Você está na página 1de 13

DIREITO DO

CONSUMIDOR

Gustavo
Santanna
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Diferenciar os princípios específicos do consumidor.


• Aplicar os princípios do consumidor no caso concreto.
• Explicar a origem constitucional do Código de Defesa do Consumidor.

INTRODUÇÃO

O Código de Defesa do Consumidor foi elaborado utilizando-se de princípios


e cláusulas gerais. Dentre os princípios que o regem destaca-se o da
boa-fé, o da vulnerabilidade, o da confiança, o da segurança, o da transparência
e o da equidade. Cada um deles garante a proteção dos consumidores e
obriga os fornecedores a buscarem uma conduta em prol da satisfação,
comprometimento e harmonia das relações de consumo.

Nesta Unidade de Aprendizagem você vai conhecer os Princípios Específicos


do Direito do Consumidor.

ORIGEM CONSTITUCIONAL DO CÓDIGO DE DEFESA


DO CONSUMIDOR

O Código de Defesa do Consumidor, criado através da Lei nº 8.078/90,


objetivou a regulamentação do direito fundamental de proteção das relações
de consumo, o qual vem garantido no art. 5º, XXXII, da Constituição Federal.

A Previsão Constitucional, que coloca a defesa do consumidor no título


reservado aos direitos e garantias fundamentais, demonstra a preocupação
do legislador em tutelar o hipossuficiente, a parte vulnerável da relação de
consumo:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

4
Ao prever que caberá ao Estado a defesa do consumidor, a Constituição
Federal assegura uma atuação positiva do Estado na proteção de tais direitos:

Promover significa assegurar afirmativamente que o Estado-Juiz, que o


Estado-Executivo e o Estado-Legislativo realizem positivamente a defesa,
a tutela dos interesses destes consumidores. É um direito fundamental
(direito humano de nova geração, social e econômico) a uma prestação
protetiva do Estado, a uma atuação positiva do Estado, por todos os seus
poderes: Judiciário, Executivo, Legislativo. É direito subjetivo público geral,
não só de proteção contra as atuações do Estado (direito de liberdade
ou direitos civis, direito fundamental de primeira geração, em alemão
Abwehrrechte), mas de atuação positiva (protetiva, tutelar, afirmativa, de
promoção) do Estado em favor dos consumidores (direito a alguma coisa,
direito prestacional, direito econômico e social, direito fundamental de
nova geração, em alemão Rechte auf positive Handlungen).” (BENJAMIN,
2014, p. 35)

Além disso, a defesa do consumidor restou assegurada, também, como


princípio geral da atividade econômica, ao vir prevista no art. 170, V, da CF:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano


e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

V - defesa do consumidor.

Importante salientar, ainda, a previsão expressa do artigo 48 do Ato das


Disposições Constitucionais Transitórias para que o Código de Defesa do
Consumidor fosse estabelecido:

Art. 48. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação


da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor.

Assim, o Código de Defesa do Consumidor, criado através da Lei 8.078/90 e


nascido de uma disposição constitucional, surge com o objetivo de regular
as relações de consumo, dando concretude às regras e princípios relativos à
defesa do consumidor, estabelecendo, já em seu art. 1º, que o referido Código
é uma norma de ordem pública e de interesse social.

5
PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR

A doutrina apresenta alguns princípios específicos com relação ao Código


de Defesa do Consumidor, dentre eles: boa-fé, vulnerabilidade, confiança,
segurança, transparência e equidade, aos quais passa-se a expor.

