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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DO JUIZADO

ESPECIAL FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE BACABAL/MA

PROCESSO Nº. 1007357-31.2019.4.01.3703

JOSE VALDERY DA SILVA, devidamente qualificado nos autos em


epígrafe, que move em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO
SOCIAL, vem, tempestivamente, por seus Advogados que a esta subscrevem,
respeitosamente à presença de Vossa Excelência interpor:

RECURSO INOMINADO

Nos termos do art. 41,caput, da Lei 9.099/1.995, requerendo que seja


recebido e encaminhado à Egrégia Turma Recursal do Estado do Maranhão.

Termos em que,

Pede deferimento.

São Mateus do Maranhão/MA, 03 de fevereiro de 2022.

________________________________________
WANESSA PALOMA LIMA DE BRITO
OAB/MA – 21.172

________________________________________
RAMIRO MAYCON PLÁCIDO DE SOUZA
OAB/MA – 18.006
RAZÕES DO RECURSO INOMINADO

PROCESSO Nº. 1007357-31.2019.4.01.3703

Recorrente: JOSE VALDERY DA SILVA

Recorrido: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL

Egrégio Colégio Recursal

Colenda Turma

Ínclitos Julgadores

A respeitável sentença recorrida deve ser reformada, pois ocorrera


error in judicando quando o Juízo a quo não reconheceu a qualidade de
segurada especial da Recorrente, apesar do vasto conjunto probatório
anexado, bem como da prova produzida em audiência, como será
demonstrado a seguir.

I - Da tempestividade

Conforme dispostono art. 42, caput, da Lei 9.099/1.995, o recurso


inominado será interposto no prazo de 10 dias, contados da intimação do
Recorrente.

Dessa forma, tendo em vista que o termo final para a interposição do


presente recurso ocorre em 03/02/2022, verifica-se que é tempestivo.

II - Do cabimento

Nos termos do art. 5° da Lei 10.259/2001, caberá recurso de sentença


definitiva.

Desse modo, visto que se trata de sentença que julgou o mérito da ação,
cabe recurso inominado.

III - Da gratuidade da justiça


Cumpre inicialmente destacar que o Recorrente não possui condições
de arcar com os custos do processo sem prejuízo do seu sustento e de sua
família, razão pela qual requer que sejam mantidos os benefícios da justiça
gratuita, na forma do art. 98 e seguintes do código de processo civil, e do inciso
LXXIV do art. 5º da CF/88.

IV - Dos Fatos

O Recorrente, na qualidade de segurado especial, requereu benefício


de aposentadoria por idade rural n° 183.969.278-0, considerando que o mesmo
cumpre todos os requisitos para a concessão do benefício, quais sejam, idade
mínima de 60 (sessenta) anos e o exercício da atividade rural por 180 (cento e
oitenta) meses, junto ao INSS, ora Recorrido, tendo seu pedido indeferido sob
o argumento de que não fora comprovada a qualidade de segurado especial.

Diante da negativa da Autarquia Previdenciária, o Recorrente ajuizou


ação pleiteando a concessão do referido benefício e juntou diversos
documentos aptos a comprovar sua condição de rurícola, a exemplo da carteira
e ficha de sócio no sindicato dos trabalhadores rurais; recibos emitidos pelo
sindicato; certidão eleitoral; ficha de hospital; ficha de loja; ficha de matrícula;
declaração do proprietário da terra; declaração de exercício de atividade rural,
dentre outros, todos juntados aos autos.

Ademais, o Segurado juntou o inteiro teor da certidão de


nascimento de sua filha, na qual consta sua profissão como lavrador.
Assim, o Recorrente apresentou prova com fé pública, e mesmo assim, o
Juízo a quo julgou improcedentes os pedidos formulados na inicial sob o
fundamento de ausência de provas.

Ademais, o Recorrente juntou a carta de concessão de aposentadoria


por idade rural da sua companheira, a Sra. Maria Jose da Silva Moreira, a qual
recebe o aludido benefício desde 15/06/2016.

Importante destacar que, por equívoco, fora juntada a certidão de


casamento do Recorrente com sua ex-cônjuge, considerando que os
mesmos estão separados de fato há muitos anos.
Na audiência de conciliação, instrução e julgamento o Recorrente
apresentou segurança ao responder as perguntas sobre o labor rural, porém
estava nervoso e o Magistrado interpretou como insegurança.

Ademais, conforme extrato CNIS, o Autor já fora beneficiário de


pensão por morte rural, bem como em toda sua vida possui apenas 1 (um)
vínculo urbano de alguns meses entre 1991 e 1992, o que deixa ainda
mais evidente a condição de rurícola do Requerente.

