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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE DIREITO

Trabalho individual de Direito Comercial e do Consumidor

OS DIREITOS DO CONSUMIDOR NO ORDENAMENTO JURÍDICO


MOÇAMBIÇANO

STELA MOMADE1

Sumário:

Introdução; I. Conceito; II. Autonomia; III. Fontes; IV. Direitos do Consumidor; V.


Abuso nos contratos de consumo; VI. Responsabilidade pelo facto do produto ou
serviço; VII. Publicidade; Conclusão e Bibliografia.

Introdução

No ordenamento jurídico moçambicano, os direitos dos consumidores tem dignidade


constitucional mercê da previsão feita por esta mater leges no seu artigo 92.° da
Contituição da República de Moçambique, pois, a protecção do consumidor mereceu
tratamento jurídico-constitucional como uma forma de equilibrar a sua posição em face
dos fornecedores pois, estes últimos, estão numa situação relativamente superior aos
dos consumidores. Daí que, neste trabalho individual propomo-nos fazer uma
abordagem lacónica em relação ao tema proposto, fazendo uma análise conceptual e do
quadro jurídico que versa sobre a matéria.

I. Conceito de Direito do Consumidor

O Direito do Consumidor é o ramo do direito privado que lida especificamente, das


relações jurídicas de consumo, ou seja, aquelas relações estabelecidas entre
consumidores de bens e serviços com os seus fornecedores.

O direito do consumidor é uma conjugação de regras e princípios que


regulam todas as relações de consumo. Nestes termos, podemos entender que, o direito
do consumidor tem por objectivo assegurar procedimentos de acesso a informação
quanto a origem e a qualidade dos produtos fornecidos aos consumidores; conferir

1
Estudante do 3° ano do Curso de Licenciatura em Direito – pós-laboral, na Faculdade de Direito da
Universidade Católica de Moçambique.
protecção contra fraudes dentro do mercado do consumo; asseverar transparência a
segurança para os usuários dos bens e serviços e harmonizar as relações de consumo por
meio da tutela jurisdicional.2

No direito moçambicano a definição do consumidor consta do glossário da Lei


n.°22/2009, de 28 de Setembro (Lei de Defesa do Consumidor). Onde nos seus termos,
é consumidor todo aquele a quem sejam fornecidos bens, prestados serviços ou
transmitidos quaisquer direitos, destinados ao seu uso não profissional, ou tarifa, por
pessoa que exerça com carácter profissional uma actividade económica que vise à
obtenção de beneficios.

Sendo um sujeito qualificado como consumidor coloca-o numa posição adstrita a um


regime especial de protecção, comumente designado de direitos do consumidor.
Compreendendo, entre outros, o direito à qualidade dos bens e serviços, à informação
para o consumo, à protecção e promoção para o consumo.3

II. Autonomia do Direito do Consumidor

O direito consumidor, não é um mero ramo de direito comercial ou civil, mas não é um
ramo isolado dos restantes ramos de direito, mas ao contrário a sua estrutura
desdobrasse numa vertente específica que é comum e coerente, o que lhe dá certa
autonomia pelo facto de estar dotado de princípios, conceitos, e hermenêutica própria. A
autonomia deste ramo de direito, o direito do consumidor, não exclui o diálogo das
fontes, pois é clara a sua multidisciplinaridade que informa o direito do consumidor.4

O Direito do Consumidor apresenta todos os pressupostos de autonomia: a vastidão da


matéria, a ponto de merecer um estudo particularizado; a especialidade de princípios,
conceitos, teorias e instrumentos o conceito de consumidor e fornecedor, a convenção
colectiva de consumo, a contrapropaganda; os crimes de consumo, a irrenunciabilidade
de muitos dos benefícios, a interpretação indubio pro consumidor, a criação de

