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E Quando há Crianças no Divórcio ?

A Criança e o Divórcio dos Pais

» Quando e Como devemos anunciar ?


» O que devemos explicar ás crianças ?
» O que sentem e pensam as Crianças, nas diferentes fachas
etárias ?
» Como ajudar as Crianças a ultrapassar esta fase ?

O divórcio é uma decisão que afecta não só os cônjuges mas como


todos os membros de uma família, sobretudo os filhos.

A maior preocupação de quase todos os pais é saber se a separação


irá magoar os seus filhos e de que forma os poderão ajudar a superar
esta crise familiar, que é um dos acontecimentos mais adversos e
stressantes na vida de uma criança, o que se traduz numa
experiência dolorosa.

A separação dos pais tem efeitos nos filhos que podem ser
distinguidos em reacções imediatas ou de curto prazo e reacções a
longo prazo (mais de dois anos) (Teyber, 1995). Iremos fazer uma
descrição somente das reacções a curto prazo.

Nas reacções de curto prazo, logo após a separação, as crianças


ficam muito perturbadas sem compreenderem o que está a
acontecer. A separação é uma surpresa e um choque, mesmo que os
adultos pensem que não foi uma decisão repentina. É comum no
primeiro ano, após a separação, os pais observarem nos seus filhos
mais raiva, medo, depressão e culpa. Estas reacções geralmente
diminuem após o segundo ano.

Mas, a idade da criança é um factor a ter em conta nas suas


possíveis reacções imediatas face ao divórcio (Teyber, 1995):

As crianças em idade pré-escolar (3 a 5 anos) frequentemente


reagem à separação dos pais com raiva e tristeza ao mesmo tempo.
Os rapazes tendem a ficar mais agressivos, barulhentos e agitados.
Tendem a ser desordeiros nas actividades de grupo com outras
crianças preferindo ficar sozinhos com frequência. No caso das
meninas desta idade, também algumas delas ficam mais agressivas,
mas outras transformam-se em crianças “perfeitas” demasiado
preocupadas em serem correctas e boas.

Tanto os meninos como as meninas desta idade sentem-se tristes,


choram mais facilmente e tornam-se mais exigentes. Poderá
também acontecer como uma reacção ao choque inicial da
separação conjugal as crianças regredirem e agirem como crianças
mais novas, ou seja, voltam a ter comportamentos que já tinham
ultrapassado, por exemplo, chuchar no dedo, segurar um cobertor
nas mãos, pedir a chupeta, bater nos companheiros e pedir ajuda
para se alimentarem. Além disso, elas também sentem mais
ansiedade ou insegurança.

Quando as crianças de 3 a 5 anos ficam ansiosas, por exemplo, os


pais vão notar maior frequência de pesadelos, enurese nocturna e
medo de sair de perto de um dos pais. Elas viram um dos pais sair de
casa inesperadamente e, portanto, receiam também ser
abandonadas pelo outro.

Para as crianças de 6 aos 8 anos o divórcio dos pais parece ser


particularmente difícil. A reacção básica destas crianças é a tristeza
que as torna mais propensas a chorar abertamente devido à
separação dos pais. Costumam sentir saudades do progenitor que
está fora de casa e acreditam que foram rejeitadas por ele.

Este intenso sentimento de rejeição e de não ser amado resulta em


baixa auto-estima, depressão e uma queda no aproveitamento
escolar. Estas crianças ficam preocupadas com os pais e muitas
vezes tentam impedir o divórcio e desejam reconstituir a família.

Enquanto que o principal sentimento nas crianças de 6 a 8 anos é a


tristeza, o das crianças de 9 a 12 anos é a raiva. Embora, também
fiquem tristes por causa do rompimento, temerosas do que vai
acontecer e solitárias. Estas crianças podem ficar intensamente
zangadas com ambos os progenitores, por causa do rompimento, ou
apenas com o progenitor que tomou a iniciativa da separação.

São propensas a tomar o partido de um dos pais contra o outro e a


atribuir culpas, tendem também a rejeitar as tentativas de contacto
com o progenitor que está fora de casa. Sentem-se impotentes, não
querem o divórcio, têm saudades da família intacta e do progenitor
que está fora de casa, e sentem-se incapazes para influenciar as
mudanças em curso na sua vida. O aproveitamento escolar também
mostra uma acentuada queda nesta faixa etária.

