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27/07/2022

- DIÁLOGO DAS FONTES

Coexistência das normas consumeristas e as do Código Civil.

As normas gerais mais benéficas supervenientes preferem à norma especial.

- FONTES, CONCEITO, APLICAÇÃO E DISPOSIÇÕES GERAIS DO CDC

A proteção ao consumidor é abordada em diversos dispositivos constitucionais,


como:

Art. 1.º, III: garante a dignidade da pessoa humana – uma das facetas da
relação de consumo é o respeito da pessoa humana como consumidora;

Art. 3.º, I: sociedade justa;

Art. 5.º, XXXII: cláusula pétrea – defesa do consumidor na forma da lei;

Art. 170, V: ordem econômica deve respeitar o consumidor.

A defesa do consumidor, portanto, é direito fundamental (de terceira geração)


consubstanciada em cláusula pétrea.

O CDC é principiológico. Não defende as relações de consumo, mas o


consumidor.

Se se fala em defesa, é porque o Estado entende que o consumidor é fraco,


vulnerável.

As normas do CC não derrogam qualquer dos princípios do CDC.

O CDC é um microssistema dentro de um compartimento chamado Direito


Social. Por isso deve ser integrado aos demais sistemas do ordenamento
jurídico.

STJ no Recurso Repetitivo Especial nº 1.184.765/PA: “Com efeito,


consoante a Teoria do Diálogo das Fontes, as normas gerais mais
benéficas supervenientes preferem à norma especial (concebida para
conferir tratamento privilegiado a determinada categoria), a fim de
preservar a coerência do sistema normativo”.

Portanto, os direitos do consumidor NÃO são taxativos, tampouco excluem


outros direitos e princípios gerais, costumes e a equidade.

O CDC é Lei Ordinária, abaixo da CF. Outras normas ou leis, quando mais
benéficas que as do CDC, poderão ser aplicadas.

O CDC traz normas de ordem pública (norma se impõe – por isso juiz pode
apreciar matéria de ofício) e interesse social. Por isso a questão de apontar os
pontos controvertidos, arrolar testemunhas, enfim, fazer tudo aquilo que for
admitido no ordenamento jurídico, NÃO cabe no CDC. É de interesse social
porque não se pode dispor delas e sua intervenção é imperativa.

Neste sentido: (...) 2. A decisão da Corte estadual encontra-se em


harmonia com a jurisprudência da Segunda Seção do STJ, no sentido de
que, o foro de eleição contratual cede em favor do local do domicílio do
devedor, sempre que constatado ser prejudicial à defesa do consumidor,
podendo ser declarada de ofício a nulidade da cláusula de eleição pelo
julgador. Precedentes. (...). (AgInt no AREsp 1.337.742/ DF, Min. Luis
Felipe Salomão, DJe 08.04.2019).

Contudo, as cláusulas abusivas do contrário bancário não podem ser


apreciadas de ofício pelo juiz – Súmula 381 do STJ.

Vulnerabilidade é requisito para o conceito de consumidor.

A caracterização da condição de consumidor exige destinação final fática e


econômica do bem ou serviço.
VULNERABILIDADE - QUATRO TIPOS SEGUNDO CLÁUDIA LIMA
MARQUES:

VULNERABILIDADE TÉCNICA: o consumidor não possui conhecimentos


técnicos específicos sobre o produto ou o serviço que está adquirindo (essa
vulnerabilidade é presumida para o consumidor não profissional), e
eventualmente pode também atingir o consumidor profissional ou ainda, não
detém o poder de produzir ou controlar os meios de produção;

VULNERABILIDADE JURÍDICA OU CIENTÍFICA: o consumidor não possui


conhecimentos específicos de contabilidade, economia ou jurídicos (essa
vulnerabilidade também é presumida para o consumidor pessoa física e para o
consumidor não profissional) a ponto de compreender o alcance de seus
direitos e deveres especialmente quando se vincula a determinado contrato
massificado, de adesão;

VULNERABILIDADE FÁTICA OU ECONÔMICA: o que deverá ser analisado


aqui é o outro parceiro na relação de consumo, ou seja, se o fornecedor, por
sua posição de monopólio – fático ou jurídico - ou em razão da superioridade
econômica ou essencialidade do serviço, impõe tal superioridade sobre a outra
parte (consumidor). Essa vulnerabilidade é presumida apenas para o
consumidor não profissional, não havendo presunção para pessoa jurídica –
excepcionalmente, porém, quando comprovar sua vulnerabilidade, também se
aplicará ao consumidor profissional.