2
FILOMENO, José Geraldo Brito. Curso Fundamental de Direito do Consumidor, São Paulo: Ed.
Atlas, 2007, p.20.
3
IMPRENSA NACIONAL CASA DA MOEDA, Consumidor, 2019. Artigo disponível em:
https://diariodarepublica.pt/dr/lexionario/termo/consumidor acesso em 22 de Fevereiro de 2024.
4
RAMOS, Santos., Introdução ao Direito do Consumidor, Brasil, 2010. Disponível em:
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-80/introducao-ao-direito-do-consumidor/ acesso:
22/02/2024

2
instituições jurídicas especializadas), um método próprio, isto é, o emprego de
processos especiais de interpretação de sua formulação e problemática. 5

III. Fontes do Direito do Consumidor

O direito do consumidor, como qualquer outro ramo de direito, tem fontes que
contribuem para formação e revelação das suas normas, pelo que, o direito do
consumidor tem como fontes de conhecimento das suas normas, as seguintes:

 Constituição da República de Moçambique;


 A Lei n.°22/2009, de 28 de Setembro (Lei de Defesa do Consumidor) e o seu
Regulamento, aprovado pelo Decreto n.°27/2016, de 18 de Julho.
 Código Civil, Código Comercial, o Código de Processo Civil;
 Código de Publicidade regulado pelo Decreto no 65/2004, de 31de Dezembro.
IV. Os Direitos dos Consumidores

Abi nitio, a Constituição da República (CRM) refere que, os consumidores têm direito a
qualidade dos bens e serviços consumidos, a formação e a informação, a protecção da
saúde, da segurança dos seus interesses económicos, bem como a reparação de danos.
Estabelece também, que a publicidade é disciplinada por lei, sendo proibidas as formas
de publicidade oculta, indirecta ou enganosa. Por fim, rege que as associações de
consumidores e as cooperativas têm direito, nos termos da lei, ao apoio do Estado e a
serem ouvidas sobre as questões que digam respeito a defesa dos consumidores, sendo-
lhes reconhecida legitimidade processual para a defesa dos seus associados.6

Em harmonia com o previsto no artigo 92.° da CRM, vem o artigo 5.° da Lei
n.°22/2009, de 28 de Setembro (Lei de Defesa do Consumidor), secundar o que fora
disposto nos termos da lei fundamental, elencando os direitos do consumidor.

A relação de consumo que constitui o ápice e objecto de regulação do direito do


consumidor, é constituída em virtude de um acto de consumo, que emerge, quase
sempre, na base de contrato que tem como partes integrantes o consumidor e o
fornecedor. No entanto, o consumidor tem direito a protecção dos seus interesses
económicos, impondo-se nas relações de consumo a igualdade material dos

5
BENJAMIN, Antônio Herman V. O Direito Do Consumidor, São Paulo – Brasil, 2016. p,108
6
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 1 da revisão de 2018, de 12 de Junho, Constituição da
República de Moçambique, in Boletim da República, I série n. 115 de 12 de Junho.

3
intervenientes, a lealdade e boa-fé, nos preliminares, na formação e ainda na vigência
dos contratos, com base no art.º 21, n.º 1 da Lei de defesa do consumidor.7

Por meio da conjugação dos vertidos no art.º 21,n.2 da Lei de defesa do consumidor,
conjugado com o art.º 24 do Regulamento da lei de defesa do consumidor, os contratos
que regulam as relações de consumo não vinculam os consumidores, se não lhes for
dada a oportunidade de tomar conhecimento antecipado do conteúdo do contrato, ou se
os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão e
interpretação do seu sentido e alcance. Entretanto, as cláusulas contratuais são
interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor, como se estabelece no n.º 3 do
art.º 21 da LDC.8-9

Na ordem jurídica nacional, os contratos entre particulares estão submetidos a dois


regimes jurídicos distintos: o civil e o comercial, por meio do regime jurídico dos
contratos comerciais. Em Moçambique, o Contrato de Consumo não merece tratamento
especial, obedecendo apenas a regras e princípios gerais, aplicáveis tanto nos contratos
10
civis, como também assim, nos contratos comerciais. Obedecendo ao que vai disposto
nos termos constantes dos artigos 21 e seguintes da LDC 11, e regras estabelecidas dos
artigos 24 e seguintes do Regulamento da Lei de defesa do Consumidor.12

Nos termos do Código Civil, as normas relativas ao contrato pressupõem a existência da


autonomia privada entre as partes, que se encontram em posições livres e iguais
vigorando com pleno a vontade das partes. As partes, nesse contexto, contratam se
quiserem, com quem quiserem e como bem lhe aprouver.

