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Módulo
Descobrindo 1
a Psicologia 1
1
Psicologia:
definição e objecto de estudo
a especificidade da Psicologia enquanto ciência: complexidade e
subjectividade do estudo dos processos mentais e do comportamento do ser
humano
3
Psicologia – áreas de especialização
áreas pioneiras de especialização da Psicologia (psicologia social e das organizações,
educacional e clínica)
contexto actual e tendências futuras da Psicologia como área científica e como área
profissional (especialização)
Manual do Módulo P1_Descobrindo a Psicologia
Brainstorming
Uma das melhores formas de nos aproximarmos de um tema ou assunto é procurar a origem
etimológica da palavra que o designa, neste caso. Ora, o termo é de origem grega e é
constituída por dois elementos:
Os comportamentos humanos são muito complexos o que implica que a psicologia para os
compreender tenha de conhecer os processos mentais que estão na sua base e os contextos,
situações em que ocorrem. A psicologia procura não só compreender, explicar e compreender
o comportamento humano mas também ser capaz de o prever e modificar.
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Proposta de
Trabalho
A Joana caminhava lentamente. Sentia-se inquieta porque não tinha feito os trabalhos
de casa. Quando chegou ao portão da escola, a ansiedade aumentou ao pensar como
a professora iria reagir. Imaginava o desgosto que os pais sentiriam ao saber que ela
não andava a trabalhar.
As lágrimas começaram a cair. Receou que os colegas a vissem chorar. Respirou
fundo, levantou a cabeça e prometeu a si mesma que iria mudar.
inteligência
aprendizagem motivação
desenvolvimento percepção
emoções
A Psicologia é por si uma ciência complexa não só pelas várias que tem de ter em conta para
analisar o seu objecto de estudo, mas também pela própria dificuldade de análise. Não
podemos fazer determinadas experiências com humanos que podemos fazer com rochas e
plantas, por exemplo. Não é correcto do ponto de vista ético e moral, colocarmos crianças à
fome por vários dias apenas para sabermos como reagem a essa privação; assim como
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afastarmos os pais dos filhos para estudarmos o desenvolvimento das crianças longe dos pais.
Para além destes limites éticos e morais, o estudo em Psicologia é também dificultado pelo
próprio ser humano, que é dotado de vontades, de sentimentos e de desejos que são difíceis
de prever. A Psicologia é, de certa forma, marcada pela subjectividade, uma vez que quer o
psicólogo quer o seu objecto de estudo são seres humanos. Para além disto, há a crença geral
de que como somos seres humanos, compreendemos o comportamento humano. Mas esse
conhecimento faz parte do senso-comum, sendo incorrecto, inexacto e, por isso, deve ser
5
questionado. Esta subjectividade alguma vez se ultrapassa? Talvez não, mas é minimamente
contornada, através do contributo de muitos cientistas e da reversibilidade do processo do
conhecimento científico. Com um pensamento único não há avanço no conhecimento.
Esta breve introdução permite-te compreender que a psicologia é uma ciência muito
particular, que implica diferentes interpretações, diferentes abordagens e o recurso a métodos
diversificados. A complexidade e a subjectividade do comportamento humano explicam o
carácter único desta ciência.
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A Influência da Filosofia
Platão e Aristóteles são dois grandes filósofos da Grécia Clássica, do século IV a.C. Apresentam
teorias filosóficas com diferenças significativas, embora haja algumas semelhanças entre os
dois. Por exemplo, não conseguem separar o domínio físico do domínio psicológico e ambos
estabelecem uma distinção entre o corpo e a alma, se bem que em sentidos diferentes.
Segundo Platão (c. 427 – 347 a.C.) a alma pertence ao mundo inteligível (não sensível). O ser
humano é visto por Platão como um ser dualista, dividido em corpo e alma, que constituem
naturezas completamente distintas. A união da alma com o corpo não é um estado essencial
da alma, mas antes um estado transitório, visto que o seu lugar próprio é o mundo inteligível.
Platão concebe a alma como ser espiritual, aquilo que permite ao ser humano um pensamento
racional e, por isso, ela é um ser distinto dos outros seres. Isto significa que a alma é, no fundo,
aquilo que permite ao ser humano o conhecimento. Unida ao corpo, a alma tem como função
purificar-se, no sentido de alcançar a contemplação das ideias no mundo inteligível, a
verdadeira realidade e o verdadeiro conhecimento.
Para Aristóteles (c. 384 – 322 a.C.) a alma é uma força incorpórea mas que move e domina os
corpos, é o princípio da vida. Para este filósofo, a união entre o corpo e a alma é uma união
natural, dado que constituem uma só substância natural, uma totalidade: o ser vivo. Para
Aristóteles, o todo é anterior à parte.
Só nos finais do século XIX é que a Psicologia se emancipará da tutela da Filosofia. O seu
reconhecimento enquanto ciência é feito quando ela deixa de se preocupar com a alma e
elege outro objecto de estudo: o ser humano, que é possível de observar e testar
experimentalmente.
Os primeiros autores que vamos estudar – Wundt e Watson – procuraram aproximar-se deste
modelo de ciência. Posteriormente, autores como Freud promoveram outros caminhos no
sentido da construção da psicologia como ciência autónoma. Vamos analisar de forma sucinta
o processo de construção da psicologia como ciência referindo alguns autores que defenderam
perspectivas que são marcos da história da psicologia científica. Estes autores desenvolveram
teorias, modelos explicativos que marcaram decisiva o desenvolvimento da psicologia.
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A Psicologia Experimental
Proposta de
Trabalho
Elabora uma breve biografia acerca do seguinte autor Wilhelm Wundt.
7
I. Wundt e o Estruturalismo
Apesar de não ser tarefa fácil datar o início da Psicologia como ciência, é de consenso geral de
que a criação do primeiro laboratório constitui um marco de referência para a criação da
Psicologia enquanto ciência.
Wundt quer fazer da Psicologia uma ciência à semelhança da química, isto é, uma ciência
experimental e, por isso, cria o primeiro laboratório de Psicologia, em Leipzig, na Alemanha,
em 1879.
Com Wundt, a Psicologia deixa de ser o estudo da alma e passa a ocupar-se do estudo dos
processos mentais. Partilhava da convicção de que a consciência era constituída por várias
partes distintas e que, para a estudar, se deveria recorrer à análise dos elementos mais
simples. Tal como os átomos constituem as substâncias químicas, as sensações (emoções e
sentimentos) seriam os elementos mais simples da mente e da consciência. Os processos
mentais resultam da associação destes elementos, associação essa que é organizada pela
consciência.
Imagem 1. O todo é constituído por partes. Neste caso, a imagem é constituída por várias peças de puzzle.
A corrente da psicologia criada por Wundt ficou conhecida como estruturalismo, porque se
dedicou a descobrir a estrutura ou anatomia dos processos conscientes. O objecto de estudo
do estruturalismo foi a consciência. Com o objectivo de compreender em profundidade a
estrutura da consciência, Wundt embrenha-se numa perspectiva analítica, decompondo-a em
fenómenos mais simples e esses noutros mais simples até chegar às sensações puras. Os
psicólogos estruturalistas faziam da sensação a unidade fundamental da constituição dos
fenómenos respeitantes à consciência humana.
A partir de muitas experiências, Wundt e outros psicólogos concluíram que as sensações se
combinam de tal forma que o resultado final pressupõe, não uma mera soma de elementos,
mas algo mais que os elementos constituintes.
