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Contrato de Consumo

Teoria Contratual Contemporânea


Traz regras gerais e abstratas, baseadas em princípios que prezam pela segurança do
negócio celebrado a partir da tutela da confiança.
As normas infraconstitucionais só podem ser elaboradas e interpretadas se de acordo com
as constitucionais.

A validade é condicionada à justiça do pacto, examinando-se não só o que está escrito, mas
também o processo de formação do consentimento, tendo em vista a finalidade do
contrato.

A teoria contratual deve compor adequadamente os princípios constitucionais, não como


meros acessórios, mas como valores que definem a classificação das diversas espécies de
contratos.
A teoria contratual, seguindo os valores constitucionais e os pilares do Código Civil –
eticidade, solidariedade e equidade – é baseada na boa fé objetiva, no equilíbrio
econômico e na função social do contrato.

Princípios Sociais do Contrato


a) princípio da probidade e boa-fé objetiva;
b) princípio da função social do contrato;
c) princípio da equivalência material do contrato.
1. Boa- fé objetiva
Art. 48. As declarações de vontade constantes de escritos particulares, recibos e pré-
contratos relativos às relações de consumo vinculam o fornecedor, ensejando inclusive
execução específica, nos termos do art. 84 e parágrafos.

Fica evidenciada a função de integração da boa-fé objetiva em todas as fases contratuais:


fase pré-contratual, fase contratual e fase pós-contratual.

Art. 422 CC- Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como
em sua execução, os princípios de probidade e boa fé.

Art. 51 CDC – São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que:
IV- Estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em
desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade.
2. Equivalência Material do Contrato
A equidade ou equivalência remete a uma solução justa para o caso concreto – igualdade
substancial –, tratando igualmente os iguais – comparação – e desigualmente os desiguais
(crianças, idosos, deficientes).

O CDC aplica-se aos contratos mantidos com as instituições integrantes do sistema


financeiro nacional em face do que dispõe o seu art. 3º, § 2º. Em face dos dispositivos
contidos nos arts. 6º e 51 do CDC, as cláusulas contratuais não podem se constituir como
prestações desproporcionais, que estabeleçam obrigações iníquas, de modo a se tomarem
excessivamente onerosas ao devedor. A violação ao princípio da equidade contratual impõe
a nulidade da cláusula. A capitalização mensal é vedada, pela falta de previsão legal para a
espécie contratual em referência. Apelação desprovida (BRASIL, Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul, Apelação Cível nº 70001439975, 11ª Câmara Cível, Relator Des. Roque
Miguel Fank, Julgado em 27/09/2000).
2. Equivalência Material do Contrato
Art. 51 CDC – São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que:
IV- Estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em
desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade.

3. Função Social do Contrato


Art. 421 CC - A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do
contrato.
Atribuir ao contrato uma função social visa a sujeitar à circulação de riquezas uma destinação
útil, de sorte que contribua para a construção de uma sociedade mais justa e equilibrada.

Princípio da função social do contrato, deve-se interpretar e visualizar o contrato de acordo


com o meio que o cerca.
Ensina Teresa Negreiros que “partimos da premissa de que a função social do contrato, quando
concebida como um princípio, antes de qualquer outro sentido e alcance que se lhe possa
atribuir, significa muito simplesmente que o contrato não deve ser concebido como uma relação
jurídica que só interessa às partes contratantes, impermeável às condicionantes sociais que o
cercam e que são por ele próprio afetadas”.

Art. 46 CDC- Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores,
se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os
respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e
alcance.

São consideradas como não vinculativas as cláusulas desconhecidas, ou que o consumidor não
teve a oportunidade de conhecer, havendo a chamada violação do dever de oportunizar.