Outros sintomas também podem emergir neste período, por


exemplo, muitas crianças começam a ter problemas de convivência
com os amigos ou a apresentar queixas físicas, como dores de
cabeça ou de estômago. Algumas delas ficam tão preocupadas em
tomar conta de um dos pais e a prevenir as suas necessidades que
sacrificam o seu próprio bem-estar.
A Explicação dos Pais para a Separação Inicial

A forma como a decisão dos pais é anunciada aos filhos é muito


importante, e é fundamental que ambos os pais estejam presentes
aquando da comunicação do divórcio.

O medo do abandono e a ansiedade de separação são uma das


maiores fontes de problemas emocionais e de comportamento das
crianças depois do divórcio. A melhor forma de prevenir o
desenvolvimento destes sintomas é ajudar as crianças a sentirem
que têm mais controle sobre a vida, o que se consegue através de
(Poussin & Martin-Lebrun, 1999):

1. Dizer às crianças o que devem esperar, ou seja, o que vai


acontecer e quando. Os filhos enfrentam com muito mais facilidade
todo o processo de divórcio quando são informados de antemão
sobre o que devem esperar.
2. Dar-lhes uma explicação sobre o divórcio, cada um dos pais pode
contar as suas razões, mas de uma forma que os filhos sejam
capazes de entender;
3. Tranquilizar os filhos a respeito da permanência e continuidade
da relação com os dois progenitores. A partida inesperada de um dos
pais é sempre um choque angustiante para os filhos. Quando se
separam, os pais devem manter contacto frequente e previsível com
os filhos começando imediatamente após a partida de um dos
progenitores, para que desta forma não seja ameaçado o vínculo
existente entre a criança e cada um dos pais.

Todas as crianças precisam de desenvolver o sentido de segurança, a


flexibilidade e a independência necessárias a um mundo repleto de
alterações rápidas e constantes.

Para que tal aconteça pais e filhos devem comunicar uns com os
outros, as crianças devem ter liberdade para poderem expressar as
suas preocupações e sentimentos, caso lhes apeteça partilhar, e
estes devem ser aceites pelos adultos. Os pais vão continuar a ser
um casal de pais e desta função não podem pedir o divórcio.

Exclusivo guiadafamilia.com
conteúdo gentilmente cedido por parceiro guiadafamilia.com:

Dra. Ana Pernicha e Dr. Ricardo Baptista


Centro de Psicologia e Formação da Pessoa

http://www.cpfpessoa.com/

Referências Bibliográficas
Poussin, Gérard & Martin-Lebrun, Elisabeth. (1999). Os Filhos do
Divórcio. Lisboa: Terramar
Teyber, Edward. (1995). Ajudando as crianças a conviver com o
divórcio. São Paulo: Nobel
Divórcios?...
Fazer do divórcio um momento isento de dor para os
filhos é uma missão impossível. Torná-lo menos doloroso
é a missão que só os pais podem levar a cabo! Como
tornar então este momento de ruptura e dor menos
doloroso?

"Desde há uns tempos que o Pedro e eu ouvimos os nossos pais


discutir. Eu sinto que aquela alegria, que cá havia antes, se foi
embora. O pai muitas vezes não está em casa e a mãe anda
muito, muito triste, e os seus olhos andam sempre vermelhos e
pesados de tanto chorar (...) Ontem à noite ouvimos barulho,
gritos e gritos e muita zanga no quarto durante muito, muito
tempo. (...) Eu tapei os ouvidos com as mãos quando ouvi o
meu pai gritar e falar em divórcio e o barulho de alguma coisa
que se partiu. (...) Divórcio... Será que eles se vão divorciar
como os pais de alguns amigos meus lá do colégio? Será que
divórcio quer dizer que um deles se vai embora cá de casa?"

"As crianças e o divórcio - O diário de Ana", de Maria Saldanha


Pinto Ribeiro

A separação dos pais é sempre causa de sofrimento para os


filhos. Mesmo que a vida diária se tenha tornado um inferno, os
filhos sofrem com a separação e, muito frequentemente,
passados anos, continuam a sonhar com a reconciliação dos
pais. É que, apesar dos gritos, dos objectos partidos e dos
insultos, "havia sempre o passeio ao domingo, o beijinho de boa
noite do pai e a visita quinzenal ao MacDonald´s...".
A separação é, não só para os pais, mas também para os filhos,
uma transição de vida e consequentemente um processo de luto
e readaptação a uma nova situação. Nem sempre os pais têm
consciência que também os filhos têm de lidar com sentimentos
de perda e também eles têm de reconstruir um novo sentido
para a vida, tarefa muito dolorosa e por vezes bastante confusa!

Fazer do divórcio um momento isento de dor para os filhos é


uma missão impossível, torná-lo menos doloroso é a missão que
só os pais podem levar a cabo! Como tornar então este
momento de ruptura e dor menos doloroso?

