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Comércio eletrônico e contratos

A contratação eletrônica ganha ainda mais importância quando adentra o


campo do comércio, até porque o desenvolvimento deste só foi possível graças ao
aperfeiçoamento do contrato, que é instrumento indispensável à circulação de bens
e serviços.

Há alguns contratos que são próprios da internet, como o serviço de


conexão, o armazenamento ou a manutenção de sites etc. Em contrapartida, há
outros contratos que se utilizam dela apenas como manifestação da vontade no
negócio. Por exemplo, a compra e a venda de insumo podem ser tratadas
totalmente pela internet, utilizando­-se de e­-mail para, posteriormente, ser entregue
fisicamente nas dependências do comprador.

Está em trâmite no Congresso Nacional o Projeto de Lei n. 1.572/2011, o qual


pretende instituir um novo Código Comercial. Seu art. 108, caput, define comércio
eletrônico como a relação cujas partes se comunicam e contratam por meio de
transmissão eletrônica de dados, abrangendo a comercialização de mercadorias,
insumos e prestação de serviços. Já o seu art. 111 prevê que se o site for destinado
tão somente a possibilitar a aproximação entre potenciais interessados na
concretização de negócios entre eles, o empresário que o mantém não terá
responsabilidade pelos atos praticados pelos vendedores e compradores de
produtos ou serviços por ele intermediados. Para tanto caberá ao empresário titular
do site o dever de: retirar do site as ofertas que lesem direito de propriedade
intelectual alheio, no prazo de vinte e quatro horas do recebimento da notificação
emitida por quem seja comprovadamente o seu titular; disponibilizar no site um
procedimento de avaliação dos vendedores pelos compradores, acessível a
qualquer pessoa; e manter uma política de privacidade na página inicial do site, a
qual deve mencionar claramente a instalação de programas no computador de
quem o acessa, bem como a forma pela qual eles podem ser desinstalados. No
âmbito brasileiro, os contratos celebrados na internet estão sujeitos aos mesmos
princípios e regras aplicáveis aos demais contratos celebrados no território nacional.
Com a vigência do Código Civil de 2002, aos contratos celebrados entre civis
(contratos civis) e aos entre empresários (contratos mercantis), inclusive no que
tange à internet, é aplicável o regime jurídico estabelecido em tal diploma
normativo.13

