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AO JUÍZO DA XX VARA DE FAMÍLIA DA COMARCA DE XXXXXXXX/XX

PROCESSO Nº XXXXXXXX

[NOME DA PARTE EXECUTADA], já devidamente qualificado(a)


nos autos sob o número em epígrafe, da EXECUÇÃO DE ALIMENTOS que lhe
move [NOME DA PARTE EXEQUENTE], igualmente qualificado(a), vem
respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por meio de seu(sua)
procurador(a) signatário(a), apresentar JUSTIFICATIVA À AUSÊNCIA DE
PAGAMENTO DOS ALIMENTOS, dizendo e requerendo o que segue:

1. BREVE SÍNTESE DA OBRIGAÇÃO ALIMENTÍCIA E DA


EXECUÇÃO

Trata-se de cumprimento de sentença, em que a parte Impugnada


alega que xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx.

Devidamente intimado, no prazo previsto no art. 528 do CPC, vem o


ora devedor apresentar as razões pelas quais o inadimplemento ocorrido foi
involuntário e escusável.

Breve é o relatório.

2. DA JUSTIFICATIVA

Excelência, nos termos das provas em anexo presente justificativa,


demonstrar-se-á que o inadimplemento do devedor alimentante ocorreu por
motivos maiores à sua vontade, e são totalmente escusáveis em razão da
gravidade, demonstrando real impossibilidade de arcar com a obrigação
alimentar de forma temporária e, consequentemente, as razões pelas quais
merece ser impedida a decretação da prisão civil, como, inclusive, ensina
Nelson Nery Junior1.

a) DO MOTIVO INVOLUNTÁRIO E ESCUSÁVEL DE


INADIMPLEMENTO

Excelência, o Alimentante tem tentado localizar emprego, tendo em


vista que diante da crise econômica que assola o país, acabou desempregado,
e com parcos rendimentos na sociedade que possui.

A atual situação financeira do Executado é de que


xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxx

Portanto, é evidente a incapacidade financeira do Executado.

Devemos salientar que os argumentos acima são objeto, inclusive,


de agravo de instrumento, que visa minorar os alimentos provisórios deferidos
liminarmente, que nem após a contestação foram modificados, por
inobservância do magistrado aos documentos juntados.

Se não bastasse isso, o Executado também já constituiu nova


família, estando com mais um filho a caminho e, apesar de ser evidente que a
constituição de novo família, por si só, não é fator para inadimplemento da
prestação, é evidente que essa situação, aliada ao desequilíbrio econômico
que passa, deve ser então considerado como justificativa para a redução dos
alimentos.

1
"Impossibilidade absoluta de pagar. Poderá ser provada pelo devedor por todos os meios
possíveis. Somente será legítima a decretação da prisão civil por dívida de alimentos se o
responsável inadimplir voluntária e inescusavelmente a obrigação. Caso seja escusável ou
involuntário o inadimplemento, não poderá ser decretada a prisão." (NERY JUNIOR, Nelson.
NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil Comentado. 17ª ed. Editora RT,
2018. Versão ebook, Art. 528)
O caso em questão não se trata de mera alegação de constituição
de nova família ou nascimento de outro filho, mas sim, efetivamente, de uma
situação evidente e razoável de substancial modificação na capacidade
financeira do alimentante.

Assim sendo, verificando-se a devida demonstração da alteração da


capacidade econômica do alimentante, por meio de um conjunto de elementos
situacionais e razoáveis que não se restringe à mera constituição de nova
família e o advento de outro filho, necessário que seja acolhida a presente
justificativa, a fim de impedir qualquer meio coercitivo, ainda mais em caráter
prisional.

Logo, o caso não se enquadra no entendimento do Superior Tribunal


de Justiça no sentido de que “o fato de o devedor dos alimentos ter constituído
nova família, por si, não implica revisão dos alimentos prestados aos filhos da
união anterior” (STJ, Terceira Turma, REsp: 1496948 SP 2013/0123257-0,
Relator: Ministro Moura Ribeiro, DJe 12/03/2015). Isso porque resta
demonstrada a mudança negativa da capacidade financeira do Executado por
outras circunstâncias que não apenas a formação de nova família com o
advento de outro filho.

