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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA ___VARA DE

FAMÍLIA DA COMARCA DE CARIACICA ESTADO DO ESPÍRITO SANTO.


“O amor transcende o sangue”.
xxxxxxxxxx, casado, brasileiro, engenheiro, portador do RG de nº xxxxxxx SSP-ES, inscrito
sob o CPF de nº xxxxxxxxx, residente e domiciliado na Rua xxxxxx, nº 159, casa, Bairro
xxxxxxx, CEP 29.140-190, vem por intermédio de seu advogado (qualificaçã o),, onde
recebera intimaçõ es, sob pena de nulidade dos atos processuais decorrentes, (procuraçã o
em anexo) vem, com respeito e urbanidade e requerer com fulcro na lei Nº 11.924/09 e
art. 226 e 227§ 6º da Constituiçã o Federal e artigos 1593, 1605, III do Có digo Civil,
diante de Vossa Excelência propor,
AÇÃ O DE RECONHECIMENTO VOLUNTÁ RIO DE PATERNIDADE SO CIOAFETIVO.
Para reconhecer voluntariamente a paternidade só cioafetiva de:
xxxxxxxx, brasileira, portadora do CPF de nº xxxxxxxxxxxxxx e RG de nº xxxxxxxxx-ES,
menor impú bere, representada por sua genitora, a senhora xxxxxxxxxxxxxxx, brasileira,
casada, estudante, portador da Cédula de Identidade nº xxxxxxxx-SPTC-ES, e inscrito no
Cadastro de Pessoas Físicas sob o nº xxxxxxxxxx, residente e domiciliada na Rua xxxxxx, nº
159, casa, Bairro Jardim América, Cariacica - ES, CEP 29.140-190, e por xxxxxxxxxxxxx,
brasileiro, residente e domiciliado na rua xxxxxxx s/n, Praça xxxxxxxx, Itapemirim- ES, CEP
29.321.980, pelos fundamentos de fato e de direito a seguir alinhavados:
PRELIMINARMENTE

DA JUSTIÇA GRATUITA
Excelência, como consta em anexo, o requerente tem uma renda superior a três salá rios
mínimos. Todavia, foi juntado aos autos, comprovantes de gastos juntamente com suas
declaraçõ es de imposto de renda, das quais se extrai que o mesmo nã o pode suportar a
demanda sem prejuízo de seu sustendo e de sua família.
Desta feita, o requerente declara (declaraçã o em anexo de renda e seu contra cheque) nã o
ter condiçõ es de suportar o pagamento das custas sem prejuízo de seu pró prio sustento e
pleiteia a concessã o da gratuidade processual, prevista no inciso V do art. 3º da Lei nº
1.060/1950 c/c art. 5º, LXXIV da CF/88.
Nestes termos, aguarda Deferimento.
I-DOS FATOS
O requerente é casado com a senhora xxxxxxxxxxxx, como consta certidã o em anexo, desde
xxxxxxx, e conviveu sob a égide da uniã o está vel, desde meados de xxxxxx. Sempre cuidou
da filha de sua esposa, como se dele fosse. Tratando com muito amor e carinho da mesma
forma que dispensado a um filho bioló gico.
Sempre houve o desejo, tanto por parte da mã e, quanto por parte da filha de que o
requerente pudesse ter seu nome, como pai socioafetivo da menor XXXXXXXXXX.
Quando conheceu a mã e da requerida, a criança estava com pouco mais de xxxxx, e de lá
pra cá , vem custeando sua criaçã o, além de ter criado um forte laço que pode ser
comprovado com testemunhas e com o depoimento da pró pria criança. O autor tem muito
amor pela criança e a mesma também. Sendo mutua a vontade de ser concretizar a
paternidade só cioafetiva, de ambos e inclusive de sua esposa.
Sua preocupaçã o com o bem estar da criança é latente, como pode ver, nos autos existem
gastos que ele tem com a referida, como: escola particular, médico, nataçã o, dentista,
transporte e entre outros, todos pagos pelo requerente, que somados, chegam a três mil
reais ao mês, enquanto o pai bioló gico, paga cento e cinquenta reais de pensã o. Quem tem
mais dedicaçã o na criaçã o da criança?
O amor do autor pela criança é visível na sociedade onde convive, tanto é que poucas
pessoas sabem quem a mesma nã o é filha bioló gica do requerente. Além do que, a mesma
tem muita vontade de ter o nome do requerido como pai, já que, desde pequena, tem a
figura do requerente como sendo seu pai, já que o pai bioló gico, passa anos sem ver a
criança.
Devo pontuar que no caso em tela, o pai bioló gico, apesar de contribuir com a pensã o, viu a
criança pela ultima vez, quando ela tinha cinco anos de idade e hoje ela já conta com quase
dez anos. Nã o existe afetividade entre eles. Ela nunca passou férias ou qualquer data junto
ao pai ou a família dele.
Criou-se um laço muito forte entre a criança e autor que vai além do sangue, pois, como
todos nos sabemos, PAI é quem cria e dá amor. Se observar nos documentos acostados nos
autos, há uma vasta prova sobre o alegado sã o fotos de viagens, aniversá rios e inclusive do
seu casamento, onde a criança participa sendo dama de honra do casamento do autor com
sua mã e.
