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1.

ESTRUTURA DA RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO


A relação jurídica consiste num vínculo entre pessoa, em razão do qual uma pode pretender um bem
a que outra é obrigada.
São elementos da relação jurídica de consumo:
a) Existência de uma relação entre sujeitos jurídicos, substancialmente entre um sujeito ativo –
titular de um direito – e um sujeito passivo – que tem um dever jurídico;
b) Presença do poder do sujeito ativo sobre o objeto imediato, que é a prestação, e sobre o
objeto mediato da relação, que é o bem jurídico tutelado (coisa, tarefa ou abstenção);
c) Evidência na prática de um fato ou acontecimento propulsor, capaz de gerar consequências
para o plano jurídico.

2. ELEMENTOS SUBJETIVOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO


2.1 Fornecedor de produtos e prestador de serviços: Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica,
pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços (Art. 3º).
 Para o fim de aplicação do CDC, o reconhecimento de uma pessoa física ou jurídica ou de um ente
despersonalizado como fornecedor de serviços atende aos critérios puramente objetivos, sendo
irrelevantes a sua natureza jurídica, a espécie dos serviços que prestam e até mesmo o fato de se tratar
de uma sociedade civil, sem fins lucrativos, de caráter beneficente e filantrópico, bastando que
desempenhem determinada atividade no mercado de consumo mediante remuneração (STJ).

Há na relação de consumo o requisito da habitualidade, sendo assim, aquela pessoa que vende, de
forma isolada, bem ou produto não será fornecedora, faltando o requisito da habitualidade.
Doutrina e jurisprudência divide os tipos de fornecedores:
a) Fornecedor real (fabricante) → efetivamente participa do processo de fabricação do produto;
b) Fornecedor presumido (importador) → não participa diretamente do processo de
fabricação/produção/construção do produto é, apenas, um intermediário entre quem fabrica e o
consumidor;
c) Fornecedor aparente (mesmo nome) → põe uma marca nos produtos disponibilizados ao
consumidor e cria nele a confiança no produto comercializado;
d) Fornecedor por equiparação → terceiro que na relação de consumo serviu como
intermediário ou ajudante para a realização da relação principal, mas que atua frente a um
consumidor como se fosse o fornecedor.
2.2 Consumidor: Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou
serviço como destinatário final (Art. 2º, caput).
Surge teoria sobre o que seria consumidor:
a) Teoria finalista ou subjetiva → consumidor é o destinatário final fático e econômico. É o
adotado pelo Art. 2º do CDC.
Entende-se como destinatário fático aquele que retira o produto ou serviço da cadeia de
consumo. E o econômico aquele que não utiliza o serviço ou produto para o lucro.
b) Teoria maximalista ou objetiva → destinatário final’ é o destinatário fático do produto ou
serviço, ou seja, é aquele que adquire o produto ou serviço, retirando-o do mercado de
consumo. A definição de ‘destinatário final’ é puramente objetiva, ou seja, não importa saber
qual a destinação econômica que a pessoa física ou jurídica pretende dar ao produto ou
serviço. Basta a retirada do bem de consumo da cadeia de produção para que se identifique o
consumidor, sendo irrelevante saber se o produto ou serviço será revendido, empregado
profissionalmente ou utilizado para fim pessoal ou familiar.
c) Teoria finalista mitigada ou aprofundada → o STJ admite a mitigação da teoria finalista para
autorizar a incidência do CDC nas hipóteses em que a parte (PF ou PJ), apesar de não ser
destinatária final do produto ou serviço, apresenta-se em situação de vulnerabilidade.
Considera-se consumidor por equiparação (bystander) o terceiro estranho à relação consumerista
que experimenta prejuízos decorrentes do produto ou serviço vinculado à mencionada relação, bem
como, a teor do Art. 29, as pessoas determináveis ou não expostas às praticas previstas nos arts. 30
a 54 do CDC.

