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RESUMO
O presente estudo visa explorar a grande evolução e desenvolvimento das entidades familiares,
com um exíguo trajeto e evolução histórica, os principais conceitos relevantes acerca da
multiparentalidade, tais como: filhos e afeto, analisando a relevância e as características deste
afeto no âmbito jurídico, filhos socioafetivos e biológicos, que se fazem presente em novos
arranjos familiares, que no estudo a seguir dará ênfase às famílias recompostas, seus aspectos
legais, doutrinários e jurisprudenciais, a importância e as possibilidades jurídicas dos filhos
registrados por seus pais biológicos, poderem ser também registrados pelos pais afetivos,
obtendo, assim, os mesmos direitos referente à filiação, sucessão, pensão alimentícia e herança.
ABSTRACT
This study aims to explore the great evolution and development of family entities, with a narrow
path and historical evolution, the main relevant concepts about multiparentality, such as
children and affection, analyzing the relevance and characteristics of this affection in the legal
framework, children social-affective and biological, which are present in new family
arrangements that the study below will emphasize the blended families, their legal, doctrinal
and jurisprudential the importance and the legal possibilities of the children registered by their
biological parents, they can also be recorded by affective parents, thus getting the same rights
regarding the affiliation, inheritance, alimony and inheritance.
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Bacharela em Direito pela Faculdade de Direito de Alta Floresta (FADAF). Contato:
<daiane.rosas@hotmail.com>.
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Bacharela em Direito pela Faculdade de Direito de Alta Floresta (FADAF). Pós-Graduanda em Direito e
Processo do Trabalho pela Universidade Anhanguera – UNIDERP. Advogada, contato:
<brunaramosvieiraadv@gmail.com>.
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Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Alta Floresta (FADAF); Professor universitário de Direito do
Curso de Direito da Faculdade de Alta Floresta (FADAF); Especialista em Direito e Processo do Trabalho pela
Universidade Anhanguera-UNIDERP; Advogado e contato: <machadowiltonadv@gmail.com>.
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1 INTRODUÇÃO
Inúmeros são os conceitos apresentados e partilhados pelos doutrinadores, mas para uma
compreensão e entendimento maior do que foi e do que se tornou a família, nada melhor que
fazer uma breve análise e trajetória desde as primícias.
A respeito desses modelos familiares existentes com o passar dos anos, o doutrinador
Venosa (2011, p. 03), descreve que, a família, em seu início, era uma entidade ampla e
hierarquizada. Em seu estado primitivo, o grupo familiar não se assentava nas relações
individuais. Ocorria a chamada endogamia, ou seja, as relações sexuais aconteciam entre todos
os membros que integralizavam a tribo. Dessa forma, acarretou a origem da família em um
caráter matriarcal, visto que se era conhecido apenas à mãe, já que a criança ficava sempre junto
a ela, a que a alimentava e educava, o pai era desconhecido. Contudo, com o transpassar do
tempo, essas tribos foram organizando-se e seus integrantes foram restringindo-se, passando a
existir relações individuais com caráter exclusivo, tornando a família então, uma organização
monogâmica. A monogamia desempenhou um grande papel de incentivo à prole, ocasionando
o exercício do poder paterno, convertendo-se em um fator econômico de produção, limitando-
se no interior dos lares.
De outra banda, para Gonçalves (2015, p. 31), no direito romano a família era organizada
sob o princípio da autoridade. O pater familias exercia o direito de vida e morte sobre a prole,
podendo vendê-los, impor-lhes castigos, penas corporais e até mesmo a morte. A mulher era
totalmente subordinada à sua autoridade, podendo repudiá-la por ato unilateral. O pater exercia
total autoridade sobre seus descendentes não emancipados, sobre a sua esposa e as esposas
casadas em manus com seus descendentes.
Observa-se que nesse período o pater exercia total poder sobre a família, onde todos eram
submissos exclusivamente a ele.
Segundo Gaudement (1967, p. 35 apud VENOSA, 2011, p. 04).