Diferente do que sucede nas relações civis, a realidade das relações de consumo,
afigura-se bem diferente. Geralmente, devido as estruturas de mercado, o consumidor
não contrata se quiser, mas muitas vezes vê se obrigado a contratar bens e serviços

7
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 22/2009 de 28 de Setembro, que aprova a Lei de Defesa do
Consumidor, in Boletim da República, I série, Nº 38
8
Idem.
9
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto n o 27/2016, de 18 de Julho, que aprova o Regulamento da
Lei de Defesa do Consumidor in Boletim da República, Série I, no 85.
10
RIZZATTO, Nunes; LUIZ, António. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, ob. cit. p.44.
11
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 22/2009 de 28 de Setembro, que aprova a Lei de Defesa do
Consumidor, in Boletim da República, I série, Nº 38
12
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n o 27/2016, de 18 de Julho, que aprova o Regulamento da Lei
de Defesa do Consumido, in Boletim da República, Série I, no 85.

4
essenciais, de um ou de poucos fornecedores e sem no mínimo ter a faculdade de
discutir os termos da negociação.13

A Lei de defesa do consumidor confere ao consumidor os meios jurídicos para atenuar


as distorções derivadas da vulnerabilidade em que se encontra perante o fornecedor.
Cinco princípios podem ser destacados nessa matéria:
a) Irrenunciabilidade de direitos — são nulas as cláusulas contratuais que
importem, tácita ou expressamente, renúncia, pelo consumidor, dos direitos que
lhe são assegurados, conforme estabelece o artigo 22.°.
b) Equilíbrio contratual — a equidade nas relações de consumo é um dos valores
fulcrais presentes no sistema de protecção contratual. Nenhuma oneração excessiva será
imposta aos consumidores, que não podem ficar em situação desvantajosa perante o
empresário.
c) Transparência — as relações de consumo, entre o consumidor e o fornecedor, devem
cingir-se na mais absoluta transparência, ou seja, o consumidor deve ter prévio e
completo conhecimento da exacta extensão das obrigações assumidas por ele e pelo
empresário, em decorrência do contrato.
o legislador nacional determina no artigo 27.° que os contratos de adesão escritos
devem ser redigidos de forma clara e com caracteres ostensivos e legíveis, de modo a
facilitar a compreensão pelo consumidor. Outrossim, este mesmo artigo refere que as
cláusulas que impliquem limitação de direitos do consumidor, devem ser redigidos com
destaque, permitindo a sua imediata e fácil compreensão. Como se nota, a transparência
nas relações de consumo significa a possibilidade de o consumidor ter acesso às
informações relativas às condições do negócio que está realizando ou pretende realizar.
Nenhum expediente poderá ser validamente utilizado pelo empresário para impedir que
o consumidor celebre contrato ignorando parcialmente as obrigações ou os direitos
assumidos.14
V. Abuso de Direito nos Contratos de Consumo

Vezes há em que os fornecedores não conseguem assegurar a satisfação do consumidor


integral da sua obrigação depois de realizada a prestação ou venda, ou seja, não dão

13
COELHO, Fábio Ulhoa, Manual de Direito Comercial, 2ª edição, 2ª tiragem, Editora Saraiva, São
Paulo, 2011. P.123
14
COELHO, Fábio Ulhoa, Manual de Direito Comercial, 2ª edição, 2ª tiragem, Editora Saraiva, São
Paulo, 2011. P.126-27

5
garantia depois da venda, vendem produtos fora do prazo exibindo letreiros com
dizeres, não se aceita reclamações nem devolução.15
No entanto, a respeito do dito no parágrafo anterior, o art.º 22, n.1 da LDC, conjugado
com o art.º 28, n.1 do regulamento da lei de defesa do consumidor, referem que são
nulas e de nenhum efeito, entre outras, as cláusulas contratuais abusivas relativas ao
fornecimento de produtos e serviços, enunciando os respectivos casos nas alíneas e
mesmo artigo 22.°.

