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MANUAL DE PSICOLOGIA

MÓDULO 1 (TOTAL 21 HORAS)


DESCOBRINDO A PSICOLOGIA

Índice

Objetivos e conteúdos………………………………………………………………………………………………………………..1
Os interfaces da Psicologia………………………………..……………………………………………………………………….2
A evolução da psicologia como ciência – as teorias…………………………………………………………………….3
Áreas de especialização da Psicologia……………………………………………………………………………………….17
Bibliografia……………………………………………………………………………………………………………………………….22
Objetivos
Definir o objeto de estudo da Psicologia; delimitar os interfaces da Psicologia; distinguir senso
comum de conhecimento científico; compreender o conceito de introspeção controlada de
Wundt; caracterizar o behaviorismo de Watson; reconhecer a ligação entre comportamento e
condicionamento de Pavlov; compreender os reflexos no comportamento animal com
Thorndike; caracterizar as instâncias psíquicas de Freud, reconhecer o papel do meio na
construção da inteligência com Piaget; reconhecer a importância da noção de pessoa na
construção de identidade; tomar consciência das diversas áreas de aplicação do conhecimento
psicológico.

Conteúdos
O objeto de estudo da Psicologia; a psicologia e outras áreas científicas; conhecimento
científico e senso comum; Wundt e o laboratório de Psicologia experimental; Watson e o
behaviorismo; Pavlov e a reflexologia; Thorndike e a lei do efeito; Freud e o inconsciente;
Piaget e o construtivismo; Rogers e a pessoa; áreas de especialização da Psicologia.

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A PSICOLOGIA E OS OUTROS SABERES

O objeto de estudo da Psicologia traduz-se no comportamento (ações/reações observáveis) e


processos mentais (pensamentos, perceções, emoções, etc) do ser humano. Trata-se de um
estudo científico que não só descreve e explica esta áreas como as pretender prever, o que dá a
esta disciplina uma capacidade de antecipação e alteração destes processos e comportamentos.

O significado do termo tem a seguinte origem etimológica: Psyché (alma, espírito, sopro,
respiração) + logos (razão, estudo).

A Psicologia emancipou-se de áreas de estudo que lhe são afins, mas interage com elas, já que
o ser humano é um ser complexo e a sua construção não é estanque. Esta interdisciplinaridade
temática traduz-se em cruzamentos com a Sociologia, a História, a Biologia, a Antropologia,
entre outras. É o conhecimento aprofundado de várias áreas do saber que permite aprofundar o
conhecimento humano. O conhecimento que as ciências sociais buscam e produzem é rigoroso,
assente em métodos e técnicas que implicam uma análise da realidade séria e objetiva. Neste
sentido, o conhecimento académico separa-se claramente do senso comum. De facto, o senso
comum ou conhecimento vulgar é um tipo de conhecimento que é subjetivo, vive da tradição
popular, usa uma linguagem do quotidiano não rigorosa, é disperso e desorganizado, e baseia-
se numa sabedoria empírica, isto é, ligada ao mundo concreto e não a formulações teóricas
sobre o real. Os provérbios são um bom exemplo de conhecimento vulgar, bem como olhar o
céu, estarem nuvens escuras e dizermos que vai chover ou dizer que o sol se põe porque o
“vemos” mexer-se no horizonte. O conhecimento vulgar é útil no quotidiano, mas não é um
saber bem fundamentado. Já o conhecimento científico vive de testes que faz para comprovar
ou desmentir teorias, é objetivo, é rigoroso, usa uma linguagem rigorosa, é sistemático e
metódico, baseando-se em teorias que aprofundam o conhecimento da realidade. É um saber
que foi testado e comprovado por experiências e que permite avançar no caminho das
descobertas científicas. Exemplos deste conhecimento são a Lei da Gravidade, a teoria

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heliocêntrica, etc. o seu objetivo é prever o “comportamento” da natureza, encontrar padrões
nesse “comportamento” de maneira a formular leis.

EVOLUÇÃO DA PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA:

ESTRUTURALISMO/ ASSOCIACIONISMO – WILHELM WUNDT (1832- 1920)


 

No início do desenvolvimento da psicologia como disciplina científica distinta, esta foi


profundamente influenciada por Wilhelm Wundt que determinou o objeto de estudo, o método
de pesquisa, os tópicos a serem estudados e os objetivos da nova ciência. Wundt formou-se em
medicina e ficou particularmente conhecido pela criação do que ficou considerado como o
Primeiro Laboratório de Psicologia Experimental, seguindo os modelos dos laboratórios das
ciências naturais. Este laboratório torna-se rapidamente num centro de investigação, local onde
ocorrem psicólogos e estudantes de todo o mundo. Esta foi a forma mais eficaz de Wundt
atingir o seu principal objetivo que era contribuir para o processo de autonomização da
psicologia.

