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MULTIPARENTALIDADE: efeitos sucessórios da filiação socioafetiva nas famílias


recompostas

MULTIPARENTALITY: successional effects of socio-affective filiation in the


recomposed families

SILVA, Daiane Rosa da16


VIEIRA, Bruna Ramos17
MACHADO, Wilton18

RESUMO
O presente estudo visa explorar a grande evolução e desenvolvimento das entidades familiares,
com um exíguo trajeto e evolução histórica, os principais conceitos relevantes acerca da
multiparentalidade, tais como: filhos e afeto, analisando a relevância e as características deste
afeto no âmbito jurídico, filhos socioafetivos e biológicos, que se fazem presente em novos
arranjos familiares, que no estudo a seguir dará ênfase às famílias recompostas, seus aspectos
legais, doutrinários e jurisprudenciais, a importância e as possibilidades jurídicas dos filhos
registrados por seus pais biológicos, poderem ser também registrados pelos pais afetivos,
obtendo, assim, os mesmos direitos referente à filiação, sucessão, pensão alimentícia e herança.

Palavras-chave: Multiparentalidade. Socioafetivo. Família. Recomposta.

ABSTRACT
This study aims to explore the great evolution and development of family entities, with a narrow
path and historical evolution, the main relevant concepts about multiparentality, such as
children and affection, analyzing the relevance and characteristics of this affection in the legal
framework, children social-affective and biological, which are present in new family
arrangements that the study below will emphasize the blended families, their legal, doctrinal
and jurisprudential the importance and the legal possibilities of the children registered by their
biological parents, they can also be recorded by affective parents, thus getting the same rights
regarding the affiliation, inheritance, alimony and inheritance.

Keywords: Socioafetiv Membership. Multiparentality. Recomposed families. Succession.

16
Bacharela em Direito pela Faculdade de Direito de Alta Floresta (FADAF). Contato:
<daiane.rosas@hotmail.com>.
17
Bacharela em Direito pela Faculdade de Direito de Alta Floresta (FADAF). Pós-Graduanda em Direito e
Processo do Trabalho pela Universidade Anhanguera – UNIDERP. Advogada, contato:
<brunaramosvieiraadv@gmail.com>.
18
Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Alta Floresta (FADAF); Professor universitário de Direito do
Curso de Direito da Faculdade de Alta Floresta (FADAF); Especialista em Direito e Processo do Trabalho pela
Universidade Anhanguera-UNIDERP; Advogado e contato: <machadowiltonadv@gmail.com>.
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1 INTRODUÇÃO

Notoriamente vislumbrada como símbolo de sucesso, a família representa a evolução,


crescimento e a organização da sociedade. No entanto, a ideologia imposta por muito tempo,
de que para o êxito da entidade familiar, todos deveriam seguir a linha obrigatória de nascer,
crescer, casar e procriar, e de que apenas os filhos advindos de uma relação matrimonial seriam
os reconhecidos socialmente e juridicamente foi superada, surgindo um novo conceito de
família.
Pelos distintos arranjos familiares que surgiram, houve uma grande necessidade de
priorizar e enfatizar a igualdade em seu meio, para que todos os pósteros passassem a ser
constitucionalmente iguais e a ter os mesmos direitos e deveres, independentemente de sua
progênie.
Destarte, pais genéticos e socioafetivos estão representando pessoas distintas, mas
coexistentes e igualmente significativas. Logo, já superado o desafio de aceitar a paternidade
socioafetiva, transformando-se em um novo desafio de legitimar e aceitar a coincidência de
paternidades hierarquicamente similares: biológica, socioafetiva e a multiparentalidade.
Perante esta perspectiva, houve aumento de famílias reconstituídas, ou seja, pessoas advindas
de outros laços matrimoniais ou outras formas de família, que procuram reconstruir suas vidas,
na base do amor e afeto.
Enfatizando as famílias recompostas, surge também à presença de filhos, sobrevindos de
relações anteriores, formando assim novos laços afetivos com novos membros, baseado de que,
quem ama, zela, cuida, trata e dá nome a outro, consistindo apenas em afeto, onde transborda a
todos a sua volta a demonstração inquestionável, real e incontestável de relação parental.
Nesta concepção, o presente trabalho justifica-se por mostrar aos seus leitores, se a
mutiparentalidade produz ou não efeitos jurídicos, a partir dos vínculos formados por seus
parceiros e a importância e as possibilidades jurídicas dos filhos registrados por seus pais
biológicos, poderem ser também registrados pelos pais afetivos, obtendo, assim, os mesmos
direitos referentes à filiação, à sucessão, a alimentos e à herança.

2 FAMÍLIA: relato histórico, evolução e conceito

Inúmeros são os conceitos apresentados e partilhados pelos doutrinadores, mas para uma
compreensão e entendimento maior do que foi e do que se tornou a família, nada melhor que
fazer uma breve análise e trajetória desde as primícias.

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A respeito desses modelos familiares existentes com o passar dos anos, o doutrinador
Venosa (2011, p. 03), descreve que, a família, em seu início, era uma entidade ampla e
hierarquizada. Em seu estado primitivo, o grupo familiar não se assentava nas relações
individuais. Ocorria a chamada endogamia, ou seja, as relações sexuais aconteciam entre todos
os membros que integralizavam a tribo. Dessa forma, acarretou a origem da família em um
caráter matriarcal, visto que se era conhecido apenas à mãe, já que a criança ficava sempre junto
a ela, a que a alimentava e educava, o pai era desconhecido. Contudo, com o transpassar do
tempo, essas tribos foram organizando-se e seus integrantes foram restringindo-se, passando a
existir relações individuais com caráter exclusivo, tornando a família então, uma organização
monogâmica. A monogamia desempenhou um grande papel de incentivo à prole, ocasionando
o exercício do poder paterno, convertendo-se em um fator econômico de produção, limitando-
se no interior dos lares.
De outra banda, para Gonçalves (2015, p. 31), no direito romano a família era organizada
sob o princípio da autoridade. O pater familias exercia o direito de vida e morte sobre a prole,
podendo vendê-los, impor-lhes castigos, penas corporais e até mesmo a morte. A mulher era
totalmente subordinada à sua autoridade, podendo repudiá-la por ato unilateral. O pater exercia
total autoridade sobre seus descendentes não emancipados, sobre a sua esposa e as esposas
casadas em manus com seus descendentes.
Observa-se que nesse período o pater exercia total poder sobre a família, onde todos eram
submissos exclusivamente a ele.
Segundo Gaudement (1967, p. 35 apud VENOSA, 2011, p. 04).

