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APONTAMENTOS PARA CONSULTAS

Quando é que a areia movediça de uma memória traumática ou de um criticismo passado vai
desaparecer completamente? – a tentativa de sair da areia movediça faz parte do problema. =
assim como o evitamento do sofrimento o perpetua e torna maior

EVITAR tem um efeito paradoxal (contrário)

Pense agora num dos seus aspetos psicológicos que gosta menos e que os faz sofrer.
Confrontou-se com isso no último mês? Há seis meses? Há um ano? Qual a idade desse
problema?

A regra do evitamento nunca funciona na mente verbal (a mente que utiliza a linguagem para
evocar o passado e prever o futuro). Pode o evitamento funcionar no mundo externo, mas
nunca na mente.

PROCESSOS PATOGÉNICOS DA DEPRESSÃO

 Fusão cognitiva (desfusão)


 Evitamento experiencial (aceitação)
 Ruminação (contacto com o momento presente)
 Apego ao eu conceituado

Que aspetos podem ser reforçadores da depressão/sofrimento?

Segundo a ACT, o sofrimento associa-se à luta contra emoções difíceis, pensamentos,


memórias desagradáveis, sensações não desejadas. A ACT pretende lidar com o evitamento
experiencial e com o compromisso da mudança. A intervenção é orientada para a modificação
do contexto verbal no qual acontecem comportamentos, pensamentos ou emoções.

Tendo em conta os componentes centrais do modelo terapêutico subjacente a esta teoria,


toda a intervenção se centra em tornos dos seguintes tópicos:

 Abandono da agenda de controlo e aceitação da experiência tal como ela é: aceitação


 Clarificação dos valores e estabelecimento de compromissos de ação: valores,
compromissos de ação
 Distanciamento dos pensamentos e emoções: desfusão cognitiva
 Estar no momento presente: aumentar o autoconhecimento através do mindfulness
 Desenvolvimento do self como contexto: eu como contexto
AVALIAÇÃO: QUESTÕES BÁSICAS

– O que é que o trouxe a esta consulta?

– Desde quando isso tem sido um problema para si?

– O que é que tem feito para resolver esse problema?

– O que é que o tem impedido de viver uma vida com significado/como quer?

FORMULAÇÃO: DUAS QUESTÕES BÁSICAS

1. Que direção é que o doente pretende tomar nesta área de vida?

Esta questão tem a ver com valores. Como é que o doente quer crescer e se desenvolver nesta
área de vida? O que é que é importante para ele? Que capacidades quer ele desenvolver e
fortalecer? Que espécie de relações quer estabelecer?

Se não conseguir responder a isto tem que se trabalhar com a clarificação dos valores. Se
responde, pode usar isso para estabelecer objetivos valorizados e para guiar a mudança
comportamental.

2. O que é que o está a impedir de ir nessa direção?

Tem a ver com as barreiras existentes a uma ação valorizada: o que é que está a impedir o
doente de levar a sua vida na direção que quer? Com que é que está fusionado? O que é que
está a evitar? Quais são as suas ações ineficazes?

As respostas a estas questões dizem-nos o que precisamos de trabalhar: “desfusão”,


“aceitação”, “treino de competências”, “disponibilidade”.

FOLHA DE CONCEPTUALIZAÇÃO
RÁPIDA
5. Avaliar a FLEXIBILIDADE PSICOLÓGICA

Avalie áreas de vida nas quais o doente exibe flexibilidade psicológica através de desfusão,
aceitação, um sentido de eu-como-contexto, contacto com o momento presente, ligação a
valores e tendo ações comprometidas.

