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1.

HISTORICO DO MOVIMENTO CONSUMIRISTA NO BRASIL: 


Até  o  advento  da  CF/88,  as  relações  privadas  entre  consumidores  e  fornecedores  eram reguladas 
pelo  CC,  inexistindo  qualquer  privilégio  da  parte  hipossuficiente  na  relação  negocial  –  consumidores  e 
fornecedores  eram  tratados  de  forma  similar.  Com  a  CF/88  positivou-se  como  princípio  da  ordem 
econômica nacional a proteção e defesa dos interesses do consumidor. 
Art. 5o, XXXII, CF - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; 
Art.  170,  CF  -  A  ordem  econômica,  fundada  na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem 
por  fim  assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes 
princípios: V - defesa do consumidor 
Além disso, nos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT, previstos na Carta 
Magna, o artigo 48 estabeleceu que: 
Art. 48, ADCT - O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, 
elaborará código de defesa do consumidor. 
A  preocupação  do  constituinte  deu  origem  à  lei  8.078/90,  o  Código  de  Defesa  do  Consumidor, 
norma  de  ordem  pública  e  interesse  social  e  que  deve  ser  aplicada  a  todas  as  relações  que  envolvem 
consumidores e fornecedores, conforme o artigo 1o, do dispositivo legal: 
Art.  1o,  CDC  -  O  presente  código  estabelece  normas  de  proteção  e  defesa  do  consumidor,  de  ordem 
pública  e  interesse  social,  nos  termos  dos  arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e 
art. 48 de suas Disposições Transitórias. 
2.  FINALIDADE  DO  CDC:  nas  relações  de  consumo  é  visível  o  desequilíbrio  existente  entre 
consumidor  e  fornecedor,  justamente  em  virtude  dessa  vulnerabilidade  por  parte  do  consumidor  é  que 
surgiu  o  CDC,  visando  equilibrar  as  negociações  comerciais  através  da  proteção  e  do  tratamento 
privilegiado os que estão em situação jurídica desigual. 
Nesse sentido, o CDC deve ser considerado norma de ordem pública principiológica, com eficácia 
supralegal,  da  qual irradiam diversas orientações para a produção de outras leis que protejam os interesses 
dos Consumidores. 
Além  disso, por ser norma de ordem pública (cogente) e interesse social, as proteções previstas no 
CDC  são  irrenunciáveis,  logo,  qualquer  contrato  que  possua  cláusula  onde  o  consumidor  renuncia  às 
proteções  do  CDC  será  nula,  ante  a  cogência  do  CDC  que  deve  ser  aplicado  independentemente  da 
vontade das partes. 
3. PRINCÍPIOS DO DIREITO CONSUMIDOR: o CDC é eminentemente principiológico 
trazendo em seu art. 6o um rol de direitos básicos do consumidor. 
A) PRINCÍPIO DO PROTECIONISMO DO CONSUMIDOR: consubstanciado no artigo 1o, do 
CDC e previsto nos artigos 5o, XXXII e 170, III, da CF, bem como no artigo 48, do ADCT, o princípio 
do 
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protecionismo  estabelece  que o CDC é uma norma cogente de ordem pública e interesse social e que deve 
ser  observada  por todos na proteção do consumidor, sendo esta um dos fundamentos da ordem econômica 
brasileira. 
B) PRINCÍPIO DA VULNERABILIDADE (ART. 4o, I, CDC): tal princípio tem como base 
reconhecer que o consumidor encontra-se em situação de vulnerabilidade frente ao fornecedor. 
Art. 4o, I, CDC - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo. 
O  princípio  da  vulnerabilidade  evidencia  o  caráter  parcial  do  CDC  ao  declarar  a  disparidade  entre  os 
componentes  de  uma  relação  de  consumo,  onde  o  consumidor  (seja ele qual for) encontra-se em situação 
de vulnerabilidade quando comparado ao fornecedor. 
Através  desse  princípio,  busca-se  criar  mecanismos  que  visem  a igualdade material (tratar desigualmente 
os  desiguais  na  medida  de  sua  desigualdade),  dirimindo  a  desigualdade  entre  os  sujeitos  envolvidos  no 
mercado de consumo e equilibrando a relação jurídica. 
→ A vulnerabilidade de que trata o princípio é financeira, técnica, jurídica e/ou psicológica: 
I. Vulnerabilidade Financeira: em regra, o consumidor é vulnerável financeiramente frente ao fornecedor. 
II. Vulnerabilidade Técnica: em regra, o fornecedor tem mais conhecimento acerca das características e 
utilidade do produto ou serviço. 
III. Vulnerabilidade Jurídica: em regra, o fornecedor tem maiores condições para o acesso à justiça e à 
produção de contratos por meio de advogados. 
IV. Vulnerabilidade Psicológica: o consumidor é único frente à lide. 
*OBS: Vulnerabilidade ≠ Hipossuficiência – a vulnerabilidade é absoluta, a hipossuficiência é relativa. 
Logo, o consumidor é vulnerável, mas não necessariamente hipossuficiente. 
C) PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO (ART. 6o, III, CDC): apesar de previsão específica no inciso 
III do art. 6o, sua presença está espalhada pelo CDC, explicita ou implicitamente. 
Art. 6o, III, CDC - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com 
especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, 
bem como sobre os riscos que apresentem; Parágrafo único. A informação de que trata o inciso III do 
caput deste artigo deve ser acessível à pessoa com deficiência, observado o disposto em regulamento. 
A  informação  aqui  deve  ser  clara,  adequada  e  específica.  Tem  evidente  semelhança  com  os  deveres 
anexos  do  contrato,  tal  como  consta  na  codificação  civil,  além  de  ser  corolário  da  boa-fé  objetiva, 
norteadora de todas as relações civis. 
*OBS: o art. 54, § 4o, dispõe que “as cláusulas que implicam restrições a direitos do consumidor devem 
ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão”. 
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D)  PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA (ART. 4o, III, CDC): a boa-fé objetiva traz a ideia de equilíbrio 
negocial,  que,  na  ótica  do  direito  do  consumidor,  deve  ser  mantido  em  todos  os  momentos  pelos  quais 
passa o negócio jurídico. 
Art.  4o,  III,  CDC  -  harmonização  dos  interesses  dos  participantes  das  relações  de  consumo  e 
compatibilização  da  proteção  do  consumidor  com  a  necessidade  de  desenvolvimento  econômico  e 
tecnológico,  de  modo  a  viabilizar  os  princípios  nos  quais  se  funda  a  ordem  econômica  (art.  170,  da 
Constituição  Federal),  sempre  com  base  na  boa-fé  e  equilíbrio  nas  relações  entre  consumidores  e 
fornecedores; 
Art. 51, CDC - São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento 
de produtos e serviços que: IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o 
consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa- fé ou a eqüidade; 
O art. 51, IV, do CDC, é uma cláusula geral da boa-fé objetiva, a qual poderia, sem maiores embargos, 
figurar como artigo primeiro do Código, se assim o legislador desejasse, tamanha sua importância. 
E)  PRINCÍPIO  DA  SOLIDARIEDADE  (ART.  18,  CDC): conforme estabelece o art. 265 do CC, 
a  solidariedade  não  se  presume,  deriva  da lei ou da vontade das partes. O CDC estabelece a solidariedade 
nos dispositivos abaixo: 
Art. 18, CDC - Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem 
solidariamente pelos vícios [...] 
Art. 25, § 1° - [..] todos responderão solidariamente pela reparação [...] 
Art. 25, § 2° - [...] são responsáveis solidários seu fabricante, construtor ou importador e o que realizou a 
incorporação. 
Art. 7o, Par. único, CDC – [...] todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas 
normas de consumo. 
F)  PRINCÍPIO DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA (ART. 4o, III, CDC): é uma das garantias 
mais  importantes  das  relações  de  consumo,  encontrando amparo na vulnerabilidade do consumidor. Duas 
são as modalidades – “ope legis” (originada pela lei) ou “ope judice” (originada em juízo). 
I. Ope Legis (originada pela lei): a própria lei, em seu texto, inverte o ônus da prova. 
Art. 12, § 3o, CDC - O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado 
quando provar: I - que não colocou o produto no mercado; II - que, embora haja colocado o produto no 
mercado, o defeito inexiste; III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 
Art. 14, § 3o, CDC - O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: I - que, tendo 
prestado o serviço, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 
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Art. 38, CDC - O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária 
cabe a quem as patrocina. 
II. Ope Judice (originada em juízo): 
Art.  6o,  VIII,  CDC  -  a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a 
seu  favor,  no  processo  civil,  quando,  a  critério  do  juiz,  for  verossímil  a  alegação  ou  quando  for  ele 
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; 
4. RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO: consumidor, fornecedor, produto e serviço 
A) CONSUMIDOR: o art. 2o do CDC trata do consumidor Standard (padrão). 
Art. 2o, CDC - Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço 
como destinatário final. 
→ Do art. 2o, perceberemos três elementos essenciais da definição de consumidor: 
I. Aspecto subjetivo: poderá ser considerado consumidor tanto a pessoa física quanto a pessoa jurídica, 
independente se brasileiro ou estrangeiro, eis que o dispositivo legal não faz qualquer restrição. 
II. Aspecto objetivo: o consumidor é aquele que adquire ou utiliza um produto ou serviço. 
III. Aspecto teleológico: necessário que a aquisição do produto ou utilização do serviço seja na qualidade 
de destinatário final. 
→  Destinatário  final:  nada  mais  é  que  a  aquisição  do  produto  ou  utilização  do  serviço  sem  o 
intuito  de  recolocação  no  mercado  ou  incremento  no  processo  produtivo.  A  grosso  modo,  tem-se  uma 
aquisição  de  um produto sem a intenção de com ele obter lucro. O destinatário final, por sua vez, pode ser 
fático ou econômico. 
1o.  Destinação  final  fática  –  o  consumidor  é  o  último  da  cadeia de consumo, ou seja, depois dele, não há 
ninguém  na  transmissão  do  produto  ou  do  serviço.  É  aquele  que,  objetivamente,  retira  o  produto  ou 
serviço do mercado. 