A origem da previsão está na vedação da chamada condição puramente potestativa, aquela que
representa a vontade ou o puro arbítrio de apenas uma das partes.
“Seguro de vida e acidentes pessoais. Ação de cobrança de indenização. Cláusula com
exclusão de cobertura em caso de separação judicial ou divórcio do casal. Morte. Separação
judicial anterior. Desconhecimento prévio de cláusula limitativa. CDC, art. 46. Boafé e dever
de informação (CDC, art. 30). Indenização devida. Recurso provido. É devida a indenização
pelo falecimento do ex-cônjuge do segurado, ainda que o sinistro tenha ocorrido após a
separação judicial do casal, se o segurado não tinha ciência de cláusula limitativa da
cobertura. Nos contratos de consumo, eventual limitação de direito do segurado deve
constar de forma clara e com destaque e, obviamente, ser entregue ao consumidor no ato
da contratação, sob pena de não obrigar o contratante (CDC, art. 46). Cabe à seguradora
demonstrar prévia disponibilização ao segurado da apólice e das condições gerais do
seguro, nos termos do art. 6º, VIII do CDC” (TJSP – Apelação 9082668-60.2009.8.26.0000 –
Acórdão 5010702, Araras – Trigésima Quinta Câmara de Direito Privado – Rel. Des. Clóvis
Castelo – j. 21.03.2011 – DJESP 31.03.2011).
Não vinculam o consumidor as cláusulas incompreensíveis ou inelegíveis,
geralmente diante de um sério problema de redação, que visa a enganar o consumidor.
A não vinculação decorre de um dolo contratual praticado pelo fornecedor ou prestador,
via de regra com o claro intuito de induzir o consumidor a erro e obter um enriquecimento
sem causa.

Art. 47 CDC- As clausulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao


consumidor.
CONTRATO DE ADESÃO
Art. 54 CDC- Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela
autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou
serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu
conteúdo.

A aludida imposição das condições do negócio jurídico, por meio de um contrato de adesão,
não chega ao ponto de configurar vício de consentimento por coação.

O Estado nos negócios jurídicos, passou a instituir medidas compensadoras em vista da


proteção do aderente hipossuficiente, em respeito aos princípios constitucionais da
isonomia substancial e da dignidade da pessoa humana.
Art. 423 CC: Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias,
dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.
CONTRATO DE ADESÃO
Art. 424 CC- Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia
antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.
Neste sentido é o enunciado n.º 302 da súmula do Superior Tribunal de Justiça: “É abusiva a
cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do
segurado”.

REVISÃO CONTRATUAL
Exposto pelo Professor Álvaro Villaça Azevedo em suas palestras, o contrato não pode gerar
uma situação de massacre de uma parte sobre a outra, sendo essa uma boa concepção a
respeito da função social. Em outras palavras, um contrato que acarreta onerosidade
excessiva a uma das partes, especialmente tida como vulnerável, não está cumprindo o seu
papel sociológico, necessitando de revisão pelo órgão judicante.
Teoria da eficácia interna da função social do contrato, que veda a onerosidade excessiva e
o enriquecimento sem causa.

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


V – a modificação das cláusulas contratuais que estabelecem prestações desproporcionais
ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas.

A revisão contratual tratada pelo Código de Defesa do Consumidor é facilitada justamente


por não exigir o fator imprevisibilidade, bastando que o desequilíbrio negocial ou a
onerosidade excessiva decorra de um fato superveniente, ou seja, um fato novo não
existente quando da contratação original.
Direito de arrependimento nos contratos de consumo

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato de
recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços
ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.
Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento previsto neste artigo, os valores
eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato,
monetariamente atualizados

Considera-se um direito potestativo colocado à disposição do consumidor, contrapondo-se a um estado de


sujeição existente contra o fornecedor ou prestador.
Como se trata do exercício de um direito legítimo, não há a necessidade de qualquer justificativa, não
surgindo da sua atuação regular qualquer direito de indenização por perdas e danos a favor da outra parte.
Como decorrência lógica de tais constatações, não se pode falar também em incidência de multa pelo
exercício, o que contraria a própria concepção do sistema de proteção ao consumidor.

Nas situações em que o produto ou o serviço é adquirido no estabelecimento, não há o direito de


