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MÓDULO II – DIR.

CONSUMIDOR
10º período
Profa. Ms. Claudete de Souza

 A relação jurídica de consumo


 Elementos da relação jurídica de consumo
 Elementos subjetivos: fornecedor e consumidor
 Elementos objetivos: produtos e serviços

 Conceito de fornecedor
 Classificação
 Entes públicos e despersonalizados
 Fornecedor pessoa física – EXCEÇÃO

 Conceitos de consumidor
 TEORIAS: FINALISTA, MAXIMALISTA e FINALISTA APROFUNDADA
 Destinatário final – art. 2º, caput, CDC
 Fins de consumo e fins de produção
 Pessoa física e pessoa jurídica
 Presunção de vulnerabilidade e equidade contratual
 Consumidor “equiparado”- art. 17, CDC
 Conceito difuso de consumidor – art. 29, CDC
 A coletividade de pessoas
Relação jurídica
de consumo
 O CDC incide em toda relação que puder ser
caracterizada como de consumo.

 Haverá relação jurídica de consumo sempre que


se puder identificar os elementos:

 Elementos subjetivos:

 Fornecedor

 Consumidor

 Elementos objetivos:

 Produto

 Serviço
Elementos subjetivos
da relação de consumo
(conceito no art. 3°, caput, Lei 8078/90)

 Fornecedor de produtos, ou

 Prestador de serviços

 Pessoa natural/física

 Pessoa jurídica de direito privado ou público

 Ente despersonalizado/despersonificado

 Atividade lucrativa ou não

 Sociedade de caráter beneficente/filantrópico


 (STJ – Resp 519.310/SP – 3a. Turma – Rel. Min. Nancy Andrighi – j.
20.04.2004)
Quem é o fornecedor?

 Alguém que após anos de uso de um carro, resolve vendê-lo,


anunciando na internet?

 Um sujeito que tem dezenas de carros em seu nome e


habitualmente os vende/troca?

 A universitária que fabrica bombons na Páscoa para obter uma


renda extra?

 O camelô da Praça da Sé?

 O intermediário que compra toda a produção do horticultor e


revende no CEASA?
 Fornecedor equiparado.
CONCEITO DE FORNECEDOR

 Art. 3º, “caput”, CDC


 “Toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividades de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de
serviços.”

 Pessoa física (qualquer um) que, a título singular,


desempenhando atividade mercantil ou civil, de forma
habitual, ofereça no mercado produtos ou serviços.

 Pessoa jurídica, da mesma forma, em associação


mercantil ou civil.
…Fornecedor

 Fornecedor é gênero que engloba várias espécies, ou seja,


todo aquele que atua na cadeia produtiva, além daquele que
comercia:

 Fabricante é aquele que fabrica ou monta produtos


industrializados,

 Produtor: produz produtos não industrializados, de origem


animal ou vegetal,

 Construtor: produtos imobiliários – edificações e

 Importador: importa produtos de países exportadores.


CLASSIFICAÇÃO DE FORNECEDOR

 A) Real – é o fabricante, produtor e construtor;

 B) Presumido – é o importador, o intermediário e o fornecedor


dos produtos “in natura”:

§ 5° do art. 18 CDC. No caso de fornecimento de produtos in


natura, será responsável perante o consumidor o fornecedor
imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor.

 In natura é considerado aquele produto que não passa por


processo de industrialização;

 Vai do sítio/fazenda/local de pesca/produção agrícola ou


agropecuária/hortas/pomares/pastos/granjas…, diretamente ao
mercado consumidor.
 Cereais, grãos, vegetais em geral, verduras, carnes, peixes…

 C) Aparente – é aquele que apõe seu nome ou marca no produto


final;
Poder público é fornecedor?
Arts. 3º e 22, CDC

 Poder Público será fornecedor de serviço toda vez que,


por si ou por seus concessionários, atuar no mercado de
consumo, prestando serviço mediante a cobrança de
preço.

 A obrigação de pagar contas de luz, água ou telefone não é


tributária, pois trata-se de serviços prestados sob regime de
direito privado, por meio de tarifas.