2o.  Destinação  final  econômica  –  o  consumidor  não  utiliza  o  produto  ou  serviço para o lucro, repasse ou 
transmissão  onerosa.  É  aquele  que  põe  fim  à  cadeia  de  consumo  e  tira  frutos  da  coisa  ou  serviço  em 
benefício próprio exclusivamente. 
Para definir o que seria o destinatário final da mercadoria, surgiram duas teorias: a interpretação 
finalista e a interpretação maximalista. 
I. Teoria Finalista ou subjetiva: Destinatário Final Fático + Destinatário Final Econômico. 
A  teoria  finalista  baseia-se na finalidade atribuída ao produto ou serviço, estabelecendo que o consumidor 
deva  ser  o  destinatário  final fático e econômico, ou seja, o desígnio do consumidor em relação ao produto 
ou serviço dever ser pessoal, em favor próprio, e não de terceiros – consumidor é aquele que compra e 
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utiliza para seu benefício exclusivo, não podendo obter lucros com o produto ou serviço, tampouco 
colocá- lo de volta ao mercado. 
É a teoria majoritária, por ser aquela que mais se aproxima da finalidade da lei - proteger o consumidor. 
Exclui os profissionais, porém há uma mitigação. 
Ex:  uma  loja  de  roupas  (pessoa  jurídica)  que  adquire  20  (vinte)  blusas  de  uma  fábrica para revender não 
pode  ser  considerada  consumidora  desta  mercadoria,  eis  que  não  a  adquiriu  como  destinatária  final.  A 
aquisição  das  peças  de  roupas  fora  feita  com  o  intuito  de  recolocá-las  no mercado por um preço superior 
e, naturalmente, obter um lucro com a operação. 
Por  outro  lado,  acaso  esta  mesma  loja  de  roupas  adquira  uma  televisão,  é  possível  considerá-la 
consumidora  nesta  operação,  eis  que  não  há  interesse  da  empresa  em  revender  o  equipamento,  mas  em 
utilizá-lo na qualidade de destinatário final. 
*OBS:  o  STJ  tem  mitigado  os  rigores da teoria finalista para autorizar a incidência do CDC nas hipóteses 
em  que  a parte (pessoa física ou jurídica), embora não seja tecnicamente a destinatária final do produto ou 
serviço, se apresente em situação de vulnerabilidade. 
II. Teoria Maximalista: o consumidor será tão somente o destinatário final fático do produto ou serviço, 
independentemente de dar ao produto uma destinação produtiva ou doméstica. 
A noção de consumidor deve ser a mais extensa possível, não importando o fim dado ao produto ou 
serviço adquirido, ou seja, se consumidor auferirá ou não lucro. 
Ex: haveria relação de consumo entre uma indústria de confecção que adquire produtos de limpeza para 
aplicar nas peças que fabrica. 
→ Consumidor Equiparado (“Bystander”): o CDC estabelece hipóteses de pessoas que são 
consideradas consumidores por equiparação. 
Art.  2o,  Parágrafo  único,  CDC  -  Equipara-se  a  consumidor  a  coletividade  de  pessoas,  ainda  que 
indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. 
Ex: pai que paga a escola de sua filha. A destinatária final consumidora padrão é a criança, mas seu 
genitor é equiparado, podendo se valer das garantias previstas na codificação. 
Art. 17, CDC - Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento. 
Ex:  compra-se  um  carro  0km.  Na  primeira  viagem,  a  roda  se  desprende  por  vício  inerente  ao  veículo, 
causando  um  acidente.  Todos  aqueles  que  sofrem  o  dano pela falha do produto se equiparam nos direitos 
do consumidor padrão, que é aquele que efetivamente comprou o carro. 
*O  STJ  já  considerou  consumidor  equiparado  o  proprietário  de  uma  casa  sobre  a  qual  caiu  um  avião. 
Assim,  mesmo  não  estando  diretamente  envolvido  na  relação  consumidor  x  companhia  aérea,  o 
proprietário do imóvel atingido por acidente aéreo será equiparado ao consumidor. 
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Art.  29,  CDC - Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas 
determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas (práticas comerciais). 
Ex:  propaganda  abusiva,  propaganda  enganosa  –  João  possui  uma  papelaria  e  faz  publicidade  enganosa 
prometendo  sorteio.  A  papelaria  de  Maria,  concorrente,  poderá  equipar-se  à  consumidor  no  que  tange  à 
prática da publicidade enganosa. 
*OBS:  pela  análise  os  dispositivos  acima,  conclui-se  que  o  CDC  aplica-se  também  às  relações  jurídicas 
extracontratuais.  Isto  porque  não  apenas  os  consumidores  individuais  estão  abrangidos  pela  proteção  do 
CDC,  mas  também  aqueles  considerados  consumidores  por  equiparação,  ainda  que  não  tenham 
participado  da relação jurídica original. Logo, o CDC aplica-se tanto a relações jurídicas contratuais como 
extracontratuais. 
B) FORNECEDOR: para o fornecedor ser caracterizado como tal, ele deve ser possui como 
característica a habitualidade (profissionalismo) + onerosidade (lucro). 