Assim, como a prisão civil do devedor do débito alimentar não é uma


punição, mas sim um meio efetivo para que o inadimplente realize o
pagamento de suas obrigações2, razão pela qual, a prisão não merece então
ser decretada, caso contrário, estar-se-ia punindo do devedor de alimentos, o
que não pode acontecer.

Portanto, evidenciada a boa-fé do alimentante, eis que adimple com


alimentos dentro de sua capacidade, mensalmente, bem como a ausência de
2
“Como não se trata de punição, mas de providência destinada a atuar no âmbito do
executado, a fim de que realize a prestação, é natural que, se ele pagar o que deve,
determine o juiz a suspensão da prisão (art. 733, § 3º), quer já tenha começado a ser
cumprida, quer no caso contrário” José Carlos Barbosa Moreira, O Novo Processo Civil
Brasileiro, 19. ed., p. 261
inadimplemento voluntário e inescusável, tem-se pelo necessário
reconhecimento da abusividade do decreto de prisão, e a suspensão do
cumprimento de sentença.

Ademais, temos que levar em consideração que não se deve, em


momento de pandemia, permitir a prisão civil do devedor, tendo em vista a
Recomendação 62/2020 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a qual
permite a substituição da prisão em regime fechado do devedor de alimentos,
pelo regime domiciliar, com intuito de evitar a propagação da doença.

Este entendimento é o que vem sendo adotado e aplicado nos


tribunais, como é possível ver no julgado abaixo:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. FAMÍLIA.EXECUÇÃO DE


ALIMENTOS. DISCUSSÃO ACERCA DO BINÔMIO ALIMENTAR.
DESCABIMENTO. PRISÃO CIVIL. CABIMENTO. POSSIBILIDADE
EXCEPCIONAL DE CUMPRIMENTO EM REGIME DOMICILIAR.
PANDEMIA. COVID-19. ART. 6º DA RECOMENDAÇÃO Nº 62/2020,
EM 17 DE MARÇO DE 2020, DO CONSELHO NACIONAL DE
JUSTIÇA. Consoante entendimento jurisprudencial, em processo de
execução de alimentos, descabe a discussão acerca do binômio
necessidade-possibilidade, devendo essa questão ser apreciada em
demanda própria - ação revisional ou ação exoneratória de
alimentos, em processo de conhecimento. Caso em que a cobrança
está amparada em título executivo líquido, certo e exigível, bem
como foram observadas as formalidades legais. Por outro lado, não
demonstrado pelo executado fato novo, superveniente, grave e
excepcional, que justifique o inadimplemento momentâneo,
involuntário e absoluto do encargo alimentar. Dessa forma,
preenchidos os requisitos, cabível o decreto de prisão civil, nos
termos do art. 528, § 7º, do CPC. Contudo, em razão da pandemia
causada pela COVID-19, excepcionalmente, fica autorizado o
cumprimento da prisão civil em regime domiciliar. Precedente do
STJ. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO

Portanto, diante todo o exposto, requer seja acolhida a justificativa


apresentada.

b) DA IMPOSSIBILIDADE DE DECRETAÇÃO DE PRISÃO CIVIL


POR DÍVIDA ALIMENTAR A FILHO MAIOR E CAPAZ

Conforme observa-se da execução oposta contra este Executado, o


Exequente quer cobrar sob o rito de prisão, suposta dívida alimentar dos
alimentos concedidos, o que não se pode permitir.

Em que pese o caráter especial da verba alimentar, a medida


extrema da prisão, embora garantida pela norma processual, não se
justifica no caso vertente, notadamente porque a execução de obrigação
alimentar pelo rito da constrição pessoal tem como pressuposto a
atualidade da dívida, a urgência e a necessidade do recebimento da
prestação alimentícia.