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Wundt, influenciado pelas descobertas da química, segundo as quais todas as substâncias
químicas são compostas por átomos, Wundt foi decompor a mente nos seus elementos mais
simples, que são as sensações.

Tanto para Wundt como para os seguidores do estruturalismo, as operações mentais resultam
da organização de sensações elementares que se relacionam com a estrutura do sistema
nervoso.

Wundt recorre aos métodos experimentais das ciências naturais, particularmente as técnicas
usadas pelos fisiologistas, e adotou os seus métodos científicos de investigação aos objetivos da
Psicologia. Desta forma, a fisiologia e a filosofia ajudaram a moldar tanto o objeto de estudo da
nova ciência como os seus métodos de investigação.

Wundt define como objeto da psicologia o estudo da mente, da experiência consciente do


Homem – a consciência – e é no seu laboratório, em Leipzig, que Wundt vai procurar conhecer
os elementos constitutivos da consciência, a forma como se relacionam e associam (conceção
associacionista).

Para atingir estes objetivos, Wundt utiliza como método de estudo a introspeção controlada,
que consistia em observadores treinados descreverem as suas experiências resultantes de uma
situação experimental, em laboratório. Através da introspeção, os sujeitos descreviam as suas
perceções resultantes de estímulos visuais, auditivos e tácteis. Por exemplo, ouviam um som e
em seguida descreviam o que sentiam e só este método permitiria, segundo Wundt, o acesso à
experiência consciente do indivíduo.

A introspeção ou perceção interior, tal como é praticada no laboratório criado por Wundt,
seguia condições experimentais restritas e obedecia a regras explicitas. Wundt raramente usava
o tipo de introspeção qualitativa em que o sujeito apenas descreve as suas experiências
interiores, não sendo sujeito a qualquer método objetivo e rigoroso, introspeção esta adotada
por Titchener e Kulpe (alunos de Wundt). Este tratava, principalmente, julgamentos
conscientes acerca do tamanho, intensidade e duração de vários estímulos físicos. Só um
pequeno número de estudos envolvia o relato de natureza qualitativa e subjetiva, tal como o
carácter agradável ou não de diferentes estímulos ou a qualidade de determinadas sensações.

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As áreas investigadas por Wundt abrangeram os domínios da sensação, perceção, atenção,
sentidos, reação e associação. Com todas estas suas contribuições foi considerado por muitos o
“Pai da psicologia experimental”.

REFLEXO CONDICIONADO - PAVLOV (1849 – 1936)


 
No final do século XIX e no início do século XX, um fisiologista
russo chamado Ivan Pavlov (1849-1936), ao estudar a fisiologia do
sistema gastrointestinal, fez uma das grandes descobertas científicas
da atualidade: o reflexo condicionado. Foi uma das primeiras
abordagens realmente objetivas e científicas ao estudo da
aprendizagem, principalmente porque forneceu um modelo que podia
ser verificado e explorado de inúmeras maneiras, usando a
metodologia da fisiologia. Pavlov inaugurava, assim, a psicologia científica, acoplando-a à
neurofisiologia. Por seus trabalhos, recebeu o prémio Nobel concedido na área de Medicina e
Fisiologia em 1904. 
  
  

Ilustração: Renato M. E. Sabbatini


A experiência clássica de Pavlov é aquela
do cão, a campainha e a salivação à vista de

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um pedaço de carne. Sempre que
apresentamos ao cão um pedaço de carne, a
visão da carne e sua olfação provocam
salivação no animal. Se tocarmos uma
campainha, qual o efeito sobre o animal?
uma reação de orientação. Ele simplesmente
olha, vira a cabeça para ver de onde vem
aquele estímulo sonoro. Se tocarmos a
campainha e em seguida mostrarmos a
carne, dando-a ao cão, e fizermos isso
repetidamente, depois de certo número de
vezes o simples tocar da campainha provoca
salivação no animal, preparando o seu
aparelho digestivo para receber a carne. A
campainha torna-se um sinal da carne que
virá depois. Todo o organismo do animal
reage como se a carne já estivesse presente,
com salivação, secreção digestiva,
motricidade digestiva etc. Um estímulo que
nada tem a ver com a alimentação,
meramente sonoro, passa a ser capaz de
provocar modificações digestivas.

