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AO DOUTO JUÍZO DA _____ VARA CÍVEL DA COMARCA DE

_______________/__ [comarca de competência: foro do consumidor]

HARRY THIAGO POTTER, [nacionalidade], [estado civil], [profissão], portador


do RG sob o nº ____________________, inscrito no CPF sob o nº
_________________, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência,
por meio de seu procurador signatário, que junta neste ato instrumento de
procuração com endereço profissional completo para receber notificações e
intimações, propor a presente

AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO C/C DANOS MORAIS E PEDIDO DE


TUTELA DE URGÊNCIA em face de

BANCO GRINGOTES, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob


o nº __________________, sem endereço eletrônico conhecido, pelas razões
de fato e de direito a seguir expostas:

1. DOS FATOS

O autor, em __/__/2019, realizou com a Ré uma contratação para


financiamento [dados do negócio].

Assim, o valor total financiado foi de R$ ________, a serem pagos


em ___ parcelas de ________, com vencimento todo dia 10 do mês. 

Os juros remuneratórios previstos no contrato são de _____% ao


mês e ______% ao ano.

Ocorre que ao realizar um cálculo perante expert, verificou que os


valores cobrados estavam muito acima da média normal de mercado, sentindo-
se enganado e usado pela Instituição financeira requerida, o que motiva a
presente demanda com pedido revisional do contrato firmado.

1. PRELIMINARMENTE – DO FORO DO DOMICÍLIO DO


CONSUMIDOR

Impende anotar que o microssistema consumerista busca garantir ao


consumidor o real exercício dos direitos a ele assegurados na legislação,
dentre eles, a facilitação de sua defesa. A propósito, dispõe o artigo 6º, inciso
VIII, do Código de Defesa do Consumidor, in verbis:

“Art. 6º São direitos básicos do consumidor: (...)

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a


inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a
critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;”

Com efeito, deve ser assegurado ao consumidor, parte, em regra,


hipossuficiente no negócio jurídico e na relação processual, o amplo acesso ao
Judiciário. Tratando-se de cláusula contratual que estipula foro de eleição
capaz de inviabilizar a defesa judicial por parte dos consumidores, evidente que
deverá ser recebido o presente feito no domicilio do demandante.

Nesse sentido:

“RECURSO INOMINADO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. NEGÓCIOS


BANCÁRIOS. RELAÇÃO DE CONSUMO. FORO DE ELEIÇÃO.
INCOMPETÊNCIA TERRITORIAL. DOMICÍLIO DO CONSUMIDOR
QUE PREVALECE EM RELAÇÃO À CLÁUSULA DE ELEIÇÃO DE
FORO. RECURSO PROVIDO PARA DETERMINAR O RETORNO
DOS AUTOS AO JUÍZO DE ORIGEM PARA JULGAMENTO.
(Recurso Cível Nº 71007222235, Terceira Turma Recursal Cível,
Turmas Recursais, Relator: Giuliano Viero Giuliato, Julgado em
22/02/2018)” (grifos nossos).

“RECURSO INOMINADO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. NEGÓCIOS


BANCÁRIOS. RELAÇÃO DE CONSUMO. FORO DE ELEIÇÃO.
INCOMPETÊNCIA TERRITORIAL. DOMICÍLIO DO CONSUMIDOR
QUE PREVALECE EM RELAÇÃO À CLÁUSULA DE ELEIÇÃO DE
FORO. RECURSO PROVIDO PARA DETERMINAR O RETORNO
DOS AUTOS AO JUÍZO DE ORIGEM PARA JULGAMENTO.
(Recurso Cível Nº 71006112668, Quarta Turma Recursal Cível,
Turmas Recursais, Relator: Gisele Anne Vieira de Azambuja,
Julgado em 29/07/2016)”. (grifos nossos).

A doutrina ao lecionar sobre o tema, destaca sobre a liberalidade do


consumidor em escolher a competência que lhe permita o exercício da ampla
defesa:

"Escolha do consumidor O inciso I fala em autor: "A ação pode ser


proposta no domicílio do autor". Deve-se entender, então, o termo
"autor" como sendo consumidor, posto que o capítulo trata das
ações judiciais propostas em face do fornecedor. É regra expressa
que decorre do princípio geral de proteção ao consumidor e, neste
caso, especificamente insculpido nos incisos VII e VIII do art. 6º de
lei consumerista. Anote-se, também, que pouco importa a qualidade
do consumidor, se pessoa física ou jurídica. Todo e qualquer
consumidor tem o benefício." (LUIZ ANTONIO RIZZATO NUNES.
Comentário ao Código de Defesa do Consumidor. Saraiva. 2015,
Versão Kindle 22105-22110.)

Ademais, a própria jurisprudência do c. STJ caminha no sentido de


reconhecer a competência do domicílio do consumidor nos casos do art. 101
do CDC como absoluta, matéria de ordem pública. Senão, veja-se:
“DIREITO CIVIL. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
CONTRATO DE ADESÃO. ARTIGO 535, II, CPC. VIOLAÇÃO. NÃO-
OCORRÊNCIA. MULTA. EMBARGOS NÃO PROTELATÓRIOS.
AFASTADA. EXAME DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL.
IMPOSSIBILIDADE DE EXAME NA VIA DO RECURSO ESPECIAL.
COMPETÊNCIA TERRITORIAL ABSOLUTA. POSSIBILIDADE DE
DECLINAÇÃO DE COMPETÊNCIA. AJUIZAMENTO DA AÇÃO.
PRINCÍPIO DA FACILITAÇÃO DA DEFESA DOS DIREITOS.
COMPETÊNCIA. FORO DO DOMICÍLIO DO CONSUMIDOR. 1. Não
há por que falar em violação do art. 535 do CPC quando o acórdão
recorrido, integrado pelo julgado proferido nos embargos de
declaração, dirime, de forma expressa, congruente e motivada, as
questões suscitadas nas razões recursais. 2. É inviável a aplicação
da multa prevista no parágrafo único do artigo 538 do Código de
Processo Civil se os embargos declaratórios foram opostos com o
manifesto intento de prequestionar a matéria deduzida no apelo
especial, e não com o propósito de procrastinar o feito. Aplicação da
Súmula n. 98/STJ. 3. Refoge da competência outorgada ao Superior
Tribunal de Justiça apreciar, em sede de recurso especial, a
interpretação de normas e princípios de natureza constitucional. 4. O
magistrado pode, de ofício, declinar de sua competência para o juízo
do domicílio do consumidor, porquanto a Jurisprudência do STJ
reconheceu que o critério determinativo da competência nas ações
derivadas de relações de consumo é de ordem pública,
caracterizando-se como regra de competência absoluta. 5. O
microssistema jurídico criado pela legislação consumerista busca
dotar o consumidor de instrumentos que permitam um real exercício
dos direitos a ele assegurados e, entre os direitos básicos do
consumidor, previstos no art. 6º, VIII, está a facilitação da defesa
dos direitos privados. 6. A possibilidade da propositura de demanda
no foro do domicílio do consumidor decorre de sua condição pessoal
de hipossuficiência e vulnerabilidade. 7. Não há respaldo legal para
deslocar a competência de foro em favor de interesse de
representante do consumidor sediado em local diverso ao do
domicílio do autor. 8. Recurso especial parcialmente conhecido e
provido. (REsp 1032876/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em 18/12/2008, DJe
09/02/2009)”.