O casamento era assim obrigatório. Não tinha por fim o prazer; o seu objeto principal
não estava na união de dois seres mutuamente simpatizantes um com o outro e
querendo associarem-se para a felicidade e para as canseiras da vida. O efeito do
casamento, à face da religião e das leis, estaria na união de dois seres no mesmo culto
doméstico, fazendo deles nascer um terceiro, apto para continuador desse culto.
Neste contexto, o objetivo principal do casamento era apenas para dar ensejo à
continuação do culto familiar.
No período da Idade Média, com a chegada da era Canônica, o pater poder deixou de ser
irrefutável, permanecendo basicamente patriarcal. A família então recebia forte influência
religiosa, notava-se também a crescente importância de inúmeras regras de origem germânica.
“Os canonistas, opuseram-se à dissolução do vínculo, pois consideravam o casamento um
sacramento, não podendo os homens dissolver a união realizada por Deus” (GONÇALVES,
2015, pp. 31-32).
Nota-se que o poder pater deixou de ser absoluto, sendo apenas essencial patriarcal, a
família recebia influência da igreja católica, na qual passou a reger-se pelas regras impostas por
ela. Observado assim, que o casamento era algo sagrado, no qual deveria durar a vida toda.
Hodiernamente, pode-se dizer que, no Brasil, a família é conceituada, por fortes
influências das famílias romanas, canônicas e germânicas, sendo o direito canônico grande
precursor, como consequência principal da colonização portuguesa.
Dias (2015), enfatiza a evolução legislativa que obteve o direito de família de que:
Ao passo que o moderno enfoque pelo qual é identificada tem indicado novos
elementos que compõem as relações familiares, destacando-se os vínculos afetivos
que norteiam a sua formação. Nessa linha, a família socioafetiva vem sendo priorizada
em nossa doutrina e jurisprudência. (2015, pp. 32-33)
A nova regulamentação de família, agora expressa pela Constituição de 1988, veio para
priorizar as inúmeras famílias constituídas pelo afeto e a dignidade da pessoa humana, famílias
socioafetivas que cresciam e uma proporção significativa, devendo ter assim, uma especial
atenção pelo ordenamento jurídico.
Para Venosa (2011, p. 1) “o direito de família estuda, em síntese, as relações das pessoas
unidas pelo matrimônio, bem como daqueles que convivem em uniões sem casamento; dos
filhos e das relações destes com os pais”.
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O conceito baseia-se em todas as relações afetivas e com amor entre pessoas unidas tanto
pelo laço matrimonial, quanto as fora dele. É notória a grande evolução que o conceito familiar
desenvolveu, buscando cada vez mais a igualdade e direitos entre cada indivíduo pertencente à
família.
O afeto é a mola propulsora dos laços familiares e das relações interpessoais movidas
pelo sentimento e pelo amor, para ao fim e ao cabo dar sentido e dignidade à existência
humana. A afetividade deve estar presente nos vínculos de filiação e de parentesco,
variando tão somente na sua intensidade e nas especificidades do caso concreto.
Necessariamente os vínculos consanguíneos não se sobrepõem aos liames afetivos,
podendo até ser afirmada a prevalência destes sobre aqueles. O afeto decorre da
liberdade que todo indivíduo deve ter de afeiçoar-se um a outro, decorre das relações
de convivência do casal entre si e destes para com seus filhos, entre os parentes, como
está presente em outras categorias familiares, não sendo o casamento a única entidade
familiar. (2008, pp. 66-67).
A família com base neste afeto, com liberdade, responsabilidade recíproca e verdade,
gerará um grupo familiar mais preocupado com o coletivo, contribuindo, assim, para a correção
de conflitos e aflições sociais.
3.2 Parentesco
O artigo Art. 1.593 do Código Civil Brasileiro, prescreve “O parentesco é natural ou civil,
conforme resulte de consanguinidade ou outra origem”, ou seja, segundo a lei, será parentesco
civil aquele que não tiver origem biológica.
Venceslau ressalta que o Código Civil refere-se: “De uma hipótese de parentesco civil,
diverso da adoção, onde se prestigia o critério socioafetivo da distinção entre ser genitor e ser
pai” (2004, p. 56).
O critério principal aqui, e que qualificará a distinção entre o progenitor e o pai, é
justamente a socioafetividade, que para boa parte da doutrina entende-se que o elo socioafetivo
prepondera ao biológico.
