicos; no caso do hospital, estes
objectivos são os de curar doenças e prestar outras formas de assistência médica.
As organizações desempenham actualmente um papel muito mais importante nas nossas vidas quotidianas do que
antigamente. Além de nos pôr no mundo, acompanham-nos no nosso desenvolvimento até que morremos.»
Anthony Giddens, op. cit.
Manual do Módulo S3_Viver em Sociedade

Verificamos, assim, que as organizações desempenham um papel determinante nas


sociedades contemporâneas, estando presentes nas nossas vidas desde o nascimento até à
morte. Neste sentido, as organizações são fundamentais para o progresso das sociedades e,
simultaneamente, para o desenvolvimento pessoal de cada ser humano.
Visando a concretização dos objectivos bem definidos, cada organização estrutura-se no
sentido de atingir tais objectivos. A estruturação interna das organizações implica o
ordenamento dos recursos materiais e humanos que têm ao seu dispor, o estabelecimento de
16
regras e a divisão e especialização do trabalho. As organizações determinam, ainda,
hierarquias, de forma a promover o comprimento das regras internas e a aumentar o sucesso
na concretização dos seus fins e objectivos.
Estas características fundamentais são comuns a todas as organizações, independentemente
da sua natureza e tipo.

3.2 Tipos de organizações


As organizações distinguem-se pela forma como são financiadas, pelos beneficiários da sua
acção e, sobretudo, pelos objectivos que pretendem alcançar.
A classificação mais comum é aquela que as distingue em públicas, privadas e de economia
social.

Organizações públicas
O Estado criou ao longo do tempo diversas estruturas e organizações públicas. O direito à
liberdade e à segurança, a liberdade de aprender e ensinar, o direito à segurança social e o
direito à protecção da saúde são exemplos de direitos constitucionais que incumbe ao estado
salvaguardar e promover.
O cumprimento de tais obrigações é essencial para a satisfação das necessidades colectivas e,
consequentemente, para o bem-estar social. As organizações públicas têm, pois, como função
a satisfação das necessidades da população.
O financiamento destas instituições é garantido pelo Estado, por intermédio dos impostos
pagos pelos cidadãos.
Neste tipo de organizações podemos ainda incluir as empresas públicas, constituídas por
capitais públicos e que visam a obtenção do lucro. Estas empresas operam em sectores
estratégicos da economia, por exemplo, a energia e a banca.

Organizações Privadas
As organizações privadas têm como objectivo central a obtenção de lucros a partir das
actividades que desenvolvem. São exemplos deste tipo de organizações as empresas em nome
individual e os diversos géneros de sociedades. Estas organizações são fundamentais para a
produção da riqueza e são elas as principais responsáveis pela criação de emprego. O objectivo
principal das empresas privadas é o lucro e a distribuição dos resultados financeiros pelos
proprietários.

Organizações de economia social


As organizações de economia social são entidades sem fins lucrativos que têm como
objectivos essenciais a produção de bens e a prestação de serviços de forma a dar resposta a
vários problemas sociais que afectam hoje em dia as comunidades.
Manual do Módulo S3_Viver em Sociedade

As instituições deste tipo, dirigidas de forma democrática, organizam os recursos materiais e


humanos disponíveis no sentido de minimizar carências sociais.
Instituições particulares de solidariedade social, misericórdias, fundações e cooperativas são
exemplos deste tipo de organizações, tendo todas em comum a natureza social da sua
actividade, a autonomia e a organização dos interesses dos membros com o interesse geral das
comunidades.
Face aos inúmeros e diversos problemas de cariz social que afectam a sociedade, as
17
instituições deste género constituem importantes centros de apoio às populações mais
carenciadas, promovendo a solidariedade e a inclusão social.

3.3 Estrutura organizacional e divisão do trabalho


Todas as organizações possuem um conjunto de elementos materiais e humanos que têm de
organizar tendo em conta os objectivos e fins que pretendem atingir.
Neste sentido, cada organização tem a sua própria estrutura organizacional, ou seja, um modo
próprio de reunir recursos, dividir e distribuir tarefas, estabelecer uma hierarquia de
autoridade e de responsabilidade, que lhe permite diminuir os custos das suas actividades e,
simultaneamente, obter uma maior eficácia na concretização dos objectivos.
A existência de normas e regulamentos que, a partir da estrutura hierárquica, estipulam e
coordenam as inter-relações entre as pessoas e os órgãos de uma instituição constitui a
chamada organização formal, normalmente representada através de um organigrama2.
A distribuição das pessoas pelos diferentes órgãos e níveis hierárquicos decorre de uma
diferenciação de tarefas, ou seja, da divisão do trabalho. Esta divisão constitui um dos
aspectos mais importantes da estrutura de uma organização e pode ser realizada de três
maneiras:
 Divisão vertical: existência de diferentes níveis hierárquicos de autoridade e
responsabilidade.
 Divisão horizontal: divisão de funções por departamento no mesmo nível hierárquico,
chamada departamentalização;
 Divisão por tarefas especializadas: existência de órgãos de assessoria ou staff.