VI. Responsabilidade pelo Facto do Produto e do Serviço

Na responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço (acidente de consumo), o


defeito extrapola a esfera da coisa ou do serviço prestado e atinge a incolumidade física
ou psíquica da pessoa, podendo gerar dano passível de reparação independentemente de
culpa, cabendo ao fornecedor provar as excludentes de responsabilidade civil.16

Portanto, Rizzatto diferencia o vício do defeito, dizendo que o vício pertence ao produto
ou serviço, não atingindo a pessoa do consumidor ou a terceiros. No entanto o defeito
vai além do produto ou serviço para atingir a segurança do consumidor ou de quem
participe do evento danoso.17 Portanto, de acordo com os professores Vidal Serrano
Nunes Junior e Yolanda Alves Pinto Serrano, a diferença encontra-se na localização do
fundamento fático da responsabilidade, que no vício reside na coisa em si e não no
evento a ela relativo, como no caso do fato. No vício o dano é no produto ou serviço, no
fato é o defeito no produto ou serviço que causa o dano. A responsabilidade de
indemnizar advém do nexo de causalidade do produto estar defeituoso e por isso causar
o dano ao consumidor. Ou seja, o direito ao ressarcimento dos danos sofridos pelo
consumidor e do dever de indemnizar do agente responsável pelo produto ou pelo
serviço é o fato do produto ou do serviço causador do acidente de consumo.18

A Lei de Defesa do Consumidor debruça em relação desta da responsabilidade pelo fato


do produto e do serviço no seu art.º 14º, enquanto o Regulamento, aprovado pelo

15
NICOLA’S, Mouzinho, protecção do consumidor na ordem jurídica moçambicana, Maputo, 2010.
P.53.
16
RAMOS, Nunes, Fato do produto ou do serviço. 2020. Disponível em:
https://www.tjdft.jus.br/consultas/jurisprudencia/jurisprudencia-em-temas/cdc-na-visao-do-tjdft-1/
responsabilidade-civil-no-cdc/fato-do-produto-e-do-servico acesso: 22/02/2024.
17
RIZZATTO, Nunes, Curso de Direito do Consumidor, São Paulo: Ed. Saraiva, 2010, p..63
18
ALBUQUERQUE, Daniely Zampronio de. Responsabilidade pelo Fato do Produto ou Serviço, 2010.
https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/5716/Responsabilidade-pelo-Fato-do-Produto-ou-Servico
acesso: 22/02/2024

6
Decreto n.°27/2016, de 18 de Julho, da lei de defesa do consumidor trata desta
responsabilidade nos artigos 7 a 10. Onde se refere que respondem independentemente
de culpa o fabricante, o fornecedor ou comerciante, produtor construtor e o importador
pela reparação dos danos causados ao consumidor, por defeitos decorrentes de projecto,
fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou
acondicionamento, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
utilização e riscos. Adopta assim, o regulamento da lei de defesa do consumidor, a
responsabilidade objectiva, e como se observa, exclui o comerciante, o qual será
responsabilizado em via secundária, já que sua responsabilidade é subsidiária.19

Os fornecedores de serviços, são responsabilizados objectivamente, ou seja,


independente de culpa, pelos danos causados aos consumidores por prestação de
serviços defeituosos, bem como pelas informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição e riscos, nos termos do art.º 9, n.º 1 do regulamento do consumidor, tendo
como pressupostos: defeito do serviço, evento danoso, relação de causalidade entre o
defeito do serviço e o dano. 20