 
Para que surja um reflexo condicionado é preciso que existam certas condições:
 
1. coexistência no tempo, várias vezes repetida, entre o agente indiferente e o estímulo
incondicionado (no caso, o som da campainha e a apresentação da carne);
2. o agente indiferente deve preceder em pouco tempo o estímulo incondicionado. Se
dermos a carne primeiro e tocarmos a campainha depois, a reação condicionada não se
estabelece;
3. inexistência naquele momento de outros estímulos que possam provocar inibição de
causa externa. Se simultaneamente damos uma chicotada no animal ou lhe atiramos
água gelada, provocamos inibição, desencadeando reação de defesa no animal;
4. para que o reflexo condicionado se mantenha, é necessário que periodicamente o
reforcemos. Uma vez que o reflexo se formou, o mero som da campainha substitui a
apresentação da carne. Mas, se tocarmos repetidamente a campainha e não mais
apresentarmos a carne, depois de um certo número de vezes o animal deixa de reagir
com salivação e secreção digestiva.
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Como Funciona o Reflexo Condicionado:
 

Estímulo -------> Resposta

Estímulo Indiferente + Estímulo Incondicionado (apresentação da carne) ---------> Resposta


Incondicionada
Estímulo Indiferente --------> Resposta Condicionada

Explicando melhor: um estímulo indiferente, combinado com um estímulo capaz de ativar um


reflexo incondicionado, gera uma resposta incondicionada e, depois de algum tempo, o
estímulo indiferente, por si só, é capaz de provocar resposta que pode, então, ser considerada
como condicionada. Esses estímulos indiferentes podem vir tanto do meio externo (estímulos
sonoros, luminosos, olfativos, táteis, térmicos) como do meio interno (vísceras, ossos,
articulações).
As respostas condicionadas podem ser motoras, secretoras ou neurovegetativas. Podem, pois,
ser condicionadas reações voluntárias ou reações vegetativas involuntárias. Podemos fazer com
que respostas involuntárias apareçam de acordo com a nossa vontade, se usarmos o
condicionamento adequado. As respostas condicionadas podem ser excitadoras (com aumento
de função) ou inibidoras (com diminuição de função).
Existem diversos exemplos de como se pode modificar, através do condicionamento, a
fisiologia do animal e do ser humano. Citaremos apenas alguns, para, a partir deles, procurar
compreender o que poderia ocorrer no momento do efeito placebo.

A Modificação da Fisiologia Através do Condicionamento:


Pavlov e seus seguidores logo perceberam que o condicionamento era muito poderoso no
sentido de alterar funções orgânicas. Diversos experimentos comprovaram isso, e abriram um
enorme campo de estudos, com muitas consequências para a aplicação clínica em seres
humanos.
Por exemplo, coloca-se uma sonda retal em um cão e faz-se um enema salino (injeção de água
salgada). A presença daquele soluto dentro do intestino provoca, ao fim de algum tempo,
aumento da diurese (excreção renal de água) para restabelecer o equilíbrio hidroeletrolítico.
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Depois de algumas sessões de administração de enema salino através da sonda retal, a mera
introdução da sonda retal, sem enema, também provoca aumento da diurese.
Da mesma maneira, se antes de aplicar injeção de insulina em um cão, faz-se com que ele ouça
sempre um assobio, a hipoglicemia que surge em decorrência da ação da insulina passará a
surgir, depois de algum tempo, pela simples audição do assobio. O metabolismo do animal
alterou-se, passando a responder com hipoglicemia a um estímulo sonoro que nada tem a ver,
em condições normais, com o metabolismo dos glícidos.
 