3. ELEMENTOS OBJETIVO DA RELAÇÃO DE CONSUMO


3.1 Produto: Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial (Art. 3º, §1º).
3.2 Serviço: é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração,
inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das
relações de caráter trabalhista (§2º).

4. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA


O CDC traz dois tipos de inversão:
a) Ope judicis → quando o juiz verificar que for verossímil a alegação ou ele for
hipossuficiente;
Para o STJ, a inversão do ônus da prova previsto no Art. 6º, VIII do CDC é regra de instrução e
não de julgamento, a decisão que determina deve ocorrer antes da etapa instrutória ou,
proferida em momento posterior, há que se garantir à parte a quem foi imposto o ônus a
oportunidade de apresentar suas provas, sob pena de cerceamento de defesa (Info 701).
b) Ope legis → ocorre a inversão automática, pois a própria lei assim já o faz: o fabricante, o
construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando que, embora haja
colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; (Art. 12, §3º, II); O fornecedor de serviços só
não será responsabilizado quando provar que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste (Art.
14, §3º, I); O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação
publicitária cabe a quem as patrocina (Art. 38).
4.1 Prova diabólica: prova impossível ou excessivamente difícil de ser produzida. Adotando-se a
teoria da distribuição dinâmica, o juiz poderá distribuir o ônus da prova para aquele que tem melhor
condições de produzir a prova.
4.2 Denunciação à lide no CDC: é vedada a denunciação a lide no CDC, se fundamenta nos
princípios da celeridade e da efetividade da prestação jurisdicional, evitando a dilação do tempo de
duração do processo e a desnecessária ampliação do objeto da demanda, ambos em prejuízo do
consumidor.
O STJ entendeu que é possível, excepcionalmente, a denunciação à lide pelo hospital em caso de
erro médico.

5. POLÍTICA NACIONAL DAS RELAÇÕES DE CONSUMO


Tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade,
saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de
vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes
princípios (Art. 4º):
I - Reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;
II - Ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor:
a) por iniciativa direta;
b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas;
c) pela presença do Estado no mercado de consumo;
d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade,
segurança, durabilidade e desempenho.
III - Harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e
compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento
econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem
econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas
relações entre consumidores e fornecedores;
IV - Educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e
deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo;
V - Incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e
segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de
conflitos de consumo;
VI - Coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo,
inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das
marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que POSSAM CAUSAR prejuízos aos
consumidores;
VII - Racionalização e melhoria dos serviços públicos;
VIII - Estudo constante das modificações do mercado de consumo.
IX - Fomento de ações direcionadas à educação financeira e ambiental dos consumidores;
X - Prevenção e tratamento do superendividamento como forma de evitar a exclusão social do
consumidor.
Para a execução DA POLÍTICA NACIONAL DAS RELAÇÕES DE CONSUMO, contará o poder
público com os seguintes instrumentos, entre outros:
I - Manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita para o consumidor carente;
II - Instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, no âmbito do Ministério;
III - Criação de delegacias de polícia especializadas no atendimento de consumidores vítimas
de infrações penais de consumo;
IV - Criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas para a
solução de litígios de consumo;
V - Concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações de Defesa do
Consumidor.
VI - Instituição de mecanismos de prevenção e tratamento extrajudicial e judicial do
superendividamento e de proteção do consumidor pessoa natural;
VII - Instituição de núcleos de conciliação e mediação de conflitos oriundos de
superendividamento.