Esta é uma parte vital da história. Se imaginarem a flexibilidade psicológica como uma escala
de 0 a 10, presumivelmente não haverá nenhum doente que pontue zero. Então há que
procurar que componentes da flexibilidade psicológica ele usa já, e com que resultados.
Quando essa informação não surge indiretamente, podemos fazer perguntas diretas como:

 Alguma vez sentiu que era capaz de se desligar dos seus pensamentos ou não os tomar
muito a sério? Ou talvez alturas em que a sua mente o estava a criticar, mas você “não
se identificou” ou não “comprou essa crítica”?
 Alguma vez sentiu que era capaz de tolerar os seus sentimentos ou emoções, mesmo
quando eles eram muito desagradáveis?
 Alguma vez teve a sensação que era capaz de “dar um passo atrás” (ou distanciar-se) e
observar pensamentos ou sentimentos dolorosos mais do que lutar com isso ou tentar
esconder-se deles? Tem alguma prática espiritual ou meditativa?
 Em que alturas é que sente ligado á vida, ou consigo mesmo ou com o mundo? Quando
é que você consegue uma sensação que a sua vida tem sentido, ou propósito ou ainda
de vitalidade? Em que tipo de atividades é que isso aconteceu? Aonde? Quando? Com
quem?
 Quando é que sentiu que estava a viver o melhor da sua vida, ou contribuiu para
alguma coisa importante, ou ligado a alguma coisa que o entusiasmava?
 Quando é que você vai para a frente e faz o que é preciso, independentemente do que
está a sentir?
 Em que alturas é que está completamente presente – i.e. consciente e envolvido
naquilo que está a fazer em vez de “na sua cabeça não estar ali? A fazer que tipo de
atividades? Com quem? Aonde e quando?

COMO TRABALHAR ACT? ENQUANTO ESTÁ A FAZER A HISTÓRIA

Ao fazer a história procurar sinais de ativação emocional. Estes podem ser oportunidades
para intervenções mini-mindfulness. O terapeuta pergunta: – “O que é que apareceu na
sua mente agora?” “Onde é que sente isso no corpo?”.
Pode também utilizar-se esses sinais de ativação emocional para elucidar a agenda de
controlo – “O que é que faz normalmente quando esses sentimentos aparecem na sua
mente”?

Também é possível fazer desfusão enquanto se recolhe informação para a história. – Por
exemplo, como parte das questões iniciais, a pergunta “Quando a sua mente o quer pôr
mesmo em baixo e lhe diz o que há de errado na sua vida e consigo, quais são as piores
coisas que ela lhe diz? “Se eu pudesse ter uma ligação à sua cabeça o que é que eu ouviria
a sua mente dizer”?

Alternativamente se o seu doente revelou alguma coisa significativa – por exemplo um


“segredo” longamente guardado ou um “hábito vergonhoso” – o terapeuta pode
perguntar “O que é que sua mente lhe está a dizer agora acerca disto”, “Ou acerca do
facto de ter partilhado isto comigo”?

VALORES

– O que é que é realmente importante para si?

– O que é que no fundo do seu coração é importante?

– O que é que quer fazer com o seu tempo neste planeta?

– Que tipo de pessoa quer ser?

– Que tipo de qualidades e capacidades pessoais quer desenvolver?

DESESPERANÇA CRIATIVA – OBJETIVOS


Confrontar o doente com a realidade de que quanto mais esforço coloca em tentar
controlar a forma como se sente, mais perde qualidade de vida (i.e. vai cultivando um
sentimento de desesperança acerca de ser capaz de controlar os seus sentimentos).

O que é que tem tentado fazer para se livrar desses sentimentos/sintomas? (elicitar 5 ou 6
estratégias de evitamento experiencial) “Bem, isso são as coisas que as pessoas
habitualmente fazem. Todos nós evitamos situações ou usamos todo o tipo de métodos
para nos distrairmos do que estamos a sentir. E a curto prazo algumas dessas coisas
fazem-nos sentir melhor. Mas, deixe-me perguntar-lhe isto: A longo-prazo, o fazer essas
coisas melhorou a sua vida ou tornou-a pior”?

Criar curiosidade e abertura a formas alternativas de viver a vida (i.e. cultivar um sentido
de criatividade. Que possibilidade haverá se não tentarmos controlar o que sentimos?)

“Quando utilizamos esses métodos em excesso, qual é o seu custo – em termos da


saúde, vitalidade, relações, tempo perdido? O que é que perdeu ou desistiu devido a
isso?” … ”Ok. Tentou fazer essas coisas e algumas ajudaram-no a sentir-se um pouco
melhor, no imediato, mas a longo-prazo tornaram a sua vida pior.” Por isso, e “se
tentasse alguma coisa diferente?”

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