Tal como na figura, a imagem final difere dos elementos adicionáveis, também os fenómenos
psicológicos são diferentes da soma das sensações elementares. Estas juntam-se umas às
outras não por simples soma, mas por associação subordinada a determinadas leis. Descobrir
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As sensações e os sentimentos
Em conclusão:
Uma curiosidade:
Imagem 3. (À esquerda) Numa das experiências de Wundt, o pêndulo batia nas bolas de metal (d e b) emitindo um som de cada
vez. No entanto, para um observador, a bola parecia estar noutro sítio aquando da emissão do som, geralmente a uma distância
percorrida em cerca de 1/8 de segundo. Wundt concluiu que uma pessoa precisa de cerca de 1/8 de segundo para desviar a sua
atenção de um estímulo para outro. (À direita) Algumas décadas depois, os estúdios da Walt Disney redescobriram as observações
de Wundt: os movimentos da boca de uma personagem parecem estar em sincronia com os sons se os movimentos precederem
os sons em 1/8 de segundo.
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Dados biográficos
Wilhelm Wundt nasceu em 1832, na Alemanha. Oriundo de uma família com fortes
tradições intelectuais, faz um percurso escolar onde se regista uma reprovação. As
suas capacidades não são reconhecidas, porque, com facilidade, se distraía nas aulas
chegando a ser ridicularizado pelos professores e pelos colegas. Tinha um sonho, vir
a ser um escritor famoso.
11
Tomando como modelo as ciências experimentais, como a física e a química, propõe-se constituir a
psicologia como uma nova área objectiva e experimental. Neste sentido, fundou em Leipzig o
laboratório, que designa por Instituto de Psicologia Experimental, em 1879, procurando seguir o
modelo dos laboratórios das outras ciências, designadamente as técnicas utilizadas pelos fisiologistas. É
aqui que se vão concentrar os esforços dos investigadores e psicólogos vindos dos EUA, Japão, Itália,
Rússia, etc., onde desenvolvem as suas pesquisas e onde treinam as novas técnicas de exploração da
consciência e das funções mentais. São estes investigadores pioneiros que depois vão fundar, nos
países de origem, departamentos de psicologia e laboratórios seguindo o modelo de Wundt. Funda a
revista Estudos Fisolóficos, que passa a ser publicação oficial do seu laboratório e da nova ciência.
Organiza as suas aulas numa obra, que publica em 1874, Princípios da Psicologia Fisiológica,
considerada por muitos a sua obra fundamental, dado que é nela que estabelece os princípios da
psicologia como ciência experimental independente.
Dotado de uma grande capacidade de trabalho, orientou a sua escrita para várias áreas: ética, lógica e
filosofia sistemática. Durante 10 anos, dedicou-se a uma área da psicologia de que é também o
primeiro investigador sistemático: a psicologia cultural. Numa obra monumental, constituída por 10
volumes – Psicologia Cultural -, abordou o desenvolvimento do pensamento humano manifestado na
linguagem, nos mitos, nas artes, nos costumes, nas leis, na moral. Defendeu uma concepção, ainda
hoje vigente, segundo a qual o desenvolvimento dos processos cognitivos está muito influenciado pelos
condicionantes sociais. Entre outros méritos, a obra Psicologia Cultural tornou clara a diferença entre a
psicologia experimental e a psicologia social.
Professor eloquente e popular, chegava a ter 600 alunos matriculados nas suas aulas. Morreu em 1920,
mantendo até ao fim da sua vida uma actividade intensa e muito disciplinada. Entre as várias
actividades diárias a que se dedicava, escrevia mais de duas páginas de texto: no período entre 1853 e
1920 escreveu cerca de 54 mil páginas.
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A Psicologia Experimental
Proposta de
Trabalho
Elabora uma breve biografia acerca dos seguintes autores: Pavlov e John Watson.
Imagem 4. Este é o dispositivo que Pavlov criou para estudar o condicionamento nos cães.
Um cão é colocado numa sala à prova de som de modo a eliminar factores que possam
interferir na situação experimental. Na primeira fase, Pavlov apresenta carne ao cão, que é um
estímulo incondicionado, porque provoca uma reacção natural, a salivação, ou seja provoca
uma reacção inata, sem qualquer condicionante. A esta reacção chamamos reflexo
incondicionado, é um reflexo inato, uma vez que ocorre espontaneamente, não sendo
consequência de nenhum tipo de aprendizagem. Numa segunda fase, Pavlov ao mesmo tempo
que coloca a carne na boca do animal, emite um som (uma campainha que se constitui como
um estímulo neutro, dado que não provoca nenhuma resposta). O cão continua a salivar. Após
vários ensaios a apresentar os dois estímulos, numa terceira fase da experiência, Pavlov
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começa a apresentar o som sem dar a comida, verificando que o cão respondia salivando.
Pavlov constatou que o cão reagiu ao estímulo som com uma resposta que seria adequada ao
estímulo carne, mas inadequada ao estímulo som. Estamos face a um reflexo condicionado
que pode ser esquematizado da seguinte forma:
E1
R1 Processa-se a associação de estímulos
E2
Som
E2 R1 O novo estímulo provoca uma resposta adequada ao primeiro estímulo (reflexo condicionado)
som Salivação
Imagem 5. Diagrama da aparelhagem usada por Pavlov para estudar a salivação condicionada.
Também para Watson (que veremos de seguida) os diferentes comportamentos são adquiridos
segundo processos de condicionamento, negando a interferência da hereditariedade psíquica.
Apesar da oposição entre behavioristas e estruturalistas, quanto ao que a psicologia deve
estudar e quanto aos métodos de investigação, há uma ideia que os une: o atomismo.
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Assim, ambos defendem que o estudo dos factos psicológicos implica necessariamente que
sejam divididos em elementos ou unidades. Para o estruturalismo, a unidade básica da
consciência é a sensação; para o behaviorismo, a unidade básica do comportamento é o
reflexo condicionado.
Em conclusão:
Com o contributo de Pavlov a Psicologia adopta um novo objecto de estudo: o
comportamento humano e animal, os reflexos observáveis.
Pavlov dá um importante contributo para a Psicologia científica, uma vez que
demonstra uma forma elementar de aprendizagem: o condicionamento.
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A intenção de Wundt de fazer da psicologia uma ciência esbarrou com a possibilidade de tratar
objectivamente o tema que elegeu para objecto de estudo: a consciência que, por natureza, é
interior ao sujeito e, por isso, inobservável por parte do psicólogo. Por isso, a emancipação
definitiva da psicologia em relação à filosofia processa com as reformas introduzidas por John
Watson, cuja principal preocupação era a psicologia constituir-se como ciência autónoma e
15
objectiva, uma ciência natural e experimental. Embora não negando os estados mentais e a
consciência, considera que não se podem constituir como objecto de estudo da psicologia. São
constituintes da vida de pessoal de cada um, mas não objecto de uma ciência.
TEXTO 1
A psicologia como a vê o comportamentalista é um ramo puramente objectivo das ciências naturais. A sua finalidade teórica é a
previsão e o controlo do comportamento. A instrospecção não constitui uma parte essencial dos seus métodos, nem o valor
científico dos seus dados depende de quão facilmente sejam interpretáveis em termos de consciência.
(…) Parece ter chegado o tempo de a psicologia eliminar qualquer referência à consciência; não deve continuar a enganar-se
considerando os fenómenos mentais como objecto da sua observação. Creio que podemos escrever uma psicologia não fazendo,
em caso algum, uso de termos como consciência, estados mentais, conteúdo, mente, verificáveis por instrospecção, imaginação,
etc. Podemos fazê-lo recorrendo a termos como estímulo e resposta, formação e integração de hábitos, aprendizagem e outros
similares.