Os alimentos devidos a filho maior não possuem caráter


emergencial, diante justamente da maioridade, bem como da plena
capacidade para buscar meios e garantir o seu sustento, diferentemente
do incapaz que não possui capacidade de subsistir sem auxílio de
outrem.

Analogamente, requer seja aplicado o entendimento conforme


precedentes do Colendo Superior Tribunal de Justiça, vejamos:

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PENSÃO


ALIMENTÍCIA. PRISÃO CIVIL. FILHA MAIOR DE IDADE E
CASADA. AUSÊNCIA DE ATUALIDADE E URGÊNCIA NA
PERCEPÇÃO DOS ALIMENTOS. FRÁGIL ESTADO DE SAÚDE DO
ALIMENTANTE. INADIMPLEMENTO VOLUNTÁRIO E
INESCUSÁVEL DESCARACTERIZADO. RECURSO ORDINÁRIO
PROVIDO. 1. A prisão civil por dívida alimentar tem como
pressuposto a atualidade da verba executada, a traduzir a urgência
da prestação jurisdicional requerida, de modo a serem acudidas as
necessidades momentâneas do alimentando. 2. Na hipótese, a
alimentanda é maior e casada, presumindo-se que, ainda que
não exerça atividade remunerada, o marido assumiu suas
despesas e lhe garante as necessidades básicas, inexistindo
situação emergencial a justificar a medida extrema da restrição
da liberdade sob o regime fechado de prisão. A obrigação
alimentar de débito pretérito em atraso poderá ser cobrada pelo
rito menos gravoso da expropriação. 3. Devidamente ajuizada a
ação de exoneração de alimentos, mas ainda sem julgamento
definitivo, o paciente não pode aguardar indefinidamente o
respectivo desfecho para ter acolhida sua justificativa para o não
pagamento do débito alimentar. 4. O delicado estado de saúde do
recorrente, portador de diabetes com grave insuficiência renal,
fartamente documentado nos autos, também constitui circunstância
relevante, por si só, capaz de afastar o inadimplemento voluntário e
inescusável, requisitos essenciais para a excepcional prevalência da
prisão civil do devedor de alimentos. 5. Recurso ordinário em
habeas corpus provido. Ordem concedida. (RHC 105.198/MG,
Quarta Turma, Relator Ministro Raul Araújo, DJ 19.3.2019)

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. DIREITO CIVIL.


FAMÍLIA. EXECUÇÃO ALIMENTÍCIA. OBRIGAÇÃO.
INADIMPLEMENTO. PRISÃO CIVIL. BINÔMIO NECESSIDADE E
POSSIBILIDADE. EX-CÔNJUGE. CREDORA MAIOR E CAPAZ.
INDEPENDÊNCIA ECONÔMICA. COMPROVAÇÃO.
EMERGÊNCIA. INEXISTÊNCIA. OBRIGAÇÃO PRETÉRITA. RITO
DA EXPROPRIAÇÃO. CABIMENTO. ÓCIO. PRAZO
DETERMINADO. AÇÃO REVISIONAL. EXONERAÇÃO. CITAÇÃO.
RETROATIVIDADE. 1. A execução de dívida alimentar pelo rito da
prisão exige a atualidade da dívida, a urgência e a necessidade na
percepção do valor pelo credor e que o inadimplemento do devedor
seja voluntário e inescusável. 2. Na hipótese, a alimentanda, ex-
cônjuge do paciente, é maior e economicamente independente,
inexistindo situação emergencial a justificar a medida extrema
da restrição da liberdade sob o regime fechado de prisão. 3. A
obrigação, porquanto pretérita, poderá ser cobrada pelo rito
menos gravoso da expropriação. 4. Os alimentos devidos entre
ex-cônjuges não podem servir de fomento ao ócio ou ao
enriquecimento sem causa, motivo pelo qual devem ser fixados com
prazo determinado. 5. Os efeitos da sentença que julga procedente
o pedido de exoneração do encargo alimentício retroagem à data da
citação, desonerando o obrigado desde então, conforme dispõe o
artigo 13, § 2º, da Lei nº 5.478/1968. 6. Recurso ordinário em
habeas corpus conhecido e provido. (RHC 95204 / MS, Terceira
Turma, Relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, DJ 30.4.2018).

