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SENTENÇA

Processo nº: 1111040-67.2016.8.26.0100


Classe – Assunto: Procedimento Comum - Planos de Saúde
Requerente: Maria da Silva
Requerido: João dos Santos
Juiz de Direito: Dr. Edgar Tearles Hecke

Qualificação das partes

Maria da Silva, brasileira, solteira, desempregada inscrita no CPF sob o n.


111.111.111-12, residente e domiciliada na Rua das Flores nº 112, no Bairro
Boa Vista, em Rio do Sul – SC, CEP 89.161-111, endereço eletrônico
MS@gmail.com.br. e

João dos Santos, brasileiro, solteiro, empresário, inscrita no CPF sob o n.


222.000.111-20, residente e domiciliada na Rua das Araucárias nº 32, no
Bairro Centro, em Rio do Sul – SC, CEP 89.154.085, endereço eletrônico
joaozinho85@gmail.com.br.

Vistos.

RELATÓRIO
Trata-se de Ação de alimentos gravídicos, alegando a autora ter
mantido com o requerido relação amorosa pelo período de 3 anos. Em janeiro
de 2020 o casal resolveu por fim a relação. Desta união, resultou a gestação,
sendo que o réu tem ciência da gravidez, porém se recusa a contribuir com
as despesas. Requer a autora ainda, a fixação de alimentos gravídicos no
importe de 30% do salário mínimo.

A referida decisão interlocutória condenou o réu ao pagamento de


pensão alimentícia a requerente, mensalmente, no valor correspondente a
30% dos rendimentos do Requerido, até o dia 10 de cada mês, mediante
desconto em folha, retroagindo os valores à data da concepção (fls. 54/55)
O Requerido interpôs agravo de instrumento sustentando que os
elementos trazidos aos autos não são suficientes para a fixação dos alimentos
provisórios, não havendo fortes indícios da suposta paternidade, o que não
se pressupõe da leitura isolada dos documentos de fls. 16/28, pois as
mensagens demonstram apenas uma relação esporádica entre as partes,
devendo ser afastada a condenação, ou, subsidiariamente reduzido o valor da
obrigação para 15% do salário mínimo.

É o relatório. Passo a decidir.

FUNDAMENTAÇÃO

A Lei nº 11.804/08 estabelece a possibilidade de a gestante pleitear,


junto ao suposto pai do nascituro, a prestação de alimentos que custeiem as
despesas decorrentes da gravidez.

O artigo 2º, parágrafo único, do referido Diploma assim dispõe: “Os


alimentos de que trata este artigo referem-se à parte das despesas que deverá
ser custeada pelo futuro pai, considerando-se a contribuição que também
deverá ser dada pela mulher grávida, na proporção dos recursos de ambos.”

Consoante o entendimento do Superior Tribunal de Justiça os


alimentos gravídicos “os alimentos gravídicos, previstos na Lei n.
11.804/2008, visam a auxiliar a mulher gestante nas despesas decorrentes da
gravidez, da concepção ao parto, sendo, pois, a gestante a beneficiaria direta
dos alimentos gravídicos, ficando, por via de consequência, resguardados os
direitos do próprio nascituro” (REsp 1629423/SP, Rel. Ministro MARCO
AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/06/2017, DJe
22/06/2017).

Em conformidade com o art. 6º, caput e §1º, da Lei 11.804/2008,


convencido da existência de indícios da paternidade, o juiz fixará os
alimentos gravídicos que perdurarão até o nascimento da criança, sendo que
após tal fato, serão convertidos em pensão alimentícia até que alguma das
partes solicite sua revisão.

E ainda, é pacífico a jurisprudência nesse sentido:

DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO DE ALIMENTOS GRAVÍDICOS C/C


ALIMENTOS PROVISÓRIOS. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA QUE FIXOU
ALIMENTOS GRAVÍDICOS EM 30% (TRINTA POR CENTO) DO
SALÁRIO MÍNIMO. INSURGÊNCIA DO ALIMENTANTE. ALEGAÇÃO
DE DÚVIDAS QUANTO À PATERNIDADE. INCONSISTÊNCIA.
INDÍCIOS APRESENTADOS PELA GENITORA HÁBEIS A INDICAR A
PATERNIDADE. EXEGESE DO ART. 6º DA LEI N. 11.804/2008.
AVENTADA IRREPETIBILIDADE DOS ALIMENTOS CASO A
PATERNIDADE NÃO SEJA COMPROVADA. INSUBSISTÊNCIA.
MITIGAÇÃO PROBATÓRIA DIANTE DA PROTEÇÃO DO NASCITURO.
INTERLOCUTÓRIO MANTIDO. RECURSO DESPROVIDO. "A mitigação
do elemento probatório em ações dessa natureza justifica-se pela opção feita
em prol do nascituro, garantido-lhe, a despeito de maiores digressões, o
direito fundamental à vida. Para tanto, pode o julgador embasar sua
convicção de paternidade em meros indícios, ressalvando que, em casos de
comprovada má-fé da gestante, também o princípio da irrepetibilidade dos
alimentos pode sofrer ponderação." (TJSC, Agravo de Instrumento n.
2013.002438-5, da Capital, rel. Des. Ronei Danielli, Sexta Câmara de Direito
Civil, j. 18-04-2013). (TJSC, Agravo de Instrumento n. 4014710-
50.2019.8.24.0000, de Meleiro, rel. Des. Marcus Tulio Sartorato, Terceira
Câmara de Direito Civil, j. 03-09-2019)

Neste sentido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALIMENTOS GRAVÍDICOS.