A psicologia que eu pretendo elaborar toma como ponto de partida o facto observável que qualquer organismo, tanto animal
como humano, se adapta ao meio.
S-R
Situação Reacção
Ou seja,
R = f (S)
processar-se-ia de modo mecânico, o que lhe permitia fazer uma interpretação causalista do
comportamento e, consequentemente, elaborar leis explicativas do mesmo. Tais leis
pretendiam:
1. Perante determinado estímulo, prever a reacção subsequente.
2. Perante dada resposta, determinar o estímulo que a desencadeou.
O comportamento estudado tem de ser objectivamente observado e quantificado,
manifestando-se através de movimentos musculares e secreções glandulares. Pode ir desde 16
um simples acto reflexo, como afastar a mão de uma agulha, a actos mais complexos, como
ler, escrever, etc. No seu livro Behaviorismo, define de forma sugestiva estímulo e resposta: “O
estímulo é qualquer objecto do meio geral ou qualquer mudança nos próprios tecidos, devido à condição fisiológica
do animal, como a mudança que obtemos quando se impede a actividade sexual do animal, quando o impedimos de
comer ou de fazer o ninho. Por resposta entendemos tudo o que o animal faça, como a reacção de se afastar de uma
luz, saltar quando escuta um som, e as actividades mais altamente organizadas como edificar um arranha-céus,
traçar planos, ter filhos ou escrever livros”.
Seguindo o processo de investigação das outras ciências, preconiza que se parta da análise dos
comportamentos mais simples para se compreender os mais complexos. Dado que os
comportamentos mais elementares são comuns nos seres humanos e nos outros animais, é
possível tirar conclusões frutuosas a partir do desenvolvimento de pesquisas em animais. Para
esse efeito, recorre ao método experimental1.
O papel do meio
Uma ideia central do behaviorismo decorre da sua concepção de ser humano: uma página em
branco inicial que o meio e a educação vão moldar. A importância decisiva dos factores do
meio no desenvolvimento da criança, para os behavioristas, está claramente reflectida nas
afirmações de Watson que se seguem:
TEXTO 2
Dêem-me uma dúzia de crianças sadias, bem constituídas, e a espécie de mundo que preciso para as educar, e eu garanto que,
tomando qualquer uma delas ao acaso, prepará-la-ei para se tornar um especialista que eu seleccione: um médico, um
comerciante, um advogado e, sim, até um pedinte ou ladrão, independentemente dos seus talentos, inclinações, tendências,
aptidões, assim como da profissão e raça dos seus ancestrais.
WATSON, J., Behaviorism, Norton, 1925, p. 82
Com Rosalie Rayner, Watson leva a cabo uma experiência que tem
como objectivo mostrar o modo como ocorre a aprendizagem, no
caso, do medo. No início da experiência, Albert, uma criança de 11
meses, brinca com um coelho branco. Quando se lhe apresenta um
rato branco, o bebé brinca com o animal. Entretanto, os
1
Seguindo os requisitos desta metodologia: define uma amostra da população dividindo-a em dois grupos. No grupo experimental
faz variar o facto que considera responsável pelo comportamento (variável independente). No grupo de controlo não há qualquer
variação. O comportamento dos dois grupos é depois comparado. Se se concluir que a variável que se manipulou modifica o
comportamento, faz-se a generalização para a população.
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experimentadores fazem um ruído muito forte; passam a associar o aparecimento do rato com
o som forte, o que provoca medo na criança, fazendo-a chorar. Ao ver só o rato, passou a
chorar, mas também quando lhe apresentam o coelho branco, um homem com uma barba
branca, etc. Concluiu que grande parte das respostas dos seres humanos são resultado de
aprendizagens condicionadas pelo meio. “O homem não nasce, constrói-se”, o meio constrói o
ser humano.
17
A teoria de Watson apresenta algumas limitações:
nega a consciência como objecto da psicologia;
ao assemelhar a psicologia às ciências objectivas, utilizando somente o método
experimental, não tem em conta a complexidade do ser humano;
não tem em consideração a influência da pessoa, da personalidade, da originalidade
que cada um de nós revela, mas valoriza apenas o papel do meio no comportamento
humano.
Em conclusão:
A importância de Watson na história da Psicologia é indiscutível. Rompe com as concepções
dominantes na época e adopta um modelo de investigação e de interpretação que visa dotar a
psicologia com o estatuto de ciência objectiva. A necessidade de ruptura leva-o à defesa do
comportamento enquanto conjunto das reacções adaptativas, objectivamente observáveis,
que o organismo executa em resposta a estímulos. Confinando o comportamento à fórmula
estímulo-resposta, decompondo-o nas suas componentes mais simples, afastou do estudo da
psicologia os processos mentais e os comportamentos mais complexos. O sujeito estava
remetido para um papel passivo. Para além disto, Watson pretende descrever as leis do
comportamento, considerando que é possível controlar e prever o comportamento humano.
Ao considerar que o ser humano é resultado dos processos de aprendizagem, deu grande
ênfase á influência do meio, à prevalência dos factores adquiridos sobre os factores inatos.
Nesse sentido, considerava decisivo para o progresso do ser humano as reformas sociais.
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1. Watson defende que a psicologia humana para se tornar ciência, deve adoptar o
objecto e o método da psicologia animal:
a. comportamento observável; método introspectivo.
b. processos conscientes; método experimental.
c. processos conscientes; método clínico. 18
d. comportamento observável; método experimental.
5. Explica as consequências da sua teoria ao nível das suas concepções sobre o papel da
aprendizagem no desenvolvimento humano.
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Dados biográficos
John Watson nasceu em 1878, na Carolina do Sul, numa família de fracos recursos
económicos. A mãe, muito religiosa, pretendia que o filho fosse pastor da Igreja
baptista; o pai, alcoólico e violento, abandona a família quando Watson tem 13
anos. Na escola, é considerado preguiçoso, impulsivo, não ultrapassando um
rendimento escolar médio. Ingressa na Universidade de Chicago, onde faz uma pós-
graduação em Filosofia, mas acaba por reconhecer que são as áreas da biologia e da 19
psicologia que efectivamente lhe interessam.
Para suportar os seus estudos recorreu a vários empregos, entre os quais a limpeza dos gabinetes da
Universidade e a vigilância dos ratos-brancos dos laboratórios de neurologia. Aos 25 anos é o mais
novo doutorado da universidade de Chicago, tendo defendido uma tese sobre a relação entre o
comportamento dos ratos-brancos e o sistema nervoso central. Entretanto, casa com uma aluna, Mary
Ickes.
Ao constatar que não consegue aplicar a técnica da introspecção, inicia um processo de investigação
em que procura uma nova abordagem para a psicologia e um outro método de estudo. Em 1908, vai
leccionar Psicologia Animal para a Universidade de John Hopkins e, um ano depois, dirige a influente
revista Psychological Review. É precisamente nesta revista que, em 1913, um artigo considerado o
texto fundador da nova corrente em psicologia: o behaviorismo ou comportamentalismo. As
concepções fundamentais serão aprofundadas um ano depois, na obra: Comportamento: Uma
Introdução à Psicologia Comparada. Watson defendia que a psicologia, para ser considerada uma
ciência experimental e objectiva, teria de abandonar o seu objecto – o estudo da consciência – e o seu
método – a introspecção. As suas experiências com os animais podem ser objectivas e rigorosamente
controladas.