Princípio da boa-fé
O princípio da boa-fé é princípio que vem insculpido no Código Civil, artigo 113,
na qual os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os
usos do lugar de sua celebração. Da mesma forma, o artigo 422 coloca que os
contratantes são obrigados a guardar, assim, na conclusão do contrato, como
em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. Nessa norma é possível
identificar a boa-fé objetiva da subjetiva. A primeira, pautada na probidade,
na honestidade e na lealdade. Já a subjetiva, localizada na “consciência” do
agente, não se tratando, propriamente, de um princípio, mas, sim, de mero
estado psicológico. (MIRAGEM, 2014, p. 134)

SAIBA
MAIS

O INSTITUTO DA BOA-FÉ NO DIREITO CIVIL


por Fabio Augusto Generoso

No Código de Defesa do Consumidor, a boa-fé aparece já no artigo, 4º, III,


impondo ao fornecedor um dever de informar qualificado, protegendo a
legítima expectativa gerada pela informação (MIRAGEM, 2014, p. 135). De
acordo com James Eduardo Oliveira (2009, p. 48):

No âmbito das relações de consumo, tem especial relevo, sobretudo


na verificação das expectativas depositadas pelo consumidor. Ao
contratar, o fornecedor não assume apenas os deveres expressamente
contraídos, pois à luz do Estatuto Protecionista, a vontade não é a única
nascente obrigacional: assume também os chamados “deveres anexos”
consubstanciados nas obrigações imanentes ao contrato ou impostos
pelos bons costumes. (OLIVEIRA, 2009)

6
Como magistralmente já destacou o Superior Tribunal de Justiça, no Recurso
Especial nº 1.568.244/RJ, julgado em 14/12/2016:

Para evitar abusividades (Súmula nº 469/STJ) nos reajustes das


contraprestações pecuniárias dos planos de saúde, alguns parâmetros
devem ser observados, tais como (i) a expressa previsão contratual; (ii)
não serem aplicados índices de reajuste desarrazoados ou aleatórios,
que onerem em demasia o consumidor, em manifesto confronto com a
equidade e as cláusulas gerais da boa-fé objetiva e da especial proteção ao
idoso, dado que aumentos excessivamente elevados, sobretudo para esta
última categoria, poderão, de forma discriminatória, impossibilitar a sua
permanência no plano; e (iii) respeito às normas expedidas pelos órgãos
governamentais.

Princípio da vulnerabilidade
O art. 4º, inciso I do CDC, prevê, dentre os princípios informadores da Política
Nacional das Relações de Consumo o “reconhecimento da vulnerabilidade
do consumidor no mercado de consumo”, consagrando, assim, o princípio da
vulnerabilidade.

O princípio da vulnerabilidade é a base do Direito do Consumidor, eis que é


justamente essa vulnerabilidade, essa fragilidade do consumidor nas relações
de consumo que fez com que o Direito se preocupasse em tutelar a defesa do
consumidor:

A existência do direito do consumidor justifica-se pelo reconhecimento da


vulnerabilidade do consumidor. É esta vulnerabilidade que determina ao
direito que se ocupe da proteção ao consumidor. (MIRAGEM, 2014, p. 122).

O Superior Tribunal de Justiça já se manifestou no sentido de que o princípio


da vulnerabilidade é o “princípio motor” da política nacional das relações
de consumo e, ainda, que a atuação do Estado deve ocorrer no sentido de
minimizar a desigualdade entre as partes:
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CIVIL E
PROCESSUAL CIVIL. EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA. AÇÃO DE RESCISÃO
DE CONTRATO E REPARAÇÃO DE DANOS. AQUISIÇÃO DE CONCHA
BRITADORA. HIPOSSUFICIÊNCIA E DESPROPORÇÃO DE FORÇAS
ENTRE AS PARTES. RECONHECIMENTO NA ORIGEM. INVERSÃO DO
JULGADO. IMPOSSIBILIDADE. VEDAÇÃO AO REEXAME PROBATÓRIO.

