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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) FEDERAL DO

JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA xxxxxxxxxxxx –


ESTADO xxxxxxxxxxxxxxxx

EMENTA: URGENTE. PEDIDO DE


ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. PENSÃO
POR MORTE. INSTITUIDOR QUE
RECEBIA BENEFÍCIO ASSISTENCIAL
CONCEDIDO EM PREJUÍZO DE MELHOR
BENEFÍCIO. DIREITO À APOSENTADORIA
POR IDADE RURAL. DIREITO
ADQUIRIDO. POSSIBILIDADE DE
REVISÃO DO ATO DE CONCESSÃO DO
BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. TEMA 225, da
TNU.

MARIA DA CONCEIÇÃO, brasileira, casada, aposentada, inscrita no


CPF sob o nº xxxxxxxxxxxxxxxxx, portadora do RG sob o nº xxxxxxxxxxxxx SESP/MT,
nascida em xx/xx/xxxx, residente e domiciliada na Rua xxxxxxxxxxxxxxxxxxx, cidade,
CEP..................., por meio de seu(sua) advogado(a) que ao final assina, conforme procuraçã o
acostada, vem, à presença de Vossa Excelência, propor a presente:

AÇÃO PREVIDENCIÁRIA REVISIONAL DE ATO DE CONCESSÃO DE BENEFÍCIO


ASSISTENCIAL c/c CONCESSÃO DE PENSÃO POR MORTE
(com pedido de tutela antecipada)

em face de INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL, que deverá ser citado na pessoa
de seu representante legal, com endereço na Rua xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, n° xxxxx,
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, pelos fundamentos de fato e de direito que passa a
expor.
I – DOS FATOS.
I.a) Das exceções previstas no TEMA 350, do STF e da desnecessidade de prévio
requerimento administrativo.
Conforme o julgamento do TEMA 350, da repercussã o geral do
Supremo Tribunal Federal, dispensa-se o prévio requerimento administrativo nas açõ es
que visem à conversã o, melhoramento e restabelecimento de benefício cujo fato gerador já
foi levado à aná lise do INSS.
Vejamos:
As principais açõ es previdenciá rias podem ser divididas em dois grupos:

(i) demandas que pretendem obter uma prestaçã o ou vantagem


inteiramente nova ao patrimô nio jurídico do autor (concessã o de
benefício, averbaçã o de tempo de serviço e respectiva certidã o etc.); e

(ii) ações que visam ao melhoramento ou à proteção de vantagem já


concedida ao demandante (pedidos de revisão, conversã o de benefício
em modalidade mais vantajosa, restabelecimento, manutenção etc.).

No primeiro grupo, como regra, exige-se a demonstraçã o de que o


interessado já levou sua pretensã o ao conhecimento da Autarquia e nã o
obteve a resposta desejada.

No segundo grupo, precisamente porque já houve a inauguração da


relação entre o beneficiário e a Previdência, não se faz necessário, de
forma geral, que o autor provoque novamente o INSS para ingressar em
juízo.