Especificamente quanto aos contratos mercantis, ocorre que, a partir do


Código Civil de 2002, ficou revogada a Parte Primeira do Código Comercial de
1850, passando, então, a existir um único diploma legislativo quanto às obrigações
civis e mercantis.14 Isso tem feito muitos falarem em unificação do direito privado,
pois as obrigações civis e comerciais passaram a estar sob a mesma disciplina
normativa.
Acerca da formação do contrato em ambiente virtual, em geral, aplicam­-se as
regras estabelecidas no Código Civil quanto à manifestação da vontade, oferta,
proposta e aceitação, previstas no art. 427 e seguintes.
Os produtos e os serviços devem ser ofertados ou apresentados com
informações claras e precisas, em língua portuguesa, com especificações de
quantidade, qualidade, preço, prazo de validade etc. A publicidade deve ser
veiculada de forma que o consumidor possa perceber imediatamente que se trata
de publicidade (CDC, arts. 31 e 36), não se admitindo mensagens subliminares.
Destacamos que os termos da oferta vinculam o fornecedor, integrando o
contrato que vier a ser celebrado, exceto se houver algum erro notório no anúncio
ou na apresentação que seja plenamente perceptível ao consumidor. O não
cumprimento da oferta, da apresentação ou da publicidade dá ao consumidor o
direito de exigir o cumprimento forçado do negócio conforme os termos anunciados;
aceitar outro produto ou serviço equivalente; rescindir o contrato, com direito à
restituição de quantia paga e perdas e danos (CDC, art. 35).
Dessa forma, estará obrigado todo e qualquer fornecedor (anunciante) que,
por contrato, fizer veicular a informação ou publicidade; bem como aquele
fornecedor que embora não tenha contratado a veiculação do anúncio publicitário ou
a divulgação da informação dela se aproveitar. Em alguns contratos de
intermediação empresarial, pode ocorrer de o intermediário realizar a divulgação do
produto do fabricante, mas o contrário também é verdadeiro, o fabricante muitas
vezes realiza anúncios publicitários que serão aproveitados pelos comerciantes. Ou
seja, todos os fornecedores da cadeia produtiva e distributiva de um bem estarão
vinculados pela oferta ou publicidade realizada. Neste caso, a responsabilidade é
solidária entre os fornecedores.
De modo específico, sobre a manifestação da vontade na internet, tendo em
vista a desmaterialização dos instrumentos negociais (notadamente o papel),
criou­-se um sistema de assinatura digital e certificação eletrônica de documentos,
por meio da criptografia, com o fim de evitar fraudes, como já tratado anteriormente.
Nas relações firmadas na esfera da internet, pode haver a aplicação do CDC.
No entanto, será necessária a análise dessas relações a fim de verificar se há
efetivamente a configuração de uma relação de consumo. Na internet, o usuário
poderá ser considerado consumidor a partir de uma contratação estabelecida em
ambiente eletrônico; ou poderá ser considerado consumidor por equiparação por
estar sujeito às práticas comerciais e contratuais desenvolvidas na rede.
Entre as práticas comerciais previstas no CDC estão: a oferta, a publicidade
(enganosa ou abusiva), as práticas abusivas, a cobrança de dívidas e os bancos de
dados, respectivamente estabelecidas nas Seções II, III, IV, V e VI, todas do
Capítulo V. A princípio, qualquer uma delas pode se dar na internet, o que gera a
aplicação da legislação protetiva do consumidor, independentemente de estar
instituída uma relação de consumo “convencional” ou pelo simples fato de o usuário
estar sujeito a essas práticas.
E-Commerce
Em maio de 2013 passou a vigorar o Decreto n. 7.962, de 15 de março, cuja
finalidade é regulamentar o Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90)
quanto à contratação no comércio eletrônico. Sua intenção é promover a
disponibilização pelos fornecedores de informações claras sobre si próprios, os
produtos e os serviços; bem como que haja um atendimento facilitado ao
consumidor, além do respeito ao direito de arrependimento.
Visando garantir o atendimento facilitado ao consumidor no comércio
eletrônico, o fornecedor deverá: apresentar um resumo do teor do contrato antes da
efetiva contratação, com as informações necessárias ao pleno exercício do direito
de escolha do consumidor, devendo enfatizar as cláusulas que limitem direitos;
fornecer ferramentas eficazes ao consumidor para identificação e correção imediata
de erros ocorridos nas etapas anteriores à finalização da contratação; confirmar
imediatamente o recebimento da aceitação da oferta; disponibilizar o contrato ao
consumidor em meio que permita sua conservação e reprodução imediatamente
após a contratação; manter serviço adequado e eficaz de atendimento em meio
eletrônico que possibilite ao consumidor a resolução de demandas referentes a
informação, dúvida, reclamação, suspensão ou cancelamento do contrato; confirmar
imediatamente o recebimento das demandas do consumidor pelo mesmo meio
utilizado pelo consumidor; utilizar mecanismos de segurança eficazes para
pagamento e para tratamento de dados do consumidor (art. 4º, caput e incisos).
Quanto à proteção contratual do consumidor e práticas contratuais realizadas
pelos fornecedores tidas por cláusulas abusivas, os arts. 51 a 53 preveem um rol
delas. Cabe esclarecer que as cláusulas abusivas são as que diminuam os direitos
do consumidor, sendo nulas de pleno direito (sem prejuízo de possível indenização
por perdas e danos do consumidor contra o fornecedor). São exemplos de cláusulas
abusivas a que: restrinja direitos fundamentais inerentes à natureza do contrato;
possibilite ao fornecedor a alteração unilateral de cláusulas; permita ao fornecedor a
variação de preço unilateralmente; exonere ou diminua a responsabilidade do
fornecedor por vícios do produto ou serviço; transfira a responsabilidade a terceiros;
fixe a inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor; estabeleça a opção do
fornecedor em concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor;
determine a utilização compulsória da arbitragem (Lei n. 9.307/96 – Lei da
arbitragem); permita a renúncia do consumidor ao direito indenizatório por
benfeitorias necessárias; infrinja normas ambientais; demonstre ser excessivamente
onerosa ao consumidor pela natureza do contrato; estabeleça multa de mora
superior a dois por cento em financiamentos; vede o direito do consumidor, em
financiamento, de liquidar antecipadamente seu débito, total ou parcial, mediante
redução dos juros e demais acréscimos; fixe a obrigatoriedade de ressarcimento
dos custos de cobrança pelo consumidor, mas não igualmente para o fornecedor;
autorize o fornecer a cancelar o contrato unilateralmente, sem igual direito ao
consumidor; estabeleça a perda total das prestações pagas em contratos de compra
e venda de móveis ou imóveis financiados, em razão de inadimplência.

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