Gonçalves (2015) descreve parentesco em dois sentidos:
O parentesco é definido tanto em sentido estrito, como em sentido amplo, onde abrange
todas as maneiras existentes de parentesco, deixando uma brecha para outras modalidades de
parentesco que poderão surgir.
Entende-se que, a seara da socioafetividade, baseada no afeto, vem ganhando um espaço
maior e mais importante que o próprio elo biológico.
Quando existe a certeza do estado de filho, formado pelo afeto, amor e carinho, torna-se
a condição mais fascinante nas relações de parentescos psicológicos das filiações afetivas.
Assim, Dias (2015) salienta que:
O vínculo afetivo se sobrepõe à verdade genética, e a filiação é definida quando está
presente o que se chama de posse de estado de filho: é reconhecido como filho de
quem sempre considerou ser seu pai. A posse de estado consolida vínculos que não
Com a diversificação que o seio familiar sofreu, tornou-se comum famílias oriundas de
laços afetivos, que são pais e filhos unidos pelo amor, afeição, carinho e reciprocidade,
corroborando com o entendimento de analogia com a família biológica/natural.
Entende-se que a adoção de fato como aquela em que existe a posse do estado de filho,
porém, não existindo uma regularização para que assim seja reconhecida, ou seja, os envolvidos
assumem na ligação afetiva, a condição de progenitor e progênie de primeiro grau com a
solidariedade recíproca entre eles.
Acerca disso, Chaves e Rosenvald (2013) enaltecem que:
Nessa perspectiva, entende-se que na adoção de fato os requisitos presentes são o amor, a
reciprocidade de afeto, o carinho, a afeição, a compatibilidade emocional, dentre inúmeros
outros fatores e sentimentos. Omitir o afeto destas relações, não é apenas contradizer direitos,
mas sim a realidade dos fatos, tornando atroz a realidade em que a sociedade brasileira encontra-
se.
2.5 Filhos de criação ou filiação afetiva
São crianças ou adolescentes que passam a conviver com mães ou pais distintos do que
consta em seu registro civil de nascimento, que constitui um vínculo com base no afeto, amor,
carinho e respeito, como se o elo sanguíneo se tornasse uma mera rotulação.
Com relação ao conceito de filho de criação, Welter (2003) explica que:
A filiação afetiva também se corporifica naqueles casos em que, mesmo não havendo
vínculo biológico, alguém educa uma criança ou adolescente por mera opção,
denominado filho de criação, abrigando em um lar, tendo por fundamento o amor
entre seus integrantes; uma família, cujo único vínculo probatório é o afeto. É dizer,
quando uma pessoa, constante e publicamente, tratou um filho como o seu, quando o
apresentou como tal em sua família e na sociedade, quando na qualidade de pai proveu
sempre suas necessidades, sua manutenção e sua educação, é impossível não dizer que
o reconheceu. (2003, p. 148).
São aqueles que se cria um vínculo íntimo, afetivo e prolongado, por terceiros, e estes,
entendidos como filhos, pais e mães de criação, no qual existe o amor, carinho, respeito e
sentimento, como se filhos seus fossem.
Vale ressaltar, que a ação do reconhecimento da socioafetividade, geralmente só é
proposta, quando um dos pais que constituiu o vínculo afetivo com a criança ou adolescente
vêm a falecer, ficando, assim, mais dificultoso o reconhecimento deste vínculo após o óbito.
Alguns julgados relacionados a estas ações, comprovam as dificuldades de se comprovar
o elo afetivo após o óbito, como denota o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:
Evidente que cada processo deverá ser examinado pelo Juiz, de maneira minuciosa,
analisando todas as provas existente em que comprovam o vínculo afetivo, visto que este
vínculo deverá ser provado ainda em vida, se o mesmo o pretender. Atenta-se, então, para
importância destes vínculos afetivos serem formalizados assim que comprovado a existência,
já que após o óbito, torna-se complexo e difícil provar realmente o desejo do de cujus.