Na Babilônia, a família baseava-se no casamento monogâmico, mas o direito, sob


influência semítica, autorizava esposas secundárias. Caso a primeira esposa, não
pudesse conceber filhos ou em caso de alguma doença grave, o marido poderia
procurar uma segunda esposa.

Com o intuito de propagar a humanidade, permitia-se em casos excepcionais uma segunda


esposa. Assim, Coulanges (1958 apud VENOSA, 2011, p. 05) alude que:

O casamento era assim obrigatório. Não tinha por fim o prazer; o seu objeto principal
não estava na união de dois seres mutuamente simpatizantes um com o outro e
querendo associarem-se para a felicidade e para as canseiras da vida. O efeito do
casamento, à face da religião e das leis, estaria na união de dois seres no mesmo culto
doméstico, fazendo deles nascer um terceiro, apto para continuador desse culto.

Neste contexto, o objetivo principal do casamento era apenas para dar ensejo à
continuação do culto familiar.

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No período da Idade Média, com a chegada da era Canônica, o pater poder deixou de ser
irrefutável, permanecendo basicamente patriarcal. A família então recebia forte influência
religiosa, notava-se também a crescente importância de inúmeras regras de origem germânica.
“Os canonistas, opuseram-se à dissolução do vínculo, pois consideravam o casamento um
sacramento, não podendo os homens dissolver a união realizada por Deus” (GONÇALVES,
2015, pp. 31-32).
Nota-se que o poder pater deixou de ser absoluto, sendo apenas essencial patriarcal, a
família recebia influência da igreja católica, na qual passou a reger-se pelas regras impostas por
ela. Observado assim, que o casamento era algo sagrado, no qual deveria durar a vida toda.
Hodiernamente, pode-se dizer que, no Brasil, a família é conceituada, por fortes
influências das famílias romanas, canônicas e germânicas, sendo o direito canônico grande
precursor, como consequência principal da colonização portuguesa.
Dias (2015), enfatiza a evolução legislativa que obteve o direito de família de que:

A evolução pela qual passou a família acabou forçando sucessivas alterações


legislativas. A mais expressiva foi o Estatuto da Mulher Casada (L 4.121/62), que
devolveu a plena capacidade a mulher casada e deferiu-lhe bens reservados a
assegurar-lhe a propriedade exclusiva dos bens adquiridos com o fruto de seu trabalho.
A instituição do divórcio (EC 9/77 e L. 6.515/77) acabou com a indissolubilidade do
casamento, eliminando a ideia da família como instituição sacralizada. (2015, p.32).

Com a grande evolução que passou a família, houve a obrigatoriedade de novas


transformações legislativas, visto que, o poder marital já não era considerado mais como
superior, ao passo que essas transformações devolveram a mulher seus direitos e deveres
benemérito, antes violados devido ao pensamento arcaico da época.
Neste sentido, diz Gonçalves (2015) a respeito do novo conceito de família, trazido pela
Constituição Federal de 1988:

Ao passo que o moderno enfoque pelo qual é identificada tem indicado novos
elementos que compõem as relações familiares, destacando-se os vínculos afetivos
que norteiam a sua formação. Nessa linha, a família socioafetiva vem sendo priorizada
em nossa doutrina e jurisprudência. (2015, pp. 32-33)

A nova regulamentação de família, agora expressa pela Constituição de 1988, veio para
priorizar as inúmeras famílias constituídas pelo afeto e a dignidade da pessoa humana, famílias
socioafetivas que cresciam e uma proporção significativa, devendo ter assim, uma especial
atenção pelo ordenamento jurídico.
Para Venosa (2011, p. 1) “o direito de família estuda, em síntese, as relações das pessoas
unidas pelo matrimônio, bem como daqueles que convivem em uniões sem casamento; dos
filhos e das relações destes com os pais”.
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O conceito baseia-se em todas as relações afetivas e com amor entre pessoas unidas tanto
pelo laço matrimonial, quanto as fora dele. É notória a grande evolução que o conceito familiar
desenvolveu, buscando cada vez mais a igualdade e direitos entre cada indivíduo pertencente à
família.

3 FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA E PARENTESCO

As entidades familiares sofreram uma enorme evolução com a promulgação da Carta


Magna de 1988, abrangendo também no que diz respeito ao estado de filiação.
O Código Civil de 1916, seguindo uma linha de pensamento patriarcal e hierarquizada,
no que tange a um tratamento diferenciado aos filhos concebidos dentro do matrimônio e os
concebidos fora do matrimônio, esses intitulados de ilegítimos, visto que não existia uma
condição de igualdade entre os filhos.
Porém, com a Lei Maior de 1988, em seu artigo 227, §6º, elenca que “Os filhos, havidos
ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações,
proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”.
Estabelecendo assim, uma condição de igualdade entre os filhos, não questionando mais
filhos legítimos, ilegítimos ou adotados.