7
ENUNCIADO Nº 7 DA SÚMULA DO STJ. INCIDÊNCIA. RELAÇÃO DE
CONSUMO. COMPETÊNCIA DO FORO DO DOMICÍLIO DO CONSUMIDOR.
POSSIBILIDADE. PRECEDENTE.
1. A pessoa jurídica adquirente de um produto ou serviço pode ser
equiparada à condição de consumidora (art. 29 do CDC), por ostentar, frente
ao fornecedor, alguma vulnerabilidade que, frise-se, é o princípio-motor
da política nacional das relações de consumo (art.4º, I, do CDC). Aplicação
temperada da teoria finalista frente às pessoas jurídicas, processo
denominado pela doutrina como finalismo aprofundado - Precedentes.
2. Consignada no acórdão a hipossuficiência e a desproporção de forças
entre as partes, fica evidenciada a existência de relação de consumo,
exigindo à inversão do julgado o vedado reexame do acervo fático-
probatório. Incidência do enunciado nº 7 da Súmula do STJ, óbice aplicável
por ambas as alíneas do inc. III do art. 105 da Constituição Federal.
3. (...).
4. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp nº 735.249/SC –
Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva – julgado em 15/12/2015)
DIREITO DO CONSUMIDOR. RECURSO ESPECIAL. VÍCIO DO PRODUTO.
AUTOMÓVEIS SEMINOVOS. PUBLICIDADE QUE GARANTIA A QUALIDADE
DO PRODUTO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. USO DA MARCA. LEGÍTIMA
EXPECTATIVA DO CONSUMIDOR. MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚM. 7/
STJ.
1. O Código do Consumidor é norteado principalmente pelo reconhecimento
da vulnerabilidade do consumidor e pela necessidade de que o Estado
atue no mercado para minimizar essa hipossuficiência, garantindo, assim,
a igualdade material entre as partes. Sendo assim, no tocante à oferta,
estabelece serem direitos básicos do consumidor o de ter a informação
adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços (CDC, art. 6°, III)
e o de receber proteção contra a publicidade enganosa ou abusiva (CDC,
art. 6°, IV).
2. É bem verdade que, paralelamente ao dever de informação, se tem a
faculdade do fornecedor de anunciar seu produto ou serviço, sendo certo
que, se o fizer, a publicidade deve refletir fielmente a realidade anunciada,
em observância à principiologia do CDC. Realmente, o princípio da
vinculação da oferta reflete a imposição da transparência e da boa-fé nos
métodos comerciais, na publicidade e nos contratos, de forma que esta
exsurge como princípio máximo orientador, nos termos do art. 30.

8
3. Na hipótese, inequívoco o caráter vinculativo da oferta, integrando
o contrato, de modo que o fornecedor de produtos ou serviços se
responsabiliza também pelas expectativas que a publicidade venha a
despertar no consumidor, mormente quando veicula informação de produto
ou serviço com a chancela de determinada marca, sendo a materialização
do princípio da boa-fé objetiva, exigindo do anunciante os deveres anexos
de lealdade, confiança, cooperação, proteção e informação, sob pena de
responsabilidade.
4. (...).
5. Recurso especial não provido. (REsp nº 1.365.609/SP – Ministro Luis
Felipe Salomão – julgado em 28/04/2015)

FIQUE
ATENTO

Em que pese muitas vezes serem tratados como sinônimos,


há distinção entre a vulnerabilidade e a hipossuficiência. A
vulnerabilidade está ligada ao direito material, com presunção
absoluta. Já a hipossuficiência, consagrada no artigo 6º, VIII do
CDC, se verifica no momento processual, quando o consumidor
não tem condições de comprovar, por seus próprios meios, suas
alegações, possibilitando a inversão do ônus da prova.

Dessa forma, tem-se que o princípio da vulnerabilidade é aquele princípio que


pressupõe a fragilidade absoluta do consumidor frente ao fornecedor, e que
embasa a existência de normas de proteção em prol do consumidor, na busca
pela igualdade na relação de consumo.

Princípio da confiança
Sendo um dos princípios mais importantes do direito privado, a proteção
à confiança surge como uma resposta à massificação das contratações
e das práticas negociais de mercado (MIRAGEM, 2014, p. 238). Muito
próximo ao princípio da boa-fé objetiva, a confiança “é, em regra, a base
de comportamentos sociais ou jurídicos individuais” e a crença de uma

9
conduta correta por parte dos contratantes, abrangendo “as expectativas de
cumprimento de determinados deveres de comportamento” (MIRAGEM, 2014,
p. 238). Como já decidiu o Superior Tribunal de Justiça, no Recurso Especial
nº 1.269.691/PB: “A empresa que fornece estacionamento aos veículos
de seus clientes responde objetivamente pelos furtos, roubos e latrocínios
ocorridos no seu interior, uma vez que, em troca dos benefícios financeiros
indiretos decorrentes desse acréscimo de conforto aos consumidores, o
estabelecimento assume o dever - implícito em qualquer relação contratual -
de lealdade e segurança, como aplicação concreta do princípio da confiança”.

