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Livro para pais

Divórcio
LIVRO PARA PAIS – DIVÓRCIO

INTRODUÇÃO

São muitos, os acontecimentos de vida que são significativos para as crianças. Alguns

são felizes, outros menos felizes.

Há situações de ruptura e mudança familiar, como a separação ou divórcio, que podem

ser especialmente difíceis para as crianças.

Este manual pretende ser um instrumento de ajuda para os pais, que apesar de não

continuarem juntos, continuam a ser pais, e a desejar o melhor para as suas crianças.

A separação é, não só para os pais, mas também para os


A separação é, não só para os pais, mas também para os
filhos, uma transição de vida e consequentemente um processo de
filhos, uma transição de vida e consequentemente um processo de
luto e readaptação a uma nova situação familiar. Nem sempre os
luto e readaptação a uma nova situação familiar. Nem sempre os
pais têm consciência que também os filhos têm de lidar com
pais têm consciência que também os filhos têm de lidar com
sentimentos de perda e também eles têm de reconstruir um novo
sentimentos de perda e também eles têm de reconstruir um novo
sentido para a vida, tarefa muito dolorosa e por vezes bastante
sentido para a vida, tarefa muito dolorosa e por vezes bastante
confusa!
confusa!

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LIVRO PARA PAIS – DIVÓRCIO

CARACTERÍSTICAS DAS CRIANÇAS, NAS DIFERENTES FAIXAS

ETÁRIAS

Idade pré-escolar: A criança estabelece os vínculos emocionais e afectivos com os pais e

estes são modelos de comportamento para elas. É preciso que os pais preparem a criança

para as mudanças que vão ocorrer e que as regras para as visitas estejam bem definidas

e claras. O principal objectivo neste momento, é deixar claro que o divórcio não tem nada

a ver com o comportamento da criança, que o pai e a mãe continuarão a cuidar dela e

quem se está a separar é o marido e a mulher e não os pais e os filhos. A capacidade que

as crianças pequenas têm de diferenciar a realidade da fantasia é pequena, pelo que podem

sentir-se responsáveis por terem afastado o pai ou a mãe.

Idade Escolar: É importante esclarecer que a criança não tem responsabilidade pela

separação. Nesta fase, a criança tem a fantasia da reconciliação dos pais e pode pensar

que tem o poder de "reunir" o casal. É importante dar espaço para que a criança expresse

seus sentimentos e faça todas as perguntas que sinta serem importantes, pois isso a ajuda a

compreender a separação.

Adolescência: A notícia do divórcio deve ser acompanhada de explicações das mudanças

que vão ser processadas na rotina familiar, procurando garantir a continuidade dos vínculos

afectivos e relacionais já existentes. A possibilidade de o adolescente participar na escolha

da custódia deve ser discutida, mas sem que se dispute a "lealdade" a um dos pais.

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QUAIS SÃO AS REACÇÕES MAIS FREQUENTES?

É importante que a rotina familiar não seja interrompida, para proporcionar à

criança estabilidade e segurança.

A separação dos pais pode ser interpretada como sendo culpa ou responsabilidade da

criança e esta pode sentir-se igualmente responsável pela reconstrução da relação dos

pais. Podem verificar-se regressões em termos de comportamentos, como:

* voltar a fazer xixi na cama;

* mostrar insegurança ou recusar-se a separar-se de um dos pais;

* problemas escolares, de atenção e concentração, de comportamento;

* rebeldia para com figuras de autoridade;

* sentimento de culpa, misturado com o medo de ver os pais separados. Pode mesmo

perguntar-se com frequência “O que é que eu não soube fazer para os meus pais não ficarem

juntos?”, pois aparentemente, só continuam juntos por ele. Por isto, pode achar que não
merece ser amada. Assim, intimamente ligada a discussões dos pais, pode verificar-se uma

grande diminuição da auto-estima da criança.

Nos adolescentes podem acontecer reacções de raiva, pois a separação dos pais pode

ser sentida como uma ameaça à sua estabilidade e segurança, e é exigido um

amadurecimento precoce do adolescente. Se se sente leal à mãe, por exemplo, esse

sentimento pode gerar conflito e hostilidade com o pai em algumas situações, como o início de

um outro relacionamento. Se o divórcio é problemático, a angústia do adolescente pode

manifestar-se no fracasso ou insucesso escolar, em comportamentos agressivos e no uso de

álcool e drogas.

Ou, pelo contrário, pode ser uma experiência positiva de amadurecimento.

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COMO TORNAR ENTÃO ESTE MOMENTO DE RUPTURA E DOR MENOS DOLOROSO?