INDEFERIMENTO NA ORIGEM. EXISTÊNCIA DE INDÍCIOS DA
PATERNIDADE QUE AUTORIZAM A FIXAÇÃO DA VERBA.
NASCIMENTO DO MENOR. CONVERSÃO EM ALIMENTOS
PROVISÓRIOS. SUSCITADA DÚVIDA QUANTO À PATERNIDADE EM
VIRTUDE DAS DATAS QUE, ALÉM DE SE MOSTRAR
DESARRAZOADA, NÃO TEM O CONDÃO, NO ATUAL ESTÁGIO, DE
AFASTAR A VERBA ALIMENTAR. DECISÃO REFORMADA. Havendo
elementos nos autos que revelam o envolvimento da mãe da criança com o
agravado, admitindo este ter ocorrido entre ambos o aludido
relacionamento, apontando, porém, dúvida quanto à paternidade por conta
de infundada "inconsistência de datas", devem ser fixados alimentos
provisórios até a realização do exame de DNA, prestigiando-se os interesses
do infante. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (TJSC, Agravo de
Instrumento n. 4023433-58.2019.8.24.0000, de São Bento do Sul, rel. Jorge Luis
Costa Beber, Segunda Câmara de Direito Civil, j. 21-11-2019).

Conforme verifica-se dos documentos de fls. 15/26 (cópias de


conversas realizadas por meio de aplicativo) confirmam a existência de
relacionamento sexual entre as partes (fls.21) pelo período de 3 anos, e sem
a indicação de outros relacionamentos pela gestante, são indícios de
paternidade suficientes para que sejam fixados os alimentos gravídicos,
ressaltando-se que a gestante tem necessidades referentes à alimentação
especial, assistência médica e psicológica, exames complementares,
internações, parto e medicamentos, enxoval, entre outros.

Na sua fixação deve-se ter em conta o indispensável para garantir


uma boa gestação e o parto, tendo menor amplitude que os alimentos
decorrentes do parentesco e da solidariedade entre cônjuges e companheiros,
que, na lição de Clóvis Bevilaqua1: “compreende tudo que é necessário à
vida: sustento, habitação, roupa, educação e tratamento de moléstias”.

Desta forma, tem-se que os alimentos devem ser fixados de forma a


contribuir para a manutenção da gestante, mas dentro das possibilidades do
alimentante.

Importante consignar que esses alimentos, uma vez fixados,


permanecem em vigor até que ocorra o nascimento com vida, ocasião em
que serão convertidos em pensão alimentícia para o filho e poderão ser
revistos, por provocação de qualquer das partes.

No holerite anexo aos autos consta que o Requerido é servidor


público, analista administrativo, e seu vencimento bruto é de R$ 15.315,77.
Além dos descontos obrigatórios, constam empréstimos consignados, e, no
final, recebe líquidos R$ 12.591,45 .

1
BEVILÁQUA, Clóvis. Direito da Família. 9ª Ed. Rio de Janeiro: Livraria Freistas Bastos, 1959, p. 385.
No tocante ao alimentante, não há nos autos qualquer evidência ou
documento que infirme a possibilidade de arcar com a quantia fixada, em
valor módico, suficiente para atender as necessidades básicas da autora
durante a gravidez, sendo o nascimento o termo final.

Destarte, pesem as alegações de João, inexiste elementos que afaste


a decisão guerreada. A referida decisão deve ser mantida por seus judiciosos
fundamentos.

Posto isto e mais que consta nos autos JULGO PROCEDENTE a


ação postulada pela Requerente e CONDENO o Requerido ao pagamento de
30% de seus rendimentos, mensalmente, retroagindo os valores à data da
concepção.

Rio do sul 13 de outubro de 2020

EDGAR TEARLES HECKE


JUIZ DE DIREITO
(Assinado digitalmente)

REFERENCIAS

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Parte Geral v.1.


São Paulo. Saraiva, 2003.

MALUF, Carlos Alberto Dabus e Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus.


Curso de Direito de Família. 2 aedição. São Paulo. Editora Saraiva, 2016.

SERRA, Wagner da Silva. Os alimentos gravídicos à luz da jurisprudência e do Novo


Código de Processo Civil. Disponível em:
https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/11515/Os-alimentos-gravidicos-a-luz-da-
jurisprudencia-e-do-Novo-Codigo-de-Processo-Civil. Acesso em: 13 out. 2020.

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