VULNERABILIDADE INFORMACIONAL: é evidente o déficit informacional dos


consumidores, lembrando, porém, que algumas vezes o excesso de
informações, para os leigos, contribui para seu completo desconhecimento
sobre o produto/serviço adquirido.

Em suma, o consumidor vulnerável é aquele que, inferiorizado tecnicamente,


economicamente, sem deter a informação suficiente, desconhece e não
controla a linha de produção do que consome e está exposto às práticas
abusivas do mercado.

DIFERENÇA ENTRE VULNERABILIADE E HIPOSSUFICÊNCIA

A vulnerabilidade é um traço universal de todos os consumidores, reconhecida


inclusive constitucionalmente, na medida em que o art. 5º inciso XXXII impõe
ao Estado promover, na forma da lei, a defesa dos consumidores.
Já a hipossuficiência é uma marca pessoal, limitada a alguns – até mesmo a
uma coletividade – mas nunca a todos os consumidores. Tem hipossuficiência
aquele que numa determinada situação ou relação jurídica reúne condições
econômicas, técnicas, culturais ou probatórias desfavoráveis.

Na vulnerabilidade temos um critério material – o consumidor é o elo mais fraco


na relação oriunda do direito material; ele é presumivelmente exposto a dano
ou a riscos, ao passo que na hipossuficiência o critério é instrumental, ou seja,
o juiz analisa a capacidade de realizar a prova necessária à defesa de seus
direitos (aqui cabe a determinação da inversão do ônus da prova).

Esquematizando:

O consumidor é sempre vulnerável (vulnerabilidade é presumida em qualquer


circunstância), mas nem sempre hipossuficiente (essa é preponderantemente
técnica; decorre da impossibilidade de realizar determinada prova). Os arts. 4.º
e 6.º completam o art. 2.º em uma interpretação sistemática, visto que se leva
em conta todo o sistema do Código de Defesa do Consumidor.

ATENÇÃO!

- Súmula 563-STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às


entidades abertas de previdência complementar (exe.: seguradoras), NÃO
incidindo nos contratos previdenciários celebrados com entidades fechadas
(ex.: Gerdau previdência).
- Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor - CDC ao contrato de
transporte de mercadorias vinculado a contrato de compra e venda de insumos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1442674-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
julgado em 7/3/2017 (Info 600).

- Súmula 602-STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável aos


empreendimentos habitacionais promovidos pelas sociedades cooperativas.

- É possível aplicar o CDC ao adquirente de unidade imobiliária, mesmo não


sendo o destinatário final do bem e apenas possuindo o intuito de investir ou
auferir lucro, com base na teoria finalista mitigada se tiver agido de boa-fé e
não detiver conhecimentos de mercado imobiliário nem expertise em
incorporação, construção e venda de imóveis, sendo evidente a sua
vulnerabilidade. Em outras palavras, o CDC poderá ser utilizado para amparar
concretamente o investidor ocasional (figura do consumidor investidor) STJ. 4ª
Turma. AgInt no AREsp 1786252/RJ, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado
em 17/05/2021.

- Súmula 608-STJ: Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos


de plano de saúde, salvo os administrados por entidades de autogestão.

- Em caso de cobrança judicial indevida, é possível aplicar a sanção prevista no


art. 940 do Código Civil mesmo sendo uma relação de consumo. O art. 940 do
CC e o art. 42 do CDC incidem em hipóteses diferentes, tutelando, cada um
deles, uma situação específica envolvendo a cobrança de dívidas pelos
credores. Mesmo diante de uma relação de consumo, se inexistentes os
pressupostos de aplicação do art. 42, parágrafo único, do CDC, deve ser
aplicado o sistema geral do Código Civil, no que couber. O art. 940 do CC é
norma complementar ao art. 42, parágrafo único, do CDC e, no caso, sua
aplicação está alinhada ao cumprimento do mandamento constitucional de
proteção do consumidor. STJ. 3ª Turma. REsp 1645589-MS, Rel. Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva, julgado em 04/02/2020 (Info 664).

- Contrato de conta corrente mantida entre corretora de Bitcoin e instituição


financeira: não se aplica o CDC A empresa corretora de Bitcoin que celebra
contrato de conta-corrente com o banco para o exercício de suas atividades
não pode ser considerada consumidora. Não se trata de uma relação de
consumo. STJ. 3ª Turma. REsp 1696214-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 09/10/2018 (Info 636).

- O art. 39, IX, do CDC é inaplicável às instituições financeiras quando do


encerramento unilateral de conta bancária, afastando-se a obrigatoriedade de
manutenção do contrato de conta corrente. Isto porque, o encerramento do
contrato de conta corrente consiste em um direito subjetivo exercitável por
qualquer das partes contratantes, desde que observada a prévia e regular
notificação. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1473795/RJ, Rel. Min. Antonio
Carlos Ferreira, julgado em 29/06/2020.