Prepare conjuntamente com o seu cônjuge a conversa que


irão ter com o vosso filho, no sentido de lhe comunicar o
final da relação conjugal. Esta conversa deverá acontecer
quando a decisão de se separarem estiver devidamente
consolidada e pouco tempo antes de um dos elementos do
casal deixar o espaço físico, que anteriormente era
partilhado por todos.

O local escolhido para esta conversa deverá ser calmo e a


posição corporal deverá permitir o contacto físico. Um
abraço no momento certo ajudará as palavras a
"ganharem" mais sentido.

Nessa primeira conversa e em conversas posteriores,


sublinhe sempre que, apesar da relação conjugal ter
terminado, o amor que sentem por ele(a) continuará
sempre bem vivo e que jamais terminará. Ele(a) deverá
sentir que é um tesouro na vida dos pais e que a
separação não altera este facto.
As razões da separação devem ser explicadas de uma
forma muito simples, não sendo necessário nem
aconselhável explicar razões concretas. Concretizar
demasiado só servirá para magoar a criança e para reduzir
uma realidade muita vasta e profunda, que nem sempre é
possível traduzir por palavras.

Quando as crianças são pequenas, por vezes, julgam-se


culpadas da separação dos pais. Converse com o seu filho
sobre este sentimento, e faça-o compreender que ele não
é culpado da separação.

Sentimentos de perda, abandono, incredulidade, negação


e dúvida são frequentes face a uma situação de divórcio.
Por esta razão, é fundamental criar situações em que
todos estes sentimentos possam ser expressos. Prepare-se
para as lágrimas, para lhe responder a todas as suas
questões de uma forma verdadeira e clara e sobretudo
para o ouvir.

O quotidiano da criança deve assemelhar-se, na medida do


possível, àquele que ela tinha antes do divórcio. Grandes
alterações do estilo de vida da criança só contribuirão para
que esta tenha de se adaptar ainda a mais situações
diferentes, o que só dificultará o processo. Por exemplo, se
era o pai que a levava à escola, isto deverá, se possível,
continuar a acontecer.

Denegrir a imagem do outro é pôr à frente dos interesses


da criança o seu desejo de retaliação e vingança.
Mantenha os seus conflitos afastados da criança e ajude-a
a manter uma imagem positiva do outro cônjuge. Ela tem
o direito de viver com ambos, de ter uma imagem positiva
dos dois e de ser livre de amar todos: avós, tios e,
eventualmente, novos companheiros da mãe ou do pai.

Não faça do seu filho um mensageiro entre si e o seu ex-


cônjuge. Ele nunca deverá ser o transmissor de
mensagens, quer elas se tratem de dinheiro, férias ou
problemas de outra ordem. Todas as negociações deverão
ser feitas directamente pelos pais, nunca envolvendo os
filhos neste tipo de situação.

Os amigos da escola, os primos, os avós, os professores e


outras pessoas de quem a criança gosta podem ser uma
grande ajuda neste momento difícil. Os pais devem, por
isso, rodear-se dos entes queridos dos filhos. O seu
isolamento e o isolamento dos filhos é a pior opção.

Ambos os cônjuges devem passar o máximo de tempo


possível com os filhos. Se tal não for possível a um dos
pais, é importante que o pouco tempo que passem juntos
seja de qualidade. Se um pai não puder estar com o seu
filho no mínimo de 15 em 15 dias, é indispensável que fale
com ele para lhe explicar os motivos. Esta informação
poderá ser dada via telefone, devendo ser transmitida à
própria criança, e não ao adulto com quem ela vive.

Todas esta sugestões fazem ainda mais sentido se tiver em


consideração que não é tanto o divórcio em si que tem
consequências nefastas, mas sim a forma como os pais se
separam!
" Perguntei à Teresa, lá no colégio, como tinha sido a separação
ou o divórcio dos Pais dela. Ela disse-me que os Pais dela
tinham ido lutar para o Tribunal, e depois o Juiz é que decidia
quem ganhava e quem perdia. (...) Percebi que nem todos os
pais se divorciam da mesma maneira. Foi nessa altura, em que
a Teresa me estava a contar o que sofreu, aqui no jardim da
casa, debaixo do pessegueiro, que eu entendi o amor dos meus
Pais pelo Pedro e por mim. Foi assim que percebi que as
pessoas são muito diferentes, quando se separam" .

" As crianças e o divórcio - O diário de Ana" de Maria Saldanha


Pinto Ribeiro

Como referenciar este artigo:


Divórcios?.... In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-
2010. [Consult. 2010-05-29].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$divorcios...>.

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