Portanto, requer seja reconhecido como competente o foro de


domicilio da parte Demandante.

2. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

a) DA INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR


E DA INVERSÃO DO ÔNUS DE PROVA

Inicialmente, impende ressaltar que há, na espécie, inequívoca


relação consumerista entre as partes litigantes, de tal sorte que, além da
legislação atinente ao mercado financeiro, se impõe a aplicabilidade do Código
de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90).

As partes se amoldam com perfeição aos conceitos legais de


consumidor e fornecedor, nos termos dos arts. 2º e 3º, do CDC. Ademais, a
relação estabelecida se enquadra na conceituação de relação de consumo,
apresentando todos os aspectos necessários para a aplicabilidade do codex
consumerista, vez que esta legislação visa coibir infrações inequivocamente
cometidas no caso em exame.

Ademais, a sujeição das instituições financeiras às disposições do


Código de Defesa do Consumidor foi declarada constitucional pelo Plenário do
Supremo Tribunal Federal no julgamento da ação direta de
inconstitucionalidade 2.591/DF DJU de 13.4.2007, p. 83.
Trata-se de redação clara da Súmula 297 do Superior Tribunal de
Justiça, que assim dispõe:

Súmula 297 STJ: O Código de Defesa do consumidor é aplicável às


instituições financeiras. Trata-se da materialização exata do Princípio da
Isonomia, segundo o qual, todos devem ser tratados de forma igual perante a
lei, observados os limites de sua desigualdade, sendo devido a inversão do
ônus da prova.

Esse contexto conduz a uma inexorável desigualdade material que


clama pela incidência do CDC.

O CDC no seu artigo 6º é muito claro, pois preceitua que são


direitos básicos do consumidor a informação adequada e clara sobre os
diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade,
características, composição, qualidade e preço, bem como os riscos que
apresentem.

Corolário lógico da aplicabilidade do CDC ao caso objeto desta


demanda é a inversão do ônus probatório, conforme dispõe o art. 6º, VIII, do
CDC, verbis:

“Art. 6º - São direitos básicos do consumidor: (...)

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a


inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a
critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;”

A inversão do ônus da prova, em favor do consumidor, está


alicerçada na aplicação do princípio constitucional da isonomia, “pois o
consumidor, como parte reconhecidamente mais fraca e vulnerável na relação
de consumo (CDC 4º I), tem de ser tratado de forma diferente, a fim de que
seja alcançada a igualdade real entre os partícipes da relação de consumo. O
inciso comentado amolda-se perfeitamente ao princípio constitucional da
isonomia, na medida em que trata desigualmente os desiguais, desigualdade
essa reconhecida pela própria lei.”

Trata-se da materialização exata do Princípio da Isonomia, segundo


o qual, todos devem ser tratados de forma igual perante a lei, observados os
limites de sua desigualdade, como já deliberado pelo STJ:

"(...) aos atos técnicos praticados de forma defeituosa pelos


profissionais da saúde vinculados de alguma forma ao hospital,
respondem solidariamente a instituição hospitalar e o profissional
responsável, apurada a sua culpa profissional. Nesse caso, o
hospital é responsabilizado indiretamente por ato de terceiro, cuja
culpa deve ser comprovada pela vítima de modo a fazer emergir o
dever de indenizar da instituição, de natureza absoluta (arts. 932 e
933 do CC), sendo cabível ao juiz, demonstrada a
hipossuficiência do paciente, determinar a inversão do ônus da
prova (art. 6º, VIII, do CDC)" (REsp 1.145.728/MG, Relator o
Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, DJe de 28.6.2011).

Desta feita, requer-se, desde já, o deferimento da inversão do ônus


da prova, com fulcro no art. 6º, VIII do CDC.

b) DA FALHA NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS – ART. 14 DO


CDC

Em se tratando de aplicação do CDC, deve ser levado em


consideração todo o narrado, porquanto a situação em comento é clara no
sentido de que, como fornecedora de produtos e serviços, a empresa requerida
deverá responder de objetivamente pelos atos praticados indevidamente contra
a pessoa da requerente:
“Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
fruição e risco.”

Assim, são aplicáveis as normas da lei consumerista, mormente as


inerentes à proteção contratual, à oferta e publicidade, às práticas comerciais e
às cláusulas abusivas.

Caracterizada a relação jurídica de consumo, inafastáveis as normas


do Código de Defesa do Consumidor para a disciplina da relação acima
descrita.

Ainda cabe mencionar o que está previsto no inciso VIII do artigo 6o


do Código de Defesa do Consumidor: “A facilitação da defesa de seus direitos,
inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências” (grifo nosso).

A mais nova e moderna doutrina aponta o dever de qualidade nas


relações de consumo como um dos grandes nortes instituídos pelo Código de
Defesa do Consumidor. Tal dever de qualidade encontra-se visceralmente
ligado à necessidade de se conferir segurança e eficiência aos serviços
prestados aos consumidores, notadamente em práticas relacionadas à
prestação de serviços essenciais, como é o caso dos autos.

Sobre o tema, vale transcrever o magistério constante na obra


conjunta dos doutrinadores Antônio Herman V. Benjamin e Cláudia Lima
Marques:

“Realmente, a responsabilidade do fornecedor em seus aspectos


contratuais e extracontratuais, presentes nas normas do CDC (art.
12 a 27), está objetivada, isto é, concentrada no produto ou no
serviço prestado, concentrada na existência de um defeito (falha na
segurança) ou na existência de um vício (falha na adequação, na
prestabilidade). Observando a evolução do direito comparado, há
toda uma evidência de que o legislador brasileiro inspirou-se na
idéia de garantia implícita do sistema da commom law (implied
warranty). Assim, os produtos ou serviços prestados trariam em si
uma garantia de adequação para o seu uso, e, até mesmo, uma
garantia referente à segurança que deles se espera. Há
efetivamente um novo dever de qualidade instituído pelo CDC, um
novo dever anexo à atividade dos fornecedores. (...)”. [1]

NELSON NERY JUNIOR e ROSA MARIA DE ANDRADE NERY (in


Código Civil Comentado. 12. ed. rev., ampl. atual. – São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2017. p. 1.405) ensinam:

“A responsabilidade civil no CDC se assenta no risco da atividade do


fornecedor em face do consumidor, tenta pelo aspecto contratual
quanto pelo aspecto extracontratual. Tanto a responsabilidade pelos
acidentes de consumo com a decorrente dos vícios do produto ou
serviço (CDC 12, 14, 18 e 19) se estribam na teoria objetiva. O
fundamento do dever de indenizar, aqui, é o risco da atividade: por
isso a responsabilidade objetiva se aplica a todas as hipóteses
decorrentes de danos experimentados pelo consumidor em
decorrência de relação jurídica de consumo (CDC 6.º VI e 8.º)”.