Aliás, partindo de tal entendimento, os Tribunais vêm determinando


que a busca pela satisfação do crédito se dê pelo rito da expropriação
(penhora), por se tratar de meio menos gravoso. Veja-se:

HABEAS CORPUS – Execução de alimentos – Ex-cônjuges -


Insurgência do impetrante contra decisão que rejeitou a justificativa
apresentada pelo executado e decretou sua prisão civil pelo prazo
de 1 (um) mês - Medida extrema descabida por força do caráter
não emergencial da verba alimentar – Satisfação do crédito que
pode ser efetivamente alcançada pelo rito da penhora, sem
prejuízo da credora e de maneira menos gravosa ao devedor –
Decreto prisional afastado - Ordem concedida. (TJ-SP - HC:
21847755820198260000 SP 2184775-58.2019.8.26.0000, Relator:
José Roberto Furquim Cabella, Data de Julgamento: 18/10/2019, 6ª
Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 18/10/2019)

In casu, o Exequente atingiu a maioridade em novembro de 2020 e


atualmente se encontra exercendo atividade laborativa junto ao Serviço de
Saúde Dr. Cândido Ferreira, conforme documentos anexos, claramente sendo
capaz de prover o seu próprio sustento, sem necessitar do auxílio material do
genitor. Ora, não há que se falar em urgência ou necessidade de recebimento
do encargo alimentar por parte do Exequente.

Portanto, REQUER SEJA AFASTADA A EXECUÇÃO PELO RITO


DE PRISÃO DE TODO E QUALQUER VALOR REFERENTE AOS
SUPOSTOS ALIMENTOS AO ALIMENTANDO, MAIOR E CAPAZ, ORA
EXEQUENTE.

Requer a extinção da presente execução e, em sendo o


entendimento, a determinação para que o Exequente busque meio menos
gravoso para satisfazer o alegado crédito, qual seja, pelo rito da
expropriação.

c) DA DESPROPORCIONALIDADE DA MEDIDA – AÇÃO DE


EXONERAÇÃO DOS ALIMENTOS EM TRÂMITE

O decreto de prisão é medida drástica e deve ser utilizada somente


diante de inadimplência voluntária e inescusável, sob pena de grave afronta ao
permissivo constitucional prevista no art. 5º, inc. LXVII, da CRFB/1988, in
verbis:

Art. 5º (...) LXVII- não haverá prisão civil por dívida, salvo a do


responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de
obrigação alimentícia e a do depositário infiel;

Dessa forma, o decreto de prisão civil pelo suposto inadimplemento


configura medida abusiva em afronta à Constituição Federal.
Ou seja, NÃO se trata de inadimplemento intencional e voluntário,
muito menos inescusável, uma vez que os débitos não correspondem aos reais
valores devidos, e inclusive tendo o Exequente atingido a maioridade e
percebendo rendimentos próprios, devidamente capaz de prover o seu
sustento, estando em trâmite ação para exonerar a obrigação alimentar.

Tem-se configurado, portanto, medida abusiva o decreto de prisão


civil, conforme jurisprudência sobre o tema:

HABEAS CORPUS. ALIMENTOS. CONSTITUIÇÃO


FEDERAL, ARTIGO 5º, INCISO LXVII. PRISÃO
CIVIL. INADIMPLEMENTO VOLUNTÁRIO E INESCUSÁVEL. NÃO
CONSTATAÇÃO. ILEGALIDADE DA MEDIDA. CONCESSÃO DA
ORDEM. (TJSC, Habeas Corpus Cível n. 4024984-
73.2019.8.24.0000, de Tubarão, rel. Des. Ricardo Fontes, Quinta
Câmara de Direito Civil, j. 10-09-2019)