Em sede de sentença, o Magistrado não reconheceu a qualidade de


segurado especial do Autor e julgou improcedentes os pedidos do Recorrente,
sob o argumento da falta de provas materiais no período da carência, in verbis:

Dispensado o relatório (art. 38 da Lei 9.099/95). Decido.

Pleiteia a parte autora a concessão do benefício de aposentadoria por idade na


qualidade de segurado especial, pleito negado pelo INSS sob a alegação de falta
de período de carência. O art. 48, §§ 1º e 2º, da Lei nº 8.213/91 exige para a
concessão deste tipo de benefício a idade mínima de 60 anos (homem) e 55 anos
(mulher) e o efetivo exercício de atividade pesqueira/rural pelo período de 180
meses, prazo de carência previsto no art. 142 da Lei 8.213/91.

Em seu depoimento pessoal, em Juízo, a parte autora não demonstrou


conhecimento ao ser questionada sobre questões relacionadas à rotina do
trabalho rural, o que não evidencia o efetivo labor campesino.

Ademais, mesmo que o depoimento tivesse sido convincente, “a prova


exclusivamente testemunhal não basta a comprovação da atividade rurícola, para
efeito da obtenção de benefício previdenciário” (S. 149/STJ), sendo que o início
de prova material deve ser contemporâneo à época dos fatos a provar (S.
34/TNU). No caso dos autos, não há início de prova material no período da
carência.

Analisando a documentação acostada aos autos, observa-se que o requerente


juntou documentos emitidos pelo SINTRAF, sem homologação feita pelo
INSS, certidão eleitoral, que, embora registre a profissão da parte, está
desacompanhada do espelho, sendo impossível verificar dados sobre revisões
capazes de influir acerca da legitimidade ou não do cadastro eleitoral como
início de prova, e declarações particulares, a exemplo de fichas em hospitais,
prontuários, lojas e escolas localizadas na cidade, que constituem única e
exclusivamente prova testemunhal instrumentalizada, não suprindo a
indispensabilidade de início de prova material, inclusive, pelo período de
carência necessário, em razão do mesmo entendimento aplicado para
declarações de labor rural em terra de terceiro e prestada por este.

Ante o exposto, REJEITO o pedido deduzido na inicial, resolvendo o mérito


nos termos do artigo 487, I, do NCPC.
Incabível condenação em custas e honorários advocatícios (art. 55, Lei
9.099/95).

Registrado e publicado eletronicamente.

Arquivem-se, oportunamente.

Entretanto, o Juízo a quo incorreu em erro de procedimento, pois no


caso de ausência de provas do labor rural, deve o Magistrado oportunizar a
parte emendar à inicial para que junte novas provas que o Juízo considere
aptas à concessão do benefício, pois a ausência de provas enseja a extinção
do processo sem resolução do mérito, e não o julgamento improcedente da
ação.

Assim, requer-se a nulidade da sentença e que seja aberto prazo para


que a Autora emende à inicial para juntar novas provas do labor rural.

Subsidiariamente, requer-se a REFORMA da sentença, haja vista que


o Juízo a quo incorreu em erro de julgamento ao desconsiderar as provas
rurais materiais anexadas, bem como a prova produzida em audiência.

V – Da fundamentação jurídica

V. 1 Da nulidade da sentença

O Juízo a quo, em sede de sentença, afirmou que o Recorrente não


apresenta as características de lavrador, posto que “não demonstrou
segurança e conhecimento ao ser questionada sobre questões relacionadas à
rotina do trabalho rural”.

Ocorre que, diferente do que dispõe a sentença, o Recorrente


demonstrou segurança e conhecimento sobre o labor rural, entretanto estava
nervoso, e o Magistrado interpretou o nervosismo como insegurança.

Ademais, a sentença assevera que o Recorrente não apresentou


provas materiais aptas a comprovar o labor rural.

O Magistrado fundamentou sua decisão nos termos da súmula 149 do


STJ a qual dispõe que “a prova exclusivamente testemunhal não basta a
comprovação da atividade rurícola, para efeito da obtenção de benefício
previdenciário”, contudo, o tema 629 do referido Tribunal dispõe que a
ausência de conteúdo probatório impõe sua extinção sem julgamento do mérito
e a consequente possibilidade de o autor intentar novamente a ação. Veja-se:

Tema Repetitivo 629: A ausência de conteúdo probatório eficaz a instruir a


inicial, conforme determina o art. 283 do CPC, implica a carência de
pressuposto de constituição e desenvolvimento válido do processo, impondo
sua extinção sem o julgamento do mérito (art. 267, IV do CPC) e a consequente
possibilidade de o autor intentar novamente a ação (art. 268 do CPC), caso
reúna os elementos necessários à tal iniciativa.

