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ENSINO PROFISSIONAL

ÁREA DE
INTEGRAÇÃO

2.1 Estrutura familiar e dinâmica social

1- A família enquanto instituição social


2- Critérios de diferenciação das estruturas familiares
3- Transformações contemporâneas dos modelos e estruturas
familiares
4- Metamorfoses nos papéis familiares e parentais
5- Família e sociedade

Formador: Fernando Sousa Silva


Área de integração
Tema-problema 2.3 – A construção da democracia

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TEMA PROBLEMA 2.1 – ESTRUTURA FAMILIAR E DINÂMICA
SOCIAL

1 – A FAMÍLIA ENQUANTO INSTITUIÇÃO SOCIAL

A primeira questão a colocar relativamente à família pode ser a seguinte:

A família é um fenómeno biológico ou uma invenção social?

De facto, é as duas coisas, pois tem duas dimensões:

 Uma dimensão biológica – entre os membros da família pode haver uma ligação parentesco de
sanguinidade, partilhando os seus membros uma ascendência (avós, p.e.) ou descendência
(filhos);

 Uma dimensão sócio-afectiva – a família também pode ser constituída por laços de parentesco
originados por casamento ou adopção, ou seja, apenas por opção de ordem emocional e/ou
social.

Mas, então o que é a família?


É apenas um grupo de pessoas ou é algo mais?
Em que difere dos outros grupos sociais?
O que é que une as pessoas da mesma família?

Na realidade, é algo mais do que um grupo de pessoas. Vejamos esse conceito:

Família Grupo de pessoas unidas por laços de parentesco, formando uma unidade económica em
(conceito) que os adultos velam pela segurança, saúde e educação das crianças. Os laços de
parentesco entre os membros de uma família podem ser estabelecidos por
consanguinidade, por casamento ou por adopção.

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Mas nós, na nossa vida diária, estamos sempre integrados em grupos (em casa, na escola, no trabalho,
no café, nos transportes, etc…). Mas, sendo assim qual será o grupo mais importante?
Haverá algum grupo social mais importante na vossa vida que a família? A resposta é Não.
O grupo familiar é o mais importante de todos os grupos sociais, pois a

família é a instituição social básica e fundamental

e é o grupo a partir da qual se constroem todas as relações sociais e todas as outras instituições sociais.

Então se a família é a instituição social básica e fundamental poder-se-á dizer que a


família, como grupo social, existe em todas as sociedades humanas, tanto do passado
como, do presente?

Sim, pode. De facto, a família tem um carácter universal, pois existe em todas as sociedades humanas
não se tendo conhecido nenhuma sociedade humana que não tivesse na base de sua organização o
grupo familiar.
Porém, as formas que a família assume nas diversas sociedades humanas variam muito de sociedade
para sociedade e também ao longo do tempo.
Há muitos e diversos tipos de família que vamos ver mais adiante (na parte dedicada aos critérios de
diferenciação familiar.
Mas apesar desta variedade muito grande de tipos de família, há uma regra que os sociólogos,
antropólogos e etnólogos identificaram como universal em todas famílias de todas sociedades do
passado e do presente – em todas elas é proibido o incesto, questão muito ligada à degenerescência
genética.

Mas porque é que o ser humano tem tanta necessidade de se agrupar em famílias?

A resposta é simples: por necessidade.


Estas necessidades podem ser de vários tipos, mas há duas muito importantes e que se podem chamar
de básicas:

 Necessidades de satisfação sexual e reprodutiva;

 Necessidades de alimentação e segurança contra perigos naturais e sociais.

Mas (e voltando ao tema do parentesco)…

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Se uma mulher doar um óvulo a outra, quem é a mãe?


Se um homem doar para um banco de esperma e desse esperma resultar um
filho quem é o pai?
Se um casal decidir “alugar uma barriga” de outra mulher para a
gravidez, quem é a mãe?
Será que podemos falar de laços de parentesco entre pais e
filhos nestes casos? E entre quem?

As respostas a estas questões são complexas e ainda estão longe de ser definitivas, havendo muita
discussão à sua volta.
Aliás, o conceito de parentesco é, nos meios sociológicos e jurídicos, uma questão altamente controversa
e polémica. Contudo, estes problemas têm que ser resolvidos pois são questões que podem afectar a
nossa vida. Todos nós precisamos de saber de forma clara quem é a nossa família.