PRISÃO CIVIL Alimentos Execução Notícia de incapacidade do


executado Não ocorrência de inadimplemento voluntário e
inescusável Ilegalidade da medida coercitiva Caráter excepcional
da prisão civil por dívida Inteligência do art. 5º, LXVII da CF Medida
que não atingirá a finalidade pretendida e prevista legalmente
de compelir o executado a pagar as prestações dos alimentos
Ordem concedida. (TJ-SP - HC: 2975728920118260000 SP
0297572-89.2011.8.26.0000, Relator: Alvaro Passos, Data de
Julgamento: 15/05/2012, 2ª Câmara de Direito Privado, Data de
Publicação: 16/05/2012)

Importante deixar claro que o Executado SEMPRE cumpriu com


os alimentos fixados em favor dos filhos, jamais tendo deixado de prestar a
assistência necessária, provendo a subsistência de _____________, ora
Exequente, e de Isabelle, em conformidade com a determinação judicial e as
necessidades dos filhos.
Todavia, tendo sobrevindo a maioridade dos filhos, o Executado
ajuizou ação de exoneração de alimentos, atualmente em trâmite,
justamente visando extinguir sua obrigação alimentar que não mais se faz
necessária, conforme documentos anexos.

Isso porque seus filhos, em especial o Exequente, __________,


atingiram a maioridade, já exercendo atividade laborativa e plenamente
capazes de proverem seu próprio sustento sem o auxílio material do
genitor/Executado.

Cabe colacionar a Consulta de Extrato Previdenciário que comprova


a condição de emprego do filho, desde (data), junto ao xxxxxxx.

Tem-se, portanto, evidenciada a boa-fé do Executado e a manifesta


desproporcionalidade da medida de prisão, conforme precedentes sobre o
tema:

HABEAS CORPUS. ALIMENTOS. PAGAMENTO PARCIAL.


TENTATIVAS DE ACORDO. INTENÇÃO EM QUITAR O DÉBITO.
ORDEM CONCEDIDA. 1. O habeas corpus, Ação Constitucional
prevista no artigo 5º, LXVIII, da Constituição Federal, cumpre
importante função no ordenamento jurídico, por ser o remédio
utilizado para assegurar o direito de liberdade de locomoção. 2. A
prisão civil somente pode ser utilizada como meio de coerção
para cobrança de alimentos, no caso de completa inércia do
alimentante, não sendo prudente submeter a parte à reclusão
se demonstrado o pagamento parcial e várias tentativas de
conciliação, ainda que sem sucesso. 3. Habeas corpus conhecido
e ordem concedida. (TJDFT, Acórdão n.1163315,
07048399420198070000, Relator(a): SEBASTIÃO COELHO, 5ª
Turma Cível, Julgado em: 03/04/2019, Publicado em: 09/04/2019)

HABEAS CORPUS. ALIMENTOS. PAGAMENTO PARCIAL.


TENTATIVAS DE ACORDO. INTENÇÃO DE QUITAR O DÉBITO.
ORDEM CONCEDIDA. 1. O habeas corpus, Ação Constitucional
prevista no artigo 5º, LXVIII, da Constituição Federal, cumpre
importante função no ordenamento jurídico, por ser o remédio
utilizado para assegurar o direito de locomoção. 2. A prisão civil
somente pode ser utilizada como meio de coerção para
cobrança de alimentos no caso de completa inércia do
alimentante, não sendo prudente manter a parte reclusa se
demonstrado o pagamento parcial e várias tentativas de
conciliação, ainda que sem sucesso. 3. Ordem concedida.
(TJDFT, Acórdão n.1161212, 07020996620198070000, Relator(a):
SEBASTIÃO COELHO, 5ª Turma Cível, Julgado em: 27/03/2019,
Publicado em: 01/04/2019)

Portanto, evidenciada a boa-fé do Executado, bem como a ausência


de inadimplemento voluntário e inescusável, tem-se pelo necessário
reconhecimento da abusividade de eventual futuro decreto de prisão.