Ao tratar-se da segurança nas relações de consumo, não se pode


perder de vista os riscos inerentes à sociedade de massa, os quais são
impossíveis de eliminar, cumprindo ao Poder Judiciário o difícil papel de
controlá-los. Como bem salientou o doutrinador acima aludido, “o objetivo da
teoria da qualidade – na vertente de proteção à incolumidade físico-psíquica do
consumidor – não é reduzir todos os riscos associados com produtos ao
patamar zero, já que o custo seria muito maior do que aquele que os indivíduos
e a sociedade podem arcar. O que se pretende é que todos os esforços sejam
encetados no sentido de assegurar que os riscos mantenham-se no limite do
razoável”[2] .

É certo que sua responsabilidade só pode ser elidida ante a


demonstração de que o defeito inexistiu ou que se deu por fato exclusivo da
vítima ou de terceiro, nos termos do que dispõe o artigo, 14, § 3º, incisos I e II,
do referido estatuto, o que não ocorreu na espécie.

No caso em apreço, denota-se que a Requerida cobra valores


abusivos a respeito dos juros no empréstimo contratado pelo Autor,
sendo que a maior parte do seu salário está sendo dirigido ao pagamento
do empréstimo, como podemos observar:

[colocar imagens do contrato, acerca dos juros abusivos]

Portanto, existindo a falha na prestação dos serviços pela


abusividade dos juros, evidente a falha na prestação de serviços, pelo que se
passa a expor nos termos a seguir.

c) DA DELIMITAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS


CONTROVERTIDAS

Como a relação contratual entre as partes é de empréstimo,


observa-se o disposto no art. 330, § 2º, do Código de Processo Civil:

“§ 2º Nas ações que tenham por objeto a revisão de obrigação


decorrente de empréstimo, de financiamento ou de alienação de
bens, o autor terá de, sob pena de inépcia, discriminar na petição
inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende
controverter, além de quantificar o valor incontroverso do débito.”
Assim, o Autor pretende alcançar provimento judicial, de modo a
afastar os encargos contratuais tidos por ilegais.

Deste modo, requer: i) afastar a cobrança de juros capitalizados,


com periodicidade diária, com fundamento na ausência de ajuste expresso
nesse sentido e onerosidade excessiva; ii) reduzir os juros remuneratórios, com
fundamento na taxa que ultrapassa a média do mercado; iii) excluir todos os
encargos moratórios, com fundamento no fato de o Requerente não se
encontrar em mora, posto que foram cobrados encargos contratuais,
ilegalmente, durante o período de normalidade; iv) afastar a cumulatividade na
cobrança de encargos moratórios, remuneratórios e comissão de permanência,
com fundamento na colisão com as súmulas correspondentes do STJ/STF.

Diante disto, o Autor acosta planilha provisória com cálculos, a qual


demonstra, por estimativa, o valor a ser pago:

(a) Valor da obrigação ajustada no contrato: xx parcelas de R$


xxxxxxxx. Total financiado: R$ xxxxxxxx.

(b) valor controverso estimado da parcela R$ XXXXXXXXXXXX

(c) valor incontroverso estimado da parcela R$ XXXXXXXXXXXX

Nesse compasso, com supedâneo na regra processual invocada, o


Autor requer que Vossa Excelência defira o depósito, em juízo, da parte
estimada como controversa.

d) DA ABUSIVIDADE DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS

Em primeiro lugar, não se pode perder de vista que o caráter de


“norma de ordem pública” atribuído ao Código de Defesa do Consumidor,
aplicável em casos como os tais, derroga a liberdade contratual, com a
relativização da força obrigatória dos contratos, ajustando-a aos parâmetros da
lei.
Ao desincumbir-se da sua missão, cumpre ao Judiciário sindicar as
relações consumeristas instaladas quanto ao respeito às regras consignadas
no CDC, que são qualificadas expressamente como de ordem pública e de
interesse social (artigo 1º), o que legitima mesmo a sua ação ex officio,
permitindo a declaração de nulidade de pleno direito de convenções ilegais e
que impliquem excessiva onerosidade e vantagem exagerada ao credor, forte
no artigo 51, IV e § 1º, do CDC.

Isso porque, é nula a cláusula que estabeleça obrigações


consideradas iníquas, que coloquem o consumidor em desvantagem. Também,
mostra-se exagerada a cláusula que restringe direitos ou obrigações inerentes
à natureza do contrato, ameaçando seu objeto e equilíbrio, ou ainda que seja
excessivamente onerosa ao consumidor.

Tal incidência também é de ser considerada em razão da função


social do contrato.

Nestas circunstâncias, o art. 47, do CDC, determina que as


cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao
consumidor.

Ora, o Autor contratou com o Banco Réu [especificar a


negociação]. Assim, xx parcelas de R$xxx, totalizam R$ xxxxxx, ou seja,
EXTREMAMENTE ABUSIVO, pois são o dobro da média normal do Banco
Central.

e) DA CAPITALIZAÇÃO DOS JUROS

Prima facie, necessário gizar que, no tocante à capitalização dos


juros, não há se falar em ofensa às Súmulas 539 e 541 do Superior Tribunal
Justiça, abaixo aludidas:
“STJ, Súmula 539 - É permitida a capitalização de juros com
periodicidade inferior à anual em contratos celebrados com
instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de
31/3/2000 (MP 1.963-17/00, reeditada como MP 2.170-36/01),
desde que expressamente pactuada.”

“STJ, Súmula 541 - A previsão no contrato bancário de taxa de


juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para
permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada.”

De mais a mais, não existe no acerto em espécie qualquer cláusula


que estipule a celebração da cobrança de juros capitalizados diários.

Para além disso, fundamental sublinhar que a cláusula de


capitalização, por ser de importância ao desenvolvimento do contrato, deve ser
redigida a demonstrar exatamente ao contratante do que se trata, assim como
quais reflexos gerarão no plano do direito material.

É mister, por isso, perceber que o pacto, à luz do princípio


consumerista da transparência, requer informação clara, correta, precisa, sobre
o quanto firmado. Mesmo na fase précontratual, deve conter: 

1) redação clara e de fácil compreensão (art. 46);

2) informações completas acerca das condições pactuadas e seus


reflexos no plano do direito material;

3) redação com informações corretas, claras, precisas e ostensivas,


sobre as condições de pagamento, juros, encargos, garantia (art. 54, parágrafo
3º, c/c art. 17, I, do Dec. 2.181/87);

4) em destaque, a fim de permitir sua imediata e fácil compreensão,


as cláusulas que implicarem limitação de direito (art. 54, parágrafo 4º).
Consequentemente, inarredável que essa relação jurídica segue
regulada pela legislação consumerista. Por isso, uma vez seja constada a
onerosidade excessiva, a hipossuficiência do consumidor, autorizada a revisão
das cláusulas, independentemente do contrato ser "pré" ou "pós" fixado.

Assim sendo, o princípio da força obrigatória contratual (pacta sunt


servanda) deve ceder, e coadunar-se, ao Código de Defesa do Consumidor.

Nesse sentido:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. AÇÃO DECLARATÓRIA PARA RECONHECIMENTO
DE SITUAÇÃO JURÍDICA DE SUPERENDIVIDAMENTO COM
PEDIDO DE REVISÃO CONTRATUAL. CREFISA. EVIDENTE
ABUSIVIDADE DOS JUROS REMUNERATÓRIOS. TUTELA DE
URGÊNCIA MANTIDA. AGRAVO DE INSTRUMENTO
DESPROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70076662634, Décima
Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ana
Lúcia Carvalho Pinto Vieira Rebout, Julgado em 10/05/2018). (TJ-
RS - AI: 70076662634 RS, Relator: Ana Lúcia Carvalho Pinto Vieira
Rebout, Data de Julgamento: 10/05/2018, Décima Segunda Câmara
Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 14/05/2018)”.
(grifos nossos).