3.1 Filiação sócioafetiva

Atualmente, as entidades familiares, advindas de vínculos afetivos, destacam-se sobre os


demais tipos de paternidade, independente se é biológica ou civil. Neste sentido, Dias (2015),
diz: “Até há bem pouco tempo, somente se admitia a investigação da paternidade biológica. No
entanto, a partir do momento em que se passou a valorizar o vínculo da afetividade nas relações
familiares, houve a redefinição do conceito de filiação (2015, p. 50).
Quando passou a ser reconhecido o vínculo de afetividade, novos conceitos referentes a
entidades familiares foram redefinidos.
Madaleno (2008) afirma que:

O afeto é a mola propulsora dos laços familiares e das relações interpessoais movidas
pelo sentimento e pelo amor, para ao fim e ao cabo dar sentido e dignidade à existência
humana. A afetividade deve estar presente nos vínculos de filiação e de parentesco,
variando tão somente na sua intensidade e nas especificidades do caso concreto.
Necessariamente os vínculos consanguíneos não se sobrepõem aos liames afetivos,
podendo até ser afirmada a prevalência destes sobre aqueles. O afeto decorre da
liberdade que todo indivíduo deve ter de afeiçoar-se um a outro, decorre das relações
de convivência do casal entre si e destes para com seus filhos, entre os parentes, como

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está presente em outras categorias familiares, não sendo o casamento a única entidade
familiar. (2008, pp. 66-67).

A família com base neste afeto, com liberdade, responsabilidade recíproca e verdade,
gerará um grupo familiar mais preocupado com o coletivo, contribuindo, assim, para a correção
de conflitos e aflições sociais.

3.2 Parentesco

O artigo Art. 1.593 do Código Civil Brasileiro, prescreve “O parentesco é natural ou civil,
conforme resulte de consanguinidade ou outra origem”, ou seja, segundo a lei, será parentesco
civil aquele que não tiver origem biológica.
Venceslau ressalta que o Código Civil refere-se: “De uma hipótese de parentesco civil,
diverso da adoção, onde se prestigia o critério socioafetivo da distinção entre ser genitor e ser
pai” (2004, p. 56).
O critério principal aqui, e que qualificará a distinção entre o progenitor e o pai, é
justamente a socioafetividade, que para boa parte da doutrina entende-se que o elo socioafetivo
prepondera ao biológico.
Gonçalves (2015) descreve parentesco em dois sentidos:

Sentido estrito: abrange somente o consanguíneo, definido de forma mais correta


como a relação que vincula entre si pessoas que descendem umas das outras, ou de
um mesmo tronco; sentido amplo: inclui o parentesco por afinidade e o decorrente da
adoção ou de outra origem (2015, p. 310).

O parentesco é definido tanto em sentido estrito, como em sentido amplo, onde abrange
todas as maneiras existentes de parentesco, deixando uma brecha para outras modalidades de
parentesco que poderão surgir.
Entende-se que, a seara da socioafetividade, baseada no afeto, vem ganhando um espaço
maior e mais importante que o próprio elo biológico.

3.3 Posse do estado de filho

Quando existe a certeza do estado de filho, formado pelo afeto, amor e carinho, torna-se
a condição mais fascinante nas relações de parentescos psicológicos das filiações afetivas.
Assim, Dias (2015) salienta que:
O vínculo afetivo se sobrepõe à verdade genética, e a filiação é definida quando está
presente o que se chama de posse de estado de filho: é reconhecido como filho de
quem sempre considerou ser seu pai. A posse de estado consolida vínculos que não

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assentam na realidade natural e tem a relevância jurídica de uma paternidade


manifestamente prejudicial (2015, p. 50).

O vínculo biológico dependendo da situação, fica como mero coadjuvante, importando


apenas a relação afetiva e se está presente à posse de estado de filho, visto que o afeto tem
relevância jurídica.
Para Madaleno (2010, p. 270), a paternidade socioafetiva conceitua-se: “Como a real
paternidade do afeto e da solidariedade; são gestos de amor que registraram a colidência de
interesse entre o filho registral e o seu pai de afeto”. O amor e o afeto são constituem o
sustentáculo para a real paternidade e maternidade da prole.

3.4 Adoção de fato

Com a diversificação que o seio familiar sofreu, tornou-se comum famílias oriundas de
laços afetivos, que são pais e filhos unidos pelo amor, afeição, carinho e reciprocidade,
corroborando com o entendimento de analogia com a família biológica/natural.
Entende-se que a adoção de fato como aquela em que existe a posse do estado de filho,
porém, não existindo uma regularização para que assim seja reconhecida, ou seja, os envolvidos
assumem na ligação afetiva, a condição de progenitor e progênie de primeiro grau com a
solidariedade recíproca entre eles.
Acerca disso, Chaves e Rosenvald (2013) enaltecem que:

A necessidade de manter a estabilidade da família faz com que se atribua papel


secundário à verdade biológica. A constância social da relação entre pais e filhos
caracteriza uma paternidade que existe não pelo simples fato biológico ou por força
de presunção legal, mas em decorrência de uma convivência afetiva. Constituído o
vínculo da parentalidade, mesmo quando desligado da verdade biológica, prestigia-se
a situação que preserva o elo da afetividade. Pai afetivo é aquele que ocupa, na vida
do filho, o lugar do pai (a função). É uma espécie de adoção de fato. É aquele que ao
dar abrigo, carinho, educação, amor... ao filho, expõe o foro mínimo da filiação,
apresentando-se em todos os momentos, inclusive naqueles em que se toma a lição de
casa e ou verifica o boletim escolar. Enfim, é o pai das emoções, dos sentimentos e é
o filho do olhar embevecido que reflete aqueles sentimentos que sobre eles se
projetam (2013 apud DIAS, 2015, p. 406).