- Na atividade de aquisição de ações não é possível identificar nenhuma


prestação de serviço por parte da instituição financeira, havendo sim uma
relação de cunho puramente societário e empresarial. Situação diferente
ocorreria se a ação envolvesse o serviço de corretagem de valores e título
mobiliários. STJ. 3ª Turma. REsp 1685098-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel.
Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/03/2020 (Info 671).

- Não se aplica o CDC aos contratos administrativos, tendo em vista que a


Administração Pública já goza de outras prerrogativas asseguradas pela lei. A
fiança bancária, quando contratada no âmbito de um contrato administrativo,
também sofre incidência do regime publicístico, uma vez a contratação dessa
garantia não decorre da liberdade de contratar, mas da posição de supremacia
que a lei confere à Administração Pública nos contratos administrativos. Pode-
se concluir, portanto, que a fiança bancária acessória a um contrato
administrativo também não representa uma relação de consumo. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.745.415-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
14/05/2019 (Info 649).

10/08/2022

PRINCÍPIOS

Princípio da boa-fé objetiva

O princípio da boa-fé abrange tanto a boa-fé subjetiva quanto a boa-fé objetiva.


A boa-fé subjetiva é um dado interno, que está na consciência do sujeito, que o
leva a acreditar (crença) na legitimidade da sua conduta. A pessoa é levada a
crer que está sendo fiel ao ordenamento jurídico.

Já a boa-fé objetiva é um fator externo ao sujeito; lealdade na relação,


paradigma com o qual será avaliado o comportamento da parte. A boa-fé
objetiva estabelece um dever de agir de acordo com padrões socialmente
recomendados.

Trata-se de uma cláusula geral, expressão do princípio de lealdade, que o juiz


utilizará para verificar, nas circunstâncias daquele caso, qual a conduta que
satisfaria essa exigência de lealdade (quanto a cuidado, informação, proteção,
cumprimento da prestação, etc.). Assim criada pelo juiz a regra de conduta,
será feita a verificação entre a conduta devida, segundo a boa-fé, e a conduta
efetiva, concluindo-se pela ilicitude da que dela destoa”. Conclui, assim, que
“Enquanto a boa-fé subjetiva é um fato (intelectivo, ou volitivo, como querem
alguns), a boa-fé objetiva é um critério de comportamento, é elemento
normativo, instrumental. Pode ser dito: agir em boa-fé (boa-fé subjetiva) e agir
segundo a boa-fé (boa-fé objetiva)”. (Proteção da Boa-Fé Subjetiva, Revista da
AJURIS, v. 9, n. 126, junho 2012).

Adotado expressamente pela primeira vez no Código Civil alemão –


Bürgerliches Gesetzbuch (BGB); reconhecido com os tratados que versam
sobre comércio internacional, como a Convenção de Viena.

O Código de Defesa do Consumidor que foi a primeira norma a dispor


expressamente sobre a boa-fé objetiva e aplicá-la no campo dos deveres de
conduta entre fornecedores e consumidores, conforme se pode perceber com a
simples leitura de seu art. 4.º, III: “(...) harmonização dos interesses dos
participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do
consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico,
de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art.
170, da CF), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre
consumidores e fornecedores”.

O CC de 2002 dispõe no art. 422: “Os contratantes são obrigados a guardar,


tanto na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de
probidade e boa-fé”.
Logo, a presunção de “má-fé” do consumidor é errônea, pois a expectativa
é a do adimplemento pontual da sua prestação. Outrossim, segundo Rizzato
Nunes, a boa-fé objetiva enquanto princípio, será “uma espécie de precondição
abstrata de uma relação ideal, disposta como um tipo ao qual o caso concreto
deve se amoldar”.

Funções do princípio da boa-fé objetiva

Em suma, a boa-fé objetiva deverá estar presente em todas as relações


consumeristas e poderá desempenhar as seguintes funções:

- Função integrativa: revela-nos que a conduta ética deverá ser


empregada antes, durante e depois da celebração do contrato (está
também presente no art. 422 do CC);

- Função interpretativa: o juiz deve interpretar a relação jurídica de


consumo sempre partindo do pressuposto que as partes devam manter
entre si uma conduta ética de confiança, honestidade e lealdade até o
término da execução do que foi avençado (essa função está expressa no
art. 113 do CC) – com isto, não se pode permitir que uma determinada
cláusula seja interpretada no sentido de que se prejudique alguém sem
uma justa causa;