 Art. 6º, X = Poder público é obrigado a prestar serviços


adequados e eficazes ao consumidor.
FORNECEDOR PESSOA FÍSICA

 Pessoa física que comercializa produtos em caráter atípico: venda de


produtos sem ter-se estabelecido como pessoa jurídica:
 Estudante que vende pão de mel
 Cidadão que compra e vende automóveis para aferir lucro
 Eletricista, encanador…

 EXCEÇÃO:
 Profissional liberal prestador de serviço: médicos,
advogados...
 Responde por culpa = responsabilidade subjetiva

 Art. 14, § 4º CDC. “A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais


será apurada mediante a verificação de culpa”.

 Abre importante exceção ao sistema de responsabilidade objetiva,


na relação de consumo dos fornecedores de serviço, ao determinar a
verificação da culpa, no caso dos profissionais liberais.
...cont. ARTIGO 14, § 4º CDC

 Classe de prestadores de serviços é diferenciada,


pois exerce atividade de meio e não de resultado.

 Não pode garantir o sucesso do serviço prestado;

 Responde pela responsabilidade subjetiva;

 Entre o consumidor (Cliente) e seu Advogado há


relação de consumo.
 A justiça competente para julgar eventuais danos causados
ao primeiro, é a Justiça Ordinária, como em qualquer outro
tipo de contrato.
...cont. ARTIGO 14, § 4º CDC

 O médico profissional liberal que trata um paciente/consumidor


é fornecedor e terá responsabilidade subjetiva por eventuais
danos, desde que se prove o elemento subjetivo consistente em
culpa ou dolo.
 Para responsabilizar o médico, o paciente deve comprovar sua
negligência, imprudência ou imperícia.

 Porém, se um médico opera uma paciente apenas com


finalidade estética certa e determinada, sua responsabilidade
será objetiva, conforme julgado do STJ:

 “Contratada a realização de cirurgia estética embelezadora, o


cirurgião assume obrigação de resultado (responsabilidade
contratual ou objetiva), devendo indenizar pelo não cumprimento
da mesma, decorrente de eventual deformidade ou de alguma
irregularidade”. (STJ, REsp 81101/PR, rel. Min. Waldemar Zveiter).
Jurisprudência

Processo:
APL 01541871920078260002 SP 0154187-19.2007.8.26.0002
Relator(a): Rosa Maria de Andrade Nery
Julgamento: 02/07/2014
Órgão Julgador:
11ª Câmara Extraordinária de Direito Privado
Publicação: 15/07/2014

 Mandato. Cobrança de honorários. Prestação de serviços


comprovada. A relação havida entre advogado e cliente
desafia o sistema de responsabilidade subjetiva do CDC. Não
reconhecimento de abusividade da cláusula que fixa o valor dos
honorários. Sentença mantida. Recurso não provido.
Processo: AC 20140262885 SC 2014.026288-5 (Acórdão)
Relator(a): Henry Petry Junior
Julgamento: 16/07/2014
Órgão Julgador: 5ª Câmara de Direito Civil Julgado

 APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL E PROCESSUAL CIVIL.


COMPENSAÇÃO POR DANOS MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS. MÁ
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS HOSPITALARES E ERRO MÉDICO. - IMPROCEDÊNCIA
NA ORIGEM. (1) "MÉDICO. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA. HOSPITAL.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. INTELIGÊNCIA DO ART. 14 DO CDC.

 - Incidem os rigores do Código de Defesa do Consumidor às relações, tidas por


contratuais, entre médico e paciente. A responsabilidade do profissional, todavia,
é apurada mediante a verificação de culpa, exceção à regra da responsabilidade
objetiva. Por seu turno, a responsabilidade do hospital, eventualmente
reconhecida a ilicitude do ato praticado por médico atuante em seu corpo clínico,
é objetiva, na perspectiva do art. 14, caput, do Código de Defesa do Consumidor,
incumbindo-lhe o ressarcimento." (TJSC, Apelação Cível n. 2010.068117-9, de
Itapema, rel. Des. Henry Petry Junior, j. 04-07-2013). (2) PACIENTE COM DORES E
FEBRE. DIAGNÓSTICO INICIAL DE PEQUENA INFECÇÃO. EVOLUÇÃO PARA
SÍNDROME DE FOURNIER. ATENDIMENTOS E PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS
REALIZADOS ADEQUADAMENTE. NEXO CAUSAL AFASTADO.

