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ENSINO PROFISSIONAL

ÁREA DE
INTEGRAÇÃO

7.1 Cultura global ou globalização das


culturas?
1. O fenómeno da globalização: conceito e fatores que a
possibilitam

2. A globalização cultural: difusão cultural e aculturação


3. A Aldeia Global
4. Perspetiva histórica do processo de globalização
5. Consequências da globalização

Formador: Fernando Sousa Silva


ÁREA DE INTEGRAÇÃO
Tema-problema 7.1 – Cultura global ou globalização das culturas?

ÁREA DE INTEGRAÇÃO
TEMA-PROBLEMA 7.1 – CULTURA GLOBAL OU
GLOBALIZAÇÃO DAS
CULTURAS?

1 – O FENÓMENO DA GLOBALIZAÇÃO: CONCEITO E FATORES QUE A


POSSIBILITAM
O termo “globalização” é, atualmente, muito
utilizado. É assunto recorrente na comunicação social,
nos discursos políticos e económicos. Todos os dias,
ouvimos falar de globalização e nem sempre de uma
forma positiva.
A sua presença no nosso dia é incontornável: basta
olharmos para os países onde foram fabricados os
objetos com que lidamos todos os dias – com alguma
facilidade, encontramos perto de nós objetos feitos
nos cinco continentes ou até objetos com componentes
feitos um pouco por todo o mundo. Um automóvel,
uma bola de futebol ou um avião são exemplos
muito bons, como podemos verificar nas fotos.

Mas, afinal o que é isso da globalização? Numa


formulação simplista, a globalização é um processo
que está a levar a uma maior aproximação e
interdependência entre todos os povos e países do
mundo, em diversos aspectos da vida humana – no
aspecto social, cultural, tecnológico, ideológico
económico, etc...
A globalização pode e dever ser vista como algo
positivo. Contudo, tem também aspetos negativos
que, naturalmente, mais chamam a atenção e geram
mais discussão e controvérsia. E é fácil reconhecer
que é no campo económico que encontramos os
grandes problemas e dificuldades da globalização.

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Há dois fatores que permitiram, facilitam e acentuam este


processo de contínua e crescente globalização. São eles:
1. A evolução tecnológica dos meios de transporte –
nunca na História da Humanidade foi tão fácil, tão
rápido e tão barato transportar pessoas e bens.
Esta mudança “encolheu” o mundo, tornou-o mais
pequeno, como se pode ver pela imagem ao lado;
2. A evolução tecnológica dos meios de informação
e de comunicação – Hoje, como nunca antes
aconteceu, é extremamente fácil e incrivelmente
barato comunicar com qualquer pessoa em (quase)
qualquer parte do mundo em tempo real ou, pelo
menos, com muita rapidez. Essa evolução
incrivelmente rápida nos últimos 200 anos e não
parece abrandar – as formas de comunicar são
hoje bastante diferentes das que usávamos há
10/15 anos atrás. É de tal forma fácil e barato
que o sucesso da Internet foi quase instantâneo -
conseguiu atingir os 50 milhões de utilizadores em
apenas 4 anos, algo inédito na História da
Humanidade;

Para dar exemplos claros da importância destes fatores,


pensemos no facto de a viagem de ida e volta à Índia
feita por Vasco da Gama em 1498, ter demorado cerca
de dois anos e o tempo que demorava a entrega de uma
carta entre Portugal e o Brasil quando elas eram
transportadas de barco. Atualmente, uma viagem de
avião à Índia demora muito menos de 24 horas e
podemos contactar com alguém que esteja no Brasil
através de um e-mail ou, em tempo real, de um simples
telemóvel, chamada essa que, aliás, até poderá ser feita
em vídeo chamada grátis. O que diria o Vasco da Gama
se lhe disséssemos que um dia isto viria a ser tão fácil e
barato? Provavelmente, diria que éramos loucos…

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2 – A GLOBALIZAÇÃO CULTURAL: DIFUSÃO CULTURAL E ACULTURAÇÃO


A globalização cultural é:

um fenómeno que decorre da difusão e


consumo à escala mundial de produtos culturais
de diversas proveniências.