arrependimento. Há obrigatoriedade de troca de produtos quando presentes vícios no produto ou do
serviço.
Direito de arrependimento nos contratos de consumo
O Superior Tribunal de Justiça, em notável julgamento do ano de 2013, deduziu que “o Procon pode
aplicar multa a fornecedor em razão do repasse aos consumidores, efetivado com base em cláusula
contratual, do ônus de arcar com as despesas postais decorrentes do exercício do direito de
arrependimento previsto no art. 49 do CDC. De acordo com o caput do referido dispositivo legal, o
consumidor pode desistir do contrato, no prazo de sete dias a contar de sua assinatura ou do ato de
recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços
ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio. O parágrafo único
do art. 49 do CDC, por sua vez, especifica que o consumidor, ao exercer o referido direito de
arrependimento, terá de volta, imediatamente e monetariamente atualizados, todos os valores
eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão – período de sete dias contido no
caput do art. 49 do CDC –, entendendo-se incluídos nestes valores todas as despesas decorrentes da
utilização do serviço postal para a devolução do produto, quantia esta que não pode ser repassada ao
consumidor. Aceitar o contrário significaria criar limitação ao direito de arrependimento legalmente não
prevista, de modo a desestimular o comércio fora do estabelecimento, tão comum nos dias atuais. Deve-
se considerar, ademais, o fato de que eventuais prejuízos enfrentados pelo fornecedor nesse tipo de
contratação são inerentes à modalidade de venda agressiva fora do estabelecimento comercial (pela
internet, por telefone ou a domicílio)” (STJ, REsp 1.340.604/RJ – Rel. Min. Mauro Campbell Marques – j.
15.08.2013, publicado no seu Informativo n. 528).
Direito de arrependimento nos contratos de consumo
PL 281/2012

Ementa:

Altera a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), para aperfeiçoar as
disposições gerais do Capítulo I do Título I e dispor sobre o comércio eletrônico.

Explicação da Ementa:
Altera a Lei nº 8.078/1990 – Código de Defesa do Consumidor – para aperfeiçoar as disposições gerais constantes
do Capítulo I do Título I, estabelecendo que as normas e os negócios jurídicos devem ser interpretados e
integrados da maneira mais favorável ao consumidor e dispor sobre normas gerais de proteção do consumidor no
comércio eletrônico, visando a fortalecer a sua confiança e assegurar tutela efetiva, preservar a segurança nas
transações, a proteção da autodeterminação e da privacidade dos dados pessoais; as normas aplicam-se às
atividades desenvolvidas pelos fornecedores de produtos ou serviços por meio eletrônico ou similar; estabelece
que o consumidor pode desistir da contratação a distância, no prazo de sete dias a contar da aceitação da oferta
ou do recebimento ou disponibilidade do produto ou serviço; dispõe que caso o consumidor exerça o direito de
arrependimento, os contratos acessórios de crédito são automaticamente rescindidos, sem qualquer custo para o
consumidor; tipifica como infração penal o ato de veicular, hospedar, exibir, licenciar, alienar, utilizar, compartilhar,
doar ou de qualquer forma ceder ou transferir dados, informações ou identificadores pessoais, sem a expressa
autorização de seu titular e consentimento informado, salvo exceções legais.
Direito de arrependimento nos contratos de
Regulamenta a consumo
Lei no 8.078, de 11 de setembro de
DEC. Nº 7.962/2013 - 1990, para dispor sobre a contratação no comércio
eletrônico.
Art. 1o  Este Decreto regulamenta a Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, para dispor sobre a contratação no comércio
eletrônico, abrangendo os seguintes aspectos:
I - informações claras a respeito do produto, serviço e do fornecedor;
II - atendimento facilitado ao consumidor; e
III - respeito ao direito de arrependimento.
Art. 5o  O fornecedor deve informar, de forma clara e ostensiva, os meios adequados e eficazes para o exercício do
direito de arrependimento pelo consumidor.
§ 1o O consumidor poderá exercer seu direito de arrependimento pela mesma ferramenta utilizada para a
contratação, sem prejuízo de outros meios disponibilizados.
§ 2o O exercício do direito de arrependimento implica a rescisão dos contratos acessórios, sem qualquer ônus para o
consumidor.
§ 3o O exercício do direito de arrependimento será comunicado imediatamente pelo fornecedor à instituição
financeira ou à administradora do cartão de crédito ou similar, para que:
I - a transação não seja lançada na fatura do consumidor; ou
II - seja efetivado o estorno do valor, caso o lançamento na fatura já tenha sido realizado.
§ 4o O fornecedor deve enviar ao consumidor confirmação imediata do recebimento da manifestação de
arrependimento.
TRABALHO PARA SALA
QUESTÕES

1. Qual o objetivo do principio da boa-fé objetiva e função social no contrato de consumo?


2. Qual o requisito para exercer o direito de arrependimento do consumidor e qual parte é
responsável pelo encargo da devolução do produto?
3. Quando o consumidor poderá exercer o direito a revisão contratual?

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