Ficou assentado claramente, ainda, no referido julgado do


Supremo Tribunal Federal que a “exigência de prévio requerimento administrativo não deve
prevalecer quando o entendimento da Administração for notória e reiteradamente contrário
à postulação do segurado”.
Como se sabe, o INSS nã o admite pedido administrativo de pensã o
por morte quando o instituidor do benefício era beneficiá rio de benefício assistencial,
como é o caso dos autos.
Sendo assim, é de rigor o conhecimento e processamento da
presente açã o, uma vez que o precedente acima informa a desnecessidade de prévio
requerimento administrativo.
I.b) Da concessão de benefício assistencial ao instituidor e aplicação, no caso, do
TEMA 225, da TNU.
A parte autora era casada com o Sr. MARCELINO DE ALCÂ NTARA,
desde 1978, conforme certidã o de casamento acostada. O Sr. MARCELINO faleceu no dia
25/07/2021, conforme certidã o de ó bito anexada.
Conforme se pode perceber do processo administrativo juntado
aos autos, o Sr, MARCELINO era beneficiá rio de um benefício assistencial ao idoso,
concedido em 15/03/2010.
Ocorre, Exa., que o INSS ao conceder tal prestaçã o assistencial
errou ao examinar as características e, bem assim, o patrimô nio previdenciá rio do
segurado, uma vez que ele era autêntico trabalhador rural, na condiçã o de segurado
especial e, por isso, deveria ter recebido uma aposentadoria por idade rural.
Houve, assim, má cula manifesta ao direito ao melhor benefício do
segurado falecido.
E, com isso, manifesto prejuízo a sua ú nica dependente, ora parte
autora, que ficou privada de receber por todos esses anos a pensã o por morte que lhe
cabia.
Exatamente sobre essa questã o, a Turma Nacional de
Uniformizaçã o já se manifestou no julgamento do TEMA 225, de seus representativos de
controvérsia, conforme segue:
Questão submetida a julgamento

É possível a concessã o de pensã o por morte quando instituidor, apesar


de titular de benefício assistencial, tinha direito adquirido a benefício
previdenciá rio?

Tese firmada

É possível a concessão de pensão por morte quando o instituidor,


apesar de titular de benefício assistencial, tinha DIREITO ADQUIRIDO A
BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO NÃO CONCEDIDO PELA
ADMINISTRAÇÃO.

I.c) Da inexistência de prazo decadencial para a presente ação, conforme fixado no


TEMA 225, da TNU.
Cabe assinalar, desde já , Exa., que a Turma Nacional de
Uniformizaçã o, na oportunidade desse julgamento, fixou, ainda, o entendimento de que a
pretensã o revisional do ato de concessã o do benefício assistencial pelos dependentes NÃ O
se sujeita ao prazo decadencial decenal previsto no art. 103, da Lei 8.213/91.
Isso porque, em verdade, o que se está em jogo é a declaraçã o do
direito a um benefício previdenciá rio, o que, conforme já assentado pelo Supremo
Tribunal Federal no TEMA 313, de sua repercussã o geral, bem como no julgamento da
ADI 6096, nã o encontra ó bice em qualquer prazo decadencial.
O direito ao benefício em si nã o se sujeita ao decurso do tempo,
mas apenas suas prestaçõ es, as quais, aí, devem ser pagas com respeito ao prazo
prescricional quinquenal do art. 103, pará grafo ú nico, da Lei 8.213/91, bem como de
acordo com a Sú mula 85, do STJ.
Vejamos o trecho do TEMA 225, da TNU que trata disso com
clareza solar:
Inexiste qualquer norma proibitiva à apuração da existência de
erro na concessão originária do benefício, nã o sendo o caso aqui de
discussã o sobre decadência ou prescriçã o, que tem sua regência pró pria
no art. 103 da Lei 8.213/91.

Em verdade, ignorar o real benefício a que faria jus o segurado significa


tolher-lhe de um direito legítimo inerente à sua dignidade humana,
eternizando um equívoco que lhe subtrai o direito à prestaçã o social
inerente à sua condiçã o laboral.

Essa questão, além de não ter sido pontuada no incidente originário


(sustentada apenas na tribuna oralmente), já foi apreciada pelo STF
na ADI 6096 e esta Corte já apreciou o ponto inúmeras vezes.

Colho o seguinte precedente que ilustra a referida compreensã o:

PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃ O DE INTERPRETAÇÃ O DE LEI FEDERAL.


PREVIDENCIÁ RIO. PENSÃO POR MORTE. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL
CONCEDIDO ERRONEAMENTE À INSTITUIDORA DA PENSÃO.
DECADÊNCIA. ARTIGO 103 DA LEI 8.213/91. INOCORRÊNCIA.
ENTENDIMENTO DESTA TNU. INCIDÊ NCIA DA QUESTÃ O DE ORDEM Nº
13. INCIDENTE NÃ O CONHECIDO.