THORNDIKE E A LEI DO EFEITO (1874-1949)

Este autor quis compreender como os animais resolviam problemas e se esse processo seria
comum aos seres humanos. O condicionamento operante, também chamado
de condicionamento instrumental ou aprendizagem instrumental foi primeiramente estudado
por Thorndike, que observou o comportamento de gatos tentando escapar de "caixas
problemas". Na primeira vez que os gatos eram colocados nas caixas, eles demoravam bastante
tempo para escapar delas. Mas, com o passar do tempo, as respostas ineficientes foram
diminuindo de frequência, e as respostas mais efetivas aumentavam de frequência, e os gatos
agora conseguiam escapar em menos tempo e com menos tentativas. Na sua Lei do Efeito,

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Thorndike teorizou que as respostas que produziam consequências mais satisfatórias, foram
"escolhidas" pela experiência e portanto, aumentaram de frequência. Algumas
consequências reforçavam o comportamento, outras enfraqueciam-no. Thorndike produziu a
primeira curva de aprendizagem com este procedimento. Conceitos como estímulo, resposta,
recompensa, punição são associados a uma série de tentativas e erros que vão consolidando este
método experimental. Os reflexos inatos acompanham-se assim de reflexos condicionados por
estímulos à partida neutros, mas que repetidos ganham condicionam o comportamento, neste
caso, dos gatos. Caso haja recompensa por um dado comportamento isso terá um efeito, a sua
repetição; caso haja uma punição, esta terá outro efeito, a não repetição do mesmo
comportamento. Assim é a Lei do Efeito.

BEHAVIORISMO - JOHN WATSON (1878 - 1958)

    John Watson é considerado o pai da psicologia científica pois demarcou-se de forma radical
te toda a psicologia tradicional, que tinha por objetivo o estudo da consciência e por método a
introspeção. Não nega a existência da consciência nem a possibilidade do indivíduo se auto-
observar, mas considera que os estados de espírito bem como a procura das suas causas só
podem interessar ao sujeito no âmbito da sua vida pessoal.
    Watson considera que, com Wundt, a psicologia teve uma falsa partida pois este não foi
capaz de romper com as conceções tradicionais. Para se constituir como ciência, a psicologia

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teve de cortar com todo o passado e constituir-se como ramo objetivo e experimental da
ciência. Watson pretendia para a psicologia o mesmo estatuto da biologia. Logo para se
constituir como ciência rigorosa e objetiva, o psicólogo terá de assumir a atitude do cientista,
trabalhando com dados que resultam de observações objetivas e acessíveis a qualquer outro
observador. O psicólogo terá de renunciar à introspeção e limitar-se à observação externa, à
semelhança das outras ciências.
    Segundo ele, só se pode estudar diretamente o comportamento observável, isto é, a resposta
do indivíduo (R) a m dado estímulo (E) do ambiente. E, tal como em qualquer outra ciência,
cabe ao psicólogo decompor o seu objeto – o comportamento – nos seus elementos e explicá-
los de forma objetiva, recorrendo ao método experimental.
    É importante salientar que, para os behavioristas, estímulo é o conjunto de excitações que
agem sobre o organismo. O estímulo pode ser assim qualquer elemento ou objeto do meio ou
ainda qualquer manifestação interna do organismo (exemplo: a picada de uma agulha;
contrações do estômago…). Para os behavioristas, a resposta é tudo o que o animal ou o ser
humano faz (exemplo: afastar a mão, saltar, chorar…). O comportamento é o conjunto de
respostas objetivamente observáveis ativadas por um conjunto complexo de estímulos,
provenientes do meio físico ou social em que o organismo se insere.
    Watson chegou mesmo a estabelecer uma fórmula que prevê o comportamento, isto é, a
resposta (R) depende da situação (S). O estabelecimento de leis do comportamento resulta do
estudo das variações das respostas em função da situação. O Psicólogo deverá ser capaz de,
conhecendo o estímulo, prever a respostas e, inversamente, conhecendo a resposta, deverá
identificar o estímulo ou situação (conjunto de estímulos) que provocou essa resposta.
    Para Watson, nós somos o que fazemos, e o que nós fazemos é o que o meio nos faz fazer.
Neste sentido, os indivíduos não são pessoalmente responsáveis pelos seus atos, dado que são
produto do meio em que vivem.

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PSICANÁ LISE - SIGMUND FREUD (1856 - 1939)

O termo Psicanálise e o nome Sigmund Freud são reconhecidos em todo o mundo. As figuras


de Wundt, Titchener são pouco conhecidas fora dos círculos profissionais da Psicologia, mas
Freud continua a ter uma fenomenal popularidade entre o leigo.

Em termos cronológicos, a Psicanálise entrecruza-se com as outras escolas de pensamento.


Considera-se o ano de 1895, ano que Freud publicou o seu primeiro livro, o começo deste novo
movimento.

Freud formou-se em medicina, tendo-se especializado em neurologia. As dificuldades em


prosseguir uma carreira, devido ao facto de ser judeu e de ter de sustentar ema família
numerosa, levaram-no a exercer funções de psiquiatria numa clínica privada.