Sobre o tema nos ensina a professora Maria Helena Diniz (DINIZ, 2009,
p. 152 e 153):

O princípio da boa-fé objetiva está intimamente ligado não só à


interpretação do negócio jurídico, pois, segundo ele, o sentido literal
da linguagem não deverá prevalecer sobre a intenção inferida da
declaração de vontade das partes, mas também ao interesse social
da segurança das relações jurídicas, uma vez que as partes devem
agir com lealdade, retidão e probidade, durante as negociações
preliminares, a formação, execução e extinção do ato negocial, e
também de conformidade com os usos do local (por exemplo, no que
atina à medida conhecida por alqueire, que varia com a localidade)
em que o ato negocial foi para eles celebrado.
- Função de controle: visa limitar o exercício dos direitos subjetivos, para
se evitar que haja condutas abusivas (ex.: art. 51, IV, do CDC, por
exemplo).

Princípio da transparência

O princípio da transparência (art. 4.º, caput, do CDC), será muito importante na


relação contratual, principalmente na fase das propostas (pré-contratual) onde
o fornecedor usa diversos artifícios para tentar convencer o consumidor a
adquirir o produto ou serviço.

Informa-nos, tal princípio, que o fornecedor deve ser o mais claro e cristalino
possível nas informações e descrições do produto ou serviço que irá prestar.
Ademais, o consumidor tem o direito de conhecer os produtos e serviços que
irá adquirir, bem como sobre o conteúdo do contrato em que irá se obrigar,
restando apenas por consignar que o princípio da transparência será
complementado pelo princípio do dever de informar.

Princípio da confiança

Está intimamente relacionado ao princípio da boa-fé e da transparência, e


muito embora não esteja expressamente previsto no Código de Defesa do
Consumidor, revela-nos que nas relações de consumo deve haver entre as
partes a confiança, a credibilidade, acerca do produto ou do serviço que foi
adquirido, bem como, de que o que foi avençado será mantido até a obtenção
dos fins almejados (ex.: compra de bem financiado com a certeza de que as
bases do contrato não serão alteradas durante seu cumprimento).

Princípio da proteção

O Código de Defesa do Consumidor tem caráter protecionista já expresso logo


em seu art. 1.º. Essa proteção é mais do que necessária ao consumidor,
quando este venha a adquirir produtos ou serviços. Para tanto, deverá o
Estado, diretamente por meio de seus órgãos e pela tomada de ações
governamentais, ou indiretamente pelo fomento à criação das associações de
defesa do consumidor, criar mecanismos e atividades para a defesa destes.
Essa proteção deverá ser tanto de caráter moral, como material, garantindo-se,
desta feita, que haja uma melhoria na qualidade de vida destes, com a
consequente obtenção de um maior conforto material devido à aquisição dos
produtos e serviços essenciais, ou não, como também ocorra uma melhora no
que concerne ao desfrute de prazeres ligados ao lazer, ao bem-estar moral e
psicológico.

Princípio da harmonia

Presente no caput do art. 4.º do CDC, esse princípio é oriundo dos princípios
constitucionais da isonomia, solidariedade, e da atividade econômica. A
harmonia nas relações de consumo se revelará pela adoção da boa-fé objetiva
e pelo tratamento equitativo que deve ser dispensado às partes na relação
contratual, consoante demonstra, por exemplo, o art. 51, § 1.º, III, do CDC,
bem como o inc. IV, desse mesmo artigo.

Princípio da vulnerabilidade do consumidor

O art. 5.º, XXXII, da CF/1988 traz como um dos direitos e garantias


fundamentais a defesa do consumidor.

A Constituição Federal reconhece o consumidor como vulnerável, um ente que


necessita de proteção. Desta feita, evidencia-se que esse princípio visa
obtenção da isonomia, pois reconhece o consumidor como a parte mais fraca
na relação jurídica consumerista. A vulnerabilidade tem caráter material e pode
ser de ordem técnica, jurídica ou científica, fática ou econômica e
informacional, consoante foi anteriormente exposto.

Princípio geral da atividade econômica

A defesa do consumidor é um dos princípios gerais da atividade econômica e


está prevista no art. 170, V, da CF/1988.
A liberdade de mercado não permite abusos aos direitos dos consumidores.

Neste sentido: Em face da atual Constituição, para conciliar o fundamento da


livre iniciativa e do princípio da livre concorrência com os da defesa do
consumidor e da redução das desigualdades sociais, em conformidade com os
ditames da justiça social, pode o Estado, por via legislativa, regular a política de
preços de bens e de serviços, abusivo que é o poder econômico que visa ao
aumento arbitrário dos lucros. (ADI 319-QO, rel. Min. Moreira Alves, j.
03.03.1993, Plenário, DJ 30.04.1993).