(Pedido de Uniformizaçã o de Interpretaçã o de Lei (Turma) 0503840-


52.2016.4.05.8106, GISELE CHAVES SAMPAIO ALCANTARA - TURMA
NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃ O.)

Visto isso, embora o benefício assistencial tenha sido deferido ao


instituidor no ano de 2010, nã o há que se falar em decadência para a presente açã o,
conforme os precedentes vinculantes acima apontados.
I.d) Da comprovação da qualidade de segurado e carência do instituidor falecido à
época da concessão do benefício assistencial.
Para a demonstraçã o do direito pretendido, é imperioso que nos
remontemos aos períodos anteriores à concessã o do benefício assistencial e, mais
precisamente, ao momento anterior ao implemento do requisito etá rio do instituidor.
O Sr. MARCELINO nasceu em 15/05/1948, tendo completado,
pois, a idade de 60 anos em 15/05/2008. Logo, de acordo com o art. 142, da Lei 8.213/91, é
necessá ria a comprovaçã o de 162 meses de carência, isto é, 13 anos e 06 meses de trabalho
rural em regime de economia familiar. Esse período de carência já estava satisfeito no momento
da DER do benefício assistencial, em 15/02/2010, conforme documentos trazidos aos
autos.
I.e) Do histórico de vida, dados do grupo familiar e do trabalho rural.
O instituidor trabalhou a vida inteira como trabalhador rural, em
regime de economia familiar, produzindo essencialmente para sua subsistência e de seu grupo
familiar. Nunca teve empregados contratados e, além disso, sempre laborou sem maquiná rios
em pequenas propriedades.
Na época do requerimento residia no Sítio
xxxxxxxxxxxxxxxxxxx, Linha xxxxxxxxx, Km xxx, xxxxxxxxxxxx, xxxxxxxxxxxxxxxx,
endereço que até hoje é ocupado pela parte autora, cônjuge sobrevivente.
A principal fonte de produçã o ao longo do tempo foi:

● café;
● leite;

● mandioca;

● banana.

Para que V. Exa., entenda bem por onde passou o autor, ao longo de
todos esses anos de trabalho pesado no campo, segue uma tabela na qual se insere a cronologia
da ocupaçã o e moradia da parte autora:

PERÍODO RURAL LOCALIZAÇÃ O DO DE QUEM ERA A TERRA?


TRABALHO

01/01/1978 a 01/01/1985 Sítio Sã o Bento (Paraná ) Pai da parte autora

02/01/1985 a 01/01/2000 Sítio Roça Pesada (Paraná ) Em nome do instituidor

02/01/2000 até o ó bito Chá cara Recanto Feliz (Mato Em nome do instituidor
Grosso)

PERÍODO TOTAL DE TRABALHO RURAL

de 1978 até a presente data

Em todos os locais acima, o trabalho do instituidor com seu grupo


familiar foi feito em pequenas propriedades, que nã o ultrapassaram 4 mó dulos fiscais. Além
disso, nunca trabalhou sob nenhuma outra categoria de filiaçã o à previdência social (AQUI
INFORMAR ALGUM PERÍODO URBANO, CASO TENHA EXISTIDO).
Como forma de facilitar o trabalho de V. Exa., relaciono abaixo o
nome e CPF das pessoas que compuseram o grupo familiar da parte autora ao longo dos
períodos acima:

PERÍODO RURAL MEMBROS DO GRUPO CPF


FAMILIAR

01/01/1978 a 01/01/1985 XXXXXXXXX (pai) XXXXXXXX


XXXXXXXXX (mã e) XXXXXXXX

XXXXXXXX (parte autora) XXXXXXXX

XXXXXXXXXXX (instituidor) XXXXXXXX


02/01/1985 a 01/01/2000 XXXXXXXX (parte autora) XXXXXXXXX

XXXXXXXXXXX (instituidor) XXXXXXXXX

XXXXXXXXX (filho do casal) XXXXXXXXX

02/01/2000 até o ó bito XXXXXXXX (parte autora) XXXXXXXXX

XXXXXXXXXXX (instituidor) XXXXXXXXX

A produçã o do grupo familiar da parte autora sempre foi voltada à


SUBSISTÊNCIA (aqui informar se houver produçã o que foi vendida em esclarecer se houve
algum tipo de DESENVOLVIMENTO SÓ CIOECONÔ MICO do grupo familiar).
Apesar do histó rico de trabalho rural acima indicado, a parte autora
teve INDEFERIDO junto ao INSS seu pedido de aposentadoria por idade na condiçã o de
segurada especial, sob o fundamento de “não comprovaçã o da qualidade de segurado especial”,
tendo sido concedido um benefício assistencial ao idoso.
Eis o motivo do ingresso da presente ação.
I.f) Da comprovação do trabalho rural (instrumentos ratificadores dos períodos rurais).
Como forma de comprovar o trabalho rural do instituidor, a parte
autora traz os seguintes documentos, conforme tabela abaixo.

INSTRUMENTO RATIFICADOR: EM NOME PRÓ PRIO ANO:


ou de TERCEIRO?

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx em nome pró prio 1985

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx em nome pró prio 1991

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx terceiro (pai) 1998

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx terceiro (cô njuge) 2001


II – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS.
A qualidade de segurado especial, bem como a carência necessá ria
estã o devidamente satisfeitos para o reconhecimento pretérito do direito à aposentadoria por
idade ao trabalhador rural e, consequentemente, a concessã o da pensã o por morte à parte
autora.
Conforme a nova dinâ mica normativa exigida para a comprovaçã o da
qualidade de segurado especial, há que se apontar que a parte autora cumpriu as exigências do
OFÍCIO-CIRCULAR nº 46 /DIRBEN/INSS, de 13 de setembro de 2019, de modo que
acompanham essa petiçã o inicial, ao menos, 1 instrumento ratificador para cada metade do
período de carência exigida.
Vejamos quais sã o os instrumentos ratificadores juntados para cada
metade do período de carência exigido no presente caso:

● Carência exigida = 162 meses

● METADE da carência exigida = 81 meses (6 anos e 9 meses)

● Logo, será necessá rio apenas 1 instrumento ratificador para cada 6 anos e 9 meses,
de acordo com o Ofício-Circular 46/19

NO CASO CONCRETO:
DER em 15/02/2010.

1ª metade da carência 15/05/2003 a 15/02/2010;

2ª metade da carência 14/08/1996 a 14/05/2003.

IMPLEMENTO do REQUISITO ETÁ RIO em 15/05/2008.

1ª metade da carência 15/08/2001 a 15/05/2008;

2ª metade da carência 14/11/1994 a 14/08/2001.

INSTRUMENTO DATA DE EMISSÃO DO SERVE PARA CARÊNCIA?


RATIIFICADOR INSTRUMENTO
RATIFICADOR
PARA QUAL METADE
DA CARÊNCIA?

Nota fiscal de compra de


insumos (vacina febre aftosa)
05/07/2008 SIM, para a 1ª metade da
carência, conforme quadro
acima.

Certidã o de casamento, na
qual consta a parte autora
23/04/2001 SIM, para a 2ª metade da
como LAVRADORA
carência, conforme quadro
acima.