Amor é o que uni o ser humano. Ele que nos protege, nos orienta, nos consola é nosso porto
seguro.
Muito orgulho o homem deve ter de assumir seus sentimentos e mostrar que ama seu
pró ximo, independente de laço sanguíneo, assim como fez Jesus. Por essa razã o, por
questã o de direito e de dignidade da pessoa humana que se pede o reconhecimento
voluntario de paternidade socioafetivo.
É importante ressaltar que apesar do pai bioló gico, nada contribuir afetivamente, nã o se
busca destituir seu poder familiar. Tal pedido ficará ao futura para decisã o da criança.
II-DO MÉ RITO:
Antes de adentrar no mérito da questã o, gostaria de regressar a tempos primó rdios, com o
fito de demonstrar que a socioaftividade, apesar de ser recente no ordenamento jurídico
pá trio, já existe há muitos e muitos séculos atrá s. Se observar nos escritos bíblicos, Moisés
foi filho afetivo, assim como Jesus Cristo, conforme relata Lucas na Bíblia sagrada 1:1-23 ao
capitulo 1;52_80. Ele foi concebido pelo espírito santo. Contudo, foi José de Nazaré, seu pai
afetivo. Inclusive o registrou como filho, devido o decreto de Cesar Augusto, como constam
nas sagradas escrituras.
Voltando aos tempos atuais e no caso concreto, uma iniciativa tã o bonita como essa, que já
deveria de existir no mundo extrajudicial, em casos específicos, onde a criança já tem
registro com o nome do pai bioló gico, sem a necessidade de estimular o judiciá rio.
Nã o distante nossa constituiçã o, já veio retirando certos estigmas que afligiram nossa
sociedade por décadas.
Observa-se, V.ª Ex.ª, na legislaçã o pá tria uma constante evoluçã o na proteçã o da família. A
Constituiçã o Federal de 1988 acabou, por exemplo, com a diferença de tratamento entre os
filhos havidos dentro e fora do casamento, vedando quaisquer discriminaçõ es relativas à
origem da filiaçã o, como era feito na legislaçã o civil (a qual utilizava as expressõ es
ilegítimas, espú rias, incestuosas ou adulterinas).
Art. 227. § 6º: Os filhos havidos ou nã o da relaçã o do casamento, ou por adoçã o terã o os
mesmos direitos e qualificaçõ es, proibidas quaisquer designaçõ es discriminató rias
relativas à filiaçã o.
Outra situaçã o frequente na realidade nacional é o registro de uma criança por pessoa que
nã o é (sã o) sua (seus) genitor (es), que de tã o comum, originou a expressã o “adoçã o à
brasileira”.
O Có digo Civil, inclusive, protege os filhos fruto de fecundaçã o artificial (art. 1597). A
legislaçã o, portanto, apenas regulamentou oficialmente tais situaçõ es que já ocorriam de
fato e corriqueiramente no cotidiano de muitos brasileiros. Hoje, filhos sã o apenas filhos,
independentemente de terem sido concebidos dentro ou fora do matrimô nio, o que está em
absoluta consonâ ncia com o princípio constitucional da dignidade humana.
Da mesma forma, hoje nã o sã o poucos os casos em que, sem que haja uma formalizaçã o
(guarda, curatela, tutela, adoçã o), pessoas “adotam” crianças e as criam como se seus
pró prios filhos fossem.
Contudo, se a legislaçã o pá tria evoluiu no sentido de regulamentar os diversos tipos de
filiaçã o, falhava ao nã o tratar da posse do estado de filho como meio de comprovaçã o da
existência de laços afetivos na relaçã o de filiaçã o, o que indubitavelmente atenderia ao já
consagrado princípio do melhor interesse da criança, pois já nã o é apenas o vínculo
bioló gico que configura a filiaçã o.
Até que veio a lei 11.424/09, criada pelo entã o deputado e já falecido Clodovil Hernandes,
que criou e foi sancionada pelo ex. presidente Luiz Iná cio Da Silva Da Silva.
Que expressa:
Art. 2º O art. 57 da Lei no 6.015, de 31 de dezembro de 1973, passa a vigorar acrescido do
seguinte § 8º:
“Art. 57.
§ 8º O enteado ou a enteada, havendo motivo ponderá vel e na forma dos §§ 2º e 7º deste
artigo, poderá requerer ao juiz competente que, no registro de nascimento, seja averbado o
nome de família de seu padrasto ou de sua madrasta, desde que haja expressa
concordâ ncia destes, sem prejuízo de seus apelidos de família.” (grifo nosso).
No caso em tela entendemos ser possível a aplicaçã o do disposto de forma aná loga. Ou seja:
o padrasto ou madrasta, com consentimento dos enteados, também requerer o que dispõ e
na lei.