3.4 Tipos de estrutura organizacional


Embora cada organização estabeleça um desenho organizacional próprio, podemos definir
três tipos tradicionais de estrutura hierárquica:

Linear
Funcional

Linha-
staff

Estrutura
2
Um organigrama é a representação gráfica e esquemática da estrutura de uma organização. O desenho ou estrutura
organizacional varia de organização para organização, de acordo com os recursos disponíveis, o meio onde se insere, a conjuntura
socioeconómica, mas sobretudo os objectivos e fins que a organização pretende atingir.
Manual do Módulo S3_Viver em Sociedade

Estrutura linear
Esta estrutura é a forma mais antiga e simples de representar uma organização. Baseia-se na
autoridade linear e é inspirada pelas antigas concepções de organização militar e eclesiástica.
Neste tipo de estrutura destaca-se o princípio da autoridade linear, ou seja, uma unidade de 18
comando em que entre o superior e os subordinados existem linhas discretas e únicas de
autoridade e responsabilidade. Cada subordinar recebe ordens de apenas um superior, tendo
este autoridade exclusiva sob os seus subordinados.
As comunicações formais fazem-se através de linhas, em sentido ascendente ou descendente.
Nos níveis superiores da escala hierárquica, diminui o número de cargos ou órgãos e aumenta
a centralização da autoridade e da responsabilidade das decisões.

O organigrama tem um aspecto piramidal:

Direcção

Estabelecimento A Estabelecimento B

Serviços Serviços Serviços de Serviços Serviços Serviços de


comerciais administrativos pessoal comerciais administrativos pessoal

Esta estrutura comporta em si vantagens e desvantagens:


Estrutura Linear
Vantagens Desvantagens
› Estrutura simples e aplicação simplificada › A organização é bastante rigorosa,
› Sentido claro das tarefas e cargos demonstrando rigidez e inflexibilidade que
› Facilidade da comunicação das ordens e dificultam a adaptação a novas situações
informações › Possibilidade de o comando único se tornar
› As decisões são aceleradas autoritário, impedindo a participação e a iniciativa
› Fácil manutenção da disciplina das pessoas
› Diminuição das despesas na administração

Este tipo de estrutura é indicado para organizações estáveis e de pequenas dimensões, não se
adequando a organizações de grande complexidade e dimensão.

Estrutura funcional
Este tipo de estrutura caracteriza-se por uma autoridade funcional, ou seja, uma autoridade
baseada no conhecimento e na especialização de funções.
Manual do Módulo S3_Viver em Sociedade

Neste tipo de estrutura, cada subordinado tem vários superiores, cada um dos quais possuindo
uma autoridade parcial relativa apenas à sua especialidade. As decisões são descentralizadas e
delegadas dos órgãos especializados, permitindo, desta forma uma maior flexibilidade e
adaptação às novas exigências de uma sociedade baseada no conhecimento e na tecnologia.
Face à cada vez maior competitividade e complexidade das próprias organizações, a estrutura
funcional apresenta-se a mais adequada para as grandes organizações, estabelecendo a
existência de vários superiores hierárquicos com responsabilidade e autoridade em diferentes
19
áreas.

Direcção

Serviços Serviços Serviços de


comerciais administrativos pessoal

Estabelecimento Estabelecimento
Esta estrutura A B comporta em si
vantagens e desvantagens:
Estrutura Funcional
Vantagens Desvantagens
› Melhor supervisão técnica e maior eficiência no › A distribuição da autoridade pode conduzir a
desempenho de cada cargo, dado que cada órgão problemas no que respeita à delimitação de
se concentra nas tarefas da sua especialidade responsabilidades
› Comunicações melhores e mais rápidas › As orientações que o subordinado recebe
podem ser divergentes ou mesmo contraditórias
› A crescente especialização pode gerar falta de
visão do conjunto da organização

Estrutura linha-staff
Este tipo de organização procura reunir as vantagens e reduzir as desvantagens das estruturas
linear e funcional.
Para atingir este objectivo, este tipo de estrutura conjuga a autoridade linear com a autoridade
funcional, coexistindo na mesma organização órgãos de linha com autoridade linear e órgãos
staff com autoridade funcional que prestam serviços especializados de apoio e consultadoria.
Os órgãos de linha são assessorados pelos órgãos staff, residindo nestes últimos a
especialização e nos primeiros a autoridade, pelo que as decisões, apesar de centralizadas
numa autoridade, são deliberadas com base em aconselhamentos e opiniões especializadas.
Este tipo de estrutura tem sido mais utilizadas nas organizações de grandes dimensões.