 - Não há reconhecer ato ilícito do médico e do hospital que prestam o atendimento


correto, prescrevendo as medicações e procedimentos adequados frente ao
diagnóstico obtido, sobretudo quando as provas pericial e oral são firmes em
apontar para a não ocorrência de omissão, negligência ou mesmo imperícia
médica - hipóteses em que se fundam os pedidos da inicial. SENTENÇA MANTIDA.
RECURSO DESPROVIDO.
 Súmula 469, STJ: Aplica-se o CDC aos contratos de
plano de saúde.

 Súmula 285, STJ: Nos contratos bancários posteriores


ao Código de Defesa do Consumidor, incide a multa
moratória nele prevista.

 Súmula 297, STJ: O CDC é aplicável às instituições


financeiras.

 Súmula 302, STJ: É abusiva a cláusula contratual de


plano de saúde que limita no tempo a internação
hospitalar do segurado.
ENTES
DESPERSONALIZADOS,
são fornecedores?

 A) Massa falida:
 Pode haver produtos ou resultados dos serviços que ela
ofereceu, que continuarão sob a proteção da lei consumerista.

 Quando a quebra da pessoa jurídica dá-se com a continuidade


das atividades, não há solução de continuidade do fornecimento
de produtos e serviços.

 A falência de um fabricante de TV`s não pode eliminar a garantia do


funcionamento dos aparelhos: garantia contratual ou legal (arts. 26 a 50,
CDC).

 B) Camelô = “pessoa jurídica de fato”


 Tem “sede” de atendimento, horário de funcionamento, até
mesmo empregados…

 C) Espólio do fornecedor pessoa física (comerciante individual).


Rol de “atividades” que classificam o
fornecedor é exemplificativo

 Art. 3º, “caput”


 “Atividade é toda e qualquer ação humana com objetivo
determinado”.

 O termo “atividades” abrange :


 = atividades típicas e atípicas, rotineiras ou eventuais

 O comerciante regularmente estabelecido exerce atividade típica


descrita em seu estatuto.

 Uma estudante exerce atividade atípica ou eventual, quando pratica


atos do comércio/indústria, para pagar seus estudos, respondendo por
indenização perante ao fato do produto (arts. 12 e 13, CDC):
 Revende lingerie ou trufas entre seus colegas

 Ainda que a atividade ocorrer apenas em épocas específicas: Natal,


Páscoa…
Elementos subjetivos
da relação de consumo
4 conceitos de consumidor:

 Art. 2º, caput

 Art. 2º, parágrafo único

 Art. 17

 Art. 29
 Art. 2º, caput
 “Consumidor é toda a pessoa física ou jurídica que adquire ou
utiliza produto ou serviço como destinatário final”.

Parágrafo único
“Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda
que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de
consumo”.

 Art. 17, CDC (Da responsabilidade p/fato produto/serviço)


 “Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores
todas as vítimas do evento”.

 Art. 29, CDC (Práticas comerciais)


 “Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos
consumidores todas as pessoas determináveis ou não,
expostas às práticas nele previstas”.
ART. 2º, CAPUT
“Destinatário final”

 Esta definição aponta o consumidor real, que adquire


concretamente um produto/serviço.

 Nessa definição é considerado apenas o caráter econômico,


ou seja, alguém que adquire bens ou contrata serviços
para atender uma necessidade própria e não para o
desenvolvimento de uma outra atividade negocial.

 Quem retira o bem/serviço do mercado, para consumir.

 Consumidor:
 a) pessoa física;

 b) pessoa jurídica;

 c) coletividade de pessoas
 Os finalistas interpretam a expressão “destinatário
final” do art. 2º de maneira restrita, como exigem os
princípios básicos do CDC (arts. 4º e 6º).

 Destinatário final é o destinatário fático e


econômico do bem/serviço, seja ele pessoa jurídica
ou física.
 Não basta ser destinatário fático do produto, retirá-lo da
cadeia de produção, levá-lo para o escritório ou residência. É
necessário ser destinatário final econômico do bem, não
adquiri-lo para revenda ou uso profissional , pois o bem seria
novamente um instrumento de produção cujo preço será
inclído no preço final do profissional que o adquiriu.
Consumidor como destinatário final…

 Requisitos da destinação final:

 1) Destinação final fática:


 O consumidor e o último da cadeia de consumo, ou
seja, depois dele não há ninguém na transmissão do
produto ou do serviço.