Art.  3o,  CDC  -  Fornecedor  é  toda  pessoa  física  ou  jurídica,  pública  ou  privada,  nacional  ou  estrangeira, 
bem  como  os  entes  despersonalizados,  que  desenvolvem  atividade  de  produção,  montagem,  criação, 
construção,  transformação,  importação,  exportação,  distribuição  ou  comercialização  de  produtos  ou 
prestação de serviços. 
Não  há  exceções  para  quem  poderá  ser  classificado  ou  não  como  fornecedor.  Assim,  aquele  que  exerça 
atividade  com  intuito  de  lucro poderá ser considerado fornecedor, independente de estar com sua situação 
regularizada ou não. 
*OBS:  entes  despersonalizados  (o  espólio,  a  massa  falida  e  o  consórcio  de  empresas)  também  são 
considerados  fornecedores  pelo  CDC,  eis  que  são  sujeitos  de direito. A massa falida pode ser demandada 
com  base  no  CDC,  por  exemplo,  caso  ocorra  um  acidente  de  consumo  envolvendo  produtos  ou  serviços 
comercializados antes da decretação da falência. 
→ Três cadeias Fornecedores: 
1a Cadeia – Fabricante / Construtor / Produtor. 2a Cadeia – Importador. 3a Cadeia – Comerciante. 
C) PRODUTO: 
Art. 3o, § 1o, CDC - Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. 
A  definição  mostra-se  ampla  e  esgota  qualquer  gênero  de  bens,  envolvendo  todas  as  categorias,  pois 
qualquer  bem  será  móvel  ou  imóvel,  material  ou  imaterial.  Abrange,  inclusive,  as amostras grátis, pois o 
artigo não trata de remuneração. 
Ocorre  que,  como  vimos  acima,  para  aplicação  do  CDC  necessário  que  haja  o  intuito  de  lucro  do 
fornecedor  e,  exatamente  por  isto,  o produto deve revestir-se de onerosidade. É dizer: os bens recebidos a 
título gratuito não devem enquadrar-se, a princípio, na definição do CDC. 
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D) SERVIÇO: 
Art.  3o,  §  2o,  CDC  -  Serviço  é  qualquer  atividade  fornecida  no  mercado  de  consumo,  mediante 
remuneração,  inclusive  as  de  natureza  bancária,  financeira,  de  crédito  e  securitária,  salvo  as  decorrentes 
das relações de caráter trabalhista. 
O  dispositivo  estabelece  que  apenas  os  serviços  fornecidos  mediante  remuneração estariam abarcados na 
definição  de  serviço.  Contudo,  a  doutrina definiu que o termo remuneração deve ser entendido no sentido 
genérico.  Assim,  ainda  que  o  serviço  seja  prestado  gratuitamente,  mas  com  o  preço  embutido  em  outro 
serviço ou produto, deve este ser considerado para efeitos de incidência do CDC. 
Ex: estacionamento gratuito oferecido por lojas e centros comerciais; Ex: instalação gratuita quando da 
aquisição de determinados produtos; Ex: serviços de manobrista, ainda que gratuitos; Ex: programas de 
milhagem oferecidos por cartões de crédito; 
Tais hipóteses enquadram-se em relação de consumo, ainda que o serviço seja fornecido gratuitamente. 
Isto porque os serviços nada mais são que o reforço embutido na venda de outros produtos (Súm. 130, 
STJ). 
Súmula 130 – STJ - A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículo 
ocorridos em seu estacionamento. 
5.  RISCOS  DOS  PRODUTOS  E  SERVIÇOS:  o  fornecedor  assume  o  risco  do  seu 
empreendimento,  tendo  que  reparar  o  consumidor  por  eventuais  prejuízos  ocasionados  pelos  produtos  e 
serviços  fornecidos  a  estes.  O  fornecedor  não  pode  introduzir  no  mercado  de  consumo  produtos  ou 
serviços  que  possam  comprometer  à saúde e segurança dos consumidores. Contudo, admitem-se os riscos 
à  saúde  e  à  segurança,  desde  que  tais  riscos  decorram  da  normal  fruição  do produto e do serviço e sejam 
previsíveis pelo consumidor de acordo com suas regras de experiência. 
Art. 8o, CDC - Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde 
ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua 
natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias 
e adequadas a seu respeito. Parágrafo único. Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe 
prestar as informações a que se refere este artigo, através de impressos apropriados que devam 
acompanhar o produto. 
A) RISCOS INERENTES E RISCOS ADQUIRIDOS: os riscos provenientes do produto podem 
ser de duas modalidades – inerentes ou adquiridos. 
I.  Riscos  Inerentes:  indissociáveis  do  produto  (estão  presumidos  no  produto),  conhecidos  pelo  homem 
médio,  o  dever  de  informar  aqui  é  mitigado.  Ex:  não  há necessidade de informar que uma faca é cortante 
ou perfurante. 