Nessa perspectiva, entende-se que na adoção de fato os requisitos presentes são o amor, a
reciprocidade de afeto, o carinho, a afeição, a compatibilidade emocional, dentre inúmeros
outros fatores e sentimentos. Omitir o afeto destas relações, não é apenas contradizer direitos,
mas sim a realidade dos fatos, tornando atroz a realidade em que a sociedade brasileira encontra-
se.
2.5 Filhos de criação ou filiação afetiva

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São crianças ou adolescentes que passam a conviver com mães ou pais distintos do que
consta em seu registro civil de nascimento, que constitui um vínculo com base no afeto, amor,
carinho e respeito, como se o elo sanguíneo se tornasse uma mera rotulação.
Com relação ao conceito de filho de criação, Welter (2003) explica que:

A filiação afetiva também se corporifica naqueles casos em que, mesmo não havendo
vínculo biológico, alguém educa uma criança ou adolescente por mera opção,
denominado filho de criação, abrigando em um lar, tendo por fundamento o amor
entre seus integrantes; uma família, cujo único vínculo probatório é o afeto. É dizer,
quando uma pessoa, constante e publicamente, tratou um filho como o seu, quando o
apresentou como tal em sua família e na sociedade, quando na qualidade de pai proveu
sempre suas necessidades, sua manutenção e sua educação, é impossível não dizer que
o reconheceu. (2003, p. 148).

São aqueles que se cria um vínculo íntimo, afetivo e prolongado, por terceiros, e estes,
entendidos como filhos, pais e mães de criação, no qual existe o amor, carinho, respeito e
sentimento, como se filhos seus fossem.
Vale ressaltar, que a ação do reconhecimento da socioafetividade, geralmente só é
proposta, quando um dos pais que constituiu o vínculo afetivo com a criança ou adolescente
vêm a falecer, ficando, assim, mais dificultoso o reconhecimento deste vínculo após o óbito.
Alguns julgados relacionados a estas ações, comprovam as dificuldades de se comprovar
o elo afetivo após o óbito, como denota o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

AÇÃO DECLARATÓRIA DE RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE


SOCIOAFETIVA. INEXISTÊNCIA DO VÍNCULO PARENTAL. PROVA. 1. A
ação de investigação de paternidade visa o estabelecimento forçado da relação jurídica
de filiação. 2. Se o de cujus pretendesse reconhecer o recorrente como filho,
certamente teria promovido o seu registro como filho (adoção à brasileira) ou, então,
formalizado a sua adoção, ou, ainda, lavrado algum instrumento público neste sentido,
mas nada foi feito, não tendo sido o autor sequer contemplado com alguma deixa
testamentária. Recurso desprovido. (Apelação Cível Nº 70042394098, Sétima Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves,
Julgado em 14/03/2012)

Evidente que cada processo deverá ser examinado pelo Juiz, de maneira minuciosa,
analisando todas as provas existente em que comprovam o vínculo afetivo, visto que este
vínculo deverá ser provado ainda em vida, se o mesmo o pretender. Atenta-se, então, para
importância destes vínculos afetivos serem formalizados assim que comprovado a existência,
já que após o óbito, torna-se complexo e difícil provar realmente o desejo do de cujus.
Felizmente, alguns tribunais, nesta concepção, ampararam e reconheceram tal filiação
alicerçada no afeto, como expressa o Tribunal do Rio Grande do Sul:

AP. C. E AG. RETIDO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE FILIAÇÃO


SOCIOAFETIVA. [...] POSSE DE ESTADO DE FILHO CONFIGURADA.
REFORMA PARCIAL DA SENTENÇA PARA RECONHECER A

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PATERNIDADE CONSUBSTANCIADA NA SOCIOAFETIVIDADE. [...] 3)


Possibilidade jurídica do pedido de declaração de paternidade socioafetiva.
Fundamentação consubstanciada em doutrina e precedentes jurisprudenciais. 4) Os
autores comprovaram a posse do estado de filho em relação ao falecido mediante
prova documental vasta e também testemunhal que dão conta da presença de seus
elementos caracterizadores, quais sejam, nome, trato e fama. AGRAVO RETIDO
DESPROVIDO E PRELIMINARES REJEITADAS, À UNANIMIDADE. APELO
PROVIDO, POR MAIORIA. (Apelação Cível Nº 70049187438, Oitava Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ricardo Moreira Lins Pastl, Julgado em
06/09/2012).

A decisão enfatiza a história de dois filhos de criação que ajuizaram uma ação para o
reconhecimento da filiação socioafetiva, para que assim pudessem garantir a herança e o nome
da família afetiva.

2.6 Paternidade socioafetiva

Atualmente, as entidades familiares formadas por laços afetivos vêm consideravelmente


levando destaque em face de outros tipos de paternidade ou maternidade, tendo em vista que
independe da relação biológica, observando cada caso em sua magnitude. Nesta acepção,
Brauner (2000) leciona que:

O fenômeno da paternidade tem um significado bem mais profundo do que a simples


revelação da verdade biológica: ele se completa, se perfaz com a prática reiterada dos
atos de afeto e cuidado do pai para com seu filho, do sentimento expressado na
convivência e pode desconsiderar a verdade biológica, consolidando-se a verdade
afetiva ou a sociológica. (2000, p. 212).

Em uma analogia constitucional, afirma-se que a afetividade é um dos meios de consagrar


o princípio da dignidade da pessoa humana, haja vista essas relações que unem uma família
socioafetiva, efetivam-se através do amor, carinho, respeito, consideração, solidariedade
recíproca dentre outros sentimentos que corroboram esses laços.
A paternidade afetiva alcança grande significância na esfera jurídica, visto que a defesa e
proteção da dignidade humana, e dos direitos a personalidade, são justamente direitos inerentes
da pessoa humana, o que define e contempla a sua relação social e familiar.
De fato, o entendimento que se faz no presente em relação à paternidade, é que a
afetividade vem se destacando na sociedade atualmente, prevalecendo sobre o vínculo
sanguíneo, visto que o mais ponderoso é quem realmente desempenha, verdadeiramente e
afetuosamente, o papel de pai.