Gabinete de estudos
Direcção

Secção de Secção de Gabinete técnico


pessoal produção

Órgãos de linha
C D E A B
------ Órgãos de staff
Manual do Módulo S3_Viver em Sociedade

Esta estrutura comporta em si vantagens e desvantagens:


Estrutura Linha - staff
Vantagens Desvantagens 20

› Combina uma unidade de comando com o › Possibilidade de surgirem conflitos entre os


aconselhamento dos órgãos de staff órgãos de assessoria e os outros órgãos, quando
os assessores interferem nas linhas de autoridade
a que prestam apoio

3.5 A cultura organizacional

A lealdade profissional no Japão e no Ocidente Texto 10

«Assim, se os japoneses estão dispostos a trabalhar mais horas e ter menos férias do que a maioria dos ocidentais, uma
possível explicação não é afirmar que se trata de uma raça com tendência genética para “trabalhólica”, pelo contrário,
os japoneses estão ligados por laços de lealdade para com as respectivas empresas. (…)
Quando Seward regressou à América, após vários anos passados no Japão, um visitante japonês alojado em sua casa
viu, por acaso, um anúncio televisivo a uma marca de cerveja. O anúncio mostrava homens a trabalhar; depois, quando
soavam as cinco horas, os trabalhadores atiravam com as ferramentas e corriam para as carrinhas, para beber uma
cerveja. O visitante japonês ficou chocado: “Os trabalhadores americanos não sentem qualquer obrigação para com as
suas empresas? Agem como se não vissem a hora de sair do trabalho…”.
Não foi a preguiça dos trabalhadores americanos, nem o seu desejo irreprimível de cerveja, aquilo que perturbou tanto
o telespectador japonês: foi a sua falta de dedicação à empresa e aos colegas. Aquele anúncio não poderia ser
transmitido no Japão.»
Peter Singer, como Havemos de Viver?, Dinalivro, 2005

Anthony Giddens, op. cit.

Nas sociedades contemporâneas, o papel das organizações é cada vez mais importante. Todas
as instituições possuem uma cultura organizacional, constituída por um conjunto de valores,
símbolos, normas e tradições, que motivam as pessoas fazem parte de uma organização a
agirem em prol dos seus interesses e objectivos e criando nas pessoas um sentimento de
pertença e de partilha de valores.
Por outro lado, a cultura de uma organização distingue-a das outras com culturas diferentes,
reforçando nas pessoas a identificação com o todo qual pertencem e o compromisso com os
seus valores.
Por exemplo, a identificação e o compromisso dos trabalhadores japoneses com as empresas
onde trabalham são dos principais factores explicativos do chamado “milagre económico
japonês”. Algumas empresas, como a Mazda, em Hiroshima, nunca despediram um único
trabalhador (Peter Singer).

3.6 As organizações na sociedade contemporânea


As organizações contemporâneas são o reflexo das próprias sociedades onde estão inseridas.
O dinamismo e a abertura das sociedades, as profundas alterações sociais e económicas, o
impacto das novas tecnologias na era da globalização trazem novos desafios às organizações.
Manual do Módulo S3_Viver em Sociedade

Vivemos numa era de imensas dificuldades e, simultaneamente, de inúmeras oportunidades. É


neste contexto que cada organização deve procurar a necessária renovação, seja ao nível dos
modelos de gestão, da reorganização dos paradigmas, da organização de trabalho e do
aproveitamento da interdependência organizacional ou mesmo do reequacionamento dos
seus objectivos.
A sobrevivência de inúmeras organizações, e, em particular, das organizações privadas e
empresariais, depende da sua capacidade de internamente se reestruturarem e adaptarem
21
aos novos e mutáveis tempos modernos.

Módulo

Viver em S3
Sociedade
Bibliografia:

 Pombo, A. C. et al. (2009). À Descoberta da Sociologia: Módulo 1, 2, 3, 4. Porto: Porto


Editora.

Você também pode gostar