07/2007 SIM, para a 1ª metade da


carência, conforme quadro
Conta de luz RURAL 09/2007
acima.
08/2007

Cabe registar, por fim, que INEXISTEM VÍNCULOS URBANOS


no CNIS, da parte autora, bem como do instituidor e, além disso, nã o há patrimô nio que
destoe de sua condiçã o de segurado especial, tendo sempre produzido para fins de
subsistência.
II.a) Da nova dinâmica normativa comprobatória da qualidade de segurado especial.
De todo modo, o que temos desde a MP 871/19, e até hoje, como
sendo de significativo impacto no sistema normativo de comprovaçã o do trabalho rural para fins
previdenciá rios é que nã o mais se exige aquele estreita vinculaçã o do art. 106, com o art. 55,
§3º, da Lei 8.213/91.
Isso significa que nã o há mais a necessidade de observâ ncia
invariá vel do binô mio probató rio “início de prova material complementado por prova
testemunhal” que se tornou tã o arraigado em nossa cultura judicial previdenciá ria, quando se
trata de segurado especial.
Existe uma nova dinâ mica probató ria estabelecida pelas mudanças
legislativas introduzidas pela MP 871/2019, convertida na Lei nº 13.846/2019.
A mudança nuclear para a alteraçã o do antigo regime probató rio foi a
revogaçã o do pará grafo ú nico, do art. 106, da Lei 8.213/91, deixando de existir a previsã o de
que a prova do período rural deveria observar o disposto no art. 55, §3º, daquela lei. Além
disso, foram inseridos os artigos 38-A, 38-B, na referida lei de benefícios da previdência social,
os quais, respectivamente, tratam da criaçã o de um cadastro dos segurados especiais no
Cadastro Nacional de Informaçõ es Sociais (CNIS) e da determinaçã o de que o INSS deverá
utilizar “as informaçõ es constantes do cadastro de que trata o art. 38-A para fins de
comprovaçã o do exercício da atividade e da condiçã o do segurado especial e do respectivo
grupo familiar”.
O §1º, do art. 38-B, segue assinalando que aquele cadastro servirá
como prova exclusiva da condiçã o de segurado especial a partir de 1º de janeiro de 2023.
Assinala-se, de outro lado, no §2º, do art. 38-B, que, para o período anterior a 1º de janeiro de
2020, o segurado especial comprovará o tempo de exercício da atividade rural por meio de
autodeclaraçã o. Essa autodeclaraçã o precisa ser ratificada por entidades pú blicas credenciadas
ou pelo pró prio INSS (art. 19-C, §17, do Decreto 3.048/99).
Esses dispositivos foram regulamentados por meio do Ofício-Circular
nº 46 /DIRBEN/INSS, de 13 de setembro de 2019. Em â mbito administrativo, o referido
Ofício-Circular nº 46 /DIRBEN/INSS, de 13 de setembro de 2019, foi editado para dar
orientaçõ es "para aná lise da comprovaçã o da atividade de segurado especial e computo dos
períodos em benefícios", considerando os "novos procedimentos decorrentes da publicaçã o da
Lei nº 13.846, de 18 de junho de 2019", servindo como norte interpretativo da realidade
normativa vigente desde a MP 871/19 para a comprovaçã o do trabalho rural.
Assim, nesse novo panorama normativo, a comprovaçã o da condiçã o
de trabalhador rural em regime de economia familiar deve ser feita com base nos dados
governamentais, bem como em documentos complementares juntados pela parte autora,
dispensando a – antes invariá vel – convocaçã o de audiência para se colher prova oral em
complementaçã o ao início de prova material juntado. Nada impede, claro, que, em havendo
contradiçã o, abra-se a possibilidade de dilaçã o probató ria em audiência ou, ainda, por meio de
qualquer prova idô nea e legalmente admitida em nosso ordenamento jurídico (art. 369, do
Có digo de Processo Civil). Nesses casos, pode ainda funcionar o art. 55, §3º, da Lei 8.213/91,
como instrumento normativo subsidiá rio relativamente ao objetivo de se atingir aquela
comprovaçã o. Entretanto, trata-se de norma subsidiá ria, porque somente terá aplicabilidade
quando for constatada à “falta de documento”, isto é, ausência dos instrumentos ratificadores ou