Estes produtos podem ser filmes, séries televisivas, competições desportivas, documentários, músicas,
jogos de vídeo, livros, etc…
Daqui resultam várias consequências:

▪ As culturas tendem a parecer-se cada vez mais umas com as outras;

▪ As outras culturas parecem-nos cada vez menos estranhas;

▪ Acelera e redireciona a transformação cultural das sociedades.

Como já vimos, um dos fatores determinantes para este


fenómeno foi o enorme desenvolvimento das tecnologias
de informação e comunicação (TIC) como a internet, a
televisão, a rádio, o cinema, o telefone (fixo e móvel), o
fax, os CD’s e os DVD’s, entre outras.
O avanço nestas tecnologias permite que os meios de
comunicação social (mass media) como os jornais, as
revistas, as televisões, as rádios, os filmes, a publicidade
ou os livros sejam difundidos globalmente.
Ora, os meios de comunicação social desempenham
quatro funções sociais bastantes importantes:

▪ De informação – recolha, análise e difusão de dados;

▪ De educação – transmissão da herança social e cultural às gerações seguintes;

▪ De socialização – que pela interiorização das normas sociais permite a integração e


participação dos indivíduos e grupos na vida pública;

▪ De entretenimento – ocupação do tempo de lazer e melhoria da qualidade de vida.

Se pensarmos nestas funções sociais e a elas juntarmos a dimensão global de alguns meios de
comunicação social, que chegam a milhares de milhões de pessoas em todo o mundo, chegamos
facilmente de que estamos perante um fenómeno muito facilitado e muito amplificado por todo o
planeta em que as diversas culturas entram em contacto umas com as outras.

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Ora, este fenómeno - quando duas culturas contactam uma com a outra – tem um nome: difusão cultural,
e quando se dá ocorrem mudanças culturais em uma ou em ambas as culturas.
Este processo de difusão cultural tem, geralmente, duas características

▪ É assimétrico – ou seja, é
desequilibrado pois há sempre uma
cultura que influencia mais a outra.
Normalmente a cultura influenciada é
a que tem menos meios e tecnologia

▪ É seletivo – a sociedade que é


influenciada só aceita determinados
traços da cultura que influencia,
integrando-os ou associando-os, e
rejeitando os outros.

Quando num processo de difusão cultura encontramos estas duas características e o desequilíbrio em
termos de influência mútua é grande, e uma cultura com mais meios e
tecnologia causa transformações em outra cultura com menos meios e
tecnologia este processo toma outro nome: aculturação – que ocorre
quando uma cultura acrescenta a si própria trações culturais de outra, sem
que, contudo, esta se imponha
completamente.
Com a globalização todas as
culturas estão neste momento em
processo de difusão cultural e até
aculturação, permitido por via do desenvolvimento das TIC,
como já vimos. Este processo global é liderado pelos EUA pois
a cultura norte-americana é a que tem mais meios e tecnologia
e todas as outras culturas vão sendo aculturadas, absorvendo
traços culturais norte-americanos.

3 – A ALDEIA GLOBAL

A globalização cultural – e os conexos processos de difusão cultural e aculturação – conduz a que cada
vez mais todo o mundo se vai tornando mais igual, os comportamentos das pessoas um pouco por todo o
lado começam a assemelhar-se. Assim, a globalização cultural está a conduzir a uma padronização
cultural a nível global – cada vez mais vestimos de forma igual, comemos os mesmos pratos, ouvimos a
mesma música, vemos os mesmos filmes e programas de televisão, lemos os mesmos livros.
Por reparar que estamos cada vez mais parecidos com todo o resto do mundo, um sociólogo canadiano,
Marshall McLuhan criou um termo que designa esta situação – segundo ele vivemos numa Aldeia Global,
com as seguintes características:

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▪ Existe acesso à informação em tempo real;

▪ Todos os povos estão muito mais próximos,


pois existem menos barreiras físicas e
temporais entre eles;

▪ Há um aumento exponencial das interações


sociais.