II.  Riscos  Adquiridos:  estão  inseridos  na  regra  do  art.  8o,  se  pautam  no  desconhecimento  do  homem 
médio,  logo,  seus  riscos  devem  ser  informados  extensivamente  e  ostensivamente,  atendendo-se  ao 
princípio da informação. São riscos provenientes de um defeito, de algo que o consumidor não espera. Ex: 
efeitos colaterais de medicamentos. 
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O  artigo  8o é uma cláusula geral de proteção aos produtos colocados no mercado, de que nenhum produto 
ou  serviço  colocado  no  mercado  gerará  perigo  à  saúde  ou  segurança  do  consumidor.  Através  dele,  o 
consumidor obtém garantia legal de segurança dos produtos que adquire. 
O risco adquirido, quando não informado, gera responsabilidade civil, contudo, é muito difícil se provar, 
o que faz com que não seja um instituto muito judicializado. 
B)  PRODUTOS  POTENCIALMENTE  NOCIVOS  (ART.  9o,  CDC):  a  ideia  de  potencial 
nocividade  é  vista  pela  doutrina  como  algo  que  gradativamente  vai  apresentando  riscos  ao  consumidor 
(lentamente),  ou  que,  à  primeira  vista,  seus  riscos  não  são  manifestos.  A  nocividade  deve  ser  informada 
de forma ampla e ostensiva. Ex: cigarros e bebidas alcoólicas. 
Art.  9o,  CDC  -  O  fornecedor  de  produtos  e  serviços  potencialmente  nocivos  ou  perigosos  à  saúde  ou 
segurança  deverá  informar,  de  maneira  ostensiva  e  adequada,  a  respeito  da  sua  nocividade  ou 
periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto. 
C) PRODUTOS ALTAMENTE NOCIVOS OU PERIGOSOS (ART. 10, CDC): não podem ser 
colocados no mercado (via de regra são proibidos). 
Art.  10,  CDC  -  O  fornecedor  não  poderá  colocar  no  mercado  de  consumo  produto  ou  serviço  que 
sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança. 
→ Caso o fornecedor coloque o produto no mercado e apenas posteriormente descubra a sua 
periculosidade, medidas urgentes deverão ser tomadas (§§ 1o e 2o do art. 10): 
Art.  10,  §  1o,  CDC  -  O  fornecedor  de  produtos  e  serviços  que,  posteriormente  à  sua  introdução  no 
mercado  de  consumo,  tiver  conhecimento  da  periculosidade  que  apresentem,  deverá  comunicar  o  fato 
imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários. 
Este  dispositivo  trata  do  procedimento  denominado  “recall”,  o  qual  consiste  em  dar  conhecimento  ao 
mercado  a  respeito  do  alto  grau  de  nocividade  do  produto  indevidamente  comercializado,  a fim de que o 
consumidor  seja  avisado  do  perigo  e  não  sofra  consequências  lesivas.  Através  do  “recall”  o  fornecedor 
convoca  os  consumidores  para  devolver  o  produto,  seja  para  reparar  o  componente nocivo gratuitamente 
seja  quando  isso  não  for  possível,  para  ressarcir  o  consumidor  dos  valores  despendidos  com  a  aquisição 
do bem. 
Art.  10,  §  3o,  CDC  -  Sempre  que  tiverem  conhecimento  de  periculosidade  de  produtos  ou  serviços  à 
saúde  ou  segurança  dos  consumidores,  a  União,  os  Estados,  o  Distrito  Federal  e  os  Municípios  deverão 
informá-los a respeito. 
D) RISCO DO DESENVOLVIMENTO ≠ RISCO DO EMPREENDIMENTO: 
O risco do desenvolvimento é quando a tecnologia, no momento do lançamento do produto no mercado 
de consumo, não permite ao fabricante conhecer os riscos que esse produto possa causar aos 
consumidores. 
Ex: Talidomida, medicamento lançado na década de 60, que aliviava as náuseas da gestante, mas causava 
más-formações nos fetos. 
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Nas hipóteses de risco por desenvolvimento, em havendo prejuízos ao consumidor, o fornecedor deve 
suportá-los, em razão do ideal contido no código. Há responsabilidade civil? 
6. RESPONSABILIDADE CIVIL: o CDC adota como regra geral a responsabilidade civil objetiva. 
RESP. CIVIL OBJETIVA = CONDUTA + DANO + NEXO (INDEPENDE DE CULPA/DOLO) 
Na  responsabilidade  civil  objetiva,  o  autor  quando  propõe  uma  demanda  em  juízo  deve 
demonstrar  nos  autos  a  conduta  praticada  pelo  réu  (comissiva  ou  omissiva),  o  dano  que  sofrera  e  que 
merece  ser  reparado  e  o  nexo  causal  entre  a conduta e o dano sofrido.O elemento subjetivo dolo ou culpa 
do agente que praticou o dano não precisa ser demonstrado pelo Autor. 
6.1. VÍCIO X FATO: o CDC ao prever a responsabilidade civil dos fornecedores por seus 
produtos e serviços estabeleceu uma diferença prática entre responsabilidade pelo vício e 
responsabilidade pelo fato. 
VÍCIO (DEFEITO) FATO (ACIDENTE DE CONSUMO) É toda inadequação ou 
impropriedade do produto/serviço que impeça seu pleno uso. O vício se limita ao produto, é intrínseco ao 
produto, é o vulgar “defeito do produto”, diminuindo o seu valor. 