Faz-se necessário, alternativamente à extinção, a suspensão da


presente execução até o julgamento final da ação de exoneração de alimentos.

d) DO EXCESSO NA EXECUÇÃO – ALIMENTOS FIXADOS EM


FAVOR DOS DOIS FILHOS EM CARÁTER “INTUITU
PERSONAE” – POSSIBILIDADE DE EXECUÇÃO APENAS DA
SUA QUOTA-PARTE

Analisando o cálculo apresentado pelo Exequente, tem-se que resta


evidente a existência de excesso de execução, haja vista que os alimentos
restaram fixados em favor de ambos os filhos, sobrevindo execução tão
somente por um desses.

Ora, apenas o filho XXXXX figura no polo ativo da Execução,


deveria, portanto, ter limitado a executar exclusivamente os alimentos
que lhe diriam respeito. Ou seja, metade do percentual fixado a título de
alimentos (12,5% - doze vírgula cinco por cento).
Vejam-se os termos quando da fixação do encargo alimentar:

[colar fixação dos alimentos]

É de salutar importância esclarecermos que a dívida é oriunda de


alimentos em favor dos dois filhos, sendo que se for efetuado o cálculo correto
do crédito executado, temos claramente a cobrança excessiva de R$ 2.158,11
(dois mil, cento e cinquenta e oito reais e onze centavos) nos termos dos
cálculos abaixo anexados:

[colar cálculo]

Não restou explícito no acordo que os alimentos seriam regulados


em caráter “intuitu familiae”, fazendo com que a presunção seja justamente em
caráter “intuitu personae”, cujo corolário lógico é a possibilidade de execução
somente da quota-parte correspondente ao Exequente.

Nesse sentido, a jurisprudência:

ALIMENTOS. Execução. Verba alimentar fixada em favor dos dois


filhos do executado. Devedor de alimentos que deixou de pagar 50%
do montante pactuado após a maioridade do filho mais velho, que
passou a residir com o genitor. Pretensão da filha mais nova, ora
exequente, de cobrança da totalidade da verba alimentar, alegando
tratar-se de alimentos "intuitu familiae". Excesso de execução
caracterizado. Extinção da execução bem decretada em sentença.
Ausência de ressalva no título executivo de que os alimentos
seriam prestados "intuitu familiae" ou de que haveria direito de
acrescer do outro filho. Presunção de que a obrigação foi fixada
"intuitu personae". Exequente que faz jus à sua quota-parte,
correspondente à metade da verba alimentar fixada no acordo.
Inexigibilidade da pensão alimentícia cobrada, relativa à quota
parte do irmão. Recurso não provido. (TJ-SP - AC:
10124407920198260152 SP 1012440-79.2019.8.26.0152, Relator:
Francisco Loureiro, Data de Julgamento: 16/07/2020, 1ª Câmara de
Direito Privado, Data de Publicação: 16/07/2020) (grifos nossos)

Assim sendo, perpassados os demais argumentos, o que não se


espera, evidentemente que somente o valor de R$ _______________ seria
devido, conforme cálculo acima anexado.

Portanto, a execução não pode prosseguir na forma como proposta.

3. DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

A parte Executada é pessoa pobre na acepção do termo e não


possui condições financeiras para arcar com as custas processuais e
honorários advocatícios sem prejuízo do próprio sustento, razão pela qual
desde já requer o benefício da Gratuidade de Justiça, assegurados pela Lei nº
1.060/50 e consoante o art. 98, caput, do CPC3.

Mister frisar, ainda, que, em conformidade com o art. 99, § 1º, do


CPC4, o pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado por petição
simples e durante o curso do processo, tendo em vista a possibilidade de se
requerer em qualquer tempo e grau de jurisdição os benefícios da justiça
gratuita, ante a alteração do status econômico.

Para tal benefício, a parte Executada junta declaração de


hipossuficiência e comprovante de renda, os quais demonstram a inviabilidade
de pagamento das custas judiciais sem comprometer sua subsistência,
conforme clara redação do Código de Processo Civil: “Presume-se verdadeira
a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural”
(art. 99, § 3º).