Foi da reflexão dos dados que recolheu junto dos seus pacientes, das observações que fez sobre
si próprio, bem como do debate que sempre estabeleceu com os investigadores seus
contemporâneos, que Freud sempre foi procurar o significado mais profundo das perturbações
psicológicas. Seria impossível compreender os processos patológicos se só se admitisse a
existência do consciente. O consciente é constituído pelas representações presentes da nossa
consciência e pode aceder-se a estas representações através da introspeção, sendo o consciente
o essencial da vida mental do Homem.

A grande revolução introduzida por Freud consistiu na afirmação da existência do inconsciente


que seria uma zona do psiquismo humano constituída por um processo dinâmico que orienta e
pressiona o organismo para determinados comportamentos, atitudes e afetos, tendência e
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desejos fundamentalmente de carácter afetivo-sexual, a qual não é passível de conhecimento
direto, como acontece com o consciente. Existe também o pré-consciente (subconsciente) que
faz a ligação entre o consciente e o inconsciente.

-Instância que se constituiu diferenciando-se do ID, no 1º


ano de vida. A sua energia vem-lhes das pulsões do ID.
-Tem preocupações lógicas, de espaço e de tempo, assim
 CONSCIENTE como de coerência entre a força do ID e os
(EGO) constrangimentos da realidade.
-Tenta ser moral
-O ego opõe-se a certos desejos do ID e a sua atividade é
sobretudo consciente
-Instância formada a partir de uma parte do ego, após o
complexo de Édipo
-É constituído pela interiorização das imagens idealizadas
dos pais e das regras social. Base da consciência moral
PRÉ-CONSCIENTE
-É hiper moral
(SUPEREGO)
-O superego age sobre o ego, filtra os conflitos ID/EGO,
decide sobre o destino das pulsões e a sua atividade é
inconsciente.
-Instância constituída por pulsões inatas e por conteúdos,
como os desejos, que são posteriormente recalcados.
-As pulsões procuram o prazer e a satisfação imediata.
INCOSCIENTE - O inconsciente não é regido por preocupações lógicas,
(ID) temporais ou espaciais.
-É amoral
-O ID impulsiona e pressiona o ego e a sua atividade é
inconsciente

Freud foi inspirado pelo trabalho do fisiologista Josef Breuer, por seus trabalhos iniciais com a
hipnose, que marcaram profundamente os métodos do psicanalista, embora mais tarde ele
abandone essa terapêutica e a substitua pela livre associação. Ele também incorporou à sua
teoria conhecimentos absorvidos de alguns filósofos, principalmente de Platão e Schopenhauer.
Freud interessou-se desde o início por distúrbios emocionais que na época eram conhecidos
como ‘histeria’, e empenhou-se para, através da Psicanálise, encontrar a cura para estes
desajustes mentais. Desde então ele passou a utilizar a arte da cura pela fala, descobrindo assim
o reino onde os desejos e as fantasias sexuais se perdem na mente humana, reprimidos,
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esquecidos, até emergirem na consciência sob a forma de sintomas indesejáveis, por uma razão
qualquer – o Inconsciente.

Freud organiza em seu corpo teórico dados já conhecidos na época, como a ideia de que a
mente era dividida em três partes, as funções que lhe cabiam, as personalidades que nasciam de
cada categoria e a catarse. Essa espécie de sincretismo científico deu origem a inúmeras
conceções novas, como a sublimação, a perversão, o narcisismo, a transferência, entre outras,
algumas delas bem populares em nossos dias, pois estes conceitos propiciaram o surgimento da
Psicologia Clínica e da Psiquiatria modernas. Para a Psicanálise, o sexo está no centro do
comportamento humano. Ele motiva sua realização pessoal e, por outro lado, seus distúrbios
emocionais mais profundos; reina absoluto no inconsciente. Freud, em plena era vitoriana,
tornou-se polêmico, e sua teoria não foi aceita facilmente. Com o tempo, porém, seu
pensamento tornou possível a entrada do tema sexual em ambientes antes inacessíveis a esta
ordem de debates.