Viver numa Aldeia Global implica:

▪ Que o que acontece num determinado ponto do globo, acaba por nos afetar de uma
maneira ou de outra;

▪ Que nenhuma sociedade vive isolada;

▪ Que o mundo está mais pequeno no tempo e no


espaço;

▪ Que a informação vinda de qualquer ponto do


globo é-nos facilmente acessível;

▪ Que o todo o mundo está cada vez mais


interligado e integrado como um todo;

▪ Que os bens e os serviços podem circular por todo


o mundo, a uma velocidade cada vez maior;

▪ Que podemos facilmente aceder a produtos, bens


e serviços produzidos em qualquer parte do
mundo.

4. PERSPETIVA HISTÓRICA DO PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO

a) Antes da globalização

Como iremos ver um pouco mais adiante, o processo de globalização inicia-se nos finais do século XV. É
nesta altura, que começa o processo de construção da economia global. Mas… e antes? Como era a
realidade mundial antes da globalização?
A primeira resposta que se poderá adiantar é que antes do processo de globalização as diversas
partes do mundo tinham pouco contato com as outras partes. Entre elas existem grandes massas
oceânicas e continentais que eram intransponíveis para as tecnologias de transportes e comunicação da
altura. Há mesmo situações em que diversos povos de algumas dessas partes desconhecem em absoluto
que existe todo um restante mundo, cheio de gente e povos. Basta pensar, para confirmar isto, que o
continente americano só foi descoberto pelos europeus no séc. XV. Isto significa que, até essa altura, a
Europa não se sabia sequer da existência da América. Sendo assim, seria possível que existissem

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contactos ou trocas comerciais entre os povos europeu e americano. Claro que não, não podemos fazer
trocas com algo que nem sequer sabemos que existe!
O brilhante historiador francês Fernand Braudel debruçou-se sobre
esta questão e estudou-a. Segundo ele, até ao séc. XV várias
economias-mundo. Segundo ele, uma economia mundo é um espaço
geográfico ocupado por um ou vários povos com culturas
semelhantes que, ocupando uma determinada porção do planeta,
são autossuficientes em termos económicos, não fazendo trocas com
outras economias-mundo porque não as conhecem ou conheciam
muito mal. Por exemplo, antes dos Descobrimentos, os europeus
sabiam muito pouco (por relatos vagos parciais e imprecisos e, muitas
vezes, imaginários) acerca da China e da Índia e não sabiam sequer
da existência do continente americano. Ou seja, estas economias-
mundo eram fechadas umas às outras, havendo muito poucos ou
Fernand Braudel (1902-1985) nenhuns contactos entre elas.
Segundo o mesmo historiador conseguem identificar-se até ao século XV, cinco economias-mundo:

▪ Europa – centrada em algumas cidades italianas (Génova, Veneza, Milão e Florença) que
mantinham laços comerciais e financeiros com o Mediterrâneo e o Médio Oriente onde
possuíam importantes feitorias e bairros comerciais. Ao norte, a região de Flandres
(cidades de Lille, Bruges e Antuérpia) comerciam no Mar do Norte. Ainda a norte, existe a
chamada Liga Hanseática, (composta por mais de 200 cidades mercantes lideradas por
Lübeck e Hamburgo) que centra o seu comércio numa zona que vai de Londres e
Novgorod. No sudeste europeu encontramos ainda o Império Bizantino (cuja ação se
centrava nos mares Egeu e Negro), e mais a leste, a Rússia, cuja ação era limitada pelos
mongóis que ocupavam boa parte do leste do seu território.
▪ China, península coreana, a Indochina e Malásia, com os seus pólos principais em
cidades do sul, como Cantão, ou de leste, como Xangai. Estes grandes portos faziam a
função de vasos comunicantes com os arquipélagos do Mar da China. Esta economia-
mundo só contactava com a Ásia Central e o Ocidente através da rota da seda, de forma
irregular, espaçada e em volume pouco significativo.
▪ Índia – muito conhecida pelas suas especiarias, que tanto atraíram os portugueses,
liderados pela expedição de Vasco da Gama. Graças a sua posição geográfica,
traficava num raio económico mais amplo. No noroeste, pelo Oceano Índico e pelo Mar
Vermelho, estabelecia relações com mercadores árabes que tinham feitorias em Bombaim
e outros portos da Índia ocidental. No lado oriental, em Calcutá eram acolhidos os
comerciantes vindos da Malásia. Para além das afamadas especiarias, a Índia também
era conhecida pelos seus tecidos finos que chegavam em pouquíssima quantidade à
Europa.
▪ África negra – de que se tinha algum (muito pouco) conhecimento na Europa, mas que
ainda assim, estava quase totalmente fechada a contactos exteriores. A sua situação
geográfica ajudava a este isolamento pois a norte o deserto do Saara e a mais a sul a
floresta tropical revelavam-se obstáculos intransponíveis.
▪ América pré-Colombiana – ou seja, o continente americano totalmente desconhecido para
o mundo restante antes de ser descoberto por Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral.
Esta economia-mundo era formada pelas civilizações Azteca (no atual México), a dos
Maias (na zona do Yucatan e no istmo), e a Inca (hoje Perú). As principais atividades
económicas centravam-se em atividades agrícolas (cultivo do milho) e na fabricação de
tecidos. Cada uma destas civilizações era autossuficiente e entre elas não havia quaisquer

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ligações entre si. Aliás, até 1492, as outras economias-mundo não tinham, sequer,
qualquer conhecimento da sua existência.

Durante muito tempo, era esta a organização económica


do mundo.
Entretanto, uma série de portugueses visionários,
corajosos e aventureiros iniciam a grandiosa gesta dos
Descobrimentos e a História da Humanidade vai mudar
radicalmente – a globalização está prestes a começar…

b) O processo de globalização

A evolução do processo de globalização pode ser dividida em três grandes fases:

▪ 1ª Fase (séculos XV a XVIII), caracterizado por um capitalismo comercial;


▪ 2ª Fase (século XIX até ao final da 2ª Guerra Mundial - 1945), com um capitalismo de cariz
industrial;
▪ 3ª Fase (final da 2ª Guerra Mundial a 1989 – Queda do Muro de Berlim) onde o capitalismo
tem uma forte componente financeira.
▪ 4ª Fase (de 1989 à atualidade), onde o capitalismo tem uma forte componente financeira.

Vejamos, agora, com algum detalhe, cada uma destas fases.

1ª Fase – séculos XV a XVIII


O processo de globalização arranca com a viagem de
Vasco da Gama à Índia, que deu início, pela primeira
vez na história da humanidade, às primeiras trocas
comerciais regulares entre duas economias-mundo.
Pouco tempo depois, Pedro Álvares Cabral, na sua
viagem à Índia descobre, a meio caminho, o Brasil e
pela primeira vez na História da Humanidade numa só
viagem são postos em contacto quatro continentes –
Europa, África, América e Ásia.
As viagens de exploradores e descobridores
portugueses e espanhóis levam também à descoberta
e exploração do chamado Novo Mundo, atual
continente americano.
Depois de Vasco da Gama, diversos povos europeus estabelecem relações comerciais regulares e
substanciais com outras economias-mundo, onde inclusive, criam colónias e utilizam mão-de-obra escrava
recrutada localmente ou trazida de África.