Obviamente que, uma vez identificada a ilegalidade da cláusula que


prevê a capitalização diária dos juros, esses não poderão ser cobrados em
qualquer outra periodicidade (mensal, bimestral, semestral, anual). É que,
lógico, inexiste previsão contratual nesse sentido; do contrário, haveria nítida
interpretação extensiva.

Com efeito, o Código Civil é peremptório ao dispor: 


“Art. 843. A transação interpreta-se restritivamente, e por ela não se
transmitem, apenas se declaram ou reconhecem direitos.”

Nessa linha de intelecção, ilustrativamente, a inexistência de


cláusula de capitalização diária, não significa, por si, a inexistência de sua
cobrança. Fosse assim, qualquer banco colocaria, por exemplo, não houver
sequer capitalização de juros. “Ponto, assunto encerrado. ” Não é isso, lógico.

No particular, portanto, é forço concluir que a inexistência da


cláusula nesse propósito (capitalização diária), chega a espantar quaisquer
gerentes de bancos. Todos são unânimes: a cobrança de juros capitalizados é
(e sempre será) diária.

Ademais, sobreleva considerar que, em uma dívida em atraso de,


suponhamos, oitenta e nove dias, o banco só cobraria sessenta dias (duas
mensalidades capitalizadas). Assim, deixaria a capitalização dos outros vinte e
nove (porque não completou 30 dias). Hilariante a qualquer bancário.

Postas essas premissas, conclui-se que: declarada nula a cláusula


de capitalização diária, vedada a capitalização em qualquer outra modalidade.

Subsidiariamente (CPC, art. 326), seja definida a capitalização de


juros como anual (CC, art. 591), ainda assim decorrendo a desconsideração da
mora.

f) DOS JUROS REMUNERATÓRIOS

Ademais, sobreleva considerar que o Banco Réu cobra, ao longo de


todo trato contratual, taxas remuneratórias bem acima da média do mercado.

Isso pode ser constatado com uma análise junto ao site do Banco
Central do Brasil:
[aqui, você deve pesquisar junto ao banco central o tipo de contrato,
o período em que ele foi realizado, para trazer a tabela adequada ao caso]

 Não sendo esse o entendimento, aguarda-se sejam apurados tais


valores em sede de prova pericial.

g) DA AUSÊNCIA DE MORA

De todo modo, não há se falar em mora do Autor. Isto porque, a


mora reflete uma inexecução de um encargo, injusto retardamento,
descumprimento culposo da obrigação. Vejamos os artigos 394 e 296 do
Código Civil neste sentido:

“Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o


pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e
forma que a lei ou a convenção estabelecer.”

“Art. 396. Não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não


incorre este em mora.”

Nesse mesmo sentido, que julgado que segue para corroborar:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL. CONTRATO DE


FINANCIAMENTO DE VEÍCULO. SENTENÇA DE PARCIAL
PROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA DE AMBAS AS PARTES.
RECURSO DO BANCO REQUERIDO. DEFENDIDA A
INEXISTÊNCIA DE CLÁUSULAS ABUSIVAS CONTRATADAS,
ANTE A LIVRE MANIFESTAÇÃO DE VONTADE DAS PARTES.
REJEIÇÃO. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. EXEGESE DA SÚMULA 297 DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA. POSSIBILIDADE DA REVISÃO DAS
CLÁUSULAS CONTRATUAIS. INTELIGÊNCIA DO ART. 6º, INC. V,
E 51, INC. IV, DO CÓDIGO CONSUMERISTA.
PREQUESTIONAMENTO. MATÉRIA RECURSAL ANALISADA NA
TOTALIDADE, COM CLARA E PRECISA FUNDAMENTAÇÃO.
DESNECESSIDADE DE MANIFESTAÇÃO EXPRESSA DE TODOS
OS DISPOSITIVOS LEGAIS INVOCADOS PELA PARTE.
RECURSO DO AUTOR. ADMISSIBILIDADE. 1) ARGUIDA A
VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA INDELEGABILIDADE E DA
LEGALIDADE E DEFENDIDA A REPETIÇÃO DO INDÉBITO.
QUESTÕES NÃO VENTILADAS NA EXORDIAL. INJUSTIFICADA
INOVAÇÃO RECURSAL. APLICAÇÃO DO ART. 1.014 DO CÓDIGO
DE PROCESSO CIVIL DE 2015 (ART. 517 DO CPC/73). 2) PEDIDO
DE CONCESSÃO DA JUSTIÇA GRATUITA. INSUBSISTÊNCIA.
BENEFÍCIO JÁ CONCEDIDO PELO JUÍZO A QUO QUE SE
ESTENDE AOS DEMAIS GRAUS DE JURISDIÇÃO. 3) TARIFA DE
ABERTURA DE CRÉDITO - TAC E TARIFA DE EMISSÃO DE
CARNÊ - TEC. AUSÊNCIA DE ATAQUE ESPECÍFICO AO
DECISUM OBJURGADO. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA
DIALETICIDADE (ART. 514, II, DO CPC/73 - ART. 1.010, II E III, DO
CPC/2015). PONTOS NÃO CONHECIDOS. PRELIMINAR.
ALEGADO CERCEAMENTO DE DEFESA. AFASTAMENTO.
PROVA REQUERIDA DISPENSÁVEL À SOLUÇÃO DA LIDE.
EXEGESE DOS ARTS. 370 E 355 DO CPC/15 (ARTS. 130 E 330,
INCISO I, DO CPC/73). PROEMIAL RECHAÇADA. MÉRITO.
PEDIDO PARA O AFASTAMENTO DA CAPITALIZAÇÃO DE
JUROS. NÃO ACOLHIMENTO. AVENÇA FIRMADA APÓS A
PUBLICAÇÃO DA MP 2.170-36/2001. ENCARGO AJUSTADO E
VERIFICADO PELA EXPRESSÃO NUMÉRICA. INCIDÊNCIA DA
SÚMULA N. 541 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
CLÁUSULA DE VENCIMENTO ANTECIPADO DA DÍVIDA.
SUSTENTADA NULIDADE. REJEIÇÃO. EXEGESE DO DISPOSTO
NO ART. 1.425 DO CÓDIGO CIVIL. DISPOSIÇÃO EXPRESSA NO
CONTRATO. EFEITOS DA MORA. IRREGULARIDADE
VERIFICADA NO PERÍODO DE NORMALIDADE CONTRATUAL.
POSSIBILIDADE DE DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA
DEBITORIS. ORIENTAÇÃO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA (RESP N. 1.061.530/RS), ACOMPANHADA POR ESTE
ÓRGÃO FRACIONÁRIO. INSURGÊNCIAS COMUNS. JUROS
REMUNERATÓRIOS. APLICAÇÃO DA ORIENTAÇÃO FIRMADA
NO RESP N. 1.061.530/RS (RECURSO REPETITIVO), NA
SÚMULA 382 DO STJ. TAXAS AJUSTADAS QUE SE
ENCONTRAM ACIMA DOS PARÂMETROS ASSENTES NA
JURISPRUDÊNCIA. ABUSIVIDADE CONFIGURADA. MANTIDA A
SENTENÇA QUE LIMITOU AS TAXAS CONTRATADAS AO
PERCENTUAL DA MÉDIA DE MERCADO DIVULGADO PELO
BANCO CENTRAL. In casu, a Taxa Contratada é de 2,12% (dois
vírgula doze por cento) ao mês e 28,58% (vinte e oito vírgula
cinquenta e oito por cento) ao ano, enquanto a Taxa Média
divulgada pelo BACEN (Taxa média de juros - Pessoas Físicas -
aquisição de veículo) vigente à época era de 1,74% (um vírgula
setenta e quatro por cento) ao mês e 22,99% (vinte e dois vírgula
noventa e nove por cento) ao ano, de modo que abusiva a cláusula
avençada entre as partes. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA
CONTRATADA ATRAVÉS DA NOMENCLATURA "JUROS
REMUNERATÓRIOS PARA OPERAÇÕES EM ATRASO".
LEGALIDADE DA COBRANÇA QUANDO EXISTIR EXPLÍCITA
CONVENÇÃO E NÃO ULTRAPASSAR A SOMA DOS ENCARGOS
REMUNERATÓRIOS E MORATÓRIOS PREVISTOS NO
CONTRATO, VEDADA, CONTUDO, A CUMULAÇÃO COM OS
JUROS REMUNERATÓRIOS, MORATÓRIOS, MULTA
CONTRATUAL E CORREÇÃO MONETÁRIA. SÚMULA 472 DO STJ
E ENUNCIADO III DO GRUPO DE CÂMARAS DE DIREITO
COMERCIAL DESTA CORTE. RECURSO DO AUTOR PROVIDO
PARA PERMITIR A INCIDÊNCIA EXCLUSIVA DA COMISSÃO DE
PERMANÊNCIA, AFASTANDO-SE OS DEMAIS ENCARGOS PARA
EVITAR A CUMULAÇÃO. ÔNUS SUCUMBENCIAL. 1)
MODIFICAÇÃO DO DECISUM NESTE GRAU DE JURISDIÇÃO
QUE RESULTOU EM SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA E NA MESMA
PROPORÇÃO. ALTERAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO PARA IMPUTAR
50% (CINQUENTA POR CENTO) DO ÔNUS A CADA PARTE. 2)
HONORÁRIOS RECURSAIS. MAJORAÇÃO DA VERBA EM
FAVOR DO CAUSÍDICO DA PARTE AUTORA. EXEGESE DO ART.
85, § 11, DO CPC/15 E DOS PARÂMETROS ESTABELECIDOS
PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA NO JULGAMENTO
DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO INTERNO NO
RECURSO ESPECIAL N. 1.573.573/RJ. RECURSO DO BANCO
CONHECIDO E DESPROVIDO. APELO DO AUTOR
PARCIALMENTE CONHECIDO E EM PARTE PROVIDO. (TJ-SC -
AC: 03023255920158240015 Canoinhas 0302325-
59.2015.8.24.0015, Relator: Newton Varella Júnior, Data de
Julgamento: 16/07/2019, Segunda Câmara de Direito Comercial”.