6. HIPÓTESES DE NÃO APLICAÇÃO DO CDC


O CDC é inaplicável às instituições financeiras quando do encerramento unilateral de conta
bancária, afastando-se a obrigatoriedade de manutenção do contrato de conta-corrente. É direito
subjetivo exercitável por qualquer das partes contratantes, desde que observada a prévia e regular
notificação.
Não se aplica o CDC às relações entre acionistas investidores e a sociedade anônima de capital
aberto com ações negociadas no mercado de valores mobiliários.
Serviço público de saúde não se submete ao CDC. Não se aplica o CDC entre cliente e advogado.
Não se aplica o CDC em relação entre locador e locatário. Não se aplica o CDC entre condomínio e
condômino.
Não aplica o CDC à relação jurídica entre participantes ou assistidos de plano de benefício e
entidade de previdência complementar fechada.
A franquia é um contrato empresarial e, em razão de sua natureza, não está sujeito às regras
protetivas previstas no CDC.
Não se aplica o CDC ao contrato de transporte de mercadorias vinculado a contrato de compra e
venda de insumos.
A condição de consumidor do promitente-assinante não se transfere aos cessionários do contrato de
participação financeira.
Em caso de extravio de bagagem ocorrido em transporte internacional envolvendo consumidor,
aplica-se, quanto à indenização por dano material, o valor tarifado previsto nas Convenções de
Varsóvia e de Montreal. No entanto, as indenizações por danos morais com extravio de bagagem e
de atraso de voo internacional estão submetidas ao CDC.
Contrato de conta corrente mantida entre corretora de Bitcoin e instituição financeira não se aplica o
CDC.
Não se aplica o CDC em contratos de plano de saúde de autogestão.
O Código de Defesa do Consumidor é inaplicável ao contrato de fiança bancária acessório a
contrato administrativo.

7. HIPÓTESE DE APLICAÇÃO DO CDC


É possível aplicar o CDC ao adquirente de unidade imobiliária, mesmo não sendo o destinatário final
do bem e apenas possuindo o intuito de investir ou auferir lucro, com base na teoria finalista
mitigada se tiver agido de boa-fé e não detiver conhecimentos de mercado imobiliário nem expertise
em incorporação, construção e venda de imóveis, sendo evidente a sua vulnerabilidade (consumidor
investidor).
O CDC é aplicável às entidades abertas de previdência complementar, não incidindo nos contratos
previdenciários celebrados com entidades fechadas.
Aplica-se o CDC às relações de serviços educacionais. Aplica-se o CDC às sociedades e
associações SEM fins lucrativos quando fornecerem produtos ou serviços. Aplica-se o CDC às
entidades abertas de previdência complementar. Aplica-se o CDC aos contratos de plano de saúde,
exceto de autogestão.
Há relação de consumo entre a seguradora e a concessionária de veículos que firmam seguro
empresarial visando à proteção do patrimônio destinação pessoal ainda que com o intuito de
resguardar veículos utilizados em sua atividade comercial —, desde que o seguro não integre os
produtos ou serviços oferecidos por esta.
Há relação de consumo entre a sociedade empresária vendedora de aviões e a sociedade
empresária administradora de imóveis que tenha adquirido avião com o objetivo de facilitar o
deslocamento de sócios e funcionários. Aplica-se a teoria finalista mitigada.
Deve ser reconhecida a relação de consumo existente entre a pessoa natural, que visa a atender
necessidades próprias, e as sociedades que prestam, de forma habitual e profissional, o serviço de
corretagem de valores e títulos mobiliários.
O Código de Defesa do Consumidor é aplicável aos empreendimentos habitacionais promovidos
pelas sociedades cooperativas.
Aplica-se o CDC ao condomínio de adquirentes de edifício em construção, nas hipóteses em que
atua na defesa dos interesses dos seus condôminos frente a construtora ou incorporadora.
8. COMPETÊNCIA
A competência para legislar sobre Direito do Consumidor é responsabilidade conjunta da U, E e DF.
Os Municípios detêm competência para legislar sobre assuntos de interesse local, ainda que, de
modo reflexo, tratem de direito comercial ou consumerista.
Compete ao Município legislar sobre medidas que propiciem segurança, conforto e rapidez aos
usuários de serviços bancários, uma vez que tratam de assuntos de interesse local.
Os municípios detêm competência para legislar determinando a instalação de sanitários nas
agências bancárias.
SV 38: É competente o município para fixar horário de funcionamento de estabelecimento comercial.
S. 19 STJ: A fixação de horário bancário, para atendimento ao público, é da competência da União.

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