Felizmente, alguns tribunais, nesta concepção, ampararam e reconheceram tal filiação
alicerçada no afeto, como expressa o Tribunal do Rio Grande do Sul:
A decisão enfatiza a história de dois filhos de criação que ajuizaram uma ação para o
reconhecimento da filiação socioafetiva, para que assim pudessem garantir a herança e o nome
da família afetiva.
Com o novo conceito de família e a grande transformação que ocorreu até os dias atuais,
uma delas sendo a simplificação do divórcio, diversas entidades familiares surgiram, dentre
elas, as famílias recompostas, que são aquelas advindas do rompimento de uma relação conjugal
ou união estável anterior, na qual possibilitou a constituição de novos organismos familiares,
com novos membros, em que um dos seus parceiros ou ambos, tem filhos oriundos de um
matrimônio ou relação anterior.
Neste sentido, Dias (2015, p. 141) diz: “São famílias caracterizadas pela multiplicidade
de vínculos, ambiguidade das funções dos novos casais e forte grau de interdependência. A
administração de interesses visando equilíbrio assume relevo indispensável à estabilidade das
famílias”.
Constituindo assim a relação de pais/padrastos e sua prole, com mães/madrastas e sua
prole. Originando assim, a multiparentalidade.
Nos dizeres de Valadares (2010, p. 118): “fatores como a idade da criança ou adolescente,
presença física e afetiva do genitor biológico não guardião, tempo de união entre filhos e pais
afins e, finalmente, por que não, substancialmente, o elo afetivo entre eles”. Tratando então de
uma interpretação mais ampla para as famílias recompostas, garantindo assim, a eficácia
jurídica para com essas. Levando como basilar o princípio da afetividade, da dignidade da
pessoa humana e a posse de estado de filho como norteador.
[...] a Carta Magna traz com toda clareza que não pode haver discriminação sobre os
tipos de filiações, ou seja, não importa como se deu essa filiação, será igualitária como
se fosse um filho legítimo [sic], conforme o art. 227, parágrafo 6º, do diploma legal
referido. Dessa forma, caso haja o reconhecimento de uma filiação socioafetiva, este
terá os mesmos direitos das demais filiações.
[...] Uma vez que se tem a posse de estado de filho consolidado, logo este seria um
herdeiro legítimo necessário como as filiações biológicas.
que uma pessoa teria direito ao duplo reconhecimento de paternidade em seu registro de
nascimento, colocando lado a lado pais biológicos e pais socioafetivos.
A indagação que se faz é como ficaria o processo de inclusão de dois pais e duas mães no
registro de nascimento da prole, visto que a Lei de Registros Públicos não tem previsão legal.
Porém já se tem alguns julgados neste sentido, como se observa a jurisprudência do Tribunal
de Justiça da Bahia:
Nota-se que são situações que se fazem presentes no cotidiano de cada um, e que vem
ganhando força jurídica.
Assim, com a inclusão do pai socioafetivo no registro de nascimento do filho, este teria
os mesmos direitos referente à filiação e todos seus efeitos referentes à sucessão, herança, e
alimentos igualmente se tem com o pai biológico.
Nesta perspectiva, conforme o falecido Deputado Clodovil Hernandes (PR-SP), em 17 de
abril de 2009, passou a vigorar a Lei n. 11.924, conhecida popularmente como Lei Clodovil,
que acrescentou o parágrafo 8º ao artigo 57 da Lei n. 6.015/1973, que expressa:
No qual obteve um espaço maior, em que caberiam devidamente os nomes dos pais e avós
socioafetivos. Além do mais, nota-se a orientação que o Provimento nº. 03 do CNJ, artigo 5º
(BRASIL, 2009B, p. 2), diz:
No registro deverão constar os nomes e prenomes dos pais e dos avós maternos e
paternos. Assim, no registro de nascimento constará como pais os nomes dos pais
biológicos, do pai e mãe socioafetivo (a), bem como constarão como avós todos os
ascendentes destes. O filho poderá usar o nome de todos os pais ( 2013).
Neste sentido, apenas incluiriam os nomes e prenomes das duas famílias, a biológica e a
socioafetiva, incluindo os ascendentes do mesmo em sua certidão de nascimento.
O artigo 229 da Constituição Federal expressa: “Os pais têm o dever de assistir, criar e
educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice,
carência ou enfermidade”.