Desta forma, requer o Autor que seja reconhecida a ausência de


mora, pela abusividade dos juros cobrados pela Ré.

h) DOS DANOS MORAIS

Restou demonstrado nos fatos os danos extrapatrimoniais que


devem ser indenizados pela Parte Requerida, pois há nítida abusividade de
juros no contrato firmado entre a Requerida e o Requerente.

No caso em apreço, nota-se que a parte Requerida se aproveita da


situação hipossuficiente do consumidor, cobra JUROS ABUSIVOS, acima da
média do mercado, sabidamente porque muitos dos clientes não
buscarão o judiciário a fim de recuperar o valor que tem direito, seja por
falta de conhecimento, seja pelo custo/benefício de ingressar na justiça, assim
sendo se torna vantajoso para a Ré, e outras grandes empresas, continuarem
assim e lesando seus clientes.

Por dano moral entende-se o dano que atinge os atributos da


personalidade, como imagem, bom nome, a qualidade ou condição de ser de
uma pessoa, a intimidade e a privacidade. Tem natureza compensatória e não
ressarcitória. Para o dano patrimonial há a reparação, para o dano à
personalidade, há o regime de compensação.

Para Stoco (2011), os direitos da personalidade são direitos


fundamentais com origens e raízes constitucionais. São, portanto, direitos do
homem, competindo ao Estado o dever de defendê-los. Os direitos da
personalidade são aqueles sem os quais todos os outros direitos subjetivos
perderiam o interesse. Nesse sentido, também afirmam Arnoldo Wald e Bruno
Pandori Giancoli (2012) que os direitos à honra, ao nome, à intimidade, à
privacidade e à liberdade estão englobados no direito à dignidade, esta que é a
base de todos os valores.

Para Venosa (2012), o direito ao dano moral reside no fato de que


ninguém deve prejudicar o próximo (neminem laedere). E, continua o
doutrinador sustentando que o conceito de culpa é alargado, não mais se
amoldando à trilogia imprudência, negligência e imperícia. O vasto campo da
responsabilidade extranegocial transita na esfera da culpa implícita ou
evidente.

Para Yussef Sair Cahali (2011), em “Dano Moral”, tanto no dano


patrimonial quanto no extrapatrimonial, é permanente o caráter sancionatório e
aflitivo, portanto, não há distinção ontológica substancial, quando muito em
grau. Gisela Sampaio da Cruz Guedes (2011), por sua vez, esclarece que o
dano moral no Brasil é utilizado como “válvula de escape”, sempre que o
julgador resolve fazer certos ajustes de conta, para não deixar a vítima sem
reparação.
O Código Civil, por sua vez, estabelece a responsabilidade pela
prática de atos ilícitos causadores de danos morais nos artigos 186 e 927, aqui
transcritos:

“Art. 186 – aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência


ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

“Art. 927 – aquele que por ato ilícito causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.”

Não fosse por isso, como já ressalvado, a demanda deve ser


analisada à luz das regras e princípios estabelecidos pela legislação de
consumo, que facilita a defesa dos direitos do consumidor em juízo, inclusive
mediante a inversão do ônus probatório.

Neste sentido, aplica-se o disposto no art. 14 do CDC, tendo em


vista a relação de consumo entre as partes, sendo que, diante a falha na
prestação dos serviços da Parte Requerida, independe da culpa, possui
responsabilidade objetiva pelos danos causados ao consumidor.

Corroborando com o alegado, tem-se o seguinte precedente:

“CONTRATO BANCÁRIO. Empréstimo consignado. Ação revisional.