Princípio da segurança
Os produtos ou serviços, uma vez colocados no mercado, devem cumprir o
objetivo da segurança, pois “quando se fala em segurança no mercado de
consumo, o que se tem em mente é a ideia do risco: é da maior ou menor
presença deste que decorre aquela” (BENJAMIN; MARQUES; BESSA, 2014, p.
163). De acordo com o artigo 8º do CDC:

Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão


riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados
normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-
se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias
e adequadas a seu respeito. (CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR)

Verifica-se, por oportuno, que o artigo 8º do Código Consumerista, não


veda a comercialização de produtos perigosos ou nocivos, exigindo, aí sim, a
prestação das devidas informações.

Princípio da transparência
Também estudado como princípio da informação ou da publicidade, por
este princípio a publicidade deve ser veiculada de tal forma que possibilite
o consumidor, fácil e imediatamente, a identificá-la como tal, vedadas,
assim, publicidades clandestinas e subliminares. De acordo com o artigo
36, parágrafo único do Código de Defesa do Consumidor: “o fornecedor,
na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para
informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos
que dão sustentação à mensagem”. Denominou, nesse caso, a doutrina de
“princípio da transparência da fundamentação da publicidade”. (BENJAMIN,
MARQUES, BESSA, 2014, p. 278)

10
Destaca José Geraldo Brito Filomeno (2007, p.159):

Princípio da transparência. Cuida-se de princípio eminentemente ético e


tem por base o dever que é imposto tanto aos anunciantes como aos seus
agentes publicitários e veículos que, ao transmitirem alguma característica
especial sobre determinado produto ou serviço, e, caso haja dúvidas a
respeito, que a justifiquem tecnicamente.

A publicidade pode ser entendida como “toda informação ou comunicação,


difundida com o fim direito ou indireto de promover, junto aos consumidores,
a aquisição de um produto ou a utilização de um serviço, qualquer que seja o
local ou meio de comunicação utilizado”. (BENJAMIN, MARQUES, MIRAGEM,
2010, p. 727) O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do AgRg no REsp
nº 1.528.428/MG, em 13/10/2015, tendo como Ministro Relator Herman
Benjamin, decidiu que:

PROCESSUAL CIVIL E CONSUMIDOR. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC.


NÃO OCORRÊNCIA. DESNECESSIDADE DE RATIFICAÇÃO DOS EMBARGOS
INFRINGENTES APÓS O JULGAMENTO DOS DECLARATÓRIOS, QUANDO
NÃO HÁ MODIFICAÇÃO DO ACÓRDÃO RECORRIDO. ALCANCE DO VOTO
VENCIDO. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA. NÃO OCORRÊNCIA.
PUBLICIDADE ENGANOSA. PUBLICIDADE VEICULANDO ENTREGA DE
BRINDES QUE JÁ SE ENCONTRAM ESGOTADOS. PRÁTICA ABUSIVA.

(...)

5. Por expressa disposição legal, só respeitam o princípio da transparência


e da boa-fé objetiva, em sua plenitude, as informações que sejam “corretas,
claras, precisas, ostensivas” e que indiquem, nessas mesmas condições,
as “características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia,
prazos de validade e origem, entre outros dados” do produto ou serviço,
objeto da relação jurídica de consumo (art. 31 do CDC).

6. In casu, fica evidente que a empresa não agiu com transparência e boa-
fé ao deixar de informar em tempo razoável ao consumidor que os brindes
se esgotaram em alguns postos de troca, conforme podemos verificar de
passagens do acórdão vergastado (fl. 711, e-STJ).

