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Justiça Federal da 1ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

30/01/2020

Número: 1004546-03.2020.4.01.3400
Classe: AÇÃO POPULAR
Órgão julgador: 13ª Vara Federal Cível da SJDF
Última distribuição : 29/01/2020
Valor da causa: R$ 183.194.021,95
Assuntos: Dano ao Erário
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
DOUGLAS VITORIANO LOCATELLI (AUTOR) BERNARDO MARINHO BARCELLOS (ADVOGADO)
RENATO BOTARO (AUTOR) BERNARDO MARINHO BARCELLOS (ADVOGADO)
UNIÃO FEDERAL (RÉU)
Ministério Público Federal (Procuradoria) (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
16316 30/01/2020 13:41 Decisão Decisão
4887
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Distrito Federal
13ª Vara Federal Cível da SJDF

PROCESSO: 1004546-03.2020.4.01.3400
CLASSE: AÇÃO POPULAR (66)
AUTOR: DOUGLAS VITORIANO LOCATELLI, RENATO BOTARO
Advogado do(a) AUTOR: BERNARDO MARINHO BARCELLOS - DF30300
Advogado do(a) AUTOR: BERNARDO MARINHO BARCELLOS - DF30300

RÉU: UNIÃO FEDERAL

DECISÃO/2020

Trata-se de ação popular, com pedido de tutela de urgência, ajuizada por RENATO
BOTARO e DOUGLAS VITORIANO LOCATELLI em desfavor da UNIÃO FEDERAL,
objetivando “a suspensão liminar da Sessão Pública para venda do imóvel descrito na ficha
técnica anexa ao Edital de Concorrência Pública SPU nº 004/2019 de 22/11/2019 (terreno de
64.494 m2, identificado como AOS 3 – Setor de Habitações Coletivas Áreas Octogonais Sul,
matrícula 8.751 – 1º Ofício do Registro de Imóveis de Brasília – Distrito Federal), nos termos do
inciso III do art. 7º da Lei nº 12.016/2009” (Id Num. 162812386).

Relatam que o edital de concorrência pública SPU nº 004/2019, de 22/11/2019, tem


por objeto a venda de terreno, localizado no AOS 3 – Setor de Habitações Coletivas Áreas
Octogonais Sul (64.494 m2), avaliado no montante de R$ 252.000.000,00 (duzentos e cinquenta
e dois milhões de reais).

Narram que, após a análise da matrícula nº 8.751 no 1º Ofício do Registro de


Imóveis de Brasília/Distrito Federal, verificou que o terreno foi doado à União pelo Banco Central
do Brasil, por meio de instrumento particular, em 27/09/2019. Afirmam que, na referida doação, o
imóvel foi avaliado no importe de R$ 435.194.021,95 (quatrocentos e trinta e cinco milhões, cento
e noventa e quatro mil, vinte e um reais e noventa e cinco centavos).

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Número do documento: 20013013413211700000160173963
Suscitam que, “depois do transcurso de pouco mais de 1 (um) mês entre a doação e
a licitação pública, o valor constante na escritura de doação (registrado na matrícula do imóvel),
despencou de R$ 435 milhões para pouco mais de R$ 250 milhões, representando uma
desvalorização nominal de 42% em pouco mais de um mês. Evidentemente existe grave
discrepância entre o valor de venda constante do Edital de Concorrência Pública SPU nº
004/2019 de 22/11/2019 e o valor constante na escritura pública de doação de 27/09/2019, fato
que demonstra evidente prejuízo aos cofres da União no montante de quase R$ 200.000.000,00
(duzentos milhões de reais)”.

Inicial instruída com procuração e documentos.

É o breve relatório.

Decido.

A tutela de urgência, na forma do art. 300 do CPC, somente poderá ser concedida
quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o
risco ao resultado útil do processo.

Especificamente no caso de ação popular, o art. 5º, §4º da Lei nº 4.717/65 dispõe
que “na defesa do patrimônio público caberá a suspensão liminar do ato lesivo impugnado”.

Sumariamente examinada a questão, como é próprio deste momento da caminhada


processual, tenho por presentes, por ora, os pressupostos necessários ao deferimento da
medida.

A ação popular traduz poderoso instrumento constitucional vocacionado à defesa,


pelos cidadãos, do patrimônio público, da moralidade administrativa, do meio ambiente e do
patrimônio histórico e cultural (CF, art. 5º, LXXIII).

Como assevera o saudoso Ministro Teori Zavascky, “o direito à ação popular


sempre representou um traço importante nos direitos de cidadania, de muito significado ainda
hoje, quando tais direitos assumem novos contornos, mais complexos e multiformes” (Processo
Coletivo: tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos. 6 ed. – São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2014 - página 78).