Devido o grande clamor da sociedade evoluída, como exemplo as vá rias decisõ es judiciais
em que se reconhece o laço afetivo superior ao laço bioló gico em açõ es de investigaçã o de
paternidade (jurisprudência acrescentada ao final). Assim, o interessado em ver
reconhecido o laço socioafetivo, ou tenta fazê-lo de forma voluntá ria ou recorre ao Poder
Judiciá rio. No presente caso, o pai socioafetivo requer de forma voluntaria o
reconhecimento de sua paternidade.
O novo posicionamento acerca da verdadeira paternidade nã o despreza o liame bioló gico
da relaçã o paterno-filial, mas dá notícia do incremento da paternidade socioafetiva, da qual
surge um novo personagem a desempenhar o importante papel de pai: o pai social, que é o
pai de afeto, aquele que constró i uma relaçã o com o filho, seja bioló gica ou nã o, moldada
pelo amor, dedicaçã o e carinho constantes” (Almeida, Maria Cristina de Investigaçã o de
Paternidade e DNA: Aspectos Polêmicos. 2001, p.159-60, citada por Juliana Brito Mendes
de Barros .
Nã o obstante as dificuldades existentes pode-se observar no Có digo Civil um amparo para
que seja observado o laço afetivo como elemento configurador do estado de filiaçã o: Dispõ e
o art. 1593:
Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra
origem.
A legislaçã o, portanto, nã o excluem da formaçã o do liame de filiaçã o os laços socioafetivos.
“Também no art. 1.605, inciso II do mesmo Có digo:”
Art. 1.605. Na falta, ou defeito, do termo de nascimento, poderá provar-se a filiaçã o por
qualquer modo admissível em direito: (...)
II -quando existirem veementes presunçõ es resultantes de fatos já certos.”
Depreende-se, portanto, que a lei privilegia situaçõ es de fatos já certos, como o presente
caso, segundo se comprova com a documentaçã o coligida com esta inicial e as demais
provas a serem produzidas no decorrer da instruçã o.
Entende-se por verdade socioló gica, a constataçã o de que ser pai ou mã e, nã o se pauta
apenas no vínculo genético com a criança, mas naquela pessoa que cria, educa, dá amor,
carinho, dignidade e condiçã o de vida, realmente exercendo a funçã o de pai ou de mã e
levando em consideraçã o o melhor interesse da criança.
Nota-se que muitas vezes os laços de afetividade que unem pai e filho, sã o mais fortes que
os vínculos consanguíneos que, porventura, possam existir. “(Idem) Das características da
posse do estado de filho Doutrinariamente, sã o três elementos que caracterizam o estado
de filho: nome, trato e fama”.
Com relaçã o ao trato, deve ser observado se a pessoa que criou o filho de criaçã o, o tratava
como filho; em outras palavras, se dispensava os mesmos cuidados com o filho de criaçã o
que dispensava aos filhos bioló gicos, dando as mesmas condiçõ es, carinho, afeto. Que nesse
caso, é bem claro. Por fim, com relaçã o à fama, deve ser atentado se a pessoa que “adotou”
outra externava sua atitude de pai ou mã e, de modo que a sociedade e o círculo de
relacionamentos do “adotante” reconheça este tratamento, o que será devidamente
comprovado no momento adequado.
Nã o obstante as provas as serem produzidas no momento oportuno, o requerente junta aos
autos, testemunhas que comprovam o relacionamento ora alegado e suas assertivas,
demonstrando que tem muito amor pela requerida.
Ademais, o requerido sempre foi o responsá vel pela educaçã o da requerida e esta sempre
esteve ao seu lado, ele que a acompanha na escola, medico passeios de fim de semana,
reuniõ es escolares.
O Desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Dr. José Carlos Teixeira
Giorgis – no julgamento da Apelaçã o Civil 70008795775 explanou que“ a paternidade
socioló gica é um ato de opçã o, fundando-se na liberdade de escolha de quem ama e tem
afeto, o que nã o acontece, à s vezes, com quem apenas é a fonte geratriz. Embora o ideal seja
a concentraçã o entre as paternidades jurídica, bioló gica e socioafetiva, o reconhecimento
da ú ltima nã o significa o desapreço à biologizaçã o, mas atençã o aos novos paradigmas
oriundos da instituiçã o das entidades familiares. Uma de suas formas é a “posse do estado
de filho‟, que é a exteriorizaçã o da condiçã o filial, seja por levar o nome, seja por ser aceito
como tal pela sociedade, com visibilidade notó ria e pú blica. Liga-se ao princípio da
aparência, que corresponde a uma situaçã o que se associa a um direito ou estado, e que dá
segurança jurídica, imprimindo um cará ter de seriedade à relaçã o aparente. Isso ainda
ocorre com o „estado de filho afetivo‟, que além do nome, que nã o é decisivo, ressalta o
tratamento e a reputaçã o, eis que a pessoa é amparada, cuidada e atendida pelo indigitado
pai, como se filho fosse”.