Princípios da ordem econômica

- Princípio da soberania nacional: a soberania nacional não pode nem jamais


poderá ser afetada em razão da atividade econômica;

- Princípio do direito de propriedade: o direito de propriedade está


resguardado pela Constituição;

- Princípio da função social da propriedade: a atividade econômica deve ter


uma função social;

- Princípio da livre concorrência: livre concorrência significa a


autorregulamentação do mercado, isto é, em regra a Administração não
poderá criar regras para discriminar ou favorecer gratuitamente quem exerce
uma atividade econômica.

Diz-se, em regra, porque a Administração poderá realizar a discriminação


para atender o interesse público com base na:

- Isonomia (real): fator de discriminação x objetivo a ser atingido. Se o fator de


discriminação for estranho ao objetivo a ser atingido, haverá uma
inconstitucionalidade. Deve atender ao interesse público;
- Razoabilidade: a Lei 9.784/1999 (procedimentos administrativos federais)
explica a razoabilidade (art. 2.º, parágrafo único): é a adequação entre meios e
fins. Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre
outros, os critérios de: VI. Adequação entre meios e fins, vedada a imposição
de obrigações, restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente
necessárias ao atendimento do interesse público;

- Impessoalidade: o Poder Público deve ser neutro em relação aos


administrados; o Direito Administrativo nos ensina que o Poder Público poderá
competir com o particular na exploração da atividade econômica característica
da iniciativa privada, mas vale lembrar que não há que se falar em ter
privilégios que a iniciativa privada não disponha;

- Princípio da defesa do consumidor: qualquer atividade econômica que seja


desenvolvida em prejuízo ao consumidor é inconstitucional. (art. 5.º, XXXII);

- Princípio da defesa do meio ambiente: qualquer atividade econômica deve


respeitar os princípios e ditames legais e constitucionais para preservar o meio
ambiente, considerado direito fundamental;

- Princípio do favorecimento às empresas de pequeno porte (IX): não há


antinomia com o princípio da livre concorrência, ao contrário, os privilégios
concedidos às empresas de pequeno porte visam fortalecer o princípio da livre
concorrência, evitando dominação de mercados. Ex.: simples nacional.

Princípio da informação

Esse princípio nos revela que o fornecedor tem que prestar as informações
necessárias sobre os riscos à saúde e segurança dos consumidores que
adquirem seus produtos ou serviços (arts. 6º II e III, 8.º, 9.º e 10 do CDC).

O direito à informação foi abordado diretamente pelo art. 5.º, XIV, da CF/1988,
traduzindo-se em uma das formas de expressão concreta do Princípio da
Transparência, sendo também corolário do Princípio da Boa-fé Objetiva e do
Princípio da Confiança.
No âmbito do direito administrativo, a informação aparece no art. 5.º, XXXIII, da
CF/1988, trazendo o dever dos órgãos públicos de prestar informações e
esclarecimentos de interesse particular, coletivo ou geral.

Tal princípio “indica que os atos da Administração devem merecer a mais


ampla divulgação possível entre os administrados, e isso porque constitui
fundamento do princípio propiciar-lhes a possibilidade de controlar a
legitimidade da conduta dos agentes administrativos. Só com a transparência
dessa conduta é que poderão os indivíduos aquilatar a legalidade ou não dos
atos e o grau de eficiência de que se revestem” (FILHO, 2007, p. 21).

Esse direito pode ser analisado sob três vertentes:

- Direito de informar: é um direito garantido pelo caput do art. 220 da


CF/1988, bem como pelo art. 5.º, IX, da Magna Carta. Todavia, não é absoluto,
pois não pode extrapolar os limites estabelecidos na própria Constituição, por
exemplo, limites à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas;

- Direito de se informar: uma vez que a informação surja, tornar-se-á pública


e passará a pertencer a toda coletividade, fazendo com que todos possam
exigi-la e recebê-la, consoante nos revela o art. 5.º, XIV. Também é um direito
que encontra limites, como o sigilo da fonte, à intimidade, à vida privada etc.;

- Direito de ser informado: esse direito surge sempre em decorrência do


dever que alguém tem de informar, e no caso do Código de Defesa do
Consumidor, essa incumbência caberá ao fornecedor. A Constituição, por sua
vez, estabelece o dever de informar aos órgãos públicos, conforme disposto no
seu art. 37, primando sempre pela transparência e pela moralidade.

