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Módulo Extra:

Noções de Direito Contratual, com Mayara Ribeiro


Aula 4 – Contratos: cláusulas abusivas e comércio eletrônico

Seja muito bem-vinda a mais uma aula do Método MIDAS, ministrada pela
Mayara Teixeira Ribeiro, advogada e professora universitária. Você sabe
identificar eventuais cláusulas abusivas de um contrato, principalmente no
que tange o comércio eletrônico? Como analisar os contratos que celebramos,
de forma que isso não inviabilize as transações do seu negócio?

Quando pensamos em um contrato de prestação de serviços, pensamos


em um negócio jurídico que foi celebrado por um sujeito prestador de serviço,
que se compromete a exercer determinada atividade no interesse de uma outra
pessoa. Temos, portanto, dois sujeitos, no mínimo: o prestador e o tomador
de serviço. Esse tomador de serviço, por sua vez, se vincula ao concordar em
realizar uma determinada remuneração.
Do ponto de vista contratual, o
contrato de prestação de serviços é, na
sua essência, bilateral. Ele é oneroso,
consensual e pode se dar de maneira
informal, como já vimos em aulas anteriores.
É sempre importante lembrar, porém, que
há uma maior segurança para todos os
envolvidos quando a celebração é feita de
forma escrita.
Um contrato bilateral significa que ambas pessoas envolvidas
irão prestar alguma forma de obrigação. Um lado se obriga a prestar um
serviço, enquanto o outro se obriga a pagar por esse serviço. Há, efetivamente,
uma troca.
Vale lembrar que, essencialmente, estamos falando de uma prestação de
serviço lícita, seja de cunho material ou não. Essa licitude do objeto é analisada
em sentindo amplo, assegurando-se a boa-fé. Sem esses fatores, o contrato
torna-se nulo.
O Código Civil delimita que o pagamento (ou seja, a retribuição) deve ser
feito depois de prestado o serviço se não houver convenção ou costume que
disponha de forma diversa. Ou seja, em casos em que se combina um
pagamento adiantado ou em prestações. Por isso, é importante que esteja
delimitada uma forma de pagamento que atenda aos interesses de ambas as
partes envolvidas.
A prestação de serviços não pode ser celebrada por um prazo superior a 4
anos. Não se admitem contratos perpétuos, ilimitados, por tempos
indeterminados e, eventualmente, abusivos. Após 4 anos, o que pode ocorrer
é a celebração de um novo contrato, ou seja, a renovação contratual.
Em uma eventual renovação contratual,
o que existe é a vinculação de uma nova
proposta. Não tem problema algum que essa
nova proposta seja idêntica a anterior, mas
vale a pena buscar um reequilíbrio, seja ele no
âmbito econômico ou não. O importante,
como sempre, é que ambas as partes estejam
satisfeitas.
Existe uma exceção para esse prazo de 4 anos: quando falamos de
celebrações feitas entre duas empresas. Isso não existe, porém, quando falamos
de uma celebração de contrato entre prestador de serviço e pessoa física.
Quando falamos das cláusulas abusivas, vale lembrar que, mais uma vez,
espera-se a boa-fé, inclusive o meio digital. No comércio eletrônico, aliás, o
consumidor é, de certa forma, ainda mais vulnerável. É por isso que existe aquele
famoso direito de arrependimento, previsto no Art. 49 do Código de Defesa do
Consumidor:
“Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no
prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato
de recebimento do produto ou serviço, sempre que
a contratação de fornecimento de produtos e
serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial,
especialmente por telefone ou a domicílio”.

A transparência e a boa-fé para com o consumidor devem ser inerentes


ao seu negócio. Aliás, o sistema jurídico trabalha com o objetivo de diminuir o
desequilíbrio entre as relações de consumo e é por isso que, quando falamos de
Código de Defesa do Consumir, existe a inversão do ônus da prova. Ou seja, a
responsabilidade probatória recai sobre o fornecedor.
Contratos de consumo são contratos de adesão. Havendo cláusulas
abusivas ali, será invocada não só a proteção aos consumidores, mas também a
proteção tutelada pelo próprio Código Civil.
Em seu Art. 51, o CDC define o que pode ser considerado abusivo. A seguir,
podemos listar algumas práticas:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas


contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do


fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços
ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de
consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a
indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis;
II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já
paga, nos casos previstos neste código;
III - transfiram responsabilidades a terceiros;
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam
incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;
[...]
VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do
consumidor;
[...]
VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro
negócio jurídico pelo consumidor;
IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato,
embora obrigando o consumidor;
X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do
preço de maneira unilateral;
[...]
XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de
sua obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o
fornecedor;
[...]
XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais;
[...]

É importante entendermos, também, que uma cláusula abusiva não


invalida um contrato de forma integral, porque o que prevalece é o princípio
da manutenção dos contratos. Claro que a cláusula abusiva será considerada
nula, mas o contrato seguirá vigente.
Lembre-se que um contrato de adesão não é, necessariamente, um
contrato de uma relação de consumo, uma vez que pode ser celebrado entre
duas partes que não se encaixam na definição legal de consumidor e fornecedor.
Ainda pensando na questão do consumidor ser a parte mais vulnerável
em ofertas eletrônicas, o CDC, em seu artigo 31, traz alguns apontamentos
importantes de serem observados:
“Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou
serviços devem assegurar informações corretas,
claras, precisas, ostensivas e em língua
portuguesa sobre suas características, qualidades,
quantidade, composição, preço, garantia, prazos de
validade e origem, entre outros dados, bem como
sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança
dos consumidores”.

Por fim, mais uma vez, em todo e qualquer caso concreto, o que deve
prevalecer e a orientação do seu advogado ou advogada de confiança.
Somente um profissional saberá dizer exatamente o que é apropriado ou não na
defesa de seus interesses e, dessa forma, você tem a certeza de que pode
celebrar seus contratos com tranquilidade, tendo todos os seus direitos
resguardados.

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