4 MULTIPARENTALIDADE E SEUS EFEITOS

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A sociedade na constância de sua evolução veio se aprimorando, adaptando sua formação


e organização, fazendo com que as famílias fossem se reestruturando, com base no afeto,
lealdade, respeito, solidariedade, confiança, carinho e no amor.
No Brasil, atualmente, tornaram-se comuns novos arranjos familiares, pais que, mesmo
não sendo os biológicos, passaram a amar, respeitar e educar crianças advindas de relações
anteriores de seus parceiros, como se fossem seus próprios filhos consanguíneos, respeitando a
particularidade de cada um.
Nesta perspectiva Gonçalves (2015, pp. 314-315), destaca que na doutrina existem
possibilidades de aceitação do reconhecimento da dupla parentalidade ou multiparentalidade.
Em contrapartida, surgiram algumas decisões que afasta a escolha entre o vínculo biológico e
o socioafetivo, admitindo a hipótese de a pessoa poder ter dois pais ou duas mães em seu
registro civil. Neste sentido, das que outorgaram este duplo registro do menor, em prol da mãe
biológica e a socioafetiva, diante do pedido de ambas para que fosse reconhecido a dupla
parentalidade, realça a proferida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, que assim expressa:

MATERNIDADE SOCIOAFETIVA Preservação da Maternidade Biológica Respeito


à memória da mãe biológica, falecida em decorrência do parto, e de sua família -
Enteado criado como filho desde dois anos de idade Filiação socioafetiva que tem
amparo no art. 1.593 do Código Civil e decorre da posse do estado de filho, fruto de
longa e estável convivência, aliado ao afeto e considerações mútuos, e sua
manifestação pública, de forma a não deixar dúvida, a quem não conhece, de que se
trata de parentes - A formação da família moderna não-consanguínea tem sua base na
afetividade e nos princípios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade
Recurso provido. (TJ-SP - APL: 64222620118260286 SP 0006422-
26.2011.8.26.0286, Relator: Alcides Leopoldo e Silva Júnior, Data de Julgamento:
14/08/2012, 1ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 14/08/2012)

Nota-se que buscando sempre pelos princípios norteadores do nosso ordenamento


jurídico, como elencado acima, o da dignidade da pessoa humana, buscam solucionar os
conflitos que surgem, atendendo cada um em sua singularidade, mas com o mesmo objetivo,
para que todos tenham o direito, de serem amados, respeitados, obtendo uma família, por mais
diversa que seja.
A multiparentalidade surge como uma solução dos conflitos judiciais, dedicando
concomitantemente aos vínculos biológicos e afetivos. A afetividade provém da convivência
familiar, e não do elo consanguíneo.
Nesta toada, visando o melhor interesse da criança e do adolescente, nota-se com esse
entendimento o início de um novo laço afetivo entre pais e mães diversos que convivem de
maneira harmônica.
4.1 Famílias recompostas

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Com o novo conceito de família e a grande transformação que ocorreu até os dias atuais,
uma delas sendo a simplificação do divórcio, diversas entidades familiares surgiram, dentre
elas, as famílias recompostas, que são aquelas advindas do rompimento de uma relação conjugal
ou união estável anterior, na qual possibilitou a constituição de novos organismos familiares,
com novos membros, em que um dos seus parceiros ou ambos, tem filhos oriundos de um
matrimônio ou relação anterior.
Neste sentido, Dias (2015, p. 141) diz: “São famílias caracterizadas pela multiplicidade
de vínculos, ambiguidade das funções dos novos casais e forte grau de interdependência. A
administração de interesses visando equilíbrio assume relevo indispensável à estabilidade das
famílias”.
Constituindo assim a relação de pais/padrastos e sua prole, com mães/madrastas e sua
prole. Originando assim, a multiparentalidade.
Nos dizeres de Valadares (2010, p. 118): “fatores como a idade da criança ou adolescente,
presença física e afetiva do genitor biológico não guardião, tempo de união entre filhos e pais
afins e, finalmente, por que não, substancialmente, o elo afetivo entre eles”. Tratando então de
uma interpretação mais ampla para as famílias recompostas, garantindo assim, a eficácia
jurídica para com essas. Levando como basilar o princípio da afetividade, da dignidade da
pessoa humana e a posse de estado de filho como norteador.

4.1 O Direito sucessório na multiparentalidade

A multiparentalidade decorre do legal reconhecimento de mais de uma filiação de um


indivíduo, seja por parte de pai ou de mãe e até mesmo de ambos.
Na prática, a multiparentalidade ocorre quando uma família é constituída de pessoas que
não possuem vinculo sanguíneo, mas sim vínculo afetivo. Tal ocorrência só é possível graças a
Constituição Federal de 1988, que alterou o reconhecimento de família existente no Brasil até
então.
Com a nova carta magna, foram criados três eixos familiares, sendo eles a igualdade de
gênero, a pluralidade das entidades familiares e a igualdade de filiação, dando assim a
oportunidade de várias famílias Brasileiras terem seus direitos sucessórios garantidos, pois, já
havia previsão legal para sua existência e regulamentação.

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Primeiramente, antes de adentrar ao contexto geral do trabalho, é necessário ressaltar que


o direito à sucessão decorre da filiação, neste caso, seja ela de onde for, afetiva ou sanguínea,
Goulart (2013, p. 17) comenta sobre o assunto:

[...] a Carta Magna traz com toda clareza que não pode haver discriminação sobre os
tipos de filiações, ou seja, não importa como se deu essa filiação, será igualitária como
se fosse um filho legítimo [sic], conforme o art. 227, parágrafo 6º, do diploma legal
referido. Dessa forma, caso haja o reconhecimento de uma filiação socioafetiva, este
terá os mesmos direitos das demais filiações.
[...] Uma vez que se tem a posse de estado de filho consolidado, logo este seria um
herdeiro legítimo necessário como as filiações biológicas.