Citem-se os seguintes julgados anteriores a vigência da lei 11.924/09, que já vislumbravam
que o vínculo socioafetivo nã o é tema novo nem alheio aos tribunais pá trios:
PENSÃ O– FILHA DE CRIAÇÃ O DE MILITAR– DIVISÃ O DO BENEFÍCIO. Comprovado,
mediante justificaçã o judicial, condiçã o de filha de criaçã o do instituidor militar, e sendo
esta equiparada a filha adotiva, a apelante faz jus ao recebimento da pensã o em igualdade
de condiçõ es com sua mã e. (TRF-2ª Regiã o– Ap. Cív. 910210227-7-RJ–Acó rdã o COAD
61938– 1ª Turma– Relª Juíza Lana Regueira– Publ. em 18-3-93) PENSÃ O– MÃ E DE
CRIAÇÃ O– DEFERIMENTO. O artigo 147, III, da Lei Complementar 180/78, ao se referir a
„pais‟nã o tem apenas um sentido bioló gico. Restrito, portanto. A expressã o contida na Lei
encerra um sentidofinalístico, teleoló gico. Abarca a palavra „pais‟, sem dú vida alguma,
também aqueles que criaram, como se filho fosse, o servidor falecido. Afinal, mã e nã o é
quem deu alguém à luz. Mas sim quem cria uma criança como se filho seu fosse. É sabença
popular. (TJ-SP– Ap. Cív. 133.401-5/4– Acó rdã o COAD 108382– 5ª Câ m. de Direito Pú blico–
Rel. Des. Alberto Gentil–Julg. em 4-9-2003) FILHO DE CRIAÇÃ O–ADOÇÃ O–
SOCIOAFETIVIDADE. No que tange à filiaçã o, para que uma situaçã o de fato seja
considerada como realidade social (socioafetividade), é necessá rio que esteja efetivamente
consolidada. A posse do estado de filho liga-se à finalidade de trazer para o mundo jurídico
uma verdade social. Diante do caso concreto, restará ao juiz o mister de julgar a ocorrência
ou nã o de posse de estado, revelando quem efetivamente sã o os pais. (...). (TJ-RS– Ap. Cív.
70007016710– 8ª Câ m. Cív.– Rel. Des. Rui Portanova– Julg. em 13-11-2003). ADOÇÃ O
PÓ STUMA– (...)– FILIAÇÃ O SÓ CIO-AFETIVA. Abrandamento do rigor formal, em razã o da
evoluçã o dos conceitos de filiaçã o só cio-afetiva e da importâ ncia de tais relaçõ es na
sociedade moderna. Precedentes do STJ. Prova inequívoca da posse do estado de filho em
relaçã o ao casal. Reconhecimento de situaçã o de fato preexistente, com prova inequívoca
de que houve adoçã o tá cita, anterior ao processo, cujo marco inicial se deu no momento em
que o casal passou a exercer a guarda de fato do menor. Princípio da preservaçã o do
melhor interesse da criança, consagrado pelo ECA. Reconhecimento da maternidade para
fins de registro de nascimento. Provimento do recurso. (TJ-RJ– Ap. Cív. 2007.001.16970–
17ª Câ m. Cív.–= Rel. Des. Rogério de Oliveira Souza– Julg. em 13-6-2007).
Os tribunais atuais a jurisprudência também é cediça:
APELAÇÃ O CÍVEL ¿ AÇÃ O DECLARATÓ RIA DE PATERNIDADE E MATERNIDADE SÓ CIO-
AFETIVA CUMULADA COM RETIFICAÇÃ O DE REGISTRO PÚ BLICO ¿ SENTENÇA
TERMINATIVA ¿ IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO DECRETADA EM FACE DA
AUSÊ NCIA DE DECLARAÇÃ O ESCRITA DEMONSTRANDO O INTERESSE DOS PAIS DE
CRIAÇÃ O EM ADOTAR. RECURSO DA AUTORA COM O FITO DE VER RECONHECIDA A
POSSIBILIDADE JURÍDICA DO MANEJO DA AÇÃ O ¿ SUBSISTÊ NCIA ¿ PEDIDO DE
RECONHECIMENTO JURÍDICO DE VÍNCULO SÓ CIO-AFETIVO QUE TEM AMPARO EM
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ¿ RECURSO PROVIDO. 1- A tendência atual do Direito, e
mais especificamente do Direito de Família, é a de gradativamente abandonar as formas
jurídicas rígidas e em confronto com a realidade social em nome da satisfaçã o da plena
liberdade de desenvolvimento dos cidadã os no seio social. 2- Longe das antigas fó rmulas de
cará ter patrimonialista ¿ onde os casamentos eram ajustados pelo patriarca, e as mulheres
estavam submetidas ao alvedrio do pai ou marido ¿, apó s as conquistas feministas e a
regulamentaçã o do divó rcio, há algumas décadas a família baseia-se na livre vontade dos
parceiros em manter laços de cunho afetivo. Essa nova realidade, por mais que nã o esteja
completamente consolidada em nossa legislaçã o positiva, nã o pode ser desprezada pelo
intérprete do Direito. A funçã o do Poder Judiciá rio, nesses casos, é a de resguardar a
liberdade dos cidadã os de agruparem-se conforme seus interesses afetivos, conferindo-lhes
a proteçã o jurídica (e porque nã o patrimonial) digna, tal qual lhes seria igualmente
conferida se o agrupamento (a família) pudesse ser enquadrado na forma tradicional. 3-
Em 1988 a novel Constituiçã o deu um primeiro passo na seara do reconhecimento jurídico
das entidades familiares estabelecidas tã o-somente com base no afeto ao emprestar a
devida proteçã o do Direito à Uniã o Está vel. A partir de entã o houve um deslocamento do
conceito jurídico de família para a uniã o de pessoas decorrente do vínculo de afeto, e nã o
simplesmente na uniã o jurídica advinda do ato formal representado pelo casamento. Com
base nesta inovaçã o legal ¿ engendrada pela Constituiçã o ¿, combinada com a aplicaçã o
prá tica do Princípio da Dignidade Humana, plenamente possível emprestar cará ter oficial
ao Estado de Filiaçã o nascido e desenvolvido simplesmente com base no afeto. 4- É
inexorá vel o reconhecimento judicial de que a família na sociedade contemporâ nea é fruto
muito mais do afeto e do sentimento de humanidade do que do DNA.
