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DIREITO DO CONSUMIDOR

Professora: Veridiana Rehbein

SUMÁRIO

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SUMÁRIO

1. RELAÇÃO DE CONSUMO .............................................................................................................. 3


2. APLICAÇÃO DO CDC ..................................................................................................................... 3
3. RELAÇÃO DE CONSUMO .............................................................................................................. 3

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COMPREENDENDO A RELAÇÃO DE CONSUMO E A APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR

1. RELAÇÃO DE CONSUMO

• Muitos profissionais se equivocam ao propor ou contestar demandas por não identificar


corretamente todas as possibilidades de aplicação do CDC.
• O CDC é aplicado às relações de consumo e às vítimas das relações de consumo.

2. APLICAÇÃO DO CDC

• Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem


pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição
Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias.
• O CDC é uma norma protetiva – proteção do vulnerável.
• Assim, interessa ao autor da ação a aplicação do CDC e, em contrapartida, não interessa ao
réu a aplicação do CDC.
• O advogado do autor tentará atrair a aplicação do CDC, enquanto o do réu, afastar.

3. RELAÇÃO DE CONSUMO

Relação de Consumo – Consumidor

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que
haja intervindo nas relações de consumo.
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.
Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas
determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas.

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Relação de Consumo – Consumidor equiparado – art. 17 (bystander)

• Banco abre conta corrente e fornece talão a uma falsária (portando documentos falsificados).
A estelionatária emite cheque sem fundos para pagar comerciante local. Esse comerciante não
é “consumidor standard” do banco, mas sofreu danos. (Recurso Inominado nº 71009416553/
TJRS).
• Defesa do banco: mesmo na responsabilidade objetiva, no caso do banco, fundada no risco
específico desse tipo de atividade, exige-se o nexo de causalidade.
• Em um caso como esse a jurisprudência, em regra, não reconhece a excludente de caso
fortuito externo ou força maior (Súmula 479), mas essa é uma possível teoria defensiva,
dependendo das circunstâncias.
• Súmula 479 - As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados
por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de
operações bancárias.

“Direito de vizinhança” – a empresa vizinha (causadora dos danos) é fornecedora de produtos e


serviços (frigorífico). As vítimas alegam estarem sendo submetidos a poluição atmosférica, no aspecto
sonoro e odorífico acima do permitido legalmente.
(AI nº 70083907774, TJRS).

“Direito de vizinhança”
Um dos argumentos de defesa da fornecedora ré: “para que a figura do consumidor equiparado seja
efetivamente caracterizada, é imprescindível a demonstração da relação de consumo entre as partes,
não bastando a simples ocorrência de um evento danoso e eventuais prejuízos sofridos pela vítima,
haja vista ser necessária a existência de uma induvidosa relação de consumo para que um terceiro se
equipare à figura de consumidor daquela relação”.
Completamente equivocado.

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Relação de Consumo – Consumidor equiparado – art. 29

O art. 29 estende a proteção contratual do consumidor a todas as pessoas expostas às práticas de


mercado referidas na lei (artigos 30 a 54);
Fases pré-contratual, de execução do contrato, e pós-contratual
A doutrina entende que deve estar presente a vulnerabilidade.

Relação de Consumo – Consumidor equiparado – Teoria Finalista Mitigada

STJ – Aplica a teoria finalista: fica excluído da proteção do CDC o consumo intermediário, assim
entendido como aquele cujo produto retorna para as cadeias de produção e distribuição, compondo o
custo (e, portanto, o preço final) de um novo bem ou serviço.
Vale dizer, só pode ser considerado consumidor, para fins de tutela pela Lei nº 8.078/90, aquele que
exaure a função econômica do bem ou serviço, excluindo-o de forma definitiva do mercado de
consumo.

STJ – Aplica a teoria finalista mitigada


A jurisprudência do STJ, tomando por base o conceito de consumidor por equiparação previsto no art.
29 do CDC, tem evoluído para uma aplicação temperada da teoria finalista frente às pessoas jurídicas,
num processo que a doutrina vem denominando finalismo aprofundado, consistente em se admitir que,
em determinadas hipóteses, a pessoa jurídica adquirente de um produto ou serviço pode ser
equiparada à condição de consumidora, por apresentar frente ao fornecedor alguma vulnerabilidade.