Como já comentado anteriormente, o filho afetivo, ou socioafetivo goza da possibilidade


de reconhecimento judicial de sua filiação, ou seja, podendo ser considerado filho legalmente,
desta forma, possuindo direitos sucessórios a qualquer tempo, podendo adquiri-los durante a
vida de seu genitor/genitora, e até mesmo depois da vida dos mesmos.
Sobre o reconhecimento socioafetivo após a vida dos genitores, comenta Goulart (2103,
p. 17).
Porém, o reconhecimento da filiação socioafetiva, após o falecimento do suposto pai
ou da suposta mãe afetiva, faz com que poucos julgadores reconheçam e legitimem
tal relação paterno/materno-filial. Um dos principais argumentos para o não
reconhecimento é que, se o pai ou a mãe socioafetiva quisesse ter manifestado a
vontade de assumir a relação paterno/materno-filial teriam feito em vida ou por meio
de testamento. Tais argumentos podem ser levados em conta quando realmente, no
caso concreto, não foi comprovada a configuração da filiação sociológica. Até porque
muitos podem utilizar desse artifício para conseguir um direito hereditário no qual não
têm nenhum direito.

Mesmo existindo discussões e até mesmo divergências entre os entendimentos


doutrinários, a filiação deve ser reconhecida por imposição legal, nos termos dos artigos 1.593
do Código Civil de 2002 e o artigo 227 §6º da Constituição Federal, pois há igualdade entre os
filhos, sejam biológicos ou socioafetivos de acordo com o ordenamento jurídico brasileiro.
Diante de tal afirmação, inicia-se a divisão de herança prevista em lei, sendo a sucessão
legitima, herdeiros necessários, concorrência entre herdeiros e demais subdivisões, bem como
a garantia de direito de herança sob testamento, o que será discutido adiante.
Com a legalização da multiparentalidade, seus efeitos jurídicos se farão presente. Uma
situação na qual já se era existente no cotidiano, passa também a ser realidade no âmbito
jurídico.
Os Tribunais do País passaram a reconhecer situações baseada no princípio da dignidade
da pessoa humana e da afetividade, acontecimentos que não passassem de suposições no âmbito
do direito de família, atualmente se faz realidade na sociedade, inovando e ampliando o conceito
referente às entidades familiares, na qual já se tem algumas decisões pautadas neste sentido, em

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que uma pessoa teria direito ao duplo reconhecimento de paternidade em seu registro de
nascimento, colocando lado a lado pais biológicos e pais socioafetivos.
A indagação que se faz é como ficaria o processo de inclusão de dois pais e duas mães no
registro de nascimento da prole, visto que a Lei de Registros Públicos não tem previsão legal.
Porém já se tem alguns julgados neste sentido, como se observa a jurisprudência do Tribunal
de Justiça da Bahia:

AP.C. [...]. RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE SOCIOAFETIVA. POSSE


DO ESTADO DE FILHO. POSSIBILIDADE DE COEXISTÊNCIA COM A
PATERNIDADE BIOLÓGICA. INTERPRETAÇÃO DO ART. 227, § 6º, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, C/C O ART. 1.593, DO CÓDIGO CIVIL VIGENTE.
MANUTENÇÃO DOS VÍNCULOS AFETIVO E BIOLÓGICO. DIREITO
PERSONALÍSSIMO. PRESERVAÇÃO DA ANCESTRALIDADE. PRINCÍPIO DA
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. RECURSO PROVIDO. I [...] não admite
qualquer discriminação entre as espécies de parentesco e filiação, tampouco veda a
coexistência de relações de idêntica natureza, a exemplo da paternidade, por não
estabelecer graus de hierarquia entre elas. [...] Nessa linha de intelecção, é forçoso
reconhecer o estado de filiação, de natureza afetiva, entre indivíduos que se
reconheçam como pai e filha, fato comprovado pela longa, [...] TJ-BA - APL:
05134634620148050001, R.: Dinalva Gomes Laranjeira Pimentel, S. Câmara Cível,
Data de Publicação: 02/09/2015).

Nota-se que são situações que se fazem presentes no cotidiano de cada um, e que vem
ganhando força jurídica.
Assim, com a inclusão do pai socioafetivo no registro de nascimento do filho, este teria
os mesmos direitos referente à filiação e todos seus efeitos referentes à sucessão, herança, e
alimentos igualmente se tem com o pai biológico.
Nesta perspectiva, conforme o falecido Deputado Clodovil Hernandes (PR-SP), em 17 de
abril de 2009, passou a vigorar a Lei n. 11.924, conhecida popularmente como Lei Clodovil,
que acrescentou o parágrafo 8º ao artigo 57 da Lei n. 6.015/1973, que expressa:

§ 8º O enteado ou a enteada, havendo motivo ponderável e na forma dos §§ 2º e 7º


deste artigo, poderá requerer ao juiz competente que, no registro de nascimento, seja
averbado o nome de família de seu padrasto ou de sua madrasta, desde que haja
expressa concordância destes, sem prejuízo de seus apelidos de família.

Analisando as possibilidades jurídicas do acréscimo do nome dos pais socioafetivos


conjuntamente com os pais biológicos na certidão de nascimento, nota-se que é uma realidade
bem próxima, mesmo não tendo uma previsão legal, atenta-se para o Provimento nº. 02 do CNJ,
que modificou e uniformizou os modelos de registro de nascimento, casamento e óbito, onde
passou a constar, no registro de nascimento, os termos filiação e avós (Brasil, 2009ª, p. 01 a
04).