2 – CRITÉRIOS DE DIFERENCIAÇÃO DAS ESTRUTURAS FAMILIARES

Como se disse atrás, a família é a instituição social básica e fundamental,


existe em todas as sociedades. Mas também se disse que as formas de família
podem variar muito de família para família.
Vamos então ver esses diversos tipos de família e como podem ser classificação.
Quando diferenciamos ou classificamos objectos ou fenómenos que observamos,
ou seja quando dizemos que algo é do tipo A ou B, p.e., devemos fazê-lo
sempre de acordo com critérios.
O mesmo de passa com a família.
Os critérios para classificar as famílias são os seguintes:

 De casamento ou aliança;

 De grau de parentesco

 Da filiação;

 De autoridade;

 Do grau de autonomia.

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Assim, usando estes critérios, podemos distinguir os seguintes tipos de grupos familiares.

Critério Diferenciação
Do Casamento ou Famílias monogâmicas Famílias poligâmicas
aliança* Em que cada um dos cônjuges só pode Em que um dos cônjuges pode ter dois
(critério relativo ao ter uma única pessoa como outro ou mais cônjuges. Uma família
tipo e número de cônjuge. poligâmica pode ainda ser
elementos da relação classificada como:
conjugal) • Família poligénica – um único
homem pode ter várias mulheres e
várias famílias; ou
• Família poliândrica – uma única
mulher pode ter dois ou mais homens
como cônjuges.
Do grau de Famílias nucleares Famílias extensas
parentesco Família constituída apenas por dois Família constituída por indivíduos
(critério relativo ao adultos em economia comum, com ligados por diversos graus e gerações
grau de parentesco filhos biológicos ou adoptados de parentesco (avós, irmãos/ãs,
dos indivíduos que tios/as, sobrinhos/as, p.e.)
constituem a família)
Da Filiação Família unilineares Família bilineares
(critério relativo à Família em que só os descendentes de Os descendentes recebem o nome do
família dos linha paterna ou materna são pai e de mãe, podendo perdê-lo
progenitores que considerados parentes. Pode ainda quando casam e podendo receber a
serve de referência ser classificada de duas maneiras: herança dos avós, tanto do lado do
do indivíduo) • Patrilinear – só são parentes os que pai, como da mãe.
descendem da linha paterna, a
residência é patrilocal (casa dos pais
do esposo) e a autoridade está na
família deste;
• Matrilinear – só são parentes os que
descendem da linha paterna, a
residência é matrilocal (casa dos pais
da esposa) e a autoridade está na
família desta.
Da autoridade Famílias patriarcais Família matriarcais Família gerontocráticas
(critério relativo à A família reconhece e A família reconhece e A família delega a
fonte da autoridade aceita que autoridade aceita que autoridade autoridade num conselho
e ao reconhecimento no seio familiar está no no seio familiar está na de anciãos
desta como tal) homem mais velho mulher mais velha
Do grau de Famílias autónomas Famílias interdependentes e não
autonomia Famílias que produzem tudo quanto autónomas
(critério relativo à os seus membros precisam. Famílias que dependem de outras
autosuficiência da para comprar e vender os bens que
produção familiar) de precisam, vendendo a outras
famílias os bens e serviços que
produzem (mútua dependência).

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Podemos, assim, utilizando esta tabela, classificar todas as famílias


de acordo com cada um dos critérios. Por exemplo, a família dos
Simpsons, da famosa série de animação poderá ser descrita assim:

 Em termos do critério do casamento ou aliança como sendo


uma família monogâmica;

 Em termos do critério do grau de parentesco como sendo


uma família nuclear;

 E assim sucessivamente quanto aos outros critérios.

3 – TRANSFORMAÇÕES CONTEMPORÂNEAS DOS MODELOS E


ESTRUTURAS FAMILIARES

Será que se pode dizer que duas pessoas vivendo em união de


facto e sem filhos são uma família?
E se existirem filhos? E se as duas pessoas forem do mesmo sexo?

Estas são questões em aberto pois, actualmente, o conceito de família está em


grande e rápida mudança.
A mudança nos conceitos família nas sociedades ocidentais contemporâneas
deve-se a uma série de factores, de entre os quais podemos destacar:

 A empresa substituiu a família como unidade de produção económica


– até há pouco tempo, as propriedades rurais e as actividades
artesanais eram exploradas apenas pela família. Com o advento do
modo de produção capitalista, as empresas mostraram ter muito maior
capacidade de produção, vulgarizou-se o trabalho assalariado e a família perdeu muito do seu
papel como unidade de produção económica, passando a ser mais uma unidade de consumo de
bens e serviços produzidos no exterior;