STJ – Aplica a teoria finalista mitigada


A doutrina tradicionalmente aponta a existência de três modalidades de vulnerabilidade: técnica
(ausência de conhecimento específico acerca do produto ou serviço objeto de consumo), jurídica (falta
de conhecimento jurídico, contábil ou econômico e de seus reflexos na relação de consumo) e fática
(situações em que a insuficiência econômica, física ou até mesmo psicológica do consumidor o coloca
em pé de desigualdade frente ao fornecedor).
Mais recentemente, tem se incluído também a vulnerabilidade informacional (dados insuficientes sobre
o produto ou serviço capazes de influenciar no processo decisório de compra).
(REsp 1195642/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 13/11/2012, DJe
21/11/2012).

STJ – Aplica a teoria finalista mitigada


Exemplos:

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• Fática: aquisição de um imóvel para locar e gerar uma renda extra à família;
• Jurídica: pequenas pessoas jurídicas quando contratam com bancos, seguradoras, operadoras
de telefonia...
• Técnica: aquisição de veículos que apresentam problemas mecânicos;
• Informacional: vítimas de publicidade enganosa (induz em erro);
• Relação de dependência necessária: produtor rural X concessionária de energia elétrica.

Algumas pessoas jurídicas solicitam a aplicação do CDC alegando “uso próprio” do produto; como um
veículo, por exemplo.
• Consumidor: não se limitar ao argumento de “uso próprio” ou “necessidade própria da pessoa
jurídica”, pois tudo o que uma pessoa jurídica adquire ou utiliza, compõe o custo do seu
produto ou serviço.
• Fornecedor: demonstrar que a alegação de “uso próprio” não é suficiente para demonstrar
vulnerabilidade e atrair a aplicação do CDC.
O “uso próprio” relaciona-se à atividade meio ou uso indireto que reforça a vulnerabilidade técnica,
mas não necessariamente.

Exemplo – afastamento
Conforme jurisprudência do STJ, a partir da teoria finalista mitigada, é possível o reconhecimento da
condição de consumidor à parte que, embora tecnicamente não seja destinatária final do produto ou
serviço, apresenta-se em situação de vulnerabilidade. No caso dos autos, os autores, embora
médicos, adquiriram oito (8) unidades imobiliárias para fins de investimento, pois pretendiam
vendê-las auferindo ganho de capital. Assim, evidencia-se não serem meros consumidores, mas
investidores, o que afasta a aplicação das regras do CDC.
(Apelação Cível, Nº 70083151142, Décima Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Mylene Maria Michel, Julgado em: 23-06-2020).

Relação de Consumo – Fornecedor

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem
como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive
as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de
caráter trabalhista.

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SERVIÇOS E A EXIGÊNCIA DE REMUNERAÇÃO
Não há se confundir gratuidade com não-remuneração, pois, enquanto a gratuidade diz respeito à
ausência de contraprestação direta, de onerosidade para o consumidor do serviço, compreende-se o
termo não-remuneração como a falta de qualquer rendimento ou ganho, inclusive de forma indireta.
Dessa forma, mesmo gratuito ao consumidor, o serviço, se remunerados por outros meios,
subordina-se ao CDC.

Exemplo de um entendimento ainda incipiente:


Entidade privada que recebe pagamento pelo Sistema Único de Saúde
Na hipótese, cuida-se de ação indenizatória, fundada na responsabilidade civil da clínica por suposta
falha na prestação de serviços médicos hospitalares, que acarretou sequelas no paciente internado
nas dependências da agravante.
Como de sabença, a assistência médica e hospitalar é considerada serviço público essencial e, no caso,
foi prestada por delegação e não diretamente pela Administração Pública. O custeio das despesas
efetuado pelo SUS caracteriza remuneração indireta apta a qualificar a relação jurídica, no caso, como
de consumo. Desse modo, a aplicação do código consumerista afigura-se de rigor, nos termos da
jurisprudência supracitada.
(AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.393.708 – PR)

SERVIÇOS BANCÁRIOS
Súmula 297 - O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras.
Na hipótese, considerando a vulnerabilidade presumida do microempresário individual frente ao
fornecedor do crédito, equipara-se ela a consumidor, fazendo jus à proteção do CDC, para fins de
revisão dos juros remuneratórios pactuados. -

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