 2) Destinação final econômica:


 O consumidor não utiliza o produto ou o serviço para
obter lucro, repasse ou transmissão onerosa.
Ementas do STJ
 “Não caracterização de relação de consumo – Teoria Finalista –
Consumidor como destinatário final – Relação entre empresa de
transporte de pessoas ou cargas e concessionária de rodovia”. (Resp
1.196.541-RJ, j.03/03/2011, rel.Min.Paulo de Tarso Sanseverino);

 “O condomínio utiliza a água fornecida para consumo das pessoas que


nele residem, e não como produto de comercialização. Nesse sentido, é
destinatário final da água, está inserido o conceito de consumidor
submetido à relação de consumo, devendo, portanto ser observados os
ditames do CDC”. (REsp 1.023.862, rel.Min.Humberto Martins, Dje
22/04/2009);

 “A relação jurídica entre clínica de oncologia que compra equipamento


para prestar serviços de tratamento ao câncer, e representante comercial
que vende esses mesmos equipamentos, não é de consumo, dada a
adoção da teoria finalista acerca da definição das relações de consumo.”
(Resp 541.867/BA, Rel.Min.Barros Monteiro, DJ 16/05/2005).

 “A jurisprudência desta Corte Superior se encontra consolidada no


sentido de que a determinação da qualidade de consumidor deve, em
regra, ser feita mediante aplicação da teoria finalista, que, numa exegese
restritiva do art. 2º, CDC, considera destinatário final tão somente o
destinatário fático e econômico do bem/serviço, seja ele pessoa física ou
jurídica”. (Resp 1.195.642/RJ, j.13/11/2012, rel.Min.Nancy Adrighi).
 CDC é um regulamento para o mercado de consumo
brasileiro e não apenas para proteger o consumidor não
profissional.

 Não importa se a pessoa física ou jurídica tem ou não fim de


lucro, quando adquire um produto ou utiliza um serviço.

 Segundo esta teoria, a pergunta da vulnerabilidade in


concreto não seria importante, pois diante de métodos
contratuais massificados (contrato de adesão), todo e
qualquer co-contratante seria considerado vulnerável.

 Destinatário final é o destinatário fático do produto; aquele


que retira do mercado e o utiliza, o consome.
 A teoria maximalista retira do CC quase todos
os contratos comerciais, uma vez que
comerciantes e profissionais consomem de
forma intermediária insumos para a sua
atividade-fim, de produção e distribuição.

 Contrato de Franquia, na relação entre franqueador e


franqueado;

 Fábrica de toalhas que compra algodão para reutilizar;

 Estado que adquire canetas para uso nas repartições;

 Dona de casa que adquire produtos alimentícios para


a família.
 Criação da doutrinadora Claudia Lima Marques;

 Tempera a teoria maximalista, com a Finalista.

 Em casos difíceis envolvendo pequenas empresas que utilizam


insumos para a sua produçao, mas não em sua área de
expertise;
 Principalmente na área de serviços, se provada a vulnerabilidade.

 STJ tem utilizado equiparação do art. 29, CDC:


 Hotel que compra gás;
 Taxista ou caminhoneiro que compra veículo em concessionária.
JULGADO STJ
 “A jurisprudência do STJ adota o conceito subjetivo ou finalista
de consumidor, restrito à pessoa física ou jurídica que adquire o
produto no mercado a fim de consumi-lo. Contudo, a teoria
finalista pode ser abrandada a ponto de autorizar a aplicação
das regras do CDC para resguardar, como consumidores (art.
2°, CDC), determinados profissionais (microempresas e
empresários individuais) que adquirem o bem para usá-lo no
exercício de sua profissão. Para tanto, há que demonstrar sua
vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica. No caso,
cuida-se do contrato para a aquisição de uma máquina de
bordar entabulado entre a empresa fabricante e a pessoa física
que utiliza o bem para sua sobrevivência e de sua família, o que
demonstra sua vulnerabilidade econômica. Destarte, correta a
aplicação das regras de proteção do consumidor, a impor a
nulidade de cláusula de eleição que dificulta o livre acesso do
hipossuficiente ao Judiciário. Precedentes citados: Resp
541.867-BA, DJ 16.05.2005; Resp 1.080.719-MG, Dje
17.08.2009; Resp 669.990-CE, DJ 11.09.2006”. (STJ – Resp 1.101.834-
GO – Rel. Min. Nancy Andrigh – j. 03.08.2010).
PESSOA JURÍDICA
é consumidor?