VII. PUBLICIDADE
A Lei de Defesa do Consumidor regula também acerca da publicidade de modo a que
esta, não viole os direitos dos consumidores elencados nas disposições desta norma
ordinária.
Há três formas de publicidade ilícitas previstas pela Lei n.°22/2009, de 28 de Setembro
(Lei de Defesa do Consumidor): a enganosa e a abusiva.
Neste modo, a lei da defesa do consumidor no seu glossário, define a Publicidade como
sendo qualquer forma de comunicação, mediante a divulgação de uma mensagem, de
modo a dirigir a atenção do público e dos meios de comunicação (destinatários) para um
produto, um bem ou serviço cujo fornecimento, aquisição, comercialização ou
contratação se pretende promover.21

 Publicidade Enganosa

19
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto n o 27/2016, de 18 de Julho, Decreto que Aprova o
Regulamento da Lei de Defesa do Consumidor, in Boletim da República, Série I, no 85.
20
COSTA, Michele Romero da, Responsabilidade Pelo Fato Do Produto E Do Serviço, Universidade
Federal de Santa Maria, p.4.
21
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 22/2009 de 28 de Setembro, que aprova a Lei de Defesa do
Consumidor, in Boletim da República, I série, Nº 38

7
A norma constante do art.º 20, n.º 1 da Lei n.°22/2009, de 28 de Setembro (Lei de
Defesa do Consumidor), estatuí que, é proibida toda a publicidade enganosa ou abusiva.
O n.º 2 da mesma lei, dispõe que é enganosa, qualquer modalidade de informação ou
comunicação de carácter publicitário, inteira ou parcialmente falsa ou por qualquer
outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da
natureza, características, qualidade, quantidade, propriedade, origem, preço e quaisquer
outros dados sobre produtos e serviços ou quando deixar de informar sobre os dados
essenciais acerca do produto ou serviço.22

Publicidade enganosa é aquela que faz com que é capaz de induzir o consumidor em
erro. Na lei menciona-se a difusão de informação parcial ou totalmente falsa, mas o
conceito não é ajustado. A publicidade pode ser falsa e não ser necessariamente
enganosa. Isso porque o instrumento principal da difusão publicitária é a mobilização do
imaginário do consumidor, com o objectivo de tornar o produto ou serviço desejado.
Ora, o fantasioso ( não é necessariamente falso) nem sempre induz ou é capaz de induzir
o consumidor em erro. Não é necessário que exista dolo (culpa) do fornecedor, para se
caracterizar a enganosidade da publicidade. Esta é apreciada do ponto de vista
objectivo, isto é, a partir do potencial de enganosidade apresentado pelo anúncio.

 Publicidade Abusiva:
Nos termos do art.º 20, n.º 3 da LDC, é abusiva, dentre outras, a publicidade
discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a
superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança,
desrespeite valores ambientais ou que seja capaz de induzir o consumidor a se
comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. 23 Neste contexto,
a realização de publicidade enganosa ou abusiva gera responsabilidade civil, penal e
administrativa. Assim, o fornecedor que as promover deve indemnizar, material e
moralmente, o consumidor. Além disso, responderá pela prática de crime e deverá
veicular contrapropaganda, que desfaça os efeitos do engano ou abuso. 24 Em virtude do
princípio da transparência, as informações precisas que o empresário veicula por meio
da publicidade integram o contrato que vier a ser celebrado com o consumidor.25
22
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 22/2009 de 28 de Setembro, que aprova a Lei de Defesa do
Consumidor, in Boletim da República, I série, Nº 38
23
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 22/2009 de 28 de Setembro, que aprova a Lei de Defesa do
Consumidor, in Boletim da República, I série, Nº 38
24
COELHO, Fábio Ulhoa, Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa, 2011, p.129.
25
Idem. p.129.