? AOS PAIS…

 Preparem a conversa que irão ter com o vosso filho, no sentido de lhe comunicar o final da vossa
relação conjugal. Esta conversa deverá acontecer quando a decisão de se separarem estiver
devidamente consolidada e pouco tempo antes de um dos elementos do casal deixar o espaço
físico, que anteriormente era partilhado por todos.
 O local escolhido para esta conversa deverá ser calmo e a vossa postura deverá permitir o contacto
físico. Um abraço no momento certo ajudará as palavras a "ganharem" mais sentido.
 Nessa primeira conversa e em conversas posteriores, sublinhe sempre que, apesar da relação
conjugal ter terminado, o amor que sentem pela criança continuará sempre bem vivo e que
jamais terminará. Ela deverá sentir que é um tesouro na vossa vida e que a separação não altera este
facto.
 As razões da separação devem ser explicadas de uma forma muito simples, não sendo necessário
nem aconselhável explicar razões concretas. Concretizar demasiado só servirá para magoar a criança
e para reduzir uma realidade muita vasta e profunda, que nem sempre é possível traduzir por
palavras.
 Quando as crianças são pequenas, por vezes, julgam-se culpadas da separação dos pais. Converse
com o seu filho sobre este sentimento, e faça-o compreender que ele não é culpado da separação.
 Sentimentos de perda, abandono, raiva, negação e dúvida são frequentes face a uma situação de
divórcio. Por esta razão, é fundamental criar situações em que todos estes sentimentos possam ser
expressos. Prepare-se para as lágrimas, para lhe responder a todas as suas questões de uma forma
verdadeira e clara e sobretudo para o ouvir.
 O dia-a-dia da criança deve assemelhar-se, na medida do possível, àquele que ela tinha antes do
divórcio. Grandes alterações do estilo de vida da criança só contribuirão para que esta tenha de se
adaptar ainda a mais situações diferentes, o que só dificultará o processo . Por exemplo, se era o pai
que a levava à escola, isto deverá, se possível, continuar a acontecer.
 Denegrir a imagem do outro é pôr à frente dos interesses da criança o seu desejo de retaliação e
vingança. Mantenha os seus conflitos afastados da criança e ajude-a a manter uma imagem positiva
do outro cônjuge. Ela tem o direito de viver com ambos, de ter uma imagem positiva dos dois e de
ser livre de amar todos: avós, tios e, eventualmente, novos companheiros da mãe ou do pai.
 Não faça do seu filho um mensageiro entre si e o seu ex-cônjuge. Ele nunca deverá ser o
transmissor de mensagens, quer elas se tratem de dinheiro, férias ou problemas de outra ordem.
Todas as negociações deverão ser feitas directamente pelos pais, nunca envolvendo os filhos neste
tipo de situação.
 Os amigos da escola, os primos, os avós, os professores e outras pessoas de quem a criança gosta
podem ser uma grande ajuda neste momento difícil. Os pais devem, por isso, rodear-se dos
familiares e amigos queridos dos filhos. O seu isolamento é a pior opção.
 Ambos os pais devem passar o máximo de tempo possível com os filhos. Se tal não for possível a
um dos pais, é importante que o pouco tempo que passem juntos seja de qualidade. Se um pai não
puder estar com o seu filho no mínimo de 15 em 15 dias, é indispensável que fale com ele para lhe
explicar os motivos. Esta informação poderá ser dada via telefone, devendo ser transmitida à
própria criança, e não ao adulto com quem ela vive.

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Todas as sugestões, da página anterior, fazem ainda mais sentido se tiver em

consideração que não é tanto o divórcio em si que tem consequências negativas, mas sim a

forma como os pais se separam!

O divórcio não deve ser tratado como um segredo e não se deve menosprezar a

capacidade de entendimento das crianças mais pequenas. As modificações nas relações

repercutem-se na rotina da família e da criança, independentemente da idade, percebe que

algo não vai bem.

O QUE POSSO FAZER PARA AJUDAR O MEU FILHO?

• Tanto o pai, como a mãe são responsáveis pelos filhos. Saber separar os problemas conjugais

ajuda na reorganização da estabilidade familiar.

• Permita que todos expressem as suas emoções em relação à separação e dê tempo para

que absorvam as mudanças que ocorrerão.

• Mantenha os vínculos dos seus filhos com os avós, tios e amigos. Isso é fundamental, para

que eles possam lidar com a nova situação.

• O processo de divórcio é muito mais tranquilo se os pais não esperarem que os seus filhos

tomem partido de um ou outro.

• Preserve os seus filhos dos aspectos negativos do casamento. Caso contrário, a

mensagem que pode “passar” é que até os filhos fazem parte da herança negativa do

casamento.