A teoria psicanalítica está sintetizada essencialmente em três publicações: Interpretação dos


Sonhos, de 1900; Psicopatologia da Vida Cotidiana”, que contém os primeiros princípios da
Psicanálise; e “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade”, na qual estão os esboços básicos
desta doutrina. No atendimento clínico, o paciente, em repouso, é estimulado a verbalizar tudo
que brota em sua mente – sonhos, desejos, fantasias, expectativas, bem como as lembranças da
infância. Cabe ao psicanalista ouvir e interferir apenas quando julgar necessário, assim que
perceber uma ocasião de ajudar o analisando a trazer para a consciência seus desejos
reprimidos, deduzidos a partir da livre associação. No geral, o analista deve se manter
imparcial.

Para Freud toda a perturbação de ordem emocional tem sua fonte em vivências sexuais
marcantes, que por se revelarem perturbadoras, são reprimidas no Inconsciente. Esta energia
contida, a libido, se expressa a partir dos sintomas, na tentativa de se defender e de se
preservar, este é o caminho que ela encontra para se comunicar com o exterior. Através da livre
associação e da interpretação dos sonhos do paciente, o psicanalista revela a existência deste
instinto sexual. Essa transferência de conteúdo para o consciente, que provoca uma intensa
desopressão emocional, traz a cura do analisando. A mente, dividida em Id, Ego e Superego,

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revela-se uma caixinha de surpresas nas mãos de Freud. No Id, governado pelo ‘princípio do
prazer’, estão os desejos materiais e carnais, os impulsos reprodutores, de preservação da vida.

No Ego, ou Eu, regido pelo ‘princípio da realidade’, está a consciência, pequeno ponto na
vastidão do inconsciente, que busca mediar e equilibrar as relações entre o Id e o Superego; ele
precisa saciar o Id sem violar as leis do Superego. Assim, o Ego tem que se equilibrar
constantemente numa corda bamba, tentando não se deixar dominar nem pelos desejos
insaciáveis do Id, nem pelas exigências extremas do Superego, lutando igualmente para não se
deixar aniquilar pelas conveniências do mundo exterior. Por esse motivo, segundo Freud, o
homem vive dividido entre estes dois princípios, o do Prazer e o da Realidade, em plena
angústia existencial. O Superego é a sentinela da mente, sempre vigilante e atenta a qualquer
desvio moral. Ele também age inconscientemente, censurando impulsos aqui, desejos ali,
especialmente o que for de natureza sexual. O Superego expressa-se indiretamente, através da
moral e da educação.

Segundo a Psicanálise, o Inconsciente não é o subconsciente – nível mais passivo da


consciência, seu estágio não-reflexivo, mas que a qualquer momento pode se tornar consciente
– e só se revela através dos elementos que o estruturam, tais como atos falhos – eles se
expressam nas pessoas sãs, refletindo o conflito entre consciente, subconsciente e inconsciente;
são as famosas ‘traições da memória’ -, sonhos, chistes e sintomas. Freud também elaborou as
fases do desenvolvimento sexual, cada uma delas correspondente ao órgão que é estimulado
pelo prazer e o objeto que provoca esta excitação.

Na fase oral, o desejo está situado na boca, na deglutição dos alimentos e no seio da mãe,
durante a amamentação. Na fase anal, o prazer vem da excreção das fezes, das brincadeiras
envolvendo massas, tintas, barro, tudo que provoque sujidade. Na fase genital ou fálica, o
desejo e o prazer direcionam-se para os órgãos genitais, bem como para pontos do corpo que
excitam esta parte do organismo. Nesse momento, os meninos elegem a mãe como objeto de
seu desejo – constituindo o Complexo de Édipo, relação incestuosa que gera também uma
rivalidade com o pai -, enquanto para as meninas o pai torna-se o alvo do desejo – Complexo
de Eletra.

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PIAGET E O CONSTRUTIVISMO

O seu estudo é principalmente centrado em compreender como o aprendiz passa de um estado


de menor conhecimento a outro de maior conhecimento, o que está intimamente relacionado
com o desenvolvimento pessoal do indivíduo.

Piaget chama de epistemologia à sua teoria do conhecimento pois está centralizada no


conhecimento científico. E também de genética porque, além de atentar-se no como é possível
alcançar o conhecimento - ele estuda as condições necessárias para que a criança chegue na
fase adulta com conhecimentos possíveis a ela.

A teoria psicogenética desperta nos educadores enormes interesses devido a vários fatores,
como:

 Descreve as características do pensamento sensório-motor, pré-operatório, concreto e


formal;
 Apresenta uma análise sistemática da génese das noções básicas do pensamento
racional (espaço, tempo, causalidade, movimento, lógica das classes, lógica das
relações, etc.);
 Aborda como se dá o desenvolvimento e aprendizagem;
 Explica como se dá assimilação e acomodação conflito cognitivo.