Princípio da liberdade

Em relação ao consumidor, o efeito de tal princípio é que o “Estado deverá


intervir quer na produção, quer na distribuição de produtos e serviços, não só
para garantir essa liberdade como para regular aqueles bens que, essenciais
às pessoas, elas não possam adquirir por falta da capacidade de escolha”
(RIZZATO NUNES, 2010, p. 80).
Assim, qualquer prática que busque afetar essa liberdade do consumidor será
sancionada, que vai desde a nulidade de cláusula contratual até o direito de
arrependimento; o consumidor pode desfazer o negócio que fez em
determinadas situações sem ônus algum, são situações em que a sua
liberdade é tolhida.

Princípio da isonomia

A CF/1988 preceitua no caput do art. 5.º “o princípio da igualdade de direitos,


prevendo a igualdade de aptidão, uma igualdade de possibilidades virtuais,
quer dizer, todos os cidadãos têm o direito de tratamento idêntico pela lei, em
consonância com os critérios albergados pelo ordenamento jurídico”
(MORAES, 2011, p. 31). Nas relações de consumo, a igualdade nas
contratações está prevista no inc. II do art. 6.º do Código de Defesa do
Consumidor, senão vejamos: (...) “II – a educação e divulgação sobre o
consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de
escolha e a igualdade nas contratações”.

Sem dúvida o texto legal assegura aquilo que foi tratado na norma
constitucional, obrigando os fornecedores no exercício de suas atividades a
tratar de modo igual os consumidores, ressalvadas as situações em que
estamos diante de um consumidor que precisa de uma proteção especial,
como o idoso, a pessoa portadora de deficiência, crianças e adolescentes, pela
vulnerabilidade especial.

Jurisprudência x Princípios

- Ausência de violação do princípio da vinculação da oferta

Caso concreto: em decorrência de uma falha no site da empresa de turismo


Decolar.com, constou que duas passagens aéreas, ida e volta, de Brasília para
Amsterdã (Holanda) custariam cerca de R$ 1 mil. Um casal tentou efetuar a
compra, fazendo uma reserva no site. Dois dias depois, contudo, eles
receberam um e-mail da empresa explicando que houve uma falha, cancelando
a reserva. Não houve necessidade de estorno no cartão de crédito, pois a
cobrança não foi feita no momento da reserva. Os consumidores ajuizaram
ação pedindo a emissão dos bilhetes no valor que havia sido ofertado. O STJ,
entretanto, não acolheu o pedido. Para o Tribunal, o erro sistêmico grosseiro
no carregamento de preços e a rápida comunicação ao consumidor
podem afastar a falha na prestação do serviço e o princípio da vinculação
da oferta. O Código de Defesa do Consumidor não é somente um conjunto de
artigos que protege o consumidor a qualquer custo. Antes de tudo, ele é um
instrumento legal que pretende harmonizar as relações entre fornecedores e
consumidores, sempre com base nos princípios da boa-fé e do equilíbrio
contratual. No caso, os consumidores promoveram a reserva de bilhetes
aéreos com destino internacional a preço muito aquém do praticado por outras
empresas aéreas, não tendo sequer havido a emissão dos bilhetes eletrônicos
(e-tickets) que pudessem formalizar a compra. Agrega-se o fato de que os
valores sequer foram debitados do cartão de crédito e, em curto período, os
consumidores receberam e-mail informando a não conclusão da operação.
Nesse contexto, é inadmissível que, diante de inegável erro sistêmico grosseiro
no carregamento de preços, possa se reconhecer a falha da prestação dos
serviços das empresas, que prontamente impediram o lançamento de valores
na fatura do cartão de crédito utilizado, informando, ainda, com antecedência
necessária ao voo, o cancelamento da operação. Por conseguinte, não há que
se falar em violação do princípio da vinculação da oferta (art. 30 do CDC). STJ.
3ª Turma. REsp 1794991-SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020
(Info 671).

CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Erro grosseiro de sistema não obriga


empresas a emitir passagens compradas a preço muito baixo. Buscador Dizer
o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/
e9a8f256f4904b06246375df06a8864b>. Acesso em: 20/11/2021.