Reconhecimento da abusividade da taxa de juros remuneratórios
praticada pela instituição financeira em exorbitantes 22,00% ao mês
e 987,22% ao ano. Hipótese em que se faz impositiva a limitação
dos juros à taxa média de mercado divulgada pelo Banco Central do
Brasil para as operações de crédito da espécie. Consideração de
que, identificado no caso o desequilíbrio contratual decorrente da
onerosidade excessiva em detrimento da humilde consumidora,
justifica-se a imposição à ré da repetição em dobro dos valores
indevidamente cobrados e pagos a maior pela tomadora dos
empréstimos, que é pessoa simples e que aufere diminuto benefício
previdenciário (aposentadoria), escancarada, na espécie, a atuação
maliciosa da instituição financeira em captar a adesão da mutuária a
ajuste tão danoso aos seus interesses. Danos morais. Juros
exorbitantes. Situação que acarretou angústia e transtorno à
tomadora do empréstimo, que em muito superaram o dissabor
próprio do insucesso negocial, especialmente porque se cuida de
pessoa humilde e de poucos recursos [recebe benefício
previdenciário de um salário mínimo do INSS], que coagida pelas
vicissitudes da vida e sem obter informações adequadas sobre os
precisos alcances e consequências da contratação, acabou se
sujeitando ao poder da instituição financeira e aderiu a ajuste
extremamente danoso aos seus interesses. Configuração.
Indenização arbitrada em R$ 5.000,00. Sentença de improcedência
reformada. Pedido inicial julgado parcialmente procedente. Recurso
em parte provido. Dispositivo: deram parcial provimento ao recurso.
(TJ-SP - AC: 10045583720198260291 SP 1004558-
37.2019.8.26.0291, Relator: João Camillo de Almeida Prado Costa,
Data de Julgamento: 27/05/2020, 19ª Câmara de Direito Privado,
Data de Publicação: 27/05/2020)”. (grifos nossos)

Frisa-se que não pode a Parte Requerida alegar excludentes de


ilicitudes, tais como culpa exclusiva da vítima, sem que prove cabalmente suas
alegações, por forçado artigo 373, inciso II, do NCPC.

Ademais, a Constituição Federal de 1.988, no artigo 5º, incisos V e


X, prevê a proteção ao patrimônio moral, in verbis:

“V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,


além da indenização por dano material, moral ou à imagem”;
(…) X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação.”

Assim, perfeitamente cabível à espécie a aplicação dos arts. 186 e


927, do Código Civil Brasileiro, que asseguram o direito à reparação moral.

 O Código de Defesa do Consumidor, no seu artigo 6º, protege a


integridade moral dos consumidores, pois refere que são direitos básicos do
consumidor a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos.

Ainda, consoante a assertiva propalada por José de Aguiar Dias: “O


conceito de dano é único, e corresponde a lesão de um direito” (Da
Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 737).

Bem como ainda, por Moral, na dicção de Luiz Antônio Rizzatto


Nunes, entende-se “(…) tudo aquilo que está fora da esfera material,
patrimonial do indivíduo” (O Dano Moral e sua interpretação jurisprudencial.
São Paulo: Saraiva, 1999, p. 1).

Reputa-se o dano moral como uma dor interior, não apreciável


economicamente, pois se cinge a um sentimento negativo, que não causa
modificações no mundo exterior, mas, tão-somente, na esfera íntima do
ofendido.

MAS NO CASO EM APREÇO, NÃO SÓ O SENTIMENTO


NEGATIVO DEVE SER SOPESADO, COMO TAMBÉM O SENTIMENTO DE
IMPOTENCIA FRENTE A PARTE REQUERIDA, QUE DEIXOU DE
DILIGENCIAR E PROTEGER O CONSUMIDOR, SEM CONTAR A DESÍDIA
EM RESOLVER SEU PROBLEMA DE FORMA EXTRAJUDICIAL.
Destarte, in casu o DANO MORAL existe in re ipsa, bastando para
a sua reparação a prática do ato ilícito com reflexo nas relações psíquicas da
parte Autora, notadamente, no que tange à sua tranquilidade, segurança, tendo
sido LITERALMENTE violado os seus direitos.

Em outras palavras, o dano moral existe in re ipsa; deriva


inexoravelmente do próprio fato ofensivo, de tal modo que, provada a ofensa,
ipso facto está demonstrado o dano moral à guisa de uma presunção natural,
uma presunção hominis ou facti, que decorre das regras de experiência
comum.” (in Programa de Responsabilidade Civil, 6ª ed., Malheiros, 2005, p.
108)

Para ser indenizado por dano moral é necessário, tão somente, que
o consumidor identifique a parte que lhe praticou o ilícito retro mencionado,
sendo desnecessário comprovar que houve efetivamente o dano.

Nesta linha de intelecção é o entendimento do Superior Tribunal de


Justiça:

“APELAÇÃO CÍVEL INTERPOSTA NA VIGÊNCIA DO CPC/15.


AÇÃO REVISIONAL. EMPRÉSTIMOS PESSOAIS COM
DESCONTO EM CONTA CORRENTE NA QUAL A AUTORA
PERCEBE PROVENTOS DE APOSENTADORIA. ALEGAÇÃO
AUTORAL DE COBRANÇA ABUSIVA DE JUROS.
SUPERENDIVIDAMENTO. LAUDO PERICIAL CONTÁBIL
CONCLUSIVO ACERCA DA APLICAÇÃO DE TAXAS
SUPERIORES ÀS ESTIPULADAS NO CONTRATO. SENTENÇA
QUE JULGOU PROCEDENTE O PEDIDO, CONDENANDO A
PARTE RÉ A DEVOLUÇÃO EM DOBRO DOS VALORES
DESCONTADOS ACIMA DAS TAXAS PACTUADAS NOS
CONTRATOS, BEM COMO A PAGAR À AUTORA A QUANTIA DE
R$ 10.000,00, A TÍTULO DE DANOS MORAIS. RECURSO
EXCLUSIVO DA PARTE RÉ, PUGNANDO PELA REFORMA DA
SENTENÇA, PARA QUE SEJAM JULGADO IMPROCEDENTES OS
PEDIDOS, OU SUBSIDIARIAMENTE PELA REDUÇÃO DO
QUANTUM FIXADO A TÍTULO DE DANOS MORAIS. ATO ILÍCITO
PRATICADO, ENSEJANDO O RESSARCIMENTO EM DOBRO
DOS VALORES INDEVIDOS COBRADOS DA PARTE AUTORA.
JUROS APLICADOS EM DESACORDO COM O CONTRATO, E
TRÊS VEZES SUPERIOR À MÉDIA DO MERCADO. ABUSIVIDADE
E DESLEALDADE FLAGRANTES, EM DETRIMENTO DA PARTE
VULNERÁVEL DO CONTRATO. DANO MORAL CONFIGURADO,
ESPECIALMENTE EM SE VERIFICANDO QUE A RÉ, CREFISA,
FAZIA OS DESCONTOS ABUSIVOS DIRETAMENTE NA CONTA
EM QUE A AUTORA RECEBIA SEUS PROVENTOS. SEGUINDO
ESTA LINHA DE ENTENDIMENTO, O STJ EDITOU A RECENTE
SÚMULA Nº 603, SEGUNDO A QUAL "É VEDADO AO BANCO
MUTUANTE RETER, EM QUALQUER EXTENSÃO, OS SALÁRIOS,
VENCIMENTOS E/OU PROVENTOS DE CORRENTISTA PARA
ADIMPLIR O MÚTUO (COMUM) CONTRAÍDO, AINDA QUE HAJA
CLÁUSULA CONTRATUAL AUTORIZATIVA, EXCLUÍDO O
EMPRÉSTIMO GARANTIDO POR MARGEM SALARIAL
CONSIGNÁVEL, COM DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO,
QUE POSSUI REGRAMENTO LEGAL ESPECÍFICO E ADMITE
RETENÇÃO DE PERCENTUAL". REDUÇÃO DO QUANTUM
FIXADO EM SENTENÇA DE R$ 10.000,00 PARA R$ 5.000,00, EM
ATENDIMENTO AOS CRITÉRIOS DE PROPORCIONALIDADE E
RAZOABILIDADE. RECURSO A QUE SE DÁ PARCIAL
PROVIMENTO. (e-STJ fl. 291/292) (...) Por todo o exposto,
irrefutável a falha na prestação do serviço pela ré, sendo que os
danos morais decorrem do sentimento de impotência e revolta
gerado pela diminuição injusta da renda da autora. (STJ - AREsp:
1581407 RJ 2019/0273946-3, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI,
Data de Publicação: DJ 09/03/2020)”. (grifos nossos).