Watson concorda com a teoria evolucionista de Darwin: considerava que todas as espécies tinham
evoluído por selecção natural a partir de um tronco comum. Haveria, portanto, uma continuidade entre
os seres humanos e os outros animais que justificava a abolição da divisão entre a psicologia humana e
a psicologia animal. Para se constituir como ciência autónoma, objectiva e experimental, a psicologia
humana deveria adoptar o objecto e o método da psicologia animal: o estudo do comportamento pelo
método experimental.
As suas concepções vão ganhando seguidores, que reconhecem as virtualidades da nova concepção e a
sua dimensão prática: Watson aplica as suas ideias em empresas de publicidade, na psicologia
industrial, na selecção de pessoal, etc. Integrou o exército norte-americano, onde desenvolveu testes
de aptidão motora e perceptiva para selecção e pilotos. Em 1919, publica o livro Psicologia segundo um
behaviorista, onde reforça as suas concepções: uma psicologia una, recorrendo ao método
experimental para estudar o comportamento.
O envolvimento afectivo com uma assistente da pós-graduação, Rosalie Rayner, provoca um verdadeiro
escândalo numa amarica muito puritana, acabando por ser obrigado a demitir-se da Universidade.
Casará mais tarde com Rosalie, desenvolvendo, juntos, várias pesquisas. Afastado do meio académico,
Watson integrou uma agência de publicidade tendo-se dedicado ao estudo do comportamento dos
consumidores. Grande parte das suas conclusões permanece com toda a actualidade.
Ao mesmo tempo, divulga as suas teorias junto de um público alargado, através de conferências e a
publicação de artigos em revistas de grande tiragem.
Morreu em 1958, em Nova Iorque. Um ano antes, a Associação Psicológica Americana reconheceu a
importância do seu trabalho decisivo para a psicologia moderna.
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Proposta de
Trabalho
Elabora uma breve biografia acerca do seguinte autor: Freud.
20
Freud recupera a ideia de Wundt de que a Psicologia é o estudo dos processos mentais, no
entanto não se refere apenas aos processos conscientes, dado que introduz um novo conceito
na Psicologia e um novo objecto: o inconsciente.
Freud conclui que não é possível compreender muitos aspectos do comportamento humano,
designadamente certas patologias, se só se admitisse a existência do consciente. A ideia de
que o ser humano é racional e que através da introspecção conheceria o fundamental de si
próprio – a consciência – vai ser negada por Freud. Para se compreender o ser humano, tem
de se admitir a existência do inconsciente, que define como uma zona do psiquismo
constituída por desejos, pulsões, tendências e recordações recalcadas, fundamentalmente de
carácter sexual.
A partir de 1920, Freud apresenta a sua segunda teoria sobre a estruturação do psiquismo,
que é constituído por três instâncias: id, ego e o supergo. Para explicar a estrutura do
psiquismo humano Freud parte de um exemplo da natureza: um iceberg
raciocínios
percepções
Consciente (EGO)
pensamentos
Mente Humana
memória fantasias
(SUPEREGO)
lembranças
Inconsciente (ID)
recalcamentos
desejos
medos
pulsões inatas
pulsões agressivas
A parte submersa e diz respeito ao id, é a zona inconsciente, primitiva, instintiva, a partir da
qual se formam o ego e o superego. Existe desde o nascimento e é constituído por pulsões,
instintos e desejos completamente desconhecidos. Está desligado do real, não se orientando,
portanto, por normas ou princípios morais, sociais ou lógicos. “O id desconhece o julgamento
de valores, o bem e o mal, a moralidade”, no dizer de Freud. Rege-se pelo princípio do prazer,
que tem como objectivo a realização, a satisfação imediata dos desejos e pulsões, não
distinguindo a realidade da fantasia, nem o que é socialmente permitido ou proibido fazer.
Grande parte destes desejos é de natureza sexual. O id é o reservatório da libido, energia das
pulsões sexuais. Surge nos primeiros meses de vida.
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A parte emersa corresponde ao ego, zona fundamental do consciente, que se forma a partir do
id. Rege-se pelo princípio da realidade, orientando-se por princípios lógicos e decidindo quais
os desejos e impulsos do id que podem ser realizados. É o mediador entre as pulsões
inconscientes e as exigências do meio, do mundo real. Tem de gerir as pressões que recebe do
id e as que recebe do superego. Forma-se durante o primeiro ano de vida.
A linha que delineia a parte submersa e a parte emersa, corresponde ao superego, zona do
psiquismo que faz referência à interiorização das normas, dos valores sociais e morais, é o 21
Freud, ao estudar as neuroses, constatou que muitos dos sintomas eram provocados por
situações conflituosas de natureza sexual vividas na infância. Com base nestas observações,
apresentou uma teoria de desenvolvimento psicossexual, considerando que há sexualidade
nas crianças, antes da puberdade, o que constituiu um conceito novo e revolucionário. Freud
esclarece que a sexualidade não pode ser associada à genitalidade, antes corresponde ao
prazer que tem origem em certas zonas erógenas do corpo e que suprime a tensão (libido).
O método psicanalítico
Depois de ter abandonado a hipnose como meio de explorar o inconsciente, Freud considera a
necessidade de construir u método próprio. O psicanalista tinha como objectivo fundamental
chegar às zonas inconscientes do psiquismo e conseguir que os doentes tomem consciência
das causas profundas dos seus problemas e se libertem deles. Desta forma, adopta o método
clínico, a psicanálise, adaptando um conjunto de técnicas que permitem trazer ao consciente
as causas não conhecidas, inconscientes dos problemas e conflitos dos pacientes. Perante isto,
Freud na sua prática terapêutica, recorre a alguns procedimentos e técnicas próprias: (1)
associação livre; (2) interpretação dos sonhos; e (3) análise dos actos falhados.
Manual do Módulo P1_Descobrindo a Psicologia
Sintomas de conflitos
internos
Conflitos
Recalcados
Compreensão
dos conflitos
Conflitos
Resolvidos
Imagem 7. Freud considera que a resolução dos seus problemas psicológicos só é possível trazendo ao consciente os processos
mentais inconscientes responsáveis pelas perturbações
Associação Livre: o psicanalista pede ao analisado que diga tudo o que sente e pensa,
sem qualquer omissão, mesmo que lhe pareça sem importância, desagradável,
absurdo. É no decorrer deste procedimento que se manifestam resistências, desejos,
recordações e recalcamentos inconscientes que o analista procurará identificar e
interpretar. Assim, o objectivo é provocar resistências no paciente, que, como Freud
afirma:
… procura subtrair-se por todos os meios possíveis e, ora pretende não perceber nenhuma ideia,
sentimento ou recordação, ora percebe tantos que se lhe torna impossível apreendê-las. (…) O doente cede
a objecções críticas e atraiçoa-se, principalmente pelas suas pausas prolongadas com que corta o discurso.
Acaba por convir que sabe coisas que não pode dizer e que tem vergonha de confessar.
Ma vie et la psychanalyse
Imagem 8. Consultório de Freud com o famoso divã, onde os seus pacientes se deitavam confortavelmente e falavam com
absoluta liberdade de tudo o que quiserem. A colocação da cadeira do psicanalista fora do campo de visão do paciente tem por
objectivo minimizar as distracções e facilitar à pessoa relaxada num divã, a verbalização de tudo o que lhe ocorre ao pensamento.
Hoje em dia, a terapia é quase sempre realizada face a face e confortavelmente sentados.
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Devia ter 18 anos no meu sonho. Encontrava-me na casa da minha infância. Atravessava o pátio e abria a porta. Esta dava para 23
uma escada que descia em direcção à penumbra de uma cave. Estava a chegar. Encontravam-se várias pessoas nesta cave.