 Em REGRA, pessoa jurídica não é considerada destinatária final:


 Pessoa jurídica não come, não bebe, não viaja, não vai ao cinema…

 Porém o art. 3º expressamente classifica como consumidor, também


a pessoa jurídica.

 Para a Teoria Maximalista, a interpretação é extensiva e entende


como consumidor TODA PESSOA JURÍDICA, ainda que
fornecedora de bens/serviços.

 CRÍTICA À TEORIA MAXIMALISTA :


 aplicar o CDC sem qualquer distinção, às pessoas jurídicas,
descaracterizaria a proteção especial dada ao vulnerável.
…cont… pessoa jurídica…

 A Teoria Finalista entende que deve haver uma avaliação no caso


concreto:

A) Se o consumidor-fornecedor adquiriu bem de capital ou não.


Ex.: Aquisição de alimentos para fornecimento aos operários de uma fábrica.
Havendo deterioração ou contaminação dos alimentos em prejuízo da empresa
adquirente, esse fato a transforma em consumidor.

B) Se contratou serviço para satisfazer uma necessidade que lhe é


imposta por lei ou natureza de seu negócio, principalmente por órgãos
públicos.
Ex.: Empresa contrata prestação de serviços de educação (creche), para os
filhos de seus operários. Se esse serviço foi prestado de forma insuficiente ou
em desacordo com o que contratou, a discussão será regida pelo CDC.

C) A vulnerabilidade também deve ser analisada no caso concreto, pois há


pessoas jurídicas que são equiparáveis à pessoa física, quando se analisa sua
fragilidade.

DIFERENTEMENTE:
não pode ser considerado consumidora a empresa que adquire máquinas
para a fabricação de seus produtos ou uma copiadora para seu escritório,
que venham a apresentar vícios.
Esses bens entram na cadeia produtiva e nada têm a ver com o conceito
de destinação final.
Vulnerabilidade +
destinatário final
= consumidor (p.física ou jurídica)

 Além de ocorrer a destinação final, para ser


considerada como consumidor a pessoa jurídica
deverá estar em situação de vulnerabilidade:

 Vulnerabilidade não se confunde com privação de


recursos financeiros.
 Vulnerabilidade é a impossibilidade de alguém deter
conhecimento suficientemente amplo em todos os setores
produtivos, a ponto de privá-la por completo de uma decisão
livre, no ato de consumo.

 Hipossuficiência corresponde a potencialidade de uma


das espécies de vulnerabilidade.
Presunção de vulnerabilidade e
equidade contratual

 Poderá haver desequilíbrio em um contrato firmado entre duas


pessoas jurídicas (ou um profissional)?
 Como regra geral, não.

 Mas, algumas vezes, o profissional também pode ser “vulnerável”,


ou ser “o mais fraco” para se proteger do desequilíbrio contratual
imposto.

 Pequeno comerciante, dono de bar ou mercearia de bairro:

 Que não pode impor suas condições contratuais para um grande fornecedor
de bebidas (Coca cola), ou

 Que não compreende perfeitamente bem as remissões feitas a leis no texto


do contrato.
Limitação da responsabilidade da
PESSOA JURÍDICA

 Art. 51, I do CDC, c/c art. 25, CDC


 Para o fornecedor exercer a prerrogativa de negociar a
inserção de cláusula contratual limitadora de seu dever de
indenizar é necessário que estejam presentes as duas
situações previstas abaixo, simultaneamente:
 1) que o tipo de operação de venda e compra seja especial,
fora do padrão regular de consumo.
 2) que o consumidor-pessoa jurídica tenha porte razoável
(corpo jurídico próprio ou consultor jurídico que negocie em
nome dela a cláusula contratual limitadora).
 Fica atribuída ao juiz a tarefa de dizer quando é que a situação é
justificável, para que se dê eficácia à cláusula limitadora, já que
“situações justificáveis” é um conceito jurídico indeterminado.
 Uma indústria que vende um computador de médio para grande porte a
consumidor-pessoa jurídica pode ser que razoavelmente se estabeleça
a limitação da responsabilidade civil do fornecedor.
Parágrafo único do art. 2°, CDC =
“consumidores equiparados”