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No qual obteve um espaço maior, em que caberiam devidamente os nomes dos pais e avós
socioafetivos. Além do mais, nota-se a orientação que o Provimento nº. 03 do CNJ, artigo 5º
(BRASIL, 2009B, p. 2), diz:

Artigo 5º. Orientar que as certidões pré-moldadas em sistema informatizado devem


possuir quadros capazes de se adaptar ao tamanho do texto a ser inserido. E não devem
consignar quadros pré-estabelecidos para o preenchimento dos nomes dos genitores e
progenitores, a fim de que seja evitada desnecessária exposição daqueles que não
possuem paternidade identificada.

Desta forma, observa-se que o ordenamento jurídico já vem se adequando, para o


reconhecimento da multiparentalidade, na averbação dos registros de nascimento.
Analisando superficialmente, conforme a referência ao artigo 54, itens 7º e 8º da Lei
6.015/73, Lei de Registros Públicos, que assim determina:

No registro deverão constar os nomes e prenomes dos pais e dos avós maternos e
paternos. Assim, no registro de nascimento constará como pais os nomes dos pais
biológicos, do pai e mãe socioafetivo (a), bem como constarão como avós todos os
ascendentes destes. O filho poderá usar o nome de todos os pais ( 2013).

Neste sentido, apenas incluiriam os nomes e prenomes das duas famílias, a biológica e a
socioafetiva, incluindo os ascendentes do mesmo em sua certidão de nascimento.
O artigo 229 da Constituição Federal expressa: “Os pais têm o dever de assistir, criar e
educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice,
carência ou enfermidade”.
Com referência a prestação de alimentos, conforme expressa o artigo 1.696 cominado
com o 1.694, parágrafo 1º, ambos do Código Civil:

Artigo. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e


extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau,
uns em falta de outros.
Artigo. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros
os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição
social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.
§ 1o Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e
dos recursos da pessoa obrigada.

Existindo assim, uma reciprocidade entre pai/mãe socioafetivos e seus ascendentes de


graus mais próximos, considerando a necessidade de ambos. Referente à sucessão, os artigos
1.829 c/c 1.786 e 1.788, todos do Código Civil expressa:

Artigo. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado
este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória
de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor
da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
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III - ao cônjuge sobrevivente;


IV - aos colaterais.
Artigo. 1.786. A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade.
Artigo. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros
legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no
testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado
nulo.

Referem-se à sucessão legítima, em que os herdeiros são denominados exclusivamente


pela lei, sem a concorrência da manifestação de vontade do responsável da herança, opondo-se
à sucessão testamentária, onde são designados pelo responsável da herança, em testamento.
Para Tartuce (2015, p. 206) diz que “a parentalidade socioafetiva, vem sendo justificada
na posse de estado de filho, sendo uma situação fática e social, das pessoas envolvidas serem
reconhecidas como ligadas por um vínculo de filiação”.
Por se tratar de uma abrangência a relação de multiparentalidade, os efeitos sucessórios
se ampliariam referente a tais direitos, obedecendo aos mesmos direitos antes impostos, porém
com uma extensão maior.
Na preleção de Póvoas (2012, p. 11):

Não há como deixar de reconhecer que a multiparentalidade será, em breve, mais


comum do que se imagina, na medida em que, em determinados casos, é a única forma
de garantir interesses dos autores envolvidos nas questões envolvendo casos de
filiação, albergando-lhes os princípios constitucionais e eles garantidos da dignidade
da pessoa humana e da afetividade.

Percebe-se que a multiparentalidade já se torna presente em nossos dias atuais, uma


realidade bastante presente nas famílias brasileiras, onde a afetividade prevalece acima de
qualquer outro preceito. O projeto de Lei conhecido como Estatuto das Famílias, Lei n. 2.285
de 2007, em seu artigo 91 expressa:

Artigo 91. Constituindo os pais nova entidade familiar, os direitos e deveres


decorrentes da autoridade parental são exercidos com a colaboração do novo cônjuge
ou convivente ou parceiro.
Parágrafo único. Cada cônjuge, convivente ou parceiro deve colaborar de modo
apropriado no exercício da autoridade parental, em relação aos filhos do outro, e
representá-lo quando as circunstâncias o exigirem.

Nesta perspectiva, claramente nota-se que inúmeros projetos de lei estão se adaptando e
reformulando um novo conceito, baseado na atualidade das novas famílias que surgem,
enfatizando sempre os princípios da afetividade e da dignidade da pessoa humana.
Com isso, as famílias recompostas, aguardam ansiosamente a aprovação destes projetos
de leis, que buscam a regulamentação dos direitos iguais aos pais socioafetivos conjuntamente
com os biológicos, visto que ambos têm o mesmo objetivo de amar, cuidar, proteger, dar
atenção e ensinar seus filhos.
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Nos ensinamentos de Gonçalves (2015, pp. 316-317) referente à multiparentalidade:

O deferimento da multiparentalidade deve ser reservado para situações especiais, de


absoluta necessidade de harmonização da paternidade e maternidade socioafetivas e
biológicas, pelo menos até que a jurisprudência tenha encontrado, com o passar dos
anos, solução para as consequências que fatalmente irão advir dessa nova realidade,
especialmente a repercussão que a nova situação irá trazer, por exemplo, nas questões
relacionadas com o direito a alimentos e sucessórios entre os novos parentes, cujo
quadro fica bastante ampliado, bem como com os direitos de convivência, de visita,
de guarda e de exercícios do poder familiar, entre outros.

Assim sendo, percebe-se que as normas jurídicas tende a caminhar conjuntamente com a
evolução da sociedade, visto que a cada novo passo, novos conceitos e conflitos se estenderam,
fazendo com que o ordenamento jurídico esteja preparado para melhor se adaptar a essas novas
mudanças, solucionando assim futuros conflitos e pendências que precisaram ser solucionados,
esta nova seara da multiparentalidade, é um conceito no qual deverá ser minuciosamente
estudados, sendo destinado a aquelas situações exclusivamente especiais e de total necessidade,
e que sua eficácia seja pautada principalmente no princípio da afetividade e dignidade da pessoa
humana.