3
Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos
para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito à
gratuidade da justiça, na forma da lei.
4
Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na
contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo ou em recurso.
§ 1º Se superveniente à primeira manifestação da parte na instância, o pedido poderá ser
formulado por petição simples, nos autos do próprio processo, e não suspenderá seu curso.
Assim, por simples petição, sem outras provas exigíveis por lei, faz
jus a parte Executada ao benefício da gratuidade de justiça:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUSTIÇA GRATUITA.


INDEFERIMENTO DA GRATUIDADE PROCESSUAL. AUSÊNCIA
DE FUNDADAS RAZÕES PARA AFASTAR A BENESSE.
CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. CABIMENTO. Presunção relativa
que milita em prol do autor que alega pobreza. Benefício que não
pode ser recusado de plano sem fundadas razões. Ausência de
indícios ou provas de que pode a parte arcar com as custas e
despesas sem prejuízo do próprio sustento e o de sua família.
Recurso provido. (TJ-SP - AI: 22391085720198260000 SP 2239108-
57.2019.8.26.0000, Relator: Gilberto Leme, Data de Julgamento:
21/02/2020, 35ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação:
21/02/2020)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. GRATUIDADE DA JUSTIÇA.


CONCESSÃO. Presunção de veracidade da alegação de
insuficiência de recursos, deduzida por pessoa natural, ante a
inexistência de elementos que evidenciem a falta dos
pressupostos legais para a concessão da gratuidade da justiça.
Recurso provido. (TJ-SP - AI: 21202035920208260000 SP 2120203-
59.2020.8.26.0000, Relator: Roberto Mac Cracken, Data de
Julgamento: 15/06/2020, 22ª Câmara de Direito Privado, Data de
Publicação: 15/06/2020)

A assistência de advogado particular não pode ser parâmetro ao


indeferimento do pedido:

"JUSTIÇA GRATUITA. EXIGÊNCIA DE DECLARAÇÃO DE


PATROCÍNIO GRATUITO INCONDICIONAL. DESCABIMENTO.
AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. PRECEDENTES. (...) 2. É
possível o gozo da assistência judiciária gratuita mesmo ao
jurisdicionado contratante de representação judicial com previsão de
pagamento de honorários advocatícios ad exitum. 3. Essa solução é
consentânea com o propósito da Lei n. 1.060/1950, pois garante ao
cidadão de poucos recursos a escolha do causídico que, aceitando
o risco de não auferir remuneração no caso de indeferimento do
pedido, melhor represente seus interesses em juízo. 4. A exigência
de declaração de patrocínio gratuito incondicional não encontra
assento em qualquer dispositivo da Lei n. 1.060/1950, criando
requisito não previsto, em afronta ao princípio da legalidade. 5.
Precedentes das Terceira e Quarta Turmas do STJ. 6. Recurso
especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido, com
determinação de retorno dos autos à origem para processamento da
apelação" (STJ, REsp 1504432 - RJ Relator : Ministro OG
FERNANDES julgado em 21/09/2016).(grifo meu)

No mesmo sentido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. HIPOSSUFICIÊNCIA.


GRATUIDADE DE JUSTIÇA. HIPOSSUFICIÊNCIA. PRESUNÇÃO
DE VERACIDADE. EXCEÇÕES. ELEMENTOS NOS AUTOS.
DIVÓRCIO. AUSÊNCIA DE BENS A PARTILHAR. ADVOGADO
PARTICULAR. ART. 99, § 4º DO CPC. AGRAVO DE
INSTRUMENTO CONHECIDO E PROVIDO. 1. Em regra, a simples
declaração de hipossuficiência por parte do postulante seria
suficiente para o deferimento do benefício, ante a presunção de
veracidade. Contudo, o Código de Processo Civil excepcionou as
situações em que haja nos autos elementos que indiquem a falta de
pressupostos (art. 99, § 2º, do Código de Ritos). 2. O fato de ser
patrocinado por advogado particular não tem qualquer
implicação quanto ao eventual direito à gratuidade de justiça,
primeiramente por expressa disposição legal (CPC, art. 99, § 4º)
e, segundo, porque não há qualquer elemento nos autos que
indiquem os termos da contratação do causídico, em especial
quanto aos honorários eventualmente ajustados. 3. AGRAVO
DE INSTRUMENTO CONHECIDO E PROVIDO. (TJ-DF
07242871920208070000 - Segredo de Justiça 0724287-
19.2020.8.07.0000, Relator: LUÍS GUSTAVO B. DE OLIVEIRA, Data
de Julgamento: 13/05/2021, 4ª Turma Cível, Data de Publicação:
Publicado no DJE : 26/05/2021)