 Muitas pessoas podem ser atingidas pelas atividades dos


fornecedores, ainda que não tenham participado da
relação de consumo.

 Se várias pessoas que participaram de uma festa sofrem danos


por ingestão de alimento (intoxicação alimentar), todas serão
equiparadas a consumidor e não apenas aquele que contratou
o serviço de Buffet, valendo-se das normas protetivas do CDC.

 Esse conjunto de pessoas, indeterminável ou


determinável, têm necessidade de proteção por eventuais
prejuízos sofridos por dada relação de consumo.
ART. 17
Seção II – Da responsabilidade pelo fato do
produto e do serviço

= “consumidor equiparado”

 Equipara a consumidores a coletividade de pessoas que, ainda


que não possa ser identificada, tenha, de alguma forma, participado
da relação de consumo.
 Responsabiliza civilmente o fornecedor, pelo fato do produto/serviço, ainda que a
vítima do acidente de consumo não tenha feito parte do negócio.

 Essa regra dá legitimidade para:


 propositura de ações coletivas para defesa dos direitos difusos e coletivos
(arts. 81 a 107),

 Aplica-se a tutela coletiva em casos de ameaça aos direitos dos


consumidores:
 colocação no mercado de produtos ou serviços que exponham a perigo a saúde
dos consumidores (exigida a retirada de remédios do mercado de consumo);

 proibição da realização de show em lugar de risco.


...cont. ARTIGO 17, CDC

 O artigo 17, CDC exige a ocorrência de dano patrimonial ou moral


decorrente do acidente de consumo (evento danoso decorrente da relação
de consumo):
 Na queda de um avião, todos os passageiros (consumidores do serviço)
são atingidos pelo evento danoso (acidente de consumo), originado no fato
do serviço da prestação de transporte aéreo, bem cmo a tripulação, ligada
ao fornecedor por relações trabalhistas.
 Se a queda ocorre em área residencial, atingindo a integridade física ou o
patrimônio de outras pessoas (que não participaram da relação de
consumo):
 todas são equiparadas ao consumidor direto
 recebendo as garantias legais.

 Sem aplicação da equiparação prevista no art. 17, CDC, teríamos 3 bases


jurídicas para o dever de indenizar os danos:

 1) pelo CDC, aos destinatários finais do serviço de transporte aéreo;

 2) pelas normas de cunho laboral, aos empregados da companhia


aérea;

 3) às demais vítimas que deveriam se socorrer das normas do Código


Civil para a reparação de seus danos.
...cont. ARTIGO 17, CDC

 Art. 17, CDC, equipara a consumidor qualquer pessoa que


seja vítima do acidente de consumo, ainda que não tenha
sido consumidora direta, mas foi atingida pelo evento
danoso.

 1) Carro que capota por defeito nos freios e atinge um pedestre na


calçada.

 Esse pedestre será enquadrado como consumidor.

 2) Explosão em praça de alimentação do Shopping. Todos os


prejudicados pela explosão terão seus direitos protegidos à luz do
CDC, por serem considerados consumidores por equiparação.
Jurisprudência

 CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ACIDENTE AÉREO.