4.1 Dupla sucessão

Uma indagação vem à tona acerca da multiparentalidade e a sucessão: seria possível uma
pessoa que vive em família multiparental ter direito à sucessão de sua família originária, quando
houvesse contato com ela? Tal indagação carece de resposta clara por meio de lei. Logo, busca-
se respaldo nas decisões judiciais para amparar tal questão. Veja-se o REsp 1.477.498:

PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. NÃO


OCORRÊNCIA. CIVIL. ADOÇÃO OCORRIDA SOB A ÉGIDE DO CÓDIGO
CIVIL DE 1916. FALECIMENTO DE ASCENDENTE BIOLÓGICO.
DIREITO SUCESSÓRIO. LEI VIGENTE À ÉPOCA DA ABERTURA DA
SUCESSÃO. APLICAÇÃO. EXCLUSÃO LEGÍTIMA DOS ADOTADOS.
ART. 227, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERA. PRINCÍPIO DA IGUALDADE
ENTRE OS FILHOS. INTERPRETAÇÃO CONFORME. 1. (...) 3. Não há direito
adquirido à sucessão, que se estabelece por ocasião da morte, pois é nesse momento
em que se dá a transferência do acervo hereditário aos titulares, motivo pelo qual é
regulada pela lei vigente à data da abertura (art. 1.577 do Código Civil de 1916 e art.
1.787 do Código Civil de 2002). 4. In casu, quando do falecimento da avó biológica,
vigia o art. 1.626 do Código Civil de 2002 (revogado pela Lei n. 12.010/2009),
segundo o qual a adoção provocava a dissolução do vínculo consanguíneo. Assim,
com a adoção, ocorreu o completo desligamento do vínculo entre os adotados e a
família biológica, (...). 6. Recurso especial desprovido.

Diante deste entendimento, nota-se que quando é rompido o vínculo familiar da família
originária para a família adotiva ou socioafetiva, os direitos sucessórios são unos da família
socioafetiva. Neste sentido, decidiu o STJ:
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Direito civil e processual civil. Recurso especial. Família. Adoção de menor. Lei
vigente. Aplicabilidade. Sucessão. Ordem de vocação hereditária. Legitimidade dos
irmãos. [...] - As adoções constituídas sob a égide dos arts. 376 e 378 do CC/16 não
afastam o parentesco natural, resultante da consanguinidade, estabelecendo um novo
vínculo de parentesco civil tão-somente entre adotante(s) e adotado. – (...). Recurso
especial conhecido e provido." (REsp n. 740.127/SC, relatora Ministra Nancy
Andrighi, Terceira Turma, DJ de 13/2/2006.)

Venosa (2016, p.115) também comenta o fenômeno jurídico:

Quanto à filiação adotiva, também havia diferenças. Embora o art. 1.605 equiparasse
os filhos adotivos aos legítimos, o § 2º desse artigo dizia que os adotivos receberiam
metade da herança, se concorressem com os filhos supervenientes à adoção. A adoção
era dirigida aos casais sem filhos. O legislador visou proteger a prole de sangue, caso
esta viesse a existir. Outras questões de direito intertemporal podem aflorar no tocante
aos filhos adotivos, tendo em vista as várias espécies de adoção até recentemente
existentes. Todavia, o art. 227, § 6º, da Constituição é expresso em atribuir igualdade
de direitos aos filhos por adoção. [...] O presente Código amolda a adoção, em síntese,
ao Estatuto da Criança e do Adolescente, como estudamos no tomo do Direito de
Família. As dúvidas ficarão por conta da lei aplicável à época da morte, que rege a
capacidade para suceder (inclusive quanto as modificações introduzidas no Código de
1916 pela Lei n. 3.133/57). Como bem lembra Sílvio Rodrigues (1978, v. 7:7), os
direitos são adquiridos quando da abertura da sucessão, e a nova lei não pode afetar o
direito adquirido. [...] [...] Destarte, a plena igualdade sucessória dos descendentes ó
ocorre a partir da vigência da Constituição de 1988. As sucessões abertas a partir de
sua vigência seguem esses princípios de igualdade.

Diante de toda a exposição abordada, nota-se que a sucessão acompanha a família de


convívio do lar, e não mais a família consanguínea, mesmo que haja o contato entre os dois.
Quanto à herança do filho socioafetivo, ela é equiparada aos demais filhos, pois com o advento
da Constituição Federal de 1988, os filhos passaram a ter igualdade entre si.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sociedade, na constância de sua evolução, aprimorou-se, adaptando sua formação e


organização, fazendo com que as famílias fossem se reestruturando com base no afeto, lealdade,
respeito, solidariedade, confiança, carinho e no amor.
Com o advento da Constituição Federal de 1988 e a igualdade entre os filhos, as questões
familiares passaram a ser vistas de forma mais ampla, tanto em direitos, quanto em obrigações
entre os membros da família.
No Brasil, atualmente, tornaram-se comuns novos arranjos familiares, pais que, mesmo
não sendo os biológicos, passaram a amar, respeitar e educar crianças advindas de relações
anteriores de seus parceiros, como se fossem seus próprios filhos consanguíneos.
Assim, conclui-se que, consoante esse grande avanço nos arranjos familiares, em especial
as famílias recompostas, o ordenamento jurídico vem aderindo às novas mudanças para que a
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igualdade e a dignidade de todos fossem respeitadas, mostrando, assim, a importância e as


possibilidades jurídicas dos filhos registrados por seus pais biológicos poderem ser também
registrados pelos pais afetivos, obtendo, desse modo, os mesmos direitos referentes à filiação,
à sucessão, aos alimentos e à herança.

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