Pretendem os autores, em síntese, a suspensão de sessão pública a ser realizada


no dia 30.01.2020, às 15:00 hs, nos termos do Edital de Concorrência Pública SPU nº 004/2019,
ao argumento de ser indevido o valor apurado na avaliação do bem público.

O Aviso de Licitação da Concorrência Pública SPU nº 004/2019 (DOU de


22.11.2019) dispõe, neste ponto, que “a União, por intermédio do Ministério da Economia, via
SECRETARIA DE COORDENAÇÃO E GOVERNANÇA DO PATRIMÔNIO DA UNIÃO, torna
público que das 15:00 às 17:30 horas do dia 30 de janeiro de 2020, na Esplanada dos
Ministérios, Bloco "K", Brasília/DF, representada por sua Comissão Permanente de Licitação,
realizará sessão pública para processo licitatório, recebendo a Comissão de Licitação as
propostas até às 16 horas, sendo este o prazo final para apresentação da documentação e das
respectivas propostas para alienação do domínio pleno dos imóveis da União a seguir
relacionados, nas condições em que se encontram, na modalidade de CONCORRÊNCIA pela
maior oferta, respeitado o preço mínimo a eles atribuído. A abertura dos envelopes será

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iniciada às 16:10 horas (...)Item 01 (...) Terreno plano com 64.949,00m2; de área total. R$
252.000.000,00” (fl. 30 - Id Num. 162870878).

Destaco, a propósito, que a Ata de Reunião do Comitê Central de Alienação de


Imóveis da União - CCA consignou que “analisou o levantamento das informações do imóvel
proposto para alienação, realizado pelas respectivas Superintendias jurisdicionantes, e o estudo
de maturidade para alienação, apresentados na Nota Técnica – SEI nº 7551/2019/ME (SEI
4648170), realizado pela CGGEA, e por unanimidade deliberaram pela alienação por venda do
imóvel com o valor adotado apresentado em Laudo de Avaliação como valor para
concorrência pública, abaixo descrito (...) R$ 252.000.000,00” (Id Num. 162850873).

Nesse contexto, segundo afirmam os requerentes, “depois do transcurso de pouco


mais de 1 (um) mês entre a doação e a licitação pública, o valor constante na escritura de doação
(registrado na matrícula do imóvel), despencou de R$ 435 milhões para pouco mais de R$ 250
milhões, representando uma desvalorização nominal de 42% em pouco mais de um mês.
Evidentemente existe grave discrepância entre o valor de venda constante do Edital de
Concorrência Pública SPU nº 004/2019 de 22/11/2019 e o valor constante na escritura
pública de doação de 27/09/2019, fato que demonstra evidente prejuízo aos cofres da
União no montante de quase R$ 200.000.000,00 (duzentos milhões de reais)”.

Por certo, compulsando o caderno processual, infere-se da Certidão de Matricula nº


8751 (Id Num. 162783402) que o imóvel foi inicialmente avaliado, para fins fiscais, no montante
de R$ 435.194.021,95, bem como que proveio de doação do Banco Central do Brasil, realizada
em setembro/2019.

Induvidosa, no caso, a natureza pública do bem discutido nos autos, bem como
evidente a divergência de preço do imóvel objeto da sessão pública, que demanda maiores
esclarecimentos para aferir o real valor do terreno de 64.494 m2, localizado no AOS 3 – Setor de
Habitações Coletivas Áreas Octogonais Sul, matrícula 8.751 (1º Ofício do Registro de Imóveis de
Brasília/DF).

Assim, reputo que procede, à primeira vista, a alegação de lesividade do ato


impugnado, sem prejuízo de posterior reapreciação da matéria.

Daí emerge, pois, a probabilidade do direito vindicado.

O periculum in mora, a seu turno, decorre da proximidade da Sessão Pública


instaurada para a alienação do terreno (30/01/2020), o que poderá acarretar em prejuízos ao
patrimônio público.

Lado outro, não vislumbro, a priori, perigo inverso a impedir a suspensão do ato
impugnado, em caráter cautelar e provisório, eis que, caso restabelecida plenamente a eficácia
da medida, nova licitação poderá ser regularmente promovida.

Tais as razões, DEFIRO a medida de urgência (art. 5º, §4º c/c art. 22 da Lei nº
4.717/68), para determinar a suspensão da Sessão Pública regida pelo Edital de Concorrência
SPU nº 004/2019, de 22/11/2019, especificamente quanto à venda do terreno de matrícula nº
8.751 (1º Ofício do Registro de Imóveis de Brasília/DF).

Intime-se o Ministério Público Federal.

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Citem-se. Intime-se.

Publique-se. Intimem-se. Cumpra-se.

Brasília/DF, 30 de janeiro de 2020.

EDUARDO SANTOS DA ROCHA PENTEADO

Juiz Federal em Substituição na 13ª Vara

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