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É uma fase caracterizada pelo designado “comércio triangular” que se transforma no primeiro sistema
de trocas comerciais entre economias-mundo de grande volume. Neste sistema, de África para América
iam os escravos, da América para a Europa iam matérias-primas, que a Europa transformava e depois
exportava para o resto do mundo, incluindo África, onde esses produtos manufaturados eram trocados
por escravos.
A atividade mercantil estava toda concentrada no Estado, que controlava todas as importações e o
comércio colonial, atribuindo monopólios a grandes companhias comerciais.
A ideologia dominante era
protecionista, ou seja, era criada
legislação para proteger o
comércio de cada país, e para
dificultar as importações de outros
países, normalmente através da
criação de pesados impostos
alfandegários que encareciam
Duas visões menos eurocêntricas dos Descobrimentos
muito o produto.
Esta fase foi claramente liderada pela economia-mundo europeia, com destaque numa fase inicial para
os portugueses e os espanhóis. No século XVII o ascendente era holandês com a Inglaterra a tornar-se a
potência dominante na fase final deste período (seculo XVIII), predomínio que manteve até à I Guerra
Mundial (1914-1918).

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2ª Fase – século XIX até ao final da 2ª Guerra Mundial (1945)


Esta fase caracteriza-se por um forte desenvolvimento ao nível industrial, dos transportes (barco a
vapor, comboios, automóvel), e da comunicação e da informação (invenção do telégrafo, telefone,
televisão, computadores).
É também a fase da ascensão e queda de grandes impérios coloniais por parte de alguns países
europeus.
Entre estes grandes impérios coloniais registaram-se várias lutas diplomáticas e mesmo algumas guerras
pela posse de territórios coloniais. Estes incidentes acabariam por desembocar nas duas grandes
guerras mundiais, já no século XX.

Império colonial português no início do século XIX Império colonial inglês no século XVIII

Essas duas guerras mundiais levaram à queda destes impérios pois em alguns territórios coloniais
começaram a registar-se lutas pela independência que acabaram por dar origem ao surgimento de
uma longa série de novos países nos continentes americano e no sudeste asiático.
A ideologia dominante era liberal, que defende a livre circulação de bens entre países começou a
vingar e a redução do papel do Estado na sociedade e na economia ao mínimo, ou seja, ficando
apenas com as funções ligadas à defesa e à segurança.
Durante este período foi proibida e abolida a escravatura em muitos países.
Regista-se aqui também uma maior abertura, em termos sociais, das sociedades europeias, devido às
várias revoluções liberais entretanto ocorridas e inspiradas nos ideais da Revolução Francesa.
Verificaram-se também, neste período, enormes fluxos migratórios da Europa para a América (tanto do
Norte como do Sul) e para a Oceânia.
Durante este período assinalou-se uma mudança de potência dominante – no final da primeira guerra
mundial eram os Estados Unidos que haviam destronado a Inglaterra.

3ª Fase - final da 2ª Guerra Mundial a 1989 (Queda do Muro de Berlim)


Este período que se inicia, aproximadamente com o final da II Guerra Mundial, é marcado, por uma
forte luta política, diplomática e económica entre dois blocos de países: um liderado pelos EUA e pela
Grã-Bretanha que defende o modelo liberal e capitalista e outro bloco liderado pela URSS (União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas, correspondendo hoje, grosso modo, à atual Rússia) e pela China que
defende o modelo de sociedade socialista/comunista. Esta luta ficou na história com a designação de
Guerra Fria.

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Esta Guerra Fria era particularmente visível na Europa,


continente que se dividiu em dois blocos político-militares:

▪ Um capitalista (ou ocidental), agrupada na aliança


militar que constitui a NATO (iniciais inglesas para
a OTAN - Organização do Tratado do Atlântico
Norte);
▪ Outro socialista/comunista (ou de leste) a que
correspondia a aliança militar constituída pelo
Pacto de Varsóvia.

Um dos símbolos mais marcantes desta divisão era o Muro


de Berlim, um muro fortemente fortificado e armado que dividia aquela cidade alemã em duas partes –
uma capitalista, que integrava a República Federal da Alemanha, outra comunista, sob a soberania da
República Democrática da Alemanha.
A Guerra Fria termina com a falência do sistema comunista
na URSS, simbolizada na queda deste Muro, em 1989. À
derrota soviética correspondeu, naturalmente, a vitória
norte-americana e ocidental, ficando os EUA como a
potência dominante, a única superpotência.
É também um período de forte desenvolvimento tecnológico
mas agora assente na informática.
É nesta fase que começam a surgir um novo tipo de
empresas – as multinacionais – que mais tarde marcarão
decisivamente a economia mundial