8
A veiculação e realização de publicidade enganosa ou abusiva gera responsabilidade
civil, penal e administrativa. Pelo que, o fornecedor que promover estes tipos de
publicidades deve indemnizar, material e moralmente, o consumidor.26

Conclusão
Os direitos do consumidor, são bastante importantes, de tal sorte que até mereceu
consagração ao nível da Constituição, onde encontramos os principais direitos do
consumidor no âmbito das relações de consumo. A defesa do consumidor é efectivada
pela Lei n.º 22/2009 de 28 de Setembro (Lei da Defesa do Consumidor) é a actividade
de protecção do consumidor, através da divulgação de informação sobre a qualidade dos

26
COELHO, Fábio Ulhoa. Ob. Cit. P.130

9
bens e serviços, e através do exercício de pressão sobre as entidades públicas com o
objectivo de defender os direitos dos consumidores.

Entretanto, a defesa do consumidor não se baseia apenas na punição dos que praticam
ilícitos e violam os direitos do consumidor, como também na conscientização dos
consumidores de seus direitos e deveres e conscientizar os fabricantes, fornecedores e
prestadores de serviços sobre suas obrigações, porém, demonstrando que agindo
correctamente eles respeitam o consumidor e ampliam seu mercado de consumo
contribuindo para o desenvolvimento do país.
Nestes termos, podemos concluir que no nosso ordenamento jurídico existe uma
preocupação com os direitos do consumidor no âmbito das relações estabelecidas por
este e o fornecedor. Na nossa ordem jurídica, existem normas imperativas para que haja
uma protecção célere e eficaz deste direito com dignidade constitucional, não
olvidando-se da protecção dos direitos, liberdades e garantias fundamentais que
alicerçam o nosso Estado de Direito Democrático.

BIBLIOGRAFIA
1. Legislação:
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República (2004) in
Boletim da República, I série n.°51 de 22 de Dezembro, com as alterações
introduzidas pela Lei n.°1/2018, de 12 de Junho.

10
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 22/2009 de 28 de Setembro,
que aprova a Lei de Defesa do Consumidor, in Boletim da República, I
série, Nº 38
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto n.º27/2016, de 18 de Julho,
que aprova Regulamento da Lei de Defesa do Consumidor, in Boletim da
República, Série I, no 85.
2. Doutrina:
 ALBUQUERQUE, Daniely Zampronio de. Responsabilidade pelo Fato
do Produto ou Serviço, 2010.
https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/5716/Responsabilidade-
pelo-Fato-do-Produto-ou-Servico
 BENJAMIN, Antônio Herman V. O Direito Do Consumidor, São Paulo
– Brasil, 2016
 COELHO, Fábio Ulhoa, Manual de Direito Comercial, 2ª edição, 2ª
tiragem, Editora Saraiva, São Paulo, 2011.
 COSTA, Michele Romero da, Responsabilidade Pelo Fato Do Produto
E Do Serviço, Universidade Federal de Santa Maria.
 FILOMENO, José Geraldo Brito. Curso Fundamental de Direito do
Consumidor, São Paulo: Ed. Atlas, 2007.
 IMPRENSA NACIONAL CASA DA MOEDA, Consumidor, 2019.
Artigo disponível em:
https://diariodarepublica.pt/dr/lexionario/termo/consumidor acesso em
22 de Fevereiro de 2024.
 NICOLA’S, Mouzinho, protecção do consumidor na ordem jurídica
moçambicana, Maputo, 2010.
 RIZZATTO, Nunes, Curso de Direito do Consumidor, São Paulo: Ed.
Saraiva, 2010.
 RAMOS, Nunes, Fato do produto ou do serviço. 2020. Disponível em:
https://www.tjdft.jus.br/consultas/jurisprudencia/jurisprudencia-em-
temas/cdc-na-visao-do-tjdft-1/responsabilidade-civil-no-cdc/fato-do-
produto-e-do-servico acesso: 22/02/2024.

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