É  um  evento  que  extrapola  os  limites  do  produto/serviço  –  provém  de  um  acidente  de  consumo  gerado 
por um defeito do produto/serviço. 
Ex: comprei uma TV, e ao chegar ela está com o vidro quebrado. 
Ex: você liga a TV na tomada e ela explode. 
Ex:  compro um carro com defeito nos freios e ao conduzi-lo percebo um problema no freio e consigo para 
o veículo através da redução de marchas, não havendo acidentes. 
Ex: compro um carro com defeito nos freios e ao conduzi-lo venho a me acidentar em razão do freio. 
A)  VÍCIO  DO  PRODUTO  (ARTS.  18  e  19,  CDC):  a  responsabilidade  pelo  vício  do  produto  é 
OBJETIVA  e  SOLIDÁRIA  dos  fornecedores. Os vícios do produto, por sua vez, podem ser de qualidade, 
quantidade e informação. 
→ VÍCIO DE QUALIDADE E INFORMAÇÃO (ART. 18, CDC): 
Art.  18,  CDC  -  Os  fornecedores  de  produtos  de  consumo  duráveis  ou  não  duráveis  respondem 
solidariamente  pelos  vícios  de  qualidade  ou  quantidade  que  os  tornem  impróprios  ou  inadequados  ao 
consumo  a  que  se  destinam  ou  lhes  diminuam  o  valor,  assim  como  por  aqueles  decorrentes  da 
disparidade,  com  a  indicações  constantes  do  recipiente,  da  embalagem,  rotulagem  ou  mensagem 
publicitária,  respeitadas  as  variações  decorrentes  de  sua  natureza,  podendo  o  consumidor  exigir  a 
substituição das partes viciadas. 
- Exemplo de vício de qualidade: TV rachada – o consumidor deverá dirigir-se até o fornecedor e solicitar 
que o vício seja sanado, inclusive com a substituição das partes viciadas. 
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- Prazo: o fornecedor terá o prazo de 30 dias para solucionar o problema. Extrapolado esse prazo e caso o 
vício não seja sanado, o consumidor poderá escolher entre as alternativas previstas no § 1o do art. 18. 
Art. 18, § 1o, CDC - Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, 
alternativamente e à sua escolha: I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas 
condições de uso; II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de 
eventuais perdas e danos; III - o abatimento proporcional do preço. 
Além  disso,  o  consumidor  poderá  sempre  fazer uso destas alternativas quando o vício for tão extenso que 
a  substituição  das  partes  viciadas  possa  comprometer  a  qualidade,  as  características  do  produto  ou 
diminuir- lhe o valor, ou ainda, acaso se trate de produto essencial (parágrafo 3o). 
- E se o consumidor optar por substituir o produto e a substituição não for possível? 
Ex: o consumidor compra a última unidade de um computador no estoque da loja, mas este apresentou um 
defeito que o fornecedor não conseguiu solucionar no prazo de 30 (trinta) dias. 
Apesar  do  consumidor  ter  optado  pela  substituição do produto por outro da mesma espécie e em perfeitas 
condições  de  uso,  o  fornecedor  não  poderá  cumprir  tal  solicitação, tendo em vista que o equipamento era 
a última peça no estoque da loja. 
Nestes  casos,  o  CDC  estabelece  que  o  consumidor  poderá  escolher  um  produto  com  espécie,  modelo  ou 
marca  diversos,  mas  deverá  ou  pagar  a  complementação  do  preço  ou  receber  a  diferença  de  volta  (a 
depender se o produto for mais caro ou mais barato que o originalmente escolhido) – Art. 18, § 4o. 
Art.  18,  §  4o,  CDC  -  Tendo  o  consumidor  optado  pela  alternativa  do  inciso  I  do  §  1°  deste  artigo, e não 
sendo  possível  a  substituição  do  bem,  poderá  haver  substituição  por  outro  de  espécie,  marca  ou  modelo 
diversos,  mediante  complementação  ou  restituição  de  eventual  diferença  de  preço,  sem  prejuízo  do 
disposto nos incisos II e III do § 1° deste artigo. 
- Poderão consumidor e fornecedor alterar o prazo de 30 dias para solucionar o problema? 
De  acordo  com  o  parágrafo  2o,  do  artigo  18,  do  CDC,  sim. Contudo, este prazo não poderá ser inferior a 
07  (sete)  e  nem  superior  a  180  (cento  e  oitenta)  dias.  E,  acaso  se  trate  de  um  contrato  de  adesão,  esta 
cláusula  de  prazo  deve  ser  convencionada  em  separado,  sendo  necessária  a  manifestação  expressa  do 
consumidor.  A  ideia  é  ter  o  máximo  de  segurança  de  que  o  consumidor realmente leu e contratou aquela 
determinada cláusula. 
Art.  18,  §  2o,  CDC  -  Poderão  as  partes  convencionar  a  redução  ou  ampliação  do  prazo  previsto  no 
parágrafo  anterior,  não  podendo  ser  inferior  a  sete  nem  superior  a  cento  e  oitenta  dias.  Nos  contratos  de 
adesão,  a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do 
consumidor. 