Pareciam todos dedicados, mas eu sabia que aquela assembleia de pessoas me olhava. Apoderou-se de mim o pânico. Senti que
estava a fazer movimentos com as pernas, dizia comigo próprio “É necessário que eu acorde …”. Acordei a suar. (…)
A CASA DA MINHA INFÂNCIA. O meu pai. Dureza. “É preciso vencer, meu rapaz! É preciso seres digno do nome que usas! Não há
desculpas. É preciso obedecer às ordens do teu pai.” Quanto à mãe, amava-a, mas quase não ousava mostrá-lo. Não é digno de um
homem, filho de tal pai, não é verdade?...
PORTA. Todas as portas levam a qualquer coisa, a não ser que seja uma armadilha. Porta do céu, porta do inferno, porta dos
lilazes! Isso faz-me lembrar um filme com o Fernandel. Nada tem a ver com o meu pai. Ou por outra, sim! O filme é “A vaca e o
prisioneiro”. Não ouso… e se, finalmente, o meu pai fosse uma vaca e eu prisioneiro? Seguir a voz do meu pai, bem! e eu, então?...
Porta das delícias. Porta do escritório do meu pai. Toc toc! Não era brincadeira nenhuma bater a essa porta! Era sempre para ouvir
censuras, sempre para prestar contas, nunca sobre mim, sobre o meu ser, sobre a minha felicidade, mas unicamente sobre o meu
êxito ou o meu fracasso social. (…)
ESCADA. Sobe, desce, para onde é que vai? Escadas da Fontainebleau. As despedidas. Adeus ao amor, adeus à felicidade. A palavra
“adeus” perseguiu-me sempre. Adeus, mais nunca, nunca mais, “nervermore”, adeus meu amor, desaparecer, partir, morrer, o
adeus do “Canto da Terra” de Mahler, desfalecer no azul, amor dos meus quinze anos, adeus, adeus minha vida, escolhi a escada
que sobe para a vida adulta e abandonei-te. Onde estás tu hoje? Escada de ouro, sobe ao céu, escada de cave, negra, raios de luz
encobertos, o inconsciente, a sombra, a sombra densa escondendo tantas coisas em mim, quero vê-las, apesar de tudo quero ser
feliz!
CAVE. Sombra e penumbra. Revelação? Iniciação? Quem são estas pessoas que me esperam? Imóveis, silenciosas. Amigos? Juízes?
A Inquisição? O meu pai multiplicado pelo número destas personagens? Sem dúvida, sim… Inferno ou paraíso á espera? Cave da
minha infância. Medo do escuro, medo de alguém que me espera… Esta gente: tribunal. Sim, um tribunal.
ASSEMBLEIA. Segredo. Exame. Opinião secreta. Investigar. Ser investigado. Por trás de mim, a escada, como uma retirada possível
em direcção á luz. Não quero. Quero saber. Acusado. Sinto-me perseguido como um acusado. Prestar contas. Não me mexer. Não
falhar. Culpado. Não sou um homem.
Pierre Daco, Os sonhos, como e porquê
Interpretação dos sonhos: o psicanalista pede ao analisado que lhe relate os sonhos.
Segundo Freud, o sonho seria a realização simbólica (disfarçada) de desejos
recalcados. Freud distingue o conteúdo manifesto do sonho (o que é lembrado, o que
é consciente) e o conteúdo latente (os desejos, os medos, recalcamentos que estão
subjacentes). Cabe ao analista dar-lhe um sentido, interpretando os sonhos narrados.
Assim, Freud pretende ir além do conteúdo manifesto e descobrir o conteúdo latente.
TEXTO 3
A aspiração inconscientes aproveita-se do relaxamento nocturno do recalcamento para irromper com o sonho na consciência.
Todavia, a resistência do recalcamento do eu não suprime durante o sonho, é apenas diminuída. Permanece em resíduo: é a
censura do sonho, que agora impede o desejo inconsciente de se manifestar sobre as formas que, na verdade, lhe seriam
adequadas. Em virtude da severidade da censura do sonho, os pensamentos oníricos latentes devem permitir modificações e
atenuações que tornem irreconhecível o sentido condenado do sonho. Reside aí a explicação da deformação do sonho, à qual o
sonho manifesto deve os seus caracteres mais flagrantes, o que significa esta proposição: o sonho é a realização (disfarçada) de
um desejo (recalcado).
S. Freud, Ma vie et la psychanalyse
função dar a palavra aos oradores inscritos e que comete o seguinte lapso: “Meus
senhores, declaro a sessão encerrada. Perdão! Quero dizer: aberta”. A razão deste acto
falhado deveu-se ao facto de o primeiro orador inscrito ser um dos seus mais ferozes
adversários.
Em conclusão:
Com Freud abre-se uma nova perspectiva que nada tem a ver com a psicologia, que torna
como centro a consciência, ou que reduz o ser humano a uma fórmula simplista de
comportamento estímulo-resposta. É um novo conceito do ser humano, dominado desde o
nascimento por pulsões, sobretudo de carácter sexual, vivendo conflitos intrapsíquicos que se
manifestam no comportamento do nosso dia-a-dia. Graças a Freud a Psicologia conquista um
objecto de estudo mais complexo: o inconsciente, acessível através da interpretação
psicanalítica. Um dos legados mais importantes foi o reconhecimento da importância da vida
afectiva, sobretudo da infância, no desenvolvimento cognitivo e social, bem como na
personalidade do indivíduo.
A Psicologia mostra que o ser humano já não pode ter de si mesmo a ideia clássica de ser
racional, que tudo controla. É antes um ser que vive de acordo com um conflito intrapsíquico.
Dados Biográficos
“Antes da Segunda Guerra Mundial, os psicólogos eram normalmente professores e investigadores em escolas e universidades e a
psicologia era praticamente uma disciplina académica. A partir dos anos 50, muitos campos da psicologia aplicada emergiam e
uma vasta quantidade de carreiras surgiram.
Hoje em dia, os psicólogos trabalham numa série de contextos, incluindo universidades e escolas, mas também em hospitais,
clínicas, empresas comerciais e industriais, instituições de investigação, estabelecimentos prisionais, departamentos
governamentais, escolas. A linha que separa os psicólogos de outros profissionais, como por exemplo os que realizam estudo de
mercado ou os psicoterapeutas, é cada vez mais ténue. Por outro lado, muitos profissionais estão ligados à psicologia tal como os 27
técnicos de trabalho social, terapeutas da fala ou professores. (…)
A nível internacional, a maior associação de psicólogos é a American Psychology Association (APA), fundada em 1892, e no fim
dos anos 90 tinha cerca de 155 mil associados. (…)
Só em 1963 é criada a primeira escola de psicologia, em Lisboa, o Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), (…). Em 1976
abrem as três faculdades de Psicologia e Ciências da Educação nas Universidades de Lisboa, Porto e Coimbra. (…) Os anos 90
foram o período de explosão da psicologia em Portugal. (…)
Não se conhece o número exacto de psicólogos em Portugal, as estimativas oscilam entre os 3500 e os 5000. (…)
A identidade e a intervenção dos psicólogos situam-se num contínuo que vai do indivíduo à sociedade. Num dos extremos estarão
os psicólogos clínicos e noutro os psicólogos sociais. Os psicólogos do trabalho e das organizações e os psicólogos educacionais
situam-se algures a meio na relação dos indivíduos e das organizações. As áreas recentes da psicologia desportiva e da psicologia
criminal procuram um espaço próprio neste contexto.