Princípio da Dignidade da Pessoa Humana

A aquisição de produto de gênero alimentício contendo em seu interior corpo


estranho expõe o consumidor a risco concreto de lesão à sua saúde e
segurança, ainda que não ocorra a ingestão de seu conteúdo. Logo, isso
enseja o direito de o consumidor ser indenizado por danos morais,
considerando que há ofensa ao direito fundamental à alimentação adequada,
corolário do princípio da dignidade da pessoa humana. A simples
comercialização de produto contendo corpo estranho possui as mesmas
consequências negativas à saúde e à integridade física do consumidor
que sua ingestão propriamente dita. Existe, no caso, dano moral in re ipsa
porque a presença de corpo estranho em alimento industrializado excede aos
riscos comumente esperados pelo consumidor em relação a esse tipo de
produto, caracterizando-se a situação como um defeito do produto, a permitir a
responsabilização do fornecedor. STJ. 2ª Seção. REsp 1.899.304/SP, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 25/08/2021.

Princípios da vulnerabilidade, da boa-fé objetiva, da transparência e da


confiança

Viola os princípios da vulnerabilidade, da boa-fé objetiva, da transparência e da


confiança prestar informação por etapas e, assim, compelir o consumidor à
tarefa impossível de juntar pedaços informativos esparramados em mídias,
documentos e momentos diferentes.

Cada ato de informação é analisado e julgado em relação a si mesmo, pois


absurdo esperar que, para cada produto ou serviço oferecido, o consumidor se
comporte como Sherlock Holmes improvisado e despreparado à busca daquilo
que, por dever ope legis inafastável, incumbe somente ao fornecedor. Seria
transformar o destinatário-protegido, à sua revelia, em protagonista do discurso
mercadológico do fornecedor, atribuindo e transferindo ao consumidor missão
de vasculhar o universo dos meios de comunicação para ter uma informação
completa. STJ. 2ª Turma. REsp 1802787-SP, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 08/10/2019 (Info 679).

REVISÃO DAS 24H REALIZADA ATÉ AQUI.

13/08/2022

CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO

- Consumidor: é toda pessoa física ou jurídica.

Equipara-se a consumidor: coletividade de pessoas; todas as vítimas de um


evento; pessoas determináveis ou não.
- Destinatário final

a) Corrente finalista ou subjetiva: destinatário fático ou econômico do


produto ou serviço.

Esta corrente interpreta de maneira restrita o conceito de destinatário


final expresso no art. 2º do CDC. Contudo, flexibiliza-o ao considerar
destinatário final o profissional que adquirir produto ou serviço fora de
seu campo de especialidade, evidentemente se vulnerável em relação
ao fornecedor. E o STJ professa esse entendimento.

Trata-se da teoria finalista mitigada/relativa ou aprofundada.


Encontramos no REsp 1.190.139/RS: Esta Corte adota a teoria finalista
para o conceito de consumidor, com o abrandamento desta teoria na
medida em que admite a aplicação das normas do CDC a determinados
consumidores profissionais, desde que seja demonstrada a
vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica. Precedentes

b) Maximalista ou objetiva: veem as normas do CDC não apenas como


meio de proteger o consumidor, mas regular o mercado.

Interpretam o art. 2.º do citado diploma legal da forma mais extensiva


possível. Destinatário final seria o destinatário fático do produto, aquele
que o retira do mercado e o utiliza, o consome, não importando se com
intuito de lucro ou não. Não há restrições para as pessoas jurídicas
serem consideradas consumidoras.

- Pessoa jurídica como consumidora

Alguns doutrinadores entendem não ser possível que pessoas jurídicas se


qualifiquem como consumidoras, pelo simples fato de possuírem força para sua
defesa. São adeptos da “Teoria Finalista”.

A segunda corrente entende que as pessoas jurídicas podem ser


consumidoras, uma vez que o conceito legal de consumidor contido no CDC
preceitua que “consumidor é toda pessoa física ou jurídica”, portanto a
legislação contempla a hipótese.
No entanto, há uma ressalva. A pessoa jurídica poderá ser considerada
consumidora “desde que destinatária final dos produtos e serviços que
adquire”, por exemplo, o consumo de água encanada, luz, aquisição de
computadores, alimentação, enfim, toda a diversidade de bens que serão
utilizados pela empresa, e, também “desde que seja considerada a parte
mais fraca na relação de consumo.”

Veja o seguinte julgado do STJ – REsp 1.176.019/RS:

“1. O art. 2º do Código de Defesa do Consumidor abarca


expressamente a possibilidade de as pessoas jurídicas figurarem como
consumidores, não havendo, portanto, critério pessoal de definição de
tal conceito. 2. A caracterização do consumidor deve partir da premissa
de ser a pessoa jurídica destinatária final do produto ou serviço, sem
deixar de ser apreciada a questão da vulnerabilidade. 3. É sempre a
situação do caso em concreto que será hábil a demonstrar se existe ou
não relação de consumo, sendo o emprego final do produto
determinante para conferir à pessoa jurídica a qualidade de
consumidora, tendo como parâmetro, além da utilização de insumo
imprescindível à atividade, também a sua vulnerabilidade. 4. Se o
transportador contrata seguro visando à proteção da carga pertencente
a terceiro, em regra, não pode ser considerado consumidor, uma vez
que utiliza os serviços securitários como instrumento dentro do
processo de prestação de serviços e com a finalidade lucrativa. 5. O
transportador que contrata seguro objetivando a proteção de sua frota
veicular ou contra danos causados a terceiros, em regra, enquadra-se
no conceito de consumidor, pois é destinatário final do produto”.