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→ VÍCIO DE QUANTIDADE (ART. 19, CDC): 
Art.  19,  CDC  -  Os  fornecedores  respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre 
que,  respeitadas  as  variações  decorrentes  de  sua  natureza,  seu  conteúdo  líquido  for inferior às indicações 
constantes  do  recipiente,  da  embalagem,  rotulagem  ou  de  mensagem  publicitária, podendo o consumidor 
exigir, alternativamente e à sua escolha: 
- Exemplo de vício de quantidade: rolo de papel higiênico com menos de 30 metros. 
-  Prazo:  diferentemente  do  vício  quanto  à  qualidade,  o  consumidor  não  precisa  esperar  prazo 
algum  para  escolher  entre  o  abatimento  proporcional  do  preço,  a  complementação  do  peso  ou  medida,  a 
substituição do produto ou a restituição do seu dinheiro. 
Art. 19, CDC - Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre 
que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações 
constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor 
exigir, alternativamente e à sua escolha: I - o abatimento proporcional do preço; II - complementação do 
peso ou medida; III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os 
aludidos vícios; IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de 
eventuais perdas e danos. 
- Comerciante com balança defeituosa - será ele o responsável pelo vício no produto (Art. 19, § 2o): 
Art.  19,  §  2o,  CDC  -  O  fornecedor  imediato  será  responsável  quando  fizer  a  pesagem  ou  a  medição  e  o 
instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais. 
- E se o consumidor optar por substituir o produto e a substituição não for possível? 
O procedimento adotado deve ser idêntico à situação quanto ao vício na qualidade do produto, dado o 
disposto no parágrafo 1o, do artigo 19, do CDC. 
B) VÍCIO DO SERVIÇO (ART. 20, CDC): 
Art. 20, CDC - O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao 
consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as 
indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente 
e à sua escolha: I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível; II - a restituição 
imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o 
abatimento proporcional do preço. 
→ Assistência técnica dos produtos (art. 21, CDC): o fornecedor precisa utilizar peças originais e 
novas quando for reparar produtos com defeito. Por outro lado, os produtos devem obedecer às 
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especificações técnicas do fabricante. Contudo, poderá o consumidor autorizar expressamente a 
substituição de peças por outras usadas, desde que esta seja a sua vontade. 
Art.  21,  CDC  -  No  fornecimento  de  serviços  que  tenham  por  objetivo  a  reparação  de  qualquer  produto 
considerar-se-á  implícita  a  obrigação  do  fornecedor  de  empregar  componentes  de  reposição  originais 
adequados  e  novos,  ou  que  mantenham  as  especificações  técnicas  do  fabricante,  salvo,  quanto  a  estes 
últimos, autorização em contrário do consumidor. 
→ Cabe indenização por dano moral em casos de vício do produto? Para respondermos a esta 
pergunta devemos entender o que a doutrina chama de vício “circa rem” e vício “extra rem". 
VÍCIO CIRCA REM VÍCIO EXTRA REM É o vício propriamente dito, que se 
circunscreve a coisa, não causando danos. Não dá ensejo à compensação por dano moral. 
É  aquele  vício  que  gera  transtornos  acima  da  média,  e  nesse  caso  em  específico  é  cabível  a  indenização 
por danos morais. 
C) FATO DO PRODUTO (ARTS. 12 e 13, CDC): a responsabilidade pelo fato do produto é 
OBJETIVA para todos os fornecedores, exceto o comerciante, o qual responderá subsidiariamente. 
Art.  12,  CDC  -  O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, 
independentemente  da  existência  de  culpa,  pela  reparação  dos  danos  causados  aos  consumidores  por 
defeitos  decorrentes  de  projeto,  fabricação,  construção,  montagem,  fórmulas,  manipulação,  apresentação 
ou  acondicionamento  de  seus  produtos,  bem  como  por  informações  insuficientes  ou  inadequadas  sobre 
sua utilização e riscos. 
O  fabricante,  o  produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador irão responder pela 
reparação  do  acidente  de  consumo  ocorrido  com  seus  produtos  independente  da  existência  de  culpa  – 
responsabilidade objetiva. 
O § 3o do art. 12 estabelece as hipóteses de excludente de responsabilidade pelo fato do produto, 
cabendo ao fabricante, construtor ou importador, o ônus da prova. 
→  Como  o  caput  do  artigo  12  não  dispõe  sobre  o  fornecedor,  mas  elenca  aquelas  pessoas  que 
seriam  responsáveis  pelo  fato  do  produto,  a  doutrina  se  consolidou  no  sentido  de  que  o  comerciante não 
deve  ser  incluído  neste  rol, haja vista que o dispositivo cita apenas o fabricante, o produtor, o construtor e 
o importador. Contudo, o art. 13 do CDC estabelece a responsabilidade do comerciante: 
Art. 13, CDC - O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando: I - o 
fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados; II - o produto for 
fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador; III - não 
conservar adequadamente os produtos perecíveis. Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao 
prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação 
na causação do evento danoso. 