(TJ-SC - AC: 182795 SC 2006.018279-5, Relator: Denise Volpato, Data de Julgamento:
18/03/2010, Primeira Câ mara de Direito Civil, Data de Publicaçã o: Apelaçã o Cível n. , de
Porto Uniã o)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃ O DECLARATÓ RIA DE PATERNIDADE SOCIOAFETIVA.
ANTECIPAÇÃ O DE TUTELA. AVERBAÇÃ O NA MATRÍCULA DOS IMÓ VEIS. NECESSÁ RIA
CAUTELA DE MODO A RESGUARDAR EVENTUAL INTERESSE DA AGRAVANTE EM CASO DE
SUCESSO DA DEMANDA, O QUE, NO ENTANTO, NÃ O PODE OBSTAR O EXERCÍCIO DO
DIREITO DE PROPRIEDADE PELA INSURGENTE. DETERMINADA A AVERBAÇÃ O NA
MATRÍCULA DOS IMÓ VEIS A EXISTÊ NCIA DA PRESENTE AÇÃ O, DESNECESSÁ RIA A ORDEM
DE ABSTENÇÃ O DE ALIENAÇÃ O. AGRAVO PROVIDO EM PARTE. (Agravo de Instrumento
Nº 70053581245, Sétima Câ mara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Liselena Schifino
Robles Ribeiro, Julgado em 11/03/2013)
(TJ-RS - AI: 70053581245 RS, Relator: Liselena Schifino Robles Ribeiro, Data de
Julgamento: 11/03/2013, Sétima Câ mara Cível, Data de Publicaçã o: Diá rio da Justiça do dia
15/03/2013)
Vejamos esse exemplo de julgado onde familiares contestavam o vinculo de um filho
socioafetivo.
Para a Ministra Nancy Andrighi, paternidade só cio-afetiva e bioló gica sã o conceitos
diversos e a ausência de uma nã o afasta a possibilidade de se reconhecer a outra.
Em outubro de 2001, O. de S.B., irmã de M.S.B., ajuizou açã o declarató ria de inexistência de
parentesco alegando que A.C.M.B. nã o era sua sobrinha bioló gica e que o reconhecimento
feito antes do falecimento do irmã o teria sido simulado, caracterizando falsidade
ideoló gica. O TJDF julgou o pedido procedente para anular o registro civil e determinar a
retirada do sobrenome paterno e a exclusã o do nome dos avó s paternos. A.C.M.B. interpô s
embargos de declaraçã o que foram rejeitados pelo Tribunal.
No recurso especial ajuizado no STJ, A.C.M.B. sustentou que, enquanto o TJDF reconheceu a
ausência de paternidade bioló gica como causa suficiente para a anulaçã o do registro civil,
outros Tribunais teriam considerado tal fato irrelevante quando ausentes quaisquer vícios
do ato jurídico, como erro, dolo, simulaçã o, coaçã o e fraude, mas presente a filiaçã o só cio-
afetiva. Observou, ainda, que, com a manutençã o do acó rdã o recorrido, os bens que lhe
foram deixados como legítima seriam herdados pela tia.
Acmpanhando o voto da relatora, ministra Nancy Andrighi, a Turma, por unanimidade,
entendeu que a ausência de vínculo bioló gico é fato que, por si só , nã o revela a falsidade da
declaraçã o de vontade consubstanciada no ato do reconhecimento, já que a relaçã o só cio-
afetiva nã o pode ser desconhecida pelo Direito.
O voto:
Em seu voto, a relatora detalhou a evoluçã o legislativa e jurídica do conceito de filiaçã o e
citou jurisprudência e precedentes que permitiram o amplo reconhecimento dos filhos
ilegítimos. Nancy Andrighi reconheceu que o STJ vem dando prioridade ao critério
bioló gico para o reconhecimento da filiaçã o nas circunstâ ncias em que há dissenso familiar,
em que a relaçã o só cio-afetiva desapareceu ou nunca existiu.
Nã o se podem impor os deveres de cuidado, de carinho e de sustento a alguém que, nã o
sendo o pai bioló gico, também nã o deseja ser pai só cio-afetivo. Mas, se o afeto persiste de
forma que pais e filhos constroem uma relaçã o de mú tuo auxílio, respeito e amparo, é
acertado desconsiderar o vínculo meramente sanguíneo, para reconhecer a existência de
filiaçã o jurídica”, ressaltou a ministra em seu voto.