 O declínio da autoridade paterna, consequência da promoção da igualdade entre os sexos


feminino e masculino;

 A baixa taxa de natalidade – hoje em dia, ter um filho não é lucrativo pois não é uma questão
de arranjar mais um trabalhador. Bem pelo contrário, criar um filho é uma grande despesa. Por
outro lado, ter ou adoptar um filho exige muita dedicação e alguns sacrifícios pessoais o que
choca com a mentalidade individualista (talvez até egoísta) e hedonista das sociedades
contemporâneas actuais;

 O aumento da esperança média de vida, o que acarreta novos problemas como as questões
relativas à 3ª idade e aos encargos que acarretam para as famílias;

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 O aumento da taxa de divórcio – que é um fenómeno em


crescimento, facilmente comprovável até pelas estatísticas e que
até 1974 não era permitido em Portugal. Por outro lado, as
recentes evoluções legislativas vão no sentido de facilitar o
divórcio. Verifica-se também uma clara diminuição do estigma
social sobre o divórcio e sobre os divorciados;

 O aparecimento e aumento do número das uniões de facto,


muito relacionado com a crescente laicização das sociedades ocidentais contemporâneas e com
a menor tendências das pessoas para casar;

 Grande aumento do trabalho feminino assalariado e feito fora de casa – as mulheres têm
legítimas aspirações de enriquecimento pessoal e profissional, levando-as a trabalhar em
condições semelhantes às dos homens, com implicações notórias ao nível das relações entre os
cônjuges e a maternidade, por exemplo;

 Redução do papel socializador da família – actualmente as famílias tendem crescentemente a


entregar os filhos aos jardins-de-infância e à escola, o que está muito relacionado com o
trabalho feminino fora de casa;

 O sentimento de incerteza relativamente ao futuro perante um mundo que muda


constantemente, a uma velocidade que não tem comparação possível com qualquer outro
período da história e de forma imprevisível;

 A precariedade no trabalho, fenómeno crescente e que dificulta a necessária estabilização


económica para que se possa constituir uma família;

 A diminuição do número de casamentos tanto civis como religiosos, e aqui voltamos a falar
da sociedade individualista e hedonista, bem como da laicização da sociedade;

 O aumento do número de filhos fora do casamento, consequência do aumento do número de


divórcios e também do número de mães adolescentes (libertação sexual);

 O aumento da idade média do casamento – o elevado número de anos de escolaridade, as


dificuldades de inserção no mercado de trabalho e a já mencionada precariedade no trabalho
leva a que as pessoas decidam casar mais tarde pois só em idades mais avançadas é que
conseguem ter a estabilidade mínima para constituir um agregado familiar;

 O aumento das aspirações afectivas e emocionais relativamente ao


casamento, pois actualmente o casamento está muito relacionado com
as questões do amor e da paixão e não de conveniências
patrimoniais, financeiras ou de estatuto social, como acontecia em
outros períodos da História humana.

E que mudanças se têm vindo a operar no conceito na tipologia das famílias?

São várias:

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Em primeiro lugar, a família extensa tende a transformar-se na chamada família tradicional. Nesta
mantém-se ainda alguma proximidade e intimidade entre os diversos parentes que não estão incluídos
na família nuclear, não residindo no mesmo local, é certo, mas mantendo ainda assim fortes laços
afectivos e com alguma mas limitada partilha dos recursos económicos;
A segunda grande consequência é uma das grandes transformações dos nossos tempos e consiste no
aparecimento de muitos e novos tipos de famílias – as chamadas famílias modernas. Estas podem ser:

 Famílias nucleares sem vínculo matrimonial – uniões de facto com filhos, por exemplo;

 Famílias monoparentais – constituídas apenas por um adulto e pelo filho/a, em consequência


de divórcio, morte de um dos cônjuges, opção pré-determinada de um dos progenitores, mães
solteiras, etc.;

 Famílias recompostas – quando um casal, casado ou não, vive no mínimo com uma criança
nascida de uma relação marital de, pelo menos um, dos cônjuges;

 Famílias homossexuais – família em que os dois adultos são do mesmo sexo;

 Famílias com “filhos-canguru” – jovens casais que tendo uma relação estável, não desfrutam
um espaço de vida exclusivo pois vivem em casa dos pais.