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Logo, o comerciante possui responsabilidade subsidiária pela fato de produto, mas somente nos 
casos elencados no art. 13 do CDC. 
D)  FATO  DO  SERVIÇO  (ARTS.  14,  CDC):  a  responsabilidade  pelo  fato  do  serviço  é 
OBJETIVA  e  SOLIDÁRIA  para  todos  os  fornecedores,  incluindo  o  comerciante, tanto é que no art. 14 o 
legislador dispôs o termo “Fornecedor”. 
Art.  14,  CDC  -  O  fornecedor  de  serviços  responde,  independentemente  da  existência  de  culpa,  pela 
reparação  dos  danos  causados  aos  consumidores  por  defeitos  relativos  à  prestação  dos  serviços,  bem 
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. 
O § 3o do art. 14 estabelece as hipóteses de excludente de responsabilidade pelo fato do serviço, 
cabendo ao fornecedor o ônus da prova. 
→  Profissionais  Liberais  e  a  responsabilidade  por  fato  do  serviço  (art.  14,  §  4o):  o  CDC 
estabelece  que  a  responsabilidade  dos  profissionais  liberais  se  dê  pela  regra  da  RESPONSABILIDADE 
SUBJETIVA, excepcionando a regra da responsabilidade objetiva. 
Art. 14, § 4o, CDC - A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a 
verificação de culpa. 
Assim,  quando  demandar  um  profissional  liberal  em  juízo,  deverá  o  Autor  (consumidor) 
demonstrar  o  ato  cometido,  o  dano  causado,  o  nexo  causal  entre  ambos  e,  ainda,  que o agente praticou o 
dano com dolo ou culpa. 
Isto  porque  ao  contratar  os  serviços  destes  profissionais,  ao  consumidor  não  é  oferecido  o 
resultado  esperado,  mas  tão  somente  uma  garantia  de  que  o  serviço  será  prestado  da  melhor  forma 
possível, pois a obrigação dos profissionais liberais é uma obrigação de meio e não de resultado. 
*OBS:  Profissionais  liberais  são  aqueles  prestadores  de  serviço  que  em  geral  não  possuem  uma 
organização  empresarial  -  médicos,  advogados,  dentistas,  arquitetos  e  outros  profissionais  que  prestam 
serviço de natureza técnica e pessoal. 
7. DOS PRAZOS: para melhor compreendermos os prazos previstos no CDC, precisamos 
estabelecer a diferença entre o vício oculto e o vício aparente. 
I.  Vício  aparente  ou  de  fácil  constatação:  é  aquele  facilmente  perceptível  pelo  vulgo  comum,  ou 
seja,  o  consumidor  não  necessita  de  conhecimentos  técnicos  para  identifica-lo.  São  os  casos  de produtos 
deteriorados,  adulterados,  visivelmente  avariados,  que  não  funcionam  ou  funcionam  com  imperfeições, 
dentre outros. 
II.  Vício  oculto:  é  aquele  que  existe  no  produto  ou  serviço,  mas  ainda  não  se  manifestou. 
Permanece  latente  por algum tempo, até que finalmente se manifesta comprometendo a funcionalidade ou 
prestabilidade do produto ou serviço. 
A)  PRAZOS  DECADENCIAIS  DO  CONSUMIDOR  (arts.  26,  CDC):  aplica-se  aos  vícios  do 
produto/serviço.  Trata-se  de  garantia  legal,  ou  seja,  durante  o  referido  prazo o fornecedor deve assegurar 
o  pleno  funcionamento  do  produto  ou  serviço.  Ocorrendo  vícios  durante  o  referido  prazo  o  fornecedor 
deve saná-lo sem qualquer ônus para o consumidor 
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→ Decadência: de acordo com o artigo 26, do CDC, em caso de vícios aparentes ou de vício oculto, o 
prazo para o consumidor reclamar caduca em: 
I. 30 dias em caso de fornecimento de bens e produtos não duráveis; II. 90 dias em caso de fornecimento 
de bens e produtos duráveis; 
Os prazos decadenciais, portanto, são os mesmos para o vício aparente e oculto, contudo, a diferença dos 
institutos reside no início da contagem do prazo: 
- Vício aparente (Art. 26, § 1o): o prazo decadencial inicia-se com a entrega efetiva do produto ou com o 
término da execução dos serviços. 
- Vício oculto (Art. 26, § 3o): o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o 
defeito. 
B)  PRAZOS  PRESCRICIONAL  DO  CONSUMIDOR  (arts.  27,  CDC):  aplica-se  aos  fatos  do 
produto/serviço.  Para os casos de defeitos nos produtos ou serviços que gerem acidentes de consumo (fato 
do  produto  ou  serviço),  a  lei  estabelece  um  prazo  prescricional  de  cinco  anos  para o consumidor pleitear 
em  juízo  a  reparação  pelos  danos  advindos  de  tal  acidente.  Trata-se  de  prazo  prescricional  fixado  pelo 
CDC em 05 (cinco) anos a contar do conhecimento do dano e de sua autoria, conforme o artigo 27. 
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