O caso em comento trata de má prestação de serviço,


inadequação do serviço, violação da honra da parte Autora diante de
terceiros e violação da dignidade humana.

Sendo assim, inquestionável o dever de indenizar a parte Autora,


tendo em a situação já narrada, que merece ser imputada a responsabilidade à
Parte Requerida.

h) DO QUANTUM INDENIZATÓRIO

Uma vez reconhecida a existência do dano moral, e o consequente


direito à indenização dele decorrente, necessário se faz analisar o aspecto do
quantum pecuniário a ser considerado e fixado, não só para efeitos de
reparação do prejuízo, mas também sob o cunho de caráter punitivo ou
sancionaria, preventivo, repressor.

E essa indenização que se pretende em decorrência dos danos


morais, há de ser arbitrada, mediante estimativa prudente, que possa em
parte, compensar o "dano moral" da parte Autora.

No tocante ao quantum indenizatório, entendo que ao quantificar a


indenização por dano moral o julgador deve atuar com razoabilidade,
observando o caráter indenizatório e sancionatório de modo a compensar o
abalo suportado, sem caracterizar enriquecimento ilícito. Ou seja, “... a
indenização a esse título deve ser fixada em termos razoáveis, não se
justificando que a reparação venha a constituir-se em enriquecimento indevido,
com manifestos abusos e exageros, devendo o arbitramento operar com
moderação, proporcionalmente ao grau de culpa e ao porte econômico das
partes, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela
jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e do bom
senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso.” (REsp
245727/SE, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, 4ª Turma, DJ
05/06/2000 p. 174).

No caso, levando-se em conta a atividade desenvolvida pela


ofensora, cujos lucros levam à presunção de sua maior capacidade econômica,
observando-se ainda, a desídia de sua conduta, é de rigor que a verba
indenizatória seja de, no mínimo, R$ 10.000,00 (dez mil reais), ou em valor
justo e condizente à ser arbitrado por este magistrado, que represente não só
uma medida para tentar reparar o dano causado a parte Autora, mas também
um valor que leve em consideração uma medida da parte requerida ser coibida
a praticar ato lesivo contra terceiros.

Outrossim, deve ser ressalvado o termo inicial dos juros, que devem
incidir desde o evento danoso, conforme dispõe o artigo 398, do Código Civil e
nos termos do entendimento já sumulado pelo C. Superior Tribunal de Justiça
(súmula 54).

O dano moral perseguido resulta da indignação e da sensação, ou


melhor, da certeza da impotência da parte Autora perante a Parte Requerida.

i) DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

O Autor é pessoa pobre na acepção do termo e não possui


condições financeiras para arcar com as custas processuais e honorários
advocatícios sem prejuízo do próprio sustento, razão pela qual desde já requer
o benefício da Gratuidade de Justiça, assegurados pela Lei nº 1060/50 e
consoante o art. 98, caput, do novo CPC/2015, verbis:

“Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com


insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas
processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da
justiça, na forma da lei.”
Mister frisar, ainda, que, em conformidade com o art. 99, § 1º, do
novo CPC/2015, o pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado por
petição simples e durante o curso do processo, tendo em vista a possibilidade
de se requerer em qualquer tempo e grau de jurisdição os benefícios da justiça
gratuita, ante a alteração do status econômico.

Para tal benefício, parte Autora junta declaração de hipossuficiência


e comprovante de renda, os quais demonstram a inviabilidade de pagamento
das custas judicias sem comprometer sua subsistência, conforme clara
redação do Código de Processo Civil de 2015:

“Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na


petição inicial, na contestação, na petição para ingresso de terceiro
no processo ou em recurso.

§ 1º Se superveniente à primeira manifestação da parte na instância,


o pedido poderá ser formulado por petição simples, nos autos do
próprio processo, e não suspenderá seu curso.

§ 2º O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos


elementos que evidenciem a falta dos pressupostos legais para a
concessão de gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido,
determinar à parte a comprovação do preenchimento dos referidos
pressupostos.

§ 3º Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência


deduzida exclusivamente por pessoa natural.”

Assim, por simples petição, sem outras provas exigíveis por lei, faz
jus, parte Autora, ao benefício da gratuidade de justiça:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUSTIÇA GRATUITA.


INDEFERIMENTO DA GRATUIDADE PROCESSUAL. AUSÊNCIA
DE FUNDADAS RAZÕES PARA AFASTAR A BENESSE.
CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. CABIMENTO. Presunção relativa
que milita em prol da autora que alega pobreza. Benefício que não
pode ser recusado de plano sem fundadas razões. Ausência de
indícios ou provas de que pode a parte arcar com as custas e
despesas sem prejuízo do próprio sustento e o de sua família.
Recurso provido. (TJ-SP 22234254820178260000 SP 2223425-
48.2017.8.26.0000, Relator: Gilberto Leme, Data de Julgamento:
17/01/2018, 35ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação:
17/01/2018).”

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. GRATUIDADE DA JUSTIÇA.


CONCESSÃO. Presunção de veracidade da alegação de
insuficiência de recursos, deduzida por pessoa natural, ante a
inexistência de elementos que evidenciem a falta dos
pressupostos legais para a concessão da gratuidade da justiça.
Recurso provido. (TJ-SP 22259076620178260000 SP 2225907-
66.2017.8.26.0000, Relator: Roberto Mac Cracken, 22ª Câmara de
Direito Privado, Data de Publicação: 07/12/2017)”.