(...). (Grifos meus).

11
Princípio da equidade
Também conhecido como princípio do equilíbrio, parte do pressuposto
da vulnerabilidade do consumidor. Em razão dessa desigualdade, faz-se
necessário que as normas (re)equilibrem essa circunstância fática para tentar-
se, assim, colocar os contratantes em uma situação de maior paridade.

No direito do consumidor, o caráter descritivo desse princípio decorre da


interpretação e aplicação das normas do artigo 5º, V e 51, ambos do CDC
(MIRAGEM, 2014, p. 137). Esse princípio protege não apenas a relação
contratual, alcançando, também, a relação à responsabilidade civil
extracontratual, o equilíbrio processual, bem como na proteção do equilíbrio
econômico do contrato entre consumidor e fornecedor (MIRAGEM, 2014, p.
138).

É possível identificar esse princípio nas normas constantes no artigo 6º,


V: “a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações
desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as
tornem excessivamente onerosas” e 51, § 2º: “A nulidade de uma cláusula
contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência,
apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer
das partes” ambos do CDC, por exemplo. O Superior Tribunal de Justiça, no
Recurso Especial nº 1.412.662/RS, julgado em 01/09/2016 já decidiu que:

RECURSO ESPECIAL. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA DE


IMÓVEL. PARQUE RESIDENCIAL UMBU. REVISÃO DE CONTRATOS
FINDOS. POSSIBILIDADE. DISTRATO À LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA
DO CONSUMIDOR. RESOLUÇÃO EXTRAJUDICIAL DO NEGÓCIO COM
ESTIPULAÇÃO DE CLÁUSULA DE DECAIMENTO. IMPOSSIBILIDADE.
NULIDADE DAS CLÁUSULAS ABUSIVAS.

1. A transação é espécie de negócio jurídico que objetiva pôr fim a uma


celeuma obrigacional, alcançada por meio de concessões mútuas (CC, art.
840), cujo objetivo primordial é evitar o litígio ou colocar-lhe fim. A extinção
se exterioriza na forma de renúncia a direito patrimonial de caráter privado,
disponível, portanto, conforme previsto na lei.

2. É firme o entendimento do STJ quanto à possibilidade de revisão


dos contratos findos, ainda que em decorrência de quitação, para o
afastamento de eventuais ilegalidades. Precedentes. Súm 286 do STJ.

12
3. As normas previstas no Código de Defesa do Consumidor são de ordem
pública e interesse social, cogentes e inderrogáveis pela vontade das
partes.

4. É cabível a revisão de distrato de contrato de compra e venda de imóvel,


ainda que consensual em que, apesar de ter havido a quitação ampla, geral
e irrevogável, se tenha constatado a existência de cláusula de decaimento
(abusiva), prevendo a perda total ou substancial das prestações pagas pelo
consumidor, em nítida afronta aos ditames do CDC e aos princípios da boa-
fé objetiva e do equilíbrio contratual.

5. Na hipótese, verifica-se que a Construtora recebeu dupla vantagem


advinda da referida cláusula, pois, além de retomar a propriedade do
imóvel, dando-o em pagamento de dívidas ao Município, acabou por se
apoderar do dinheiro pago pelo consumidor no financiamento do bem,
configurando vantagem abusiva em seu favor. 6. Recurso especial não
provido.(REsp 1.412.662/RS - Ministro Luis Felipe Salomão) (Grifos meus).

13
REFERÊNCIAS

BENJAMIN, Antonio Herman V.; MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo


Roscoe. Manual de direito do consumidor. 6.ed. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2014.

_________; ________; MIRAGEM, Bruno. Comentários ao Código de


Defesa do Consumidor. 3.ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010.

FILOMENO, José Geraldo Brito. Curso fundamental de direito do consumidor.


São Paulo: Atlas, 2007.

MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 5.ed. São Paulo: Editora


Revista dos Tribunais, 2014.

OLIVEIRA, James Eduardo. Código de defesa do consumidor: anotado e


comentado. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2009.

14
Conteúdo:

Você também pode gostar