O divórcio na origem de muitas famílias Famílias homossexuais Árvore genealógica de


monoparentais uma família recomposta

Em suma, os laços de parentesco que estabelecemos nas sociedades ocidentais contemporâneas


dependem cada vez mais das nossas escolhas afectivas (e para as quais temos cada vez mais
liberdade) e menos dos laços de sangue.
As mudanças na estrutura familiar de que estivemos a falar são causa e simultaneamente efeito de
muitos outros factos.
Uma das consequências é ao nível jurídico e legislativo, pois tem havido um esforço para adequar as leis
às mudanças sociológicas que se têm verificado na estrutura familiar (reconhecimento legal da união de
facto ou a possibilidade de permissão de casamentos entre pessoas do mesmo sexo, por exemplo).

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Uma outra consequência, esta na economia, reside no


facto de as mulheres trabalharem fora de casa, facto
que tem um profundo impacto, quanto mais não seja, ao
nível do rendimento das famílias ou ao facto de criar
novos sectores de actividades como os jardins de
infância, as engomadorias, etc.
Ao nível da investigação científica, a consequência foi o
favorecimento do desenvolvimento da Biologia e da
Medicina devido à maior procura de métodos
contraceptivos.
Mas a grande mudança, ou consequência, foi na
mudança de mentalidades, dando maior ênfase à busca ao individualismo ou à igualdade entre sexos,
só para dar dois exemplos.
Contudo, e apesar de todas estas mudanças a família continua (e vai continuar) a ser a instituição
social básica e fundamental a partir da qual se constrói toda a sociedade.

4 – METAMORFOSES NOS PAPÉIS FAMILIARES E PARENTAIS

Já vimos que, de entre as muitas mudanças sociais a que assistimos hoje em dia, uma das mais
importantes verifica-se ao nível da estrutura e organização das famílias.
De facto, a família tem sofrido grandes alterações, ao longo do tempo, particularmente nos últimos anos.
Já vimos, por exemplo, que houve algumas mudanças nos tipos de famílias.
Mas houve outras, nomeadamente ao nível dos papéis familiares e dos papéis parentais. Por exemplo,
em Portugal antes de 1974, estava previsto na lei a figura do chefe de família a quem todos deviam
obediência (as mulheres, por exemplo, só podiam sair do país depois de autorizadas pelo marido).

E que alterações se têm registado quanto aos papéis familiares?


Será que o homem e a mulher têm, hoje em dia, os mesmos papéis no seio da família que
tinham há cinquenta anos?

Não, não tinham. De facto, os papéis familiares e parentais mudaram. Actualmente, e só para dar
alguns exemplos:

 As relações de autoridade no seio das famílias tendem a democratizar-se e o pai já não detém
toda a autoridade;

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 As tarefas familiares tendem a ser divididas por todos os membros do agregado familiar (e não
apenas à mulher);

 É normal os dois adultos contribuírem financeiramente para o orçamento familiar;

 As crianças, devido à proibição do trabalho infantil, deixaram de ter um papel produtivo como
mão-de-obra, e passaram a ser uma opção afectiva dos pais que estão dispostos a investir
numa educação longa, sem esperar qualquer tipo de contrapartida financeira;

 Por outro lado, as crianças passam muito mais tempo fora do agregado familiar do que há uns
anos atrás, ficando a maior parte do dia em creches, infantários e escolas.

Na origem destas mudanças estão alguns factores, dos quais os mais importantes são:

 A diminuição do tamanho da família – as crianças são, hoje em dia, um encargo muito caro,
enquanto antigamente eram vistas como um bem (mão-de-obra);

 O aumento do trabalho feminino assalariado – actualmente as mulheres contribuem para o


orçamento familiar quase tanto, ou até mais, do que o homem, o que vem na sequência de
promoção da igualdade entre os sexos;

 A eliminação na ordem jurídica da figura do chefe de família – ou seja, ambos os elementos


da relação conjugal assumem, em plano de igualdade, as tarefas domésticas e a protecção e
educação dos filhos;

 Democratização das relações familiares, com maior autonomia, dos indivíduos que desfrutam
de maior liberdade de expressão, mais autenticidade de sentimentos, baseadas em relações
afectivas de amor e com maior compreensão e respeito pelas diferenças individuais.

 Maior separação da sexualidade e do casamento, pois a sexualidade deixa de estar tão


ligada à questão da procriação.

As consequências destas mudanças podem conduzir a uma ausência de valores, crítica que, aliás, hoje é
feita às novas gerações, pois a família já não detém o exclusivo da socialização primária das crianças.
Esta ausência de valores tem originado grandes discussões
na sociedade, falando-se, muito da questão da
necessidade de apostar na educação para os valores.
E aqui distinguem-se claramente duas facções que
defendem pontos de vista opostos. Uns, mais conservadores,
defendem o regresso a um modelo educativo autoritário,
enquanto outros mais liberais, são da opinião de que se
deve deixar andar, desistindo dessa educação para os
valores, pois a própria sociedade enferma ela, hoje em
dia, dessa falta de valores.
A única via que as famílias podem, então, seguir será a da abertura de espírito, ao diálogo e às
negociações que, no fundo, são os objectivos do sistema educativo actual.