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Na teoria de Piaget, o sujeito (aluno) é um ser ativo que estabelece relação de troca com
o meio-objeto (físico, pessoa, conhecimento) num sistema de relações vivenciadas e
significativas, uma vez que este é resultado de ações do indivíduo sobre o meio em que vive,
adquirindo significação ao ser humano quando o conhecimento é inserido em uma estrutura –
isto é o que denomina assimilação.

A teoria da psicogenética centrou sua atenção no estudo das formas mais primitivas de
conhecimento até as mais complexas. Esta teoria descreve em esquemas de ação interiorizada
ou esquemas representativos por regras de combinações de esquemas ou operações. De forma
bastante detalhada Piaget trata as etapas de evolução desses esquemas e de forma organizada,
desde o nascimento até a idade adulta. Podendo ser classificada os períodos da inteligência em
quatro estádios abaixo descritos:

  Sensório-motor (0 aos 18/24 meses aproximadamente): nesta fase a criança está


explorando o meio físico através de seus esquemas motores.
 Pré-operatório (2 anos a mais ou menos 7 anos): a criança é capaz de simbolizar, de
evocar objetos ausentes. Estabelece diferença entre significante e significado, o que
possibilita distância espácio-temporal entre o sujeito e o objeto, por meio da imagem
mental. A criança é capaz de imitar gestos, mesmo com a ausência de modelos.
 Operatório Concreto (7 a 11 anos): a criança tem a inteligência operatória concreta,
sendo capaz de realizar uma ação interiorizada, executada em pensamento, reversível,
pois admite a possibilidade de uma inversão e coordenação com outras ações, também
interiorizadas. Necessita de material concreto, para realizar essas operações, mas já está
apta a considerar o ponto de vista do outro, sendo que está saindo do egocentrismo.
 Formal (entre os 9/10 anos aos 15/16 anos): o adolescente tem as estruturas
intelectuais para combinar as proporções, as noções probabilísticas, raciocínio
hipotético dedutivo de forma complexa e abstrata.

Assim sendo, para Piaget o conhecimento não é inato, mas resulta da interação do organismo
com o meio.

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ROGERS E A PESSOA (1902-1987)

Para este autor, o meio não é determinante nem está o ser humano submetido a pulsões
inconscientes. O ser humano é naturalmente bom e tem várias potencialidades que deve buscar
desenvolver para viver satisfatoriamente. Rogers funda a Terapia Centrada na Pessoa que volta
o ser humano para si mesmo de modo realista, positivo e racional, em que o terapeuta valoriza
a experiência de vida do cliente e ambos trabalham de forma cooperativa. Rogers visa a auto-
realização, esse sentimento que é fruto da autonomia e do bom desenvolvimento pessoal. Cada
pessoa deve descobrir as suas motivações e capacidades e desenvolver-se plenamente.

Á REAS DE ESPECIALIZAÇÃ O DA PSICOLOGIA EM PORTUGAL

Psicologia Aplicada - conceito amplo que se refere a uma intervenção da psicologia em vários
contextos e instituições sociais.

Áreas De Investigação Da Psicologia:

   NEUROPSICOLOGIA: aborda os fundamentos biológicos do comportamento e dos


processos mentais.
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     PSICOLOGIA SOCIAL: processos de interação entre os indivíduos e os grupos.
     PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO: diferentes fases e processos de
desenvolvimento.
     PSICOLOGIA COGNITIVA: estuda os processos mentais.
     PSICOPATOLOGIA: perturbações mentais e disfunções.
    PSICOLINGUÍSTICA: problemas na aquisição e utilização da língua materna.

Psicologia Educacional - O espaço escolar é complexo, e leva à existência de três áreas, cada
uma com a sua especificidade.

 Os psicólogos escolares têm competências ao nível do desenvolvimento, educação e da clínica


no contexto escolar; os psicólogos educacionais são especialistas nos processos de
ensino/aprendizagem que trabalham com os psicólogos escolares e com os professores em
busca de melhores métodos de ensino/aprendizagem.

Os psicólogos de aconselhamento e orientação vocacional, procuram facilitar o ajustamento


social e vocacional.

As três áreas referidas mantêm um interesse comum: o sujeito em processo de aprendizagem e


integração social e escolar.