Os psicólogos podem intervir ao nível de um indivíduo, de grupos de indivíduos, de organizações ou instituições ou em
comunidades. Qualquer que seja o seu contexto de intervenção ou os seus objectos específicos, prevenção, diagnóstico,
estimulação ou remediação, a finalidade última do seu trabalho é a de promover o desenvolvimento e a qualidade de vida das
pessoas”.
Angelina Costa et al., Psicologia A 10º., Porto Editora, 2006
Após a leitura do texto anterior, podemos concluir que a Psicologia é uma ciência que abarca
muitas áreas de estudo, uma vez que o seu objecto é muito complexo. O campo de actividade
dos psicólogos é vasto e muito variado, pois estão presentes em praticamente toda a
actividade humana. Estão presentes em clínicas, hospitais, empresas, escolas, clubes
desportivos, etc.
As áreas de actividade dos psicólogos não são compartimentos estanques entre si, pelo
contrário, estão em constante relacionação. Não é, por isso, simples a distinção ou divisão. No
entanto, é costume dividi-las em psicologia pura ou de investigação e psicologia aplicada. A
Psicologia Pura dedica-se especialmente á investigação, procura conhecer melhor o
comportamento e os processos psicológicos mais básicos, é mais teórica. A Psicologia Aplicada
dedica-se essencialmente a resolver problemas de ordem prática, é mais interventiva e está
normalmente ligada a uma área profissional. Questões como “Há factores que intervêm na
percepção?” ou “Aprendemos sempre da mesma forma?” são estudadas pela psicologia pura.
Questões como, por exemplo, “Como deve actuar a escola perante um aluno que revela um
comportamento de indisciplina?” ou “Como melhorar a produtividade no trabalho?” são
estudadas no âmbito da psicologia aplicada. Muitas vezes os psicólogos da investigação
aprendem com os psicólogos da intervenção e vice-versa. Há, portanto, uma interligação mais
do que uma separação entre estas duas grandes áreas da psicologia.
Manual do Módulo P1_Descobrindo a Psicologia
PSICOLOGIA
28
Psicologia Psicologia Clínica
Psicologia Social Psicologia da Educação
Psicologia do Desenvolvimento Psicologia do Trabalho e das
Psicologia Cognitiva organizações
Psicologia da Personalidade Psicologia do Desporto
Psicologia Clínica
Fátima Sarsfield Cabral é psicóloga e psicanalista. Trabalha, desde 1973, no Centro de Saúde Mental Infantil e Juvenil do Porto, faz
psicoterapia analítica e psicanálise a adultos e crianças. Estagiou em Paris sob a orientação do psicanalista Serge Lebovici. É membro
titular e didacta da Sociedade Portuguesa de Psicanálise e membro titular da Sociedade Portuguesa de Psicodrama Psicanalítico de
Grupo. É autora de diversos artigos sobre psicanálise e do livro Pensar a Emoção.
R.: – O psicólogo clínico intervém especialmente na área da saúde mental, englobando a prevenção, a intervenção ou o tratamento, a investigação e
o ensino. As suas funções dependem fundamentalmente do tipo e do grau de aprofundamento da sua formação – formação que me parece dever
ser contínua – e do facto de trabalhar sozinho ou numa equipa e do equilíbrio e dinâmica que se estabelecem nessa equipa.
Mais concretamente, podemos dizer que a sua intervenção começa pela observação – a chamada observação psicológica. Para esta observação, o
psicólogo socorre-se muitas vezes de instrumentos – os chamados testes – que, por um lado, se podem ajudar muito no diagnóstico psicológico (por
ex., aperceber-se das dificuldades específicas que uma criança pode ter na aprendizagem, apesar de ter um bom desenvolvimento intelectual), por
outro, podem ser um entrave ou constituírem uma defesa ao estabelecimento de uma relação mais profunda que se constrói lentamente e sem
“truques”.
Portanto, ao estudo psicológico do indivíduo ou dos grupos, segue-se naturalmente a elaboração do diagnóstico psicológico – que deveria ser
discutido e completado com o de outros técnicos da equipa (médicos, assistentes sociais, educadores, terapeutas) –, diagnóstico fundamental para a
prevenção ou para a escolha do tratamento mais adequado à situação.
O psicólogo clínico pode ainda fazer o aconselhamento psicológico individual, conjugal, familiar ou de grupo, intervir psicologicamente e fazer
psicoterapia. Mas eu penso que os psicólogos, assim como todos os técnicos médicos ou não médicos, deveriam sempre continuar a sua formação
após a licenciatura – que forçosamente dá uma formação muito geral – e escolher especializar-se numa ou noutra corrente de intervenção ou
terapia que se adapte melhor à sua personalidade, percurso de vida e opções teóricas. Neste momento, em Portugal, são as várias sociedades
clínicas que fazem essas formações, que passam quase sempre por o psicólogo sofrer – com aspas ou sem elas – a terapia que pretende aprender a
fazer aos outros: Terapia familiar, comportamental, cognitivista, psicodrama, psicanálise, etc.
R.: – A prática, os métodos e técnicas que o psicólogo clínico utiliza dependem sempre da sua experiência e formação. Geralmente, começa-se pela
observação, por conversar livremente com as pessoas, tentando estabelecer uma relação que permita a abertura e a confiança da criança ou do
adulto em nós. Com as crianças, a observação do jogo simbólico, da maneira como utiliza os brinquedos, do desenho e da pintura livres são meios
fundamentais para determinar o seu desenvolvimento e para compreender o que se passa no seu íntimo, já que raramente conseguem exprimir pela
fala aquilo que sentem ou temem ou que as faz sofrer. Mas há também testes estandardizados e inquéritos que nos dão uma medida estatística – e
como tal relativa e cega perante situações específicas – do nível de desenvolvimento intelectual ou de dificuldades mais específicas e que perturbam
a aprendizagem, como as dificuldades na organização grafoperceptiva e na integração da lateralidade; outros ainda, como os projectivos – Família,
Pata Preta, CAT, Fábulas de Duss, por exemplo –, podem-nos ajudar a obter mais rapidamente certos dados, certas fantasias, que podem mesmo ser
inconscientes para a criança e que nos permitem intervir no alvo do problema. Um exemplo muito comum é a criança projectar nas figuras de
animais o ciúme perante o nascimento de um irmão, sem, no entanto, jamais ter exprimido isso, de tal modo que os pais nunca o teriam notado.
Isto faz-me pensar em como é importante que o psicólogo clínico não deixe de ligar os vários dados que obtém através desta observação que,
apenas metodologicamente, é feita por zonas aparentemente compartimentadas – inteligência, afectividade, etc. A psicologia clínica tem evoluído
muito e, hoje, dá-se uma enorme importância ao desenvolvimento e à relação precoces, pois, como dizia João dos Santos, é no berço que o bebé
começa a aprender a ler, e muitos dos problemas futuros começam aí. Por isso, a área da relação precoce e do apoio à gravidez começa a ser uma
das mais frutuosas para a intervenção do psicólogo.
Entretanto, a minha prática foi-se modificando à medida que eu ia aprofundando a minha formação e os meus conhecimentos – e espero que assim
continue... Bem, o que aconteceu foi que a corrente psicanalítica sempre foi a que me pareceu mais profunda, ligando a razão e a emoção e a que
permitia compreender melhor o mundo interno. E, passado pouco tempo de terminar o meu curso e de começar a trabalhar no Centro de Saúde
Mental Infantil do Porto, comecei a minha própria psicanálise e depois a formação para ser psicanalista de adultos e crianças. Considero que esta foi
– para mim – a formação essencial, apesar de também ter feito formação em psicodrama e terapia familiar. Portanto, apesar de ainda utilizar – só
com crianças – os testes psicológicos na observação para um diagnóstico rápido, uso sobretudo o método clínico, no sentido em que Piaget o
utilizou, ou seja, para tentar compreender o funcionamento psíquico, não separando a inteligência do afecto e estes do ambiente familiar e escolar.