Com referência a prestação de alimentos, conforme expressa o artigo 1.696 cominado
com o 1.694, parágrafo 1º, ambos do Código Civil:
Nesta perspectiva, claramente nota-se que inúmeros projetos de lei estão se adaptando e
reformulando um novo conceito, baseado na atualidade das novas famílias que surgem,
enfatizando sempre os princípios da afetividade e da dignidade da pessoa humana.
Com isso, as famílias recompostas, aguardam ansiosamente a aprovação destes projetos
de leis, que buscam a regulamentação dos direitos iguais aos pais socioafetivos conjuntamente
com os biológicos, visto que ambos têm o mesmo objetivo de amar, cuidar, proteger, dar
atenção e ensinar seus filhos.
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Assim sendo, percebe-se que as normas jurídicas tende a caminhar conjuntamente com a
evolução da sociedade, visto que a cada novo passo, novos conceitos e conflitos se estenderam,
fazendo com que o ordenamento jurídico esteja preparado para melhor se adaptar a essas novas
mudanças, solucionando assim futuros conflitos e pendências que precisaram ser solucionados,
esta nova seara da multiparentalidade, é um conceito no qual deverá ser minuciosamente
estudados, sendo destinado a aquelas situações exclusivamente especiais e de total necessidade,
e que sua eficácia seja pautada principalmente no princípio da afetividade e dignidade da pessoa
humana.
Uma indagação vem à tona acerca da multiparentalidade e a sucessão: seria possível uma
pessoa que vive em família multiparental ter direito à sucessão de sua família originária, quando
houvesse contato com ela? Tal indagação carece de resposta clara por meio de lei. Logo, busca-
se respaldo nas decisões judiciais para amparar tal questão. Veja-se o REsp 1.477.498:
Diante deste entendimento, nota-se que quando é rompido o vínculo familiar da família
originária para a família adotiva ou socioafetiva, os direitos sucessórios são unos da família
socioafetiva. Neste sentido, decidiu o STJ:
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Direito civil e processual civil. Recurso especial. Família. Adoção de menor. Lei
vigente. Aplicabilidade. Sucessão. Ordem de vocação hereditária. Legitimidade dos
irmãos. [...] - As adoções constituídas sob a égide dos arts. 376 e 378 do CC/16 não
afastam o parentesco natural, resultante da consanguinidade, estabelecendo um novo
vínculo de parentesco civil tão-somente entre adotante(s) e adotado. – (...). Recurso
especial conhecido e provido." (REsp n. 740.127/SC, relatora Ministra Nancy
Andrighi, Terceira Turma, DJ de 13/2/2006.)
Quanto à filiação adotiva, também havia diferenças. Embora o art. 1.605 equiparasse
os filhos adotivos aos legítimos, o § 2º desse artigo dizia que os adotivos receberiam
metade da herança, se concorressem com os filhos supervenientes à adoção. A adoção
era dirigida aos casais sem filhos. O legislador visou proteger a prole de sangue, caso
esta viesse a existir. Outras questões de direito intertemporal podem aflorar no tocante
aos filhos adotivos, tendo em vista as várias espécies de adoção até recentemente
existentes. Todavia, o art. 227, § 6º, da Constituição é expresso em atribuir igualdade
de direitos aos filhos por adoção. [...] O presente Código amolda a adoção, em síntese,
ao Estatuto da Criança e do Adolescente, como estudamos no tomo do Direito de
Família. As dúvidas ficarão por conta da lei aplicável à época da morte, que rege a
capacidade para suceder (inclusive quanto as modificações introduzidas no Código de
1916 pela Lei n. 3.133/57). Como bem lembra Sílvio Rodrigues (1978, v. 7:7), os
direitos são adquiridos quando da abertura da sucessão, e a nova lei não pode afetar o
direito adquirido. [...] [...] Destarte, a plena igualdade sucessória dos descendentes ó
ocorre a partir da vigência da Constituição de 1988. As sucessões abertas a partir de
sua vigência seguem esses princípios de igualdade.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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https://tj-ba.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/363829469/apelacao-apl-
5134634620148050001> acesso em: 17 abr. 2018.
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