De acordo com os autos, mesmo ciente de que nã o era o pai bioló gico de A.C.M.B., M.S.B.
criou-a como filha desde o seu nascimento, em 1980, e optou por reconhecê-la como tal,
muito embora nã o fosse seu genitor. Segundo a ministra, o que existe no caso julgado é um
pai que quis reconhecer a filha como se sua fosse e uma filha que aceitou tal filiaçã o. “Nã o
houve dissenso entre pai e filha que conviveram, juntamente com a mã e, até o falecimento.
Ao contrá rio, a longa relaçã o de criaçã o se consolidou no reconhecimento de paternidade
ora questionada em juízo.”
Assim, por unanimidade, a Turma deu provimento ao recurso especial para cassar o
acó rdã o recorrido, julgar improcedente a açã o declarató ria de inexistência de parentesco
ajuizada pela tia e inverter os ô nus pelo pagamento de todos os gastos decorrentes da
atividade processual. O STJ também reformou a decisã o do TJDF que impô s à recorrente o
pagamento de multa pela interposiçã o de embargos de declaraçã o com intuito
procrastinató rio. Para o STJ, os embargos tinham nítido cará ter de prequestionamento.
No STJ a jurisprudência também confirma a atual posiçã o da afetividade:
RECONHECIMENTO DE FILIAÇÃ O. AÇÃ O DECLARATÓ RIA DE NULIDADE. INEXISTÊ NCIA
DE RELAÇÃ O SANGÜ ÍNEA ENTRE AS PARTES. IRRELEVÂ NCIA DIANTE DO VÍNCULO
SÓ CIO-AFETIVO. - Merece reforma o acó rdã o que, ao julgar embargos de declaraçã o, impõ e
multa com amparo no art. 538, par. ú nico, CPC se o recurso nã o apresenta cará ter
modificativo e se foi interposto com expressa finalidade de prequestionar. Inteligência da
Sú mula 98, STJ. - O reconhecimento de paternidade é vá lido se reflete a existência
duradoura do vínculo só cio-afetivo entre pais e filhos. A ausência de vínculo bioló gico é fato
que por si só nã o revela a falsidade da declaraçã o de vontade consubstanciada no ato do
reconhecimento. A relaçã o só cio-afetiva é fato que nã o pode ser, e nã o é, desconhecido pelo
Direito. Inexistência de nulidade do assento lançado em registro civil. - O STJ vem dando
prioridade ao critério bioló gico para o reconhecimento da filiaçã o naquelas circunstâ ncias
em que há dissenso familiar, onde a relaçã o só cio-afetiva desapareceu ou nunca existiu.
Nã o se pode impor os deveres de cuidado, de carinho e de sustento a alguém que, nã o
sendo o pai bioló gico, também nã o deseja ser pai só cio-afetivo. A contrario sensu, se o afeto
persiste de forma que pais e filhos constroem uma relaçã o de mú tuo auxílio, respeito e
amparo, é acertado desconsiderar o vínculo meramente sanguíneo, para reconhecer a
existência de filiaçã o jurídica. Recurso conhecido e provido.
(STJ - REsp: 878941 DF 2006/0086284-0, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de
Julgamento: 21/08/2007, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicaçã o: DJ 17.09.2007 p.
267)
O modelo de família atual, nã o mais se coaduna com a antiga família romana, a qual perdeu
a força com o decorrer do tempo, tirando do pater famílias o poder de decidir sobre a vida
de seus familiares. O ideal de igualdade entre os pais e os filhos aparece como novo
conceito de família, baseado na dignidade humana, na afetividade, com uma convivência
voluntá ria garantindo a harmonia, passando de um cará ter natural para o cultural.
Cristiano Chaves de Farias expõ e que:
“A entidade familiar deve ser entendida, hoje, como grupo social fundado, essencialmente,
em laços de afetividade, pois a outra conclusã o nã o se pode chegar à luz do Texto
Constitucional, especialmente do artigo 1º, III, que preconiza a dignidade da pessoa
humana como princípio vetor da Repú blica Federativa do Brasil”. (FARIAS, Cristiano
Chaves de. Direito Constitucional à família: Um bosquejo para uma aproximaçã o conceitual
à luz da legalidade Constitucional. Revista Brasileira de Direito de Família. Porto Alegre:
IBDFAM, p.15, 2004. v.23).
De acordo com Maria Berenice Dias, a filiaçã o socioafetiva corresponde à verdade aparente
e decorre do direito à filiaçã o. O filho é titular do estado de filiaçã o, que se consolida na
afetividade. Nã o obstante, o art. 1.593 evidencia a possibilidade de diversos tipos de
filiaçã o, quando menciona que o parentesco pode derivar do laço de sangue, da adoçã o ou
de outra origem, cabendo assim à hermenêutica a interpretaçã o da amplitude normativa
previsto pelo CC de 2002 (DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito de Família. Sã o Paulo,
Revista dos Tribunais, 2007, p. 334).