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - JUSTIÇA GRATUITA -


PESSOA FÍSICA - CONTRATAÇÃO DE ADVOGADO -
INEXISTÊNCIA DE ÓBICE - ART. 99, § 4º DO CPC -
INSUFICIÊNCIA DE RECURSOS COMPROVADA - BENEFÍCIO
DEFERIDO. - O benefício da justiça gratuita pode ser concedido à
pessoa natural ou jurídica, desde que comprovada a insuficiência de
recursos alegada - A contratação de advogado particular, por si
só, não constitui óbice ao deferimento do beneplácito da
gratuidade da justiça, ex vi do disposto no art. 99, § 4º do CPC.
(TJ-MG - AI: 10000190724724001 MG, Relator: Valdez Leite
Machado, Data de Julgamento: 11/02/0020, Data de Publicação:
13/02/2020)

Assim, considerando a demonstração inequívoca da necessidade da


parte Executada, tem-se por comprovada sua necessidade, fazendo jus ao
benefício.

Cabe destacar que a lei não exige atestado de miserabilidade do


requerente, sendo suficiente a "insuficiência de recursos para pagar as custas,
despesas processuais e honorários advocatícios" (art. 98, CPC), conforme
destaca a doutrina:

"Não se exige miserabilidade, nem estado de necessidade, nem


tampouco se fala em renda familiar ou faturamento máximos. É
possível que uma pessoa natural, mesmo com bom renda mensal,
seja merecedora do benefício, e que também o seja aquela sujeito
que é proprietário de bens imóveis, mas não dispõe de liquidez. A
gratuidade judiciária é um dos mecanismos de viabilização do
acesso à justiça; não se pode exigir que, para ter acesso à
justiça, o sujeito tenha que comprometer significativamente sua
renda, ou tenha que se desfazer de seus bens, liquidando-os
para angariar recursos e custear o processo." (DIDIER JR.
Fredie. OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Benefício da Justiça
Gratuita. 6ª ed. Editora JusPodivm, 2016. p. 60)

Por tais razões, com fulcro no artigo 5º, inc. LXXIV, da Constituição
Federal, e no artigo 98 do CPC, requer seja deferida a gratuidade de justiça à
parte Executada.

4. DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, em sede de JUSTIFICATIVA, requer:

a) Seja recebida a presente justificativa, com seu total provimento,


para fins de que seja impedida a prisão a decretação da prisão civil, bem como
seja extinta a Execução, afastando a cobrança da suposta dívida alimentar ao
Exequente, maior e capaz, sob o rito da prisão, tendo em vista a inexistência
de caráter alimentar emergencial de sua verba, pelos fundamentos acima
expostos;

b) Sucessivamente, seja suspensa a Execução, até o julgamento


definitivo da Ação de Exoneração de Alimentos movida sob nº xxxxxxxx;

c) Sucessivamente, seja determinada a conversão da Execução


para que tramite pelo rito da expropriação (penhora), por ser meio menos
gravoso e que atingiria a sua finalidade;

c) Sucessivamente, seja reconhecido o excesso de execução de R$


________, devendo a Execução prosseguir somente relativamente à quantia
de R$ _________;
d) A concessão do benefício da justiça gratuita, por ser o Executado
pessoa sem condições de arcar com as custas, honorários advocatícios e
demais despesas processuais, sem prejuízo ao sustento próprio e de sua
família, consoante declaração anexa;

e) A produção de todas as provas admitidas em direito.

Termos em que pede e espera deferimento.

(CIDADE), 29 de August de 2023.

ADVOGADO

OAB

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