TRANSPORTE DE MALOTES. RELAÇÃO DE CONSUMO.
CARACTERIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE PELO FATO DO
SERVIÇO. VÍTIMA DO EVENTO. EQUIPARAÇÃO A
CONSUMIDOR. ARTIGO 17 DO CDC. I - Resta caracterizada
relação de consumo se a aeronave que caiu sobre a casa das
vítimas realizava serviço de transporte de malotes para um
destinatário final, ainda que pessoa jurídica, uma vez que o artigo
2º do Código de Defesa do Consumidor não faz tal distinção,
definindo como consumidor, para os fins protetivos da lei, "... toda
pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço
como destinatário final". Abrandamento do rigor técnico do critério
finalista. II - Em decorrência, pela aplicação conjugada com o
artigo 17 do mesmo diploma legal, cabível, por equiparação, o
enquadramento do autor, atingido em terra, no conceito de
consumidor. Logo, em tese, admissível a inversão do ônus da prova
em seu favor . Recurso especial provido. (REsp 540235/TO).
ARTIGO 29, CDC
Das práticas comerciais

= conceito difuso de consumidor

 Equipara a consumidores o universo (abstrato) de pessoas


expostas às práticas comerciais previstas no CDC, já que
toda uma coletividade de pessoas está envolvida, mesmo que
em nenhum momento se possa identificar um único consumidor
real.

 O consumidor protegido pelo art. 29 é uma potencialidade.

 Nenhum consumidor precisa ter sido efetivamente lesado ou


identificado.

 Basta estar potencialmente exposto.


Jurisprudência – art. 29, CDC

 Direito do consumidor. Consumidor por equiparação. Em


uma relação contratual avençada com fornecedor de grande
porte, uma sociedade empresária de pequeno porte não
pode ser considerada vulnerável, de modo a ser equiparada
à figura de consumidor (art. 29, CDC), na hipótese em que o
fornecedor não tenha violado quaisquer dos dispositivos
previstos nos arts. 30 a 54 do CDC. De fato, o art. 29 dispõe
que, ‘Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-
se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou
não, expostas às práticas comerciais’, e faz menção,
também, ao Cap. VI, que trata da proteção contratual.
Assim, para o reconhecimento da situação de
vulnerabilidade, o que atrairia a incidência da equiparação
prevista no art. 29, é necessária a constatação de violação a
um dos dispositivos previstos nos arts. 30 a 54 do CDC.
Nesse contexto, caso não tenha se verificado práticas
abusivas na relação contratual examinada, a natural posição
de inferioridade do destinatário de bens ou serviços não
possibilita, por si só, o reconhecimento da vulnerabilidade.
(STJ, Resp. 567.192-SP, 4ª T., Rel.Min.Raul Araújo, julgado em 5/9/2013)
…art. 29 – Práticas comerciais

 Práticas produtivas
 Produtos e serviços têm duas fases:
 I - Processo de produção
 II - Processo de comercialização

 Práticas comerciais são todas as ações dos fornecedores


tendentes, direta ou indiretamente, à comercialização de
produtos e serviços no mercado de consumo.

 A comercialização é o conjunto de atividades através das quais os


produtos/serviços fluem do produtor para o consumidor final. São
elas:

 Marketing,
 garantias,
 serviços pós-venda,
 arquivos de consumo (art. 43), e
 cobranças de dívidas.
Não se aplica o CDC em…

1) Relações locatícias = Lei 8245/91

2) Relações trabalhistas = Decreto-lei nº 5.452/ 43


Atenção: NÃO CONFUNDIR...

 Direito do consumidor. Aplicabilidade do CDC aos contratos de


administração imobiliária. “É possível a aplicação do CDC à
relação entre proprietário de imóvel e a imobiliária contratada por
ele para administrar o bem. Isso porque o proprietário do imóvel
é, de fato, destinatário final fático e também econômico do serviço
prestado. Revela-se, ainda, a presunção da sua vulnerabilidade,
seja porque o contrato firmado é de adesão, seja porque é uma
atividade complexa e especializada ou, ainda, porque os mercados
se comportam de forma diferenciada e específica em cada lugar e
período. No cenário caracterizado pela presença da
administradora na atividade de locação imobiliária sobressaem
pelo menos duas relações jurídicas distintas: a de prestação de
serviços, estabelecida entre o proprietário de um ou mais imóveis
e a administradora; e a de locação propriamente dita, em que a
imobiliária atua como intermediária de um contrato de locação.
Nas duas situações, evidencia-se a destinação final econômica do
serviço prestado ao contratante, devendo a relação jurídica
estabelecida ser regida pelas disposições do diploma
consumerista”. (STJ, Resp 509.304-PR, 3ª T., Rel. Min. Villas Bôas Cueva,
julgado em 16.5.2013)

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