A assistência de advogado particular não pode ser parâmetro ao


indeferimento do pedido:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. PEDIDO DE GRATUIDADE DE


JUSTIÇA. CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. HIPOSSUFICIÊNCIA.
COMPROVAÇÃO DA INCAPACIDADE FINANCEIRA. REQUISITOS
PRESENTES. 1. Incumbe ao Magistrado aferir os elementos do
caso concreto para conceder o benefício da gratuidade de justiça
aos cidadãos que dele efetivamente necessitem para acessar o
Poder Judiciário, observada a presunção relativa da declaração de
hipossuficiência. 2. Segundo o § 4º do art. 99 do CPC, não há
impedimento para a concessão do benefício de gratuidade de
Justiça o fato de as partes estarem sob a assistência de
advogado particular. 3. O pagamento inicial de valor relevante,
relativo ao contrato de compra e venda objeto da demanda, não é,
por si só, suficiente para comprovar que a parte possua
remuneração elevada ou situação financeira abastada. 4. No caso
dos autos, extrai-se que há dados capazes de demonstrar que o
Agravante, não dispõe, no momento, de condições de arcar com as
despesas do processo sem desfalcar a sua própria subsistência. 4.
Recurso conhecido e provido. (TJ-DF 07139888520178070000 DF
0713988-85.2017.8.07.0000, Relator: GISLENE PINHEIRO, 7ª
Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE: 29/01/2018)”.

Assim, considerando a demonstração inequívoca da necessidade da


parte Autora, tem-se por comprovada sua necessidade, fazendo jus ao
benefício.

Cabe destacar que o a lei não exige atestada miserabilidade do


requerente, sendo suficiente a "insuficiência de recursos para pagar as custas,
despesas processuais e honorários advocatícios"(Art. 98, CPC/15), conforme
destaca a doutrina:

"Não se exige miserabilidade, nem estado de necessidade, nem


tampouco se fala em renda familiar ou faturamento máximos. É
possível que uma pessoa natural, mesmo com bom renda mensal,
seja merecedora do benefício, e que também o seja aquela sujeito
que é proprietário de bens imóveis, mas não dispõe de liquidez. A
gratuidade judiciária é um dos mecanismos de viabilização do
acesso à justiça; não se pode exigir que, para ter acesso à
justiça, o sujeito tenha que comprometer significativamente sua
renda, ou tenha que se desfazer de seus bens, liquidando-os
para angariar recursos e custear o processo." (DIDIER JR.
Fredie. OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Benefício da Justiça
Gratuita. 6ª ed. Editora JusPodivm, 2016. p. 60)

Por tais razões, com fulcro no artigo 5º, LXXIV da Constituição


Federal e pelo artigo 98 do CPC, requer seja deferida a gratuidade de justiça
parte Autora.

j) DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO (CPC, art. 319, inc. VII)

Em homenagem ao princípio da razoável duração do processo, o


Promovente opta pela não realização de audiência conciliatória (CPC, art. 319,
inc. VII), haja vista a escassa possibilidade de transação judicial entre os
litigantes.

k) DA TUTELA DE URGÊNCIA

O NCPC dispõe em seu artigo 300, § 2º a tutela de urgência:

“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver


"elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo. ”

[...]

§ 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após


justificação prévia.”

Com base nas alegações ora expendidas, bem como na evidente


lesão e legislação vigente, imperiosa necessidade do deferimento da tutela de
urgência pretendida, para a finalidade de que sejam os juros contratuais
reduzidos, haja vista que atualmente compromete a maior parte da renda
do Autor, o que é vedado pelo ordenamento jurídico brasileiro.
Os fatos declinados ensejam o deferimento da medida cautelar
pleiteada, eis que presentes os requisitos autorizados de sua concessão, ou
seja:

O FUMUS BONI IURIS, que se resume na plausibilidade da


existência do direito invocado por um dos sujeitos da relação jurídico-material,
ou seja, na possibilidade que a tese por ele defendida venha a ser sufragada
pelo judiciário. No caso concreto, está demonstrada a abusividade dos juros
cobrados pelo Banco Réu, de modo que a probabilidade do direito do Autor de
fato existe.

O PERICULUM IN MORA, que se revela pelo dano irreparável que


no caso pode ser apontado como: o Autor se endividar cada vez mais em
decorrência da abusividade dos valores cobrados pelo Banco Réu, o que
provavelmente implicaria em problemas de saúde, haja vista o estresse que
passaria, pois seu salário está quase todo comprometido com empréstimos
abusivos.

Isso posto, requer seja concedida TUTELA DE URGÊNCIA, com


fulcro nos artigos 497 de 300, ambos do NCPC, para o fim de que sejam os
juros contratuais reduzidos, haja vista que atualmente compromete a
maior parte da renda do Autor, o que é vedado pelo ordenamento jurídico
brasileiro, o que deve ser reconhecido por este juízo, tendo em vista,
principalmente, os documentos anexos que comprovam a verossimilhança dos
fatos declinados nesta peça processual, bem como os requisitos necessários
para a concessão desta;

3. DOS PEDIDOS

Diante o exposto, requer à Vossa Excelência:

1. Requer seja concedida TUTELA DE URGÊNCIA, com fulcro


nos artigos 497 de 300, ambos do NCPC, para o fim de que sejam
os juros contratuais reduzidos, haja vista que atualmente
compromete a maior parte da renda do Autor, o que é vedado
pelo ordenamento jurídico brasileiro, o que deve ser reconhecido
por este juízo, tendo em vista, principalmente, os documentos
anexos que comprovam a verossimilhança dos fatos declinados
nesta peça processual, bem como os requisitos necessários para a
concessão desta, sob pena de multa diária à ser fixada;
2. Requer que seja o Réu citado para que, querendo, conteste
a presente ação no momento processual oportuno, sob pena de
revelia e confissão;
3. Requer a inversão do ônus da prova, em favor do autor, nos
termos do artigo 6º, VIII do CDC, por se tratar de relação de
consumo, onde fica, por consequência, evidenciada a
vulnerabilidade deste;
4. Requer a produção de todos os meios de prova em direito
admitidos, notadamente a prova documental, testemunhal e
depoimento pessoal do representante do Réu, sob pena de
confissão ficta, reiterando, ainda, o pedido de inversão do ônus da
prova, nos termos do preceituado no artigo 6o, inciso VIII, do Código
de Defesa do Consumidor;
5. A total procedência da presente ação, para: a) Condenar a
Ré ao pagamento de indenização por danos morais, na importância
de, no mínimo, R$ 10.000,00, ou em valor justo e condizente com o
caso concreto à ser atribuído por este juízo; b) Declarar a
abusividade dos juros contratados; c) Confirmar a antecipação de
tutela;
6. A condenação do Réu ao pagamento das custas e demais
despesas processuais, inclusive em honorários advocatícios
sucumbenciais, que deverão ser arbitrados por este Juízo, conforme
norma do artigo 85 do NCPC;
7. A concessão do benefício da justiça gratuita, por ser a parte
autora pessoa sem condições de arcar com as custas, honorários
advocatícios e demais despesas processuais, sem prejuízo ao
sustento próprio e de sua família, consoante declaração anexa.
8. Em homenagem ao princípio da razoável duração do
processo, o Promovente opta pela não realização de audiência
conciliatória (CPC, art. 319, inc. VII), haja vista a escassa
possibilidade de transação judicial entre os litigantes.

Dá-se à causa o valor de R$ [valor do contrato + danos morais].

Nestes termos, pede e espera deferimento.

Barra de São João, 1 de dezembro de 2020.

ADVOGADO

OAB/UF

1. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo


regime das relações contratuais. 4 ed. São Paulo: RT, 2002, p. 222 ↑
2. Comentários ao código de proteção ao consumidor,
coordenador Juarez de Oliveira, São Paulo: Saraiva, 1991,p. 45 ↑

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