Funçã o do pai socioafetivo:
É dever do pai dar assistência criaçã o e educaçã o aos filhos menores e, inversamente, os
filhos maiores têm o dever de ajudar os pais na velhice. Sendo assim, a família existe
enquanto local onde persiste a reciprocidade.
Trata-se da paternidade responsá vel, positivada pela CF/88, em seu artigo 226, pará grafo
7º. O presente artigo prevê a paternidade responsá vel fundada no princípio da dignidade
da pessoa humana.
Rubens Alves, em sua obra leciona que:
“Pai é alguém que, por causa do filho, tem sua vida inteira mudada de forma inexorá vel.
Isso nã o é verdadeiro do pai bioló gico. É fá cil demais ser pai bioló gico. Pai bioló gico nã o
precisa ter alma. Um pai bioló gico se faz num momento. Mas há um pai que é um ser da
eternidade: aquele cujo coraçã o caminha por caminhos fora do seu corpo. Pulsa,
secretamente, no corpo do seu filho (muito embora o filho nã o saiba disso).”
Continua:
Torna-se de fundamental importâ ncia a presença do pai, para o desenvolvimento do filho,
embora nã o haja previsã o expressa em lei. Contudo, as inú meras obras, as decisõ es
singulares e as jurisprudências atuais caminham num mesmo sentido: efetivar o afeto
como pressuposto fundamental para determinaçã o das relaçõ es familiares,
especificamente para o reconhecimento da paternidade.
A paternidade está direcionada a um vínculo de afeto, um ato de amor e desapego material.
Ser pai, nã o é apenas possuir vínculo genérico com o filho, é estar presente no cotidiano,
instruindo, amparando, dando amor, protegendo, educando, preservando os interesses e o
bem estar social do filho.
(…)
O artigo 22 do ECA, dispõ e que: “aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educaçã o
dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigaçã o de cumprir e fazer
cumprir as determinaçõ es judiciais”.
E finaliza:
Analisando o dispositivo, verifica-se, que a legislaçã o previu as responsabilidades
incumbidas aos pais, no entanto, deixou para doutrina dinamizar e especificar como se
exercer esse dever, haja vista, que a essência de ser pai, como anteriormente mencionado,
está além do dever material para com o filho. É , antes de tudo, amar, dar condiçõ es para
que a criança desenvolva-se em um meio sadio, produtivo, harmonioso.(ALVES, Rubem. Um
mundo num grã o de areia: o ser humano e seu universo. Campinas: Verus, 2002, p.37).
Transcrevendo o entendimento de Joã o Baptista Villela:
“A consanguinidade tem, de fato e de direito, um papel absolutamente secundá rio na
configuraçã o da paternidade. Nã o é a derivaçã o bioquímica que aponta para a figura do pai,
senã o o amor, o desvelo, o serviço com que alguém se entrega ao bem da
criança.”(VILLELA, Joã o Baptista. Repensando o Direito de Família. Cadernos jurídicos, Sã o
Paulo, v.3, n. 7, jan./fev. 2002, p. 95).
A funçã o do pai socioafetivo difere do pai meramente bioló gico, nã o atuante, do ponto de
vista afetivo.
Acerca da matéria, Maria Cristina de Almeida leciona o seguinte:
“O reconhecimento de situaçõ es fá ticas representadas por nú cleos familiares recompostos
vem trazer novos elementos sobre a concepçã o da paternidade, compreendendo, a partir
deles, o papel social do pai e da mã e, desapegando-se do fator meramente bioló gico e
ampliando-se o conceito de pai, realçando sua funçã o psicossocial. A vinculaçã o
socioafetiva prescinde da paternidade bioló gica. No sentido da paternidade de afeto, o pai é
muito mais importante como funçã o do que, propriamente, como genitor.” (ALMEIDA,
Maria Christina. Investigaçã o de paternidade e DNA: aspectos polêmicos.. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2001, p. 142).
A doutrina majoritá ria colaciona sobre o tema diversas vertentes, apontando para
prevalência da paternidade socioafetiva, através de sua essência, que é o afeto, presente
nas relaçõ es, cada vez mais plú rimas e complexas. As teses apresentadas corroboram para
o entendimento pleno de que o afeto possui um valor jurídico, unindo pai e filho,
independentemente de existir ou nã o, vínculo bioló gico.
É através do afeto que todo o círculo jurídico encontra embasamento para efetivaçã o do
direito à socioafetividade, vislumbrado do ponto de vista fá tico, devendo ser aplicado, pelo
legislador brasileiro, caso a caso. A realidade jurídica deste tipo de perfilhaçã o, ainda em
construçã o no ordenamento pá trio, encontra divergências no plano concreto, em virtude
das repercussõ es quanto ao reconhecimento da paternidade no â mbito patrimonial.
Pensamentos contemporâ neos como o de Fernanda Barros, trazem a ideia que:
“Todo laço revestido de afeto poderá ser chamado de laço familiar. Nã o é um
espermatozoide que define o que é um pai e nem o fato de uma mã e gestar um filho em seu
ventre que garante a maternidade. Também nã o veremos brotar da letra fria da lei, um pai,
uma mã e, ou uma família para um filho [...].(”BARROS, Fernanda Otoni de. Sobre o melhor
interesse da criança. Disponível em: < http://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo).