Desse modo, tendo em vista que a decisão do juízo a quo


contraria claramente jurisprudência consolidada do STJ, deve a sentença
ser anulada de modo a possibilitar a abertura de prazo para que o Autor
junte novas provas materiais que o Juízo considere aptas a comprovar o
exercício da atividade rural.

V.2 Da reforma da sentença

Caso não seja acolhido o pedido de nulidade da sentença, requer-


se sua reforma, haja vista que o Juízo a quo ao julgar o mérito
desconsiderou as provas materiais acostadas aos autos, as quais
comprovam de forma inequívoca o labor rural desenvolvido pelo Autor no
tempo da carência do benefício.

Com relação às provas materiais do labor rural do Autor, pode-se


citar a carteira e ficha de sócio no sindicato dos trabalhadores rurais;
recibos emitidos pelo sindicato; certidão eleitoral; ficha de hospital; ficha
de loja; ficha de matrícula; declaração do proprietário da terra; declaração
de exercício de atividade rural, dentre outros, todos juntados aos autos.

Ademais, o Segurado juntou o inteiro teor da certidão de


nascimento de sua filha, na qual consta sua profissão como lavrador.
Assim, o Recorrente apresentou prova com fé pública comprovando
exercício da atividade rural.
Ademais, o Recorrente juntou a carta de concessão de aposentadoria
por idade rural da sua companheira, a Sra. Maria Jose da Silva Moreira, a qual
recebe o aludido benefício desde 15/06/2016.

Destaca-se que o Recorrente desenvolveu suas atividades rurais em


regime de economia familiar com sua companheira, logo, o fato de a mesma
ser beneficiária do benefício de aposentadoria por idade rural, comprova o
labor rural desenvolvido pelo Recorrente, pois ambos desenvolviam suas
atividades rurais em regime de economia familiar.

Desse modo, verifica-se que estão atendidos os requisitos para a


concessão do benefício de aposentadoria por idade rural, visto que o
Recorrente apresentou provas materiais da sua atividade rural no período da
carência, bem como demostrou o labor rural desenvolvido pela sua
companheira em regime de economia familiar.

Ademais, conforme extrato CNIS, o Autor já fora beneficiário de


pensão por morte rural, bem como em toda sua vida possui apenas 1 (um)
vínculo urbano de alguns meses entre 1991 e 1992, o que deixa ainda
mais evidente a condição de rurícola do Requerente.

Nesse sentido, requer-se a reforma da sentença, tendo em vista que as


provas anexadas aos autos são suficientes para o reconhecimento da sua
atividade rural.

DOS PEDIDOS

Desse modo, requer-se:

1) O provimento do presente recurso, a fim de declarar a NULIDADE da


respeitável sentença, haja vista que a ausência de provas materiais a
comprovar o labor rural enseja a extinção da ação sem julgamento do mérito,
nos termos do Tema 629 do STJ, determinando-se o retorno dos Autos ao
Eminente Juízo de Primeiro Grau para que proceda com a abertura de prazo
para que o Autor emende a inicial para juntar os documentos rurais que o juízo
considere aptos a concessão do benefício; caso não acolhido o pedido de
nulidade, requer-se que seja reformada a sentença proferida no juízo
monocrático, que indeferiu o pedido de benefício de aposentadoria por idade
rural do Recorrente, e a consequente condenação do Recorrido a implantar o
benefício de aposentadoria por idade rural n° 183.969.278-0, bem como a
proceder com o pagamento dos valores atrasados desde a DER em
26/02/2019, com a devida aplicação de juros e correção monetária, haja vista
que o Recorrente apresentou diversas provas materiais do labor rural no
período da carência, bem como demostrou em audiência conhecimento sobre a
atividade rural.

2) Condenação em Honorários Advocatícios de sucumbência a serem


arbitrados em 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação;

3) A manutenção dos benefícios da Gratuidade de Justiça já deferidos


pelo Juízo a quo.

Nestes Termos,

Pede deferimento.

São Mateus do Maranhão, 03 de fevereiro de 2022.

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WANESSA PALOMA LIMA DE BRITO
OAB/MA – 21.172

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RAMIRO MAYCON PLÁCIDO DE SOUZA
OAB/MA – 18.006

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