Utilizo cada vez menos instrumentos, sendo o principal a análise daquilo que vou sentindo na relação entre mim e a criança, adulto ou grupo.
Evidentemente que isto pressupõe uma atitude de grande disponibilidade para receber as projecções que o outro ou os outros não suportam ou
desconhecem e depositam no terapeuta, e uma formação contínua, supervisão ou discussão em pequenos grupos de trabalho, que ajudem a
destrinçar as fantasias que pertencem ao terapeuta – um outro ser humano, talvez mais fortalecido e interiormente mais livre e disponível pela sua
própria análise – e que o ajudem a pensar para poder devolver de uma forma mitigada aquilo que foi projectado, de maneira a poder ser digerido
pela criança, adulto ou família, possibilitando-lhes o crescimento e a conquista da autonomia e da criatividade.
R.: – Essa pergunta faz-me sorrir porque pus-me a imaginar uma sociedade que não precisasse de psicólogos... Se calhar só o nome, as técnicas e os
Manual do Módulo P1_Descobrindo a Psicologia
conhecimentos é que são modernos… Sempre houve feiticeiros, curandeiros, bruxas, directores espirituais, etc., etc., para ajudar o ser humano a
suportar o sofrimento provocado pela sua condição de ter dentro de si algo que o aparenta aos deuses – um mundo infinito de fantasia – e de se
saber condenado à morte e à separação.
De qualquer maneira, o que se verifica é que quanto mais complexa é a sociedade maiores tensões existem, maior é a competição desenfreada, a
violência e a exclusão. E não é por acaso que tanto se fala na falta de comunicação que existe na nossa sociedade, a par da enorme sofisticação dos
meios de comunicação social que, paradoxalmente, parecem isolar cada vez mais o ser humano, tentando “normalizá-lo” e afastando tudo o que é
diferente.
A psicologia e os psicólogos têm aqui um enorme campo de acção, tanto na prevenção como na intervenção junto do indivíduo e dos grupos.
R.: – Há bocado falávamos da relação do psicólogo clínico como uma relação com o mais íntimo das pessoas. Evidentemente que isso põe
imediatamente questões éticas e não só pela importância do segredo profissional. Este levanta muitas questões sobretudo quando se trabalha com
crianças que nos são enviadas pela escola e os professores querem saber o que se passa para perceber melhor o aluno. Mas há sempre o risco – se
se passarem certas informações – de a criança ser estigmatizada. Há uns estudos muito interessantes que mostram que, se se diz aos professores
que certos alunos têm mais capacidades que outros – sem ser verdade –, isso vai influenciar significativamente – e inconscientemente – o seu
interesse pelos que pensa serem os melhores, de tal modo que as suas capacidades aumentam significativamente.
Considero extremamente importante a atitude do psicólogo cujo trabalho é o de aceitar o outro como ele é, respeitá-lo e ao seu sofrimento,
compreendê-lo, enquanto, simultaneamente, vai favorecendo a sua autonomia e capacidades criativas. Muitas vezes as pessoas estão muito
fragilizadas e é extremamente fácil manipulá-las. Mesmo que um terapeuta não dê conselhos, o paciente apercebe-se muitas vezes daquilo que
agrada ou não ao terapeuta, se este não for tolerante. Muitas críticas que se fazem às terapias é o de elas tentarem adaptar as pessoas, tornando-as
conformistas e dependentes. Mas o objectivo de uma terapia – para mim – só pode ser o de ajudar o outro a ser o que é, a fortalecer-se para saber
escolher o caminho que quer seguir e a tolerar melhor as diferenças, a separação e o sofrimento que sempre acontece na vida real. Ouvi muitas
vezes as pessoas manifestarem o seu medo das terapias por poderem ficar dependentes do terapeuta; é verdade que há um período em que o
terapeuta é fundamental e a pessoa se sente afectivamente dependente dele; mas esta dependência acontece porque já existia ou porque a pessoa
necessitava dela para se tornar mais segura e finalmente autónoma.
R.: – É difícil escolher… Acho sempre muito interessante ver como o trabalho com os pais, ou muitas vezes só com a mãe, pode alterar tanto o
comportamento dos filhos, pode fazer desaparecer a impossibilidade de dormir só, ou a enurese, ou as crises de raiva. Mais uma vez isto nos mostra
como a criança pode ser o sintoma do que não vai bem na família ou com um dos pais, da própria dificuldade de separação destes dos filhos, da
dificuldade em os deixar crescer ou da violência das projecções em certas famílias.
Um caso muito bonito que tenho neste momento é o de uma criança que, embora com perto de 5 anos, tinha um comportamento semelhante ao de
uma de 2, pronunciando apenas alguns sons, sem, no entanto, ser autista nem me parecer débil mental. Parecia-me mais que o seu desenvolvimento
tinha parado – talvez na altura do nascimento de um irmão. O que mais me tocava era a nostalgia do seu olhar, o facto de nunca sorrir e a angústia
da separação. Ao fim de seis meses de psicanálise, com três sessões por semana, em que o jogo principal e repetitivo tem sido o de se esconder para
eu a procurar, a sua transformação é enorme: alegre, brincalhona, terna e também capaz de mostrar a sua agressividade, já diz frases completas e
interessa-se por livros e histórias. Claro que a sua terapia está longe de terminar e que nem sempre é assim tão rápido o desbloqueamento de uma
situação.
Mas uma das terapias que mais gosto de fazer – e que resultou de uma profunda reflexão, feita por um pequeno grupo de técnicos com formação
analítica, sobre a importância da expressão criativa através do jogo e da pintura livres, da dinâmica de grupo, do período de latência e da técnica
psicanalítica – é a dos grupos de psicoterapia analítica com crianças entre os 6 e os 11 anos. Nestes grupos, não mistos, os rapazes ou as raparigas
mais novos (6/8 anos) podem exprimir os seus medos, fantasias ou desejos através de jogos, histórias ou teatros, e os mais velhos (9/11 anos)
através da pintura livre. Mas, para além da expressão através do jogo e da pintura, é dada grande importância à palavra e à interpretação do que é
dito de uma forma ou de outra. Todo o grupo é tomado como a expressão do mundo interno, em que há partes mais maduras, outras mais
“abebezadas”, outras medrosas, outras deprimidas, outras invejosas ou ciumentas, etc., etc., que, como num sonho, são o espelho do que se passa
no teatro interno de cada indivíduo. O facto de serem grupos só de rapazes ou de raparigas reforça e ajuda muito à consolidação da identidade
sexual neste período da latência. Além disso, os pais destas crianças (sobretudo as mães) têm, à mesma hora do grupo dos filhos e com outro
terapeuta, uma reunião para discutirem problemas que têm com os filhos mas que, rapidamente, se transforma numa terapia de grupo. Verificámos
muito depressa quanto as mudanças nos filhos e nos pais estavam interligadas e como as transformações se davam mais rapidamente… A grande
maioria destas crianças aparece-nos com dificuldades escolares, medos, inibições, mutismos e outros sintomas; ao fim de algum tempo de terapia –
e, às vezes, com grande espanto dos pais e professores, “porque só estavam ali a brincar e não a estudar” –, começam a ter um novo interesse pela
vida, a ter menos medo de crescer e a tolerar melhor a dor mental inerente às perdas consequentes, a ter um bom rendimento, a ser capazes de se
afirmar e a ser mais criativas.