Heloísa Helena Barbosa explica que:
“O reconhecimento da paternidade afetiva nã o configura uma concessã o do direito ao laço
de afeto, mas uma verdadeira relaçã o jurídica que tem por fundamento o vínculo afetivo,
ú nico, em muitos casos, capaz de permitir à criança e ao adolescente a realizaçã o dos
direitos fundamentais da pessoa humana e daqueles que lhes sã o pró prios.” (BARBOSA,
Heloísa Helena. Novas relaçõ es de filiaçã o e paternidade. In Repensando o direito de
família. Rodrigo da Cunha Pereira. Belo Horizonte: Del Rey, 1999, p. 140).
Por fim, confira-se o que acentua Nogueira:
“O verdadeiro sentido nas relaçõ es pai-mã e-filho transcende a lei e o sangue, nã o podendo
ser determinadas de forma escrita nem comprovadas cientificamente, pois tais vínculos sã o
mais só lidos e mais profundos, sã o invisíveis aos olhos científicos, mas sã o visíveis para
aqueles que nã o têm os olhos limitados, que podem enxergar os verdadeiros laços que
fazem de alguém um pai: os laços afetivos, de tal forma que os verdadeiros pais sã o os que
amam e dedicam sua vida a uma criança, pois o amor depende de tê-lo e de dispor a dá -lo.
Pais, conforto, sendo estes para os sentidos dela o seu “porto seguro”. Esse vínculo, por
certo, nem a lei nem o sangue garantem.(NOGUEIRA, Jaqueline Filgueiras. A Filiaçã o que se
constró i: O reconhecimento do afeto como valor jurídico. Sã o Paulo: Memó ria Jurídica,
2001, p.84 e 85).
Com veemência que o afeto nã o é fruto da biologia. Os laços de afeto, carinho e de
solidariedade derivam da convivência e nã o do sangue. A filiaçã o socioafetiva pode até
nascer de indício, mas toma expressã o na prova; nem sempre se apresenta desde o
nascimento vindo a florescer com o tempo.
A atual jurisprudência manifesta-se no sentido que os princípios constitucionais devem
preencher as lacunas existentes no Direito de Família, decorrente da família mutante,
utilizando-se do fenô meno da posse de estado de filho, valorado em detrimento das
questõ es patrimoniais. Dessa forma, prevalece no entendimento dos Tribunais, o afeto
como um fator determinante e autô nomo, da paternidade.
Nã o poderia de citar a bela explanaçã o de nossa ilustre mestra no â mbito de família,
Maria Helena Diniz:
“Nã o se será pai em razã o de uma decisã o judicial, porque para sê-lo é preciso: a) querer
bem a prole, estando presente em todos os momentos; b) ser o farol que o guia nas relaçõ es
com o mundo; e c) constituir o porto firme que o abriga nas crises emocionais e nas
dificuldades da vida. Pai é quem cria e educa. A relaçã o paterno-filial nã o se esgota na
hereditariedade, mas em fortes liames afetivos, numa trajetó ria marcada por alegrias e
tristezas, podendo ser oriunda da verdade socioafetiva”. (DINIZ, Maria Helena. Curso de
direito civil brasileiro – Direito de Família – Sã o Paulo: Saraiva, 2007, p.477).
Diante da abastada jurisprudência e doutrina, para que nã o fique duvida a cerca do direito
e da vontade das partes é que se pede por questã o de JUSTIÇA, Vossa Excelência, em seu
douto conhecimento libado, vem a sua presença requerer humildemente a procedência do
pedido.
III-DO PEDIDO,
Por todo o exposto, o requerente requer:
a) O deferimento da gratuidade processual;
b) Que a açã o seja julgada procedente para declarar a paternidade socioafetiva da
requerida, em relaçã o ao autor e, consequentemente seja reconhecida como filha para
todos os efeitos legais, sem distinçã o, com a devida inclusã o no registro de nascimento,
passando a se Chamar : xxxxxxxxx.
c) A citaçã o da requerida, por meio de seus representantes legais, no endereço citado, para
que venha compor o polo passivo da presente açã o, apresentando, defesa, com os efeitos da
revelia e confissã o previstos no CPC.
d) Cite o Ilustre representante do Ministério Pú blico, para tomar ciência da presente açã o e
se manifestar sobre a mesma,
e) Requer provar o alegado por todos os meios de provas admitidas em direito, pelos
documentos juntados com a inicial, outros documentos necessá rios a contrapor eventuais
argumentos da defesa, testemunhais, periciais que sejam precisos para o deslinde completo
da lide.
Dá -se a causa o valor de R$ 880,00 (oitocentos e oitenta reais), apenas para efeito de
alçada, visto que o objeto do pedido nã o tem conteú do econô mico.
Abaixo segue o rol de testemunhas,
Nestes termos,
Pede urgente deferimento.
Cariacica /ES, 10 de fevereiro de 2015.
Péricles Demó stenes Dias Pinto.
OAB-ES 23.403
Testemunhas:

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