• Se os pais puderem continuar a ser amigos e a compartilhar a responsabilidade e o

amor pela criança, esta passará a compreender e acreditar que não é responsável pelo fim do

relacionamento dos pais.

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• Durante o processo do divórcio toda a família está em crise. Todos se sentem responsáveis

e culpados, procurando soluções ou explicações. Por isso, o diálogo e o espaço para a

expressão dos sentimentos são fundamentais para esclarecer as perguntas e dúvidas da

criança ou adolescente.

• Os pais também se sentem culpados. São frequentes os sentimentos: "Se pudesse voltar no

tempo tentariam reconstruir a história de uma outra maneira, para que a família não
tivesse que passar por isto!”.

• Dizer: “Nós vamos ser sempre amigos” . Esta é uma frase muito importante e difícil de

pronunciar no meio de uma crise de separação. Mas é o ponto mais forte. Uma criança que se

vê com uns pais que não se dirigem a palavra, com um pai que o deposita junto ao prédio da

mãe, sem uma palavra ou uma mãe que telefona logo que ele chega a casa do pai e que nem quer

falar com o ex-marido, sentir-se-á dividida entre os ressentimentos dos pais, perguntando-

se qual partido deverá tomar. Será extremamente doloroso ter de se calar acerca de um dos

pais na presença do outro. Não podemos esquecer que no centro de milhares de células que

constituem a criança existem pares de cromossomas entrelaçados.

Ver que os pais são inimigos cria um grande conflito e um problema de integridade

física à criança. Pelo contrário, se a mãe, ao deixá-lo de manhã na escola lhe disser que vai

almoçar com o pai ou se o pai lhe disser: “Sabes, eu gosto muito da tua mãe e vou gostar

sempre, e se ela estiver doente ou precisar de alguma coisa, vai poder contar sempre

comigo.”, o seu filho poderá continuar a viver a sua infância descansado. Ele pensará que a

vida continua com os dois pais que, num dado momento, se amaram ao ponto de o trazerem ao

mundo e agora são aliados.

Há, sem dúvida, muitas formas de gostar: podemos gostar sexualmente, amar, sentir

carinho, afeição amizade… é necessário identificar a sua nova forma de gostar, e o seu filho

respeitá-lo-á para o resto da vida.

O comportamento dos pais após o divórcio é que vai determinar a estabilidade ou

instabilidade da família. Não se prenda ao pensamento de que nada valeu a pena e que tudo

poderia ter sido diferente. É importante pensar nas coisas boas que a família viveu, nos filhos

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que essa união gerou e no que pode ser feito daqui para a frente para que as relações

familiares sejam reorganizadas e se tornem melhores.

Os nossos filhos precisam que gostemos deles incondicionalmente. Com os seus defeitos e
limitações. Com as suas qualidades e tudo o que têm de melhor.
A nós pais, cabe-nos a tarefa de acompanhá-los no processo de crescimento e
desenvolvimento, ampará-los quando caem e dar-lhes força para continuarem, mas, e
acima de tudo, investir emocionalmente nos nossos filhos tornando-os felizes. Os mais
felizes.

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QUE LIVROS POSSO LER PARA AJUDAR O MEU FILHO?

 Poussin, G. e Martin-Lebrun, É. (1999). “Os filhos do Divórcio. Psicologia da separação


parental.” Lisboa, Terramar

 Charlish, A. (2001). “Apanhados no meio. Ajudar as crianças a enfrentar a separação e o

divórcio.” Porto, Âmbar

 ? (2003). “Os pais da Lara separam-se.” Porto, Porto Editora

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GRUPOS DE AJUDA-MÚTUA

Organizações de Apoio à Família

* Associação Pais para Sempre

Rua Actor Vale, 26-2.º C – 1900-025 Lisboa

Tel.: 213853993

* Associação Portuguesa para o Direito dos Menores e da Família

Rua Costa do Castelo, 5- r/c – 1100 Lisboa

Tel.: 218883207

* Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar

Av. António Augusto de Aguiar, 34 r/c – Lisboa

Tel.: 213555193

Linhas de Apoio e Aconselhamento

* Centro SOS- Voz Amiga

(ajuda na solidão, angústia, desespero e prevenção do suicídio)

Tel.: 800202669

* Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres

Tel.: 800202148

Gabinetes de Apoio à Vítima

* APAV- Associação de Apoio à Vitima

WWW.apav.pt

* APAV- Gabinete de Apoio à Vitima de Braga

Rua de são Vítor, 11 – 4710-434 Braga

Tel.: 253610091

* APAV- Gabinete de Apoio à Vitima do Porto

Rua Antero de Quental, 166 – 4050-052 Porto

Tel.: 225502927

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