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Psicologia da Educação
Lisete Barbosa pós-graduou-se em Pedagogia e Psicologia Clínica em Paris, onde fez também a sua formação inicial.
Coordenou durante dez anos a Divisão de Orientação Educativa da então Direcção-Geral do Ensino Básico. Durante esse período
trabalhou directamente com professores e alunos e co-construiu uma equipa pluridisciplinar de formação e de apoio para as escolas
preparatórias. É professora coordenadora na Escola Superior de Educação de Setúbal. Autora de artigos de psicologia da educação e
dos livros: Gerir o Trabalho de Projecto e Trabalho e Dinâmica dos Pequenos Grupos.
P.: – Quais as problemáticas da sociedade contemporânea que justificam a intervenção do psicólogo educacional?
R.: – A perspectiva de dificuldades no mercado do trabalho, que funciona como um pano de fundo mais ou menos consciente para a falta de
motivação para as actividades escolares.
As condições de vida com grande perda de tempo em transportes e na obrigação de consumir que leva a que as ocasiões de diálogo e conversa entre
as pessoas escasseiem. Por vezes, a presença de um profissional desencadeia um processo que cria espaço e tempo para as pessoas se encontrarem,
se conhecerem e, a partir daí, poderem colaborar na procura de soluções ou de alternativas. A ideologia dominante de individualismo traduz-se
numa grande solidão e na perda da consciência deste facto simples: a união faz a força. 32
O próprio funcionamento da escola como instituição e as suas ambiguidades e contradições.
P.: – Que questões éticas se colocam na sua acção como psicóloga?
R.: – Falar de ética está tanto na moda que receio que a palavra acabe por perder sentido. Ou então que tenhamos que a escrever entre aspas, como
aconteceu já com a palavra “sucesso” na primeira metade dos anos 90…
Os problemas que se põem a um psicólogo educacional são essencialmente idênticos aos que se põem a um psicólogo clínico: o respeito pela pessoa
– criança, jovem ou adulto. E a dificuldade em gerir o que nós sabemos, e pode ser segredo, e a necessidade de desencadear soluções que não
dependem só de nós.
P.: – Muita gente pensa que a escola está a falhar, no essencial, na sua função de educar. Concorda?
R.: – É difícil não concordar. As escolas onde professores e alunos se sentem felizes, e as aulas onde se trabalha e aprende, existem, mas são as
excepções.
Penso que na raiz desta situação, para além de eventuais medidas administrativas mais ou menos acertadas, está numa certa “cegueira” da escola,
como instituição, para a sua maior qualidade: ser um local de interacção. Em vez de aproveitar alegremente este privilégio de ter uma quantidade de
crianças e jovens e de professores, que são pessoas que escolheram uma actividade profissional que é baseada no convívio, o quotidiano das escolas
mostra que esta mais-valia absoluta das escolas (onde mais é que há tantas horas para estar junto e trocar ideias?) é transformada em desvantagem,
problema e obstáculo.
A interacção entre os alunos é desencorajada, se não punida. Os professores, por sua vez, estão muitas vezes numa posição defensiva, e a sua
relação com os alunos é muitas vezes curto-circuitada. Alguns professores parece que têm medo. E os alunos também têm medo de falar
normalmente, de conversar, com os professores como com outra pessoa qualquer.
Isto prejudica tanto as aprendizagens como a educação num sentido mais lato. Por exemplo, a formação para a democracia pode fazer-se pela
prática. Ora a escola é um local onde há muitas decisões a tomar que têm a ver com o quotidiano dos que a vivem, e que vão, por exemplo, da
gestão do espaço e do tempo à maneira e à ordem como se podem tratar os assuntos a trabalhar obrigatoriamente numa disciplina. Decisões que só
teriam a ganhar se fossem tomadas de forma participada. Mas a tal falta de diálogo e de acção conjunta faz com que a escola se torne uma escola da
passividade e, nalguns casos, da sua outra face, da revolta.
Muitas vezes me tenho perguntado se a passividade geral dos humanos perante o que se passa à sua volta não foi iniciada e treinada na escola, para
poder depois ser praticada quotidianamente perante os ecrãs da televisão.
Licenciado em Psicologia pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Exerceu a actividade
durante cinco anos na formação de educadores de infância e professores primários em Leiria. Trabalhou na área de orientação
escolar e profissional em escolas secundárias e foi consultor de recursos humanos numa empresa de serviços. Em 1988, ingressou
na Associação Industrial Portuense como técnico de formação, sendo actualmente director do Departamento de Formação
Profissional.
empresas, instituições e/ou entidades de administração, organismos profissionais, associações, clubes, ou seja, num conjunto razoavelmente
alargado de organizações mais ou menos complexas e com áreas de actuação muito ou pouco definidas, no domínio vasto de sistemas e valores que
regulam a vida dos indivíduos em sociedade.
Em resumo, diria que as áreas de intervenção do psicólogo serão tantas e tão largas quanto os conceitos de organização o permitam, ou
recomendem.
P.: – Quais as problemáticas da sociedade contemporânea que justificam a intervenção do psicólogo organizacional?
R.: – Na minha opinião, uma das problemáticas centrais da sociedade contemporânea diz respeito a essa palavra “mágica” simultaneamente
atraente e assustadora: a mudança. Trata-se de um conceito difuso, de difícil enquadramento teórico ou metodológico, mas que atravessa as
sociedades e os seus modos de organização.
Qualquer que seja o nível da análise em que nos posicionemos – o individual, o grupal ou o organizacional –, gerir a mudança constitui um acto de
sobrevivência – porque é inevitável e inultrapassável (a mudança é permanente e cada vez mais rápida!).
Em cada indivíduo como em cada organização, o entusiasmo e a abertura à mudança – generalizadamente aceite por todos – incorporam sempre
sintomas mais ou menos firmes de resistência à mudança, não necessariamente percepcionados como tal. Chamar-lhe-ia o paradoxo virtuoso. Se é
assim, haverá desafio mais aliciante para o profissional que analisa ou actua no desenvolvimento organizacional?
P.: – Na sua prática, interage com psicólogos de outras áreas, designadamente com psicólogos clínicos e escolares?
R.: – Nos nossos dias, o êxito advém quase sempre de intervenções pluridisciplinares e multiprofissionais. O profissional que na sua actividade não
interage com outros profissionais de outros ramos e saberes científicos limita claramente o âmbito e a qualidade da sua acção, logo, os horizontes do
seu percurso.
Em resumo, é desejável interagir com psicólogos de outras áreas, mas também com grupos profissionais de diferentes especialidades: engenharia,
economia, sociologia..., num registo de permanente entrecruzamento de saberes e competências.
de educação.
d. conhecer melhor os educandos e tornar mais afectivo o relacionamento com os
educadores.
Normal
Psicologia experimental
Psicologia cognitiva
Psicologia diferencial
Psicologia da educação
Psicologia do desenvolvimento
Psicologia da criança
Psicologia do trabalho e
da Ergonomia Psicologia do desporto
Etiologia
Social Biológico
Psicologia social
Psicofisiologia
Patológica
Imagem 11. Panorama das principais áreas de intervenção e investigação da psicologia (A. Lieny, Psychologie cognitive)
Proposta de
Trabalho
Para além das áreas da psicologia que estudas-te, existe muitas outras. Pesquisa na internet
uma área à tua escolha, registando qual a sua finalidade e o seu público-alvo.
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38
Objecto
comportamento
processos mentais
Relações com outras
ciências Intervenção
Investigação
Wundt – consciência
Pavlov – reflexos
Watson – comportamento
Freud - inconsciente