Principais Áreas de Reflexão da Psicologia Educacional - Deve:

  Ter em conta os processos de desenvolvimento, com os vários estádios que este


implica.
 Conhecer as diferenças (culturais, linguísticas, psicológicas, etc.)
 Abordar as questões sob diferentes interpretações.
 Compreender os fatores motivacionais.
 Avaliar corretamente competências.
 

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Psicologia do Trabalho e das Organizações - O profissional da psicologia com esta
especialização trabalha com os problemas das organizações e da produção, aplicando os seus
conhecimentos e técnicas ao serviço da seleção, treino, colocação e acompanhamento de
pessoal das organizações industriais, comerciais e de prestação de serviços.

 A sua ação desenvolve-se em três domínios:

A psicologia do pessoal: aborda questões relacionadas com a seleção de pessoal, orientação e


desenvolvimento de carreiras, avaliação do desempenho.

A psicologia do trabalho: aborda questões como a interação homem/máquina, organização do


trabalho, a saúde e a segurança.

A psicologia das organizações: aborda questões como a motivação, a liderança, relações


interpessoais, gestão de conflitos.

A Psicologia Clínica - Área da psicologia aplicada que tem como finalidade a prevenção,
diagnóstico e tratamento de pessoas, grupos ou comunidades. Intervém especialmente a nível
da saúde mental. Está relacionada com o sofrimento, dificuldades comportamentais e
perturbações psicológicas. Utiliza o método clínico e tem como objetivo diagnosticar e curar.
Parte do princípio de que todo o ser humano é um ser único, fazendo assim uma abordagem
exclusiva. Valoriza-se aqui a interação e a subjetividade, bem como a individualidade.

Áreas De Intervenção Do Psicólogo Clínico - Deve: 

 Compreender e ajudar o indivíduo no processo de lidar e de se ajustar a situações


aversivas e a acontecimentos que lhe provocam sofrimento.
 Apoiar a pessoa na elaboração de estratégias para ultrapassar a situação de crise ou,
pelo menos, ajudar a tornar a situação mais suportável.
 Desenvolver atividades de diagnóstico e intervenção terapêutica em centros que
prestem auxílio em situações de risco; intervir em situações em que possam existir
indícios de risco.

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  Organizar programas de reabilitação dirigidos a pessoas que sofram de doenças
crónicas.
 

Psicologia Criminal/Forense - A psicologia criminal (forense) estuda o crime e todos os


protagonistas que estão relacionados com o desvio e a transgressão. Procura identificar as
causas e os mecanismos que desencadeiam esses comportamentos.

Esta área relaciona-se com o sistema da justiça, juntando direito e psicologia.

Trabalho Do Psicólogo Criminal:

  Apoia técnicos na formação do pessoal da polícia e guardas prisionais, no


sentido de estes aprenderem a gerir conflitos e incidentes dentro dos
estabelecimentos prisionais.
 Fazem o diagnóstico de reclusos que apresentam perturbações
comportamentais.
  Acompanham os reclusos em situação de liberdade condicional.
  Avaliam a forma como os reclusos são tratados dentro dos estabelecimentos
prisionais.
  Participam nos diagnósticos de imputabilidade de um acusado.
  Testemunham em tribunal.
  Avaliam a situação de stress da polícia e guardas prisionais.
  Prestam apoio a vítimas de violência doméstica, abusos sexuais ou outras
formas de violência.
  Apoiam a polícia a elaborar perfis psicológicos que ajudem à identificação e
captura de criminosos.

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Psicologia Desportiva - Este ramo da psicologia procura conhecer os processos psicológicos


subjacentes à atividade física e desportiva. Intervém junto de clubes e equipas desportivas, quer
profissionais quer amadoras. Pode trabalhar não apenas com os atletas, mas também com
treinadores, árbitros e juízes.

 O psicólogo do desporto tem funções que vão desde o desempenho, rendimento e participação


desportiva, à gestão da ansiedade, angústia, comunicação, dinâmicas de grupo, gestão de stress
e esgotamento.

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Bibliografia e Webgrafia

Guerra, Alexandre; Lopes, Nuno (2019), Psicologia – Cursos Profissionais – Volume 1.


Lisboa: Plátano Editora.
Monteiro, Manuela Matos (2017), Psicologia – Ensino Profissional – Módulos 1 e 2. Porto:
Porto Editora.
https://www.infoescola.com
https://caminhodapsicologia.webnode.com.pt
https://adriana-psy.webnode.pt
https://psicologiauni.blogspot.com

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