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Esta via passa por adoptarmos na nossa vida, particularmente na nossa família, as seguintes atitudes:

 Ouvir e respeitar todos os que connosco vivem;

 Não tomarmos atitudes de coacção com ninguém;

 Criticar construtivamente;

 Aceitar a diferença;

 Respeitar as outras opiniões, o que não quer dizer que as tenhamos que as adoptar;

 Ser empático, ou seja, tentar compreender o que os outros sentem.

Por seu lado, aos pais cabe decidir, orientar e traçar limites à
acção dos filhos segundo quatro eixos fundamentais:

 Preocupação com os outros;

 Incutir sentido de responsabilidade;

 Valorizar a dimensão ética no quotidiano de cada um;

 Actuar com sentido de justiça.

Contudo, educar uma criança ou jovem hoje em dia é uma questão extremamente complexa e difícil, que
põe novos desafios que os pais nem sempre estão preparados para enfrentar. Por isso surgiram os
chamados programas de educação parental, que mais não são do que acções de formação onde os
pais procuram competências que lhes permitam combinar o amor com a disciplina e lidar com a
influência dos amigos e com os comportamentos de risco dos filhos.

5 – FAMÍLIA E SOCIEDADE

Já vimos (e repetimos) que a família é a instituição social básica e fundamental, pois para além de
ser a instituição que assegura algumas funções básicas (sexual, reprodutiva e de sobrevivência),
desempenha outras funções também bastante importantes como:

 Ser a mais importante instância de socialização - é principalmente no seio familiar que se


aprendem e interiorizam as normas, valores e crenças da sociedade (apesar de a escola e os
meios de comunicação também serem instâncias de socialização). Ou seja, a família é um dos
principais veículos de transmissão cultural, dos diversos grupos sociais, assegurando a
reprodução social, que mais não é do que o mecanismo que assegura a manutenção da
identidade e unidade espiritual e cultural da sociedade apesar da sua inevitável evolução;

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 Ser a mais importante unidade de consumo de bens e serviços – Este aspecto é


particularmente importante ao nível da actividade económica pois as famílias são responsáveis
pela maior parte de todo o consumo privado feito no país. Para o comprovar, basta pensar na
quantidade de publicidade dirigida especialmente às famílias;

 Ser um dos principais grupos sociais de entreajuda, não só económico-financeira e material,


mas também moral e afectiva – A entreajuda económica é particularmente visível em dois
aspectos que podem pesar bastante no orçamento familiar: a educação dos filhos (e recorde-se
que o percurso escolar é cada vez mais longo e a inserção profissional de jovens mais difícil) e a
responsabilidade pelo cuidar dos idosos.

E é aqui, neste último ponto, que reside um dos grandes problemas sociais
dos nossos tempos e cuja resolução está em grande parte no seio familiar: o
afastamento entre as gerações mais velhas e as gerações mais novas.

Isto deve-se aos seguintes factos:

 As famílias serem cada vez mais pequenas, vivendo em casas exíguas onde os avós já não
cabem;

 Ao facto de haver um crescimento do número de famílias monoparentais, recompostas e sem


filhos

 À concentração das gerações mais novas no litoral do país, abandonando a família no interior;

 À delegação de alguns papéis que eram da família em instituições como os lares de terceira
idade, creches e jardins-de-infância.

Esta crescente separação entre os mais novos e os mais velhos tem dois aspectos muito negativos:

 Corre-se o sério risco de se perderem conhecimentos e sabedoria pois são os mais velhos que
têm mais cultura (não confundir com erudição), o que quer dizer que são eles que melhor
conhecem as crenças e costumes;

 Quanto aos mais novos, para além de terem cada vez menos contacto com a cultura dos mais
velhos, verifica-se que o conceito de “escola a tempo inteiro” leva alguns pais a demitirem-se de
algumas das funções que lhes competiam, entregando-as às escolas, o que naturalmente, não
terá o melhor resultado para a educação e socialização das crianças.

Assim, em jeito de conclusão, podemos dizer que a evolução futura


da família nas sociedades ocidentais contemporâneas depende em
muito da maneira como tratarmos as crianças e os mais idosos.

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