4ª Fase - 1989 (Queda do Muro de Berlim) aos nossos dias


Com a falência do modelo comunista/socialista soviético e a desintegração da URSS, os EUA, como já
dissemos, ficaram como a única superpotência.
O desenvolvimento ao nível das TIC acentua-se,
particularmente com o nascimento (em 1992) e
crescimento explosivo da Internet e das ferramentas a
ela associadas (correio eletrónico, redes sociais, por
exemplo).
Derrotadas as ideologias comunista e socialista, a
ideologia dominante (do modelo ocidental) é
neoliberal, ou seja, defende a desregulamentação da
economia, dando aos agentes económicos, por um lado,
o principal papel em termos económicos a que
corresponde, por outro lado, uma diminuição da
importância e do poder do Estado. Este deve, segundo
os ideais neoliberais, privatizar as empresas públicas

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ficando apenas com um papel fiscalizador, moralizador e regulador.


Assiste-se também à disseminação democracia um pouco por todo o mundo, sendo hoje o sistema político
mas comum. Pode mesmo dizer-se que em 1900 não havia um único país que tivesse um regime político
que, de acordo como o conceito atual, fosse uma democracia. Em 2011, segundo o Índice de
Democracia da revista The Economist, já eram 115 os países democráticos.
Como a interdependência entre países é cada vez maior (devido ao aprofundamento do processo de
globalização), é sentida uma cada vez maior necessidade de um governo mundial, do qual já surgem
uns embriões como o são, por exemplo, a Organização das Nações Unidas (ONU), o G-8 (que agrupa
os sete países mais industrializados e desenvolvidos economicamente do mundo, mais a Rússia) ou o G-
20 (formado pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do
mundo mais a União Europeia).
Contudo, estes centros de decisão política e económica estão afastados do cidadão comum, o que
corresponde a um enfraquecimento da democracia pois estas instituições que não são democráticas.
Alguns países mais pequenos, que sentem dificuldades em sobreviver num mundo cada vez mais
globalizado, resolvem associar-se a outros para enfrentar melhor as novas condições económicas e
políticas. O exemplo mais bem
sucedido é a União Europeia, que
agrupa, actualmente, 27 países que
actuam coordenadamente, em vários
domínios como o económico, o
político ou o fiscal
Constata-se que o mundo, neste
período, torna-se cada vez mais
uniformizado, por exemplo, ao nível
cultural e dos hábitos de consumo.
O comércio mundial passa para as
mãos de cerca de empresas que
estão presentes em diversos países –
são as chamadas empresas
multinacionais ou transnacionais, principalmente de origem europeia, americana e japonesa, que
ganham um poder de influência enorme.
Há algumas multinacionais estrangeiras que certamente conheces mas também há multinacionais
portuguesas como, por exemplo, a Delta Cafés, a Impresa, a Lanidor, a Portugal Telecom, a Sonae, a
YDreams, a Galp, a Cimpor ou a TAP, para citar apenas alguns exemplos).

5. CONSEQUÊNCIAS DA GLOBALIZAÇÃO
A globalização trouxe alguns problemas e consequências das quais vamos ver algumas com mais
atenção, como:

▪ Agravamento das desigualdades económicas e sociais;

▪ Aumento dos riscos ambientais;

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▪ Aumento dos riscos para a saúde humana;

▪ Aumento dos perigos para a democracia;

▪ Contribui para a regressão dos direitos associados ao trabalho;

▪ Aumentou o crime global e organizado porque as redes criminosas comunicam e deslocam


os seus produtos (drogas, armas e pessoas, principalmente) com maior facilidade,
espalhando globalmente as suas redes;

▪ Aumentou a instabilidade financeira devido ao efeito dominó (por exemplo, atualmente


vivemos uma crise que tem a sua origem nos EUA, em 2008);

▪ Aumentou o risco de desvalorização das culturas locais e nacionais

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