Logo, para a conceituação da pessoa jurídica como consumidora, e para seu


direito à proteção legal do Código de Defesa do Consumidor, faz-se necessária
também a verificação da vulnerabilidade da pessoa jurídica, analisando-se
cada caso concreto para verificar se há relação de consumo, portanto deve-se
demonstrar se houve:

- Aquisição de bens de consumo e não de bens de capital;

Entre o consumidor (pessoa jurídica) e o fornecedor há um desequilíbrio que


prejudique o consumidor (neste caso, a pessoa jurídica que deverá ser a parte
mais fraca da relação jurídica de consumo).
Vale dizer que a vulnerabilidade da pessoa jurídica deve ser demonstrada no
processo, não há se falar em presunção como ocorre com a pessoa física.

Observações:

- TEORIA FINALISTA:

Em regra, a jurisprudência do STJ afirma que o art. 2º deve ser interpretado de


forma restritiva e que deve ser considerado destinatário final tão somente o
destinatário fático e econômico do bem ou serviço, seja ele pessoa física ou
jurídica. Com isso, em regra, fica excluído da proteção do CDC o consumo
intermediário, assim entendido como aquele cujo produto retorna para as
cadeias de produção e distribuição, compondo o custo (e, portanto, o preço
final) de um novo bem ou serviço (Min. Nancy Andrighi). Para ser considerada
uma relação de consumo, o bem ou serviço não pode ter sido adquirido
com finalidade lucrativa ou para integrar a cadeia de produção (atividade
negocial). Essa é a aplicação da concepção finalista.

- TEORIA FINALISTA MITIGADA, ABRANDADA OU APROFUNDADA:

Embora consagre o critério finalista para interpretação do conceito de


consumidor, a jurisprudência do STJ também reconhece a necessidade de, em
situações específicas, abrandar o rigor desse critério para admitir a
aplicabilidade do CDC nas relações entre os adquirentes e os fornecedores em
que, mesmo o adquirente utilizando os bens ou serviços para suas
atividades econômicas, fique evidenciado que ele apresenta
vulnerabilidade frente ao fornecedor. Diz-se que isso é a teoria finalista
mitigada, abrandada ou aprofundada.

Em suma, a teoria finalista mitigada, abrandada ou aprofundada consiste na


possibilidade de se admitir que, em determinadas hipóteses, a pessoa,
mesmo sem ter adquirido o produto ou serviço como destinatária final,
possa ser equiparada à condição de consumidora, por apresentar frente
ao fornecedor alguma vulnerabilidade. Nesse sentido: REsp 1.195.642/RJ,
Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, julgado em 13/11/2012. Portanto, saber se um
destinatário final de um produto ou serviço se enquadra no conceito de
consumidor é compreender, além da sua destinação, se a relação jurídica
estabelecida é marcada pela vulnerabilidade daquele, pessoa física ou jurídica,
que adquire ou contrata produto ou serviço diante do seu fornecedor (Min.
Villas Bôas Cueva).
REVISÃO OK – 11/09/2022

CONSUMIDOR

- Consumidor em sentido estrito: toda pessoa física ou jurídica;

- Consumidor em sentido coletivo: a coletividade de pessoas, ainda que


indetermináveis;

- Consumidor “by stander”: todas as vítimas de um evento;

- Consumidor em sentido amplo (abstrato ou presumido): todas as


pessoas determináveis ou não;

DESTINATÁRIO FINAL

- Corrente finalista: aquele que definitivamente utiliza o produto; Destinatário


final é interpretado restritivamente. Na teoria finalista mitigada o profissional
pode ser considerado consumidor final; STJ entende assim.

- Corrente maximalista: interpretação extensiva do consumidor final. Não


importa se o uso é para consumo ou profissional.

A teoria finalista mitigada, abrandada ou aprofundada consiste na possibilidade


de se admitir que, em determinadas hipóteses, a pessoa, mesmo sem ter
adquirido o produto ou serviço como destinatária final, possa ser equiparada à
condição de consumidora, por apresentar frente ao fornecedor alguma
vulnerabilidade.

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