dos documentos complementares mencionados no Ofício-Circular 46/2019.
Assim, no panorama normativo atual, tudo gira em torno de uma
autodeclaraçã o do segurado especial a ser ratificada por meio de dados extraídos de bases
governamentais ou, se for o caso, por meio de documentos complementares, sendo
desnecessá ria, como regra, a realizaçã o de audiência para colheita invariá vel de prova oral
destinada a comprovaçã o da qualidade de segurado especial, sendo tal medida recomendá vel
apenas se houver, conforme o prudente convencimento do Juízo, contradiçã o entre aqueles
instrumentos ratificadores ou, ainda, qualquer outro dado que necessite ser esclarecido por meio
de depoimentos do segurado e/ou de testemunhas arroladas.
Deve, portanto, ser reconhecido o DIREITO À APOSENTADORIA
POR IDADE RURAL do falecido, quando da concessã o do benefício assistencial, gerando
direito à pensã o por morte quando de seu ó bito, ocorrido em 25/07/2021.
II.b) Da qualidade de dependente da parte autora e do tempo de duração da pensão
a ser concedida.
Comprovada a qualidade de segurado especial do falecido, cabe
frisar que a parte autora era casada com o instituidor, nos termos da certidã o de
casamento anexada aos autos.
No mais, na medida em que o casamento da parte autora já
contava com mais de 2 anos (muito mais), uma vez que estavam casados desde 1978, bem
como tomando em conta que o tempo de trabalhador rural já ultrapassava, como visto
acima, 15 anos, o tempo de duraçã o da pensã o por morte deve ser VITALÍCIO.
Isso porque ao tempo do ó bito, a parte autora já contava com 72
anos. Logo, estã o satisfeitos os requisitos previstos no art. 77, V, alínea “c”, item 6, da Lei
8.213/91.
III – DOS PEDIDOS.
Isto posto, com base nos fatos e fundamentos jurídicos acima
expostos, requer à V.Exa., o quanto segue:
a) concessã o da GRATUIDADE DA JUSTIÇA, tendo em vista que a parte autora é
hipossuficiente financeira, nos termos da Lei 1.060/50, bem como art. 98, do Có digo de
Processo Civil;
b) a CITAÇÃO do INSS, para que, querendo, apresente sua defesa;
c) a concessã o de TUTELA ANTECIPADA, eis que estã o presentes o fumus boni iuris e
o periculum in mora, tendo em vista, especialmente, tratar-se de verba de cará ter
alimentar e, bem assim, pessoa idosa que necessita urgentemente das prestaçõ es
previdenciá rias que lhe sã o de direito para sua sobrevivência;
d) a confirmaçã o da antecipaçã o da tutela com a consequente: a) declaraçã o da qualidade
de segurado especial do Sr. MARCELINO XXXXXXXXXXXXXXX, desde a data da
concessã o do benefício assistencial; b) a condenação do INSS na obrigação de
fazer consistente na concessão de PENSÃO POR MORTE em nome da parte
autora, reconhecendo-se tal direito desde a DER;
e) a condenação do INSS na obrigação de pagar consistente no direito de a parte autora
receber as parcelas atrasadas referentes ao benef ício concedido nos termos do item
anterior, compreendidas desde a DER at é a data da efetiva implanta çã o, acrescidos de
juros e correçã o monetá ria, respeitada a prescriçã o quinquenal na forma da Sú mula
85, do STJ.
Requer a produçã o de todos os meios de prova legalmente
admitidos, em especial, prova complementa çã o de prova documental e testemunhal , na
hipó tese de V. Exa., entender necessá rio o esclarecimento de questõ es eventualmente
controvertidas ao longo da instruçã o.
Informa, por fim, que a parte autora está disposta a realizar
conciliação/mediação, a ser analisada conforme proposta eventualmente apresentada pela
autarquia previdenciá ria.
Dá -se à causa o valor de R$ 35.000,00 (trinta e cinco mil reais),
conforme cá lculos anexos.
Nestes termos,
pede deferimento.
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, xxxx de xxxxxxxxxxx, de 2022.
_______________________________
OAB ............

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